1 SERVIÇO SOCIAL em foco ii CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito 89130-000 - INDAIAL/SC www.uniasselvi.com.br SERVIÇO SOCIAL EM FOCO II UNIASSELVI 2015 Organização Vera Lúcia Hoffmann Pieritz Autoria Cristiana Montibeller Denise da Silva Vieira Joelma Crista Sandri Bonetti Marines Selau Lopes Silvana Braz Wegrzynovski 2 Reitor da Uniasselvi Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora de Ensino de Graduação a Distância Prof.ª Francieli Stano Torres Pró-Reitor Operacional de Graduação a Distância Prof. Hermínio Kloch Editor-Chefe Prof. Evandro André de Souza Editoração e Diagramação Djenifer Luana Kloehn Capa Djenifer Luana Kloehn Revisão Final Harry Wiese José Rodrigues Publicação Online Propriedade do Centro Universitário Leonardo da Vinci SERVIÇO SOCIAL em foco ii Ficha catalográfica Elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri – UNIASSELVI – Indaial. 360 P615s Pieritz, Vera Lúcia Hoffmann Serviço social em foco II/ Vera Lúcia Hoffmann Pieritz (Org.) Indaial : UNIASSELVI, 2015. 212 p. : il. ISBN 978-85-7830-xxx-x 1.Serviço social. 3 I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. SERVIÇO SOCIAL em foco ii PREFÁCIO SERVIÇO SOCIAL EM FOCO II É com muita alegria que lhes apresento a segunda edição da publicação Serviço Social em Foco, na qual se teve por desafio tecer um debate acerca dos principais conceitos e fundamentos da práxis profissional do assistente social, além de apresentar novidades relativas ao Serviço Social contemporâneo. O conjunto de artigos debate as concepções sócio-históricas, econômicas, políticas e culturais associadas à identidade profissional do assistente social, oferecendo reflexões sobre as principais teorias clássicas do pensamento social e do pensamento político, perpassando pelas correntes filosóficas e econômicas dos séculos XX e XXI. 4 Igualmente, este material proporcionará a você momentos de reflexão no que tange às concepções do capitalismo e do Estado, sem esquecer de fatos relevantes ao desenvolvimento da história política do Brasil contemporâneo. Vale ressaltar que serão abordadas ponderações a respeito da concepção de desenvolvimento e do neodesenvolvimentismo, além de abordar alguns aspectos relativos ao trabalho alienado e sociabilidade no capitalismo, entre outros aspectos norteadores da construção da subjetividade e dos movimentos sociais. Por conseguinte, tratar-se-á de um assunto muito importante para a nossa atuação profissional, pois enfatiza a questão da ética, da legislação, das atribuições, das competências e da instrumentalização profissional teóricotécnico-operativa do Serviço Social, alimentando reflexões sobre a legislação que regulamenta o nosso fazer profissional, os dilemas éticos contemporâneos, como a questão do sigilo profissional, além das diferenças entre as atribuições e as competências do assistente social nos dias de hoje. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Adentraremos também nas questões que são objetos norteadores de nossa profissão, que são as expressões da questão social. E, para tanto, nesta obra procuraremos revisitar as implicações das expressões sociais da questão social e a formulação, implementação, execução e avaliação de projetos, serviços, programas e políticas sociais. Para, assim, compreender a amplitude da terminologia do termo da questão social e seu acirramento e globalização. Ao mesmo tempo, também trabalharemos questões da atualidade, tais como: as novas configurações sociais para o serviço social, a profissão do serviço social mediante uma trajetória das funções tradicionais às provocações perante as novas configurações de regulação sociopolíticas. Assim, faz-se necessário abordarmos também as questões pertinentes da aplicação e importância da estatística para o serviço social, em que será realizada uma análise dos principais indicadores sociais da realidade brasileira. Para finalizar este arcabouço de informações relativas à atuação profissional do assistente social, abordar-se-á um assunto novo, que está nas mídias, que é a questão da guarda compartilhada. Neste sentido, desvelaremos como se dá a atuação do serviço social na implementação e garantia dos direitos que estão prescritos na Lei nº 13.058/2014, que regula a guarda compartilhada no Brasil. Vale salientar que os textos reunidos nesta publicação são frutos das problematizações e estudos realizados pela equipe de professores, e organizada pela Coordenadora do Curso de Bacharelado em Serviço Social da UNIASSELVI, pois o mesmo reflete a base conceitual da profissão e sua práxis profissional. Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz CRESS Nº 4016 da 12ª Região Coordenadora do Curso de Bacharelado em Serviço Social UNIASSELVI - NEAD SERVIÇO SOCIAL em foco ii 5 SUMÁRIO UNIDADE 1.................................................................................................. 11 APRESENTAÇÃO........................................................................................ 11 TÓPICO 1: TEORIAS CLÁSSICAS DO PENSAMENTO SOCIAL E DO PENSAMENTO POLÍTICO.............................................................................. 12 1.1 ÉMILE DURKHEIM................................................................................ 12 1.2 KARL MARX........................................................................................... 13 1.3 MAX WEBER......................................................................................... 14 6 1.4 PENSAMENTO POLÍTICO.................................................................... 15 1.5 ADAM SMITH......................................................................................... 15 1.6 ARISTÓTELES....................................................................................... 16 1.7 JEAN-JACQUES ROSSEAU................................................................. 17 1.8 JOHN LOCKE........................................................................................ 18 1.9 NICOLAU MAQUIAVEL.......................................................................... 20 1.10 PLATÃO............................................................................................... 22 1.11 THOMAS HOBBES.............................................................................. 23 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 24 SERVIÇO SOCIAL em foco ii TÓPICO II – PRINCIPAIS CORRENTES FILOSÓFICAS DO SÉCULO XX: MARXISMO, NEOTOMISMO, FENOMENOLOGIA E NEOPOSITIVISMO..... 26 2.1 MARXISMO............................................................................................ 26 2.2 NEOTOMISMO...................................................................................... 27 2.3 FENOMENOLOGIA................................................................................ 29 2.4 NEOPOSITIVISMO................................................................................ 30 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 32 TÓPICO III – CONCEPÇÕES E ANÁLISES DO CAPITALISMO E CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO................................................................. 33 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 38 TÓPICO IV – DESENVOLVIMENTO DA HISTÓRIA POLÍTICA BRASILEIRA: REPÚBLICA VELHA E ESTADO NOVO......................................................... 40 4.1 REPÚBLICA VELHA............................................................................... 40 4.2 ESTADO NOVO..................................................................................... 42 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 44 TÓPICO V – CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO E DO NEOLIBERALISMO: TRABALHO ALIENADO E SOCIABILIDADE NO CAPITALISMO................. 47 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 59 TÓPICO VI – OBJETIVAÇÕES HUMANAS E A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE............................................................................................. 61 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 63 SERVIÇO SOCIAL em foco ii 7 TÓPICO VII – A CULTURA E AS IDENTIDADES COLETIVAS: UMA ANÁLISE DAS DIFERENTES DIMENSÕES CULTURAIS E SUAS CORRELAÇÕES COM O ESTADO E O MERCADO............................................................................ 65 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 70 REFERÊNCIAS............................................................................................ 72 UNIDADE 2.................................................................................................. 75 APRESENTAÇÃO........................................................................................ 75 TÓPICO I – O SERVIÇO SOCIAL E A LEGISLAÇÃO QUE O REGULAMENTA....................................................................................... 75 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 77 8 TÓPICO II – A EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO SERVIÇO SOCIAL E A COMPREENSÃO DA MORAL E DA ÉTICA................................................... 80 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 81 TÓPICO III – DILEMAS ÉTICOS CONTEMPORÂNEOS: O SIGILO PROFISSIONAL............................................................................................... 83 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 84 TÓPICO IV – EVOLUÇÃO E ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS DO SERVIÇO SOCIAL............................................................................................................ 85 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 87 TÓPICO V – AS DIFERENÇAS ENTRE AS ATRIBUIÇÕES E AS COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL.............................................................................. 89 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 92 SERVIÇO SOCIAL em foco ii TÓPICO VI – A ASSOCIAÇÃO DA INSTRUMENTALIDADE E DA COMUNICAÇÃO NO SERVIÇO SOCIAL.................................................................................... 94 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 97 TÓPICO VII – OS TERMOS TÉCNICOS E A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL.................................................................................... 99 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 104 Referências............................................................................................ 106 UNIDADE 3.................................................................................................. 109 APRESENTAÇÃO........................................................................................ 109 TÓPICO I – A AMPLITUDE DA TERMINOLOGIA DO TERMO DA QUESTÃO SOCIAL............................................................................................................ 110 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 116 TÓPICO II – A GLOBALIZAÇÃO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL......................................................................................... 118 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 127 TÓPICO III – ESPAÇOS OCUPACIONAIS DO ASSISTENTE SOCIAL NO PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO SETORES.......................................... 130 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 135 TÓPICO IV – PROJETOS DE PESQUISA E PROJETOS DE INTERVENÇÃO PROFISSIONAL A PARTIR DA ELABORAÇÃO, EXECUÇÃO, AVALIAÇÃO E COMUNICAÇÃO (PUBLICAÇÃO DE RESULTADOS)................................... 137 COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL E DEMAIS PROFISSIONAIS. . 142 SERVIÇO SOCIAL em foco ii 9 ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS SOMENTE DO ASSISTENTE SOCIAL...... 143 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 147 Referências............................................................................................ 149 UNIDADE 4.................................................................................................. 152 APRESENTAÇÃO........................................................................................ 152 TÓPICO I – A PROFISSÃO DO SERVIÇO SOCIAL MEDIANTE UMA TRAJETÓRIA DAS FUNÇÕES TRADICIONAIS ÀS PROVOCAÇÕES PERANTE AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DE REGULAÇÃO SOCIOPOLÍTICA.............................. 153 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 167 10 TÓPICO II – A IMPORTÂNCIA DA ESTATÍSTICA PARA O SERVIÇO SOCIAL........................................................................................................... 169 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 183 TÓPICO III – O SERVIÇO SOCIAL: ANALISANDO OS PRINCIPAIS INDICADORES SOCIAIS DA REALIDADE BRASILEIRA............................. 185 AUTOATIVIDADE......................................................................................... 200 TÓPICO IV – O SERVIÇO SOCIAL E A LEI Nº 13.058/2014 – GUARDA COMPARTILHADA.......................................................................................... 202 AUTOATIVIDADE ........................................................................................ 207 Referências............................................................................................ 208 SERVIÇO SOCIAL em foco ii UNIDADE 1 CONCEITOS SÓCIO-HISTÓRICOS, ECONÔMICOS, POLÍTICOS E CULTURAIS ASSOCIADOS À IDENTIDADE PROFISSIONAL Denise da Silva Vieira Marines Selau Lopes APRESENTAÇÃO Nesta unidade serão abordadas as teorias clássicas do pensamento social: Émile Durkheim, Karl Max e Weber, e alguns clássicos do pensamento político, tais como: Adam Smith; Aristóteles; Jean-Jacques Rousseau; John Locke; Nicolau Maquiavel; Platão e Thomas Hobbes. As correntes filosóficas e econômicas do século XX e XXI, o desenvolvimento da história política brasileira: República Velha e Estado Novo. Caro(a) acadêmico(a)! Vamos iniciar nossos estudos procurando compreender o sistema capitalista. Assim, constataremos que o mercado é um organismo utilizado no capitalismo para concentrar a riqueza nas mãos de poucos. E que, para impedir que o mercado destrua a si próprio, o Estado intervém quando o mercado apresenta sinais de perigo, pois o crescimento e a riqueza centralizada agravam ainda mais as desigualdades sociais. Em seguida, veremos como se gerou a discussão sobre o desenvolvimento e o neoliberalismo. Neste sentido, como profissionais do Serviço Social, se faz necessário seguir o processo de reflexão e amadurecimento profissional, bem como a inserção nas lutas sociais recentes, lutas estas de ampliação de direitos, de democracia, de participação social e na ação coletiva do trabalho. Posteriormente estudaremos as objetivações humanas e a construção da subjetividade. Desta forma, concluiremos que a subjetividade, portanto, não é refém do processo social, mas componente integrante, tanto pode ser resultado como criadora do próprio processo. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 11 Para finalizar, faremos uma análise das diferentes dimensões culturais e suas correlações com o Estado e o mercado. Assim, veremos que a cultura é uma extensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não pertence apenas a um conjunto de técnicas e visões. --------------- [ TÓPICO 1: TEORIAS CLÁSSICAS DO PENSAMENTO SOCIAL E DO PENSAMENTO POLÍTICO ] --------------Denise da Silva Vieira Apresentaremos uma breve explanação dos clássicos da sociologia, tais como: Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. 12 1.1 ÉMILE DURKHEIM David Émile Durkheim nasceu em 15 de abril de 1858, em Paris. Foi sociólogo, psicólogo social e filósofo francês. Designou a disciplina acadêmica e, com Karl Marx e Max Weber, é comumente citado como o principal arquiteto da ciência social moderna e considerado um dos pais da sociologia. Émile Durkheim destaca que na vida em sociedade o homem defronta-se com regras de conduta que não foram diretamente criadas por ele, mas que existem e devem ser seguidas. Afirma que os fatos sociais são objetos de estudo da sociologia, sendo estas regras e normas coletivas que norteiam a vida dos indivíduos em sociedade. Preocupava-se, em seu trabalho, como a sociedade poderia conservar sua integridade e coerência na modernidade. Teve várias publicações, destacamos o seu primeiro trabalho sociológico relevante, “Da divisão do Trabalho Social” (1893), dentre outros de grande importância. Durkheim também estava intensamente preocupado com a aceitação da sociologia como ciência legítima. Aprimorou o positivismo originalmente SERVIÇO SOCIAL em foco ii estabelecido por Auguste Comte, solicitando o que poderia ser considerado como figura de realismo epistemológico, bem como a utilização do método hipotéticodedutivo na ciência social. A sociologia, na sua visão, era a ciência das criações, entendida em seu sentido mais amplo como as "crenças e modos de comportamento instituídos pela coletividade", tendo como objetivo descobrir fatos sociais estruturais. Foi um amplo defensor do funcionalismo estrutural, uma perspectiva fundamental tanto em sociologia como em antropologia. Para Durkheim, a ciência social deve ser puramente holística, na qual a sociologia precisa estudar os fenômenos atribuídos à sociedade em geral, em vez de se limitar às ações específicas dos indivíduos. 1.2 KARL MARX Karl Heinrich Marx nasceu em 5 de maio de 1818, em Londres. É considerado um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna. Atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista. Seu pensamento tem influências em várias áreas, tais como: Filosofia, Geografia, História, Direito, Sociologia, Literatura, Pedagogia, Ciência Política, Antropologia, Economia e Teologia, e também Biologia, Psicologia, Comunicação, Administração, Física, Cosmologia, Arquitetura e Ecologia. Suas teorias sobre a sociedade, economia e política, também conhecidas como marxismo, destacam que as sociedades humanas avançam através da luta de classes, na qual, de um lado, há conflito entre a classe burguesa que controla a produção e, de outro, o proletariado que fornece a mão de obra para a produção. Foi eleito o maior filósofo de todos os tempos, juntamente com Durkheim e Max Weber. Em sua principal obra sobre a economia foram ressaltadas as bases e compreensão atual do trabalho e sua relação com o capital, influenciando o pensamento econômico. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 13 Marx destaca o capitalismo como a “ditadura burguesa”, ou seja, somente a classe rica tem seu próprio benefício, em que o capitalismo causa conflitos internos que dirigiriam à sua autodestruição e substituição por um novo sistema, o socialismo. Ressalta que a sociedade socialista seria governada pela classe trabalhadora, sendo chamada de "ditadura do proletariado", o "Estado dos trabalhadores" ou "democracia dos trabalhadores". Acreditava que o socialismo seria uma estratégia revolucionária para derrubar o capitalismo e ocasionar mudanças socioeconômicas para o país. 1.3 MAX WEBER 14 Karl Emil Maximilian Weber nasceu em 21 de abril de 1864, em Munique, Alemanha. Era um intelectual, jurista e economista alemão e foi um dos fundadores da Sociologia. Também foi considerado um dos fundadores do estudo moderno da sociologia, com influência na economia, filosofia, no direito, na ciência política e na administração. Iniciou sua carreira acadêmica na Universidade Humboldt, de Berlim, posteriormente veio a trabalhar nas universidades de Munique. Publicou várias obras, entre elas destacamos “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, onde traz uma discussão e reflexões sobre a sociologia da religião. Para Weber a religião era uma das razões não exclusivas do porquê as culturas do Ocidente e do Oriente, desenvolvendo-se de formas variadas, salientando a importância de algumas qualidades específicas do protestantismo ascético, que levou ao surgimento do capitalismo, da burocracia, do estado racional e legal nos países ocidentais. Destaca outro trabalho importante, “a política como vocação”. Segundo Weber, o Estado estava definido como "uma entidade que reivindica o monopólio do uso legítimo da força física", um significado que se tornou central no estudo contemporâneo da ciência política no Ocidente. Em suas contribuições mais apreciadas são muitas vezes mencionadas como a "Tese de Weber". SERVIÇO SOCIAL em foco ii 1.4 PENSAMENTO POLÍTICO Faremos uma breve explanação sobre os clássicos do pensamento político, na visão de alguns pensadores, tais como: Adam Smith, Aristóteles, JeanJacques Rousseau, John Locke, Nicolau Maquiavel, Platão e Thomas Hobbes. Primeiramente, vamos compreender o termo política: “deriva do grego polis (polis-cidade, urbe) e polités (polités – cidadão, civil), guardando, portanto, em seu significado etimológico, o segredo de sua identidade”. (BITTAR, 2002, p. 28). Entende-se por política a ciência da direção de um Estado ou Nação, ou seja, é também um método de negociação para compatibilizar interesses. Conforme Bittar (2002, p. 27): “Política tem relação com os modos de organização do espaço público, objetivando o convívio social”. O termo "ciência política", segundo Cicco e Gonzaga (2011, p. 178), “é o estudo de teorias e casos práticos da política, bem como a análise e a descrição dos sistemas políticos e seu comportamento”, ou seja, é a teoria e prática da política, que consiste no estudo por parte do governo com o intuito de analisar e compreender a realidade social, histórica e seu funcionamento. A política engloba tudo o que trata da cidade e de direitos do cidadão. Sendo através das decisões comuns consensuais ou não e de votação, também das discussões e deliberações realizadas no espaço público com propostas comuns a todos. 1.5 ADAM SMITH Nasceu em 5 de junho de 1723, em Kirkcaldy. Foi um filósofo e economista escocês. Teve como cenário para a sua vida o atribulado Século das Luzes, o século XVIII. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 15 Considerado o pai da economia moderna, foi o mais importante teórico do liberalismo econômico. Autor de "Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações", a sua obra mais conhecida, a qual é usada como referência para gerações de economistas, procurando sempre demonstrar que a riqueza das nações resulta do desempenho dos sujeitos que, movidos até mesmo pelo seu próprio interesse, provocavam o crescimento econômico e a inovação tecnológica. Esperava que a iniciativa privada devesse atuar livremente, com pouca ou nenhuma influência do governo. Sendo que a concorrência livre entre os diferentes fornecedores alteraria não só a queda do preço dos produtos, como também as constantes inovações tecnológicas, com o intuito de amortecer o custo de fabricação e abater os concorrentes. A divisão do trabalho foi um fator evolucionário influente a propulsionar a economia. Neste sentido, os ensinamentos de Adam Smith exerceram uma rápida e intensa abrangência na burguesia (negociantes, industriais e financistas), uma vez que almejavam abolir com os direitos feudais e com o mercantilismo. 16 1.6 ARISTÓTELES Aristóteles nasceu em 384 a.C., na cidade antiga de Estagira, na Grécia. Grande filósofo grego, astrônomo e matemático, fixou residência em Atenas aos 17 anos, onde conheceu Platão e se tornou seu discípulo. Direcionou as suas diversas obras, principalmente “A Política”, ao campo político. Apresentou uma visão realista do Estado, abordando também a cidade, a família, as riquezas, os regimes políticos e fez crítica a Platão. Seus escritos abrangem os mais variados assuntos, tais como física, metafísica, as leis da poesia e do drama, o governo, entre outros. É visto como um dos fundadores da filosofia ocidental. Aristóteles destaca três formas de governo: a monarquia, a aristocracia e a democracia. Conforme Cicco e Gonzaga, (2011, p. 192) “todas devem buscar o bem comum da polis (espécie de comunidade que possui seus próprios fins), sob SERVIÇO SOCIAL em foco ii pena de se tornarem formas corruptas ou desvirtuadas, degenerando-se então sob a forma de tirania, oligarquia e demagogia”. Classificou as formas de governo como três boas e três desvirtuadas. Na sua visão, as boas são consideradas aquelas que visam ao bem comum, ou seja, que visam favorecer aos governados e não apenas aos governantes. E as que não visam o bem comum são formas desvirtuadas de governo. QUADRO 1 – CONSIDERAÇÕES BOAS E DESVIRTUADAS CONSIDERADAS BOAS CONSIDERADAS DESVIRTUADAS Monarquia: Poder centrado em uma Tirania: Forma distorcida, contrária de pessoa física, ou seja, governo de um. Monarquia. Aristocracia: Poder no qual o Estado Oligarquia: Forma impura, degenerada é governado por um grupo de pessoas. de Aristocracia. Democracia ou Politeia: Governo de Demagogia ou Olocracia: a corrupção uma maioria, do povo. da Democracia. FONTE: A autora 1.7 JEAN-JACQUES ROSSEAU Nasceu em Genebra em 28 de junho de 1712, foi um admirável filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata suíço. Respeitado como um dos principais filósofos do Iluminismo e um precursor do Romantismo. Rousseau pondera que as instituições educativas corrompem o indivíduo e tiram-lhe a liberdade. Contudo, destaca que para a criação de um novo indivíduo e de uma nova sociedade, seria preciso educar a criança de acordo com a natureza, ampliando progressivamente seus sentidos e razão com vistas ao livre-arbítrio e à capacidade de avaliar. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 17 Autor de várias obras. A terceira análise rousseauniana corresponde ao livro terceiro, se refere às possíveis formas de governo, que são a democracia, a aristocracia e a monarquia, e suas características e princípios. A partir do oitavo capítulo, que vai se destacando o tipo de Estado, ou seja, que forma de governo funciona melhor, se a democracia é boa em cidades pequenas, a aristocracia em Estados médios e a monarquia em Estados grandes. No décimo capítulo, Rousseau expõe como o excesso dos governos pode degenerar o Estado. Destacando ainda, no nono capítulo que o principal objetivo de uma sociedade política é a prevenção e prosperidade dos seus membros. Em sua obra “O contrato social”, destaca a preocupação filosófica e política de Rousseau. “O contrato social possui existência na teoria de Rousseau, e não corresponde a uma realidade aferível empiricamente”. (BITTAR, 2002, p. 185). 18 O contrato social trata de um acordo instituído entre as pessoas com vistas à fundação da sociedade, sendo divisor de águas entre o estado de natureza e o estado cívico. 1.8 JOHN LOCKE John Locke nasceu em 29 de agosto de 1632, em Wrington, na Inglaterra. Foi um filósofo inglês, estudou em Oxford, onde se formou em Medicina, posteriormente se tornou professor daquela universidade. Suas principais obras foram: Cartas sobre a tolerância, Ensaios sobre o entendimento humano e os Dois tratados sobre o governo civil. Conhecido como defensor da liberdade e da tolerância religiosa, foi considerado o fundador do empirismo, “doutrina segundo a qual todo o conhecimento deriva da experiência” (WEFFORT, 2006, p. 83). O mesmo autor diz ainda que “como filósofo, Locke é conhecido pela teoria da tábula rasa do conhecimento, desenvolvida no ensaio sobre o entendimento humano”. (WEFFORT, 2006, p. 83). A partir do conhecimento adquirido é que se desenvolve essencialmente o próprio conhecimento. Segundo Weffort (2006, p. 83), SERVIÇO SOCIAL em foco ii A teoria da tábula rasa é, portanto, uma crítica à doutrina das ideias inatas, formulada por Platão e retomada por Descartes, segundo a qual determinadas ideias, princípios e noções são inerentes ao conhecimento humano e existem independentemente da experiência. Na busca do conhecimento, através das experiências, o ser humano vai estabelecendo novas formas de trabalho, o livre consentimento da sociedade para a formação de governos, sendo estes, para Locke, os principais fundamentos do estado civil. Pontua o “Estado de natureza” e o “Estado Político”, sendo que, no Estado de natureza todos têm que fazer valer a lei natural. Acreditava que o trabalho era o que dava direito à propriedade, desde que não prejudicasse ninguém, assim ficaria assegurado o direito ao fruto do trabalho. John Locke define as formas de governo como “a comunidade pode ser governada por um, por poucos ou por muitos, conforme a escolha a monarquia, oligarquia ou democracia”. (WEFFORT, 2006, p. 87). Pontua que esta escolha poderá incidir sobre o governo misto. Defende como forma de governo a monarquia absoluta, “desconhecendo limitações de qualquer natureza, é incompatível com os justos fundamentos da sociedade civil”. (MALUF, 1995, p. 121). A adaptação da sociedade e organização do Estado foi estabelecida em benefícios próprios, não sendo possível neste segmento a afirmação do poder com amplitude, ao contrário do que o bem público estabelece. Conforme Weffort (2006, p. 88), “Os direitos naturais inalienáveis do indivíduo à vida, à liberdade e à propriedade constituem para Locke o cerne do estado civil e ele é considerado por isso o pai do individualismo liberal”. Locke pontua que os princípios de um direito natural do Estado, baseado na concordância e submissão dos poderes Executivo e Legislativo, de direito de resistência, são garantidas com as diretrizes fundamentais do Estado Liberal. Com os princípios de um direito natural do Estado, baseado na concordância e submissão dos poderes Executivo e Legislativo, de direito de resistência, Locke pontua as diretrizes fundamentais do Estado Liberal. “Locke assinala que ‘a liberdade não é licença, mas obediência à lei natural’”. (BITTAR, 2002, p. 166). SERVIÇO SOCIAL em foco ii 19 1.9 NICOLAU MAQUIAVEL Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, na Itália, no dia 3 de maio de 1469. Foi historiador, poeta, diplomata e músico italiano. Foi reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna. Escreveu diversas obras, sendo a mais reconhecida “O Príncipe”. Com 29 anos de idade, ingressa na vida pública exercendo um cargo de destaque, sendo interrompida quando os Médici recuperaram o poder. Afastado da vida pública, Maquiavel inicia uma nova fase estudando os clássicos, posteriormente dando vida às suas obras, tais como: O Príncipe (1512 a 1513), A arte e a guerra (1513 a 1519) e outras. Era reconhecido como o fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo fato de escrever sobre Estado e governo. 20 Maquiavel classifica as formas de governo em termos dualistas: de uma parte, a monarquia e poder singular, e de outra, a República ou poder plural. Acredita em três formas boas de governo: são ideais a monarquia, a aristocracia e a democracia. Segundo Cicco e Gonzaga (2011, p. 80), “afirma que todos os governos que existem ou já existiram apresentam-se sempre como repúblicas ou principados (monarquias)”. Repúblicas não apresentam características de vitaliciedade e nem hereditariedade do governo. Sua forma pode manifestar-se por meio da democracia, aristocracia e timocracia (sistema de governo em que preponderam os ricos) ou oligarquia. O Principado pode ser hereditário dos governos, podendo se manifestar como monarquia ou tirania. Salientamos que para Maquiavel a forma de governo tem que ser eficaz, atingindo a paz social, que seria o objetivo maior a ser alcançado pelo governante. Para Maquiavel, o Estado real é capaz de impor a ordem, tendo como ponto de partida e chegada a realidade concreta. Conforme Weffort (2006, p. 17), “esta é a sua regra metodológica: ver e examinar a realidade tal como ela é e não como se gostaria que ela fosse”. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Maquiavel apresenta duas forças opostas quanto ao fator social de instabilidade, “uma das quais provém de não desejar o povo ser dominado nem oprimido pelos grandes, e a outra de quererem os grandes dominar e oprimir o povo” (O Príncipe, cap. IX). Salienta que “se todos quisessem o comando, a oposição seria resolvida pelo governo dos vitoriosos”. (WEFFORT, 2006, p. 20). O problema político é encontrar estratégias que atribuem equilíbrio às relações, que sustentem uma determinada correlação de forças. Maquiavel coloca que há duas respostas à anarquia decorrente da natureza humana e ao confronto entre grupos sociais: “o Principado e a República”. (WEFFORT, 2006, p. 20) O mesmo autor diz que “A escolha de uma ou de outra forma institucional não depende de um mero ato de vontade ou de considerações abstratas e idealistas sobre o regime, mas da situação concreta”. (WEFFORT, 2006, p. 20). Acreditava que quando a nação se encontra ameaçada seria necessário um governo forte, com estratégias e com instrumentos de poder capazes de inibir as forças fragmentadas. Maquiavel descrevia a política como sendo uma prática de homem livre de freios extraterrenos, sujeito da história, prática esta que exigia virtú (equivalente a virtude), o domínio sobre a fortuna, ou seja, agir de maneira correta diante das situações. Para Maquiavel, a política tem uma ética e lógica próprias, para se pensar e fazer política que não se enquadra no tradicional moralismo piedoso “a resistência à aceitação da radicalidade de suas proposições é seguramente o que dá origem ao ‘maquiavélico’”. (WEFFORT, 2006, p. 24). Para Maquiavel, o governo ideal é aquele que consegue consolidar as forças desfavoráveis presentes na sociedade, equilibrando o anseio daqueles que impõem o domínio e a resistência dos que não aceitam ser dominados. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 21 1.10 PLATÃO Nasceu em 428/427 a.C., em Atenas, Grécia antiga, e foi um filósofo matemático. Escreveu diversos diálogos filosóficos, foi o fundador da Academia em Atenas, a primeira Instituição de Ensino Superior, contribuiu na construção dos alicerces naturais da ciência filosófica. Suas principais obras foram: O Banquete, A República. Nesta última descreve sobre a importância da arte de governar. Afirma que os governantes devem ser filósofos; classifica a política como defensora da justiça, onde o bem deveria sempre prevalecer, com diálogos entre os governantes e os governados; toma como base as frases de seu mestre Sócrates, para as proposições de modelos de cidade, estado, nação, justiça e cidadania. 22 Platão classifica as formas de governo em graus de degenerescência, ou seja, degenerando de aristocracia passando para a timocracia, oligarquia, democracia, até resultar na forma de tirania, que para ele é a pior forma de governo. Presenciou as primeiras discussões sobre a democracia, queda das aristocracias, tiranias, após guerras. Acreditava que a aristocracia e a monarquia são formas boas de governo. Segundo Cicco e Gonzaga (2009, p. 77), “o governo aristocrático é aquele dos que possuem [...] virtudes, o governo monárquico seria bom, pois o governo pensaria nos seus súditos. Nos bons governos imperam o logos, a sabedoria e a virtude”. Segundo Bittar (2002, p. 47), “A política depende das leis para realizar-se, efetivar-se e ser praticada. Contudo, a missão das leis não se exaure em apenas proibir e coibir, devendo também estimular, incentivar, educar”. Para Platão, o Estado ideal é completamente baseado na justiça, as responsabilidades políticas deveriam ser para o governo um preparado para administrar a cidade. Destacava a possibilidade de filósofos assumirem o governo, tendo em vista que estavam preparados para representar a sociedade, com alto grau de formação e conhecimento. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 1.11 THOMAS HOBBES Thomas Hobbes nasceu em 5 de abril de 1588, na Inglaterra, e foi um filósofo inglês, matemático, teórico político, autor de várias obras. Entre elas estão: “Leviatã”, onde expõe seu ponto de vista sobre a natureza humana, e “Do cidadão”, onde descreve as necessidades de governos e sociedades. Na obra Leviatã, Hobbes dispôs o poder de um Estado eclesiástico e civil. Conforme Cicco (2011, p. 215), “Estado de natureza e Estado Político civil, que podem ser definidos pela oposição. O Estado de natureza é uma construção ficcional que se apresenta de modo conflituoso, beligerante, um verdadeiro estado de guerra”. Segundo Bittar (2002, p. 142), “O Estado, o homem artificial, ganharam grande repercussão no universo da teoria política, e é um dos grandes predecessores da era dos monarcas”. A sociedade se incorporava conforme suas necessidades e sobre o medo, sendo estas situações sanadas com o aparecimento do Estado político e organizado, trazendo recursos e estratégias para impedir o fim da espécie humana. “A drástica solução é a organização do Estado Político, de modo que a força de todos se opusesse ao egoísmo de cada um e com isso fossem garantidas a vida, a segurança e a organização”. (CICCO & GONZAGA, 2011, p. 216). Em seu entrosamento, na circunstância da natureza, os indivíduos, na batalha pela sobrevivência, promovem a guerra, porém pelo clima do medo e da consciência de que é melhor viver em paz, os indivíduos, em comum acordo, submetem-se a um poder soberano. Para Hobbes, esta teoria pessimista considerava que o homem é o lobo do homem e esta luta de todos contra todos tem como consequência o desaparecimento da sociedade. O mesmo autor diz que “para que haja paz, o indivíduo abre mão de suas liberdades naturais em troca de uma liberdade civil que garante sua vida” (CICCO, 2011, p. 216). Contudo, este princípio apresenta como um favor do poder absoluto do governante. Sendo Hobbes um defensor do Estado absoluto, ao qual o indivíduo, em última análise, deve se dominar, a fim de afiançar sua própria característica de SERVIÇO SOCIAL em foco ii 23 sobrevivência, visto que o estado de natureza já não é mais aceitável no contexto social. AUTOATIVIDADE 1) Referente à teoria dos clássicos do pensamento político, avalie as afirmações a seguir: 24 I. Maquiavel classifica as formas de governo em termos dualistas: de um lado a monarquia, de outro a república. Acreditava em três formas boas de governo: monarquia, aristocracia e democracia. II. Thomas Hobbes defende a teoria pessimista, considerava que o homem é o lobo do homem e esta luta de todos contra todos tem como consequência o desaparecimento da sociedade. III. Platão defendeu os direitos naturais e jusnaturalistas como direito do homem, com direito à propriedade e liberdade, sendo o Estado ideal baseado na justiça. É correto o que se afirma em: A) – I, apenas. B) – II, apenas. C) – I e II, apenas. D) – II e III, apenas. E) – I, II e III. 2) Consideramos um fator de suma importância o fato de que a sociologia se desenvolveu e se completa na medida em que assimila as grandes contribuições de seus grandes mentores. Entre eles podemos destacar três dos principais pensadores clássicos da Sociologia, a saber: Marx, Durkheim e Weber, que contribuíram com suas considerações. A respeito dos clássicos da sociologia, avalie as afirmações a seguir. I. Durkheim afirma que os fatos sociais são objeto de estudo da sociologia, sendo estas regras e normas coletivas que norteiam a vida dos indivíduos em sociedade. SERVIÇO SOCIAL em foco ii II. Marx destaca que as sociedades humanas avançam através da luta de classes: de um lado, o conflito entre a classe burguesa que controla a produção e, de outro, o proletário fornecendo a mão de obra para a produção. III. Weber destaca que as sociedades humanas avançam através da produção em massa, fornecendo mão de obra para o proletariado. IV. Durkheim confirma que a ciência possui um papel político fundamentalmente crítico em relação à sociedade e seus proletariados. V. Weber ressalta que a ciência possui um papel político fundamentalmente crítico em relação à sociedade capitalista. É correto apenas o que se afirma em: A – I, II e IV. B – I, II e V. C – I, III e V. D – II, III e IV. E – II, IV e V. 25 SERVIÇO SOCIAL em foco ii ------------- [ TÓPICO II – PRINCIPAIS CORRENTES FILOSÓFICAS DO SÉCULO XX: MARXISMO, NEOTOMISMO, FENOMENOLOGIA E NEOPOSITIVISMO ] ------------Denise da Silva Vieira Apresentaremos uma breve explanação acerca das principais correntes filosóficas do século XX, tais como: Marxismo, Neotomismo, Fenomenologia e Neopositivismo, proporcionando uma base de entendimento destas correntes ocorridas no século XX. 2.1 MARXISMO 26 Elaboradas por Karl Marx e Friedrich Engels, Marxismo é considerado um conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais e que foram desenvolvidas mais tarde por outros seguidores. Fundamentado na concepção materialista e dialética da história, explica a vida social conforme a dinâmica da base produtiva das sociedades e das lutas de classes daí consequentes. O marxismo abrange o indivíduo como um ser social histórico, possuindo a competência de trabalho e desenvolvendo a produtividade, diferenciando o indivíduo dos outros animais, sendo que possibilita o avanço de sua emancipação da escassez da natureza, proporcionando a ampliação das potencialidades humanas. Conforme Sciacca (1966, p. 289), O marxismo leninista-stalinista não se satisfaz com tornar o homem uma determinação da natureza, da qual faz parte aparentemente o dominador, fazendo-o uma “célula” da sociedade: a “assimilação” do homem e dos seus fins à natureza é acompanhada com a assimilação do indivíduo à sociedade, dado que esta é todo o homem e é todo do homem. O homem como pessoa não tem sua “dignidade ontológica”: a sua “existência social”. SERVIÇO SOCIAL em foco ii A emancipação do proletariado se resume por meio da liberação da classe operária, para os trabalhadores da cidade e do campo, rompendo na origem a propriedade privada, empregadora do proletariado, transformando a base produtiva no sentido de socialização dos meios de produção, sobre o controle social dos próprios produtores de acordo com os interesses humanos adequados. Entusiasmando os mais distintos setores da atividade humana ao longo do século XX, tais como na política, análise e interpretação dos fatos sociais, morais, artísticos, históricos e econômicos e também a prática sindical. O marxismo foi utilizado desvirtuadamente, tendo como embasamento para as doutrinas oficiais, aproveitadas nos países socialistas e nas sociedades pós-revolucionárias. Ainda segundo Sciacca (1966, p. 290). Também a moral e a arte devem “engajar-se” na luta de classe, contribuir para a destruição da classe burguesa ou capitalista, exaltar (a arte) os esforços heroicos do proletariado na luta que se empenhou por esta destruição e para a construção de novo mundo socialista. O marxismo superou as ideias dos seus antecessores, passando a ser considerado uma corrente político-teórica com envolvimento de uma extensa gama de pensadores e militantes, tornando-se necessário observar as diversas tendências e definições do marxismo. 2.2 NEOTOMISMO Surgiu no século XIX, com o intuito de reviver a filosofia de São Tomás de Aquilo (pensador político). O Neotomismo é uma corrente filosófica, a fim de atender aos problemas contemporâneos. No final do século XIX, decorrente da industrialização e do desenvolvimento do capitalismo, surge a condição de exploração e miséria na vida dos operários na Europa, levando a Igreja a se posicionar e visando a crise e decadência da moral e dos costumes cristãos. Através das ideias de Tomás de Aquino, a Igreja usa estratégias para o enfrentamento desta situação. A ideia de Tomás de Aquino é conhecida como o SERVIÇO SOCIAL em foco ii 27 tomismo, doutrina filosófica cristã, destinada às explicações das relações entre a verdade revelada e a filosofia, ou seja, entre a fé e a razão. Tais conceitos não se chocam, são distintos e harmônicos. O tomismo marca a história da filosofia e do homem até o século XVIII, estendendo-se até o início do século XX. A retomada da ideia de Tomás de Aquino faz unir os pensadores católicos para a conquista do pensamento contemporâneo, ou seja, a Igreja ressuscitando o tomismo, levando a filosofia escolástica para as cátedras universitárias. O Neotomismo, segundo o pensamento de Descartes (filósofo francês) é toda a filosofia moderna que se organizava com falhas e equívocos, sendo responsáveis pela crise do mundo contemporâneo. Notada como um desvio metafísico e espiritual, sendo superada somente com a retomada do tomismo. Sendo que o retorno desta filosofia se estenderá a todos. Contudo, no campo social, segue a filosofia de Tomás de Aquino. 28 Far-se-á intensamente presente e marcando intensamente o serviço social. A repercussão do Neotomismo na teoria/prática profissional dos assistentes sociais pode ser percebida até os dias atuais. Neste sentido, o trabalho dos primeiros assistentes sociais estava voltado à classe trabalhadora, na perspectiva da conciliação das classes sociais, com o objetivo de “moldar” o homem e integrálo à sociedade, aos valores, à moral e aos bons costumes. A partir da década de 60 estas ideias vêm sendo questionadas, porém nos dias atuais ainda se pode perceber a presença de princípios cristãos. Conclui-se que há uma influência teórica na formação histórica do serviço social, pois o Neotomismo marca fortemente o início da profissão, sendo que o pensamento de Tomás de Aquino acaba influenciando os embasamentos teóricos do serviço social desde seu início, e a Igreja Católica tem uma importante participação neste processo. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 2.3 FENOMENOLOGIA O termo Fenomenologia vem do grego phainesthai – aquilo que se apresenta ou que se mostra – e logos – explicação, estudo. Assegura a importância dos fenômenos da consciência, com o objetivo de serem estudados em si mesmos, ou seja, tudo o que poderemos conhecer do mundo resume-se a esses fenômenos, a elementos e ideais que existem na mente, denominados por uma palavra que representa a sua essência, sua "significação". O método científico está na afirmação de uma "verdade provisória" útil, verdade esta até que um novo acontecimento manifeste outra realidade. Segundo Sciacca (1966, p. 298), “A fenomenologia é ciência eidética, isto é, capta a presença imediata das essências antes de quaisquer mediações. É ela intuição das essências, diversas da ciência dos fatos que se funda sobre a experiência sensível”. Fenomenologia é conhecida como o estudo da consciência e dos elementos da consciência. A redução fenomenológica, "epoche", processo informado pelos sentidos e mudado em um conhecimento de consciência, ou seja, estar consciente de alguma coisa. Sejam imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos, memórias, sentimentos, entre outros, fazem parte das nossas experiências já vivenciadas. O conceito foi criado pelo filósofo Edmund Husserl (1859-1938), ele atuava como matemático, cientista, pesquisador e professor das faculdades de Göttingen e Freiburg im Breisgau, na Alemanha. Segundo Sciacca (1966, p. 299), “Em todos os problemas metafísicos existe um “insuprimível” elemento irracional que é tal para nós e não em si. A ontologia (fundamento da metafísica) é o ser na sua pureza, purificado de qualquer determinação”. As regras metafísicas abordam os problemas centrais da filosofia teórica, ou seja, são experiências em descrever os fundamentos, condições, leis, estrutura SERVIÇO SOCIAL em foco ii 29 básica, causas ou princípios, bem como o sentido e a intenção da realidade como um todo ou dos indivíduos em geral. A ontologia é um ramo central da metafisica, tendo como objetivo a investigação referente às categorias básicas do indivíduo e como se relacionam uns com os outros. Outro ramo é a cosmologia, que se preocupa em estudar a totalidade de todos os fenômenos no universo. Não podemos confundir fenomenologia com fenomenalismo. Este não expõe a complexidade da estrutura intencional da consciência que o indivíduo tem dos acontecimentos, ou seja, tudo o que permanece são as percepções ou probabilidades permanentes das sensações, chamado de fenômeno. Já a fenomenologia analisa a semelhança entre a consciência e o indivíduo. 30 A influência da fenomenologia no serviço social iniciou com os programas de pós-graduação, principalmente na PUC/São Paulo e Porto Alegre e do Rio de Janeiro. Com objetivo de renovação dos projetos operativos do serviço social, seguindo como orientação metodológica um modo fenomenológico. Contudo, a fenomenologia surge como uma nova sugestão teórica para o serviço social, analisando o movimento dos profissionais, que procuravam aplicar mais qualidade à prática profissional. 2.4 NEOPOSITIVISMO Neopositivismo, também conhecido por Positivismo lógico, é um modelo filosófico geral, desenvolvido por membros do Círculo de Viena, com base no pensamento empírico tradicional e no desenvolvimento da lógica moderna. Surgiu no início do século XX com o Círculo de Viena e foi liderado por Moritz Schlick, um grupo de discussão composto por cientistas e filósofos com o intuito de instituir uma nova filosofia da ciência, com rigorosa demarcação do científico e do não científico. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Segundo Sciacca (1966, p. 299), O Círculo de Viena ou empirismo lógico. A filosofia como análise da linguagem científica, de modo a adiantar prognósticos e a formular as condições do seu controle por meio dos dados de observação. Tudo o que não é dado de experiência ou verificável fisicamente é sem sentido (fisicalismo); os problemas da metafísica são sem sentido. O neopositivismo reduziu o conhecimento à ciência e empregou o verificacionismo, para abandonar a metafísica não como falsa, mas como derrubada de significado. A importância da ciência levou positivistas lógicos acentuados a estudar o método científico para descobrir a lógica da teoria da confirmação, “a análise da linguagem como exame da estrutura lógica das categorias científicas”. (SCIACCA, 1966, p. 299). Nos dias atuais, o neopositivismo é desconsiderado pela maioria dos filósofos. Mas as correntes filosóficas distendidas de Kuhn (estabelecendo o caráter paradigmático da ciência) e Paul Feyerabend (demonstrando que na prática científica a ciência não evolui segundo normas preestabelecidas) causaram graves problematizações de suas ideias. Já no fim dos anos 30, os membros do Círculo de Viena se espalharam devido à morte de Schlick, ocorrida na Alemanha; o grupo também se rompeu devido aos avanços do nazismo. O neopositivismo foi conquistado por Alfred Jules Ayer, na Inglaterra. Entretanto, após receber diversas críticas de alguns filósofos, o neopositivismo foi cada vez mais "abandonado" pelos seus defensores. E no final dos anos 60, o movimento já apresentava praticamente seu fim. Através de um movimento em semelhança, a filosofia idealista que rondava as universidades alemãs da época, o neopositivismo apresentou como características marcantes a busca por uma ciência integrada, a antimetafísica, através do verificacionismo, obtendo significado de conhecimentos analítico (pode SERVIÇO SOCIAL em foco ii 31 ser explicado por ele mesmo) e sintético (afirmações sobre o mundo real, pela observação). AUTOATIVIDADE 3) (Questão 17 – ENADE 2010) As principais vertentes de fundamentação teórico-metodológica que emergiram no bojo do Movimento de Reconceituação foram: a vertente _______________, caracterizada pela incorporação de abordagens funcionalistas e estruturalistas e, mais tarde, sistêmicas (matriz positivista), voltadas a uma modernização conservadora (NETTO, 1994, p. 164); a vertente de inspiração _______________, centrada na análise do vivido e das vivências dos sujeitos; e a vertente _______________, que remete a profissão à consciência de sua inserção na sociedade de classes. 32 Assinale a opção cujas palavras preenchem corretamente as lacunas, na ordem em que estão dispostas no texto. A) modernizadora, fenomenológica, marxista. B) fenomenológica, modernizadora, marxista. C) sistêmica, marxista, modernizadora. D) marxista, sistêmica, fenomenológica. E) sistêmica, fenomenológica, marxista. SERVIÇO SOCIAL em foco ii --------------- [ TÓPICO III – CONCEPÇÕES E ANÁLISES DO CAPITALISMO E CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO ] --------------Marines Selau Lopes O capitalismo é um sistema socioeconômico que se instalou inteiramente após o século XVIII. Nele, os elementos utilizados para produzir e distribuir as mercadorias são de domínio privado com fins lucrativos, investimentos estes que são considerados indispensáveis para a expansão econômica. Esse sistema intensifica a luta de classes, ou seja, a exploração do proletariado pela burguesia. FIGURA 1 – LUTA DE CLASSES 33 FONTE: Disponível em: <http://www.blogdozebrao.com.br/v1/category/charges/page/22/>. Acesso em: 20 maio 2015. Desta forma, podemos afirmar que o mercado é um organismo utilizado no capitalismo, por indivíduos para concentrar a riqueza nas mãos de poucos. Assim, para impedir que o mercado destrua a si próprio, o Estado intervém quando o mercado apresenta sinais de perigo, pois o crescimento centralizado da riqueza arquiteta e agrava as desigualdades sociais. Desta forma, a intervenção do Estado se mostra necessária para instituir um mínimo de igualdade entre os indivíduos, pois, sem este equilíbrio, a vida em sociedade, no sistema capitalista, seria drasticamente afetada. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Ao fazer referência ao Estado, estamos tratando de uma organização que possui poder legítimo sobre um determinado território e os indivíduos que nele habitam. Neste sentido, a população acolhe a determinação do Estado que dita regras, cobra impostos, julga e pune os transgressores. Assim, considerando a legitimidade, podemos dizer que o Estado não possui concorrência e desempenha de maneira monopolista o sumo poder nas sociedades atuais. O Estado possui outras duas características, para além do caráter monopolista, estas se referem à universalidade e à inclusividade. A universalidade significa que as decisões do Estado representam a todos. Na questão da inclusividade, significa dizer que o Estado poderá intervir conforme as circunstâncias exigirem, para atender ao interesse público. 34 Referente às funções de poder do Estado, três são consideradas funções imprescindíveis. Sendo que na contemporaneidade, estas três funções passaram a ser exercidas por órgãos correspondentes de forma harmônica e interdependente: Legislativa: elaborar as leis necessárias para a manutenção da vida em sociedade. Executiva: administrar a coisa pública, ou seja, assegurar de fato o cumprimento das leis. Judiciária: julgar os atos praticados, conforme as leis existentes. FIGURA 2 – AS TRÊS FUNÇÕES INDISPENSÁVEIS DO ESTADO FONTE: Disponível em: <http://summaria.blogspot.com.br/2013/03/o-que-sao-instituicoes-sociais. html>. Acesso em: 29 maio 2015. SERVIÇO SOCIAL em foco ii No Brasil, como também na maioria dos países, o poder do Estado se dá através de três entes federativos: federal, estadual e municipal. Mas também existem outros países com variações na organização formal dos Estados. Independente da organização, o Poder Executivo é preponderante e ascendente aos demais poderes. Isso se justifica, porque o governo e as instituições que desempenham as funções executivas são os órgãos que dispõem dos meios para cumprir as decisões dos outros poderes, ou seja, executam as políticas do Estado. Ao Poder Executivo, também conhecido por governo, compete cobrar impostos que custeiam o funcionamento dos demais poderes do Estado. Também cabe ao governo transformar as pretensões do Estado em atos; assim, essa atribuição faz dele o poder preponderante sobre os demais. O governo ainda exige dos legisladores um constante aprimoramento nas leis que conduzem o funcionamento do Estado, que por sua vez demanda atenção das ações do governo. Mas isso não significa que as funções de um poder têm mais relevância que as de outro, e sim, que o governo e o conjunto das instituições que executam as funções possuem maior peso que o Legislativo e o Judiciário, pois são as instituições do governo que possibilitam ou deveriam possibilitar, no sentido amplo, a integridade, liberdade e bens dos cidadãos. Da mesma forma que a essência do poder do Estado não se altera com as variações de sua organização formal (União, Estado e Município), como é o caso do Brasil desde a Constituição de 1988, ou como a França, em que o poder do Estado se dá por esferas nacionais e as autoridades locais não possuem autonomia normativa, também a forma de seu regime (presidencialismo ou parlamentarismo) não interfere para a maior ou menor força do governo (Executivo). SERVIÇO SOCIAL em foco ii 35 FIGURA 3 – SISTEMA DE GOVERNO NO BRASIL FONTE: Disponível em: <http://www.debatesculturais.com.br/o-brasil-e-presidencialista/>. Acesso em: 29 maio 2015. Segundo Coelho (2009, p. 21), [...] a força de um governo depende, em grande parte, do apoio que suas propostas políticas e proposições legislativas encontrarem no parlamento; da sintonia entre suas ações e as expectativas dos eleitores; e da relação mantida com os diferentes grupos organizados da sociedade [...]. 36 Desta forma, independente do regime, a legitimidade só é reconhecida pela sociedade se a resposta que dá atende à expectativa. Assim, o governo depende também de uma estrutura administrativa suficiente para transformar as diretrizes em ações concretas para o bem da sociedade. A capacidade de intervenção do Estado na sociedade, ou seja, governar um país, Estado ou município, empregando esforços para produzir benefícios de interesse coletivo, vem sendo reconhecida na sociedade contemporânea através do termo governança. A governança é reconhecida quando o Estado passa a se concentrar na sua função de coordenador dos vários esforços públicos e privados para produzir bens coletivos. Assim sendo, a boa governança é a habilidade do Estado de também saber lidar com o mercado. Segundo Coelho (2009, p. 22), “o mercado pode ser definido como um sistema de trocas do qual participam agentes e instituições interessadas em vender ou comprar um bem ou prestar ou receber um serviço”. SERVIÇO SOCIAL em foco ii O mercado também é administrado tendo que cumprir determinadas leis, mas estas nem sempre são justas com a sociedade. Pois, os indivíduos que possuem poder de decisão no nível econômico, também possuem o anseio de elevar ao máximo o lucro. Assim, a adequada relação entre o Estado e o mercado que se daria através da oferta e da demanda não passa de um mero devaneio. Desta forma, o mercado, principalmente na era do sistema capitalista, não consegue atingir o objetivo de ser autorregulável, tendo que se equilibrar entre o liberalismo econômico (liberdade do mercado de produzir e comercializar bens e serviços sem interferência estatal) e a intervenção do Estado (ação com vistas a obter objetivos que irão fomentar o crescimento da economia e a diminuição das desigualdades, o crescimento do nível de emprego e dos salários, ou a correção das imperfeições do mercado). FIGURA 4 – ALTERNÂNCIA DA INTERVENÇÃO DO ESTADO E DO MERCADO 37 FONTE: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/1267268/>. Acesso em: 15 maio 2015. Assim, a relação entre o Estado e o mercado não é linear, pois ela oscila de forma alternada. Há momentos em que precisa haver a intervenção do Estado, pois a economia do mercado ameaça o bem-estar da sociedade civil. Para Campa (1985, p. 12), “O dualismo entre Estado e sociedade civil explicita-se na impossibilidade de se propor, quanto ao Estado, um princípio tutelar, e quanto à sociedade, uma multiplicidade de posições de poder que comporta o plano econômico, bem como o plano conjetural”. Assim, existem momentos em que a intervenção do Estado já não se apresenta adequada e a falta de crescimento econômico também passa a ameaçar o bem-estar da sociedade civil. Para concluir, salientamos que o mercado é um organismo utilizado no capitalismo para concentrar a riqueza nas mãos de poucos. Mas, para impedir que o mercado destrua a si próprio, o Estado intervém quando o mercado apresenta sinais de perigo, pois o crescimento centralizado da riqueza arquiteta e agrava as SERVIÇO SOCIAL em foco ii desigualdades sociais. Desta forma, a intervenção do Estado se mostra necessária para instituir um mínimo de igualdade entre os indivíduos, pois sem este equilíbrio a vida na sociedade capitalista seria drasticamente comprometida no seu cerne. AUTOATIVIDADE 4) No século XVIII instalou-se um sistema socioeconômico que até hoje persiste. Esse sistema intensifica a luta entre as camadas abastadas e populares. As camadas abastadas são as detentoras dos elementos utilizados para produzir e distribuir as mercadorias produzidas, mas são as camadas populares que utilizam sua força de trabalho na produção destas mercadorias. Sobre esse sistema, assinale a alternativa CORRETA: 38 A) ( ) O referido sistema socioeconômico é o capitalismo, seu principal objetivo é adquirir lucro. B) ( ) O projeto de sociedade neste sistema é coletivo, ele estabelece estratégias que projetam transformação social. C) ( ) O projeto ético-político dos capitalistas é pautado no seu exercício profissional que visa o bem comum. D) ( ) O Estado e o mercado possuem o mesmo objetivo neste sistema, ou seja, a equidade social. 5) O Estado possui um aparelhamento que tem poder legitimado pelos indivíduos para determinar regras, arrecadar impostos, julgar e penitenciar os transgressores. As decisões tomadas por ele devem representar a todos, conforme as ocorrências exigirem, no sentido de atender ao interesse público. Com relação ao aparelhamento do Estado, analise as sentenças a seguir: I- O Legislativo tem a função de elaborar as leis necessárias para a manutenção da vida em sociedade. II- O Executivo tem a função de administrar a coisa pública, ou seja, assegurar de fato o cumprimento das leis. SERVIÇO SOCIAL em foco ii III- O Judiciário tem a função de elaborar os atos que serão praticados no futuro, conforme as leis existentes. Agora, assinale a alternativa CORRETA: A) ( ) As sentenças I e III estão corretas. B) ( ) As sentenças II e III estão corretas. C) ( ) Somente a sentença I está correta. D) ( ) As sentenças I e II estão corretas. 39 SERVIÇO SOCIAL em foco ii ---------- [ TÓPICO IV – DESENVOLVIMENTO DA HISTÓRIA POLÍTICA BRASILEIRA: REPÚBLICA VELHA E ESTADO NOVO ] ---------Denise da Silva Vieira 4.1 REPÚBLICA VELHA A República Velha iniciou no governo de Getúlio Vargas, estendendo-se até a Revolução de 30 (golpe na oligarquia). Através de um movimento militar com apoio variado da economia cafeeira, pois o Império deixou a desejar referente à proteção dos barões do café, entre outros grupos regionais. Consequentemente, ocorreu a adoção do trabalho assalariado, entre outros, chegando ao fim o regime escravocrata. A República Velha foi dividida pelos historiadores em dois períodos. 40 O primeiro foi chamado de República da Espada, dominado pelos setores mobilizados do exército, com apoio dos republicanos, com o objetivo de centralizar o poder por receio da volta da monarquia e evitar uma possível divisão do Brasil. Foi consequência das contradições do Império, do crescimento urbano, da substituição do trabalho escravo pelo assalariado. Em 1870, após o fim da guerra do Paraguai, o exército representava os anseios de elevação econômica e política das classes médias urbanas. Também nesta década formou-se o Partido Republicano, dividindo-se em dois grupos políticos: históricos ou evolucionistas e os revolucionários ou idealistas. Os evolucionistas pregavam uma organização republicana baseada nas teorias positivistas de Augusto Comte, legitimando o modelo federalista (cada estado teria sua autonomia própria). Os idealistas defendiam maior participação da sociedade nas decisões políticas do governo. Este período iniciou na Proclamação da República até a eleição de Prudente de Moraes, conhecido como o primeiro presidente civil. A República Oligárquica, no segundo período, iniciou em 1894 até a Revolução de 1930. Destacou-se por ter maior poder por parte das elites regionais, especialmente no sul e sudeste do país. Portanto, as oligarquias eram dominadas por forças políticas republicanas de São Paulo e Minas Gerais, estas SERVIÇO SOCIAL em foco ii se denominavam políticas do café com leite, por conta da importância econômica de produção de café e leite para a contribuição na economia brasileira da época. Prudente de Moraes foi eleito graças às articulações do Partido Republicano Federal (1894-1898), sendo o primeiro presidente civil. Predominando uma política baseada na agroexportação. A revolta popular de maior expressão neste período foi a Guerra de Canudos. Prudente também resolveu os problemas de fronteiras com a Guiana Francesa e anexou ao país a Ilha de Trindade (litoral do ES). FIGURA 5 - O BRASIL NO ANO DO CENTENÁRIO DE SUA INDEPENDÊNCIA EM 1922 41 FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Velha>. Acesso em: 12 maio 2015. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 4.2 ESTADO NOVO O Estado Novo ocorreu no governo de Getúlio Vargas, em 10/11/1937, com duração até 29/10/1945. Teve este nome devido ao regime político brasileiro. Tendo como característica a centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e autoritarismo. Considerado regime autoritário, por conta disso alinhava-se com outros regimes autoritários no mundo. Naquele tempo, considerava-se a Alemanha e a Itália como os dois países que mais representavam o autoritarismo na Europa. Aguardando as eleições de janeiro de 1938, disputadas por José Américo de Almeida (situacionista) e Armando de Sales Oliveira (oposicionista), houve uma denúncia pelo governo de Getúlio Vargas, referente à existência de um suposto plano comunista para a tomada do poder, conhecido como Plano Cohen. 42 Este foi um documento escrito por Olímpio Mourão Filho (capitão integralista), membro do serviço secreto, e teve a intenção de simular uma revolução comunista no Brasil. Posteriormente, descobriu-se ter sido forjado pelo capitão, dando início ao Golpe Militar de 1964. FIGURA 6 – ESTADO NOVO: PERÍODO DE CONTROLE E CONCESSÃO AOS TRABALHADORES FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiab/vargas.htm>. Acesso em: 18 maio 2015. O Plano Cohen foi um documento revelado pelo governo brasileiro que abordava um suposto plano para a tomada do poder pelos comunistas. Teve SERVIÇO SOCIAL em foco ii como consequência uma instabilidade política gerada por ataques comunistas, preocupados com novas revoluções comunistas, sendo que várias vezes foi decretado o estado de sítio no Brasil (medida provisória de proteção do Estado). Sem oposição, Getúlio Vargas promoveu um golpe no Estado, instaurando uma ditadura militar, com pronunciamento transmitido em rádio por todo o país. Alguns anos mais tarde foi confirmado que o documento foi forjado, com o objetivo de justificar a instauração da ditadura do Estado Novo, em 1937. FIGURA 7 - PLANO COHEN 43 FONTE: Disponível em: <http://www.historiabrasileira.com/files/2010/01/plano-cohen.jpg>. Acesso em: 18 maio 2015. Segundo Ghiraldelli (2003, p. 82), No campo da política educacional, o Estado Novo pode ser apresentado como o criador de uma legislação dada pela nova Constituição e por uma série de leis definidas pelo ministro da Educação Gustavo Capanema – as chamadas “leis orgânicas de ensino”. A partir da legislação máxima, o Estado Novo praticamente abriu mão de sua responsabilidade referente à educação pública, admitindo assim apenas um papel subsidiário em relação ao ensino. Com o ordenamento alcançado em 1934, determinando a educação como um direito de todos e responsabilidade dos poderes públicos, desobrigando SERVIÇO SOCIAL em foco ii assim o Estado de conservar e ampliar o ensino público. Já a Carta de 1937 (Constituição Brasileira de 1937) não se preocupava em deliberar ao Estado uma educação geral através de uma organização de ensino público e gratuito. Segundo Ghiraldelli (2003, p. 83), Os ricos proveriam seus estudos através do sistema público ou particular e os pobres, sem usufruir desse sistema, deveriam ter como destino as escolas propedêuticas a um grau mais elevado, teriam de contar com a boa vontade dos ricos para com as caixas escolares. Contudo, o artigo 129 (CF de 1937) determinou como sendo o primeiro dever do Estado a conservação do ensino pré-vocacional e profissional, destinados às classes menos favorecidas, ou seja, não tendo que esperar a boa vontade dos ricos para ter garantia ao estudo. 44 Para tanto, com a decretação das leis orgânicas entre 1942 e 1946, chamadas de “Reforma Capanema”, esta ordenava os ensinos primários, secundários, industrial, comercial, normal e agrícola, considerando como sendo uma reforma elitista e conservadora, vingando já nos anos de liberação do regime, no final do Estado Novo, Este período foi conhecido como ditadura, um regime sem o funcionamento do Congresso Nacional, sem partidos legais e sem eleições, com intuito de melhor servir aos interesses do regime econômico colocando em prática a sua política de domínio do poder. AUTOATIVIDADE 6) (Questão 13 – ENADE 2007) É hoje consensual que, no Brasil, o Serviço Social se origina no seio do movimento católico, mas seu processo de profissionalização e legitimação está vinculado à expansão das grandes instituições assistenciais em um período histórico marcado pelo aprofundamento do corporativismo do Estado e por uma política econômica industrializante. A expansão do proletariado urbano cria a SERVIÇO SOCIAL em foco ii necessidade política de controlar e absorver este contingente. O Estado, incorporando parte das reivindicações populares, amplia a base legal da cidadania, mediante uma intensa legislação social e sindical. Este período da história brasileira refere-se à(ao): (A) República Velha (1889-1930). (B) Segunda República (1930-1937). (C) Estado Novo (1937-1945). (D) Quarta República (1945-1964). (E) Transição democrática (1985-1988). 7) Referente ao Plano Cohen, avalie as afirmações a seguir: I. Tratava-se de um documento revelado pelo governo brasileiro que abordava um suposto plano para a tomada do poder pelos comunistas. II. O Plano Cohen teve como consequência uma instabilidade política gerada por ataque aos comunistas e burgueses. III.Alguns anos mais tarde foi confirmado que o documento foi forjado, com o objetivo de justificar a instauração da ditadura do Estado Novo, em 1937. IV.O documento foi uma estratégia para equilíbrio da economia, gerando crescimento nas indústrias, consequentemente, abertura de novos empregos. V. Tratava-se de um documento revelado pelo governo brasileiro que abordava um crescimento na economia e abertura de novas empresas. É correto o que se afirma em: A – I, apenas. B – II e IV, apenas. C – I e III, apenas. D – II, III e V, apenas. E – I, II, III e IV. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 45 8) A República Velha iniciou no governo de Getúlio Vargas, estendendo-se até a revolução de 30 (golpe na oligarquia). Foi através de um movimento militar com apoio variado da economia cafeeira, pois o império deixou a desejar referente à proteção dos barões do café, entre outros grupos regionais. Consequentemente, ocorreu a adoção do trabalho assalariado, entre outros, chegando ao fim o regime escravocrata. A República Velha foi dividida pelos historiadores em dois períodos. Em relação a esta divisão, avalie as afirmações a seguir: 46 I . O primeiro período foi chamado República da Espada, dominado pelos setores mobilizados do exército, com apoio dos republicanos, com o objetivo de centralizar o poder por receios da volta da monarquia e evitar uma possível divisão do Brasil. I I . A República Oligárquica, no segundo período, iniciou em 1870 até a Revolução de 1930. Teve como característica a maior concentração de poder por parte das elites regionais, especialmente no sul e sudeste do país. III. As oligarquias eram dominadas por forças políticas republicanas de São Paulo e Rio de Janeiro, esta se denominava política do café com leite, por conta da importância econômica de produção de café e leite para a contribuição na economia brasileira da época. IV. A República Oligárquica no segundo período iniciou em 1894 até a Revolução de 1930. Teve como características por ter maior poder por parte das elites regionais, especialmente no sul e sudeste do país. V. Na República da Espada, os evolucionistas pregavam uma organização republicana baseada nas teorias positivistas de Marx. É correto o que se afirma em: A – I, apenas B – II e IV, apenas. C- I e IV, apenas. D – II, III e V, apenas. E – I, II, III e IV. SERVIÇO SOCIAL em foco ii ---------- [ TÓPICO V – CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO E DO NEOLIBERALISMO: TRABALHO ALIENADO E SOCIABILIDADE NO CAPITALISMO ] ---------Marines Selau Lopes Ainda no século XIX, um filósofo chamado Karl Marx já salientava que no processo de produção capitalista, o trabalhador era uma simples peça da cadeia produtiva. Neste sentido, o trabalhador se alienava, pois não era mais proprietário dos objetos que possibilitavam seu desenvolvimento e de seu trabalho. Assim, o homem desconhecia a totalidade do processo produtivo, como também perdia até mesmo o controle sobre o ritmo da produção. FIGURA 8 – TRABALHO ALIENADO 47 FONTE: Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe. php?foto=371&evento=4>. Acesso em: 9 maio 2015. Mas, na perspectiva do referido filósofo, ainda chegaria o momento em que o capitalismo atingiria seu ponto máximo em relação ao desenvolvimento. Assim, esse não traria mais qualquer progresso à humanidade. Desta forma, o proletariado tomaria o poder e acabaria com a sociedade de classes. Sendo que haveria igualdade entre os homens, todos poderiam desenvolver totalmente seu potencial, pois viveriam em abundância. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Ao final do século XIX, profundas mudanças ocorreriam na sociedade e na economia capitalista. Estas não confirmaram a expectativa de Marx. Na atualidade, os proprietários dos meios de produção são a minoria na sociedade, mas possuem os meios para explorar a classe dos proletários, que, em resumo, são os trabalhadores. Ou seja, no capitalismo, o proletariado é detentor da força de trabalho, mas não é proprietário dos meios de produção. Sendo que o tempo gasto para produzir uma determinada mercadoria define o valor da mesma. Assim, o trabalhador, para viver, vende a única mercadoria de que é dono, ou seja, sua força de trabalho. 48 No capitalismo, o salário que é pago ao trabalhador é apenas uma mísera parte do que ele produziu, pois o valor maior do tempo trabalhado é destinado aos proprietários dos meios de produção, meios estes que, em geral, são as máquinas, fábricas e outras ferramentas. Esse valor é a mais-valia, termo que foi empregado por Karl Marx para definir a diferença entre o valor final da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção. A mais-valia representa o grau de exploração do trabalho assalariado no sistema capitalista. Nas últimas décadas, o tema “Desenvolvimentismo” volta a ser vastamente discutido. Agora não mais sob o prisma da necessidade de mudanças estruturais, como previa Marx. Na atualidade, o tema gera debates em torno do desenvolvimento econômico e social. O tema é de grande relevância, considerando a atual circunstância advinda da crise do capitalismo. São aparentes os impactos nas condições de vida da classe trabalhadora, causando o aprofundamento das expressões das questões sociais, como o desemprego ou emprego precário, o aumento da pobreza, a falta de moradia, a fome e as diversas violências que vivenciamos diariamente. Na década passada o presidente eleito unificou os programas de proteção social, do governo anterior. O programa Bolsa Família foi ampliado, a grandeza do programa trouxe importante contribuição para o crescimento do mercado consumidor do interior do país, em especial da região Nordeste. SERVIÇO SOCIAL em foco ii No atual governo, é requerido que o Estado continue com a responsabilidade pelo “bem-estar social”. Na tentativa de promover o desenvolvimento social, é cada vez maior a injeção de transferências financeiras através de programas: [...] Programa Bolsa Família, complementado por outros, como: Minha Casa Minha Vida, Benefício de Prestação Continuada; Programa de Erradicação do Trabalho Infantil; Programa Brasil Carinhoso; Programa Brasil para Todos; Programa Nacional de Inclusão de Jovens (urbano; campo e trabalho); Política Nacional de Assistência Estudantil; Programa Universidade para Todos (PROUNI); Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), todos articulados sob a lógica de acesso ao consumo, a busca de equidade social. (SIMIONATTO, 2013, p. 8). Mesmo que as citadas alternativas sejam válidas, são apenas atenuantes das consequências do Neoliberalismo – que tem como objetivo principal promover o aumento da circulação de mercadoria no mundo. Na economia, a interferência do Estado vem sendo ínfima, geralmente opera apenas como regulador, também defende políticas de privatizações e abertura econômica. Assim, não se vislumbram no cenário estatal propostas de mudanças direcionadas a alterações concretas na superação das disparidades sociais. FIGURA 9 - SÁTIRA À DESIGUALDADE SOCIAL QUE DIFERENCIA AS PESSOAS NAS CONDIÇÕES DE ACESSO A NOVAS OPORTUNIDADES FONTE: Disponível em: <http://www.alunosonline.com.br/upload/conteudo_ legenda/760d02d8490a718aad29cf3c33bfc51b.jpg>. Acesso em: 9 abr. 2015. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 49 Na prática também se vislumbram alternativas assumidas pela classe dominante. Estas buscam enfrentar a questão social com ações filantrópicas, na tentativa de atrelar as ações sociais ao plano neoliberal. Mas, acredito que, como Lemos (2014, p. 9), A realidade impõe a necessidade de cotidianamente revisitarmos e adensarmos as pesquisas sobre a profissão, não apenas para ampliarmos o conhecimento, mas como estratégia ético-política de enfrentamento das contradições da “questão social” no capitalismo contemporâneo. Das perspectivas de Marx, a transformação ocorrida no plano político pode ser considerada a mais importante, pois a democratização das sociedades liberais foi consagrada com o direito ao voto às mulheres na maioria dos países democráticos. 50 Contestando quem apostava que democracia e capitalismo fossem incompatíveis, a concretude vivenciada pelo século XX mostrou que ambos poderiam conviver numa mesma sociedade. A respeito da economia, o século XX ficou conhecido como a era tecnológica e organizacional. As mudanças que aconteceram nos processos de todos os setores produtivos transformaram o panorama econômico do ponto de vista da classe operária. No decorrer do século XX, a propagação das grandes empresas dominara a produção, assim, houve uma concorrência desigual com as pequenas empresas, conhecidas como familiares. Desta forma, de pequenos proprietários de meios de produção, passaram para a classe de trabalhadores subordinados, detentores apenas de sua força de trabalho. Desta forma, um grande contingente teve que se profissionalizar, mesmo assim, passaram a ser superexplorados. Na contemporaneidade, observa-se que as mudanças ocorridas nas últimas décadas, advindas do desenvolvimento do sistema capitalista, afetaram profundamente o mercado de trabalho. Desta forma, além do desemprego, as SERVIÇO SOCIAL em foco ii novas formas de organização e gestão do trabalho resultaram na redução da classe operária industrial, como também na precarização do trabalho. FIGURA 10 – SÁTIRA SOBRE A PRECARIZAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO CAPITALISTA FONTE: Disponível em: <http://www.bancarios.com.br/blog/?p=1758>. Acesso em: 25 maio 2015. Os processos flexíveis exigiram do trabalhador condições para realizar várias atividades, como também trabalhar em equipe com produtos diferenciados. Entretanto, estas novas exigências não vieram acompanhadas de retorno positivo para o trabalhador, ao contrário, enfraqueceram a identidade coletiva, reduziram o número necessário de trabalhadores. Como também, as relações de trabalho deixaram de ser institucionalizadas para permitirem acordos trabalhistas flexíveis. Diante disso, emergiu a temática da flexibilização das relações de trabalho, trazendo para a pauta a discussão referente ao retrocesso dos direitos trabalhistas. Mas o que se observou foi o aprofundamento do trabalho precário, ou seja, aumento de postos de trabalho de caráter temporário, sem proteção, com baixa remuneração e redução de benefícios trabalhistas. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 51 No Brasil, essas mudanças convergiram com as reformas estruturais previstas para o ajuste da economia brasileira, por volta de 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso. As referidas reformas intensificaram ainda mais o desemprego, como também a informalidade, pois não beneficiaram a “mobilidade dos trabalhadores entre ocupações e setores de atividade”. (SANTOS, 2009, p. 116). FIGURA 11 – CHARGE SOBRE O DESEMPREGO 52 FONTE: Disponível em: <https://antesdofimwebjor.files.wordpress.com/2013/04/charge_carne.jpg>. Acesso em: 30 maio 2015. Também existe certo consenso entre pesquisadores do assunto a respeito de que o mercado de trabalho brasileiro não apresenta grandes barreiras para se fazer demissões e contratações, sendo que apesar da legislação impor alguns custos, estes não seriam elevados. Ainda em relação ao emprego no Brasil, há quem entenda que nosso mercado de trabalho apresentaria, ainda, uma ampla variedade de relações contratuais, como, por exemplo, trabalhadores com ou sem carteira assinada, terceirizados, funcionários públicos civis e militares. Como também, uma multiplicidade de rendimentos adquiridos através de atividades de pessoas que não se configuram como trabalhadores assalariados, ou seja, empregadores, trabalhadores autônomos e empregados domésticos. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Quanto ao aspecto da estrutura das ocupações, percebe-se que há uma grande diversidade de formas de aparelhamento do setor produtivo, como também no que diz respeito aos níveis de vencimento muito diferenciados. Segundo Santos (2009, p. 119), [...] estudiosos têm distinguido o mercado de trabalho brasileiro em dois grandes segmentos [...]: estruturado – onde se dão as relações empregatícias baseadas em contratos legais, e cobertas pela legislação trabalhista social – ou seja, o “setor formal”; pouco estruturado – prevalecem relações trabalhistas informais e precárias, além de boa parte das ocupações autônomas. É chamado também de segmento “informal” do mercado de trabalho. O segmento identificado como estruturado contém trabalhadores com carteira assinada. Estes podem ser domésticos, servidores públicos, civis e militares, mas todos são regidos pela CLT ou possuem outro regime de previdência social. Já os trabalhadores do segmento pouco estruturado correspondem aos trabalhadores sem carteira assinada, autônomos de várias atividades, os domésticos e não remunerados. Os trabalhadores do segundo segmento ocupam uma variedade de postos de trabalho, geralmente no comércio e serviços, na agricultura e, geralmente, não são sindicalizados. Na maioria das vezes, não possuem perspectiva de promoção, mas constituem a grande base do mercado de trabalho no Brasil, ou seja, numericamente superam a quantidade de trabalhadores do segmento estruturado. Estatisticamente ao que se refere à remuneração, o segmento estruturado recebe salários muito superiores ao segmento pouco estruturado. Sendo que essa diferenciação chega a ser de 50%. Diante do exposto, aproveitamos a expressão sociabilidade, que vem sendo utilizada para analisar as maneiras de viver e de ser na coletividade, comunidade ou pequenos grupos. Diferentes correntes de pensamento vêm disputando o conceito, há quem o defina como SERVIÇO SOCIAL em foco ii 53 [...] padrão predominante de percepções, pensamentos e comportamentos que deve ser seguido por todos que desejam ser considerados bons cidadãos e bons trabalhadores [...]. A sociabilidade neoliberal do século XXI vem permitindo que os sujeitos históricos entendam a exploração do capital sobre o trabalho como algo naturalmente constituído, que seu sucesso ou fracasso é unicamente decorrente do seu esforço (de sua capacidade empreendedora e competitiva) e que é possível promover o bem-comum com ações voluntárias, independentemente das condições socioeconômicas e das relações de poder existentes. (MARTINS, 2009). Analisando os elementos acima apontados, saliento que não compartilho do pensamento do autor, prefiro contribuir na discussão com o intuito de somar esforços para uma análise cada vez mais rica e, evidentemente, socialmente referenciada no âmbito dos fundamentos do Serviço Social. Desta forma, como assistente social e defensora e uma sociedade mais justa, prossigo acreditando que: Silenciar-se é uma forma de submissão aos ditames do capital, que em tempos de crise aprofunda a barbárie social. A realidade concreta exige, de cada um e cada uma, coragem para fazer a luta e resistência coletiva para efetivação do projeto ético-político do Serviço Social brasileiro. Ousemos na construção da resistência coletiva de uma sociabilidade anticapitalista. (LEMOS, 2014, p. 9). 54 O entendimento de que, como assistentes sociais, consistimos também em sermos trabalhadores no campo da reprodução social, na particularidade das camadas da sociedade de classes no Brasil, faz emergir a possibilidade de nossa inserção, individual ou coletiva, na luta mais ampla da classe trabalhadora. É de extrema importância reafirmar sempre o compromisso ético-político, na construção de uma sociedade mais justa, com menos desigualdade e injustiça social. Nosso compromisso deve estar voltado na busca da emancipação humana. É pelo seu trabalho que o assistente social consegue projetar sua atividade profissional, tornando-se um ser produtivo e alcançando crescimento SERVIÇO SOCIAL em foco ii pessoal. Para Iamamoto (2004, p. 60), “o trabalho é, pois, o selo distintivo da atividade humana”. A atividade do assistente social deve estar envolvida com o conhecimento da realidade, para que ele possa apreender as mais variadas expressões da sociedade e realizar intervenções e mediações de acordo com as demandas apresentadas que, muitas vezes, são ações pontuais e emergenciais, e não apenas se reduzir a uma atividade rotineira. [...] o exercício da profissão é mais do que isso. É uma ação de um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais. Requer, pois, ir além das rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade para detectar tendências e possibilidades nela presentes passíveis de serem impulsionadas pelo profissional. (IAMAMOTO, 2004, p. 21). De um modo geral, a prática profissional se dá no âmbito das relações que se estabelecem entre o poder do Estado e a sociedade. Para Iamamoto (2004, p. 151), “desvendar a prática profissional cotidiana supõe inseri-la no quadro das relações sociais fundamentais da sociedade, ou seja, entendê-la no jogo tenso das relações entre as classes sociais, suas frações e das relações destas com o Estado brasileiro”. Como vimos anteriormente, relações estabelecidas pelo sistema capitalista são pautadas na dominação, exploração, exclusão social e dos bens de consumo. O assistente social atua nessa realidade do mundo capitalista. Por isso, ele deve compreender os processos de transformação da sociedade e privilegiar todos os movimentos históricos e sociais, para que possa desempenhar com qualidade sua profissão. Atualmente, a demanda profissional que se apresenta no campo de atuação do assistente social é uma população pauperizada em virtude do sistema socioeconômico do país, assim os profissionais assumem o compromisso de atuar em prol dessas classes menos favorecidas. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 55 É pelo seu trabalho que o profissional de Serviço Social realiza a mediação com o outro e é no outro que se reconhece como ser social. Articula o saber ao fazer e compartilha a realidade social dos indivíduos, com seus anseios, necessidades, desejos e expectativas. No contexto da crise do capitalismo, o trabalho dos assistentes sociais deve transcender o atendimento rotineiro, pois no cotidiano se deve prezar pela resolução dos problemas. Os assistentes sociais, em seus locais de atuação profissional, devem, em primeiro lugar, zelar pelos direitos dos cidadãos. Respeitar as formas de organização das instituições em que estão inseridos também é necessário. Assim, torna-se um desafio trabalhar na mediação de questões e demandas que devem ser superadas a partir de uma construção coletiva, almejando alcançar o processo emancipatório dos sujeitos. 56 Sabemos que os assistentes sociais, como outras categorias, enfrentam limites em seu cotidiano profissional, pois se deparam com as contradições das relações sociais impostas pela sociedade capitalista. Os profissionais precisam identificar como se dão as relações de produção e reprodução social e que geram tantas desigualdades sociais que se expressam na questão social – objeto de trabalho do assistente social. O Serviço Social, então, se vê na condição de levantar propostas que possam mediar essas relações em busca de novas possibilidades e perspectivas em prol do desenvolvimento integral dos sujeitos envolvidos no processo. Um dos maiores desafios que o assistente social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo. (IAMAMOTO, 2004, p. 20). Desenvolver novas ações, destacar estratégias voltadas ao atendimento das demandas sociais da população, trata-se de um desafio cada vez maior, desenvolver a atividade profissional frente às transformações que vêm ocorrendo SERVIÇO SOCIAL em foco ii na sociedade, pois a sociabilidade nas relações sociais está baseada na condição de exploração e dominação, o que coloca alguns indivíduos subjugados ao poder de quem detém os meios de produção da vida material. No Brasil, devido à grande concentração de renda por uma parcela reduzida da sociedade, aumenta significativamente o número de pessoas desprovidas do acesso aos direitos básicos de sobrevivência. Muitas vezes, para atendermos a essas necessidades primordiais, esbarramos em limites de ordem social, cultural, econômica e política. Diante disso, reportarmo-nos ao importante subsídio de Iamamoto e Carvalho (1988), que assegura a necessidade de apreensão das demandas profissionais na esfera das relações sociais capitalistas, ou seja, na relação entre as categorias sociais, entre o Estado e a sociedade, pois o aprendizado profissional não se descobre olhando-se para dentro de si mesmo. Deste modo, há a necessidade de contextualizar a carreira conjuntural e estrutural e entender o potencial da produção social. Um dos progressos da década de 1988 foi a leitura da profissão inserida na categoria sociotécnica do trabalho. Uma das particularidades do atual momento do capitalismo é o acometimento ao trabalho, mira principal das políticas neoliberais. Estudiosos afirmam que a política geradora de desemprego, tanto nos países ascendentes como nos demais, foi culpada pela aversão do trabalho, além da privatização dos serviços públicos e a revolução tecnológica. Como sabemos, a partir das mudanças operadas no sistema capitalista, pós anos de 1970, o exercício profissional sofre alterações, e as consequências das relações sociais mediadas pela dialética do mercado são: alterações nos serviços sociais, aprofundamento nas expressões da questão social, nas condições e relações de trabalho, na sociabilidade, nas condições do exercício profissional. Também pode-se destacar: o achatamento salarial, a precariedade das condições de trabalho, as mudanças no aparelhamento jurídico e institucional que orientam as relações trabalhistas, a precarização dos contratos trabalhistas, a desprofissionalização e a alienação no trabalho. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 57 FIGURA 12 – NARRATIVA DE UM EXECUTIVO QUE FOI DEMITIDO APÓS 15 ANOS DE TRABALHO FONTE: Disponível em: <http://images.slideplayer.com.br/3/391026/slides/slide_34.jpg>. Acesso em: 30 maio 2015. 58 Assim, nesse sentido, o Serviço Social deve continuar guiando-se pelo seu projeto ético-político, a partir de um processo de reflexão e amadurecimento profissional, desenhar um processo de avaliação do conhecimento profissional já alicerçado, bem como da sua inserção nas lutas sociais recentes, lutas estas de ampliação de direitos, de democracia, de participação social e na ação coletiva de trabalho. SERVIÇO SOCIAL em foco ii AUTOATIVIDADE 9) Na contemporaneidade, o tema Desenvolvimento vem sendo amplamente discutido. Ele gira em torno do desenvolvimento econômico e social. A discussão é de grande importância, considerando a atual conjuntura advinda da crise do capitalismo. As condições precárias na vida da classe trabalhadora são impactantes. O enfrentamento para a diminuição das expressões das questões sociais, como o desemprego ou emprego precário, o aumento da pobreza, a falta de moradia, a fome e as diversas violências que vivenciamos diariamente não pode mais ser protelado. Sobre as atuais ações de enfrentamento da questão social, assinale a alternativa CORRETA: A) ( ) As alternativas de enfrentamento são válidas, mas apenas atenuam as consequências do Neoliberalismo. B) ( ) As expressões da questão social, impostas pelo neoliberalismo, estão de fato desaparecendo com as ações implantadas. C) ( ) As ações estão dando conta de promover a igualdade econômica e social, consequentemente a justiça social. D) ( ) O Estado vem implantando ações que promovem o aumento da economia interna. 10) Referente ao mundo do trabalho, observa-se que as mudanças ocorridas nas últimas décadas, advindas do desenvolvimento do sistema capitalista, afetaram profundamente as relações de trabalho. Além de vivenciarmos o aumento do desemprego, as novas formas de organização e gestão do trabalho resultaram também na precarização do trabalho. Com relação ao tema da flexibilização no trabalho, analise as sentenças a seguir: I- Os novos métodos exigiram do trabalhador condições para realizar várias atividades concomitantes. II- Os novos processos também exigiam o desenvolvimento de produtos diferenciados e trabalho em equipe. III- A flexibilização intensificou a identidade coletiva, e as leis trabalhistas. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 59 Agora, assinale a alternativa CORRETA: A) ( ) As sentenças II e III estão corretas. B) ( ) As sentenças I e II estão corretas. C) ( ) Somente a sentença I está correta. D) ( ) As sentenças I e III estão corretas. 60 SERVIÇO SOCIAL em foco ii --------------- [ TÓPICO VI – OBJETIVAÇÕES HUMANAS E A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE ] ---------------Marines Selau Lopes Chegamos ao mundo pelo nascimento, mas não nascemos no vazio, fazemos isto em um determinado lugar, num determinado tempo histórico e, principalmente, em uma dada sociedade. Dependendo destas determinações, o sujeito vai formando sua subjetividade. Os valores, as crenças, as experiências e história de vida que o cercam irão contribuir para formar a subjetividade. A subjetividade não é imutável, ela varia dependendo de cada pessoa, cada um a interpreta à sua maneira. A subjetividade se refere ao sentimento de cada pessoa, sua opinião sobre determinado assunto. FIGURA 13 – FRASE DO POETA E ESCRITOR FERNANDO PESSOA 61 FONTE: Disponível em: <http://kdfrases.com/frase/124584>. Acesso em: 30 maio 2015. Entende-se que na subjetividade somos individuais em nossa maneira de ser, pois ela é formada na medida em que vamos nos construindo a partir das nossas vivências, experiências adquiridas na vida social e cultural de cada um de nós. Ao mesmo tempo em que nos faz excepcionais, pode nos igualar no alcance em que os elementos que constituem a subjetividade são vivenciados no terreno comum da objetividade social. Tornamo-nos o que somos, a partir do relacionamento que desenvolvemos com quem está ao nosso alcance, vivenciamos emoções, pensamentos, fantasias SERVIÇO SOCIAL em foco ii e sonhos. Já dizia Marx (1996, p. 70): “O homem é um ser repleto de possibilidades, e a partir disso, ele constrói o mundo e a si próprio, ou seja, ao transformar a natureza em busca de satisfazer suas necessidades, ele transforma o mundo e a si mesmo”. Quando nos recusamos a sujeitar termos, nossa memória perdida pela efemeridade de informações, pode promover novas formas de subjetividades. Ao recusarmos comportamentos desprovidos de respeito ao outro, ao diferente, a aceitação social condicionada ao consumo desenfreado e ao sofrimento provocado pela não aceitação, damos sentido à imaginação de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade. 62 Vários pontos influenciam na formação da subjetividade. Na atual sociedade, acelerada, sempre conectada, originando em tempo real novas informações, dificulta o entendimento sobre a sociedade global e, consequentemente, a formação do indivíduo. Inovações, desenvolvimento de organismos geneticamente modificados e sua utilização para fins produtivos, e a agitação contínua, destroem a faculdade de percepção pelos sentidos. Nessa acepção, a visão de mundo e de futuro em relação às utopias dos sujeitos nos torna diferentes de quem viveu em outra época. Ou seja, todas estas questões influenciam na formação da subjetividade, como também nas objetivações humanas. Segundo Lessa (2003, p. 65), “Os homens são senhores da sua própria história e a sociabilidade não implica necessariamente conflito diante da necessidade de liberdade”. Assim, a subjetividade possui função essencial na vida social, mesmo que sempre delimitada pelas possibilidades históricas, postas pela constante transformação dos homens. É através do trabalho que “o homem constrói, concomitantemente, a si próprio como indivíduo e a totalidade social da qual é partícipe”. (LESSA, 2003, p. 28). O ser é “a base sobre a qual se desdobra a relação entre subjetividade e o mundo objetivo”. (LESSA, 2003, p. 56). SERVIÇO SOCIAL em foco ii Desta forma, concluímos que a subjetividade não é refém do processo social, mas componente integrante do mesmo, tanto pode ser resultado como criadora do próprio processo. AUTOATIVIDADE 11) A subjetividade se constrói a partir do nascimento, em um determinado lugar e tempo histórico, em uma dada sociedade. Diante destas determinações, o homem vai formando sua subjetividade. Os valores, as crenças, as experiências e histórias que o circundam irão fornecer elementos para formar a subjetividade do mesmo. Com relação à subjetividade, analise as sentenças a seguir: I- Ela é capaz de se alterar, se transforma dependendo das experiências, da forma que é vivenciada por cada pessoa. II- Ela é independente do sujeito, a razão do indivíduo não é afetada pela subjetividade do mesmo. III- Ela, a subjetividade, é unicamente o que dá origem a um determinado comportamento. Agora, assinale a alternativa CORRETA: A) ( ) Somente a sentença I está correta. B) ( ) As sentenças I e II estão corretas. C) ( ) As sentenças II e III estão corretas. D) ( ) As sentenças I e III estão corretas. 12) A objetividade em qualquer atividade humana, como também a subjetividade, não existem em estado ingênuo, ambas dependem em maior ou menor grau da apreensão da realidade externa que o sujeito possui. Com relação às questões que interferem na objetividade ou subjetividade do indivíduo na atual sociedade, analise as sentenças a seguir: I- A rapidez na propagação de novas informações impacta na formação do indivíduo. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 63 II- A oscilação contínua dos movimentos dificulta a percepção dos indivíduos pelos sentidos. III- A visão de mundo e de futuro dos indivíduos das sociedades atuais não difere de quem viveu em outra época. Agora, assinale a alternativa CORRETA: A) ( ) As sentenças II e III estão corretas. B) ( ) Somente a sentença I está correta. C) ( ) As sentenças I e II estão corretas. D) ( ) As sentenças I e III estão corretas. 64 SERVIÇO SOCIAL em foco ii --------------- [ TÓPICO VII – A CULTURA E AS IDENTIDADES COLETIVAS: UMA ANÁLISE DAS DIFERENTES DIMENSÕES CULTURAIS E SUAS CORRELAÇÕES COM O ESTADO E O MERCADO ] --------------Marines Selau Lopes Seja em nosso cotidiano ou nas ciências que a estudam, a noção de cultura recebe muitos e distintos significados. Existem conceitos básicos sobre cultura, comumente mais usados, alguns mais restritos, outros mais abrangentes. Os conceitos mais abrangentes são na perspectiva antropológica, algumas teorias apontam para a multiplicidade das culturas. A relação entre cultura e sociedade é bastante íntima, sendo que também há a questão da ligação de cultura com relações de poder. Na contemporaneidade se faz necessário compreender a questão da cultura no atual contexto multifacetado e globalizado. FIGURA 14 - REPRESENTAÇÃO DA DIVERSIDADE NO MUNDO GLOBALIZADO 65 FONTE: Disponível em: <http://www.infojovem.org.br/infopedia/descubra-e aprenda/diversidade/ diversidade-e-identidade/>. Acesso em: 30 maio 2015. Há também uma compreensão de cultura que articula elementos por distintas perspectivas, e que são fundamentais para a questão da inculturação, ou seja, de introduzir a cultura dominante, aspectos culturais de um determinado povo dominado à sua. Já a cultura moderna traz uma mudança de paradigma em meio a relações de poder. SERVIÇO SOCIAL em foco ii A cultura na visão humanista significa valorizar o ser humano e a condição humana acima de tudo. Está relacionada com generosidade, compaixão e preocupação em valorizar os atributos e realizações humanas. Nesta, a noção de cultura constitui-se em cultivar o espírito e a inteligência que é voltada para a educação, o aperfeiçoamento de capacidades humanas, a produção dos recursos intelectuais e éticos dos indivíduos, grupos humanos e até nações. A noção de cultura num sentido mais restrito possui duplos significados: por um lado, traz a ideia da sensibilidade e da imaginação, como, por exemplo, através das obras de arte, e no sentido da inteligência e da reflexão, como obras de pensamento. Diante desse entendimento é comum identificar cultura “como sinônimo de refinamento, sofisticação pessoal, educação elaborada de uma pessoa, [...]”. (SANTOS, 1996, p. 27). No sentido oposto, é utilizado de forma ideológica para uma divisão de classe que pode vir a ser discriminatória, na qual algumas pessoas têm cultura, outras não, algumas mais, outras nem tanto. 66 Desta forma, para certos estudiosos a discussão sobre cultura gera preocupação e cuidado, pois “Cultura pode, por um lado, referir-se à "alta cultura", à cultura dominante, e por outro, a qualquer cultura”. (SANTOS, 1996, p. 27). Como vimos, [...] a "alta cultura" surge como marca das camadas dominantes da população de uma sociedade; se opõe à falta de domínio da língua escrita, ou à falta de acesso à ciência, à arte e à religião daquelas camadas dominantes. No segundo caso, pode-se falar de cultura a respeito de qualquer povo, nação, grupo ou sociedade humana. Considera-se como cultura todas as maneiras de existência humana. (SANTOS, 1996, p. 27). A tensão entre trazer à baila uma cultura dominante ou qualquer cultura permanece, e na contemporaneidade explica em parte a multiplicidade de significados do que seja cultura. Mas, para quem é da área das ciências sociais, se reporta ao segundo sentido, ou seja, costuma discorrer sobre a cultura de qualquer povo, grupo ou sociedade. SERVIÇO SOCIAL em foco ii No passado recente, a discussão sobre cultura brotou associada a uma tentativa de assinalar aspectos materiais e espirituais de uma sociedade. Até que o uso moderno de cultura se consolidasse, cultura competiu com a ideia de civilização, muito embora seus conteúdos fossem frequentemente compartilhados. Na contemporaneidade, o conceito de cultura e civilização se aproximou ainda mais, na verdade ficaram quase sinônimas. Mas, usualmente se designa civilização para fazer referência a sociedades modernas, consideradas historicamente poderosas e que influenciam as outras, ou seja, as menos poderosas. Ademais, emprega-se o termo cultura para referenciar não apenas sociedades, mas ainda grupos, o que não acontece com civilização. Embora cultura seja mais utilizada para assinalar aspectos da vida social, entendida como a dimensão não material da sociedade, muitas vezes também é empregada para se referir a aspectos materiais. FIGURA 15 - REPRESENTAÇÃO DA CULTURA MATERIAL E IMATERIAL 67 SERVIÇO SOCIAL em foco ii Figura 16 - CULTURA IMATERIAL FONTE: Disponível em: <http://oridesmjr.blogspot.com.br/2011/03/tralhas-domesticas-indigenas.html>. Acesso em: 30 maio 2015. 68 Mesmo com todas as variações na maneira de idear cultura, se faz necessário ressaltar que ela tem a humanidade como referência, mas ao mesmo tempo procura dar conta de distinções em cada realidade cultural. É importante também salientar que a humanidade não é um conceito elusivo para se pensar a cultura. Considerando que, [...] com o processo de expansão dos centros de poder contemporâneos, de conquista e incorporação acelerada de povos e nações, do estabelecimento de relações perduráveis de interdependência e de processos comuns de mudança política, a humanidade surge com força no panorama da história comum a todos, da civilização mundial que cada vez mais toma corpo. É importante ainda lembrar que essas discussões sobre cultura se firmaram no mesmo período em que outras abordagens se preocupavam em estudar criticamente as características internas da sociedade capitalista, em estudar as condições para a sua superação e contribuir para as lutas operárias. Estudava-se assim a natureza das classes sociais e sua dinâmica, a expansão do capitalismo e seus fundamentos. Os dois planos de estudo, o da cultura e o da sociedade de classes, andam muitas vezes separados, mas nada impede que os pensemos conjuntamente. (SANTOS, 1996, p. 37). SERVIÇO SOCIAL em foco ii Raciocinar sobre o conjunto das características, das identidades coletivas de um povo, nação, sociedade, é extremamente amplo para o campo da cultura, pois o mesmo é muito vasto e difícil, é preciso exercitar a capacidade de transformar ideias em ações. As sociedades contemporâneas são muito diferentes, [...] essencialmente em sua organização da vida social, nas maneiras de definir as relações de parentesco entre seus membros, de regular o casamento e a reprodução, na produção do necessário para a sobrevivência, nas técnicas, nos instrumentos e nos utensílios, nas suas concepções, crenças e em tantos outros aspectos. Preocupar-se com a totalidade dessas características é inevitável em casos assim, já que é tudo isso que torna cada uma das sociedades diferente. Mas o encontro entre sociedades assim vai se tornando raro. Com a aceleração da interação entre povos, nações, culturas particulares, diminui a possibilidade de falar em cultura como totalidade, pois a tendência à formação de uma civilização mundial faz com que os povos, as nações, as culturas particulares existentes partilhem características comuns fundamentais. (SANTOS, 1996, p. 37). Assim, discorrer sobre culturas isoladas e singulares se torna dificultoso, pois essa não é a realidade comum da maioria das sociedades. Mas, por exemplo, quando se trata de países, por mais diferenças que possam existir entre eles, compartilham de processos históricos gerais, assim importantes semelhanças permanecem em sua vivência social. Ou seja, procuram desenvolver suas reservas dependentes, ultrapassar desigualdades sociais particulares e abranger padrões universais de qualidade de vida. Na atualidade existem também discussões quanto ao papel da cultura em relação ao atrelamento da mesma nas manifestações e/ou movimentos populares. Verifica-se que o campo da cultura no Brasil apresenta uma série de contradições, resultado de sua evolução histórica e de suas relações com atores do Estado e do mercado que ainda necessitam de diagnósticos. Sendo que a discussão sobre o papel do Estado no desenvolvimento da cultura também vem sendo expressivo, seja por meio do poder coercivo que exerce, ou ainda, por repassar ao mercado a responsabilidade de gerenciar o SERVIÇO SOCIAL em foco ii 69 campo da cultura, sendo que esta responsabilidade deveria ser do Estado, mas este vem atribuindo ao mercado uma responsabilidade devidamente sua. O Estado, por ora, deve assumir o seu papel de dinamizar, preservar, fomentar, transformar, legislar e controlar as políticas públicas, pois estas são determinantes nas mudanças das ações das organizações. A intervenção do Estado na esfera cultural deve estar centrada precisamente na questão do que a sociedade reconhece como cultura, fixar e definir para a sociedade, em cada momento histórico, o que se partilha como cultura, sendo que, como vimos, seu campo é imenso. Pois o que se percebe, no caso do Brasil, é que muitas vezes o Estado até faz, mas o mercado manipula. Desta forma, é preciso cristalizar para que o processo de independência e formação do Estado brasileiro não se perca no emaranhado institucional, seja ele do Estado ou do mercado. 70 Como vimos, cultura é uma extensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não pertence apenas a um conjunto de técnicas e visões. Vai além da vida social, dos costumes, das crenças, das tradições. Ela faz parte da vida social e material, a cultura está intimamente ligada com a realidade onde existe. Assim sendo, a cultura abrange todos os aspectos da vida social, e se pode dizer que ela exista em todos os contextos da sociedade. AUTOATIVIDADE 13) Vimos que a cultura recebe muitos e diferentes significados. Existem conceitos fundamentais sobre cultura, alguns mais restritos, outros mais abrangentes. Há um conceito de cultura que está relacionado com bondade, este se preocupa em valorizar os atributos e realizações humanas. Nesta noção de cultura, o espírito e a inteligência são cultivados e a educação é voltada para o desenvolvimento das capacidades humanas. Sobre esse conceito de cultura, assinale a alternativa CORRETA: SERVIÇO SOCIAL em foco ii A) ( ) Este conceito faz referência à cultura dominante, que impõe aspectos de sua cultura na cultura dos demais. B) ( ) O referido conceito é voltado para a perspectiva antropológica e estuda a multiplicidade das culturas. C) ( ) Este conceito de cultura é contemporâneo, voltado para a compreensão do contexto globalizado. D) ( ) Este conceito se refere à cultura na visão humanista que valoriza a condição humana acima de tudo. 14) Estudamos e entendemos que pensar sobre o conjunto das características, das identidades coletivas de uma nação, sociedade ou povo, é extremamente amplo para o campo da cultura, pois o mesmo é vasto, assim é preciso exercitar a capacidade de transformar ideias em ações. Nesse sentido, com relação aos motivos que diminuem a interação entre as culturas diferentes, analise as sentenças a seguir: I- As culturas particulares são mais isoladas, a tendência à formação de uma civilização mundial faz com que as nações partilhem características comuns. II- As culturas isoladas e singulares não são a realidade comum da maioria das sociedades. III- O encontro entre culturas diferentes resulta em momentos desarmoniosos e desinteressantes. Agora, assinale a alternativa CORRETA: A) ( ) Somente a sentença I está correta. B) ( ) As sentenças I e II estão corretas. C) ( ) As sentenças II e III estão corretas. D) ( ) As sentenças I e III estão corretas. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 71 REFERÊNCIAS BITTAR, Eduardo C. B. Doutrinas e filosofias políticas: contribuições para a história das ideias políticas. São Paulo: Atlas, 2002. CAMPA, Riccardo. A época das incertezas e as transformações do Estado contemporâneo. São Paulo: Instituto Italiano di Cultura, 1985. CICCO, Cláudio de; GONZAGA, Álvaro de Azevedo. Teoria Geral do Estado e Ciência Política. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. COELHO, Ricardo Corrêa. Estado, governo e mercado. Florianópolis: CAPES, 2009. GHIRALDELLI, Junior, Paulo. Filosofia e história da educação brasileira. Barueri, São Paulo: Manole, 2003. 72 IAMAMOTO, Marilda Villela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 2004. LEMOS, Esther Luíza de Souza. Espaço de representação e participação da categoria: tempo de luta e resistência. Florianópolis: CRESS, 2014. LESSA, Sérgio. Trabalho e ser social. São Paulo: Cortez, 2003. MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. São Paulo: Saraiva, 1995. MARTINS, André Silva. Sociabilidade neoliberal. Rio de Janeiro: Dicionário da Educação Profissional em Saúde. 2009. Disponível em: <http://www.epsjv.fiocruz. br/dicionario/verbetes/socneo.html>. Acesso em: 27 de maio 2015. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996. Disponível em: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_fontes/ acer_marx/ocapital-2.pdf>. Acesso em: 8 abr. 2015. SERVIÇO SOCIAL em foco ii MARX, Karl; ENGELS, F. Ideologia alemã (Feuerbach). 11. ed. Tradução por José Carlos Brunni e Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Hucitec, 1999. SANTOS, Maria Paula Gomes dos. O estado e os problemas contemporâneos. Florianópolis: CAPES, 2009. SCIACCA, Michele Federico. História da Filosofia III: do século XIX aos nossos dias. Ed. Mestre Jou. São Paulo, 1966. SIMIONATO, Ivete. O exercício profissional do assistente social frente ao desenvolvimentismo na atualidade. Jornal do Conselho Regional de Serviço Social – CRESS 12ª Região, setembro de 2013. WEFFORT, Francisco C. (Org.). Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, “O Federalista”. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006. VIEIRA, Denise da Silva. Caderno Ciência política. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2014. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Velha>. Acesso em: 24 abr. 2015. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_Novo_%28Brasil%29>. Acesso em: 30 mar. 2015. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Adam_Smith>. Acesso em: 30 maio 2015. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau>. Acesso em: 30 maio 2015. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Marxismo. Acesso em: 30 maio 2015>. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Fenomenologia>. Acesso em: 31 maio 2015. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Positivismo_l%C3%B3gico>. Acesso em: 31 maio 2015. <http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim>. Acesso em: 31 maio 2015. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 73 <http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber>. Acesso em: 31 maio 2015. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx>. Acesso em: 3 maio 2015. 74 SERVIÇO SOCIAL em foco ii UNIDADE 2 DIMENSÕES DA ÉTICA PROFISSIONAL E A INSTRUMENTALIZAÇÃO PROFISSIONAL TEÓRICO-TÉCNICO-OPERATIVA Joelma Crista Sandri Bonetti APRESENTAÇÃO O profissional de Serviço Social vem associando as teorias e as práticas durante toda sua caminhada acadêmica, porém, na hora da intervenção profissional, é comum surgirem dúvidas em relação ao que fazer ou como proceder. Por essa razão é imprescindível que o profissional mantenha formações continuadas. O trabalho técnico do assistente social é vasto, por isso demanda muitos conhecimentos em várias áreas. A práxis profissional vem se fortalecendo como um trabalho multidisciplinar, realizado de maneira conjunta com outras áreas, por isso a necessidade de compreender as competências e atribuições profissionais inerentes à profissão, bem como a interpretação das políticas públicas e da legislação, a qual fortalece a defesa e a garantia de direitos. Porém, para que esse trabalho seja eficiente, efetivo e eficaz é necessário que o profissional seja ético e saiba reconhecer a situação de vulnerabilidade vivenciada pelos usuários. --------------- [ TÓPICO I – O SERVIÇO SOCIAL E A LEGISLAÇÃO QUE O REGULAMENTA ] ---------------Joelma Crista Sandri Bonetti O Serviço Social surge como ações assistencialistas embasadas no senso comum e em preceitos morais correspondentes a um determinado período histórico. A profissão do assistente social passa a se reestruturar como política a SERVIÇO SOCIAL em foco ii 75 partir de 1930, quando realiza ações imediatistas, como o repasse de doações e benefícios. O serviço social foi oficializado no Brasil através da Lei nº 1.889, de 1953, e aperfeiçoado em 27 de agosto de 1957 por intermédio da Lei nº 3.252, associada ao Decreto nº 994, de 15 de maio de 1962, quando legalizou a profissão do assistente social. Atualmente, esta profissão é regulamentada pela Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993, e tem o apoio do Conselho Federal de Serviço Social e dos Conselhos Regionais. É uma profissão que se enquadra nas ciências sociais e humanas, pois tem como base o trabalho interventivo junto aos usuários que apresentam vulnerabilidade social, e multifacetadas desigualdades das expressões da questão social. 76 A profissão vem se estruturando e se afirmando como uma política de atendimento em defesa e garantia de direitos, munida de cientificidade teóricometodológica e de instrumentais técnico-operativos e principalmente éticopolíticos. O profissional de Serviço Social se tornou uma profissão interventiva que busca, principalmente, a garantia e o acesso a direitos negados. Devido a várias manifestações em relação à competência e às atribuições do profissional formado em Serviço Social, destacamos que o Curso de Serviço Social no Brasil só foi regulamentado por intermédio da Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993. Essa regulamentação proporciona ao Conselho Federal e aos Conselhos Estaduais de Serviçlo Social o monitoramento e controle em relação às intervenções profissionais e não a legislar sobre os meandros relativos às Diretrizes Curiculares do Curso, isto é de competência do Minisério da Educação – MEC. Nesse momento também surgem referenciais teórico-metodológicos, que norteiam a intervenção profisional, não mais como uma visão assistencialista, mas sim como direito, tendo como apoio o Código de Ética de 1993, que fornece respaldo jurídico enquanto normatizador e regulamentador da profissão. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Nos dias atuais, a consolidação do projeto ético-político do Serviço Social é um desafio aos assistentes sociais, pois, se considerarmos que vivemos em contexto desfavorável à concretização dos direitos sociais, conforme exposto por Iamamoto (2004): A consolidação do projeto ético-político profissional [...] requer remar na contracorrente, [...] desenvolver o trabalho profissional para reconhecer a autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais, reforçando princípios e práticas democráticas. Aquele reconhecimento desdobra-se na defesa intransigente dos direitos humanos, o que tem como contrapartida a recusa do arbítrio e de todos os tipos de autoritarismos (IAMAMOTO, 2004, p.141). Nesse sendido, o Código de Ética representa a dimensão ética da profissão, sendo normativo e jurídico, descrevendo os parâmetros gerais para o exercício da profissão, definindo os direitos e deveres dos assistentes sociais, além da legitimação social da profissão. É no Código de Ética que são expressadas questões referentes à renovação e ao amadurecimento teórico-político do serviço social, onde são evidenciados também os princípios fundamentais, bem como o compromisso ético-político da categoria. AUTOATIVIDADE 15) (Questão 11 – ENADE 2010) O assistente social, tanto em sua prática investigativa para conhecimento da realidade quanto em sua atuação junto aos movimentos sociais, necessita do aporte teórico de autores clássicos. Desses, alguns conceitos teóricos devem ser priorizados, objetivando perceber a realidade tal qual ela é. GOHN, M. G. Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo: Loyola, 2000 (adaptado). Assinale a alternativa que apresenta conceitos fundamentais que devem ser considerados pelo assistente social em sua prática. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 77 A. ( ) Classes, estamentos, papéis em Durkheim, função e organização da cultura em Weber e estrutura, infraestrutura e superestrutura em Marx. B. ( ) Ação social e suicídio em Durkheim, anomia/disnomia em Weber e consciência individual, capital e trabalho em Marx. C. ( ) Luta de classes em Durkheim, burocracia e aparelhos de Estado em Weber e estratificação social em Marx. D. ( ) Organização em Durkheim, desorganização em Weber e consciência de classes em Marx. E. ( ) Anomia/disnomia em Durkheim, burocracia em Weber e consciência e luta de classes em Marx. 16) - (Questão 21 – ENADE 2010) 78 A partir da Constituição Federal de 1988, uma nova configuração social se apresenta no cenário brasileiro, sobretudo para as políticas públicas, as quais vêm garantir, de forma efetiva, direitos antes concedidos como benesses e que remetiam a população usuária à situação de dependência. Nesse sentido, a assistência social passa a ser regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS, 1993). Desde então, novos conceitos e novos modelos passaram a vigorar no Brasil, com a assertiva do “direito de cidadania, com vistas a garantir o atendimento às necessidades básicas dos segmentos populacionais vulnerabilizados pela pobreza e pela exclusão social”. Considerando as informações apresentadas, avalie as afirmativas a seguir. I. A assistência social representa uma política pública, componente da seguridade social. SERVIÇO SOCIAL em foco ii II. A seguridade social compreende o conjunto de ações integradas de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade civil, destinadas a assegurar os direitos da população relativos à saúde, à previdência e à assistência social. III. A assistência social é parte integrante das ações que visam garantir direito de cidadania e igualdade de condições de vida a todos os brasileiros que dela necessitarem. IV. O novo modelo da assistência social no Brasil integra ações de responsabilidade dos serviços públicos e privados para enfrentamento das situações de risco decorrentes da pobreza. É correto o que se afirma em: A. ( ) I e IV. B. ( ) II e III. C. ( ) I, II e III. D. ( ) II, III e IV. E. ( ) I, II, III e IV. 79 SERVIÇO SOCIAL em foco ii --------------- [ TÓPICO II – A EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO SERVIÇO SOCIAL E A COMPREENSÃO DA MORAL E DA ÉTICA ] --------------Joelma Crista Sandri Bonetti Os resquícios históricos da profissão trazem preceitos e ações totalmente culturais, baseados em princípios morais, que se fundamentam na necessidade imediatista. Nesse sentido, segundo Motta (1984, p. 22), moral significa “um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano”. A falta de compreensão conceitual em relação à moral dos seres humanos os leva a compreender a moral como costumes e práticas desenvolvidos individualmente ou coletivamente, sem regulamentação, vivenciados como valores do senso comum. 80 Nesse sentido é possível compreender que moral e ética são palavras que parecem mensurar e ter o mesmo sentido, porém em nenhum momento elas são sinônimas. Pois, quando referenciamos a moral, precisamos ter claro que ela sempre existiu, pois os seres humanos são dotados de consciência moral, a qual se justifica pela escolha do bem ou do mal, e esta escolha é resultado do meio em que se vive. No entanto, a ética pode ser compreendida como uma teoria que busca compreender através da investigação científica o comportamento moral dos seres humanos. O agir não é regido pela tradição, pelos hábitos e costumes, mas sim, pela consciência lógica e pela articulação passível de ser comprovada. Por essa razão, a profissão do Serviço Social surge apenas como princípios morais, embasados no achismo e no senso comum, pois era uma ação encarada como um favor, passível de ser cobrado futuramente. Essa questão era bem visível na área política, quando se dava algo em troca de favores políticos, reconhecido como assistencialismo. SERVIÇO SOCIAL em foco ii As transformações vivenciadas na sociedade fortalecem o processo de mudança no Serviço Social, que abandonam os preceitos morais do senso comum e passam a se pautar na ética profissional. AUTOATIVIDADE 17) (Questão 19 – ENADE 2010) As transformações internacionais da década de 1970 significaram uma verdadeira revolução originária, cujas consequências foram os desequilíbrios nas balanças de pagamento, choque do petróleo, globalização do comércio, finanças e setor produtivo, crise do sistema fordista e substituição pela especialização flexível. Essas rápidas transformações implicaram sérias dificuldades para os países em desenvolvimento, entre os quais o Brasil, devido à dependência tecnológica e as consequentes dificuldades de competitividade no novo cenário. Nesse cenário, o Brasil reagiu, à época, de acordo com as recomendações dos organismos internacionais, alinhados com a(s): A. ( ) medidas protecionistas, que iniciaram o processo de desconcentração interna de renda. B. ( ) lógica keynesiana de ampliar o papel do Estado de maneira a constituir um novo patamar de proteção social. C. ( ) vertente neoliberal, que resultou, ao longo do tempo, na manutenção do processo de concentração de renda. D. ( ) flexibilização do processo produtivo, que ampliou o mercado de trabalho interno devido ao aumento das exportações. E. ( ) inovação tecnológica do parque industrial brasileiro visando superar a dependência externa e qualificar a mão de obra. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 81 18) (Questão 24 – ENADE 2013) O aumento da demanda e a escassez de verbas levam os profissionais a desempenhar a tarefa de selecionar aqueles que terão acesso ao serviço, através do levantamento de informações sobre a vida do usuário. Assim, coloca-se uma contradição: ainda que os profissionais procurem socializar as informações na perspectiva da universalidade dos serviços sociais, na hora de repassar o recurso material, sua ação se pauta num processo de seletividade dos serviços. Isso mostra que o direcionamento do discurso profissional não é suficiente para romper a lógica fragmentária dos serviços assistenciais. A perspectiva do direito social, ainda que seja enfatizada no discurso do profissional que repassa o recurso, é atropelada pela seletividade imposta pela instituição. TRINDADE, R. L. P. Ações Profissionais, procedimentos e instrumentos no trabalho dos assistentes sociais. In: SANTOS, C. M. et al. (Orgs.). A dimensão Técnico-operativa no Serviço Social. 2012, p. 75 (adaptado). 82 É no cotidiano da prática do assistente social que as dimensões da profissão se confrontam, se entrecruzam e se complementam. Com base nas reflexões apresentadas, as duas dimensões evidenciadas são: A( B( C( D( E( ) Técnico-operativa e teórico-metodológica. ) Teórico-metodológica e a intersetorialidade. ) Teórico-metodológica e ético-política. ) Ético-política e técnico-operativa. ) Ético-política e a intersetorialidade. SERVIÇO SOCIAL em foco ii --------------- [ TÓPICO III – DILEMAS ÉTICOS CONTEMPORÂNEOS: O SIGILO PROFISSIONAL ] --------------Joelma Crista Sandri Bonetti Na sociedade brasileira, a ética profissional torna-se intrínseca à questão do sigilo profissional do Serviço Social, através da maneira complexa com que os direitos e os deveres são impostos no espaço sociojurídico. O sigilo profissional tem a ideia de guardar um segredo, porém este pode ser acrescido de complexidades que migram da individualidade para um problema social coletivo. Para se compreender o significado do termo “sigilo” e do termo “segredo” é importante compreender a ideia de confidencialidade. Nesse sentido, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (2004, p. 285), o significado da palavra segredo é: s.m. O que há de mais escondido; o que se oculta à vista, ao conhecimento: não conte este segredo a ninguém. / O que a ninguém deve ser dito; que é secreto; confidência: segredo confidencial. / O sentido oculto de algo: segredo do texto. / O que há de mais difícil; o que exige uma iniciação especial, em uma arte, uma ciência etc.: segredos da poesia. / Meio ou processo conhecido de uns poucos. Na profissão de assistente social, o Código de Ética direciona a prática profissional, orientando sobre a imparcialidade da intervenção e da confiabilidade que o profissional precisa passar em relação ao sigilo profissional. O Código de Ética de 1993 nos traz que a quebra do sigilo profissional só é admissível em situações que envolvam fatos delituosos, que mostrem claramente prejuízos em relação aos interesses pessoais e interpessoais que afetem diretamente outrem ou uma coletividade. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 83 Conforme o Art.18 do Código de Ética de 1993: A quebra do sigilo só é admissível quando se tratarem de situações cuja gravidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses do usuário, de terceiros e da coletividade. Parágrafo único – A revelação será feita dentro do estritamente necessário, quer em relação ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devam tomar conhecimento (CFESS, 1993, p. 7). Mesmo havendo a possibilidade de quebra de sigilo profissional em ações jurídicas, o assistente social é que tende a fazer a escolha da permanência ou da revelação do conhecimento adquirido durante os atendimentos, pois este se considera protegido pelo sigilo profissional. AUTOATIVIDADE 84 19) (Questão 30 - ENADE 2010) De acordo com o Código de Ética Profissional (Resolução CRESS 273, de 13/03/93), que prevê, em seu capítulo V, artigo 18, o sigilo profissional como direito do assistente social e a proteção ao usuário quanto ao teor revelado em decorrência do exercício das funções profissionais, permite-se a quebra do sigilo apenas: A. ( ) diante de solicitação expressa dos familiares do usuário. B. ( ) diante de solicitação dos responsáveis pela preservação dos interesses institucionais. C. ( ) mediante autorização expressa da organização prestadora de serviços sociais. D. ( ) perante situações cuja gravidade possa prejudicar interesses da coletividade. E. ( ) em situações em que a revelação de detalhes se faça necessária para dirimir conflitos. SERVIÇO SOCIAL em foco ii -------------- [ TÓPICO IV – EVOLUÇÃO E ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS DO SERVIÇO SOCIAL ] -------------Joelma Crista Sandri Bonetti O Serviço Social surge como ação caritativa e imediata prestada por pessoas da comunidade a indivíduos com vulnerabilidades sociais. Ou seja, mesmo sendo reconhecida hoje como uma política que trabalha em defesa e garantia de direitos baseados em critérios equânimes, ainda existem resquícios que indiquem certos favorecimentos ilícitos. Por essa razão, faz-se necessário interagir com vocês, à medida que pensamos a prática profissional do assistente social como estratégias de ação no tripé da eficiência, eficácia e efetividade, estas intrínsecas à ética profissional. Cada profissão tem atribuições específicas, e estas devem ser desempenhadas de acordo com suas pertinências, como, por exemplo: o Serviço Social é uma profissão, enquanto que a Assistência Social é uma política social. Este conceito torna-se similar, porém apresenta competências específicas, no sentido de profissão e política. O Serviço Social, enquanto profissão, tem as seguintes atribuições: desenvolver, elaborar, implementar, executar, monitorar e avaliar políticas, planos, programas e projetos sociais, dentro das várias esferas governamentais e não governamentais. E a Assistência Social, enquanto política pública, desenvolve estratégias específicas para o público ao qual se destinam suas ações. Estas podem ser embasadas no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e na Tipificação dos Serviços Socioassistenciais (2009). Outra questão que não pode ser esquecida é que o trabalho ou serviço do assistente social tende a ser desenvolvido em uma equipe multidisciplinar, e esta equipe de trabalho deverá considerar o que prediz o CFESS, pois “o trabalho em equipe não pode negligenciar as responsabilidades individuais e competências, e deve buscar identificar papéis, atribuições, de modo a estabelecer objetivamente quem, dentro da equipe multidisciplinar, se encarrega de determinadas tarefas”. (CFESS, 2009, p. 25). SERVIÇO SOCIAL em foco ii 85 Nessa mesma linha é importante compreender que toda ação gera uma reação, e esta pode ou não ter sido prevista durante o planejamento da ação, mas que deverá ser observada, interpretada e considerada durante o processo. Analisando melhor as atribuições do assistente social, temos como base a Lei nº 8.662/93, o Código de Ética e o texto Parâmetros para atuação dos assistentes sociais na política de assistência social, elaborado em 2009, durante o Seminário Nacional específico sobre o processo de trabalho dos assistentes sociais no SUAS, em que descreve em seu art. 5º que as Atividades historicamente assumidas por assistentes sociais não estão ca­racterizadas no art. 5º, a exemplo: Visitas domiciliares, estudos socioeconômicos para concessão de benefício, relatórios sociais – triagem social, encaminhamento aos recursos da comunidade, assistência social consignada na LOAS. 86 Acompanhando essas atribuições históricas, também ressaltamos a necessidade da elaboração de documentações institucionais específicas que tendem a limitar a atuação profissional. Dessa maneira, ampliamos as atribuições à medida que migramos para as novas possibilidades de intervenções profissionais impostas pela contemporaneidade, bem como pelas novas configurações da profissão que surgem com as mesmas atribuições, porém com nomenclatura diferente, que necessita de um assistente social para executar, como, por exemplo, o caso do INSS que instituiu em seu quadro a função de analista do seguro social, onde é um assistente social que a executa. SERVIÇO SOCIAL em foco ii AUTOATIVIDADE 20) (Questão 15 – ENADE 2010) O atual quadro sócio-histórico não se reduz a um pano de fundo para que se possa, depois, discutir o trabalho profissional. Ele atravessa e conforma o cotidiano do exercício profissional do assistente social, afetando as suas condições e as relações em que se realiza o exercício profissional, assim como a vida da população usuária dos serviços sociais. A análise crítica desse quadro requer um diagnóstico mais complexo sobre os processos sociais e a profissão neles inscrita. IAMAMOTO, M. V. As dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas no Serviço Social contemporâneo. Serviço social e saúde: Formação e Trabalho Profissional, Cortez, 2006, p. 76 (adaptado). A partir do texto e considerando o exercício da assistência social no contexto atual, assinale a alternativa CORRETA: A. ( ) O contexto sócio-histórico traz os elementos necessários para o profissional categorizar os problemas sociais e os vulnerabilizados, facilitando a priorização das ações e as opções técnicas. Tais procedimentos encontram respaldo no projeto ético-político profissional para a definição das estratégias de intervenção. B. ( ) É sob o escopo das questões sócio-históricas que os problemas sociais se configuram como pessoais e delimitam os elementos teórico-metodológicos e éticopolíticos que norteiam as estratégias profissionais. C. ( ) Os limites e possibilidades da intervenção estão impressos no terreno sócio-histórico em que se exerce a profissão e nas referências éticas, políticas e metodológicas do assistente social. D. ( ) A prática profissional é uma relação singular entre o assistente social e o cliente e estabelece as bases para as estratégias profissionais, pois o serviço social é uma profissão do agir. E. ( ) A prática profissional interfere diretamente no cotidiano da população, razão pela qual o cotidiano alcança a centralidade da atenção profissional. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 87 21) (Questão 32 – ENADE 2010) O processo de descentralização das políticas sociais públicas, com ênfase na sua municipalização, requer dos assistentes sociais [...] novas funções e competências. Os assistentes sociais estão sendo chamados a atuar na esfera da negociação, formulação e avaliação de políticas e do planejamento, gestão e monitoramento, inscritos em equipes multiprofissionais. Ampliam seu espaço ocupacional para atividades relacionadas ao controle social, à implantação e orientação de conselhos e políticas públicas, à capacitação de conselheiros, à elaboração de planos e projetos sociais, ao acompanhamento e avaliação de políticas, programas e projetos. IAMAMOTO. M. V. Os espaços sócio-ocupacionais do assistente social. Curso de especialização em serviço social: direitos e competências profissionais. Brasília: CEFESS, UnB, 2009 (adaptado). 88 Avalie se as afirmações a seguir estão de acordo com o perfil do assistente social na contemporaneidade. I. Localizar-se na linha de frente das relações entre população e instituição, sendo executor terminal de políticas sociais. II. Desenvolver capacidade de negociação, conhecimento e know-how na área de recursos humanos e relações no trabalho. III. Fazer leitura e análise dos orçamentos públicos, identificando seus alvos e compromissos, assim como os recursos disponíveis para projetar ações. IV. Decifrar as situações particulares com que se defronta o assistente social no seu trabalho, de modo a conectá-las aos processos sociais microscópicos que as geram e as modificam. É correto apenas o que se afirma em: A. ( ) I e II. B. ( ) I e III. C. ( ) I e IV. D. ( ) II e III. E. ( ) II, III e IV. SERVIÇO SOCIAL em foco ii --------------- [ TÓPICO V – AS DIFERENÇAS ENTRE AS ATRIBUIÇÕES E AS COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL ] --------------Joelma Crista Sandri Bonetti As competências e as atribuições do profissional de Serviço Social são norteadas através dos direitos e dos deveres estabelecidos na Lei de Regulamentação da Profissão e no Código de Ética Profissional. O profissional deve ter claro que sua função é trabalhar para a promoção e defesa e a garantia de direitos sociais, referenciados no projeto ético-político, e neste contexto deverá desenvolver estratégias inovadoras capazes de minimizar ou resolver a situação de vulnerabilidade vivenciada. Para reforçar esse posicionamento, referenciamos uma parte do Texto Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais na Saúde (2009, p. 16): A intervenção orientada por esta perspectiva crítica pressupõe: leitura crítica da realidade e capacidade de identificação das condições materiais de vida, identificação das respostas existentes no âmbito do Estado e da sociedade civil, reconhecimento e fortalecimento dos espaços e formas de luta e organização dos(as) trabalhadores(as) em defesa de seus direitos; formulação e construção coletiva, em conjunto com os trabalhadores, de estratégias políticas e técnicas para modificação da realidade e formulação de formas de pressão sobre o Estado, com vistas a garantir os recursos financeiros, materiais, técnicos e humanos necessários à garantia e ampliação dos direitos. Na qual repudia a maneira de trabalhos tradicionais pautados no tradicionalismo conservador, em que identificam o usuário de maneira isolada, não compreendendo o usuário como parte de um sistema problemático facilitador de expressões da questão social. Dentro desse cenário existe muita confusão de compreensão em relação ao que é competência e o que é atribuição. Por essa razão, traremos para análise o significado dessas nomenclaturas durante a intervenção profissional. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 89 Na lei de Regulamentação da Profissão são identificadas algumas competências gerais, que segundo a ABEPSS (1996), são: • apreensão crítica dos processos sociais de produção e reprodução das relações sociais numa perspectiva de totalidade; • análise do movimento histórico da sociedade brasileira, apreendendo as particularidades do desenvolvimento do capitalismo no país e as particularidades regionais; • compreensão do significado social da profissão e de seu desenvolvimento sócio-histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade; • identificação das demandas presentes na sociedade, visando a formular respostas profissionais para o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre o público e o privado. 90 As competências permitem que o profissional faça uma análise mais profunda da realidade, buscando subsídios para a elaboração de um plano de trabalho com ações que respeitem a legislação vigente. (Grifo do autor) São essas competências que permitem ao profissional realizar a análise crítica da realidade, para estruturar seu trabalho e estabelecer as competências específicas necessárias ao enfrentamento das situações e demandas sociais que se apresentam em seu cotidiano. Enquanto que as atribuições se referem aos instrumentais técnico-operativos utilizados durante as intervenções. (Grifo do autor). Ao referenciarmos a Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993, é importante compreender que a profissão de assistente social tem regulamentação própria, determinada no artigo 5º, que enumera as atribuições privativas do assistente social: Artigo 5 – Constituem atribuições privativas: I – coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; II – planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; SERVIÇO SOCIAL em foco ii III – assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social; IV – realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; V – assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; VI – treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; VII – dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação; VIII – dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social; IX – elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras de seleção para assistentes sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social; X – coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social; XI – fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais; XII – dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas; XIII – ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional. Durante o exercício profissional, o assistente social deverá ter claras as suas atribuições dentro dos espaços sócio-organizacionais, a fim de aplicar os instrumentais técnicos de maneira correta. IMPORTANTE – Nesse sentido é possível compreender que as competências são atreladas às normativas vigentes (leis, regras, normas, resoluções, códigos etc.), que devem ser respeitadas. Sendo que as atribuições se referem à instrumentalidade utilizada durante a intervenção. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 91 Outro ponto importante a ser mencionado é que competências são qualificações profissionais para prestar serviços, que a lei reconhece, independentemente de serem, também, atribuídas a profissionais de outras categorias. AUTOATIVIDADE 22) - (Questão 33 - ENADE 2010) A Lei n. 8.662/1993, que regulamenta a profissão do assistente social, enfatiza como atribuição privativa do assistente social realizar estudos sociais, perícia e laudos em matérias específicas do Serviço Social. Segundo Favero (2004), na perspectiva da atuação do Serviço Social na área jurídica, o estudo social é uma das principais ferramentas que fundamentam decisões sobre outrem. FAVERO, E. T. O estudo social: fundamentos e particularidades de sua 92 construção na área jurídica. In: CFESS (Org.). O Estudo social em perícias, laudos, pareceres técnicos. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2004. Na perspectiva abordada acima, é função do estudo social: A. ( ) Emitir parecer à autoridade solicitante. B. ( ) Mapear a realidade econômica dos sujeitos. C. ( ) Diagnosticar e emitir parecer com a equipe multidisciplinar. D. ( ) Fomentar as competências e habilidades dos profissionais de Serviço Social. E. ( ) Colaborar internamente nas decisões econômicas e políticas das instituições. 23) (Questão 29 – ENADE 2013) O assistente social que atua nos diferentes espaços sócio-ocupacionais enfrenta situações desafiadoras, que envolvem a cultura política conservadora. Esse tipo de situação interfere direta ou indiretamente em seu cotidiano profissional. Nesse contexto, assinale a alternativa que contém apenas fenômenos que facilitam o acesso aos direitos sociais. SERVIÇO SOCIAL em foco ii A( B( C( D( E( ) Clientelismo político, desfiliação e cidadania. ) Democracia, participação social e cidadania. ) Clientelismo político, coronelismo e populismo. ) Assistência social, clientelismo político e saúde. ) Desigualdade social, participação social e desfiliação. 93 SERVIÇO SOCIAL em foco ii --------------- [ TÓPICO VI – A ASSOCIAÇÃO DA INSTRUMENTALIDADE E DA COMUNICAÇÃO NO SERVIÇO SOCIAL ] --------------Joelma Crista Sandri Bonetti As pessoas têm o livre arbítrio quanto às possibilidades profissionais que pretendem seguir, mas precisam ter claro que cada profissão tem características e atribuições específicas. Esse processo acontece na escolha da profissão e durante todo o processo acadêmico, de reconhecimento de atribuições e competências, estas reforçadas por uma categoria profissional constituída e atuante na sociedade. A comunicação é instrumento fundamental para estabelecer as interpelações humanas. Essa comunicação pode ser desenvolvida através da oralidade, da escrita e através de movimentos gesticulatórios, desde que haja interação entre o emissor e o receptor, em que está se estabelecendo a comunicação. 94 Na concepção de Chiavenato (2002, p. 158), comunicação é “troca de informações entre indivíduos. Significa tornar comum uma mensagem ou informação. Constitui um dos processos fundamentais da experiência humana e da organização social”. Na área das ciências humanas, em especial no Serviço Social, uma das principais estratégias empregadas durante os atendimentos é a comunicação, que é uma ferramenta essencial na elaboração de estratégias interventivas, e que associada aos instrumentais técnico-operativos resulta em uma postura ética e imparcial, como deve ser a ação do assistente social. Nesse sentido, é importante destacar o trabalho do profissional assistente social. O assistente social faz o planejamento e a execução de políticas públicas e de programas sociais voltados para o bem-estar coletivo e a integração do indivíduo na sociedade. Ele trabalha com questões como exclusão social, acompanhando, analisando e propondo ações para melhorar as condições de vida de SERVIÇO SOCIAL em foco ii crianças, adolescentes e adultos. Cria campanhas de alimentação, saúde, educação e recreação e implanta projetos assistenciais. Em penitenciárias e abrigos de menores, propõe ações e desenvolve a capacitação para a reintegração dos marginalizados. É obrigatória a inscrição no Conselho Regional de Serviço Social para o exercício da profissão. (GUIA DO ESTUDANTE, 2015). Para desenvolver as ações técnico-operativas, o assistente social requer formação técnica e continuada, já que sua ação preconiza o desenvolvimento de estratégias para a defesa e a garantia de direitos sociais negligenciados ou negados pela sociedade. Por essa razão, o profissional do Serviço Social precisa se dedicar ao conhecimento de teorias para a associação da prática. Essas atribuições tendem a ser norteadas através da Lei n° 8.663/93 e do Código de Ética Profissional do Assistente Social, em seu artigo 4°, que reforça as competências específicas do assistente social: I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; IV - (Vetado); V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; VI - planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais; VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais; VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo; SERVIÇO SOCIAL em foco ii 95 IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; X - planejamento, organização e administração de serviços sociais e de Unidade de Serviço Social; XI - realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades. Nesse sentido, o assistente social tem parâmetros teóricos que norteiam sua conduta. O Serviço Social vem se reestruturando como uma política de efetivação de direitos sociais, baseada na universalidade e equidade nos atendimentos. Carvalho (2008, p. 7) referenda que [...] o trabalho do assistente social pode produzir resultados concretos nas condições materiais, sociais e culturais da vida de seus usuários, em seu acesso a direitos e usufruto de políticas sociais, programas, serviços, recursos e bens, em seu comportamento, valores, seu modo de viver e de pensar, suas formas de luta e organização, sua prática de resistência. 96 Cabe ao assistente social o respeito e a responsabilidade diante do poder que lhe cabe no momento de atuação com as famílias, sabendo que o Código de Ética do Assistente Social traz todos os deveres, direitos e proibições que competem ao profissional. As políticas públicas existentes no Brasil podem ser analisadas a partir de duas vertentes distintas, porém complementares: a primeira refere-se à necessidade de planejar, de maneira racional e imparcial, estratégias para a efetivação de ações voltadas à população em situação de vulnerabilidade, que visem à minimização ou a resolução do problema. Nesse sentido, Souza (2006) comprova essa teoria quando enfatiza que “as políticas públicas podem ser tidas como o equilíbrio entre as receitas SERVIÇO SOCIAL em foco ii e as despesas e a necessidade de equacionar seus bens para o benefício da população, mesmo porque é competência do Estado direcionar recursos para melhorar a condição da sociedade. O Brasil traz em sua história a marginalização da sociedade e a emergência das desigualdades sociais, em que o ser humano se torna apenas um elo entre ações políticas intencionais e ações políticas conclusivas de acesso e participação. Nesse sentido, buscamos a fundamentação de Fernandes (2007). Entretanto, antes de qualquer coisa, a questão da pobreza e da desigualdade no Brasil se mostra como algo gerado por um déficit histórico de cidadania em um país que viveu sob o regime escravocrata por quatro séculos, no qual os direitos cíveis e políticos existiam de maneira ilusória no papel. Outro bom exemplo desse período é o pleito eleitoral brasileiro tanto no Período Imperial quanto no Período da República Velha, quando o território era dominado pelos coronéis, as eleições eram escrutínios caracterizados pela fraude e truculência, os eleitores eram ameaçados por capangas e homens de confiança, onde eram obrigados a trocar seu voto por subsídios. Evidentemente, esse comportamento reforça o atraso da sociedade brasileira. O Serviço Social passou por uma reconceituação que abandonou as questões caritativas e se pauta principalmente nas ações de garantia de direitos e minimização das mazelas sociais. O profissional tem várias legislaturas em que deve se basear para a realização de sua intervenção. AUTOATIVIDADE 24) (Questão 20 – ENADE 2010) A flexibilização das relações de trabalho que atinge inclusive os postos de trabalho situados no âmbito do Estado brasileiro, importante empregador dos assistentes sociais do país, gera como consequências para essa categoria de profissionais: SERVIÇO SOCIAL em foco ii 97 A. ( ) Retração dos postos de trabalho, com melhoria salarial. B. ( ) Maior liberdade para o profissional que souber se situar e vencer a concorrência. C. ( ) Oportunidades diferenciadas de inserção no mercado, sempre com possibilidades concretas de maior incremento salarial. D. ( ) Novas possibilidades de trabalho, pois poderão ocupar espaços antes destinados a profissionais com formação técnica diversa. E. ( ) Obrigação de permanente qualificação profissional, pois o profissional é chamado a responder a demandas variadas e mutantes. 25) (Questão 34 – ENADE 2010) O Serviço Social é uma das poucas profissões que possui um projeto profissional coletivo e hegemônico, denominado Projeto Ético-Político Profissional, que foi gestado no interior da categoria profissional e que expressa seu compromisso com a construção de uma nova ordem societária, mais justa, democrática e garantidora de direitos universais. 98 CFESS. Código de Ética Profissional do Assistente Social (Resolução 273/93). O projeto mencionado no texto tem seus contornos claramente expressos na Lei n. 662/1993, no Código de Ética Profissional de 1993, que assegura ao assistente social o direito de: A. ( ) Desempenhar suas atividades profissionais com eficiência e responsabilidade, observando a legislação em vigor. B. ( ) Utilizar, no exercício da profissão, seu número de registro no Conselho Regional. C. ( ) Da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando sua ocorrência aos órgãos competentes. D. ( ) Aprimorar seu conhecimento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos princípios estabelecidos no próprio Código. E. ( ) Participar de programas de socorro à população em situação de calamidade pública, no atendimento e na defesa de seus interesses e necessidades. SERVIÇO SOCIAL em foco ii ----------- [ TÓPICO VII – OS TERMOS TÉCNICOS E A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL ] ---------Joelma Crista Sandri Bonetti Da mesma forma que se pode observar que a profissão do Serviço Social acarreta responsabilidades para o exercício da sua práxis profissional, ela também requer uma postura profissional ético-política e linguística, pois as palavras têm sentido amplo e podem ocasionar sentidos dúbios. Neste sentido, é de suma importância que os profissionais do Serviço Social se apropriem de vocabulários próprios da sua área do saber, é claro que respeitando as regras gramaticais e evitando os erros de português e concordâncias, mas essa visão vem se aperfeiçoando ao longo da história. Barbiero (2006) reforça essa ideia expondo que: Nós, seres humanos, ao longo dos séculos desenvolvemos formas diferentes para conseguir um canal eficiente de comunicação com nossos semelhantes. Nos primórdios, alguns gestos e ruídos animalescos traduziam as vis ideias que a mente símia conseguia produzir. Depois, foram desenvolvidas a palavra falada, a palavra escrita, os meios de comunicação em massa e outras fontes tantas [...]. Tudo isso com um objetivo: transmitir o conteúdo que criamos ou entendemos justo para outros, informando-os ou persuadindo-os a se aliarem aos nossos ideais. É de suma importância que os profissionais se apropriem da linguagem técnica profissional, por esta razão referenciaremos alguns conceitos do dicionário de termos técnicos da Assistência Social: abrangência territorial, abordagem, abrigamento, ação socioassistencial, acessibilidade, acesso, acolhida, acolhimento, acompanhamento, acompanhamento técnico metodológico aos serviços, albergamento, amostragem, apoio socioeconômico, atendimento socioassistencial, instrumentalidade (entrevista, grupos, oficinas, palestras, reuniões, estudo de caso, orientação, visitas domiciliares, pareceres), arquivos, ato infracional SERVIÇO SOCIAL em foco ii 99 e administrativo, atribuições, autonomia, avaliação, Benefício de Prestação Continuada BPC, benefícios eventuais, campanhas, Centros de Referência de Assistência Social CRAS, cidadania, comunidade, conceitos, conduta, conferências, conhecimento, conselho tutelar, conselho, conselho municipal, conselho estadual, conselho federal, acompanhamento, controle social, convivência familiar e comunitária, cultura, deficiência, demanda, descentralização, desempenho, desemprego, desenvolvimento humano, desenvolvimento sustentável, desligamento, diagnóstico social, direitos socioassistenciais, diretrizes, efetividade, eficácia, eficiência, empoderamento, enfrentamento, assalariado, encaminhamento, entidade, entrevista, equidade, Estatuto da Criança e do Adolescente, ética, exclusão social, formulários, família, fórum, fundo de assistência social, habilitação, habitação, incapacidade, inclusão, indicadores, índice, instituição, instrumento, intersetorialidade, Juizado da Infância e Juventude, Lei de Diretrizes e Bases, Lei Orçamentária Lei Orgânica da Assistência Social, mapeamento, medidas de proteção, medidas socioeducativas, metas, Ministério Público, monitoramento, moral, normas, ocupação, oficinas, Organização não Governamental, parcerias, padrão, qualidade, participação, perfil, pesquisa, planejamento, plano, política, proteção social, procedimentos, programas, projetos, público-alvo, reabilitação, rede socioassistencial, registros, regulamentação, renda per capita, regulamentação, renda, resolução, responsabilidade social, reuniões, territorialização, risco social, Sistema Único de Assistência Social, supervisão, terceiro setor, autonomia, trabalho infantil, trabalho forçado, trabalho protegido, universalidade, variável, vínculo, violação, violência, vulnerabilidade. (Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social. Belo Horizonte, 2007). 100 O fato de utilizar a mesma nomenclatura cria um meio de comunicação universal entre os profissionais. Além de compreenderem o relato, isto também os auxilia na qualificação e valorização da categoria. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Conceito de instrumentais: Todos os profissionais têm instrumentos de trabalho específicos à sua profissão. O assistente social, por ser um profissional qualificado para atuar como articulador, minimizador de questões sociais, defensor da equidade, necessita fundamentar suas bases teóricas, metodológicas, técnicas e ético-políticas no desenvolvimento de sua ação profissional; [...] “a questão social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do assistente social”. (IAMAMOTO 1997, p. 14). (Grifo nosso) A instrumentalidade no serviço social é uma reflexão teórica pouco explorada. Diante dessa constatação, faz-se necessário esclarecer que é a utilização de ações específicas à intervenção e articulação teórica-metodológica e técnico-operativa da ação profissional cotidiana. “Os conteúdos históricos, teórico-metodológicos e ético-políticos que norteiam o serviço social, […] que irão distinguir o trabalho profissional competente”. (FÁVERO, 2004, 89). Os instrumentais técnico-operativos dos assistentes sociais estão 101 inseridos numa perspectiva dialética, em que se acredita na dinâmica social, em que a sociedade está diversificada e entregue à transformação. É nesta perspectiva que o serviço social está procurando se adequar, sendo também dinâmico e criativo para atender às demandas que crescem na medida em que crescem as desigualdades sociais. A prática do assistente social tem como matéria-prima de sua ação as relações de poder da sociedade capitalista. Nesse sentido, faz-se necessário um posicionamento profissional frente às questões sociais para desenvolver uma direção a ser seguida, por isso se fala em assumir valores ético-morais-políticos, pois norteiam a prática através de valores que estão descritos no Código de Ética do Assistente Social (Resolução CFAS nº 273/93). Capítulo II. Dos Deveres Fundamentais do Assistente Social Art. 4° O assistente social no desempenho das tarefas inerentes à sua profissão deve respeitar a dignidade da pessoa humana que, por sua natureza, é um ser inteligente e livre. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Art. 5° No exercício de sua profissão, o assistente social tem o dever de respeitar as posições filosóficas, políticas e religiosas daqueles a quem se destina sua atividade, prestando-lhes os serviços que lhe são devidos, tendose em vista o princípio de autodeterminação. Art. 6° O assistente social deve zelar pela família, grupo natural para o desenvolvimento da pessoa humana e base essencial da sociedade, defendendo a prioridade dos seus direitos e encorajando as medidas que favoreçam a sua estabilidade e integridade. Art. 7° Ao assistente social cumpre contribuir para o bem comum, esforçando-se para que o maior número de criaturas humanas dele se beneficie, capacitando indivíduos, grupos e comunidades para sua melhor integração social. Art. 8° O assistente social deve colaborar com os poderes públicos na preservação do e dos direitos individuais, dentro dos princípios democráticos, lutando inclusive para o estabelecimento de uma ordem social justa. Art. 9° O assistente social estimulará a participação individual, grupal e comunitária no processo de desenvolvimento, propugnando pela correção dos desníveis sociais. Art. 10° O assistente social no cumprimento de seus deveres cívicos colaborará nos programas nacionais e internacionais, que se destinem a atender às reais necessidades de melhoria das condições de vida para a sua pátria e para a humanidade. Art. 11° Ao assistente social cumpre respeitar a justiça em todas as suas formas: comutativa, distributiva e social, lutando para o seu fiel cumprimento, dentro dos princípios de fraternidade no plano nacional e internacional. Art. 12° O assistente social, conforme estabelecem os princípios éticos e a lei penal, deve pautar toda a sua vida profissional condicionalmente pela verdade. Art. 13° O assistente social no exercício de sua profissão deve aperfeiçoar sempre seus conhecimentos, incentivando o progresso, atualização e difusão do Serviço Social. Art. 14° O assistente social tem o dever de respeitar as normas éticas das outras profissões, exigindo, outrossim, respeito àquelas relativas ao Serviço Social, quer atuando individualmente ou em equipes. 102 SERVIÇO SOCIAL em foco ii O Código de Ética é um valioso instrumento de apoio e orientação para os profissionais assistentes sociais, regulamentando responsabilidades e norteando a ação. Para Martinelli (1994, p. 138), os instrumentais técnico-operativos são como um “conjunto articulado de instrumentos e técnicas que permitem a operacionalização da ação profissional”. É importante esclarecer os objetivos que se quer alcançar, o instrumental tende a ser diferenciado, quando diz que o instrumental e a técnica estão interligados, pois abrangem não só o campo das técnicas, como também dos conhecimentos e habilidades. Toda intervenção profissional precisa ter clara a demanda a ser atendida e os objetivos que se pretende alcançar. Finalizada essa etapa, é hora de partir para as ações, ou seja, qual é a melhor técnica para alcançar os resultados desejados (observação, entrevistas, estudo socioeconômico, visitas domiciliares, pareceres ou relatórios, encaminhamentos). A demanda identificada possibilita a escolha adequada do instrumental a 103 ser utilizado na intervenção. Para Martinelli e Koumrouyan (1994, apud KOSMANN, 2006, p. 102), os instrumentais “abrangem técnicas, conhecimentos e habilidades, os quais são construídos a partir de um dado momento e de acordo com uma determinada finalidade”. O assistente social atua diretamente no cotidiano dos grupos sociais, intervindo por meio de seus conhecimentos no contexto social. O conhecimento teórico é um instrumento de trabalho vinculado à prática, podendo-lhe permitir ter um olhar macro nas suas intervenções profissionais. Percebemos que somente após o governo Vargas é que as pessoas passaram a usufruir de direitos, observou-se significativos avanços nas áreas da previdência social, principalmente a legislação trabalhista, nas áreas da educação, saúde com saneamento básico, habitação, transporte, e tudo isso resulta atualmente na melhoria das condições de vida, favorecendo e refletindo na classe com menor poder aquisitivo. SERVIÇO SOCIAL em foco ii É de suma importância a utilização de termos técnicos condizentes em nossa área de atuação, pois possibilita melhor compreensão entre profissionais, além da qualificação e valorização da categoria. A utilização de instrumentais qualifica a intervenção, favorecendo assim resultados positivos nas múltiplas expressões sociais. AUTOATIVIDADE 104 26) - (Questão 31 - ENADE 2010) O Serviço Social é uma profissão de caráter sociopolítico, crítico e interventivo, que se utiliza do instrumental científico multidisciplinar das Ciências Humanas e Sociais para análise e intervenção nas diversas refrações da “questão social”, isto é, no conjunto de desigualdades que se originam do antagonismo entre a socialização da produção e a apropriação privada dos frutos do trabalho, e para sua atuação, geralmente, elabora registros dos atendimentos que realiza, redige relatórios, preenche fichas e formulários. FONTE: Disponível em: <http//www.cressrj.org.br/index.php>. Acesso em: 21 ago. 2010. O material referido acima: A. ( ) pauta-se por uma neutralidade garantidora da cientificidade. B. ( ) configura a produção de conhecimento do assistente social sobre sua prática. C. ( ) está sujeito ao sigilo profissional, o que impede seu uso para redefinição das ações profissionais. D. ( ) tem a finalidade precípua de salvaguardar a responsabilidade do profissional, informando os passos adotados a partir de um parecer sobre as demandas apresentadas. E. ( ) serve como objeto de reflexão com base nos fundamentos teóricos de sua profissão, possibilitando o desvelamento das reais necessidades dos usuários. 27) – (Questão 18 - ENADE 2013) Os critérios mais usuais em avaliação são os relacionados com eficiência, eficácia e efetividade da ação. Uma ação programada tem compromisso nesses três níveis de abordagem. SERVIÇO SOCIAL em foco ii BAPTISTA, M. V. (2007). Planejamento social: intencionalidade e instrumentação. São Paulo: Veras, 2000 (adaptado). Considerando o tema abordado acima, avalie as seguintes afirmações. I. Eficiência é a adequação da ação para o alcance dos objetivos e das metas previstas e representa o grau em que eles foram alcançados. II. Eficácia é a correlação entre os efeitos dos programas (benefícios) e os esforços (custos) empreendidos para obtê-los. III. Na efetividade, questiona-se se a proposta, os objetivos e a ação desenvolvida deram respostas adequadas e duradouras à realidade (cobertura e abrangência da população demandatária), no limite do âmbito da intervenção planejada. É correto o que se afirma em: A ( ) I, apenas. B ( ) III, apenas. C ( ) I e II. D ( ) II e III. E ( ) I, II e III. 105 SERVIÇO SOCIAL em foco ii Referências VIEIRA, Denise da Silva. Caderno Ciência política. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2014. BARBIERO, Diego Roberto. Técnicas linguísticas-discursivas, paráfrases e tribunal do júri. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto. asp?id=9514>. Acesso em: 29 abr. 2009. BRASIL. Código de ética do/a assistente social. Lei nº 8.662/93. Dispõe sobre a regulamentação da profissão. 10ª. ed. rev. e atual. [Brasília]: Conselho Federal de Serviço Social, [2012]. CARVALHO-FREITAS, M. N.; MARQUES, A. L. 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Vários aspectos relacionados à nossa profissão como assistente social precisam ser compreendidos e reforçados em sua análise mais ampla na atual conjuntura e contemporaneidade, no que diz respeito à questão social e sua relação com o serviço social, bem como o entendimento de suas múltiplas e complexas expressões sociais na atualidade em nossa realidade brasileira, demanda de nossas intervenções. Existem muitos desafios profissionais em relação às múltiplas e complexas expressões sociais no Brasil. Assim, dentro de um perspectivismo de enfrentamento e redução, de redução e resolução, podemos e devemos nos impor enquanto profissionais na busca de possibilidades e alternativas de reversão do agravamento das manifestações da questão social. Os desafios e enfrentamentos das expressões multifacetadas da questão social são inúmeros e parecem se tornar irreversíveis e acirradas, porém precisamos propor alternativas possíveis na construção de uma nova ordem societária. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Prontos para começar a estudar, pesquisar, analisar e a compreender o significado e a amplitude da questão social? Então, mãos à obra! ---------- [ TÓPICO I – A AMPLITUDE DA TERMINOLOGIA DO TERMO DA QUESTÃO SOCIAL ] ---------Cristiana Montibeller A questão social está intrinsecamente vinculada com a história do surgimento e desenvolvimento do capitalismo, visto o desenrolar dos acontecimentos que mudaram o curso da história da humanidade. Por isso precisamos conhecer o passado para compreender e refletir sobre aspectos do cenário contemporâneo mundial e da nossa própria realidade enquanto profissionais que atuam diretamente 110 com as expressões da questão social e não mais no aspecto da filantropia e com pobres desajustados (MONTIBELLER, 2015). Do feudalismo se instaurou o capitalismo gradativamente, assim a Revolução Industrial que teve início na Inglaterra, emergindo aproximadamente em 1775, se espalhou por toda a Europa. Sem precedentes e concomitantemente com o crescimento econômico, crescia também um número exorbitante de homens, mulheres e crianças em situações desumanas e degradantes, de desigualdade social, pobreza e exclusão social. A questão social e suas expressões, na época do surgimento e desenvolvimento do capitalismo, era designada como problemas ou disfunções sociais. Assim percebiam e consideravam todos os problemas sociais como desvios de conduta, que estavam vinculados e relacionados com a cultura, a moral, a religião, a família, com a característica pessoal da própria pessoa. A pobreza era relacionada a causas individuais e psicológicas, pensava-se o pauperismo como mendicância e como crime, assim a repressão se instituía como forma de tentar harmonizar, equilibrar, por ordem na sociedade industrial da época que estava emergindo. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Segundo Montaño (2012, p. 274): [...] a partir de 1834, existem algumas características e problemas dessa concepção de “questão social”, pobreza e tratamentos: a. A “questão social” é separada dos seus fundamentos econômicos (a contradição capital/trabalho, baseada na relação de exploração do trabalho pelo capital, que encontra na indústria moderna seu ápice) e políticos (as lutas de classes). É considerada a “questão social” durkheimianamente como problemas sociais, cujas causas estariam vinculadas a questões culturais, morais e comportamentais dos próprios indivíduos que os padecem. b. A pobreza é atribuída a causas individuais e psicológicas, jamais a aspectos estruturais do sistema social. c. O enfrentamento, seja a pobreza considerada como carência ou déficit (onde a resposta são ações filantrópicas e beneficência social). Ou seja, ela entendida como mendicância e vadiagem (onde a resposta é a criminalização da pobreza, enfrentada com repressão/ reclusão), sempre remete à consideração de que as 111 causas da “questão social” e da pobreza encontram‑se no próprio indivíduo. Trata‑se das manifestações da “questão social” no espaço de quem os padece, no interior dos limites do indivíduo, e não como questão do sistema social. Essa é a perspectiva pós‑1835, século XIX — que, a partir da constituição do proletariado como sujeito e de suas lutas desenvolvidas particularmente entre 1830‑48, pensa o pauperismo como mendicância e como crime, tratando assim dela com repressão. O aumento da pobreza e da exclusão social, das desigualdades sociais, da expansão de situações de risco social, a precarização do trabalho, baixos salários, trabalho infantil, carga horária excessiva, falta de garantia de condições mínimas de trabalho, crescimento excessivo de imigrações e migrações, explorações diversas eram evidenciados na época do surgimento e desenvolvimento do capitalismo. Nesse sentido, é necessário que a compreensão e análise crítica da “questão social” em sua gênese e contemporaneidade se faça valer, bem como a SERVIÇO SOCIAL em foco ii identificação das várias formas em que se manifestam as expressões da “questão social” na sociedade, a fim de que se possa construir estratégias diversas de enfrentamento das desigualdades sociais e propor a conquista, efetivação, garantia e ampliação dos direitos sociais. Assim, vamos contando que a sociedade é mutável e, consequentemente, se desenvolve e exige adequações, adaptações, mudanças, readaptações, novas interpretações, pois também vão se configurando e surgindo novas formas de vida e situações, novas expressões sociais que se modificam e se alteram, se intensificam e exigem novos olhares e novas ações. Assim, o pensar sobre o social está relacionado com o desenvolvimento do capitalismo, especificamente, em meados do século XIX, na Europa, conforme especifica de forma clara sobre esse assunto a assistente social e doutora em sociologia Marilena Jamur (1997, p. 19-20), onde vem descrevendo e interpretando o sociólogo francês Jacques Donzelot: O social, segundo Donzelot (1992), foi uma “invenção” do século XIX. Através de uma ampla e minuciosa análise, o autor faz a demonstração de que a “invenção do social” se impõe como uma necessidade política, no momento em que o ideal republicano – forjado no Século das Luzes – se vê confrontado à primeira forma democrática colocada em prática na França, após a Revolução de 1848. Naquela conjuntura, com a adoção do sufrágio universal, quando são retomados os princípios democráticos norteadores da “Revolução Gloriosa” de 1789, por um lado, reavivam-se as certezas e as promessas contidas no ideal republicano de liberdade e de igualdade; ao mesmo tempo, por outro lado, aparecem claramente as contradições e o conflito de interesses que obstaculizam a realização desse ideal. O autor defende o argumento de que a emergência do social com um domínio específico de preocupações e de intervenção está profundamente articulada ao surgimento da “questão social”. 112 Assim como o social, a questão social também está vinculada à história do desenvolvimento do capitalismo, ou mais especificamente, com as consequências do novo sistema econômico que estava surgindo na Europa, um déficit social de desencantamento, temor e pânico, pois o capitalismo para se instalar não foi de SERVIÇO SOCIAL em foco ii modo pacífico, harmonioso ou glorioso, mas de forma coercitiva, manipulatória, autoritária, exploratória e excludente. Segundo Donzelot (1992, p. 33-34, apud JAMUR, 1997, p. 21), A “questão social” – designação que aparecera por volta de 1830 – será definida principalmente neste sentido: como reduzir a distância entre o novo fundamento da ordem política e a realidade da ordem social, a fim se assegurar a credibilidade da primeira e a estabilidade da segunda, se não quiser “que o poder republicano seja de novo investido de esperanças desmedidas e, depois, vítima do desencantamento destruidor daqueles mesmos que a ele deveriam ser mais apegados”. A “questão social” aparece como a “constatação de um déficit da realidade social, com relação ao imaginário político da República. Um déficit gerador de desencantamento e de temor: desencantamento daqueles que esperavam dessa extensão da soberania política (a todo o povo) uma modificação imediata de sua condição civil; temor, e mesmo pânico, daqueles que receavam que esse poder através do povo servisse para instaurar o poder do povo 113 de Paris sobre o resto da Nação”. Nesse sentido, vamos entendendo que a “questão social” surge por volta de 1830, e emerge com questionamentos sobre como diminuir a relação entre o público e o privado, entre a política e a realidade social, com o intuito de efetivar a credibilidade e comprometimento político e a harmonia social. Assim, a questão social surge numa esfera de desencantamento e decepção de uma democracia disfarçada e numa esfera de medo do que estaria por vir. Com o surgimento do capitalismo, a nova divisão do trabalho social trouxe aos trabalhadores e suas famílias diversos prejuízos e riscos, além de evidenciar a desigualdade social e um contingente de miseráveis, os mesmos eram iludidos por um imaginário político ideológico de modernidade, progresso e riqueza para todos (MONTIBELLER, 2015). A questão social representa uma perspectiva de análise da sociedade. [...] nós não vemos a questão social, vemos suas expressões: o desemprego, o analfabetismo, a fome, a favela, a falta de leitos em hospitais, a violência, a inadimplência, etc. Assim é que a questão social só SERVIÇO SOCIAL em foco ii se nos apresenta nas suas objetivações, em concretos que sintetizam as determinações prioritárias do capital sobre o trabalho, onde o objetivo é acumular capital e não garantir condições de vida para toda a população (MACHADO, 2014, p. 1). Assim, vamos compreender então que a questão social representa uma perspectiva de análise da sociedade, pois não vemos a questão social em si, mas sim suas expressões, ou seja, percebemos as inúmeras e incômodas manifestações e expressões sociais, onde o assistente social, por sua vez, ocupa um espaço e importância que lhe é próprio, procurando dar respostas nas mais variadas formas de expressão da questão social via políticas sociais dos mais variados segmentos da sociedade. Como já foi referido, o Serviço Social tem na questão social a base de sua fundação como especialização do trabalho. Questão social apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades sociais da sociedade capitalista madura, [...]. Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública etc. (IAMAMOTO, 2014, p. 27-28). 114 Percebemos que na atualidade uma questão social é uma questão políticosocial, visto que não é algo isolado do sistema no qual vivemos. Nesse sentido, podemos nos referir à reprodução das relações sociais na sociedade capitalista, que pode ser compreendida em suas contradições de desigualdade econômica, visto que o crescimento do capital corresponde à crescente pauperização relativa da população, dependente do trabalho, do capital, do sistema que necessita desta lógica de ganho e exploração. Para Iamamoto (2014), a gênese da questão social está diretamente relacionada e intrínseca ao capitalismo e suas relações de produção, dominação e exploração e desigualdade social. Nessa perspectiva, a questão social requer uma compreensão não apenas de manifestação da desigualdade social no capitalismo, mas como um elemento político e social mediador das ações das distintas SERVIÇO SOCIAL em foco ii realidades sociais no desenvolvimento e desdobramento do modo de produção capitalista, que para se manter explora e domina. Percebe-se que a questão social é considerada de forma errônea. Assim, é considerada como disfunções ou problemáticas sociais, situações sociais, problemas isolados, tais como: a pobreza, desemprego, violência, mendicância, favelas, doenças, exploração infantojuvenil, discriminação, pedofilia, analfabetismo, dependência química, entre outras inúmeras situações, porém todas essas situações são expressões, são manifestações da questão social. Por exemplo, quando questionamos uma das inúmeras questões sociais é por que algo nos impulsiona para isto, visto que estamos presenciando ou percebendo uma, duas ou mais de suas expressões ou manifestações na sociedade. A questão social em si não é algo negativo, como, por exemplo, o trabalho, a habitação, a educação, entre outras diversas questões sociais; o que perturba são as manifestações negativas destas, tais como: o desemprego ou o emprego informal, baixos salários, não garantia de direitos trabalhistas, a falta de moradias e saneamento básico, as favelas, o descaso com a educação, a evasão escolar, 115 dentre outras inúmeras expressões sociais que se evidenciam na sociedade. Assim, vamos compreender e analisar as expressões da questão social, visto que o serviço social tem na questão social a base de sua fundamentação enquanto especialização do trabalho, por isso que a intervenção profissional deve estar pautada em uma perspectiva que vise ao enfrentamento das expressões da questão social não no sentido de apaziguamento, mas essencialmente de redução e eliminação (MONTIBELLER, 2015). SERVIÇO SOCIAL em foco ii AUTOATIVIDADE 28) (QUESTÃO ENADE – 2013) O reconhecimento de que o assistente social atua nas expressões da questão social é fruto do amadurecimento profissional ao longo da história. Acerca da questão social, avalie as seguintes afirmações: I. A questão social é fruto da ordem capitalista e possui expressões que estão sujeitas a modificações e intensificações. II. A questão social colide com a sociedade capitalista e suas expressões são problemas inerentes aos sujeitos sociais. III. As expressões da questão social são resultantes do processo de consolidação e amadurecimento da sociedade capitalista. É correto o que se afirma em: A I, apenas. B II, apenas. C I e III, apenas. 116 D II e III, apenas. E I, II e III. 29) (Questão ENADE 2004) Considere e analise as afirmações a seguir, sobre a questão social como eixo estruturante do Serviço Social. I - O Serviço Social se constitui como profissão enquanto mecanismo institucional utilizado pelo Estado para dar respostas às expressões da questão social, via políticas sociais. II - Os assistentes sociais intervêm nas mais variadas formas de expressão da questão social, tais como os indivíduos as experimentam nas relações de trabalho, na família, na saúde e em outras esferas da vida social. III - A questão social constitui-se exclusivamente de um conjunto de problemas de indivíduos e grupos usuários dos serviços prestados pelo Estado, via políticas sociais. IV - O reconhecimento de um conjunto de problemas vinculados às modernas condições de trabalho urbano constitui o fundamento da questão social. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Somente é correto o que se afirma em: A I e II. B I e III. C I e IV. D II e III. E II e IV. 30) (QUESTÃO ENADE – 2007) Nas Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social, aprovadas pela Assembleia Nacional da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, em 1996, as múltiplas expressões da “questão social” figuram como objeto de trabalho do assistente social, nas mais variadas dimensões da realidade social. A realização de estudos socioeconômicos, de acordo com o que postulam as diretrizes, orienta-se por uma perspectiva teórico-metodológica crítica. À luz da orientação teórica adotada pelas Diretrizes, seria legítimo sustentar que a direção social dos estudos socioeconômicos deve ser parametrizada pela perspectiva 117 (A) da desintegração familiar e comunitária. (B) da disfunção social de indivíduos e grupos. (C) da má distribuição de renda. (D) da exclusão social. (E) das desigualdades criadas pela sociedade capitalista. SERVIÇO SOCIAL em foco ii --------------- [ TÓPICO II – A GLOBALIZAÇÃO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL ] --------------Cristiana Montibeller Não tem como deixar de analisar questões sociais e as expressões que se tornam visíveis na sociedade capitalista, dita moderna e globalizada e altamente complexa, não tem como deixar de visualizar uma perspectiva de amplitude onde a complexidade se torna parte integrante da paisagem nas sociedades contemporâneas. Por isso que as questões sociais vão ganhando novas formas, novas expressões e contradições sociais, conforme especifica Pieritz (2013, p. 105): Em cada momento histórico, as questões sociais vão ganhando novas formas. Formas estas que chamamos de expressões da questão social, ou seja, a questão social sempre foi a mesma desde os tempos mais remotos da humanidade e independe de classe social. O que vem mudando são suas formas de apresentação, pois, de acordo com as transformações do modo de produção, vão surgindo contradições sociais, que se transformam nas diversas formas de expressão da questão social. 118 Conforme o economista Dowbor (2014, p. 101), a sociedade sofre inúmeras mudanças, inúmeras configurações, vindo a se configurar em segmentos variados e complexos sob vários aspectos, que não envolvem somente a questão econômica, mas política, jurídica, cultural, educacional, ambiental, entre outras: A própria dinâmica social mudou profundamente. Não somos mais sociedades compostas por camponeses, operários e burguesias. As classes se desdobraram em segmentos variados e complexos, à medida que as pirâmides econômicas se foram tornando mais diferenciadas, interdependentes e verticalizadas. Há uma classe assalariada milionária, e temos hoje numerosos estudos desta complexidade crescente, como a tecnoburocracia, a elitização operária, o complexo militar industrial, a classe dirigente transnacional e outros fenômenos de uma sociedade onde as técnicas, SERVIÇO SOCIAL em foco ii a globalização e os ritmos de transformação econômica avançam muito mais rapidamente do que a nossa capacidade de criar as instituições e a regulação correspondentes. Isto sem falar do marco jurídico que constitui uma colcha de retalhos com cerca de 200 legislações nacionais diferenciadas segundo os países. A mundialização da economia se intensificou de maneira extraordinária, sendo que, em pouquíssimo tempo, o surgimento desenfreado de empresas multinacionais e o desenvolvimento de novas tecnologias de informação, comunicação e telecomunicações, e o fortalecimento dos grandes centros financeiros se tornaram frequentes e inevitáveis. Assim, sobre a globalização: Trata-se de um conceito ao mesmo tempo complexo, ambíguo e ideológico. Comumente, ele é compreendido como um processo crescente de mudanças que mundializa os mercados, as finanças, informação, a comunicação, os valores culturais, criando um sistema de vasos comunicantes entre países e continentes. Parece consensual que o capitalismo, desde suas origens, desenvolveu um processo de internacionalização do 119 capital, desigual e combinado, rompendo e integrando fronteiras geográficas. Nesse sentido, alguns sustentam que o movimento de mundialização ou globalização (termos para eles utilizados como sinônimos) é constante, adquirindo novas formas e conteúdos em consequência das transformações socioeconômico-político-culturais em curso. (WANDERLEY, 2013, p. 72-73). É em torno da noção de mundialização da economia e do processo de globalização que o capitalismo se intensificou enquanto sistema econômico do ponto de vista de integração e interação para obter maior e melhor exploração e dominação. Assim, a tendência à integração, entre vários países, se tornou uma necessidade do capital ou, melhor dizendo, do processo de mundialização do capital (MONTIBELLER, 2015). A globalização especifica-se pelo processo e por uma nova etapa no desenvolvimento do capitalismo contemporâneo, representa a mundialização da economia e uma nova configuração de exploração e dominação capitalista em SERVIÇO SOCIAL em foco ii escala global, maior e de forma intensa, por isso não representa apenas um processo político-econômico, mas também sociocultural. Nesse sentido, podemos enfatizar várias questões sociais e inúmeras expressões, conforme segue. QUADRO 2 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA ECONÔMICO QUESTÕES SOCIAIS DO PONTO DE VISTA ECONÔMICO A QUESTÃO CAPITALISMO DIGITAL A QUESTÃO DA SOCIEDADE TECNOLÓGICA 120 A QUESTÃO GLOBALIZAÇÃO A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL A QUESTÃO DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONÔMICO A QUESTÃO ECONÔMICA A QUESTÃO JUSTIÇA SOCIAL FONTE: MONTIBELLER (2015) SERVIÇO SOCIAL em foco ii EXPRESSÕES SOCIAIS Aumento das desigualdades sociais, competitividade acirrada, marginalização social, falta de acesso a novas tecnologias, exclusão digital, mal-estar social e bemestar econômico, novas expressões sociais, expansão de situações de risco social, aumento de situações de vulnerabilidade social, exploração de países periféricos e de mão de obra, marginalização da ética, detrimento de valores humanos e sociais, individualismo, intolerância, insegurança social. Aumento da exploração, injustiça social, concentração de renda, desigualdades sociais, surgimento e aumento da pobreza, consumismo alienado, inconsciente e supérfluo, prostituição/turismo sexual/o tráfico de mulheres... QUADRO 3 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA TRABALHO E RENDA QUESTÕES SOCIAIS DO PONTO DE VISTA TRABALHO EXPRESSÕES SOCIAIS A QUESTÃO TRABALHO Exploração, supranumerários A QUESTÃO SOCIEDADE (desempregados), precarização do trabalho, SALARIAL baixo salário, diminuição de postos de trabalho, desvalorização salarial, trabalho informal, A QUESTÃO CONDIÇÃO trabalho escravo, trabalho infantil, imigrações, HUMANA crescimento excessivo de imigrações e migrações, exploração dos profissionais do A QUESTÃO SEGURIDADE sexo. SOCIAL FONTE: MONTIBELLER (2015) O trabalho, a renda e o salário têm se destacado na agenda de discussão da população, onde é vivenciado por todos o caráter polissêmico e multifacetado 121 do trabalho e onde a desvalorização profissional e os chamados “inúteis” estão se tornando comuns. QUADRO 4 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA AMBIENTAL QUESTÕES SOCIAIS DO EXPRESSÕES SOCIAIS PONTO DE VISTA AMBIENTAL A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A QUESTÃO AMBIENTAL Mudanças climáticas, aquecimento global, mercantilismo florestal, degradação ambiental, destruição dos recursos naturais, escassez e poluição das águas, desperdício de alimentos, alimentos geneticamente modificados, poluição de modo geral, desmatamento, produção demasiada de materiais não recicláveis, resíduos nucleares, má qualidade de vida, falta de educação ambiental, SERVIÇO SOCIAL em foco ii A QUESTÃO SUPERPOPULAÇÃO A QUESTÃO TERRITÓRIO/ HABITAÇÃO A QUESTÃO REFORMA AGRÁRIA Emigração/imigração/migração, êxodo rural/êxodo urbano, falta de estrutura nos grandes centros (mobilidade urbana), falta de planejamento urbano, falta de alimentos, água potável, poluição ambiental, produção excessiva de lixo, aglomerações habitacionais, aumento de favelas e condições sub-humanas de moradia. Favelas, cortiços, moradores de rua, grandes latifundiários, má distribuição da terra, falta de moradias dignas, falta de saneamento básico, falta de planejamento urbano, movimentos sociais (sem-terra, sem teto, barragens...), segregação urbana. FONTE: MONTIBELLER (2015) QUADRO 5 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DO DIREITO, DA JUSTIÇA, 122 DA LIBERDADE E PROTEÇÃO SOCIAL QUESTÕES SOCIAIS A QUESTÃO SEGURIDADE SOCIAL EXPRESSÕES SOCIAIS Fome, desnutrição, mortalidade infantil, má alimentação, doenças diversas, drogadição, A QUESTÃO SAÚDE alcoolismo, tabagismo, depressão, anorexia, doença ocupacional, diversas psicopatologias A QUESTÃO PREVIDÊNCIA (transtornos mentais), falta de leitos/ SOCIAL medicamentos em hospitais, qualidade e eficiência do SUS, falta de medicina preventiva, A QUESTÃO ASSISTÊNCIA desvalorização dos profissionais da saúde, falta SOCIAL de estrutura hospitalar, prostituição infantojuvenil, falta de direitos sociais a imigrantes (haitianos), A QUESTÃO DOS estrangeiros, falta de planejamento e organização DIREITOS SOCIAIS A nas regiões fronteiriças. IMIGRANTES SERVIÇO SOCIAL em foco ii Analfabetismo, baixa escolarização, evasão/ exclusão escolar, falta de qualidade e investimentos, desvalorização dos profissionais, A QUESTÃO DA INCLUSÃO bullying, tráfico de drogas nas escolas, SOCIAL desvalorização e destruição das culturas e tradições locais/regionais. A QUESTÃO EDUCAÇÃO A QUESTÃO SEGURANÇA A QUESTÃO PROTEÇÃO SOCIAL A QUESTÃO LIBERDADE HUMANA Violência urbana/doméstica, depredações do patrimônio público, delinquência juvenil, criminalidade, arrastões, homicídios, terrorismo, tráfico de pessoas, falta de policiamento, hackers, formação de novas formas de violência e crime, novas gangues de criminosos e traficantes, pedofilia, estupro, aversão homofóbica, Poder Judiciário lento/moroso/inoperante, leis ineficazes, A QUESTÃO DE GÊNERO Violência do homem contra a mulher, diferença salarial, matriarcalidade, abandono de idosos, de A QUESTÃO ORIENTAÇÃO/ mulheres, de crianças, homofobia, discriminação OPÇÃO SEXUAL e preconceito frente à opção sexual, desrespeito ao livre-arbítrio sexual. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 123 A QUESTÃO ÉTNICA E RACIAL A QUESTÃO NACIONALIDADE A QUESTÃO RELIGIÃO A QUESTÃO CLASSE SOCIAL A QUESTÃO CONDIÇÃO FÍSICA E DE IDADE A QUESTÃO DA MAIORIDADE PENAL (CRIMINAL) 124 A QUESTÃO INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DE USUÁRIOS DE DROGAS Cultura coercitiva/mutilação genital feminina, xenofobia (aversão/ódio a estrangeiros), o racismo ou o preconceito racial levam à discriminação e à intolerância racial, assim a discriminação racial é toda ou qualquer quebra do princípio da igualdade: como distinção, exclusão, restrição ou preferências, motivado por raça, cor, sexo, idade, trabalho, credo religioso, condição social de classe, condição física e mental, procedência nacional ou convicções políticas contra negros, pardos, brancos; índios, ciganos, judeus, americanos, árabes, alemães, haitianos; refugiados; católicos, evangélicos, muçulmanos, espíritas; nordestinos, cearenses, gaúchos; a idosos; a pessoas com deficiência; a pessoa/ família em condição de pobreza; a profissionais do sexo; ativistas ou partidários; aumento do uso de usuários de drogas, especificamente de usuários de crack... FONTE: MONTIBELLER (2015) Verificamos que inúmeros contextos discriminatórios referentes à composição étnica e racial e à opção sexual (manifestações homofóbicas) têm se tornado evidentes na sociedade, a multiplicidade de transtornos psíquicos sociais tem aumentado drasticamente, bem como as condições de desigualdade, pobreza absoluta e situações de pobreza relativa, aumento de desaparecimento e tráfico de pessoas, tráfico de drogas e prostituição, como também a abrangência da violência no mundo e na sociedade brasileira – são fatos que parecem não ter fim (MONTIBELLER, 2015). Segundo Ramalho (2012, p. 354-355), A junção da má qualidade de vida (em consequência da pobreza) e a falta de oportunidades conjugado com a SERVIÇO SOCIAL em foco ii difusão da “qualidade” nos países desenvolvidos através da globalização dos meios de informação e comunicação, fizeram impulsionar o crescimento massivo do fenômeno das migrações. Segundo dados da International Organization for Migration (IOM) de 2010, o número de migrantes cresceu de 150 milhões, em 2000, para 215 milhões, em 2010. Estima‑se que em 2050 haja 405 milhões de migrantes como resultado do crescimento das disparidades demográficas, os efeitos das mudanças ambientais e a nova dinâmica política e econômica global, a revolução tecnológica e as redes sociais. Aliado a esses problemas estão, também, o crescimento populacional, os conflitos étnicos e o renascimento da intolerância, o terrorismo e a insegurança social. QUADRO 6 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA FAMILIAR QUESTÕES SOCIAIS DO PONTO DE VISTA FAMILIAR EXPRESSÕES SOCIAIS Discórdias familiares, divórcio, negligência, violência doméstica, abandono infantojuvenil, valores distorcidos, relações frias/hostis/ A QUESTÃO DA FAMÍLIA NUCLEAR, CONJUGAL OU ELEMENTAR (BIOLÓGICA) instáveis/frágeis, passageiras, descaso com o outro, deveres familiares inoperantes, fragilização dos vínculos, conflitos/ irresponsabilidade na guarda compartilhada dos filhos, prostituição e trabalho infantojuvenil, prática do aborto. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 125 A QUESTÃO DAS NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES Desrespeito, preconceito e discriminação à família homoafetiva/homoparental (casais do mesmo sexo), desrespeito, preconceito e discriminação de adoção por homoafetivos, aumento das famílias recompostas/ ampliadas/famílias reconstituídas (os meus, os teus e os nossos), família unipessoal, famílias mononucleares ou monoparentais (responsabilidade de um só dos progenitores), família composta (sociedades poligâmicas) famílias binucleares – guarda compartilhada (alienação parental), família extensa – incluindo três ou quatro gerações, grupos domésticos diversificados. FONTE: MONTIBELLER (2015) As metamorfoses das configurações familiares também configuram 126 o cenário mundial, contextos diversificados e complexos, que precisam ser analisados, estudados, compreendidos, respeitados. Muitas leis estão sendo revistas e criadas para tentar abarcar esse leque de metamorfoses sociais de novas configurações e expressões sociais. Ianni (1994b, p. 8) descreve que: A originalidade e a complexidade de globalização, no seu todo ou em seus distintos aspectos, desafiam o cientista social a mobilizar sugestões e conquistas de várias ciências. Acontece que a globalização pode ser vista como um vasto processo não só político-econômico, mas também sociocultural, compreendendo problemas demográficos, ecológicos, de gênero, religiosos, linguísticos e outros. Frente às transformações ocorridas no mundo, no sistema capitalista, na sociedade, o Serviço Social necessitou avançar rompendo com referenciais teórico-práticos conservadores, trazendo à tona uma nova proposta de criticidade, de inovação e acompanhamento teórico e prático de todo o processo. “Pensar SERVIÇO SOCIAL em foco ii o Serviço Social na contemporaneidade requer os olhos abertos para o mundo contemporâneo para decifrá-lo e participar de sua recriação”. (IAMAMOTO, 2014a, p. 19). Propiciar a análise e a reflexão na sociedade capitalista, vislumbrando o agravamento das manifestações da questão social no contexto atual brasileiro é de extrema importância, como também conhecer e identificar as novas expressões da questão social relativas a diversas áreas e contextos de relações sociais, sejam elas étnico- raciais, relacionadas às culturas afro-brasileiras ou indígenas, de imigração no Brasil, relações de gênero, de novas configurações familiares, dentre outras situações diversificadas, como a superpopulação, relações como o meio ambiente, situações de exclusão social, de desigualdade, de não garantia de liberdade, igualdade, justiça e de direitos humanos. Como profissionais comprometidos com uma nova ordem societária, precisamos perceber, analisar, constatar e compreender a realidade social, para assim enfrentar as inúmeras e multifacetadas expressões da questão social. 127 AUTOATIVIDADE 31) – (Questão 18 – ENADE – 2004) No marco do que se tem denominado de teoria social crítica, a questão social é: (A) produzida pela ineficácia de métodos de gestão social. (B) constitutiva do desenvolvimento do capitalismo, pois ela não se suprime se este se conserva. (C) uma disfunção ou ameaça à ordem e à coesão social. (D) uma situação natural, resultante de conflitos individuais que expressam o desejo da igualdade social. (E) uma expressão que nasce para designar o fenômeno do pauperismo na primeira década do século XX. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 32) – (Questão 23 ENADE – 20013) A globalização não é um fenômeno recente, seu desenvolvimento histórico adquiriu características próprias e repercussões específicas no contexto social, político e econômico. O seu avanço trouxe a percepção, cada vez mais presente, da ampliação das relações sociais, concomitante ao de encolhimento do mundo. As causas de tal percepção podem ser classificadas historicamente em três períodos históricos. O século XV foi palco de conquistas e colonização, a constituição de rotas internacionais marcou o primeiro período. O segundo período, caracterizado pelos grandes eventos do século XVIII, como a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, ensejou a globalização do capitalismo e das teorias econômicas, a formação do proletariado e o incremento do comércio mundial. A “questão social” adquiriu os seus contornos como expressão das condições de vida da classe trabalhadora na esfera capitalista. O terceiro período, com inserção temporal no século XX, caracterizou-se pela demanda substancial das indústrias por novas fontes de energia, a inovação dos meios de transportes, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Ao mesmo tempo em que as relações sociais se intensificaram, a sensação de “encolhimento” do mundo se tornou ainda 128 mais forte devido, principalmente, à facilidade e rapidez das comunicações. RAMALHO, Nélson Alves. Processos de globalização e problemas emergentes: implicações para o Serviço Social contemporâneo. In: Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, 2012, p. 345 a 368 (adaptado). Com base no texto apresentado, avalie as afirmações a seguir. I. A economia foi a principal instância propulsora da primeira fase da globalização. II. A divisão internacional do trabalho instaurada no segundo período foi determinante na inserção periférica dos países do Cone Sul. III. O crescimento dos aglomerados urbanos e a distribuição mais equitativa de renda caracterizaram o segundo período, no qual a população rural pauperizada foi incluída no processo industrial. IV. A capacidade de educação do conjunto da sociedade, no terceiro período, é condicionante para que a economia dos países se aproprie do processo de informação, elemento fundamental para a competitividade na esfera global. SERVIÇO SOCIAL em foco ii É correto apenas o que se afirma em: A I e II. B I e III. C III e IV. D I, II e IV. E II, III e IV. 129 SERVIÇO SOCIAL em foco ii --------------- [ TÓPICO III – ESPAÇOS OCUPACIONAIS DO ASSISTENTE SOCIAL NO PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO SETORES ] ---------------Cristiana Montibeller A sociedade se configura por diversos setores, sendo um deles o primeiro setor, que se configura pelo sistema social brasileiro de proteção social por meio das políticas públicas e políticas sociais. Também podemos enfatizar o segundo setor e toda a engrenagem das técnicas organizacionais e modelos gerenciais de gestão e suas concepções e análises de processos de gestão para obtenção do lucro; e o chamado terceiro setor é a sociedade civil organizada, caracterizado pelas instituições sem fins lucrativos que se desenvolveram na mesma perspectiva de crescimento das expressões sociais. Pode-se perceber que todas as implicações das expressões sociais são abordadas, acolhidas, rebatidas e enfrentadas pelo primeiro, segundo e terceiro setores da sociedade. Em alguns casos, infelizmente, de forma paliativa e conformista, clientelista e não democrática e, em outros casos, como 130 realmente deveria ser, de forma intencional, consciente e crítica, democrática e transformadora na construção de novos valores sociais e de uma nova realidade social, mais humana, justa e participativa. Segundo o Dicionário de Termos Técnicos da Assistência Social (2007, p. 91): A noção de qualidade de vida envolve duas grandes questões: a qualidade e a democratização dos acessos às condições de preservação do homem, da natureza e do meio ambiente. Sob essa dupla consideração, entendeu-se que a qualidade de vida é a possibilidade de melhor redistribuição – e usufruto – da riqueza social e tecnológica aos cidadãos de uma comunidade, a garantia de um ambiente de desenvolvimento ecológico e participativo de respeito ao homem e à natureza, com o menor grau de degradação e precariedade. Sabemos que existem questões prioritárias que devem ser enfrentadas em todos os sentidos, pelo Estado, pelas empresas, pelas instituições que congregam o terceiro SERVIÇO SOCIAL em foco ii setor, enfim, por toda a sociedade civil organizada e por cada cidadão brasileiro. QUADRO 7– DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS NO BRASIL PELO ESTADO DESAFIOS FRENTE ÀS QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL EFETIVAR DE FATO A REFORMA POLÍTICA NO PAÍS NECESSIDADES E PRIORIDADES No sentido de uma profunda alteração política no país, ou seja, uma transformação sistêmica da engenharia política atual, e não apenas reformas pontuais ou de algumas situações ou casos do arcabouço institucional político. DISTRIBUIÇÃO DE RENDA Distribuir renda não é dar benefícios para as pessoas, se faz necessário diminuir a desigualdade social e melhorar e muito no país as condições para obtenção de renda, aumento da renda, investir “pesado” em educação e saúde, ou seja, enfrentar a pobreza como ela realmente deve ser enfrentada. REFORMA AGRÁRIA A distribuição de terras e a produção de alimentos saudáveis são desafios ao país, a reforma agrária é proposta antiga no Brasil que não se resolve de fato. MELHORAR A QUESTÃO HABITACIONAL Para garantir moradia, governantes terão de enfrentar a especulação imobiliária e suprir o déficit habitacional, bem como melhorar a qualidade das construções das moradias que são oferecidas via programas sociais. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 131 MOBILIDADE URBANA Transporte público e planejamento urbano devem ser prioridades nos próximos anos, visto o caos de mobilidade nos centros urbanos no país. MELHORAR A QUALIDADE DO ATENDIMENTO NA SAÚDE Investimentos diversos de forma contínua e não esporádica são essenciais para a área da saúde, financiamento; gestão e formação profissional devem ser prioridades vitais. DIMINUIR A VIOLÊNCIA E A CRIMINALIDADE Redução de homicídios e presos também deve ser prioridade na área de segurança. DEMOCRATIZAR A EDUCAÇÃO E MELHORAR A QUALIDADE O país precisa aumentar investimentos significativos em educação e ampliar matrículas, além da inclusão social de pessoas com deficiência, qualificação dos professores e infraestrutura. INVESTIR E AMPLIAR O ACESSO DA POPULAÇÃO À CULTURA E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL NAS REGIÕES Há um número insuficiente de equipamentos e estruturas nas regiões mais pobres do Brasil, como centros culturais, teatros, museus, dentre outros, quando não, inexistentes. O descaso público com bens culturais, falta de investimentos, preservação e divulgação dos patrimônios culturais nas cidades, eis aí um dos desafios a serem enfrentados na área da cultura. REDISCUTIR A POLÍTICA INDÍGENA E VALORIZAR SUA IDENTIDADE Conciliar interesses de índios e produtores rurais é um dos desafios para o país, bem como valorizar e conservar a cultura indígena. Percebe-se que é um desafio rediscutir a política indígena, porém não é vista como prioridade no Brasil. 132 SERVIÇO SOCIAL em foco ii EFETIVAR O PLANEJAMENTO URBANO E AMPLIAR O SANEAMENTO BÁSICO Se não houver investimentos na questão urbana de forma efetiva, vamos continuar sofrendo as consequências no sentido de não termos qualidade de vida, bemestar coletivo, saúde e um meio ambiente limpo. PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Necessário alterar as formas de produção e interação com o meio ambiente em que vivemos, talvez nesse sentido se possa diminuir os efeitos negativos que causamos a nós mesmos. AUMENTAR AS PESQUISAS E OS INVESTIMENTOS EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA Carência de recursos e burocracia são entraves para a ciência e tecnologia no país, bem como financiamento contínuo, pois algumas pesquisas não podem ser feitas a curto prazo, pois os resultados dependem de tempo. FONTE: MONTIBELLER (2015) (Adaptado). ALMANAQUE ABRIL. 2015. Ano 41. São Paulo: Editora Abril. Disponível em: <https://almanaque.abril. com.br/>. Acesso em: 13 mar. 2015. BERALDO, Lílian. AGÊNCIA BRASIL: Desafios do Brasil. 2014. Disponível em: <http://agenciabrasil. ebc.com.br/especial/2014-09/desafios-do-brasil>. Acesso em: 13 mar. 2015. Acredita-se que a reforma de todas as reformas, ou seja, a começar por ela, é a reforma política, que envolve o primeiro setor, pois tudo depende dos poderes que congregam a função do Estado, no caso do Brasil, do Estado Democrático de Direito. Conforme especifico no caderno Questão Social (2015), compreende-se que o terceiro setor se originou para enfrentar e atender demandas e necessidades sociais que não estavam sendo abarcadas pelo Estado. Desse modo, a participação de pessoas e grupos sociais envolvidos com a questão social e suas expressões se constituiu realmente em um fato no mundo e no Brasil, porém não podemos deixar de considerar a lógica do capitalismo e do neoliberalismo, que proporciona uma pressão para que a sociedade resolva os “seus problemas”, diminuindo assim a intervenção e gastos estatais. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 133 Desta forma, percebeu-se um adensamento e envolvimento de interação entre os três setores da sociedade na questão de enfrentamento à pobreza e na efetivação e garantia dos direitos sociais no Brasil, visto o agravamento das expressões sociais. Assim se fizeram comuns os anúncios, cartazes, propagandas e outras ações pressionando para que as pessoas assumam valores e posturas de solidariedade, de ajuda, de voluntariado, de engajamento social. Assim, o que as pessoas e as instituições sociais fazem, o Estado não precisa fazer. Analisando de forma crítica essa perspectiva de função social, vamos percebendo que as empresas e as ONGs acabam assumindo funções sociais que são um dever do Estado. A realidade social foi dividida em três esferas consideradas autônomas: o Estado, o mercado e as ONGs (instituições não estatais e não mercantis). Essa divisão não deveria existir, mas surgiu e existe por questões ideológicas e necessárias ao desenvolvimento do projeto neoliberal para avanço do capitalismo. Temos aqui a conceituação corriqueira de “terceiro setor”: organizações e/ou ações da “sociedade civil” (não estatais e não mercantis). Porém, numa perspectiva crítica e de totalidade, este conceito resulta inteiramente ideológico e inadequado ao real. A realidade social não se divide em “primeiro”, “segundo” e “terceiro” setor – divisão que, [...], consiste num artifício positivista, institucionalista ou estruturalista. [...] No entanto, alguma está efetivamente ocorrendo na atualidade; a sociedade civil está desenvolvendo atividades atribuídas ao Estado. [...] A partir das mudanças da realidade contemporânea, promovidas pelo embate desigual entre o projeto neoliberal e as lutas dos trabalhadores, verdadeiras transformações estão se processando nas respostas da sociedade à chamada “questão social” e suas refrações. (MONTAÑO, 2010, p. 182-183). 134 O terceiro setor é designado privado, porém sem fins lucrativos, com interesse e função totalmente pública e se tornou corresponsável pelas expressões da questão social, diferenciando-se da lógica do mercado e do aspecto governamental, visto a autonomia institucional. SERVIÇO SOCIAL em foco ii A crítica focada neste termo, enfatizada por Montaño, citado anteriormente, é que este “setor” não descreve o que realmente constitui e integra também a sociedade civil, como, por exemplo, os movimentos sociais combativos, que denunciam a ordem, a dominação e a exploração do capitalismo desenfreado, estes sim possuem uma função social e valores de solidariedade (não local), mas de solidariedade social, e valores de universalidade e direitos dos serviços que devem ser prestados pelo Estado, dito Democrático de Direito. Estes valores é que deveriam fazer parte do projeto político de qualquer ONG, por isso que temos que analisar criticamente o que está por trás do chamado “terceiro setor”. Segundo Montaño (2010, p. 185), “O que na realidade está em jogo não é o âmbito das organizações, mas a modalidade, fundamentos e responsabilidades inerentes à intervenção e respostas para a “questão social”. Sem dúvida, o que preocupa realmente diz respeito ao que as organizações privadas de interesse público querem fazer, fazem efetivamente e como, quais valores fundamentam seu existir, planejar e intervir, suas responsabilidades reais e abrangentes, e não focais e específicas, por vezes ações de mediação 135 ou conformação social. Como lidam com a questão social, como enfrentam as expressões sociais e qual propósito que possuem além do que demonstram? (MONTIBELLER, 2015). AUTOATIVIDADE 33) – (QUESTÃO 20 – EMADE 2007) Analise as afirmações a seguir: No contexto da ofensiva neoliberal, a elaboração e execução de projetos sociais vêm sendo deslocadas do Estado para as ONGs e Organizações Sociais, cuja atuação não esgota o atendimento às demandas do campo dos direitos e das políticas sociais. PORQUE Só o Estado reúne as condições da universalidade com potencialidade de promover ações permanentes, abrangentes e sistemáticas, na provisão de serviços e sistemas sociais. SERVIÇO SOCIAL em foco ii A esse respeito, é possível concluir que: (A) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. (B) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira. (C) a primeira afirmação é verdadeira, e a segunda é falsa. (D) a primeira afirmação é falsa, e a segunda é verdadeira. (E) as duas afirmações são falsas. 34) – (QUESTÃO 15 – EMADE – 2013) Desde 1980, a análise do significado social da profissão está centrada no processo de reprodução das relações sociais, sustentando que a questão social é indissociável das relações sociais capitalistas, nos marcos da expansão monopolista e de seu enfrentamento pelo Estado. O processo de renovação crítica do Serviço Social é vivenciado internamente na categoria profissional, exigindo dos profissionais o entendimento da sua posição na divisão sociotécnica do trabalho. 136 IAMAMOTO, M. V. A Questão Social no Capitalismo. In: TEMPORALIS. Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa. ABEPSS. Ano II, nº 3, janeiro a junho de 2001 (adaptado). Considerando o contexto apresentado, conclui-se que o Serviço Social, A) pela sua trajetória histórica conservadora, edificou um projeto homogêneo de fortalecimento do radicionalismo profissional e seu ideário conservador. B) sob a perspectiva profissional, é fruto do processo de produção e reprodução das relações sociais e, por isso, afirma-se como uma especialização do trabalho coletivo no quadro do desenvolvimento industrial e da expansão urbana. C) pela sua especificidade, constitui uma planificação do trabalho coletivo no quadro do desenvolvimento industrial e da expansão urbana. D) pela sua trajetória liberal, constitui uma especialização do trabalho individual no quadro do desenvolvimento industrial e da retração urbana. E) sob a perspectiva profissional, está à parte do processo de produção e reprodução das relações sociais, portanto não constitui uma especialização do trabalho coletivo. SERVIÇO SOCIAL em foco ii -------- [ TÓPICO IV – PROJETOS DE PESQUISA E PROJETOS DE INTERVENÇÃO PROFISSIONAL A PARTIR DA ELABORAÇÃO, EXECUÇÃO, AVALIAÇÃO E COMUNICAÇÃO (PUBLICAÇÃO DE RESULTADOS) ] -------Muito ainda se tem para fazer da área da pesquisa e intervenção profissional de forma qualitativa e quantitativa especificamente no que se refere à elaboração, execução, avaliação e comunicação (elaboração de artigos científicos) de Projetos de pesquisa e análise da realidade social e de projetos de intervenção profissional. Frente ao compromisso e ética profissional, questionamentos são constantes, frente a tantos desafios, expressões sociais antigas, novas e diversas que envolvem a sociedade atual, como por exemplo, quais são as estratégias mais adequadas de intervenção para o enfrentamento das expressões? Que pesquisas estamos realizando? Que projetos almejamos e efetivamos? Como consolidar o projeto ético-político, por meio do exercício profissional dentro da divisão técnica do trabalho com vistas à construção de uma nova ordem societária? O CFESS (2012, p.10-14), especifica as competências da profissão em 137 suas diversas dimensões, como está exposto a seguir: As competências específicas são definidas com diversas dimensões interventi­vas, complementares e indissociáveis. São elas: 1. Uma dimensão que engloba as abordagens individuais, familiares ou gru­pais na perspectiva de atendimento às necessidades básicas e acesso aos direitos, bens e equipamentos públicos. Essa dimensão não deve se orien­ tar pelo atendimento psicoterapêutico a indivíduos e famílias (próprio da Psicologia), mas sim à potencialização da orientação social com vistas à ampliação do acesso dos indivíduos e da coletividade aos direitos sociais. 2. Uma dimensão de intervenção coletiva junto a movimentos sociais, na pers­ pectiva da socialização da informação, mobilização e organização popular, que tem como fundamento o reconhecimento e fortalecimento da classe trabalhadora como sujeito coletivo na luta pela ampliação dos direitos e responsabilização estatal. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 3. Uma dimensão de intervenção profissional voltada para inserção nos es­paços democráticos de controle social e construção de estratégias para fomentar a participação, reivindicação e defesa dos direitos pelos(as) usuários(as) e Conselhos, Conferências e Fóruns da Assistência Social e de outras políticas públicas. 4. Uma dimensão de gerenciamento, planejamento e execução direta de bens e serviços a indivíduos, famílias, grupos e coletividade, na perspectiva de fortalecimento da gestão democrática e participativa capaz de produzir, intersetorial e interdisciplinarmente, propostas que viabilizem e potenciali­zem a gestão em favor dos(as) cidadãos(ãs). 5. Uma dimensão que se materializa na realização sistemática de estudos e pesquisas que revelem as reais condições de vida e demandas da classe trabalhadora, e possam alimentar o processo de formulação, implementação e monitoramento da política de Assistência Social. 138 6. Uma dimensão pedagógico-interpretativa e socializadora de informações e saberes no campo dos direitos, da legislação social e das políticas públicas, dirigida aos(as) diversos(as) atores(atriz) e sujeitos da política: os(as) gestores(as) públicos(as), dirigentes de entidades prestadoras de serviços, trabalhadores(as), conselheiros(as) e usuários(as). (CFESS, 2009, p. 18-19). Essas diversas dimensões interventivas podem se desdobrar em competências, estratégias e procedimentos específicos, e são assim apresentadas nos Parâmetros: • Realizar pesquisas para identificação das demandas e reconhecimento das situações de vida da população que subsidiem a formulação dos planos de Assistência Social. • Formular e executar os programas, projetos, benefícios e serviços próprios da Assistência Social, em órgãos da Administração Pública, empresas e organizações da sociedade civil. SERVIÇO SOCIAL em foco ii • Elaborar, executar e avaliar os planos municipais, estaduais e nacional de Assistência Social, buscando interlocução com as diversas áreas e políticas públicas, com especial destaque para as políticas de Seguridade Social. • Formular e defender a constituição de orçamento público necessário à implementação do plano de Assistência Social. • Favorecer a participação dos(as) usuários(as) e movimentos sociais no processo de elaboração e avaliação do orçamento público. • Planejar, organizar e administrar o acompanhamento dos recursos orçamentários nos benefícios e serviços socioassistenciais nos Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). • Realizar estudos sistemáticos com a equipe dos CRAS e CREAS, na perspectiva de análise conjunta da realidade e planejamento coletivo das ações, o que supõe assegurar espaços de reunião e reflexão no âmbito das 139 equipes multiprofissionais. • Contribuir para viabilizar a participação dos(as) usuários(as) no processo de elaboração e avaliação do plano de Assistência Social; prestar assessoria e consultoria a órgãos da Administração Pública, empresas privadas e movimentos sociais em matéria relacionada à política de Assistência Social e acesso aos direitos civis, políticos e sociais da coletividade. • Estimular a organização coletiva e orientar os(as) usuários(as) e trabalhadores(as) da política de Assistência Social a constituir entidades representativas. • Instituir espaços coletivos de socialização de informação sobre os direitos socioassistenciais e sobre o dever do Estado de garantir sua implementação. • Assessorar os movimentos sociais na perspectiva de identificação de demandas, fortalecimento do coletivo, formulação de estratégias para defesa e acesso aos direitos. SERVIÇO SOCIAL em foco ii • Realizar visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre acesso e implementação da política de Assistência Social. • Realizar estudos socioeconômicos para identificação de demandas e necessidades sociais. • Organizar os procedimentos e realizar atendimentos individuais e/ou cole­tivos nos CRAS. • Exercer funções de direção e/ou coordenação nos CRAS, CREAS e Secretarias de Assistência Social. • Fortalecer a execução direta dos serviços socioassistenciais pelas prefei­turas, governo do DF e governos estaduais, em suas áreas de abrangência. • Realizar estudo e estabelecer cadastro atualizado de entidades e rede de atendimentos públicos e privados. 140 • Prestar assessoria e supervisão às entidades não governamentais que constituem a rede socioassistencial. • Participar nos Conselhos municipais, estaduais e nacional de Assistência Social na condição de conselheiro(a). • Atuar nos Conselhos de Assistência Social na condição de secretário(a) executivo(a). • Prestar assessoria aos conselhos, na perspectiva de fortalecimento do controle democrático e ampliação da participação de usuários(as) e trabalhadores(as). • Organizar e coordenar seminários e eventos para debater e formular estratégias coletivas para materialização da política de Assistência Social. • Participar na organização, coordenação e realização de conferências municipais, estaduais e nacional de Assistência Social e afins. SERVIÇO SOCIAL em foco ii • Elaborar projetos coletivos e individuais de fortalecimento do protagonis­mo dos(as) usuários(as). • Acionar os sistemas de garantia de direitos, com vistas a mediar seu acesso pelos(as) usuários(as). • Supervisionar direta e sistematicamente os(as) estagiários(as) de Serviço Social. (CFESS, 2009, p. 19-22). O chamado trabalho interdisciplinar também é abordado neste documento so­bre o Serviço Social no SUAS, preservando-se o resguardo das atribuições e do sigilo profissional, numa perspectiva ética, alertando-se sobre a necessidade de discernir sobre informações, atribuições e tarefas que estejam no campo de atuação de cada profissão. No trabalho conjunto com outros/as profissionais, deve-se preservar o caráter confidencial das informações sob a guarda dos/ as assistentes sociais, registrando-se nos documentos conjuntos aquilo que for necessário para o 141 cumprimento dos objetivos do trabalho. (CFESS, 2009, p. 25). Por fim, afirma-se que “o trabalho em equipe não pode negligenciar a responsabilidades individuais e competências, e deve buscar identificar papéis, atribuições, de modo a estabelecer objetivamente quem, dentro da equipe multidisciplinar, encarrega-se de determinadas tarefas”. (CFESS, 2009, p. 27-28). FONTE: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL – CFESS. Atribuições privativas do/a assistente social em questão. 1ª edição ampliada. 2012. Gestão “Tempo de Luta de Resistência” (2011-2014). CFESS: Brasília (DF), 2012. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/ atribuicoes2012-completo.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2015. Analisando esta lei que regulamenta a profissão a partir do Código de Ética Profissional, pode-se perceber que existe certa diferença entre os termos COMPETÊNCIAS e ATRIBUIÇÕES, que muitas vezes são consideradas como sinônimos no aparato profissional, porém analisando os artigos quarto e quinto do código, constatamos que se diferenciam. As competências são qualificações profissionais para prestar serviços, que SERVIÇO SOCIAL em foco ii a Lei reconhece, independentemente de serem, também, atribuídas a profissionais de outras categorias, assim, dentro do item das competências, artigo 4º do Código de Ética Profissional (BRASIL, 2012 – grifos da autora), verificamos várias ações que não são exclusivas do assistente social, mas também podem ser executadas por outros profissionais que abrangem a pesquisa e intervenção em planos, programas e projetos, tais como: COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL E DEMAIS PROFISSIONAIS Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; 2. Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam de âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; 3. Encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; 4. Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; 5. Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais; 6. Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais; 7. Prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta, indireta, empresas privadas e outras entidades; 8. Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; 9. Planejamento, organização e administração de serviço social e de unidade de serviço social; 10. Realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades. 1. 142 Também no âmbito das atribuições, no Art. 5º do Código de Ética, especifica as ações que são especificamente privativas do Assistente Social, assim SERVIÇO SOCIAL em foco ii constatamos que as ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS também são competências, porém exclusivas, decorrentes, especificamente, da formação profissional em serviço social, assim não podem ser desenvolvidas por outros profissionais, mas somente por assistentes sociais. Assim, conforme o artigo 5º do Código de Ética Profissional (BRASIL, 2012 – grifos da autora), são atribuições do assistente social: ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS SOMENTE DO ASSISTENTE SOCIAL 1. Coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; 2. Planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; 3. Assessoria e consultoria a órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social; 4. Realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; 5. Assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação 143 como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; 6. Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; 7. Dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação; 8. Dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social; 9. Elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social; 10.Coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social; 11. Fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais; 12.Dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas; SERVIÇO SOCIAL em foco ii 13. Ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional. Assim, as competências são qualificações profissionais para prestar serviços, que a Lei reconhece, independentemente de serem, também, atribuídas a profissionais de outras categorias, segundo o Parecer Jurídico nº 27/98, de Sylvia Helena Terra, assessora jurídica do CFESS (CFESS, 2009, p.18). Diz respeito a capacidade decorrente de profundo conhecimento que tem sobre determinado assunto, especialista em determinado assunto; é formada por um conjunto de habilidade, atitude e conhecimento; conhecimento e capacidade em determinada área; aptidão designando qualidade de quem é capaz de desenvolver determinada função; qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver algum assunto. As atribuições privativas também são competências, porém exclusivas, decorrentes, especificamente, da formação profissional (CFESS, 2009, p.18), e dizem respeito ao preenchimento de um requisito qualitativo, um atributo específico, 144 um encargo peculiar; responsabilidade de um cargo, ou função; envolve deveres e funções próprias da profissão. Porém, temos que admitir, que neste contexto de esclarecimento e discussão no que diz respeito às competências e às atribuições profissionais, infelizmente, existem muitas práticas burocráticas, funcionais, alienadas e desprovidas de criticidade e visão política, destituídas de referencial históricocrítico e teórico-prático, que vem sendo acompanhadas de falta de qualificação profissional (MONTIBELLER, 2015). Percebe-se que um dos maiores desafios a serem enfrentados pelos profissionais na sociedade brasileira na atualidade, designa em saber pesquisar, analisar, interpretar, refletir sobre as antigas e as novas configurações sociais que proliferam na sociedade, novas expressões sociais que se apresentam de forma multifacetada impondo aos assistentes sociais um repensar crítico sobre a teoria e a prática profissional, redefinir e construir propostas de trabalho criativas e diferenciadas, capazes de enfrentar as demandas emergentes que parecem se consolidar de fato de forma infindáveis. SERVIÇO SOCIAL em foco ii A ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – vem desempenhando uma significativa função no direcionamento do ensino e da pesquisa em serviço social no Brasil, impulsionando profissionais para a discussão sobre a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão. É de extrema necessidade que o profissional analise, pesquise, decifre, reflita criticamente, atue de forma propositiva sobre as múltiplas expressões da questão social. Planeje de forma fundamentada a prática profissional, implemente e execute políticas, planos, programas e projetos sociais de forma qualificada e coerente, enfim que seja um profissional comprometido com o projeto ético-político da profissão. Que seu pensar e agir estejam fundamentados nos valores e princípios do Código de Ética do Assistente Social, pelas competências especificadas e pelas atribuições particulares e privativas do(a) assistente social, conforme regulamenta a Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993, assim como também, tenha observância nas orientações da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS. Ser um profissional propositivo, ou seja, ser um assistente social centrado na construção de propostas que possam superar demandas e expressões sociais, não sendo apenas um trabalhador funcional, burocrático e executivo ou, um profissional que não se atualiza e trabalha simplesmente por trabalhar no sentido do “faz de conta”, é um dos maiores desafios a ser evitado, combatido, enfrentado pela profissão (IAMAMOTO, 2014). A complexidade da sociedade atual exige um repensar contínuo do saber teórico e metodológico da profissão, da ampliação da pesquisa no conhecimento da realidade social, na produção do conhecimento sobre a organização da vida social e na busca da consolidação do projeto éticopolítico, por meio do exercício profissional nas atividades diárias, na inserção e participação política nas entidades nacionais de Serviço Social (CFESS/Cress, ABEPSS, Enesso), na articulação com outros movimentos sociais em defesa dos interesses e necessidades da classe trabalhadora e em luta permanente contra as imposições do neoliberalismo, contra o predomínio do capital sobre o SERVIÇO SOCIAL em foco ii 145 trabalho, da violência, do autoritarismo, da discriminação e de toda forma de opressão e de exploração humana. (PIANA, 2009, p. 55). Precisamos repensar nossa prática profissional, nossas competências e atribuições frente às transformações sócio-históricas, as demandas postas a serem enfrentadas cotidianamente, as novas expressões da questão social que se configuram no cenário contemporâneo, pois toda essa complexidade exige uma postura dialética de ação e reflexão para uma nova ação. Repensar e redimensionar ações e espaços ocupacionais, bem como enfrentar os desafios, exigem maior qualificação profissional em todos os sentidos. Requer considerar o e redimensionamento dos espaços ocupacionais e das demandas profissionais que impõem novas competências a esse profissional. A reconfiguração dos espaços ocupacionais é resultante das profundas transformações sócio-históricas, com mudanças regressivas nas relações entre o Estado e sociedade em um quadro de recessão na economia internacional, submetida à ordem financeira do grande capital. As dificuldades para impulsionar o crescimento econômico, o aumento do desemprego e do subemprego e a radicalização das desigualdades de renda, propriedade e poder, das disparidades religiosas, raciais, de gênero e etnia comprometem processos e valores democráticos. Elas são marcas destes tempos adversos, como registra o poeta, um tempo de aflição e não de aplausos. (CFESS, 2012, p. 33-34). 146 Visto que, as transformações sociais sempre irão ocorrer, mudanças são inevitáveis em todas as relações sociais, seja no âmbito do Estado com a economia, com a sociedade, com meio ambiente, com os movimentos sociais; da sociedade com os outros setores, instituições e grupos que se interagem e entram em acordos e desacordos, organizações, participações, conflitos, discriminações; dentre outras situações adversas e condições de vulnerabilidade na sociedade decorrentes das disparidades e desigualdades sociais provenientes do sistema capitalista. Com tudo isso, tem-se que a questão social, que deve ser enfrentada enquanto expressão das desigualdades da sociedade capitalista brasileira, é construída na SERVIÇO SOCIAL em foco ii organização da sociedade e manifesta-se no espaço societário onde se encontram a nação, o Estado, a cidadania, o trabalho. (PIANA, 2009, p. 52). De fato temos que enfrentar a questão social enquanto expressão das desigualdades sociais do sistema capitalista, enquanto manifestação das disparidades sociais, pois ela é construída na própria organização e desenvolvimento da sociedade, e se manifesta nos novos espaços sociais, espaços de atuação do profissional de serviço social, que se configuram em novos desafios e novas demandas. AUTOATIVIDADE 35) O assistente social tem sido demandado para atuar na gestão de políticas públicas, abrindo possibilidades para seu ingresso no campo da formulação, gestão e avaliação. Tal atuação requer competência teóricometodológica, ético-política e técnico-operativa. Como seu objeto de 147 trabalho é a questão social, a pesquisa da realidade social é reconhecida como parte constitutiva desse trabalho, porque A) As informações sobre a realidade social, produzidas pelos institutos oficiais de pesquisa, não são disponibilizadas para a sociedade. B) O assistente social, no seu processo de formação profissional, dispõe de referencial teórico que lhe possibilita apreender a questão social na realidade fragmentada. C) Ao assistente social, como membro de equipe, cabe a tarefa da pesquisa, enquanto, aos outros profissionais, cabe a sistematização e elaboração da política. D) O campo da gestão de políticas requer acúmulo de informações sobre a totalidade social, que envolve dados referentes às várias formas de manifestação das contradições e sua vivência pelos sujeitos sociais. E) A pesquisa da realidade social é uma atribuição privativa do assistente social. FONTE: QUESTÃO 9 ENADE – 2013 (EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DOS ESTUDANTES) SERVIÇO SOCIAL em foco ii 36) Projetos societários são aqueles que apresentam uma imagem de sociedade a ser construída – são projetos coletivos. Seus traços peculiares residem no fato de se constituírem como projetos macroscópicos, como propostas para o conjunto da sociedade. Somente eles apresentam esta característica, outros projetos coletivos não possuem esse nível de amplitude e inclusividade. NETTO, J. P. A construção do projeto ético-político do Serviço Social frente à crise contemporânea. In: Capacitação em Serviço Social e Política Social. Módulo I. Crise contemporânea, questão social e Serviço Social. Brasília, UNB – CEAD, 1999. A respeito dos projetos societários, avalie as afirmações a seguir. I. Em sociedades como a brasileira, os projetos societários são, necessária e simultaneamente, projetos de classe, ainda que refratem mais ou menos fortemente determinações de outra natureza (culturais, de gênero, étnicas etc.). II. As transformações em curso na ordem capitalista reduziram a ponderação das classes sociais e do seu antagonismo na dinâmica da sociedade, pois o poder está 148 bem distribuído entre os partidos oriundos das classes populares. III. O projeto ético-político do Serviço Social não é um projeto societário, embora tenha inelimináveis dimensões políticas, seja no sentido amplo (referido às suas relações com os projetos societários), seja em sentido estrito (referido às perspectivas particulares da profissão). IV. O projeto societário do Serviço Social é representado por um pacto entre seus membros no qual se incluem aspectos imperativos ou compulsórios. É correto apenas o que se afirma em: A) I e III. B) II e III. C) II e IV. D) I, II e IV. E) I, III e IV. FONTE: QUESTÃO 28 ENADE – 2013 (EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DOS ESTUDANTES) SERVIÇO SOCIAL em foco ii Referências ALMANAQUE ABRIL. 2015. Ano 41. São Paulo: Editora Abril. Disponível em: <https://almanaque.abril.com.br/>. Acesso em: 13 mar. 2015. BERALDO, Lílian. AGÊNCIA BRASIL: Desafios do Brasil. 2014. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/especial/2014-09/desafios-do-brasil>. Acesso em: 13 mar. 2015. BRASIL. Código de ética do/a assistente social. Lei nº 8.662/93 de regulamentação da profissão. 10ª ed. rev. e atual. [Brasília]: Conselho Federal de Serviço Social, 2012. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL – CFESS. Atribuições privativas do/a assistente social em questão. 1ª edição ampliada. 2012. Gestão “Tempo de Luta de Resistência” (2011-2014). CFESS: Brasília, 2012. Disponível em: <http:// www.cfess.org.br/arquivos/atribuicoes2012-completo.pdf>. Acesso em: 15 mar. 149 2015. DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL. Prefeitura Municipal. 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São Paulo: EDUC, 2013. 151 SERVIÇO SOCIAL em foco ii UNIDADE 4 ATUALIDADES: NOVAS CONFIGURAÇÕES SOCIAIS PARA O SERVIÇO SOCIAL Silvana Braz Wegrzynovski APRESENTAÇÃO Esta unidade tem como objetivo refletir sobre as funções socioinstitucionais que tradicionalmente se consolidaram no exercício da atuação profissional do Serviço Social, mediante as novas configurações do mundo do trabalho. Para compreender melhor a atuação do assistente social nesta sociedade contemporânea, se faz necessário situá-lo no interior das relações sociais que 152 estão implementadas na sociedade capitalista. O assistente social vem, ao longo de sua história, reconstruindo sua prática profissional, buscando um redirecionamento das suas funções. Sendo assim, no primeiro tópico desta unidade será apresentado o Serviço Social mediante a trajetória das funções tradicionais perante as novas configurações de regulação sociopolítica. No Tópico 2 será apresentada a importância do Serviço Social de entender os conceitos de estatística, e no Tópico 3, como o Serviço Social deve analisar os principais indicadores sociais da realidade brasileira. Finalizando, será apresentada uma nova legislação brasileira, onde o assistente social precisa estar atualizado para sua intervenção, que é da nova Lei da Guarda Compartilhada. SERVIÇO SOCIAL em foco ii ---------- [ TÓPICO I – A PROFISSÃO DO SERVIÇO SOCIAL MEDIANTE UMA TRAJETÓRIA DAS FUNÇÕES TRADICIONAIS ÀS PROVOCAÇÕES PERANTE AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DE REGULAÇÃO SOCIOPOLÍTICA ] ---------Silvana Braz Wegrzynovski Quanto ao trabalho do profissional de Serviço Social, diante da atual conjuntura societária, se faz necessário posicioná-lo no interior do campo das relações sociais da sociedade capitalista, mesmo sendo contraditórias as origens profissionais, mas as suas direções e funções sociais estão determinadas ao longo da história através da divisão sociotécnica do trabalho e na reprodução da chamada força de trabalho. Quando se realiza uma análise do serviço social entre os métodos de reprodução das relações sociais, deve-se evidenciar a origem da profissão, o ponto de partida, ou seja, como a profissão se constitui na sociedade e nas relações sociais existentes. Esta análise ocorrerá através dos serviços, demandas e atribuições que estão alocados internamente nos desafios da atuação profissional. Uma análise completa da profissão não deve ficar restrita apenas às suas dimensões, deve ultrapassar as situações sociais das relações existentes na sociedade, que incentivam o sistema capitalista, principalmente no que se refere às respostas da sociedade e o Estado diante das questões sociais que são impostas para as classes antagônicas no sistema capitalista e das suas relações com as outras dimensões, que integram a sociabilidade dos indivíduos e que estão presentes no exercício profissional no seu cotidiano. Segundo Yazbeck (2009, p. 127), Questão social é a expressão das desigualdades sociais constitutivas do capitalismo. Suas diversas manifestações são indissociáveis das relações entre as classes sociais que estruturam esse sistema, e nesse sentido a questão social se expressa também na disputa política. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 153 Para compreender melhor o Serviço Social, como uma profissão que está inserida na sociedade capitalista, é preciso compreender o significado de reprodução social, perante o marxismo, pois se define como determinadas relações sociais diante do modelo de produção capitalista. A reprodução das relações sociais, diante desse contexto, é entendida como a reprodução da vida social em sua totalidade, e que envolve desde a produção e reprodução dos bens materiais, bem como a reprodução social, cultural, religiosa e política, que determinam a consciência social e resultam na configuração do ser humano coletivamente. Para Iamamoto e Carvalho (2011, p. 65), a relação da reprodução social “permeia as várias ‘dimensões’ e expressões da vida em sociedade”. A ação de reprodução total das relações sociais que estão impostas na sociedade é muito complexa, pois se torna um instrumento que consegue gerar transformações na diversidade, da elaboração e criação do novo, e que consegue criar mecanismo para exceder os conflitos que são gerados entre as classes 154 sociais. A compreensão do conceito de reprodução social é importante para compreender o Serviço Social, o qual se institui como profissão que permeia as dimensões da sociedade. O Serviço Social é analisado por Iamamoto e Carvalho (2011) através de duas perspectivas e que se completam: • Como realidade vivida e representada na e pela consciência de seus agentes profissionais e que se expressa pelo discurso teórico e ideológico sobre o exercício profissional. • Como atividade socialmente determinada pelas circunstâncias sociais objetivas que imprimem certa direção social ao exercício profissional, que independem de sua vontade e/ou da consciência de seus agentes individuais. Essas duas perspectivas são interdependes, porém formam uma relação de contraditoriedade na atuação do assistente social, que pode ocasionar uma desarticulação nos objetivos da práxis profissional. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Ao afirmar que o Serviço Social possui um espaço na divisão sociotécnica no mundo do trabalho, é necessário rever qual é a divisão que correspondeu a uma influência do modelo capitalista. A profissão do Serviço Social, e outras, surgiram durante o período da crise capitalista do século XIX. Perante a divisão sociotécnica do trabalho, a profissão de Serviço Social foi regulamentada através da Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1992, e com alterações impostas nas resoluções do Conselho Federal de Serviço Social – CFESS nº 290/94 e de nº 293/94, e foi delimitada através do Código de Ética, que foi aprovado pela Resolução nº 273/93, de 13 de março de 1993. O Serviço Social é reconhecido como profissão desde a sua origem, sendo importante analisar a sua natureza e as formas que resultaram em sua construção. Iamamoto e Carvalho (2009) consideram que o fundamento da profissão está vinculado com a expectativa sócio-histórica. Garantem ainda que o predomínio do Serviço Social no Brasil, durante os anos de 1930, está atrelado à classe burguesa emergente, através de uma tática da mesma que disciplina e diminui os problemas sociais, porém gera uma expansão do sistema capitalista. A introdução do Serviço Social na divisão sociotécnica do trabalho é histórica, e está interligada e articulada com as configurações admitidas pelas lutas de classes sociais subalternas e com o grupo vinculado ao poder, para o enfrentamento das questões sociais emergentes do sistema capitalista. Segundo Iamamoto (1997, p. 87), “ainda do caráter das políticas do Estado, que articuladas ao contexto internacional, vão atribuindo especificidades à configuração do Serviço Social na divisão social do trabalho”. Nesse sentido, o Serviço Social se fundamenta como profissão diante da divisão do trabalho, sendo fundamental analisar, entender e reconhecer a influência da Igreja Católica, e nas contradições que são visíveis na atual conjuntura social, pois “supõe inseri-la no conjunto das condições e relações sociais que lhe atribuem um sentido histórico e nas quais se torna possível e necessária”. (IAMAMOTO,1997, p. 88). SERVIÇO SOCIAL em foco ii 155 Através da propagação do sistema capitalista no Brasil, aconteceu o crescimento da economia brasileira, através de um modelo de produção moderno, porém as contradições que surgem por esse período trazem consequências na fragilização no processo de organização do trabalho, onde a qualificação profissional se torna cada vez mais essencial na busca de uma vaga no mercado de trabalho. É neste contexto, em que se afirma a hegemonia do capital industrial e financeiro, que emerge sob novas formas a chamada ‘questão social’, a qual se torna base de justificação desse tipo de profissional especializado [...] É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2011, p. 77). Através da ampliação do sistema capitalista, beneficia o elo do grupo predominante, classe dominante, com o Estado, gerando assim o fortalecimento do primeiro grupo, e que tem como consequências o enfraquecimento das lutas de 156 classe, das reivindicações e organização dos trabalhadores. O Serviço Social, desde sua origem, tem sua marca devido à solidariedade, apoio, ajuda, benevolência de atividades que são e estão envolvidas pelas questões sociais e pelo controle social e erradicação da pobreza. A profissão assume uma parte dos serviços que tem como objetivo a reforma social. Diante do contexto acima pode-se perceber que o Serviço Social assume uma parte das atividades que tem como objetivo a reforma social, ou seja, efetivar a atuação no campo psicossocial. Os limites estabelecidos, nessa tarefa, derivam dos que sustentam o sistema capitalista e da ordem social em vigência. A contribuição da profissão, substantivamente, fortalece o domínio e a repressão praticados pela classe dominante e pela burguesia, diante do desenvolvimento veloz da miserabilidade e da pobreza, sendo uma profissão que nasceu para controlar a demanda gerada pelo sistema capitalista. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Este domínio teve origem após a intimidação à ordem social, e que foi atribuído pela burguesia à classe de trabalhadores o modelo de produção. Como exemplo, pode-se citar a atuação de uma assistente social no setor privado, em que o trabalhador precisa atuar conforme os interesses do seu empreendedor, mas precisa seguir seus princípios éticos e políticos do Serviço Social. A identificação deste controle pelo Serviço Social acontece no desenvolvimento da história profissional, quando adota e assume o projeto ideológico da classe burguesa, auxiliando na sustentação do modelo capitalista implementado na sociedade. Neste período, os profissionais que atuavam nesta concepção do Serviço Social buscavam uma teoria que oferecesse a manutenção do fazer e agir profissional, diante das respostas às demandas sociais existentes. Como já foi estudado, desde o início do Serviço Social como profissão, o trabalho realizado pelos assistentes sociais foi focado principalmente nas pessoas que vivem em situação de pobreza e/ou de vulnerabilidade social. Essas pessoas 157 excluídas do sistema de produção de bens e serviços vão à busca do assistente social, como sendo o profissional que poderá auxiliar através do amparo e orientação, a fim de desfrutar dos seus direitos sociais, oferecidos pelo Estado. O assistente social começa a atuar em caminhos duplos: além de compreender as expressões geradas pela questão social que são os elementos de sua prática profissional, prevalecem, inicialmente, atuações apontadas para as demandas de seus usuários, que estão inseridos no meio social em que vivem. Desde o momento em que o profissional começa sua atuação nessa nova perspectiva, a profissão começa a traçar novos caminhos, através de ações que definem a variação de conduta das pessoas e sua inclusão na sociedade, por meio da ordem e justiça social, como também no controle da pobreza, mesmo através da solidariedade dos indivíduos. A origem histórica dos mecanismos e instrumentos de intervenção, a que o Serviço Social está determinado – socioeconômicos, culturais e políticos – está fundamentada no conjunto evolutivo de um sistema capitalista, na sua fase SERVIÇO SOCIAL em foco ii monopolista, implementado na sociedade. O Estado tem seu papel redefinido com a crise do capitalismo, houve uma mudança nos seus princípios e nas suas estratégias no que se refere ao ciclo de acumulação capitalista, assumindo um caráter burguês intervencionista no que diz respeito às políticas econômicas e públicas, emergindo a questão de classe social, e, consequentemente, as profissões que surgiram nesse período detiveram o olhar para os mais excluídos. Para Guerra (1995, p. 153), “[...] o processo de institucionalização da profissão é uma decorrência necessária dos interesses e demandas das classes sociais, que se antagonizaram no processo produtivo capitalista”. Este período é fundamental para compreender como o Serviço Social se institui na divisão sociotécnica no mundo do trabalho, sendo nessa rede de deliberações e intervenções que a profissão explica sua atuação na sociedade. As transformações que ocorreram no mundo do trabalho tiveram reflexos no Serviço Social, fazendo com que participe da divisão técnica do trabalho, colaborando para a produção e reprodução das relações sociais implantadas na 158 sociedade. É importante destacar que a profissão não se sintetiza apenas na questão da reprodução da força de trabalho, e sim em uma diversidade de ações realizadas e desenvolvidas pelo ser humano no que diz respeito ao processo de reprodução do trabalho e das forças produtivas com ênfase na reprodução ideológica. Quando se fala da divisão técnica do trabalho para o Serviço Social, tornase importante estudar que essa foi resultado de uma influência das necessidades da produção do sistema capitalista. Para Martinelli (2009, p. 66): A origem do Serviço Social como profissão tem, pois, a marca profunda do capitalismo e do conjunto de variações que a ele estão subjacentes – alienação, contradição, antagonismos –, pois foi neste vasto caudal que ele foi engendrado e desenvolvido. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Diante da necessidade de atender às questões sociais que são geradas pelo sistema capitalista, o Serviço Social, como profissão, se fortalece no mundo todo, e ganha significado histórico, pois se alude ao enfrentamento dos diversos interesses de todas as classes sociais. A inserção da profissão no sistema capitalista monopolista visa atender aos conflitos da classe trabalhadora, ou seja, atender às necessidades de acúmulo e também às de demandas geradas por tal sistema. Para Iamamoto (1997, p. 88): O Serviço Social afirma-se como um tipo de especialização do trabalho coletivo, ao se constituir em expressão de necessidades sociais derivadas da prática histórica das classes sociais no ato de produzir e reproduzir seus meios de vida e de trabalho de forma socialmente determinada. Iamamoto (1997) afirma que a inserção contraditória do Serviço Social 159 como profissão no capitalismo é decorrente da própria natureza da reprodução social, que se manifesta pela articulação conflituosa que existe nas instituições sociais pelo enfrentamento das concepções sociais opostas. A criação do Serviço Social como profissão, na sociedade capitalista, tem como objetivo responder à reprodução das relações sociais contrárias. A profissão é influenciada pelos interesses diferentes dos segmentos existentes na sociedade que se resumem no poder do Estado, onde a classe dominadora está inserida, e da classe dos trabalhadores, onde a reprodução social acontece. A conflitividade perante a questão social, colocada na ordem burguesa, faz com que novas formas de intervenção social comecem a avançar. O Serviço Social é uma das profissões que se assenta na divisão sociotécnica do trabalho para diminuir os reflexos e resultados de uma distribuição de riquezas desigual. O enfrentamento dos diferentes interesses das classes sociais antagônicas, sobre as questões sociais, que são o centro do sistema capitalista em todo momento histórico e geográfico, foi o que deu sentido à origem da profissão SERVIÇO SOCIAL em foco ii mundialmente, e que veio para “ajudar” a atender às demandas da classe dos trabalhadores. As configurações técnicas de intervenção social progrediram para originar formas de constituir e construir uma nova sociedade, igualitária e pacífica, tentando solucionar os conflitos gerados entre a classe burguesa com a questão social. O Serviço Social, como profissão, está inserido na divisão sociotécnica no mundo do trabalho, atuando como instrumento a serviço da legitimação da sociedade, através de mecanismos que visam minimizar as sequelas das desigualdades sociais, que são oriundas da inadequada distribuição da riqueza. Atualmente acontece uma contrariedade que se oculta na sociedade burguesa perante as políticas públicas e que criam impasses na atuação profissional, inseridas nesse contexto. Analisando a profissão, percebe-se que esses impasses são visíveis na atuação do assistente social, sendo que sua atuação está vinculada quase sempre na prestação de serviços públicos e/ou 160 financiados pelo Estado. No cotidiano profissional, em alguns campos de trabalho, o assistente social é um mediador de repasse de recursos financeiros para a complementação da renda familiar dos trabalhadores, que dela necessitam, em decorrência dos baixos salários. O assistente social precisa agir na garantia dos direitos sociais, sendo essas lutas históricas dos movimentos sociais e dos trabalhadores, como também deve atuar na composição de um consenso social, necessário para conservar e controlar as forças diversas ao sistema. Diante deste contexto da profissão na divisão sociotécnica do trabalho, faz-se necessário elencar que o assistente social é um trabalhador assalariado, que está inserido nos movimentos de classes, que participa da dinâmica da luta por melhores condições de vida. Para Guerra (1995, p. 155), significa que, como “[...] parte constitutiva da sua força de trabalho, o assistente social vende um conjunto de procedimentos SERVIÇO SOCIAL em foco ii (histórico e socialmente) reconhecido que tanto determina a existência da profissão quanto circunscreve a intervenção”. Segundo Guerra (1995), os profissionais que atuam na esfera pública podem adotar uma posição que resultará na separação da categoria profissional dos demais trabalhadores que estão submetidos ao trabalho assalariado, e isso decorre das tensões e pressões da relação capital x trabalho. Nesta divisão social do trabalho, o Serviço Social adere a uma disposição particularizada variável, pois existem assistentes sociais que ocupam cargos hierárquicos muito superiores e elevados nas tomadas de decisões, mas também, em grande porcentual, encontram-se profissionais nos lugares de atuação direta de base ou de intervenção em instituições sociais. Porém, a intervenção profissional nas políticas públicas continua tendo a mesma importância na linha graduada de valores. Analisando a escala de poder, existem muitos críticos que defendem o 161 “poder piramidal”, onde a atuação direta pode ser representada por um nível de domínio mais ativo e efetivo, em todos os níveis hierárquicos e com influência na gestão orçamentária das políticas públicas voltadas às questões sociais. Além da atuação em instituições públicas, o assistente social está inserido nas organizações socioassistenciais. Nas organizações, ele necessita desenvolver sua atuação prática, através das demandas da instituição e dos gestores que contratam o profissional, reconhecendo-o como um trabalhador assalariado. Outras profissões que também estão inseridas no contexto de deliberações sociais necessárias às configurações do mundo do trabalho na sociedade capitalista, como no caso da prática profissional do assistente social, estão atreladas à condição de trabalhador com algumas determinações, que são: “[...] o trabalho assalariado, o controle de força de trabalho e a subordinação do conteúdo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades empregadoras”. (COSTA, 2000, p. 37). SERVIÇO SOCIAL em foco ii Pois o assistente social é contratado como um trabalhador, e acredita que realiza suas tarefas e atribuições que foram apontadas pelo seu gestor, ocasionando um distanciamento, na maioria das vezes, da prática com a teoria, assim o profissional perde seu referencial de autonomia. Para que o profissional de serviço social possa ter sua autonomia como trabalhador e estar inserido no mercado de trabalho, é fundamental que tenha certo “distanciamento” ou um olhar analítico e consiga conceber, envolver, analisar, medir e desenvolver ações para que seu trabalho se materialize. Nesse sentido, o “afastamento” que o assistente social deverá ter é no sentido de um olhar diversificado para uma realidade que está estudando ou atuando, e que poderá estar fundamentado na sua práxis, como, por exemplo, o levantamento de demandas que necessitam de uma intervenção técnica profissional, não deve ficar restrito somente nas demandas apresentadas e que estão sendo oferecidas pela instituição, e sim detectar novas demandas que poderão estar ocultas no cotidiano do atendimento institucional. O assistente social deverá realizar um reconhecimento das relações de poder local municipal, que 162 não se restringe apenas na questão política, como prefeito e vereadores, e sim nas relações que estão difundidas na sociedade organizada, conhecer e se apropriar das condições práticas de trabalho e do projeto profissional, e fundamentalmente, conhecer a realidade social e as condições objetivas de vida dos usuários e da comunidade. Após o Movimento de Reconceituação, a construção do exercício profissional do Serviço Social, no Brasil e na América Latina, foi marcada pela renovação de novas linhas de prática dos profissionais, mediante as perspectivas nas matrizes conservadoras e críticas. Que são: • Matriz conservadora – tem sua atuação fundamentada no pensamento positivista e no funcionalismo estrutural e tem como objetivo de domínio e legitimidade do poder influente e dominador, com referências na teoria da Igreja e na lógica do sistema capitalista. Nessa perspectiva, o profissional do Serviço Social tem sua atuação na transformação do comportamento e das mudanças do meio social. Diante dessa perspectiva, o Serviço Social desenvolve sua prática SERVIÇO SOCIAL em foco ii através das demandas já estabelecidas pela instituição onde o profissional foi contratado como trabalhador assalariado. • Matriz crítica – sua atuação está de acordo com a concepção do projeto societário das classes subordinadas e da fundamental articulação da prática profissional com o conhecimento e reconhecimento da realidade social. Através dessa perspectiva se entende a atuação do assistente social, que se constrói permeada nos diversos instrumentais que determinam a importância do método histórico e social e que estão inseridos no exercício do fazer profissional. Outro aspecto dessa perspectiva é demonstrado na fundamentação teóricometodológica, técnico-operativa e ético-política, que resultará em um diagnóstico a partir da análise da conjuntura da realidade social e das condições de vida dos usuários. No exercício profissional, o assistente social necessita trilhar uma direção teórico-metodológica configurada em ações que favoreçam visibilidade, que sejam coerentes e integradas com a fundamentação teórica e prática do Serviço Social. O progresso do pensamento neoliberal mundialmente produziu mudanças estruturais no mercado de trabalho, resultando com que a atuação do assistente social aumentasse; entretanto, houve redução dos investimentos nas políticas públicas sociais. As atuais demandas do Serviço Social são consequência das mudanças que ocorrem nas configurações de gestão e enfraquecimento da força de trabalho e as formas atuadas de gestão e as novas maneiras implementadas na sociedade em decorrência da implementação do neoliberalismo no Brasil. No fim da década de 80 e início da década de 90, no governo Fernando Collor, o neoliberalismo é instaurado no país, com o discurso de que para haver o desenvolvimento é necessário reduzir a linha de pobreza. Através desse discurso, o Estado se torna mínimo e o mercado financeiro é representado pelos países desenvolvidos e ricos, gerenciadores das direções sociais, políticas, econômicas e culturais mundiais. No governo de Fernando Henrique Cardoso, o neoliberalismo, através de seu projeto, se solidifica na sociedade brasileira. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 163 O neoliberalismo, a partir do seu desenvolvimento e ataque, gerou o desequilíbrio dos direitos sociais adquiridos até o momento, como, por exemplo, alto índice de desemprego, condições de trabalho precárias, perdas salariais adquiridas, privação da autonomia sindical, com isso ocorreu uma desestruturação na organização das categorias profissionais. Através de uma simples análise de conjuntura, no que diz respeito à reestruturação do modelo de produção e das leis do capital, através do mercado, percebe-se que os trabalhadores são levados a contribuir com o sistema capitalista, mediante o acúmulo do capital, de forma participativa e que resulte na lucratividade. Sendo assim, cria-se uma relação entre patrão e empregado, onde o trabalhador deverá realizar da melhor forma possível o seu trabalho, com toda a sua capacidade, para gerar o bem da empresa e o seu próprio bem. Diante das transformações provenientes da minimização do Estado e de uma nova configuração através da reestruturação do modelo de produção, os profissionais das mais diversas áreas tiveram que redimensionar a atuação profissional para continuar a permanecer no mercado de trabalho. Essa 164 configuração refletiu no Serviço Social, pois se expandem: Os novos espaços ocupacionais do assistente social, derivados das demandas postas pelo processo de reestruturação produtiva, no âmbito das organizações públicas e privadas, mais exatamente dentro do conjunto de práticas que objetivam a implantação de processos de qualidade voltados à maior rentabilidade no mercado profissional. (ANDRADE, 2000, p. 175). O modelo capitalista tem como fundamento a cultura de qualidade total, sendo essa uma das novas atribuições ao Serviço Social. Para os assistentes sociais, é impositivo criar maneiras para um consenso em volta dessa nova cultura, através de um desempenho produtivo do trabalho com os objetivos de gerar, garantir e inovar a qualidade dos bens e serviços. Andrade (2000, p. 185) afirma que: Como se percebe, os processos que vêm sendo desenvolvidos pelas organizações, apesar da aparência de modernidade, reeditam o que o Serviço Social vem fazendo há muitos anos. Ou seja, a natureza SERVIÇO SOCIAL em foco ii do trabalho não mudou, pois continua voltada para o processo de reprodução da força de trabalho, mas com outra roupagem e através de novas estratégias que reforçam o discurso da coesão social. O Serviço Social, na década de 90, teve sua atuação profissional e como categoria de trabalho fortalecida e envolvida no processo de elaboração, discussão e aprovação de algumas legislações de suma importância para a área da assistência social e no campo exclusivo da profissão: a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Código de Ética e a Lei de Regulamentação da Profissão. Analisando as políticas públicas na área de assistência social, no contexto neoliberal, houve a aprovação da Lei Orgânica da Assistência Social – nº 8.742 (LOAS), de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências, conforme artigo 1º da mesma: Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é política de seguridade social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um 165 conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. (BRASIL, 1993). Através da aprovação da LOAS, em 1993, foi um processo que teve muita luta da categoria profissional, além da sua implementação no ano de 1995, tornando-se um grande momento da profissão, pois, conforme a lei, é “direito do cidadão e dever do Estado”, conduzindo todas as lutas para implementação de uma política de assistência social que tivesse condição de concretizar o que garante a Constituição Federal. Perante a importância do direito à cidadania, o Estado teve que obrigatoriamente constituir uma política de assistência social, rompendo com as ações dispersas e descontinuadas que eram desenvolvidas até o momento, e também de filantropia que era concedida pela iniciativa privada. O Estado passou a ser analisado como protagonista das políticas de assistência social e não mais como subsidiário nas ações desenvolvidas SERVIÇO SOCIAL em foco ii pela sociedade civil. Somente a partir de 1995 é que a LOAS começou a ser implementada, e a sua descentralização foi um processo longo; foi efetivada com a aprovação da Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – SUAS em 2005. Perante a mudança do Governo Federal no início dos anos 2000, a Política de Assistência Social passou a ter dimensões e configurações técnicopolíticas. Os assistentes sociais participaram efetivamente de toda a discussão em torno da elaboração e aprovação de outras legislações importantes para a área social, como: Estatuto do Idoso, Lei de acessibilidade de pessoas com deficiência, Lei Maria da Penha e outras. Em consequência das novas legislações sancionadas pelo Governo Federal, o Estado tornou-se o responsável por elaborar, implantar e programar políticas sociais, através de serviços, programas, projetos, para que fossem efetivadas, abrangendo todas as esferas de governo (federal, estadual e municipal), e além de operacionalizar os serviços, é obrigado a evidenciar a criação e implantação dos Conselhos Deliberativos, na elaboração de planos nacionais, 166 estaduais e municipais de todas as políticas públicas, como, por exemplo: Plano Municipal de Assistência Social, Plano Municipal de Habitação, Plano Municipal de Educação, Plano Diretor Municipal, entre outros. A profissão está hoje inserida no contexto societário e tem uma posição privilegiada na implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Diante do conhecimento específico da área, é a protagonista da efetivação do SUAS. Perante a efetivação do SUAS, a Assistência Social vem se constituindo na prestação de serviços sociais governamentais, e que tem a função de atuar sobre recursos financeiros públicos, efetuando, dessa forma, uma redistribuição da chamada “mais-valia social”. O assistente social, através de seu trabalho, se registra no teor da defesa e efetivação dos direitos sociais e da cidadania. O profissional que estiver atuando na gestão da Política de Assistência Social poderá colaborar para a democratização das ações desenvolvidas. SERVIÇO SOCIAL em foco ii A Política de Assistência Social tem sua centralidade no amparo e proteção social, tendo como foco a intervenção técnica da pobreza absoluta que tenciona as ações diárias do profissional, intervindo na matriz crítica da profissão. As demandas dos usuários, conquistas de seus direitos são afetadas pelas condições institucionais que, muitas vezes, determinam e delimitam a atuação profissional, através de olhares e ações tecnicistas, com o fortalecimento da matriz conservadora do Serviço Social. Conforme a descrição acima, pode-se analisar, em âmbito municipal, a atuação de profissionais que atuam diretamente com pessoas em situação de rua. Os gestores municipais, em muitas situações, impõem que o profissional retire da rua a pessoa, sem um amparo social e político para atender à demanda, ou até mesmo sem respeitar os direitos humanos das pessoas, resolvendo apenas a questão imediatista e tecnicista, sem respeitar o que está na Política Nacional de Assistência Social – PNAS. Um dos maiores desafios da profissão, que está inserida na sociedade contemporânea, no que diz respeito às políticas públicas, em todas as áreas, é 167 a democratização do trabalho do profissional do Serviço Social. Esse desafio só será possível a partir de um trabalho interdisciplinar e na construção de uma rede de serviços públicos com o envolvimento de entidades da sociedade civil, e dos usuários. A efetividade da universalização de direitos, da equidade dos espaços coletivos, da garantia dos direitos das políticas públicas sociais, acontecerá através de ações estratégicas que radicalizem a democracia e cidadania SERVIÇO SOCIAL em foco ii AUTOATIVIDADE 37) – Analisando a historicidade das relações de trabalho, mediante a flexibilização que afeta os espaços de trabalho em todo Estado brasileiro, sendo esse um dos mais importantes empregadores do profissional de serviço social do país, trazendo consequências para a categoria profissional, cabe ao assistente social: a) compressão dos locais de trabalho, com aumento do salário base; b) uma abertura profissional, estimulando a concorrência; c) novas demandas de trabalho e de espaços ocupacionais; e) uma qualificação profissional operante, para que o profissional consiga responder às demandas variáveis. 38) A partir do início dos anos 2000, a Política de Assistência Social (PNAS) passou a ter outras dimensões e configurações técnico-políticas em todo o território, significando para o assistente social: 168 a) Os profissionais participaram efetivamente de toda a discussão e aprovações de novas legislações na área social. b) O objetivo da PNAS foi o de redirecionar o exercício profissional. c) A PNAS é um detalhamento do Código de Ética. d) A novas legislações importantes na área social foram efetivadas somente pela discussão da categoria de assistente social. SERVIÇO SOCIAL em foco ii ---------- [ TÓPICO II – A IMPORTÂNCIA DA ESTATÍSTICA PARA O SERVIÇO SOCIAL ] ----------Silvana Braz Wegrzynovski Para o profissional de Serviço Social, conhecer a estatística é de fundamental importância, pois rompe com padrões que ao longo das nossas vidas se materializam, como conceitos que se tornam verdades, como, por exemplo: “não vou aproveitar isso nunca na minha vida”, “não tolero matemática e nem cálculos”, “odeio tabelas e gráficos”, em que se cria um obstáculo, sendo preciso estar muito bem baseado para poder rompê-lo. Os números fazem parte do cotidiano de todas as classes sociais, todas as categorias profissionais. No meio universitário e acadêmico existe certa oposição em relação aos conceitos sobre estatísticas. Uma das intenções da estatística é conseguir organizar os dados coletados, os dados estatísticos que se pretende trabalhar para uma devida 169 finalidade. Conforme Marcelino (2010, p. 2), pode-se entender estatística como: A coleta, a apresentação e a caracterização da informação, visando assistir a análise de dados e o processo de decisão. A estatística descritiva envolve a coleta, a análise e a apresentação de um conjunto de dados para descrever as diversas características deste conjunto de dados. A estatística inferencial consiste nos métodos de estimativas de uma população com base nos estudos sobre amostras. A população é a totalidade dos itens que estão sendo considerados. A amostra é a parte da população que está sendo apreciada para análise. A população finita é aquela que possui um limite quantitativo, enquanto a infinita se refere a quantitativos sem limite. Um parâmetro é uma medida sintética que descreve um estado da população. Os dados podem ser dos tipos qualitativos ou quantitativos. Os dados quantitativos discretos são aqueles que podem ser contados. Os dados qualitativos SERVIÇO SOCIAL em foco ii contínuos são os que podem ser medidos. Estudos enumerativos envolvem a tomada de decisão, com base nas características de uma população sob análise. Estudos analíticos envolvem a tomada de uma decisão sobre um processo visando ao aumento de performance no futuro. Os dados coletados deverão ser avaliados conforme as necessidades de atuação profissional, onde o resultado final do trabalho desenvolvido depende de cada situação, sendo que a estatística, conforme o conceito acima referido, tem uma ligação com a realidade dos fatos listados, havendo a interferência de cada especificidade e generalidades na sua atuação. Novamente Marcelino (2010, p. 1) ressalva: [...] a estatística é uma ciência que estuda e pesquisa sobre: o levantamento de dados com a máxima quantidade de informação possível para um dado custo; o processamento de dados para a quantificação da quantidade de incerteza existente na resposta para determinado problema; a tomada de decisões sob condições de incerteza, sob o menor risco possível. 170 Diante disso, pode-se constatar que a estatística tem o papel de auxiliar a identificar e mapear o público-alvo para ser atingido com determinada ação profissional, como também de quantificar todos os resultados que são adquiridos em uma determinada pesquisa, que necessite de um certo diagnóstico estatístico. A origem histórica da estatística antecede ao período denominado “antes de Cristo”, a.C., pois existem citações bíblicas que usavam o recadastramento para utilizar nos censos, objetivando a cobrança de taxas de impostos, de alistamento para as guerras e também para um controle das crianças que nasciam vivas. Um exemplo bíblico a ser utilizado para provar a existência da estatística a.C. é através da história de Moisés, quando foi solicitado perante a cultura da época que os meninos seriam sacrificados. “[...] Há indícios de que 3.000 anos a.C. já se faziam censos na Babilônia, China e Egito, e até mesmo o quarto livro do Velho Testamento faz referência a uma instrução dada a Moisés”. FONTE: Disponível em: <http://www.ufrgs.br/mat/graduacao/estatistica/historia-da-estatistica>. Acesso em: 9 abr. 2015. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Outra menção que afirma que a estatística existe antes de Cristo é a história do nascimento de Jesus, quando seus pais Maria e José estavam a caminho de Belém para participar de um censo estatístico. Atualmente, as chamadas ciências investigativas se tornaram importantes, pois apresentam as taxas de referências para a atuação das diferentes categorias profissionais. No caso do assistente social, na sua atuação prática diária, as taxas são utilizadas através de vários exemplos, como: taxa per capita, taxa de vulnerabilidade social, taxa de desempregos, taxa de mulheres chefes de família, taxa de analfabetismo, entre outras, sendo papel do profissional de Serviço Social conseguir realizar uma leitura científica das taxas referenciadas em uma determinada pesquisa. Os censos ou recenseamentos demográficos, realizados em um período de dez em dez anos, são um conjunto de estudos demográficos de uma determinada população, que congrega as mais diversas informações da realidade em estudo, através de um levantamento socioeconômico, sendo um instrumento indispensável para o conhecimento do profissional de Serviço Social. 171 A contagem da população e sua “demarcação” mediante critérios políticos, sociais, econômicos, culturais, religiosos, vem antes mesmo da era précristã, acontece através dos censos demográficos, conforme a necessidade de cada momento histórico. O Brasil é um dos países que possuem um censo demográfico mais completo e detalhado se comparado como outros países. Para Jannuzzi (2006, p. 41), “[...] sua operação envolve mais de duas centenas de milhar de pessoas para recensear os mais de 37 milhões de domicílios brasileiros, dispersos nos mais de 5.500 municípios”. As políticas públicas são implementadas através das demandas sociais que são apresentadas por meio dos dados compilados e situados em um censo. Sendo assim, o censo demográfico é concretizado a cada dez anos, e tem por objetivo a contagem da população. No intervalo deste período é realizada a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNDAS, que objetiva um SERVIÇO SOCIAL em foco ii acompanhamento anual sistêmico do panorama socioeconômico. Um dos focos mais relevantes desta pesquisa é a fecundidade/anticoncepção, a migração, saúde, mobilidade, os associativismos partidários, os bens de consumo. Na década de 80 teve destaque especial a pesquisa sobre o mercado de trabalho. A seguir você poderá verificar as dimensões práticas que envolveram o Censo de 2010: o Universo recenseado: todo o território nacional o Número de municípios: 5.565 municípios o Número de domicílios: 67.569.688 de domicílios o Número de setores censitários: 314.018 setores censitários o Pessoal contratado e treinado: cerca de 240 mil pessoas (coleta, supervisão, apoio administrativo) o Orçamento: aproximadamente R$ 1,4 bilhão o Tecnologia: centenas de computadores em rede nacional, rede de comunicação em banda larga e 220 mil computadores de mão equipados com receptores de GPS. o Unidades executoras: 27 unidades estaduais, 7 mil postos de coleta informatizados e 1.283 Coordenações 172 de Subárea. IMPORTANTE: Para saber mais acesse os links: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/ pnad98/saude/metodologia.shtm>. <ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_ Amostra_de_Domicilios_continua/Notas_metodologicas/notas_metodologicas. pdf >. A implantação da Política Nacional de Assistência Social – PNAS, de 2004, teve como referência de classificação dos municípios o porte demográfico individual, conforme dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Conforme a PNAS: Tabela 1 - Classificação dos municípios segundo o total de habitantes Classificação do Município Total da população Municípios pequenos 1 Com população de até 20.000 habitantes Municípios pequenos 2 Com população de até 20.001 a 50.000 habitantes Municípios médios Com população de até 50.001 a 100.000 habitantes Municípios grandes Com população de até 100.001 a 900.000 habitantes Metrópoles Com população de 900.000 habitantes FONTE: Adaptado pela autora. Disponível em: <file:///C:/Users/User/Downloads/PNAS%202004%20 e%20NOBSUAS_08.08.2011.pdf>. Acesso em: 21 maio 2015. IMPORTANTE: No link a seguir você encontrará um arquivo disponível com todo os dados da PNAS. 173 <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/arquivo/Politica%20Nacional%20 de%20Assistencia%20Social%202013%20PNAS%202004%20e%202013%20 NOBSUAS-sem%20marca.pdf>. Para o Serviço Social, o referencial estatístico é importante, por possuir uma característica investigativa da própria profissão sobre a realidade em foco. O profissional tem parâmetros para a elaboração de um diagnóstico social, que seja propositivo e analítico. A citação e referência aos dados podem oferecer a análise, positiva ou negativa, servirão de apoio para o desenvolvimento de programas e projetos, conforme a necessidade atual. Marcelino (2010) enfatiza que a estatística tem aumentado a sua participação na linguagem das agilidades profissionais da conjuntura atual, visando que os números e seus respectivos significados refletem as questões do cotidiano, permitindo a análise com apoio dos fatos e dados compilados. SERVIÇO SOCIAL em foco ii A estatística no Serviço Social é utilizada como uma ferramenta que está compreendida nos instrumentais teóricos e metodológicos referentes à atuação profissional do assistente social, possibilitando a análise e compreensão da realidade social que se pretende conhecer. A estatística se torna uma ferramenta importante para o profissional que possui habilitação para planejar, executar e avaliar projetos, pesquisas e programas, impondo o reconhecimento das referências estatísticas para uma ação investigativa da realidade social em que o assistente social está atuando. 174 As raízes históricas do Serviço Social, diante das aflições e indignações da realidade social, fazem com que os assistentes sociais busquem investigar proporcionando um novo conhecimento sistêmico, com um retorno emergente às demandas sociais, preponderando todo o público pesquisado, os serviços já ofertados, levando sempre em consideração que o público do Serviço Social é usuário instituído de direitos sociais. Essa indignação com as diferenças sociais oportuniza aos assistentes sociais usarem uma prática investigativa, e uma pesquisa que resulta em uma reflexão da realidade social. Segundo Bourguignon (2007, p. 49), “[...] a pesquisa se revela como potencialidade para o Serviço Social, e é neste contexto que se enfrenta o desafio de construir articulações orgânicas, entre a produção de conhecimento e a prática profissional”. Os usuários do Serviço Social possuem um papel ativo na participação de uma pesquisa social. Cabe também ao assistente social a orientação e um retorno para os usuários sobre a pesquisa realizada, baseado no princípio ético da profissão. Citando novamente Bourguignon (2007, p. 52), A pesquisa para o Serviço Social deve gerar um conhecimento que reconheça os usuários dos serviços públicos como sujeitos políticos que são capazes, também, de conhecer e intervir em sua própria realidade com autonomia, desvencilhando-se das estratégias de SERVIÇO SOCIAL em foco ii assistencialismo, clientelismo e subalternidade, tão presentes nas ações governamentais e política públicas. Outro conceito importante para o Serviço Social é sobre os indicadores sociais, que podem ser utilizados de maneira correspondente para fundamentar as informações reais e concretas de uma determinada realidade regional nos mais diversos segmentos, podendo nortear as ações que serão direcionadas, oferecendo um suporte aos processos de gestão social. A indicação de uma política pública independente da área de concentração necessita de dados que forneçam indicadores com a possibilidade de situar, desempenhar e propor o resultado final para a efetivação da mesma. Os indicadores sociais estão nas fases do processo de execução das políticas públicas, conforme figura a seguir: FIGURA 17 – PROCESSOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS 175 Fonte: A autora Os dados numéricos, que foram coletados através de uma determinada pesquisa, são parâmetros que criam critérios de classificação de indicadores, segundo a área de intervenção social que se pretende, como: SERVIÇO SOCIAL em foco ii • Saúde; • Educação; • Mercado de trabalho; • Demográfico; • Habitação; • Segurança pública; • Infraestrutura urbana; • Renda e desigualdade. Ao apresentar os resultados obtidos, necessita de um determinado cuidado mediante o processo de análise, especialmente quando os resultados são apresentados em forma de gráficos, porcentagens, tabelas e outros. Como vimos anteriormente, a estatística fornece informações que, em conjunto, oferecem definição de parâmetros de uma medida perante a realidade social pesquisada. 176 O profissional de Serviço Social tem sua habilitação para desenvolver o diagnóstico social, nas atividades diárias da profissão através de dados e taxas numéricas que mostram o foco da realidade social estudada. Os resultados de uma pesquisa, que são concentrados nos dados estatísticos, se tornam elementos fundamentais, matérias-primas, no processo de elaboração de indicadores sociais. Nas tomadas de decisões do poder público para efetivação das políticas sociais, os indicadores sociais são determinados como instrumentos de maior importância, pois apresentam as maiores e principais demandas sociais. Ao gestor das políticas públicas fica a responsabilidade para um controle efetivo, através de processos de avaliação e monitoramento das políticas públicas implantadas, além de mostrar as consequências e os impactos perante o investimento do poder público. A estatística social tem um papel de proporcionar os dados coletados em uma pesquisa de maneira bruta, através de números de censos demográficos, pesquisas de amostras e por dados que estão organizados em registros e arquivos públicos. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Ao estudar os indicadores sociais, consegue-se perceber que são instrumentos que explanam as diferenças de uma região de um espaço geográfico com a outra, norteiam o mapeamento das regiões consideradas mais desenvolvidas das outras, apontando fatores determinantes para essa diferenciação, como, por exemplo, fatores econômicos, geográficos, sociais, culturais, políticos, entre outros. Para Giroto et al. (2008, p. 7): [...] os indicadores sociais são expressos usualmente, como taxa de desemprego, taxa de mortalidade infantil, taxa de analfabetismo, IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), e são termos comumente utilizados por políticos, jornalistas, estudantes e pela população para avaliar as políticas públicas, verificar as condições de vida, além de argumentar, a partir da utilização deles, as prioridades sociais defendidas por determinada classe social. Ou seja, os indicadores transcenderam as esferas técnicas, acadêmicas e órgãos de planejamento público. A construção de indicadores sociais acontece através de junção dos dados coletados em sistemas organizados. A base de dados que constituem os indicadores sociais deve ser fundamentada em dados verdadeiros e referência de confiabilidade, que ofereçam uma análise da realidade de um território ou determinada região, através das demandas prioritárias. Os indicadores são constituídos através de referências de dados estatísticos, que podem ser retirados das pesquisas de campo, relatórios sociais e de fontes como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Ministérios e Secretarias do Governo Federal, DATASUS, de instituições de ensino, organizações governamentais e não governamentais e outros. Januzzi (2006, p. 37) afirma que “[...] os indicadores são construídos a partir de estatísticas sociais levantadas em censos demográficos, pesquisas amostrais e a partir de dados dispostos em registros administrativos públicos”. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 177 IMPORTANTE: Não deixe de acessar o site, para entender e compreender melhor sobre indicadores sociais. <http://www: datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=01>. Na elaboração do diagnóstico social de uma determinada realidade pesquisada, o uso de indicadores sociais permite mapear as prioridades, considerando, nas tomadas de decisões, quais são as políticas públicas sociais que contestam as reais demandas. Para Jannuzzi (2006, p. 15), “[...] o indicador social é, pois, o elo entre os modelos explicativos da teoria social e a evidência empírica dos fenômenos sociais observados”. 178 Durante a década de 1990, os indicadores sociais iniciaram uma integração nas pautas das agendas públicas de todo o país, com respaldo nas mídias, como fonte de referências e ampliando os espaços e conquistas nas decisões políticas. Conforme Santagada et al. (2007, p. 121): A investigação no campo dos indicadores sociais, realizada por organismos governamentais e não governamentais, tem buscado aprofundar a vinculação dos indicadores com os princípios que nortearam o seu surgimento, ou seja, servir de instrumentos para o planejamento governamental, bem como superar a análise estritamente econômica. Agora as condições sociais fazem parte do rol de preocupações não só de especialistas, como também dos governos. A “qualidade de vida” ou o “bem-estar” assumem um papel importante, juntamente com enfoque econômico, para responder como anda o “estado social” da nação. Ao diagnóstico social cabe compreender a realidade social e sua dinamicidade, através dos índices de vulnerabilidades sociais, econômicas, políticas, culturais, entre outras, através da falta de políticas públicas sociais em um território e também da falta de empenho político dos gestores públicos. SERVIÇO SOCIAL em foco ii A Secretaria Técnica da Rede Interagencial de Informação para a Saúde – RIPSA (2008, p. 18) apresenta um roteiro com oito tópicos com referências de qualidade de um indicador, que são: • • • • • • • • Conceituação: características que definem o indicador e a forma como ele se expressa, se necessário agregando informações para a compreensão de seu conteúdo. Interpretação: explicação sucinta do tipo de informação obtida e seu significado. Usos: principais formas de utilização dos dados, as quais devem ser consideradas para fins de análise. Limitações: fatores que restringem a interpretação do indicador, referentes tanto ao próprio conceito quanto às fontes utilizadas. Fontes: instituições responsáveis pela produção dos dados que são adotados para o cálculo do indicador e pelos sistemas de informação a que correspondem. Método de cálculo: fórmula utilizada para calcular o indicador, definindo precisamente os elementos que a compõem. Categorias sugeridas para análise: níveis de desagregação dos dados que podem contribuir para a 179 interpretação da informação e que sejam efetivamente disponíveis, como sexo e idade. Dados estatísticos e comentários: tabela resumida e co­ mentada, que ilustra aplicação do indicador com base na situação real observada. Sempre que possível, os dados devem ser desagregados por grandes regiões e para anos selecionados da década anterior. IMPORTANTE: Conheça o material na íntegra da RIPSA: Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/livroidb/1ed/indicadores. pdf>. Os aspectos que determinam a implementação de uma política pública social devem estar em sintonia com as prioridades que aparecem através das demandas de uma determinada realidade social de uma região ou até mesmo do país. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Para uma elaboração coerente das políticas públicas, através da utilização dos indicadores das demandas sociais, se faz necessária a composição de uma equipe técnica multidisciplinar, composta por profissionais das diferentes áreas, que estejam comprometidos com o processo de elaboração e que respeitem eticamente a confiabilidade das informações e a fonte de referência utilizada. Os indicadores poderão estar agrupados em um sistema, tais como a classificação das temáticas, como os aspectos demográficos, a educação, a saúde, o mer­cado de trabalho, a qualidade de vida, a habitação, a infraestrutura urbana, condições de vulnerabilidade social e outros. No quadro a seguir é possível verificar algumas publicações periódicas e sites, portais, de indicadores sociais. Quadro 8 – SÍTIOS COM INDICADORES SOCIAIS FONTE SÍTIO CONTEÚDO <www.ibge.gov.br> • Síntese de Indicadores Sociais • Síntese de Desenvolvimento Sustentável • Indicadores Sociais • Países • Estados • Cidades <www.pnud.org.br> • Aplicativo de Atlas do Desenvolvimento Humano e relatório com o mesmo índice <www. Ipea.gov.br> • Relatório do IPEADATA • Radar Social • Relatório de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio <www.datasus.gov.br> • Indicadores e Dados Básicos • Cadernos de Informações Municipais 180 IBGE PNUD PEA Ministério da Saúde SERVIÇO SOCIAL em foco ii Portal ODM <www.portalodm.com.br> • Sistemas de Indicadores Municipais FONTE: A autora Segundo Jannuzzi (2006, p. 20), os indicadores sociais podem ser classificados como básicos ou usuais: • Indicadores objetivos/quantitativos: “se referem às ocorrências concretas ou entes empíricos da realidade social, construídos a partir de políticas públicas disponíveis”. Exemplo: percentual de desemprego, percentual de domicílio com acesso à rede de água, esgoto e energia elétrica, taxa de mortalidade infantil, taxa de evasão escolar e outros. • Indicadores subjetivos/qualitativos: “correspondem a medidas construídas a partir da avaliação dos indivíduos e especialistas com relação a diferentes aspectos da realidade levantadas em pesquisas de opinião pública ou grupos de discussão”. Exemplos: indicador de confiança de uma organização e/ou instituição, notas avaliativas 181 sobre a execução dos gestores públicos. (Grifo da autora). Os indicadores sociais também se encontram em uma classificação como indicadores descritivos e os normativos, sendo descritos por Jannuzzi (2006, p. 21) da seguinte forma: • Indicadores descritivos: “apenas descrevem características e aspectos da realidade empírica, não são fortemente dotados de significados valorativos”. Exemplo: a taxa de natalidade infantil, evasão escolar. • Indicadores normativos: “refletem explicitamente juízos de valor ou critérios normativos com respeito à dimensão social estudada”. (Grifo da autora). Qualquer indicador normativo, quando é referenciado, necessita de normas que estabeleçam um modelo constituído metodologicamente, podendo ser utilizado como exemplo um indicador de vulnerabilidade social. Na definição SERVIÇO SOCIAL em foco ii de vulnerabilidade social se faz necessário estabelecer normas e critérios que agregam na questão da vulnerabilidade social, como, por exemplo, a pobreza, quem é a população considerada que vive na linha de pobreza. Essas normatizações definem um indicador normativo. Outro aspecto que proporciona a classificação está na complexidade metodológica na constituição dos indicadores, que poderá ser usada nos critérios de diferenciação de dois outros conjuntos de indicadores, defendidos por Jannuzzi (2006, p. 22). • • 182 Os indicadores simples: “são construídos a partir de uma estatística social específica, referida a uma dimensão social elegida” Exemplo: os indicadores sociais de saúde e habitação. Os indicadores compostos: “são elaborações mediante a aglutinação de dois ou mais indicadores simples, referida uma mesma ou diferentes dimensões da realidade social”. Exemplo: Índice de Desenvolvimento Humano – IDH. (Grifo da autora). Conforme a apresentação dos sistemas de indicadores, conseguese identificar as demandas atuais realizando uma proeminência para as futuras demandas e um planejamento das políticas públicas sociais, através de curto, médio e longo prazo, e com ações de prevenção e controle das questões sociais levantadas. IMPORTANTE: Para aprofundar o assunto sobre o Planejamento da Políticas Públicas, é fundamental conhecer este material: <www.http://www.ipea.gov.br/bd/pdf/2009/Livro_BrasilDesenvEN_Vol01.pdf>. Os assistentes sociais devem utilizar-se dos indicadores sociais como mecanismos estratégicos no enfrentamento das demandas sociais que são apresentadas, e aproveitando-os para a elaboração de novos indicadores, podendo subsidiar relatórios das instituições, organizações de atuação profissional que estejam comprometidas com as dimensões ético-políticas da profissão. SERVIÇO SOCIAL em foco ii AUTOATIVIDADE 39) – Perante a estruturação da PNAS, através do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), o mesmo requer, no campo da gestão, uma atividade estável de monitoramento e avaliação. Na atuação profissional na gestão, o assistente social deve garantir os princípios fundamentais do seu Código de Ética – entre os quais o compromisso com a qualidade dos serviços prestados aos usuários. Em cada um dos itens a seguir estão indicadas condições que pretendem corresponder a este princípio. I – Garantir a atuação de equipes interdisciplinares nos espaços de atuação profissional. II – Disponibilizar as informações orçamentárias socializadas entre gestores, técnicos e usuários. III − Elaborar relatórios sistemáticos de avaliação dos serviços, programas e projetos sociais. IV − Construir indicadores capazes de expressar as desigualdades de classes. V − Articular a rede socioassistencial, ampliando a cobertura dos serviços. Correspondem ao princípio referido as condições: (a) I e V. (b) I e II. (c) I, II e III. (d) I, II e IV. (e) Todas as alternativas acima. 40) – Existe uma classificação para os indicadores sociais, que se denomina também indicadores descritivos e os normativos. Sobre os indicadores descritivos é correto afirmar: a) São responsáveis por descreverem as características e aspectos da realidade empírica da realidade. b) São elaborações mediante a aglutinação de dois ou mais indicadores simples, referida uma mesma ou diferentes dimensões da realidade social. c) São conceitos de mérito estratégico para que o assistente social consiga atuar diante das demandas sociais. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 183 d)São elaborações de diferentes dimensões sociais e com características unicamente empíricas da realidade com uma ou mais dimensões sociais. 184 SERVIÇO SOCIAL em foco ii ---------- [ TÓPICO III – O SERVIÇO SOCIAL: ANALISANDO OS PRINCIPAIS INDICADORES SOCIAIS DA REALIDADE BRASILEIRA ] ---------Silvana Braz Wegrzynovski No contexto histórico, os indicadores sociais eram vistos como problemas e cálculos matemáticos. Atualmente são representados em todas as esferas de poder público, através das políticas públicas, empregando-se os dados estatísticos para elencar precedências na gestão de recursos públicos, através de um monitoramento e avaliação dos impactos causados nas demandas sociais. O diagnóstico e a interpretação de uma determinada realidade social se dão por meio de uma leitura profissional dos indicadores sociais, que estão fundamentados nos dados estatísticos. Os indicadores sociais, além de possuírem um papel fundamental na elaboração das políticas públicas, também possuem um caráter investigativo na busca de respostas e de direcionamento nas ações profissionais. As análises e compreensões dos indicadores sociais perante a realidade que está sendo investigada devem possuir uma visão ampla do contexto, analisando primeiramente em nível macrorregional, ou seja, em nível de País; após referenciar esses indicadores, deve-se realizar uma avaliação Regional (Estados, Regiões) e, por último, uma avaliação microrregional, ou seja, Municipal, trazendo para a realidade das instituições, por meio de programas e projetos sociais. O Censo Demográfico de 2010 diagnosticou que o Brasil é o quinto maior país em área territorial, sendo que a sua população urbana é de aproximadamente 191 milhões de habitantes. (IBGE, 2010a). Divididos entre: SERVIÇO SOCIAL em foco ii 185 FIGURA 18 – DIVISÃO HABITACIONAL BRASILEIRA 186 FONTE: A autora Diante dos resultados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2010, que é o órgão nacional responsável pela realização da pesquisa, a população brasileira já estava em sua maioria concentrada nas áreas urbanas, totalizando 84,35% de habitantes. Segundo os dados do IBGE, a região mais populosa continua sendo o Sudeste, tendo mais de 80 milhões de habitantes, e nas demais regiões, em segundo lugar é o Nordeste, com um total de 53.081.950; em terceiro lugar a Região Sul, com 27.386.891; já em quarto lugar a Região Norte, com 15.864.454, e em último lugar a Região Centro-Oeste, com um total de 14.058.094 de habitantes (BRASIL, 2011). Pode-se confirmar que 5.564 municípios estão em situações e áreas de vulnerabilidade social, onde uma quantia da população não tem acesso às principais políticas públicas sociais. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Para compreender melhor essa disparidade social entre as regiões brasileiras, é necessário entender o significado de um espaço territorial, bem como o que determina uma territorialização. Um território constitui um espaço operativo, onde as ações se desenvolvem no enfrentamento do cotidiano da população, diante de um determinado espaço de intercâmbio e interação social, onde aparecem diversas características típicas, como: cultura, geografia, política, social e econômica. Segundo Koga (2003, p. 23), é importante: [...] pensar na política pública a partir do território exige também um exercício de revisita à história, ao cotidiano, ao universo cultural da população que vive nesse território, se considerarmos para além do espaço físico, isto é, como toda a gama das relações estabelecidas entre seus moradores, que de fato constroem e reconstroem. A reprodução da leitura da realidade se resume através do diagnóstico, 187 em que as demandas e os investimentos necessários para a implementação das políticas públicas se enfatizam e se concretizam. A leitura da realidade acontece através dos principais indicadores sociais que são apresentados por pesquisas sociais, como o censo demográfico, realizado pelo IBGE e outros órgãos públicos de todos os níveis administrativos. Para a elaboração de um diagnóstico, que traga uma análise mais próxima e coerente com a realidade social estudada, se faz necessário ter um olhar mais profundo que o imediato e analisar todos os aspectos sociais, demográficos, geográficos, culturais, políticos e outros. Como exemplo: 01) Produto Interno Bruto (PIB): que representa toda a produção anual de bens e serviços, que ocorre em um território nacional. Para calcular o PIB de uma região é necessário utilizar a seguinte fórmula: SERVIÇO SOCIAL em foco ii PIB = C+I+G+X – M Onde, C= consumo privado; I= a totalidade de investimento realizado no período; G= gasto do governo; X = volume de exportações; M = volume de importações. Os dados do IBGE (2015) mostram que: Em relação ao terceiro trimestre, o PIB do quarto trimestre de 2014 cresceu 0,3%, levando-se em consideração a série com ajuste sazonal. A Agropecuária teve expansão de 1,8%, a Indústria manteve-se praticamente estável (-0,1%) e os Serviços cresceram 0,3%. Na comparação com o quarto trimestre de 2013, o PIB variou -0,2%, sendo que o valor adicionado a preços básicos variou -0,2%, e os impostos sobre produtos -0,6%. A Indústria recuou (-1,9%), enquanto os Serviços (0,4%) e a Agropecuária (1,2%) tiveram variação positiva. 188 No ano de 2014, o PIB variou 0,1% em relação a 2013. A estabilidade do PIB resultou da variação positiva de 0,2% do valor adicionado e do recuo nos impostos (-0,3%). Nessa comparação, a Agropecuária (0,4%) e os Serviços (0,7%) cresceram e a Indústria caiu (-1,2%). Em 2014, o PIB alcançou R$ 5,52 trilhões (valores correntes). (Disponível em: <http://censo2010.ibge.gov.br/noticias-cens o?view=noticia&id=1&idnoticia=2857&busca=1&t=2014-pib-varia-0-1-totaliza-r-552-trilhoes>. Acesso em: 21 maio 2015). 02) PIB per capita: representa o PIB dividido por renda per capita ou renda média, de cada habitante do país, estado ou região. O cálculo acontece pela divisão da renda total pelo número de habitantes. O PIB per capita ficou em R$ 27.229, com queda (-0,7%), em volume, em relação a 2013. Disponível em: <http://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo?view=notici a&id=1&idnoticia=2857&busca=1&t=2014-pib-varia-0-1-totaliza-r-5-52-trilhoes>. Acesso em: 21 maio 2015. SERVIÇO SOCIAL em foco ii 03) Índice de Gini: é um cálculo usado para medir a desigualdade social, que foi desenvolvido pelo estatístico italiano Corrado Gini, no ano de 1912. É apresentado entre o número 0 e o número 1, onde o zero corresponde a uma completa igualdade na renda, ou seja, onde todos detêm a mesma renda per capita, e o um corresponde a uma completa desigualdade entre as rendas (diferentes parcelas de indivíduos da sociedade, onde pequena parte dela detém toda a renda, e a outra parcela, a maior parte, nada tem). O Gini mede o coeficiente através de pontos percentuais, que é igual ao coeficiente multiplicado por 100. Para saber mais, acesse: <http://www.sae.gov.br/imprensa/sae-na-midia/rendade-volta-a-1964-valor-economico-20-02-2014/>. 04) Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): O Índice de Desenvolvimento Humano – IDH foi criado no ano de 1990, como o padrão dos programas das Nações Unidas, que a partir de 1993 tem como objetivo medir os níveis de desenvolvimento de cada país, estados e munícipios. O IDH tem como fonte de dados os indicadores sociais, sendo avaliados com base nos indicadores de longevidade, educação, saúde e renda. Antes do IDH possuir suas definições formadas, a qualidade de vida era mensurada através do PIB per capita. Para Scarpin (2007, p. 912), “[...] o PIB per capita de um país ou região não é suficiente para avaliar as condições de vida da sua população, pois é necessário conhecer as distribuições desses recursos e como se dá o acesso a eles”. Novamente, segundo Scarpin (2007, p. 912): O IDH foi criado no início da década de 1990 para o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), é uma contribuição para essa busca, e combina três componentes básicos do desenvolvimento humano: a longevidade, que reflete, entre outras coisas, as condições de saúde da população, medida pela esperança de vida ao nascer; a educação, medida por uma combinação da taxa de alfabetização e taxa combinada de matrícula nos níveis de ensino fundamental, médio e superior; e renda, medida pelo poder de compra da população, baseado SERVIÇO SOCIAL em foco ii 189 no PIB per capita ajustado ao custo de vida local para torná-lo comparável entre países e regiões, por meio da metodologia conhecida como paridade do poder de compra (PCC). (Grifo da autora). O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento decide que a intenção da elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano é oferecer um contraponto a outro indicador, que é o Produto Interno Bruto per capita, conhecido como PIB, que é muito empregado em relação ao desenvolvimento econômico. IMPORTANTE: Para conhecer mais sobre os principais indicadores sociais que apontam a realidade social brasileira, acesse: <http://www.cidades.ibge.gov.br/ xtras/home.php>. Conforme o IBGE (2013), os indicadores sociais demográficos compõem uma análise de um determinado grupo de indicadores perante a estrutura etária e também através das taxas de fecundidade, mortalidade e migração. Sendo que os indicadores de fecundidade se referem à taxa de fecundidade total, ou seja, o número médio de filhos nascidos vivos que uma mulher terá no fim do seu período 190 reprodutivo. Segundo IBGE (2012), a taxa de fecundidade retribuía 1,8 filho por mulher, sendo que o maior valor desta taxa estava concentrado no Acre, que é de 2,7 filhos por mulher, o menor valor se refere a de 1,6 filhos por mulher e se concentra nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Analisando o censo demográfico de 2010, pode-se constatar que a pirâmide etária no Brasil se alterou desde a última década. No ano de 2000, as crianças de até 4 anos de idade representavam o total de 9, 64% da população; em 2010 esse número passou para 7,17%. Já as crianças de 5 a 9 anos, que representavam, em 2000, 9,74% do total, passaram em 2010 para 7,79%. Analisando a população de jovens de 24 anos, somava 49,68% dos brasileiros, e com o novo censo ficou representada em 41,95%. (IBGE, 2010). IMPORTANTE: Para entender melhor a pirâmide demográfica, acesse: <http:// www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/projecao_da_populacao/2008/ piramide/piramide.shtmnteo>. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Essa inversão na pirâmide demográfica aponta a redução do número de crianças e adolescentes, como também a queda do número de fecundidade, pois o alargamento da pirâmide se expressa no aumento da expectativa de vida. Segundo Kilsztajn, 2000, no Brasil está ocorrendo um processo de envelhecimento da população, com a queda da taxa de natalidade, sendo que em 2050 sua estrutura poderá ser comparada à dos países desenvolvidos, como o Japão, França e Estados Unidos. Os indicadores sociais, que estão relacionados com o perfil demográfico, apontam para o crescente aumento da população idosa a cada ano. O Brasil vem passando por uma nova configuração na estrutura de sua pirâmide, com um estreitamento na base e alargamento do topo. O grupo populacional que está em crescimento é o da população acima de 60 anos. GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO TOTAL, SEGUNDO OS CENSOS DEMOGRÁFICOS E PROJEÇÃO – BRASIL – 1950/2050 191 FONTE: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/projecao_da_ populacao/2008/projecao.pdf>. Acessa em: 21 maio 2015. Para o Serviço Social, os indicadores da saúde são de fundamental importância para o país, pois, se forem utilizados de maneira regular em um SERVIÇO SOCIAL em foco ii sistema dinâmico, tornam-se instrumentos para a gestão e avaliação das políticas públicas de saúde em todos os níveis de governos do país. A definição sistêmica de um mínimo de indicadores se faz necessária para trabalhar com conceitos como: gestão, monitoramento e avaliação para todos os níveis do sistema de saúde. Conforme Rede (2008), as principais modalidades de indicadores de saúde são: • Mortalidade/sobrevivência: • Mobilidade/gravidade/incapacidade; • Nutrição/crescimento e desenvolvimento; • Aspectos demográficos; • Condições socioeconômicas; • Saúde ambiental; • Serviços de saúde. Segundo o IBGE (2013), os três principais indicadores da saúde no Brasil são: 192 Mortalidade infantil: A meta internacional aplicada ao Brasil é reduzir a mor­talidade na infância para 17,9 óbitos por 1.000 nascidos vivos até 2015. Os dados mostram essa tendência de re­dução, chegando-se perto do objetivo em 2010, com 18,6 óbitos por 1.000 nascidos vivos, enquanto a mortalidade era de 53,7 óbitos por 1.000 nascidos vivos no ano-base (1990). Os dados mostram uma expressiva redução no país, com destaque para o Nordeste, mas ainda subsistem, no entanto, fortes diferenças regionais. Em 2010, a taxa era de 15,5 para o Sul, e 25,0 e 22,1 para Norte e Nordeste. (IBGE, 2013, p. 206). Mortalidade materna: mortalidade materna tem sua importância destacada no documento Saúde Brasil 2011: uma análise da situação de saúde e a vigilância da saúde da mulher, do Ministério da Saúde: “A mortalidade materna é um indicador sensível à qualidade de vida de uma população. Isso porque esse indicador se refere a mortes precoces, evitáveis, que em sua quase totalidade atingem as mulheres com menor acesso aos bens sociais, configurando-se como uma grave violação dos direitos humanos das mulheres”. (IBGE, 2013, p. 209). SERVIÇO SOCIAL em foco ii Promoção e prevenção (exames de controle, exames de câncer de mama): […] é possível observar no Brasil um aumento dos equipa­mentos existentes em estabelecimentos de saúde de 2002 a 2009, principalmente na rede pública (118%) e nos esta­belecimentos privados que prestam serviços ao SUS (75%), sendo que a rede privada não disponível ao SUS ainda concentrava, em 2009, 49% destes equipamentos (2.037 mamógrafos). A distribuição dos mamógrafos reproduz desigualdades regionais, com menores taxas por 100 mil habitantes no Norte e Nordeste (IBGE, 2013, p. 211). As políticas de saúde utilizam-se dos seguintes sistemas e fontes de informações: • • • • • • • • • • Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAM). Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/ SUS). Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/ 193 SUS). Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI). Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Malária (SIVEP-malária). Sistemas de Informações para a Gestão do Trabalho em Saúde. Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS). Sistema de Informações de Beneficiários (SIB). O DATASUS é um sistema de dados informatizados do Ministério de Saúde, que tem como objetivo subsidiar indicadores sobre as questões que envolvem a saúde no país. O DATASUS é um órgão do Sistema Único de Saúde – SUS. IMPORTANTE: Para você saber sobre os principais indicadores de saúde em todo o território nacional, poderá explorar o site do DATASUS. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Pode-se citar também outros indicadores sociais que são fundamentais na atuação do assistente social, que são os dados da educação, trabalho e renda no Brasil. Conforme a legislação vigente, Ementa Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996, e Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), fica claro que é de competência do Governo Federal atuar no Ensino Superior e prestar assessoria técnica e financeira às esferas estaduais e municipais. Sendo que para os estados e o Distrito Federal, cabe a oferta dos ensinos Fundamental e Médio, e para os municípios o Ensino Fundamental e a Educação Infantil. IMPORTANTE: Para saber mais, acesse: <www.http://conae2014.mec.gov.br/ images/pdf/educacaobrasileiraindicadoresedesafios.pdf>. Os dados estatísticos da Educação Brasileira poderão ser consultados através do: INEP - O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio 194 Teixeira (INEP) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação, cuja missão é promover estudos, pesquisas e avaliações sobre o sistema educacional brasileiro. O objetivo é subsidiar a formulação e implementação de políticas públicas para a área educacional, a partir de parâmetros de qualidade e equidade, bem como produzir informações claras e confiáveis aos gestores, pesquisadores, educadores e público. IMPORTANTE: Acesse: <www.http://portal.inep.gov.br/> em geral. Educacenso – Educacenso é um sistema on-line que mantém um cadastro único e centralizado das escolas das redes pública e privada, professores, auxiliares de educação infantil e estudantes. A intenção é dar mais rapidez à atualização das informações. O sistema fornece dados individualizados e possibilita o acompanhamento da trajetória escolar de alunos e professores. IMPORTANTE: Acesse: <http://educacenso.inep.gov.br/Autenticacao/index>. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Censo da Educação Superior – Anualmente, o INEP realiza a coleta de dados sobre a educação superior, com o objetivo de oferecer informações detalhadas sobre a situação atual e as grandes tendências do setor, tanto a comunidade acadêmica quanto a sociedade em geral. IMPORTANTE: Acesse: censosuperior_2011/>. <http://sistemascensosuperior.inep.gov.br/ Cadastro da Educação Superior – O cadastro reúne uma série de informações para ajudar os estudantes a fazerem a melhor escolha do seu curso superior. Ele contém dados atualizados de cursos e instituições de educação superior de todo o país. IMPORTANTE: Acesse: <http://emec.mec.gov.br/>. Siope – O principal objetivo do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação (Siope) é levar ao conhecimento da sociedade o quanto as três esferas de governo investem efetivamente em educação no Brasil, fortalecendo, assim, os mecanismos de controle social dos gastos na manutenção 195 e no desenvolvimento do ensino. IMPORTANTE: Acesse: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ content&id=208&Itemid=267>. Em relação aos indicadores de trabalho e renda, inicia-se a apresentação através da compreensão do mercado de trabalho. O mercado de trabalho é representado pelo trabalhador que está disponível no mercado de trabalho e pelas vagas que estão disponíveis. Segundo IBGE (2013b): [...] trabalho: significa a ocupação econômica remune­rada em dinheiro, produtos ou outras formas não mo­ netárias, ou a ocupação econômica sem remuneração, exercida pelo menos durante 15 horas na semana, em ajuda a membro da unidade domiciliar em sua atividade econômica, ou a instituições religiosas beneficentes ou em cooperativismo ou, ainda, como SERVIÇO SOCIAL em foco ii aprendiz ou estagiário. Para os indivíduos que trabalham investiga-se a ocupação, o ramo de atividade, a posição na ocupação, a existência de mais de um trabalho, o rendimento efe­ tivamente recebido no mês anterior, o número de horas efetivamente trabalhadas etc. Os trabalhadores são divididos em duas classes: População em Idade Ativa – PIA, e População Economicamente Ativa – PEA. A PIA pode ser considerada a população no Brasil que está apta a exercer uma atividade economicamente produtiva. A população em idade ativa pode ser considerada a que possui idade superior a 16 e inferior a 65 anos, e que possui condições de desenvolver as ações correspondentes às exigências do mercado de trabalho. Para Jannuzzi (2006, p. 89): No caso brasileiro, as pesquisas sobre mercado de traba­lho tendem a tomar o PIA como o conjunto de todas as pessoas com 10 anos ou mais. Dentre os indivíduos da PIA, aqueles que estão efetivamente disponíveis para o exercício de atividade econômica, seja trabalhando ou procurando emprego. 196 A taxa de desemprego/emprego tem como objetivo monitorar o crescimento econô­mico da região. A perspectiva de novas demandas, para o Estado, menciona indicadores para acompanhamento das políticas econômicas e na formulação de políticas sociais que consigam atender às questões de emprego e distribuição de renda no país. Atualmente, o emprego está dividido em duas classificações no mercado de trabalho, os empregos formais e informais. Emprego formal é aquele que possui vínculo empregatício com uma empresa, indústria, comércio, por meio de carteira nacional de trabalho assinada, dentro da Consolidação das Leis de Trabalho – CLT, ou os funcionários públicos, con­tratados por concursos públicos com legislação específica do servidor público. Segundo o IBGE, em 2012, o trabalhador com carteira assinada representava 40% SERVIÇO SOCIAL em foco ii do total dos trabalhos do país, comparado a 2002, quando apresentou 15% (IBGE, 2013). Conforme o IBGE (2013, p. 146), Na última década, o crescimento do rendimento real da população ocupada de 16 anos ou mais de idade foi de 27,1%; para a população em trabalhos formais, esse crescimento foi de 13,6%, enquanto entre os informais o aumento foi de 31,2%. Para as mulheres em trabalhos informais, esse ganho real chegou a 38,5%. A política de valorização do salário mínimo e o aumento da remunera­ ção em algumas categorias ocupacionais, como a de tra­ balhadores domésticos, cuja variação tem sido superior à da inflação para o período, influenciaram esse resultado. O emprego informal é aquele que não possui vínculo empregatício através da CLT ou como servidor público, ou seja, não tem registro em carteira, não contribui com a previdência social, não gera impostos e não possui garantia legal. Conforme o IBGE (2013), a taxa de informalidade pode acontecer pela busca 197 do primeiro emprego, pelos jovens que tenham as necessidades de conciliar o trabalho com estudo, evidenciando a redução de 24,5% da informalidade neste grupo populacional entre 2002 a 2012. No emprego informal está centralizada uma parcela de trabalhadores, como os autônomos, que são vendedores, costureiras, cozinheiras, empregados domésticos, que mesmo com a mudança da legislação que fornece garantia à proteção legal desses trabalhadores, encontra-se uma grande parcela dessa categoria no trabalho informal, consequentemente não contribui com a previdência social. Essas classes de trabalhadores correspondem às demandas diante da política de assistência social e como usuários do serviço social. São funcionais frente ao mercado infor­mal, como autônomos, ou mesmo realizando os trabalhos sem definição clara de funções. São classificados como catadores de papéis, serventes de pedreiro, diaristas, que não trabalham com salários fixos, e sim por diárias ou horas, hoje comumente denominados “bicos”. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Os dados do IBGE (2013, p. 145) apontam que: A informalidade ainda é uma característica importante no Brasil, abrangendo 43,1% dos trabalhadores em 2012. Es­tes percentuais são ainda mais elevados nas Regiões Norte e Nordeste, onde Pará e Maranhão possuem, respectiva­mente, 67,5% e 74,5% de seus trabalhadores inseridos na informalidade. Por outro lado, o Estado de Santa Catarina e o Distrito Federal, localizados, respectivamente, nas Regiões Sul e Centro-Oeste, possuem apenas 26,9% de seus trabalhadores nestas condições. Conforme a Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua (2008, p. 10): A população em situação de rua é composta, em grande parte, por trabalhadores: 70,9% exercem alguma atividade remunerada. Dessas atividades destacam-se: catador de materiais recicláveis (27,5%), flanelinha (14,1%), construção civil (6,3%), limpeza (4,2%) e carregador/estivador (3,1%). Apenas 15,7% das pessoas pedem dinheiro como principal meio para a sobrevivência. Esses dados são importantes para desmistificar o fato de que a população em situação de rua é composta por “mendigos” e “pedintes”. Aqueles que pedem dinheiro para sobreviver constituem minoria. Desse modo, a maioria tem profissão: 58,6% dos entrevistados afirmaram ter alguma profissão. Entre as profissões mais citadas destacam-se aquelas ligadas à construção civil (27,2%), ao comércio (4,4%), ao trabalho doméstico (4,4%) e à mecânica (4,1%). Contudo, a maior parte dos trabalhos realizados situase na chamada economia informal: apenas 1,9% dos entrevistados afirmaram estar trabalhando atualmente com carteira assinada. Essa não é uma situação ocasional. 47,7% dos entrevistados nunca trabalharam com carteira assinada. Entre aqueles que afirmaram já ter trabalhado alguma vez na vida com carteira assinada, a maior parte respondeu que isso ocorreu há muito tempo (50% há mais de cinco anos; 22,9% de dois a cinco anos). 198 SERVIÇO SOCIAL em foco ii Os dados estatísticos e indicadores socioeconômicos compõem um conjunto de informações quantitativas que possibilitam o acompanhamento das variações conjunturais e estruturais da economia de uma certa nação, ou até de uma determinada região geográfica, e que subsidiam nas decisões das administrações públicas no que diz respeito aos mecanismos da política fiscal, monetária, comércio exterior e do desenvolvimento regional. O setor privado subsidia os investimentos econômicos, de livre concorrência de mercado e outros. Como também no que se refere às diversas dimensões do sistema econômico e das etapas na metodologia de mudanças da agropecuária e indústria de bens e de serviços consumidos pelas pessoas e suas famílias. A elaboração dos indicadores econômicos é produzida com certa periodicidade e regularidade, podendo ser anual, mensal, semanal e diária, e eles são expressos por valores nominais e reais, que são ajustados por algum índice de valor ou preço, e são concebidos com variações de percentuais, números, índices e taxas de variações no decorrer do tempo. Todos os dados e indicadores econômicos podem ser qualificados por 199 diversos critérios. Existe uma distinção entre dados conjunturais, e que são citados nos eventos periódicos da conjuntura econômica, a curto prazo, através de índices de preços, códigos e indicadores de produção industrial ou de vendas no varejo e no comércio; e pelos dados estruturais, que passam por alterações e mudanças mais pausadas que as características mais consolidadas da economia, e com a efetiva participação das indústrias e na agricultura através da repartição de renda, um elevado gasto com bens não duráveis. Existe um fator que é importante e merece evidência e diz respeito aos acontecimentos de que os indicadores se referem: Nas esferas de produção ou transação, que são os indicadores da indústria, do comércio e da agropecuária. Nos eventos de fluxo de circulação, nos indicadores de produção de vendas e de consumo. Nas unidades de média, como física e monetárias. Nas dimensões macro e micro do processo econômico, como a taxa de crescimento do PIB, taxa de crescimento de um determinado ramo da indústria. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Na natureza da fonte originária dos dados de registro administrativo dos ministérios, associações e entidades patronais e de estatísticas de pesquisa amostral. Os indicadores econômicos são classificados em três categorias, sendo: indicadores antecedentes, que têm como objetivo prever com antecedência, num período de curto prazo, e são examinados por todos os setores ligados à área econômica. Existem também os indicadores consequentes, que despontam em vários desdobramentos em uma tomada de decisão governamental, referentes à política econômica ou de entidades privadas. Outra classificação é a dos indicadores de expectativas, que apresentam o nível de confiança dos empresários, investidores e/ou consumidores no comportamento da economia, que contrapõem os indicadores da economia real, ligados à produção física, taxa de desempregos e outros. 200 Diante dessa análise, muitos indicadores econômicos são apresentados anualmente, levando à reflexão sobre o desempenho estrutural da metodologia econômica de um determinado momento ou período do ano. AUTOATIVIDADE 41) – Os indicadores econômicos são classificados em três categorias, sendo elas: a) Indicadores consequentes e antecedentes. b) Indicadores antecedentes, consequentes e de expectativas. c) Indicadores consequentes, de expectativas e simulados. d) Indicadores antecedentes, simulados e variáveis. 42) - O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado no início da década de 1990 para o PNDU (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), é uma contribuição para essa busca, e combina três componentes básicos do desenvolvimento humano: SERVIÇO SOCIAL em foco ii a) A longevidade, condições de saúde, a educação. b) A longevidade, condições de assistência social, e saúde. c) As condições de saúde, educação e previdência social. d) A educação, assistência social e habitação. 201 SERVIÇO SOCIAL em foco ii ---------- [ TÓPICO IV – O SERVIÇO SOCIAL E A LEI Nº 13.058/2014 – GUARDA COMPARTILHADA ] ---------Silvana Braz Wegrzynovski Em dezembro de 2014 foi sancionada a Lei nº 13.058 – Lei da Guarda Compartilhada, quando o Brasil começou a figurar na vanguarda do direito à família. Durante quatro anos de intensos estudos, debates, audiências públicas no legislativo federal, sobre os temas ligados ao o convívio igualitário entre pais e filhos separados, passou a ser obrigatório Através de campanhas movidas especialmente pelas redes sociais no Brasil, a aprovação da nova Lei da guarda compartilhada teve sua aprovação no Congresso Nacional e a sanção presidencial pouco tempo depois, e passou a ser a Lei nº 13.058/14. Foi uma conquista vitoriosa para milhares de pais que estavam há muito tempo lutando por uma convivência igualitária com seus filhos, e que para 202 a justiça brasileira representou um grande avanço. A nova lei tem todo o respaldo da sociedade científica internacional, pois garante um desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes através do contato com seus genitores. A nova lei trouxe profundas mudanças nas relações familiares, e alterando o Código Civil nos artigos pertinentes sobre o instituto Guarda Compartilhada, anteriormente alterados pela acanhada Lei da Guarda Compartilhada de 2008 – Lei nº 11.698. Nesse sentindo, é importante ressaltar que aconteceram três momentos jurídicos importantes que merecem ser destacados: 2 008 = institucionalização da Guarda Compartilhada pela legislação brasileira. 2010 = entrou em vigor a Lei de Combate à Alienação Parental. 2014 = entra em vigor a Lei da Guarda Compartilhada. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Com a aprovação da Lei da Guarda Compartilhada, houve uma comunicação com a Lei da Alienação Parental – Lei nº 12.318/10. Onde uma complementou a outra, na sua efetivação, em virtude de que a lei de 2008 deixava a desejar em todo o seu contexto, pois mesmo que já existisse, não impunha a sua aplicabilidade com a nova lei de 2014. A aplicação ocorria geralmente nos casos de acordos e que não dava visibilidade às decisões judiciais que firmavam a Guarda Compartilhada, em alguns casos ilegítimos. Freitas (2008, p. 72) ressalta: Mesmo não havendo um bom relacionamento entre os pais, há possibilidade da guarda compartilhada, quando estes servem de âncora social ao menor. A guarda compartilhada é apropriada a todos os casos, devendo ser analisados os benefícios que trará para os pais e, principalmente, aos filhos. A Lei da Alienação Parental - Lei nº 12.318/10, no seu artigo 6º, previa a alteração da Guarda Unilateral em Compartilhada e vice-versa, sendo uma das 203 opções para ajudar no combate à alienação parental: Art. 6º [...] V – determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão. Até a entrada da Lei nº 13.058/14 em vigor, a guarda da criança ou adolescente era fixada com o genitor que tivesse melhores condições socioafetivas ao menor, sendo que a questão financeira não seria mais a condição determinante, em virtude de que a pensão alimentícia acabaria com as diferenças econômicas entre os genitores. Sendo previsto no art. 7º da Lei nº 13.058/14: Art. 7º A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada. Sendo assim, a definição de guarda, na prática, era para aquele que cumpria a fixação judicial, e que dificilmente haveria uma modificação, até mesmo em casos de alienação parental. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Ambos os pais, perante a lei, tiveram o direito de fiscalização, auxílio e decisão, sobre o menor, independente da guarda, e pelo instituto Poder Familiar. No cotidiano e na prática, o genitor que não estava com guarda física do filho, quase sempre se sente impedido de ajudar nas tarefas diárias relacionadas à orientação e educação do menor, restando apenas o auxílio através da pensão alimentícia. Atualmente, no Brasil, a guarda compartilhada é comparada de certo modelo como a de Portugal, onde não existe a discussão de guarda, sendo de responsabilidade de ambos os pais a educação, orientação e pensão, de forma conjunta. Uma das principais alterações que a Lei nº 13.058/14 trouxe em destaque é a sua aplicação compulsória, finalizando a discussão litigiosa de qual instituto poderá ser aplicado, e centralizando apenas nas discussões pertinentes à residência base, período de convivência e pensão alimentícia. 204 Para Freitas (2008, p. 2008, p. 41): O novo conceito de Guarda consiste na condição de direito de uma ou mais pessoas, por determinação legal ou judicial em manter um menor de 18 (dezoito) anos sob sua dependência sociojurídica, devendo ser, de regra, compartilhada quando houver ambos pais, mesmo que separados. Com o surgimento da nova lei da guarda compartilhada, o atual sistema brasileiro de tomadas de decisões passou a ser compartilhado, “joint legal custody”, e em alguns casos passou a ser aplicado como o compartilhamento da guarda física e de responsabilidades diárias, “joint physical custody”. Caberá ao Judiciário o poder, através de uma equipe interdisciplinar, de discutir a modalidade de guarda, no que se refere ao domicílio predominante do menor e o período de convivência entre os genitores. Existem várias opiniões equivocadas sobre a lei da guarda compartilhada, onde se critica que o período de convivência terá que ser dividido igualmente entre SERVIÇO SOCIAL em foco ii os pais. A nova lei sugere em seu contexto, com bastante clareza, que deverá ser fixado algo que traga benefícios à criança e ao adolescente, porém em seu texto deixa clara a obrigação de fixar residência base durante o período de convivência equilibrado, e não dividido igualmente. Conforme as alterações do art. 1.583 do Código Civil, passou a vigorar: § 2º Na guarda compartilhada, o tempo de custódia física dos filhos deve ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos. § 3º Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos filhos será aquela que melhor atender aos interesses dos filhos. (Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/busca?q=Art.+1583+do+C%C3%B3digo+Civil>. Acessado em: 22 maio 2015). O artigo acima citado referencia que a custódia física dos filhos deve ser de forma equilibrada, e segundo o dicionário, entende-se por equilibrado como 205 aquilo “que se equilibrou, contrabalanceado, em harmonia”. Diante desse conceito, a lei afirma que não existe harmonia, ou equilíbrio na convivência entre um pai ou mãe com seu filho, quando passa apenas os finais de semana com ele, e que são intercalados quinzenalmente, ou seja, são quatro dias para 26 dias, em relação a um genitor e outro. Perante situações concretas, para existir o equilíbrio exigido na lei, a criança ou adolescente deverá ter o convívio com um de seu genitor, ao menos oito dias por mês, correspondendo aos finais de semana alternados, contando de sexta-feira até no domingo, e uma vez por semana com o genitor quando o mesmo não passar o fim de semana com este. Para Freitas (2014, p. 41): Em suma, a redação da atual Lei da Guarda Compartilhada (13.058/14), ao trazer a expressão “equilíbrio” para a fixação do sistema de convivência, pode-se afirmar que a mesma sugere que não haja para um dos genitores, SERVIÇO SOCIAL em foco ii período menor que oito dias no mês de convivência com o filho. E, para fins técnico-doutrinários, entende-se que menos do que 10 dias por mês com um dos genitores, a Guarda Compartilhada será considerada sem residência alternada e, com 10 ou mais dias com um dos genitores, a Guarda Compartilhada será considerada com residência alternada. Estudos psicológicos sobre a guarda compartilhada demonstram que o maior contato com os pais é saudável para a criança e adolescente no que se refere ao seu desenvolvimento. FIGURA 19 - GUARDA COMPARTILHADA 206 FONTE: Disponível em: <http://paginadoenock.com.br/ainda-ha-juizes-em-mato-grosso-juizaeulice-cherulli-da-3a-vara-especializada-de-familia-de-varzea-grande-ganha-destaque-nacional-porpaticipar-ativamente-na-formulacao-da-lei-da-guarda-compartilhad/>. Acesso em: 26 de maio 15. Sendo assim, conforme a Lei nº 13058,14, compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: I - dirigir-lhes a criação e a educação; II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do; III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; SERVIÇO SOCIAL em foco ii V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro município; VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assistilos, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição”. (NR) AUTOATIVIDADE 43) Com a aprovação da Lei nº 13.058, em 2014, a Guarda Compartilhada teve um significativo avanço, e passou a exigir novas configurações 207 familiares. Assinale a alternativa correta: a) A Guarda Unilateral foi efetivada. b) Mesmo com consenso dos genitores, a Guarda Unilateral se efetivou nos casos onde o pai é tutor. c) Mesmo com consenso dos genitores, a Guarda Unilateral se efetivou nos casos onde a mãe é a tutora. d)O que era uma possibilidade passou a ser uma regra, onde o tempo de convivência entre filhos de pais separados seja dividido de forma igual. 44) A Lei da Guarda Compartilhada veio para suprir lagunas existentes na lei: a) Estatuto da Criança e do Adolescente. b) Lei da Redução da Menor Idade Penal. c) Lei de Combate à Alienação Parental. d) Código Penal. SERVIÇO SOCIAL em foco ii Referências ANDRADE, Denise Barbosa Milward de. O processo de reestruturação produtiva e as novas demandas organizacionais para o Serviço Social. 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