Uso de substancias por estudantes da UNICAMP

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Uso de substancias por
estudantes da UNICAMP
Paulo Dalgalarrondo
2013
Relação Ser Humano-Substâncias Psicoativas
• Desde tempos préhistóricos e em todas as
sociedades:
• Seres humanos buscam
bebidas, alimentos, plantas
para:
– Sentir prazer
– Alterar o estado de
consciência
– Sentir-se mais alegre,
disposto, poderoso
– Aliviar a dor, a fome e o medo
– Entrar em contato com o
mundo espiritual
– Tentar curar doenças
Ìsis recebe vinho de um escravo
História do Alcoolismo
• Na idade média: quantidade
e qualidade do vinho decaiu
• Expansão Europeia e
Industrialização
– Novas formas de produção
– Novas formas de estocagem
– Novas formas de transporte e
comércio
Bebidas alcoólicas
tornam-se
amplamente
disponíveis
História do Alcoolismo
• Nos Séculos XVIII e XIX:
– Revolução industrial e
urbanização
– Grande disponibilidade de
bebidas alcoólicas
– Aglomerados humanos
– Capitalismo nascente
– Massa de trabalhadores
explorados
Surge o termo
“Alcoolismo”
Magnus Huss,
1852
Cultura e Alcoolismo
• A cultura influencia:
– O modo como se bebe:
• Lugar, ocasiões, companhia, quantidade
– A finalidade de beber
– Quem pode e quem não pode beber
– Regras e sanções sociais para o beber e para a
embriagues
Cultura e Alcoolismo
– O que é beber problemático ou excessivo
– O que é aceito no beber e o que é transgressão
– O que é alcoolismo:
• Desvio moral, doença física ou mental,
fraqueza de caráter, “afastamento da religião”
opção pessoal, modo de ser, perda da liberdade, etc.
Cultura e Alcoolismo
• Haveria sociedades ou culturas alcoolgênicas
ou alcoolfílicas?
– Países islâmicos tem prevalências menores de
consumo e alcoolismo
– Irlandeses-Americanos e Franceses consomem
muito→abuso e dependência
– Italianos: consomem muito mas ↓ abuso e
dependência
– Certo padrão de cidade e de sub-culturas no Brasil
parecem favorecer o consumo de álcool
Conseqüências do Abuso e Dependência
do Álcool
• Mais de 60 condições médicas associadas ao
uso abusivo de álcool
• 4% da carga total das doenças da humanidade
são devidas ao álcool
• Causa tanta morbidade e mortalidade quanto
o tabagismo e a hipertensão
Não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino
Leminski
Condições Médicas e % estimada atribuída ao
Álcool
Cirrose hepática
Câncer de esôfago
Câncer de fígado
Câncer de boca/orofaringe
Epilepsia
Hemorragia cerebral
Causas Externas
Homicídios
Acidentes automobilísticos
Envenenamentos
Afogamentos
32%
29%
25%
19%
18%
10%
24%
20%
18%
10%
Epidemiologia do Alcoolismo
• EUA: 13% de prevalência na vida (Helzer, 1992)
• Brasil: 7-9% (Almeida Jr. et al., 1997)
• Homens tem risco maior do que mulheres (23:1) mas está aumentando nas
• Depois dos 50 anos tende a cair a incidência e
aumentar a abstinência
Tabagismo
• Uso milenar
• Produção industrializada gerou
padrão de consumo em massa
• Life style ocidental difundiu
amplamente seu uso →
epidemia mundial
• Dependência desenvolve-se
rapidamente
• Dependência é altamente
influenciada por
condicionamentos ambientais
Tabagismo
• Conseqüências:
– Doença pulmonar obstrutiva crônica
– Vários tipos de Câncer (pulmão, esôfago,
intestino, boca, estômago, etc.)
– Doença cardíaca coranariana
– Doença vascular periférica
• Período colonial:
Maconha
• Trazida ao Brasil pelos
escravos africanos
Brancos fumavam cigarro de
tabaco e negros fumavam a
marihuana
• No intervalo das atividades
agrícolas os escravos fumavam
como diversão
•Introduzida em rituais
religiosos dos negros no
nordeste:
• Catimbó,
•“Candomblé de Caboclo”
•Induziria adivinhações,
revelações de segredos e
alucinações místicas
Maconha
• Superstições relacionadas
ao cultivo da planta
– Mulher menstruada, assobiar
ou falar obscenidades
• No Brasil rural foi usada
como erva medicinal
– Para dores de dentes e cólicas
menstruais
• No século XX difundiu-se
entre pescadores,
jangadeiros, caiçaras
Maconha
• Ao longo do século XX passou a ser usada por grupos
marginalizados:
– Prisioneiros, carregadores de navios, prostitutas
– Nos anos 50 passa a ser usada por escritores e alguns
intelectuais
• A partir dos anos 60:
–
–
–
–
–
Passa a ser consumida de forma crescente por adolescentes
Torna-se de uso epidêmico
1ª droga ilícita usada por jovens
Acesso, disponibilidade tem aumentado nos últimos anos
Concentração de princípios ativos tem aumentado
Maconha:Implicações
• Uso na adolescência:
– Pior rendimento escolar
– Maior risco problemas de saúde
mental
• Dalgalarrondo, Soldera et al., 2004
• Maconha: uso contínuo em
adolescentes (antes dos 15/16anos)
– Risco aumentado de desencadear
psicoses (inclusive esquizofrenia)
• Maconha: uso contínuo em adultos
– Prejuízos da memória e do aprendizado
Efeitos dose-resposta:
Quanto mais precoce e mais intenso
o uso, maiores os riscos
Cocaína
• Utilizada em várias culturas há séculos
• Potente efeito estimulante e
euforizante
• Tornou-se um problema médico, social
e criminológico na segunda metade do
século XX
• Pode ser:
– Inalada → pó
– Injetada → pó dissolvido em água
– Fumada → crack
Cocaína
• Surgimento do Crack e
barateamento da produção e
comercialização do pó:
– Conseqüências graves sobre a
sociedade
– Desorganizou e incrementou a
criminalidade em grupos de
jovens de bairros pobres
– Crianças e Adolescentes de Rua
• Conseqüências do Crack:
– Dependência relativamente
rápida
– Condições associadas:
• Aids e outras DST, cardiopatias,
Infarto do Miocárdio, Hipertensão
arterial, Rinite etc.
– Associação com tráfico e crime
organizado
O ecstasy. Usado em
Raves.
TESE de Mestrado
MARLY COELHO CARVALHO NEVES
ESTUDANTE DE GRADUAÇÃO DA UNICAMP: saúde
mental autoavaliada e uso de risco de álcool e de
outras substâncias psicoativas
Orientador: Paulo Dalgalarrondo
CAMPINAS
2007
Uso de Substâncias Psicoativas por
Estudantes da UNICAMP
• A coleta dos dados:
• outubro de 2005 ► novembro de 2006
• realizadas entrevistas em salas de aula, sendo
1.306 questionários
– 1.303 preenchidos e 03 entregues em branco.
– questionário em sala de aula teve a duração
média de 1 hora.
Uso de Substâncias Psicoativas por
Estudantes da UNICAMP
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Campus Barão Geraldo/Campinas:
1. Engenharia Agrícola
2. Engenharia de Alimentos
3. Fonoaudiologia
4. Medicina
5. Engenharia Civil
6. Arquitetura
7. Pedagogia,
•
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•
incluindo turmas Proesf e Pefopex (de formação de professores da rede municipal e estadual em
exercício na profissão)
8. Física
9. Engenharia Química
10. Música
11. Estatística
12. Engenharia da Computação
13. Estudos Literários
Uso de Substâncias Psicoativas por
Estudantes da UNICAMP
•
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•
•
•
Campus CESET/Limeira:
14. Tecnologia em Telecomunicações (CESET)
15. Tecnologia em Informática (CESET)
16. Tecnologia da Construção Civil (CESET)
17. Tecnologia em Saneamento Ambiental
(CESET)
Uso de Substâncias Psicoativas por
Estudantes da UNICAMP
• As áreas foram representadas da seguinte
forma na pesquisa:
• 1. (27%) Ciências humanas e artes;
• 2. (18%) Profissões da saúde;
• 3. (55%) Ciências básicas, exatas e
tecnológicas.
Uso de Substâncias Psicoativas por
Estudantes da UNICAMP
• 1.290 questionários analisados nesta
pesquisa, verificou-se que
– 716 (55,5%) sexo feminino
– 571 (44,5%) sexo masculino
• faixa etária entre 17 e 23 anos
Sintomas de Transtornos Mentais
Algum possível
Transtorno Mental
Feminino (%)
Masculino (%)
Total (%)
Sim
494 (69,0)
256 (45,0)
750 (58,0)
Não
220 (31,0)
313 (55,0)
533 (42,0)
Total
714 (100)
569 (100)
1283 (100)
Saúde Mental
• No segundo modelo, associaram-se com ter algum tipo de
transtorno mental auto-referido as seguintes respostas das
variáveis independentes testadas:
1. Pertencer ao sexo feminino (Odds=3,0)
2. Sentir o relacionamento com os amigos como “ruim” (Odds=2,5)
3. Sentir-se discriminado (Odds=2,3)
4. Sentir-se indiferente e mal como estudante da UNICAMP
(Odds=1,5)
• 5. Ter estudado em escola pública no ensino fundamental
(Odds=1,3)
•
•
•
•
– Foram excluídas deste modelo as variáveis “ter sido atendido por um serviço
de saúde mental na UNICAMP” e “alguém da família teve problemas com uso
de álcool ou drogas”.
Padrão de uso de álcool
• 24% dos estudantes: bebedores de risco,
• de acordo com a definição da Organização Mundial de
Saúde para os que pontuam oito ou mais no AUDIT
(Babor et al., 1992).
– maior prevalência de uso de risco de álcool entre:
• sexo masculino (35%)
• sexo feminino (15%) (p=0,000).
Associaram-se com uso de risco de álcool:
1. Não ser virgem (Odds=3,4)
2. Não namorar (Odds=2,6)
3. Ter vida sexual ativa (Odds=2,2)
4. Sexo masculino (Odds=2,1)
5. Receber apoio para as dificuldades dentro da
UNICAMP (de amigo (a), namorado (a) e outros)
(Odds=1,8)
• 6. Não considerar a religião importante para a
identidade pessoal e social (Odds=1,6)
• 7. Apresentar baixo rendimento acadêmico (Odds=1,4)
•
•
•
•
•
O uso de substâncias psicoativas pelo menos uma vez
na vida
• tabaco (38,3%)
• maconha (25,0%)
– Bebedor de Risco (24%)
• solvente (19,9%)
Associaram-se com “uso de drogas”:
• 1. Não ser virgem (Odds=5,1)
• 2. Ter tido pouca educação religiosa na infância
(Odds=1,9)
• 3. Não ter religião (Odds=1,8)
• 4. Ter carro pessoal (Odds=1,7)
• 5. Sentir-se indiferente e mal como estudante da
UNICAMP (Odds=1,6)
• 6. Ter perdido algum semestre do curso
(Odds=1,6)
O uso de substâncias psicoativas
•
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•
•
calmante (9,0%);
anfetamina (6,9%);
cocaína em pó (3,9%);
ecstasy (3,5%);
alucinógeno (3,2%);
outras drogas para “dar barato” (2,8%);
crack (0,7%)
esteróide/anabolizante (0,7%).
A categoria “uso de drogas” foi criada, considerando-se o uso de maconha no
mês e/ou o uso das demais substâncias psicoativas abordadas no questionário
(exceto tabaco e calmantes) na vida, no ano e no mês.
• Os dados gerais indicaram que 27% dos estudantes
relataram fazer
• “uso de drogas”,
– no sexo masculino (33%)
– do que no sexo feminino (22%) (p=0,000).
“Comportamento de risco” e uso de
álcool/drogas
• Categoria “comportamento de risco” criada a partir do
agrupamento de dois tipos de comportamentos de
risco considerados neste estudo:
– (1) beber (e/ou usar droga) e dirigir;
– (2) beber (e/ou usar droga) e ter relação sexual com
parceiro (a) desconhecido (a).
• Os resultados indicaram que
– 25% dos estudantes apresentaram tal comportamento de
risco,
• homens (37%),
• mulheres (15%) (p=0,000).
Associaram-se com
“comportamento de risco”:
• 1. Não ser virgem (Odds=9,8)
• 2. Relatar que a vida religiosa tornou-se menos intensa
após entrada na UNICAMP (Odds=2,8)
• 3. Pertencer ao sexo masculino (Odds=2,7)
• 4. Ter carro pessoal (Odds=2,4)
• 5. Ter perdido algum semestre do curso (Odds=2,2)
• 6. Escolaridade alta da mãe (curso superior) (Odds=2,2)
• 7. Não namorar (Odds=1,6)
• 8. Relatar que desenvolve pesquisa (Odds=1,5)
Conclusões
• O gênero feminino esteve mais associado a ter algum tipo
de sofrimento mental subjetivo, além de apresentar
maiores dificuldades psicossociais (interpessoais e
ambientais) autopercebidas.
• O masculino esteve mais envolvidos com uso de risco de
álcool e uso de substâncias psicoativas pela análise
univariada de “uso de drogas”),
– assim como estão mais envolvidos em comportamentos de risco
relacionados a tais usos, como beber e/ou usar drogas e dirigir;
e beber e/ou usar drogas e ter relação sexual com parceiro (a)
desconhecido (a).
– Também encontrou-se entre os rapazes pessoas mais inseridas
nas relações sociais e com melhor condição sócio-econômica.
Conclusões
• As garotas parecem identificar melhor seu
sofrimento e buscar mais auxílio para as
dificuldades vividas.
• Ao contrário, os rapazes parecem não associar
uso de risco de álcool e de substâncias
psicoativas a possíveis prejuízos de ordem
física (envolvimento em comportamentos de
risco) e/ou mental.
Políticas de Saúde Pública
1.
2.
3.
4.
Educação e orientação realista e culturalmente sensível
Programas de prevenção contínuos, reavaliados
periodicamente
Medidas para diminuir o acesso de SPA (preço, locais,
horários)
Detectar e tratar as pessoas com problemas sérios,
sobretudo os que já tem uma dependência à
substância
1.
2.
De forma humana e científica
Não moralizar, punir ou criminalizar
Acolher, orientar e, se possível, tratar
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