A superstição, a idolatria, a advinhação, a magia, o ateísmo e o agnosticismo frustram e deturpam a dimensão religiosa que é inata ao ser humano porque criado por Deus para participar da sua felicidade plena. A nossa relação com Deus preconizada pelo Primeiro mandamento do Decálogo, vista na perspectiva da simbólica da aliança matrimonial, exige unicidade e exclusividade. Deus é "ciumento" e afirma categoricamente: "Não terás outros deuses diante de mim" (Ex 20,3). Preserva-nos assim da SUPERSTIÇÃO, que é definida como "o excesso perverso da religião", um "desvio do sentimento religioso", uma degeneração da prática religiosa autêntica, atribuindo propriedades mágicas à mesma. O seu pólo contrário é a IRRELIGIÃO, ou seja a "deficiência" da virtude da religião, inata à pessoa humana. Oferece também antídoto para a IDOLATRIA, o POLITEÍSMO e o PANTEÍSMO (cf. Sl 115,4-5.8), que é a pretensa divinização do que não é Deus. É adorar a criatura (Estado, raça, antepassados, poder, prazer, riquezas, natureza, animais, coisas ou pessoas), negando ou comprometendo o senhorio exclusivo e absoluto do Deus Vivo e Verdadeiro, cujo fundamento antropológico é o fato de a vida humana ser unificada pelo Único. Isto "simplifica a vida do ser humano e o livra de uma dispersão infinita" (cf. Catecismo da Igreja Católica nn. 2110-2132). O cristão confia na Providência divina e sabe resistir à curiosidade doentia pelo desejo de controlar todas as coisas pela sua pretensão de "onipotência" a respeito de tudo e a fantasiosa obtenção de "poderes ocultos". Sabe também que "a imprevidência pode ser uma falta de responsabilidade". Toda a existência humana é sempre uma empreitada feita, no mínimo, a "quatro mãos": Deus e nós! Assim sendo, rejeitamos toda forma de ADIVINHAÇÃO por quaisquer meios que sejam: recurso aos demônios, evocação de mortos, astrologia, quiromancia, esoterismo, sortilégios, feitiçarias, videntes e médiuns, sobretudo quando o intento é prejudicar a outrem. Configuram-se também como "atos de irreligião" tentar a Deus pondo-o à prova ou duvidando de sua bondade e onipotência, desconfiando de seu amor incondicional para com as suas criaturas. Chama-se SACRILÉGIO toda forma de profanação ou tratamento indigno dado às coisas, lugares, ações litúrgicas e pessoas consagradas; e de SIMONIA (cf. At 8,20) a tentativa de adquirir realidades espirituais pela força do poder ou do dinheiro. Enquanto o fenômeno do ATEÍSMO é mais complexo, pois pode manifestar-se por exemplo pelo chamado "materialismo prático" ou pelo "humanismo ateu", uma recusa explícita ou certas formas de INDIFERENTISMO religioso. A Igreja humildemente reconhece que a imputabilidade desta falta pode ser diminuída quando consideramos a parcela de responsabilidade ou a omissão daqueles que se dizem cristãos e pessoas de fé, mas que por sua prática "religiosa, moral e social, se poderia dizer deles que mais escondem do que manifestam o rosto autêntico de Deus e da religião". O ateísmo muitas vezes também "se funda em uma concepção falsa da autonomia humana, que chega a recusar toda dependência em relação a Deus". Importa ainda considerar que a rejeição ou esquecimento de Deus podem Ter origem diversas: a revolta contra o mal no mundo (teremos ocasião de retomar o assunto com a questão: se Deus existe e é Bom, por que exista o mal e de onde vem?), as preocupações com as coisas do mundo e com as riquezas – como na parábola de Jesus sobre a semente e os diversos tipos de terrenos (cf. Mc 4,13-20), a influência das correntes de pensamento hostis à religião e mesmo a atitude típica do homem pecador que, por medo, se esconde da presença de Deus (cf. Gn 3,10). Há também o AGNOSTICISMO e suas diversas formas, para quem a té poderá existir um Ser Transcendente ("deísmo"), mas que jamais poderia revelar-se e sobre o qual ninguém seria capaz de dizer nada, sendo impossível prová-lo e mesmo negá-lo. Esta postura pode até conter certa "busca" sincera de Deus e da verdade, mas também pode manifestar indiferentismo ou mesmo uma fuga da pergunta fundamental sobre a sua existência ou preguiça de sua consciência moral. Concretamente, por vezes, redunda em "ateísmo prático", ou seja, em "viver como se Deus não existisse", mesmo que não se propugne ou defenda teoricamente a sua inexistência como no "comunismo ateu" marxista. Vale recordar que em sua encíclica FIDES ET RATIO (A Fé e a Razão, de 14/08/98) o Papa João Paulo II acertadamente observa que "a razão, sob o peso de tanto saber...curvou-se sobre si mesma...(e) a filosofia moderna, esquecendo-se de orientar a sua pesquisa para o ser, concentrou a própria investigação sobre o conhecimento humano (e) sublinhou as suas limitações e condicionalismos. Daí provieram várias formas de agnosticismo e relativismo..., a perder-se nas areias movediças de um ceticismo geral... A legítima pluralidade de posições cedeu lugar a um pluralismo indefinido, fundado no pressuposto de que todas as posições são equivalentes... (e) tudo fica reduzido a mera opinião... Contentam-se de verdades parciais e provisórias (o que) deixa sobretudo os JOVENS...com a sensação de estarem privados de pontos de referência autênticos... O caráter fragmentário de propostas que elevam o efêmero ao nivel de valor, iludindo assim a possibilidade de se alcançar o verdadeiro sentido da existência" (nn.5-6). No próximo bloco trataremos de assuntos polêmicos, especialmente para alguns irmãos "evangélicos": a veneração das imagens sacras e o culto à Virgem e aos Santos. Isto se coaduna com a Biblia? Veremos...