Do espaço para a terra: sensoriamento remoto no - DSR

Propaganda
Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE
Do espaço para a terra: sensoriamento remoto no estudo das transformações do espaço
vivido no ensino escolar
Gisieli Kramer1
Suemy Aparecida Eloy Foletto1
Rosiley Berton Pacheco1
Luciana Leindecker Palinkas1
Inês Santa Guimarães Altenhofen1
Antonia Aparecida Verginotti2
Marli Verginotti De Macedo2
Camila Mariane Ribeiro2
1
Universidade Paranaense – UNIPAR
Caixa postal 111 - 85980-000 – Guaíra-PR, Brasil
{gisieli, suemy, rosiley, lule, ines}@unipar.br
2
Universidade Paranaense – UNIPAR
Caixa postal 111 - 85980-000 – Guaíra-PR, Brasil
{ca_m_ribeiro, antoniavlima, marlivm2010}@hotmail.com
Abstract. With the focus on information and analysis, remote sensing images can provide new skills to teachers
who previously have only worked with traditional teaching methods. Primarily, especially when working with
content supported by satellite images, the teaching process ceases to be purely abstract. In interdisciplinary
History and Geography classes, fifth grade students from Ana Maria Roggia Municipal Elementary School were
instructed to investigate images displaying the historical transformations and environmental changes of the city
of Guairá, Paraná. A lecture, supported with satellite images from different time periods, entitled "Remote
sensing: satellites and their images", was presented and students were asked to identify the differences and
similarities in the city in terms of natural and manmade elements. To systematize the information, an exam was
given with objective questions and an essay. A successful result was obtained using the proposed methodology.
Although it was found that no student had had previous contact with satellite images before, they showed interest
in the practice of working with images. They demonstrated that effective learning and knowledge was gained by
comparing the differences and similarities of the city and identifying themselves as conscious and participatory
agents in the inhabited space.
Key words: Images, teaching resource, History, Geography, imagens, recurso de ensino, História, Geografia.
1. Introdução
A disseminação das geotecnologias proporciona ao educador recursos de ensino que
enriquecem as atividades em sala de aula. A análise e interpretação de dados contidos no
espaço geográfico, em imagens de satélite de diferentes épocas, por exemplo, podem
evidenciar transformações sociais, econômicas e ambientais no estudo de História e
Geografia.
Essas transformações devem ser trabalhadas pelo professor, o qual agora tem que
ultrapassar o papel de simples intermediário na explicação dos mapas e se tornar um leitor /
mapeador consciente. Neste aspecto, estará proporcionando a dinamização de suas aulas, com
a incorporação dos recursos tecnológicos (geo) informacionais, sobretudo, sem deixar o livro
didático de lado (SILVA, 2012).
De acordo com Santos (2011) produtos da técnica do sensoriamento remoto como
imagens de satélite, fotografias aéreas ou terrestres são recursos (geo) informacionais
excelentes para o estudo, compreensão do processo, uso e ocupação do espaço geográfico.
Valoriza-se com essa técnica a visualização do local vivido, bem como dos recursos naturais
ali existentes. Nesses termos, a riqueza de detalhes possíveis de abstrair em imagens enaltece
2611
Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE
o levantamento de diversas informações que propiciam a compreensão dos fatos como se
fossem fotografias do processo histórico que se constrói e se destrói.
Ao visualizarmos uma fotografia ou a previsão do tempo na televisão através de imagens,
veem-se produtos do sensoriamento remoto. Caracterizados pela utilização de sensores, a
técnica é semelhante às máquinas fotográficas, que adquirem imagens (fotografias) ou outro
tipo de informação, sem o contato direto entre o sensor e a alvo (CORAZZA et al, 2005).
As imagens evidenciam a organização populacional, os lugares, as localidades, as
paisagens, os elementos construídos, seja a escola, a igreja, cada uma dessas realidades
espaciais inseridas em um processo histórico que fazem parte da nossa vivência e que por um
motivo ou outro nos trouxeram transformações. Nesse contexto, o trabalho envolvendo
produtos do sensoriamento remoto proporciona ao aluno condições de análises sobre
transformações realizadas pela ação antrópica. A exploração do patrimônio natural das sete
quedas que existia na cidade de Guaíra, é um bom exemplo das transformações ocorridas no
espaço vivido e identificáveis na comparação de imagens de diferentes épocas.
Desse modo, as imagens de satélite podem ser utilizadas como recursos de ensino para a
compreensão do processo uso e ocupação dos espaços e seus problemas sócios ambientais em
estudos disciplinares e interdisciplinares (SANTOS, 2011a). Assim é possibilitado novas
formas de interação entre conteúdos, a exemplo de História e Geografia, implicando em
conhecer as verdadeiras relações entre o homem e suas tecnologias e ampliando seus
conhecimentos entre passado e presente.
Por sua natureza interdisciplinar e o estabelecimento de relações dialéticas entre local e o
global, a utilização dos produtos do sensoriamento remoto no processo ensino-aprendizagem
proporcionam o desenvolvimento de atitudes críticas e participativas dos alunos, em busca da
transformação do espaço, enquanto exercício de cidadania (2011b).
Com o mesmo posicionamento das ideias abordadas, os Parâmetros Curriculares
Nacionais de História e Geografia (BRASIL, 2000) sugerem estudos comparativos para a
percepção das semelhanças e das diferenças, das permanências e das transformações das
vivências humanas no tempo, em um mesmo espaço, acrescentando as caracterizações e
distinções entre coletividades diferentes, pertencentes a outros espaços. Além disso, o
conhecimento e compreensão de algumas conseqüências das transformações da natureza
causadas pela ação antrópica, presentes na paisagem local, são fundamentais para o exercício
de atitudes críticas, responsáveis e construtivas na criança (BRASIL, 2001).
Atualmente a falta de conhecimento pelos professores gera um tabu sobre esses novos
recursos de ensino. Isso ocorre porque a metodologia de trabalho desse professor, muitas
vezes, é concentrada no ensino tradicional, pautando-se em disciplinas meramente descritivas,
enciclopédias decorativas distante da realidade vivida pelos alunos, onde a decoreba, ainda
acaba imperando (SILVA, 2012). Tudo que é novo causa certo receio, e o medo de mudar é
muito grande, ainda mais em professores que estão acostumados a trabalhar apenas com livros
didáticos. Piletti (2010) aborda essa questão e afirma que os recursos didáticos, os
procedimentos de ensino, o conteúdo, as atividades práticas e exercícios são valiosas fontes
de incentivo. Pereira Filho (2008) complementa ao defender o uso de imagens advindas da
tecnologia do sensoriamento remoto como potenciais recursos didático-pedagógico para o
ensino de diversas disciplinas. Todavia, ressalta a importância das metodologias adequadas
para sua utilização no contexto escolar.
No desenvolvimento desse projeto, alunos do quinto ano do ensino fundamental da Escola
Municipal Ana Maria Roggia foram orientados a identificarem as permanências, diferenças e
transformações da sociedade, reconhecendo em imagens de satélites e fotografias terrestres,
elementos naturais e construídos na organização urbana e rural, da cidade de Guaíra - PR.
Estudos envolvendo o sensoriamento remoto e o ensino escolar já foram discutidos em alguns
2612
Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE
trabalhos como Corazza e Pereira Filho (2008), Kramer et al (2009) e Maia (2012), os quais
serviram de base para o desenvolvimento dessa pesquisa.
2. Metodologia de Trabalho
A pesquisa foi realizada por acadêmicas do quarto ano do Curso de Pedagogia da cidade
de Guaíra sob a orientação da professora Gisieli Kramer, graduada em Geografia, e da
pedagoga Suemy Aparecida Eloy Foletto. A cidade situa-se a oeste do estado do Paraná,
Brasil (Figura 1).
Figura 1. Posição geográfica de Guaíra no estado do Paraná, Brasil
Fonte: Adaptada de IPARDES, 2012.
Para o desenvolvimento da pesquisa foi utilizado em sala de aula um projetor (data show)
com auxílio de um computador, tendo como referência a Cartilha Didática “Sensoriamento
remoto: os satélites e suas imagens” (Corazza et al, 2005) e imagens de satélite Ikonos,
fotografias aéreas e fotografias terrestres de diferentes épocas.
Após a aula teórica sobre o assunto, organizaram-se os alunos em dupla e distribuíram-se
as imagens, instigando - os a apontar as diferenças e semelhanças entre o passado e o presente
da cidade de Guaíra, em função do número de moradias, construções, áreas de lazer,
ambientes naturais.
Na ocasião também debateu-se com os alunos os elementos naturais (mata nativa,
plantações, rios, as Sete Quedas e açudes) e construídos (construções, moradias, ruas e
pavimentações) na organização urbana e rural da cidade de Guaíra. Na discussão, os alunos
foram instigados a explanarem o seu aprendizado e suas opiniões através de um questionário
com 9 questões, distribuídas em objetivas e dissertativas.
3. Resultados e Discussão
A partir da análise dos questionários, utilizados como instrumento de pesquisa referente á
atividade desenvolvida em sala de aula com o auxílio da cartilha “Sensoriamento Remoto: os
satélites e suas imagens”, foi possível verificar o aprendizado dos alunos após a realização da
revisão teórica em sala de aula, bem como o interesse despertado pelo tema (Figura 2).
2613
Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE
Figura 2. Aula teórica e prática sobre o sensoriamento remoto na visualização das
transformações do espaço geográfico
A primeira questão enfocava se os alunos já tinham ouvido falar sobre sensoriamento
remoto antes da atividade desenvolvida em sala de aula. Todos os alunos responderam que
não, pois esse conteúdo, quando trabalhado em aula, é tratado de forma muito sucinta e,
conforme verificado entre os alunos entrevistados, grande parte deles nem conhecia o termo
sensoriamento remoto.
Na segunda questão do questionário, foi perguntado aos alunos se já tinham visto uma
imagem de satélite antes da atividade desenvolvida em sala de aula. Grande parte dos alunos
(75%) respondeu que não e 25% responderam que sim (Figura 3):
25%
SIM
75%
NÃO
Figura 3. Conhecimento das imagens pelos alunos.
Aos alunos que responderam sim anteriormente, na questão seguinte foi solicitado que
identificassem onde já tinham visto uma imagem de satélite antes da atividade desenvolvida
em sala de aula. De acordo com a Figura 4, 75% dos alunos responderam que conheciam as
imagens de satélite através da televisão (A). Uma porcentagem significativa dos alunos (25%)
respondeu que algum professor trouxe imagens até a sala de aula (B).
A
75%
B
25%
Figura 4. Lugares onde os alunos tinham visto uma imagem de satélite.
Na quarta questão foi solicitado aos alunos que respondessem se a atividade desenvolvida
ajudou a entender o que é sensoriamento remoto. A maioria dos alunos (81,25%) respondeu
2614
Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE
que sim, 12,25% respondeu que não e 6,25% respondeu que em partes, como pode ser
observado na Figura 5.
EM PARTES
6,25%
SIM
81,25%
NÃO
12,25%
Figura 5. Compreensão dos alunos sobre o sensoriamento remoto.
Ao serem questionados sobre o que mais tinha chamado a atenção na aula ministrada e
despertado um maior interesse pelo sensoriamento remoto com base na cartilha utilizada, os
alunos tinham várias opções: A - textos; B - Figuras; C - assunto do sensoriamento remoto e
seu estudo nas transformações da cidade de Guaíra; D - pouca coisa me interessa na
apresentação; E - nada me interessa na apresentação. De acordo com a Figura 6, 50% do total
de alunos responderam que as figuras da apresentação foram as que mais chamaram atenção,
seguindo do assunto do sensoriamento remoto (43,75%). Uma pequena parcela dos alunos
(6,25%) demonstrou pouco ou nenhum interesse na apresentação.
D
6,25%
B
50%
C
43,75%
Figura 6. Elementos que chamaram atenção na apresentação
Ao serem questionados sobre quais elementos identificados nas imagens de satélite
(questão 6) caracterizam o passado e o presente da cidade de Guaíra o patrimônio natural das
Sete Quedas (passado) e o número de casas (no passado e presente) foram elementos mais
citados pelos alunos, seguido das ruas e construções em geral (Centro Náutico Marinas, Ponte
Ayrton Senna). A identificação desses elementos foi justificada pelos alunos a partir das
imagens apresentadas em aula expositiva e vídeo.
Na sétima questão, foi solicitado aos alunos que citassem alguns exemplos dos elementos
naturais e construídos na história da cidade de Guaíra, a fim de identificarem mudanças em
relação ao passado. Mais uma vez foi citado como elemento natural o patrimônio natural das
Sete Quedas e os elementos construídos o Centro Náutico Marino e a Ponte Ayrton Senna.
Na oitava questão perguntou – se aos alunos se já tinham ouvido alguma história contada
pelos seus pais ou avós sobre o tempo que vivem em Guaíra, a etnia que pertencem, a história
das Sete Quedas. Nessa questão os alunos responderam que ouvem muito a história da
degradação do patrimônio natural das Sete Quedas.
2615
Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE
Sobre as conseqüências causadas à cidade de Guaíra com a perda das Sete Quedas, a
questão 9 enfocava como seria a organização populacional atual da cidade se ainda existisse
esse patrimônio natural.
Dentre as respostas apresentadas a essa questão destacou-se que a cidade teria mais
turistas e conseqüentemente, mais oferta de emprego melhorando a vida da população
Guairense. Por outro lado, também foi citada a extinção de muitas espécies de animais e
plantas, as quais eram importantes para o equilíbrio dos ecossistemas.
4. Conclusões
De acordo com os resultados obtidos foi possível perceber que a principio os alunos não
tinham conhecimento sobre o sensoriamento remoto e nem conheciam o termo. A maioria dos
alunos também não tinha visto uma imagem de satélite antes da atividade proposta.
Pode-se observar que os recursos utilizados ajudaram grande parte dos alunos a
compreender melhor o que é um sensoriamento remoto e a importância de sua utilização no
processo da aprendizagem. As modificações no espaço geográfico da cidade de Guaíra
puderam ser vistas, analisadas e comparadas entre períodos diferentes.
Como agentes participativos no processo da aprendizagem, a maioria dos alunos
demonstrou grande interesse na aula apresentada, fazendo perguntas e inovando seus
conhecimentos sobre um assunto antes desconhecido e que fazia parte da sua vida.
Em síntese, a utilização do sensoriamento remoto como recurso de ensino para o estudo
de História e Geografia é eficiente ao passo que o aluno visualiza as transformações
materializadas no ambiente em que vivem.
Agradecimentos
Ao apoio dessa pesquisa pela Universidade Paranaense – UNIPAR, à coordenadora do
curso de Pedagogia, unidade de Guaíra – Suemy Aparecida Eloy Foletto – e à escola de
Guaíra concedente do estudo, sem a qual não seria possível o desenvolvimento desse projeto.
Referências Bibliográficas
Brasil. Parâmetros Curriculares Nacionais: História e. Geografia. 2. ed. Secretaria de Educação Fundamental.
Rio de Janeiro, 2000.
Brasil. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio ambiente e saúde. 2. ed.
Fundamental. Rio de Janeiro, 2001.
Secretaria de Educação
Corazza, R, et al. (2005). A construção da cartilha didática para o ensino das noções básicas de
sensoriamento remoto ao terceiro ciclo do ensino fundamental. Jornada de La Educacion em La Percepcion
Remota El Âmbito do Mercosul, v1, 2005.
Corazza, R.; Pereira Filho, W. O uso de imagens de satélite no ensino de Geografia com ênfase nas teorias dos
níveis de desenvolvimento cognitivo e do construtivismo de Jean Piajet. Revista GEO UERJ, Rio de Janeiro:
v.2, n.18, p. 165-185, 2 semestre de 2008.
Kramer, G. et al. O uso do sensoriamento remoto como recurso didático para o ensino da Geografia no
sexto ano do ensino fundamental. Anais XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Natal, abril 2009.
Disponívelem:<http://marte.dpi.inpe.br/col/dpi.inpe.br/sbsr@80/2008/11.25.16.01/doc/@indice.htm#k>. Acesso
em: 04 abril. 2012.
Maia, D. C. Aulas de Geografia com imagens de satélite meteorológico. Revista Geografia, São Paulo: Escala
Educacional, Ed. 40, p. 48-59, jan, 2012.
Piletti, C. Didática Geral. 24. ed. São Paulo: Ática, 2010. 256p.
2616
Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE
Santos, V. M. N. dos. Educar no ambiente: Construção do olhar geocientífico e cidadania. São Paulo:
Annablume, 2011.
Silva, C. N. da. O ensino de cartografia na era da (geo) informação. Revista Geografia, São Paulo: Escala
Educacional, Ed. 40, p. 24-27, jan, 2012.
2617
Download