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Produção do conhecimento científico em Sociologia
Conhecimento científico e senso comum:
Todos os indivíduos estão inseridos num meio físico e social, sendo lhes por isso
fácil emitir uma opinião pessoal sobre os fenómenos que nele ocorrem.
Essas opiniões pessoais dos indivíduos que se baseiam em representações,
noções e julgamentos individuais costumam designar-se por senso comum. Contudo
estas leituras da realidade social baseadas no senso comum não são leituras científicas
dessa mesma realidade.
No caso da realidade social, esta ainda está mais próxima dos indivíduos, pois
são eles próprios que a constituem, o que torna ainda mais fácil a emissão de opiniões
pessoais sobre os fenómenos que nela ocorrem.
O investigador social (sociólogo) utiliza estas informações fornecidas pelo senso
comum. No entanto, para construir o conhecimento científico, tem de romper com
essas explicações.
Para construir o conhecimento científico é necessário em primeiro lugar,
interrogar, formular perguntas sobre a realidade social para obter as respostas.
As interrogações colocadas deverão ter uma resposta, o que só será possível se
a disciplina (Sociologia), possuir conceitos e teorias com a capacidade para as explicar.
Por outro lado, para construir o conhecimento científico é necessário também
recorrer a métodos e técnicas para testar as hipóteses explicativas que se formulam.
Deste modo, uma disciplina científica caracteriza-se pelas interrogações que
formula, pelo conjunto de teorias que constrói e pelos métodos que utiliza.
Obstáculos à produção do conhecimento científico:
Na Sociologia, e nas outras ciências sociais, a recolha de informação tem como
base as opiniões dos indivíduos, o que as torna muito mais permeáveis do que as
ciências físicas e naturais às interpretações do senso comum. Quer isto dizer que o
senso comum é um obstáculo á produção do conhecimento científico.
Por outro lado, o sociólogo estuda a sociedade e, simultaneamente, é ele
próprio membro da sociedade que estuda, o que também poderá exercer
constrangimentos sobre a sua leitura da realidade social.
Deste modo são várias as dificuldades que se colocam à produção do
conhecimento científico em Sociologia, entre as quais se destacam:




o senso comum;
a familiaridade com o social;
a ilusão de transparência social;
as explicações do tipo naturalista, individualista ou etnocentrista.
Senso comum
As informações recolhidas com base em opiniões dos indivíduos – senso
comum são fundamentais para a construção do conhecimento sociológico, contudo é
necessário romper com esse conhecimento.
Com efeito, as opiniões dos indivíduos são mais vulneráveis a obstáculos ao
conhecimento, nomeadamente porque são condicionadas socialmente.
Deste modo, o sociólogo deve estar consciente dos condicionalismos que estão
associados às explicações do senso comum e para construir o conhecimento
sociológico tem de ultrapassar os obstáculos que essas explicações colocam.
Para superar essas dificuldades, o sociólogo poderá:
 caracterizar o contexto social, temporal e espacial em que a opinião foi
formulada;
 questionar a explicação dada, nomeadamente fazendo interrogações;
 encontrar uma relação entre a explicação e os fenómenos a que ela dá
origem, pois os factos sociais só podem ser explicados se houver uma
relação entre eles.
Assim, num determinado momento, a produção do conhecimento científico em
Sociologia (ou qualquer outra ciência social), implica a transformação das explicações
do senso comum (informações disponíveis sobre a realidade social).
Apesar do conhecimento sociológico operar uma rutura com as explicações do
senso comum, estas continuam a constituir a maior fonte de informação para o
trabalho do sociólogo.
Familiaridade com o social
O sociólogo observa a sociedade, mas ele próprio é um membro dessa mesma
sociedade. Isto quer dizer que ele próprio adquiriu a cultura da sociedade em que está
inserido e está sujeito a constrangimentos sociais dos grupos a que pertence (ex:
família, amigos).
Assim, o sociólogo, porque está inserido numa teia de relações sociais está mais
próximo da realidade social. Ora esta familiaridade do sociólogo com a realidade social
poderá influenciar a sua análise da sociedade.
Deste modo, o sociólogo, se quiser que a sua prática seja científica, deverá
tentar distanciar-se das relações sociais nas quais está inserido, esforçando-se por
romper com ideias adquiridas sobre os fenómenos sociais que vai analisar.
Ilusão de transparência social
Para a maior parte das pessoas, a realidade social é mais facilmente explicável
do que o mundo físico e natural, o que dá origem a que quase todos os indivíduos
exprimam opiniões sobre todos os fenómenos que se produzem na sociedade.
Com efeito a familiaridade da realidade social parece transmitir a ideia de que
existe uma transparência do social, o que leva a que todos os indivíduos se achem com
capacidade para explicar os fenómenos sociais.
No entanto, a vida social deve ser explicada não pela conceção que dela tem os
seus principiantes – evidências do senso comum, mas pelas causas profundas que
escapam a essa consciência.
Explicações do tipo naturalista, individualista ou etnocentrista
A prática científica também se depara com outros obstáculos que resultam do
facto da recolha da informação se basear fundamentalmente na opinião dos
indivíduos.
Com efeito, deverá ter-se em atenção que as explicações do senso comum
muitas vezes podem ser desadequadas e simplificadoras, reduzindo a complexidade da
realidade social. Neste caso encontram-se os seguintes tipos de explicações:
 naturalista;
 individualista;
 etnocentrista.
Explicações do tipo naturalista
O obstáculo naturalista consiste em explicar um fenómeno social por um fator
natural.
Explicações do tipo individualista
O obstáculo individualista reduz a explicação dos fenómenos sociais a fatores
individuais ou seja, os indivíduos explicam os seus comportamentos e o dos outros
como resultando apenas das suas opções pessoais.
Explicações do tipo etnocentrista
Os indivíduos estão integrados em sociedades e grupos sociais com culturas
distintas, refletindo as suas opiniões pessoais a cultura que aprenderam.
O problema que daqui decorre é o de que os indivíduos generalizam as suas
opiniões pessoais, mesmo quando pretendem explicar comportamentos ou
fenómenos que ocorrem em sociedades ou grupos com culturas diferentes.
Ou seja o obstáculo etnocentrista é o de reduzir a complexidade social na
medida em que, os indivíduos explicam os comportamentos ou praticas de outras
culturas tendo por base a sua própria cultura e ignorando a diversidade cultural que
existe.
A construção da Sociologia enquanto disciplina científica
Problemas sociológicos e regularidades sociais
O objeto real da Sociologia é o estudo da realidade social. No entanto ela teve
de construir o seu objeto próprio - o sociológico (problemas sociológicos).
Se tomarmos como exemplo um problema social como o desemprego, este
não se transforma de imediato em problema sociológico.Com efeito, o desemprego é
um problema importante e que afeta um grande número de indivíduos, mas isso não o
transforma num problema sociológico, pois para que tal aconteça, é necessário
formular interrogações sobre o fenómeno em análise, recorrendo a conceitos e
teorias sociológicas que permitam encontrar explicações adequadas para essas
interrogações.
A construção do objeto científico da Sociologia resulta, então do trabalho de
descoberta de relações entre os fenómenos sociais, a partir do corpo de problemas,
de conceitos e de relações que constituem a matriz teórica da Sociologia.
Por outro lado, nesse processo de construção são indispensáveis métodos e
técnicas próprios que permitem verificar as novas hipóteses explicativas encontradas.
Deste modo, a Sociologia construiu uma perspetiva própria de interrogar e
analisar fenómenos sociais, encarando os como factos sociais que envolvem relações
entre os indivíduos e integrando-os no contexto social em que ocorrem. Mas, em
simultâneo, a análise sociológica também tenta compreender o sentido que os
indivíduos atribuem à sua ação.
Por outro lado, a Sociologia também tenta encontrar as causas sociais dos
fenómenos em análise.
Com efeito, os comportamentos dos indivíduos também são condicionados
socialmente, pois a sociedade e os grupos onde estão integrados transmitem-lhes
princípios e regras de conduta que lhes estabelecem padrões de comportamento.
Deste modo, as ações dos indivíduos não são tão imprevistas como, parecem à
1ª vista, podendo através da análise sociológica, encontrar-se regularidades no
comportamento dos indivíduos.
Construção do conhecimento sociológico
A perspetiva sociológica de interrogar e analisar fenómenos sociais tem como
grande objetivo descobrir explicações sociais dos factos sociais. Muitas vezes,
encontrar essas explicações torna-se bastante difícil, pois o senso comum, uma das
principais fontes de informação sociológica, está na origem de diversos obstáculos à
produção do conhecimento científico.
Neste sentido, o Sociólogo, para construir o seu objeto científico, deverá tentar
ultrapassar esses obstáculos, começando por fazer perguntas sobre o fenómeno
social que pretende analisar. Ora, essas respostas só poderão ser dadas se os
conceitos, as relações entra conceitos, as teorias, etc., já elaboradas pela Sociologia,
permitirem explicar de uma forma adequada as interrogações colocadas e/ou as
explicações encontradas sobre o fenómeno em análise. Desta forma, transformam-se,
como vimos, os problemas sociais em problemas sociológicos.
Neste sentido, as teorias da Sociologia, tal como acontece noutras ciências
sociais, desempenham um papel fundamental na construção do conhecimento.
Contudo as teorias não são o único instrumento que o sociólogo dispõe para a
construção do conhecimento. Com efeito, para recolher a informação que lhe permite
verificar a validade das interrogações e/ou explicações que formula sobre os
fenómenos sociais, o sociólogo pode recorrer a um conjunto de meios de
investigação: métodos e técnicas.
 métodos – sucessão de passos a realizar para explicar um fenómeno
social
 técnicas –meios de investigação utilizados para recolher e tratar a
informação
O sociólogo, para testar as hipóteses ou as novas teorias que formou terá de realizar
uma sucessão de passos, até obter a sua confirmação ou refutação. Quer isto dizer que
terá de escolher uma estratégia de pesquisa adequada aos objetivos que pretende
alcançar.
O método, sob o comando da teoria, define o percurso da investigação e
organiza a pesquisa:
 selecionando as técnicas apropriadas para a recolha de informação;
 controlando a aplicação dessas técnicas;
 integrando os resultados parciais obtidos.
Os resultados da pesquisa sociológica são amplamente examinados de uma
forma crítica, avaliando-se, nomeadamente, os seus limites e as suas potencialidades.
Esta capacidade de refleção sobre o seu próprio conhecimento costuma designar-se
por reflexividade.
Por outro lado, a Sociologia, pelo facto de analisar a vida social, produz
conhecimentos que podem afetar e influenciar as ações dos indivíduos. Ora, como as
pessoas também tem a capacidade de refletir sobe si próprias, muitos desses
conhecimentos vão ser incorporados, contribuindo para transformar as suas práticas.
Deste modo, a Sociologia, ao estimular a reflexividade social, contribui para a
estruturação e transformação das sociedades contemporâneas.
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