CORREIO POPULAR B9 Campinas, domingo, 15 de julho de 2012 Economia Coordenação:Hélio Paschoal [email protected] Editora: Marcia Marcon - [email protected] MERCADO ||| BEBIDAS As novas roupas da mesma ‘loira’ Fabricantes de cerveja investem em novos tipos de envasamento para atender a todas as ocasiões Érica Dezonne/AAN Cecília Polycarpo DA AGÊNCIA ANHANGUERA [email protected] A segmentação do mercado cervejeiro nacional é uma tendência que tem impulsionado e sofisticado o consumo da bebida. Além da grande variedade de marcas premium disponíveis nas gôndolas dos supermercados, o setor também aposta em novas formas de envasamento, como as latinhas menores, de 250 ml, e as garrafas de um litro, para atrair consumidores. A novidade do mercado são os kegs, barris de quatro a cinco litros da bebida, para o consumo coletivo em festas ou churrascos. Barris de 5 litros garantem líquido com aspecto de chope Há cinco anos, os primeiros kegs de cervejas importadas chegaram ao País, a preços pouco acessíveis a grande parcela da população. Aos poucos, as marcas nacionais aderiram à novidade e hoje os três maiores grupos responsáveis pela distribuição das principais cervejas no Brasil, a Ambev, a Coca-Cola Femsa e o Grupo Petrópolis, têm diversas variações do produto. A primeira marca mainstream a lançar seu keg foi a Itaipava, em 2009, seguida pela Skol e, em abril deste ano, a Kaiser apresento uma embalagem de 4 litros. “O mercado brasileiro passa por um momento de abertura e isso inclui também as inovações de embalagens. A embalagem keg é uma tendência para o consumo coletivo, e estamos apostando neste segmento para a marca, que desde o ano passado tem um trabalho forte de reposicionamento no mercado”, afirmou Mariana Stanischi, diretora de marketing da Kaiser. Após a cervejaria holandesa Heineken ter assumido o controle de suas operações, a Kaiser começou a elaborar sua campanha nacional para mudar a cara da marca. A ideia era primeiro entender o consumidor para depois divulgar as novidades — que incluía a segmentação das embalagens. Foram feitas 5 mil entrevistas em todas as regiões do País, onde se chegou em 7 perfis diferentes de consumidor. “Em mais de quatro desses perfis identificamos a simpatia por produtos que incentivavam o consumo coletivo, mas com qualidade. E é exatamente isso que o keg oferece. A tecnologia envolvida permite que a cerveja saia cremosa, como um chope”, explicou a diretora. Apelo O grande apelo da nova embalagem é a forma de tirar a bebida. “Para o consumidor, é como se ele levasse o barril de chope para casa, já que o líquido sai com pressão, formando a espuma que mantém as características gustativas da cerveja”, explicou o diretor de mercado do Grupo Petrópolis, Douglas Costa. A Itaipava, carrochefe da cervejaria, tem o keg desde 2009. De acordo com Costa, o produto é destinado às classes A e B, que apreciam o ritual de tomar a bebida. As cervejas vendidas nos kegs não são necessariamente mais baratas, como no caso das garrafas de um litro, em que o conceito do produto é “leve mais e pague menos”. Por terem valor agregado, os pequenos barris das marcas mais populares custam de R$ 35,00 a R$ 40,00 nos supermercados, o equivalente a R$ 7,00 e R$ 9,00 o litro. Uma garrafa de cerveja de um litro sai à R$ 4,50. “Mesmo sendo um pouco mais caras que as cervejas em garrafa, você paga pela forma lúdica de beber, de brincar de barman, e por ter sensação de estar consumindo um Kegs da Kaiser e Heineken em prateleira de supermercado: grande apelo da nova embalagem é a forma de tirar o produto; líquido sai com pressão e forma a espuma 13,3 64,4 BI DE LITROS LITROS Foi a produção brasileira de cerveja em 2011 Foi o consumo per capita da bebida em 2010 Segmentação demorou, mas agora é tendência diretor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em Economia Industrial, Fernando Sarti, afirmou que a segmentação do mercado cervejeiro demorou a acontecer, mas agora é uma tendência no País. A proliferação de marcas e estilos de cerveja segue o mesmo processo que ocorreu com o vinho, há uma década. A segmentação deve ocorrer ainda em outros bens de consumo. “Mesmo em um setor que até uma década era extremamente padronizado, como o da cerveja, as exigências de um consumidor muito mais esclarecido e ávido por novidades prevalecem. Isso levou às mudanças também de embalagens”. A produção de cerveja no País em 2011 chegou a cerca de 13,3 bilhões de litros, de acordo com o Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe). Esse volume O chope em casa”, explicou o empresário de Campinas e mestre na bebida, Maurício Beltramelli. Mas o mestre-cervejeiro alerta que, apesar de ter aspecto cremoso, o líquido não é de fato um chope. “O chope é mais aguado, tem uma concentração menor de álcool. Por sair com maior pressão dos barris, o colarinho fica maior, mas a bebida é na verdade a mesma da vendida em garrafas ou em latinhas”. representa 433 milhões a mais que os 12,8 bilhões de litros de 2010. “Com o aumento da renda e do consumo da bebida, as empresas começam a buscar a customização de seus produtos. Seja para a classe média emergente como para as camadas mais altas da sociedade”. A internacionalização do mercado cervejeiro é um dos movimentos da segmentação. Marcas importadas que antes só eram encontradas em empórios a preços salgados, agora estão disponíveis em grandes redes de supermercados a um custo mais acessível. “Na verdade, isso está acontecendo pelo processo de concentração de diferentes cervejas sob o guarda-chuva de grandes empresas de fora. O ônus é o controle de um mesmo mercado por poucos grupos. A vantagem é o número enorme de marcas premium no varejo brasileiro”. (CP/AAN)