ruptura prematura de membranas - rupreme 1 introdução

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Protocolo Clínico do
Hospital Universitário de Santa Maria
PROTOCOLO CLÍNICO
RUPTURA PREMATURA DE MEMBRANAS RUPREME
Código:
PC00
RUPREME
Data: Março/2016
Especialidade: Obstetrícia
Responsáveis: Walter S. Neme, Cristine Kolling Konopka
Colaboradores: Caroline Mombaque Dos Santos, Cassia Wippel, Tatiana Frehner Kavalco
1 INTRODUÇÃO
Ruptura prematura de membranas (RUPREME) é o rompimento das
membranas amnióticas antes do início do trabalho de parto, a partir das 20
semanas de gestação, com consequente saída de líquido amniótico pela cérvice e
vagina. A RUPREME pode ser a termo, quando ocorre em gestações a partir das
37 semanas ou pré-termo (RUPREME-PT), quando ocorre antes de 37 semanas.
1.1
Epidemiologia
Ocorre em 10% de todas as gestações (75 a 85% em pacientes de termo).
RUPREME-PT ocorre em 3% das gestações, mas é responsável por 1/3
dos partos pré-termo e por 20% das mortes perinatais neste período.
Nas gestações a termo, 50% entrarão em trabalho de parto nas primeiras
16 horas e 95% em até 76 horas, mesmo com condições desfavoráveis do colo.
Nas gestações pré-termo, 40% das pacientes entrarão em trabalho de
parto nas primeiras 48 horas e 63% em até uma semana.
O intervalo de tempo entre RUPREME e parto chama-se período de
latência. Quanto maior o período de latência, maiores são as chances de ocorrer
infecção ovular.
O período de latência prolongado representa mais tempo do feto intraútero,
o que permite o amadurecimento fetal, beneficiando o neonato por diminuir a
frequência da síndrome do desconforto respiratório, da hemorragia intraventricular
e da enterocolite necrotizante. Por outro lado, aumentam as chances de
complicações por oligodramnia e infecções, colocando em risco o binômio
materno-fetal.
1.2
Fatores de Risco
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1.2.1 Remediáveis
Cervicovaginites;
Insuficiência istmocervical;
Tabagismo e drogas ilícitas (como cocaína);
Procedimentos
invasivos
(biópsia
de
vilo
corial,
amniocentese,
cordocentese);
Anemia e deficiências nutricionais (vitamina C e cobre);
Exame de toque intempestivo em gestante com dilatação cervical;
Índice de massa corporal baixo (IMC< 19,8 kg/m2).
1.2.2 Irremediáveis
Trabalho de parto pré-termo;
Sangramento genital;
Útero sobredistendido (polidrâmnio, gemelaridade, macrossomia fetal);
Anomalias uterinas (como septo uterino), conização cervical anterior,
encurtamento do colo do útero no 2º trimestre
(< 2,5 cm) e infecção intra-
amniótica (corioamnionite);
Patologias placentárias (placenta prévia, descolamento prematuro de
placenta ou inserção marginal do cordão umbilical);
Doenças maternas (deficiência de alfa-1-antitripsina, síndrome de EhlersDanlos e lúpus eritematoso sistêmico eritematoso);
Terapia corticosteróide crônica.
1.3
Etiologia
– Multifatorial:
Ação de enzimas maternas, forças mecânicas, destruição de colágeno e
ação bacteriana.
– Amniorrexe:
Associa-se a um processo natural de amadurecimento: o colágeno
do córion diminui progressivamente com o avançar da gravidez e há redução das
concentrações de fosfatidilinositol (lubrificante da interface entre o córion e o
âmnion), levando a menor distensibilidade das membranas, favorecendo a
ruptura.
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As bactérias infectantes produzem enzimas (proteases, colagenases e
elastases) que atuam sobre as membranas, levando ao enfraquecimento e à
ruptura das mesmas. A infecção é uma das principais causas de RUPREME-PT
(32% a 35% dos casos têm cultura de líquido amniótico positiva).
2 CLASSIFICAÇÃO CID 10
O42 Ruptura prematura de membranas;
O42.0 Ruptura prematura de membranas, com início do trabalho de parto
dentro de 24 horas;
O42.1Ruptura prematura de membranas, com início do trabalho de parto
depois das primeiras 24 horas;
O42.2 Ruptura prematura de membranas, com trabalho de parto retardado
por terapêutica;
O42.9 Ruptura prematura de membranas, não especificada.
3 DIAGNÓSTICO
3.1
Clínico
Anamnese e o exame físico fecham o diagnóstico em 80- 90% dos casos.
A paciente relata perda de grande quantidade de líquido via vaginal, porém,
esta quantidade pode ser variável.
Investigar o tempo de ruptura, relação com atividade física, volume de
líquido perdido, odor e coloração.
Deve-se diferenciar de outras causas de perdas líquidas: incontinência
urinária, fluxos vaginais, sêmen, perda sanguínea.
Observa-se a saída de líquido pelos genitais externos, pelos pubianos
umedecidos e presença de vérnix. O exame especular permite observar a saída
de líquido pelo orifício externo do colo.
Quando não se observa a saída de líquido, mobiliza-se o feto pelo abdome
materno (manobra de Tarnier), enquanto se observa o colo ao exame especular.
Se não ocorrer saída de líquido, deve-se tentar o diagnóstico por meio da
observação clínica (forro perineal azul) ou exames complementares (descritos
abaixo).
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O exame de toque aumenta o risco de infecção, devendo ser realizado o
menor número de vezes possível, a não ser que a paciente esteja em trabalho de
parto e com assepsia adequada (PVPI perineal e luvas estéreis).
3.2
Diagnóstico Complementar
Os testes abaixo descritos têm diferentes graus de sensibilidade e
especificidade. Os testes de cristalização, Ianetta e determinação do pH vaginal,
são testes baratos e de fácil execução. Podem ser realizados em conjunto,
aumentando a acurácia do diagnóstico, nos casos de dúvida;
Em casos selecionados o diagnóstico definitivo pode ser realizado por
testes invasivos, como testes de infusão de substâncias na cavidade amniótica
(vitamina B12), que são realizados através da amniocentese. Visam confirmar a
saída das substâncias instiladas na cavidade amniótica, através da visualização
da coloração amarelada, no caso de vitamina B12, em tampões ou forro vaginais.
Outras opções são o uso do corante índigo Carmin (azul) ou de substâncias
radiopacas (que podem ser visualizadas nas radiografias dos tampões vaginais).
3.2.1 Cristalização do muco cervical (Ferning test):
O líquido amniótico, coletado com um swab estéril e depositado sobre uma
lâmina de vidro, após secar em temperatura ambiente, cristaliza-se, apresentando
aspecto arboriforme, perceptível à microscopia. A presença da cristalização tem
sensibilidade de 85% a 98% para diagnóstico de RUPREME.
3.2.2 Teste de Ianetta:
Consiste na mudança de coloração (incolor para marrom) do esfregaço de
amostra de líquido amniótico em lâmina, aquecida durante um minuto (com bico
de Bunsen, isqueiro ou fósforo, a uma distância que não chamusque a lâmina).
3.2.3 Determinação do pH vaginal:
O pH vaginal geralmente é ácido (3,8 e 4,5) e o pH do líquido amniótico
varia de 7,0 a 7,7. A fita de papel nitrazina marcando pH ≥ 6,0 sugere presença
de líquido amniótico, cujo pH varia entre 7,1 e 7,3. Sangue, sêmen e vaginose
bacteriana também aumentam o pH vaginal, dificultando o diagnóstico. O pH
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vaginal entre 6,5 e 7,5 apresenta sensibilidade de 90% a 98% para diagnóstico de
RUPREME.
3.2.4 Teste do fenol:
O conteúdo vaginal coletado é disposto sobre uma gaze, a qual acrescida
de corante alaranjado (fenolftaleína) passa a ter coloração “rosa choque” na
presença de líquido amniótico. Conteúdo vaginal escasso, sangue, sêmen,
antissépticos alcalinos ou vaginose bacteriana alteram o resultado.
3.2.5 Teste do Azul de Nilo (ou de Kittrich):
Aplica-se o sulfato Azul de Nilo a 1% sobre uma lâmina com esfregaço
vaginal. O teste é positivo quando evidencia células fetais-orangiófilas, que
passam a ter uma coloração amarelo-alaranjada. Este teste é de fácil execução e
tem sensibilidade de 98,5%, quando utilizado no terceiro trimestre da gestação.
3.2.6 Lavado vaginal:
A pesquisa de creatinina e uréia no lavado vaginal se baseia no fato de que
a creatinina e a uréia, quando presentes nos fluidos vaginais, são de origem fetal,
permitindo a confirmação da presença de líquido amniótico na vagina. A presença
de sangue materno pode causar falso-positivos. Durante o exame especular
instila-se 5ml de SF a 0,9% em fundo de saco e coleta-se, com a mesma seringa,
3 ml para dosagem de creatinina (e uréia, sendo esta opcional). Segundo estudo
de Sekhavat e cols, 2012, com o ponto de corte de 0,14 mg/dl para a creatinina,
a sensibilidade é de 98,7%, especificidade de 100%, valor preditivo positivo de
100% e valor preditivo negativo de 98,8% e acurácia de 87,1% para o diagnóstico
de RUPREME. Estudo semelhante foi realizado no Centro Obstétrico do HUSM
(dados ainda não publicados) e o ponto de corte para a creatinina foi de 0,15
mg/dl e da uréia de 3,5mg/dl. Estudos com a dosagem de uréia são menos
consistentes, necessitando de estudos complementares para recomendação no
diagnóstico de RUPREME.
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3.2.7 AmnioSure test®:
É um teste de imunoensaio para a detecção da alfa microglobulina-1
(PAMG-1) no fluido cervical. Esta glicoproteína placentária é abundante no líquido
amniótico, com diferença de 10.000 vezes em concentração entre o líquido
amniótico e secreções cérvico-vaginais. Fácil de executar, rápido (5-10 minutos),
minimamente invasivo, porém de alto custo. Pode ser utilizado em qualquer
momento da gestação (15-42 semanas), sem interferências de sêmen, urina,
sangue ou infecção vaginal. A detecção mínima é de 5 ng / ml, o que dá uma
sensibilidade 99% e especificidade de 100%. Não há evidências de que o uso do
teste AmniSure no manejo de gestantes com suspeita de RUPREME apresente
benefício adicional em desfechos clínicos materno-fetais.
A identificação na secreção vaginal de alfafetoproteína, da fibronectina, da
PAMG-1 e do fator de crescimento semelhante à insulina (IGFBP-1) de origem
fetal têm alta sensibilidade e especificidade no diagnóstico de RUPREME, porém,
são testes caros, não disponíveis atualmente no nosso meio.
3.2.8 Ultrassonografia:
Deve ser sempre realizada quando não se tem certeza da ruptura das
membranas ou quando se deseja tomar a conduta conservadora;
Objetivos: confirmar a idade gestacional, estimar o peso fetal e verificar o
volume de líquido amniótico;
A presença de oligodrâmnio associada à queixa clássica de perda de
líquido ajuda no diagnóstico de RUPREME;
Volume de líquido amniótico normal não confirma nem afasta o diagnóstico.
Nos casos de RUPREME, o achado ultrassonográfico de oligodrâmnio
acentuado persistente (ILA menor do que 5 ou maior bolsão menor que 2 cm)
indica mau prognóstico (período d/e latência diminuído e menor taxa de suscesso
na conduta conservadora);
3.3
Diagnóstico diferencial
Tem que se diferenciar de outras causas de perdas líquidas vaginais:
incontinência urinária, fluxo vaginal, sêmen e perda sanguínea.
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4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Gestantes com bolsa rota confirmada ou com suspeita de bolsa rota.
5 CRITÉRIO DE EXCLUSÃO
Gestantes sem suspeita de bolsa rota.
6 TRATAMENTO
Conduta deve ser individualizada, baseada na estimativa de riscos
maternos, fetais e neonatais.
Após o diagnóstico a internação é obrigatória.
A idade gestacional deve ser avaliada (história clínica e na ultrassonografia
do início da gestação).
Descartar a presença de fatores de risco mediante anamnese bem feita.
Pesquisar sinais sugestivos de infecção e trabalho de parto (TP).
Avaliar volume de líquido amniótico, crescimento e vitalidade fetal.
O toque vaginal deve ser proscrito, principalmente quando há intenção da
manutenção da gestação, exceto se houver dinâmica.
O exame especular deve sempre ser realizado.
Ecografia básica para avaliação do bem estar fetal e idade gestacional.
Cuidados gerais durante a internação na RUPREME-PT consistem em
repouso relativo durante 48 horas, com dieta rica em resíduos e fibras.
Aumentar a ingesta hídrica.
Evitar a constipação.
Exames na admissão: exames da rotina pré-natal, conforme a idade
gestacional, + hemograma e PCR+ EQU + urocultura com antibiograma + cultura
de estreptococo β-hemolítico do grupo B.
Caso parto iminente: dispensar a
cultura do estreptococo β-hemolítico do grupo B.
(fazer a profilaxia da infecção
neonatal).
Seguimento: a paciente deverá ficar internada e realizar curva térmica,
hemograma + PCR diários por
3 dias. Se não houver suspeita de infecção
espaçar o HMG e PCR para de 2/2 ou 3/3 dias.
A avaliação fetal deve ser realizada:
– Ausculta dos batimentos cardíacos diariamente;
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– Cardiotocografia: diária ou de 3/3 dias, conforme o caso;
– Ultrassonografia para realização do perfil biofísico fetal (PBF) e medida
do ILA 1 a 2x/semana, conforme o caso.
6.1
Conduta Conforme Idade Gestacional: Intervencionista X Conservadora
6.1.1 Gestações a termo (≥37 semanas)
Em gestantes com RUPREME a termo, a conduta expectante por 24 horas
não aumenta a morbidade infecciosa materno-fetal, nem a taxa de cesariana ou
parto instrumentado. Por outro lado, a indução imediata do parto diminui a
incidência de infecções maternas (corioamnionite e endometrite) e neonatais, uso
de antibióticos pelo recém-nascido e admissões na UTI Neonatal.
Geralmente o parto se desencadeará de forma espontânea nas primeiras
24 horas de RUPREME (60-95% dos casos).
Desta forma, após 12 a 24 horas de RUPREME recomenda-se a indução
do parto de acordo com as condições cervicais.
Não há consenso sobre o uso de antibioticoterapia profilática nas gestantes
com RUPREME a termo, se o tempo de ruptura das membranas for menos de 24
horas.
Caso se opte por profilaxia antimicrobiana usa-se ampicilina sem clavulanto
ou penicilina cristalina. Na ausência de ampicilina têm-se usado ampicilina com
sulbactan, e em caso de alergia à penicilina, clindamicina.
Se a gestante estiver em trabalho de parto, está indicado o uso de
penicilina cristalina ou ampicilina para prevenção da infecção neonatal por
estreptococo β-hemolítico do grupo B, caso a cultura seja positiva ou se a
pesquisa não foi realizada. O antibiótico deve ser administrado durante todo o
trabalho de parto, até o clampeamento do corsão.
Acompanhamento de trabalho de parto com monitorização cardíaca fetal
sistemática (maiores riscos de compressão do polo cefálico e de cordão) e menos
toques vaginais.
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6.1.2 34 a 36 semanas e 6 dias
A interrupção da gestação é benéfica, pois os riscos de infecção são
maiores que os de complicações por prematuridade.
O
risco
materno
é
aumentado
com
a
conduta
conservadora
(corioamnionite). Eleva também o tempo de internação hospitalar, sem alterar os
resultados perinatais e há tendência de aumento de sepse neonatal.
Na ausência de corioamnionite e sofrimento fetal, o TP espontâneo pode
ser aguardado por 12 a 24 h, após este período iniciar a indução de acordo com
as condições cervicais e disponibilidade de UTI Neonatal.
Caso não esteja
liberado leito de UTI Neonatal, não induzir o parto.
Caso se opte por profixalia antimicrobiana na conduta expectante da
RUPREME-PT, usa-se ampicilina e amoxacilina sem clavulanto.
Durante o TP está indicado o uso de penicilina cristalina ou ampicilina para
prevenção da infecção neonatal por estreptococo β-hemolítico do grupo B, caso a
cultura seja positiva ou se a pesquisa não foi realizada. O antibiótico deve ser
administrado durante todo o trabalho de parto, até o clampeamento do cordão.
Acompanhamento de trabalho de parto com monitorização cardíaca fetal
sistemática (maiores riscos de compressão do polo cefálico e de cordão) e menos
toques vaginais.
6.1.3 24 e 33 semanas e 6 dias
Mortalidade perinatal ainda é alta, cada dia dentro do útero melhora a
sobrevida neonatal em cerca de 3%, favorecendo a opção pela conduta
conservadora. Por outro lado conduta conservadora eleva taxas de infecção.
A conduta conservadora deve ser realizada com a paciente internada. A
curva térmica deve ser realizada, febre materna persistente >37,8ºC associada à
taquicardia materna e/ou fetal é sugestiva de infecção e indica interrupção da
gestação, independente da idade gestacional.
Para conduta conservadora deve-se ter certeza que não existem infecções:
exame físico minucioso e exames laboratoriais (descritos acima).
Optando-se pela conduta conservadora, esta é mantida até 34 semanas,
quando o parto é induzido. Se não houver quadro infeccioso, está indicada a
corticoterapia (descrito abaixo: situações especiais).
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Observação: Contraindicações para a conduta conservadora: infecção
materna ou fetal, descolamento prematuro da placenta, malformações fetais, óbito
fetal e trabalho de parto.
6.1.4 Gestações entre 20 e 24 semanas
Baixas taxas de sucesso na conduta conservadora, associadas a risco
elevado de infecção materna, morte neonatal e lesão neurológica grave.
A equipe de plantão deve discutir com a família a possibilidade de indução
do parto, para reduzir os riscos para a mãe.
Se necessário realizar discussão na reunião do Serviço de Obstetrícia
(junta médica), para avaliar os prós e contras da interrupção da gestação ou
manutenção da mesma.
Consentimento informado deverá ser aplicado em todos os casos,
independente da conduta.
A via de parto preferencial, salvo contra-indicações absolutas, deve ser a
vaginal, devido aos riscos associados ao parto cesáreo, maiores em idade
gestacional tão precoce, especialmente relacionados à infecção.
6.2
Situações especiais
6.2.1 Uso de corticoides
Em gestações entre 28 e 33 semanas e 6 dias semanas, na ausência de
sinais de infecção materna e fetal, a corticoterapia reduz a mortalidade neonatal e
o risco de síndrome da angústia respiratória, sem aumentar significativamente o
risco de infecção materna ou neonatal. Seu uso entre 24 e 27 semanas e 6 dias
tem o objetivo de prevenir hemorragia intraventricular e enterocolite necrotizante.
O tratamento deve ser iniciado no mínimo 24 h antes do parto
(preferentemente 48 a 72 hs).
As drogas de escolha são a betametasona e a dexametasona, nos
seguintes esquemas posológicos:
Betametasona - 12 mg (2 ampolas de 6mg), IM, 2 doses com intervalo de
24horas, cada ampola de 6mg contém 3 mg de acetato de betametasona e 3 mg
de fosfato dissódico de betametasona.
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Dexametasona (6 mg, IM, a cada 12 horas, 4 doses).
O efeito máximo é conseguido de 24 a 48 horas após a primeira dose e
dura pelo menos 7 dias.
Nos casos de uso entre 24 e 27 semanas e 6 dias, caso não ocorra o
nascimento, deve-se repetir as duas doses entre 28 e 33 semanas e 6 dias, para
fim de maturidade pulmonar (individualizar caso a caso).
6.2.2 Prevenção da infecção neonatal pelo estreptococo β-hemolítico do grupo B
do grupo B (SGB) - Streptococcus agalactie
Toda gestante deve ser submetida ao rastreamento do SGB entre 35 e 37
semanas.
Coletar a cultura em gestantes com RUPREME em conduta expectante. Se
for positiva o tratamento deverá ser iniciado quando a paciente entrar em trabalho
de parto. Se negativa não há necessidade de tratamento se o parto ocorrer nas 4
semanas seguintes, após, nova cultura deverá ser colhida.
Fazer a profilaxia também se cultura desconhecida quando houver
amniorrexe com duração superior a 18 horas, trabalho de parto pré-termo, febre
intraparto (≥38ºC), bacteriúria por SGB ou gravidez anterior acometida com SGB.
A droga de escolha é a penicilina cristalina 5 milhões UI EV de dose de
ataque, mais 2,5 milhões UI EV de 4/4 horas até o clampeamento do cordão
umbilical.
Na ausência desta, ampicilina 1g EV 6/6 h. Como terceira opção OU EM
CASO DE ALERGIA À PENICILINA: clindamicina 600mg ev 8/8h.
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Figura 1 – Indicação de profilaxia antibiótica para prevenção de doença
perinatal por Estreptococo β Hemolítico do Grupo B (SGB).
Fonte: Adaptado de ALMEIDA, A.; AGRO, J.; FERREIRA, L., (2004, p.195).
6.2.3 Uso de antibióticos
Nas pacientes longe do termo optando-se por tratamento conservador o
uso de antibióticos diminui a morbidade neonatal, risco de corioamnionite e
aumenta o período de latência, sem alterar a mortalidade neonatal.
As drogas com melhores resultados são ampicilina, eritromicina e
amoxacilina. Esquema de 48 horas intravenosa com ampicilina e eritromicina,
seguido de 5 dias de terapia oral com amoxicilina e eritromicina.
6.2.4 Uso de tocolíticos
Não há evidência de que o uso de tocolíticos com o objetivo de prolongar a
gestação melhore a morbidade e a mortalidade neonatal nas pacientes com RPMPT.
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Não há diferença no período de latência nas mulheres que receberam
tocolíticos profiláticos e não aumenta significativamente o período de latência no
TP ativo.
RUPREME-PT é uma contra-indicação relativa para a utilização de
tocolíticos, apesar de poderem retardar o parto por 24 a 28 horas.
O benefício da tocólise limita-se a permitir a ação do uso do corticoide
(aceleração da maturidade pulmonar fetal e/ou transferência da paciente para um
centro de cuidados terciários).
6.2.5 Sulfato de magnésio
Indicado para a neuroproteção fetal deve ser considerado em gestações
com parto prematuro iminente antes das 32 semanas de gestação (< 32
semanas).
6.2.6 Amnioinfusão
Em gestantes com RUPREME-PT e oligodrâmnio, entre 24 e 33 semanas,
a amnioinfusão aumenta o período de latência sem diferença quanto à
mortalidade neonatal por hipoplasia pulmonar.
A amnioinfusão intraparto, para reduzir complicações relacionadas ao
oligodrâmnio (compressão de cordão e sofrimento fetal agudo), não apresenta
benefícios quanto às taxas de morte fetal, índice de Apgar baixo ou índices de
cesariana.
Não deve ser adotada rotineiramente na prática clínica com o objetivo de
prolongar gestação.
6.2.7 Consequências neonatais da RUPREME
Infecção e/ou sepse fetal.
Prematuridade
Hipoplasia pulmonar: é uma das mais graves complicações, com altas
taxas de mortalidade neonatal. O risco é maior quanto menor é a IG e o volume
de líquido amniótico.
Hipóxia: oligodrâmnia tem associação com compressão do cordão
umbilical.
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7 MONITORAMENTO DO TRATAMENTO
7.1
Monitoramento durante a internação no HUSM
Descrito no item tratamento.
7.2
Critérios de Alta
Uma vez descartado o diagnóstico de RUPREME a paciente receberá alta.
Caso seja RUPREME confirmada, receberá alta após desfecho da
gestação.
7.3
Contra Referencia/Retorno ao Ambulatório
O retorno deverá ser no pré-natal de origem. Caso reste dúvida no
diagnóstico, e se opte pela alta, a gestante deverá retornar ao PNAR.
7.4
Prevenção/Ações Educativas
Evitar traumas, tratar as vaginites, fazer o pré-natal de forma adequada.
8 CONSENTIMENTO INFORMADO
Deve ser aplicado em:
- Casos de manutenção da gestação ou interrupção da mesma nos fetos
prematuros extremos.
- Casos de transferência da gestante por falta de leito na UTI-RN do HUSM.
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TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO RUPREME
Eu
..............................................................................................,
............. anos, portadora de CI ..............................., gestante, G...... P......
A............, com idade gestacional de ............ semanas e ............ dias, tenho
diagnóstico ecográfico de oligodrâmnio absoluto (ausência de líquido
amniótico) devido à ruptura prematura das membranas amnióticas, com
feto vivo. Fui esclarecida sobre os riscos de manutenção da gestação
(riscos fetais: infecção com grande chance de morte fetal intraútero e morte
pós-natal devido à prematuridade extrema, além de sequelas decorrentes
da prematuridade, infecção e ausência de líquido amniótico (hipoplasia
pulmonar, com consequente desenvolvimento inadequado do pulmão do
bebê). Riscos maternos: infecção uterina, pélvica e sistêmica, podendo
evoluir de forma desfavorável para septicemia (infecção generalizada),
perda do útero e até morte.
Após esclarecimento de forma clara e compreensiva, tendo em vista os
riscos do diagnóstico da ruptura prematura de membranas com infecção
associada, para mim e para o bebê, estou ciente e aceito em conjunto com
meu esposo/familiar a interrupção / manutenção da gestação.
Santa Maria, .......... de .......................... de 20.........
______________________________
Paciente
____________________________
Cônjuge / Testemunha
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9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, A. AGRO, J. FERREIRA, L. Estreptococo β Hemolítico do Grupo B:
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Disponível em: <http://ptdocz.com/doc/90323/rotura-prematura-de-membranas>
Acesso em: Mar 2016.
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Protocolo Clínico do
Hospital Universitário de Santa Maria
10 FLUXOGRAMA - ALGORÍTMO
PROTOCOLO CLÍNICO
RUPTURA PREMATURA DE MEMBRANAS –
RUPREME
Código:
PC00
RUPREME
Data: Março/2016
Especialidade: Obstetrícia
Responsável: Walter S. Neme, Cristine Kolling Konopka
Colaboradores: Caroline Mombaque Dos Santos, Cassia Wippel, Tatiana Frehner Kavalco
Fluxograma para o manejo de RUPREME entre 24 e 33 semanas e 6 dias de
gestação
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