Protocolo para pacientes com anafilaxia a látex A alergia ao látex é importante causa de alergia ocupacional e pode manifestar-se por diferentes formas, desde urticária ou dermatite de contato até quadros de anafilaxia. Estas reações podem ser fatais e muitas vezes são o primeiro sintoma em pacientes sensibilizados, principalmente em trabalhadores da área de saúde e grupos de risco. Uma característica muito importante da alergia a látex é a possível ocorrência de reações cruzadas com diversos alimentos. Esse tipo de reação chama-se síndrome látex fruta e afeta cerca de 20 a 60% de pacientes sensibilizados a látex. Em tais pacientes pode haver reação com diversas frutas e legumes, como castanha portuguesa, banana, abacate, kiwi, mamão papaia, manga, maracujá, pêssego, abacaxi, figo, melão, damasco, ameixa, uva, lichia, acerola, tomate, batata, mandioca, espinafre, pimentão, trigo sarraceno, etc.. A alergia a látex atinge aproximadamente 6,5% da população geral, mas se considerarmos apenas os grupos de risco, essa taxa pode subir para mais de 50%. Esses grupos são pessoas muito expostas a tal produto, como profissionais de saúde e pacientes polioperados ou que passam por muitos procedimentos médicos e crianças portadoras de mielomeningocele. Atualmente, existe uma preocupação – especialmente em países desenvolvidos – para se evitar a sensibilização e em muitos hospitais já não se emprega de forma rotineira luvas de látex e outros produtos, para se reduzir o risco de desenvolvimento da doença. O diagnóstico deve ser feito utilizando-se testes alérgicos e/ou dosagem de IgE sérica específica. O paciente portador de alergia a látex deve ser identificado e portar documento que oriente os profissionais de saúde a lidar com tal situação. Sugestão de atestado: O(a) paciente .......................................... é portador de anafilaxia a látex, tendo apresentado teste alérgico positivo (descrever tamanho da pápula, histamina e controle) e/ou IgE específica de ....(anotar). Considerando o potencial risco de reações futuras que coloquem a vida desse(a) paciente sob risco, orientamos que o(a) mesmo(a) não se exponha a qualquer material feito com látex, como luvas, preservativos, bicos de chupeta/mamadeira/, balões de festa, etc. Muito cuidado deve ser tomado em procedimentos médicos e odontológicos quando todo material feito com látex deve ser evitado (luvas, garrotes e cuidados abaixo). Em caso de procedimentos cirúrgicos recomendamos o que se segue: • Os cuidados aos pacientes devem ser planejados e coordenados pelas várias equipes: anestesia, cirurgia, enfermagem, fisioterapia, etc; • As cirurgias eletivas devem ser agendadas, sempre que possível, para o primeiro horário do dia, prevenindo assim níveis muito altos de antígenos de látex na forma de aerossóis na sala cirúrgica, já que inalação de partículas de látex também podem desencadear alergias graves; • O paciente deve ser identificado com braceletes ou colares de alerta e o prontuário deve conter aviso de "Alergia ao Látex"; esse aviso também deve ser colocado de forma clara à porta e/ou no leito do paciente. • Todos os produtos padronizados na instituição que tenham látex em sua composição devem ser pesquisados e listados. Estes produtos devem ser substituídos ou totalmente afastados. A lista abaixo é a base fundamental para se conseguir um ambiente livre de látex nas salas cirúrgicas e apartamentos, entretanto, não tem a intenção de esgotar o assunto e a equipe cirúrgica deve estar atenta para novos materiais que forem introduzidos. ITENS QUE FAZEM PARTE DA VERIFICAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA: • Partes internas e externas do equipamento de anestesia; • Luvas, tubos traqueais e conexões; • Máscaras, balões de ventilação, circuitos respiratórios: usar os de silicone, polivinilcloridato ou de borracha preta, que seja velha e bem lavada previamente; • Remover as tampas de borracha de medicamentos. Não furar a borracha com agulhas; • NÃO utilizar seringas com êmbolos de borracha. Usar seringas descartáveis com silicone ou seringas de vidro; • NÃO utilizar garrotes ou torniquetes de borracha; • Cuidado com manguitos para medida de pressão arterial. As borrachas devem ser encapadas ou protegidas com algodão; • AMBU: verificar se as válvulas e o balão não são de látex; • Verificar os introdutores de medicação nos soros e equipos. Evitar punções repetidas e trocar soluções a cada 6 horas; • Deixar preparada adrenalina diluída para uso imediato; • Verificar equipamentos específicos da cirurgia; • NÃO utilizar produtos cirúrgicos com látex (luvas, drenos tipo Penrose, cateter urinário, instrumental específico, clamps de borracha, cateter vascular, garrotes e equipamento de irrigação). Luvas são itens importantes, mesmo fora de ambientes hospitalares. O próprio paciente deve ser orientado a comprar luvas de polivinil ou nitrila e levar ao dentista, laboratório clínico e consultórios médicos, pois nem sempre tais locais dispõem desse tipo de material. Lembrar que o tratamento da anafilaxia ao látex segue as diretrizes comuns desse tipo de reação e o paciente deve ser orientado a carregar consigo adrenalina autoinjetável, especialmente se for de grupo de risco e mais ainda se portador de síndrome látex fruta já que ingestão acidental pode ocorrer. Referências: 1- Rev. Bras. Anestesiol. vol.53 no.1 Campinas Jan./Feb. 2003. 2- Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 33. N° 5, 2010.