Celidônia Priscila Lúcia Pawloski (Chelidonium majus L.) Nomes Populares: Quelidônia, erva das verrugas, celidônia maior, erva andorinha, erva dos calos, figatil, grande quelidônia(3). Histórico O nome celidônia provém do grego “Khelidon”, que significa andorinha, pois essa ave, na crença popular da Grécia, iniciava sua imigração anual na época em que a planta florescia. Diz a lenda ainda, que as andorinhas aplicavam o látex dessa planta para curar os olhos de seus filhotes, que nasciam cegos, com as pálpebras coladas. Outra versão diz que o nome foi atribuído devido ao fato dessas aves esfregarem as folhas desta espécie sobre os olhos dos filhotes recém-nascidos, para que possam abri-los e desinfectá-los. Foi por essa razão que na Europa se acreditava que a celidônia tinha propriedades de melhorar a visão. De acordo com a teoria das assinaturas, o látex tem uma cor similar a da bílis, por isso a utilização em todos os tipos de processos hepáticos. Em muitos povos se utiliza como purgante para “limpeza interna” do organismo de animais e homens enfermos(1). Descrição Botânica Planta da família das Papaveráceas, caracterizada por apresentar uma altura entre 50-90cm; herbácea perene, ereta, rizomatosa, muito ramificada, com látex amarelolaranjado. Folhas compostas pinadas, alternas, com cinco folíolos irregulares completamente desprovidos de pêlos, que têm cor bem mais clara na face inferior. Flores amarelas dispostas em terminais curtos. Frutos do tipo cápsula alongada, deiscentes, de cor verde, com várias sementes pequenas. Multiplica-se por sementes e rizomas. É nativa da Europa e Ásia, sendo ocasionalmente cultivada como ornamental nas regiões de altitude do sul do Brasil, onde naturalizou-se como uma planta infestante de terrenos baldios e beira de estradas(4). Aspectos Agronômicos Seu cultivo pode ser feito por sementes ou por pedaços de rizomas. Ela adapta-se melhor a solo semi–rico e bem drenado, com iluminação meia-sombra. O plantio através de sementes é feito em sementeiras, na época de chuva, com espaçamento de 0,4 X 0,8m. A planta tem um bom desenvolvimento em lugares frescos, geralmente sobre escombros e muros velhos. A colheita poderá ser feita quando a planta atingir a altura de mais ou menos 50cm, geralmente seis meses após o plantio(3). Aspectos Fitoquímicos * Látex: de cor alaranjado brilhante, contém cerca de 10 alcalóides benzilisoquinoleínicos (0,4 – 1%) de características opiáceas entre os que se destacam: quelidonina (principal), alfa-homoquelidônina, queleritrina, sanguinarina, protopina, berberina e coptisina. Também apresenta enzimas proteolíticas e ácidos orgânicos como o ácido quelidônico, ácido málico, ácido cítrico e ácido L-ascórbico. Restante da planta: óleo essencial, flavonóides, resina, saponina, carotenóides (quelidoxantina)(1). Estudos Etnofarmacológicos Uso Interno: Chá: 5g para 1 litro de água, uma xícara por dia. Uso Externo: Infusão ou decocção: 10g/L da planta inteira ou da raiz se emprega em casos de colecistites, afecções hepáticas diversas, como analgésico e antiespasmódico. Cataplasma: amassar um punhado de folhas frescas e aplicar sobre o calo, enfaixando o local. Repetir o tratamento por várias semanas. Para o tratamento de verrugas, esfregar os raminhos da planta fresca diretamente sobre o local por várias semanas(5). Atividades Farmacológicas Está principalmente ligada a atividade dos alcalóides. A quelidonina apresenta atividade sedante e antidepressiva, enquanto os derivados isoquinoleínicos em geral exibem ações espasmolíticas, especialmente a nível do trato hepatobiliar. A coptsina apresenta efeito antimitótico e cáustico, por essa razão é utilizada no tratamento de verrugas (por aplicação direta do látex)(1). A ação espasmolítica a nível hepatobiliar faz com que se preparem extratos de celidonia em forma conjunta a outras espécies com atividade colerética e colagoga. No entanto, o potencial tóxico da celidonia limita bastante seu emprego oral. O extrato pode empregar-se como calicida, junto com glicerina, em partes iguais(1,2). Experimentos e eficácia clínica O extrato hidroalcoolico de celidonia tem demonstrado atividade, in vitro, contra germes da flora patogênica da pele, em especial sobre bactérias presentes em acnes. Por sua vez, o extrato aquoso tem demonstrado inibição, in vitro, do vírus das encefalites, aumentando a resistência frente a infeccção experimental(1). Os alcalóides da celidônia tem sido ensaiados como agentes antiinflamatórios em testes com animais com edema plantar sob indução de carragenina. Neste sentido, os resultados têm sido contraditórios, já que uma experiência confirmou a ação inflamatória e outra não registrou atividade(3). Toxicidade Relacionada com a atividade dos alcalóides por via oral. A intoxicação aguda so aparece por superdosagem, estando representada por estados narcóticos, irritação do trato respiratório com tosse violenta, dispnéia, bradicardia, parestesias e crises tetaniformes. A urina pode aparecer de cor amarelo brilhante. O uso contínuo de extratos orais de celidonia podem ser carcinogênicos e ulcerogênicos. Tem sido relatado um caso de anemia hemolítica por ingestão de extratos de celidonia em doses normais, aparecendo citólises hepática, trombocitopenia e falência renal. O uso tópico do látex em casos de verrugas pode ser cáustico, por isso é recomendado pincelar as zonas circundantes com vaselina. O uso do látex ou da infusão de flores e talos da celidonia em infecções oculares simples de animais tem sido motivo de processos muito mais importantes que o problema inicial. Os animais intoxicados com essa planta exibem sonolência, salivação, andar vacilante, estase intestinal e poliúria. A morte do animal ocorre em duas horas após o inicio do processo de intoxicação, em meio a fortes convulsões(1). Especialidades Farmacêuticas QUELODIN “F” BIBLIOGRAFIA (1) ALONSO, J.R. Tratado de Fitomedicina: Bases Clínicas y Farmacológicas. Argentina: Indugraf, 1998. (2) BALBACH, A. As Plantas Curam. Itaquaquecetuba: Vida Plena, 2ª edição, 1997. (3) CORRÊA, A.D.; Batista, R.S.; Quintas, L.E.M. Do Cultivo à Terapêutica. Plantas Medicinais. Petrópolis: Vozes, 1998. (4) LORENZI, H.; MATOS, F.J. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas. São Paulo: Instituto Plantarum de estudos da Floa ltda, 2002. (5) MARTINS, E.R.; Castro, D.M.; et all. Plantas Medicinais. Viçosa: UFV, 2000.