PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ALINE D’ÁVILA MARCA E PERCEPÇÃO SENSORIAL Estudo de caso da marca McDonald’s PORTO ALEGRE 2007 ALINE D’ÁVILA MARCA E PERCEPÇÃO SENSORIAL Estudo de caso da marca McDonald’s Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Orientador: Profª. Drª. Rosane Palacci Santos PORTO ALEGRE 2007 ALINE D’ÁVILA MARCA E PERCEPÇÃO SENSORIAL Estudo de caso da marca McDonald’s Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. BANCA EXAMINADORA: _______________________________________________ Profª. Drª. Rosane Palacci Santos Orientador _______________________________________________ Profª. Me. Glafira Bartz Examinador _______________________________________________ Profª. Drª. Helenice Carvalho Examinador “É possível que você se sinta muito atraído por uma foto fabulosa de uma maçã recém-colhida brilhando com o orvalho da manhã. Mas, se você conseguir sentir seu cheiro e ouvir o som da fruta sendo fatiada, acabará convencido. Acrescente a este quadro uma textura que seja capaz até de transmitir um sabor, e você não hesitará em comprá-la”. MARTIN LINDSTROM RESUMO Milhares de novas marcas e produtos são posicionadas no mercado a todo instante para disputar os consumidores. No entanto, as ofertas têm-se apresentado cada vez mais semelhantes, atendendo às mesmas expectativas. Nesse mercado saturado e hiper-competitivo, onde os valores tangíveis e funcionais dos produtos e serviços já não convencem e nem se diferenciam da concorrência, torna-se prérequisito partir para estratégias que trabalham os aspectos emocionais para conectar o consumidor à marca. A chave do sucesso, portanto, agora mais do que nunca, está na mão das empresas que estabelecem sua comunicação no nível dos sentimentos e das emoções, valendo-se dos valores intangíveis e dos estímulos aos cinco sentidos para a capacidade de atrair, seduzir e fascinar. Palavras-chave: Marketing, Branding, Emocional, Subliminar, Sensorial. ABSTRACT Thousands of new brands and products are placed in the market everyday to dispute the customers‟ attention. However, the offers have become more and more alike, attempting to address the same expectations. In this saturated and hypercompetitive marketplace, where the tangible and functional values of products and services are not sound and not distinguishable from competing brands, it becomes a pre-requisite to launch strategies that work the emotional aspects to connect customers to brands. Therefore, more than ever the key to success lies on companies that establish communication through emotive and sensorial channels, exploiting the intangible values and the five sense in order to attract, seduce and fascinate customers. Keywords: Marketing, Branding, Emotive (emotional), Sensorial, Subliminar. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Hierarquia das necessidades de Maslow.......................................37 FIGURA 2: Pirâmide da lealdade à marca........................................................47 FIGURA 3: Pirâmide do conhecimento…………………………....………………51 FIGURA 4: Evolução do logotipo McDonald‟s.................................................112 LISTA DE QUADROS QUADRO 1: Satisfação das necessidades dos clientes do McDonald‟s..........38 QUADRO 2: Diferença entre marcas tradicionais e emocionais.......................44 QUADRO 3: Fases da Lealdade e Correspondentes Vulnerabilidades............48 QUADRO 4: Comparativo da evolução dos logotipos.......................................81 QUADRO 5: Os diferentes significados psicológicos das cores........................87 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................01 2 2.1 2.2 2.3 2.3.1 2.3.2 2.4 2.5 2.6 A EMPRESA McDONALD’S..................................................................04 História da empresa................................................................................05 Visão, estratégia e valores......................................................................07 Sistemas de gestão.................................................................................08 Gestão de clientes...................................................................................09 Gestão de pessoas.................................................................................10 Diversidade.............................................................................................11 Comunicação..........................................................................................13 Relação com a comunidade....................................................................13 3 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.5.1 3.5.2 O MARKETING NA PUBLICIDADE.......................................................16 Definição de Marketing............................................................................16 Composto de Marketing..........................................................................18 Estratégia de Marketing..........................................................................25 Marketing de Serviços.............................................................................28 Comportamento do Consumidor.............................................................30 O processo perceptual............................................................................32 O processo motivacional.........................................................................36 4 4.1 4.2 4.2.1 4.2.2 4.2.3 4.2.4 4.3 4.3.1 4.3.2 4.3.3 4.4 GESTÃO DE MARCAS..........................................................................41 Marca: evolução de conceitos.................................................................41 Patrimônio da marca (brand equity)........................................................46 Lealdade à marca....................................................................................46 Conhecimento da marca..........................................................................50 Qualidade percebida................................................................................52 Associações da marca.............................................................................54 Elementos da marca................................................................................57 O nome....................................................................................................57 O símbolo................................................................................................57 O slogan..................................................................................................58 Relacionamento: quem são os novos clientes........................................60 5 5.1 5.2 5.3 5.3.1 MARKETING SUBLIMINAR...................................................................64 Conceito de subliminar............................................................................64 Origem e evolução das técnicas subliminares........................................65 O processo subliminar de sedução.........................................................68 Os mecanismos de defesa do consumidor..............................................71 6 6.1 6.2 6.3 MARKETING SENSORIAL E DESCONSTRUÇÃO DA MARCA...........76 A marca como entidade sensorial...........................................................76 A marca McDonald‟s: o símbolo do fetichismo......................................101 Desconstrução da marca segundo Lindstrom (2007)............................105 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................123 REFERÊNCIAS..................................................................................................128 1 INTRODUÇÃO A decisão de investigar a construção da marca McDonald‟s sob o viés dos estímulos sensoriais partiu da curiosidade a respeito do que torna os seus consumidores tão fiéis. A marca McDonald‟s não somente atrai pessoas de todas as idades: ela também as seduz, o fazendo de uma forma tão eficiente e provocante, que chega a ser considerada o paradigma do fetichismo para muitos estudiosos. É recente a preocupação das marcas com a psicologia do consumidor. Nesse mercado hiper-competitivo, onde os produtos e os serviços por si só já não possuem o suficiente para atrair um novo mercado ou mesmo manter os existentes, torna-se pré-requisito compreender as necessidades e os desejos emocionais das pessoas. Dessa maneira, uma marca bem trabalhada, baseada no estreitamento das relações com o seu público consumidor, tem grandes chances de se destacar e se diferenciar das concorrentes, podendo ser a preferida pelos benefícios intangíveis que oferece. No entanto, existem marcas – e é o caso do nosso objeto de estudo – que transcendem esta condição, criando uma “aura” em torno dos seus produtos, uma “magia” em torno dos seus serviços e uma fascinação por parte dos seus consumidores que vão além do comum. As crianças que visitam o McDonald‟s insistem com os seus pais para estar na lanchonete, e reclamam muito quando não são atendidas, a ponto da visita se constituir como uma condição estabelecida entre pais e filhos para que estes últimos se comportem bem. Neste caso, o McDonald‟s passa a ser considerado não somente o local preferido para fazer refeições, mas o presente, a recompensa que será oferecida caso um cumprimento de regras seja estabelecido. A partir dessas observações, levantamos uma questão: de onde vem a tal “magia” que atrai, envolve e fideliza tantos consumidores? O caso do McDonald‟s, em particular, envolve o contínuo surgimento de dezenas de concorrentes diretos e indiretos que oferecem os mesmos serviços a preços semelhantes, e, não-raro, serviços ainda mais diversificados, a preços mais acessíveis. Se o McDonald‟s vende hambúrgueres, e estes não são fabricados de maneira especial, porque os clientes o superestimam? Interessados a respeito, buscamos aprofundar o estudo do fetichismo em torno do McDonald‟s. São muitas as razões que podem levar o 2 consumidor a enxergar a marca além do que ela realmente é, e pesquisas nesse sentido é o que não faltam. Mas o que realmente nos motivou a fazer essa investigação foi a premissa de que o McDonald‟s não apenas atende aos desejos dos consumidores, ele próprio os cria. E como os cria? Em que nível isso acontece? E sob que aspectos? Procurando responder estas questões, partimos para o estudo seguindo a hipótese de o McDonald‟s criar desejos a partir de estratégias que trabalham os aspectos sensoriais para conectar os consumidores à marca. Assim, apela para o estímulo aos cinco sentidos, atuando em um nível emocional inconsciente – dito subliminar – que faz com que sua conexão se estabeleça de maneira inadvertida e, portanto, despercebida por parte dos receptores, o que os tornam vulneráveis, suscetíveis e altamente sugestionáveis para o impulso de compra. Esta pesquisa se justifica pela contribuição em relação à criação de marcas emocionais que utilizam o apelo sensorial como a chave para o sucesso das empresas, tendo em vista que a publicidade bidimensional (que chama atenção apenas para a visão e a audição) já não se apresenta mais eficiente para promover marcas e comunicar as suas mensagens de maneira diferenciada. Também se justifica por sua contribuição para a própria marca McDonald‟s, que é o objeto de estudo deste trabalho, ao estabelecer paralelos com os assuntos relacionados e fornecer uma análise aprofundada do seu potencial multissensorial. A presente monografia tem como objetivo central compreender em que medida a marca McDonald‟s utiliza o apelo sensorial como estratégia para criar reconhecimento de marca e fidelizar os seus consumidores. Também tem por objetivos pesquisar como a marca McDonald‟s se desenvolveu e se transformou no símbolo do fetichismo ao longo da sua história; investigar até que ponto a fidelidade dos clientes a uma marca é determinada por fatores psicológicos comuns de comportamento de consumo; verificar que estratégias de marketing foram utilizadas pelo McDonald‟s com o intuito de criar reconhecimento de marca e conexão emocional com os seus consumidores; discutir o efeito que exercem as estratégias de marketing subliminar e sensorial sobre o comportamento humano, e, finalmente, demonstrar a importância da utilização do apelo sensorial para a construção de marca. 3 Trata-se de uma pesquisa exploratória realizada por meio do estudo de caso, de levantamentos bibliográficos e de obtenção de dados documentais. A pesquisa exploratória é realizada especialmente quando, segundo Gil (1999), o tema quer modificar ou desvendar conceitos a respeito do assunto a ser pesquisado. O estudo de caso, por sua vez, visa compreender em profundidade a marca McDonald‟s sob o aspecto do apelo às sensações e emoções. E a análise da marca se baseia no princípio de desconstrução proposto pelo autor Martin Lindstrom (2007) na obra Brandsense – a marca multissensorial. O estudo se inicia apresentando o objeto da análise – a empresa McDonald‟s – como uma entidade corporativa, através da sua história, dos seus princípios, das suas estratégias, dos seus valores, do seu comportamento e dos seus sistemas de gestão. O segundo capítulo se dedica a apresentar uma fundamentação teórica a respeito do marketing aplicado à publicidade, compreendendo os seus principais conceitos, estratégias e seu posicionamento frente ao comportamento do consumidor, traçando paralelos com o caso particular do nosso objeto de estudo. O terceiro capítulo compreende o processo de gestão de marcas na atualidade, discorrendo sobre a evolução do seu conceito ao longo dos anos, os aspectos que compõem o seu patrimônio (brand equity) e os seus principais elementos constitutivos. O capítulo considera, também, a respeito dos clientes exigentes que estão emergindo como grandes consumidores na sociedade moderna, que são sensíveis ao comportamento das marcas e que devem ser reconhecidos pelos seus potenciais de influência, decisão e consumo. No quatro capítulo, apresentamos o marketing subliminar e as suas comunicações despercebidas, como estratégias modernas e diferenciadas para o processo de sedução dos consumidores em direção às marcas, aos produtos e aos serviços. Tratamos também dos estudos relacionados à psicologia do consumidor que justificam este processo de vulnerabilidade, mostrando que ele é desarmado pelos seus próprios mecanismos de defesa. Finalmente, o quinto e último capítulo trata da marca como entidade multissensorial, e apresenta a metodologia de pesquisa utilizada para analisar a marca McDonald‟s. 4 2. CAPÍTULO I – A EMPRESA McDONALD’S1 Presente atualmente em 121 países, com mais de 31 mil restaurantes alimentando diariamente 48 milhões de clientes e gerando vendas acima de US$ 20 bilhões, o McDonald‟s é uma marca que cresce ano a ano. Entre eles, o Brasil se destaca ao representar um dos oito maiores mercados da corporação e estar entre os cinco com o maior crescimento desde 2000. Instalada no País desde 1979, a empresa ocupa posição de grande importância no setor de alimentação. Líder do segmento de restaurantes de serviço rápido, responde por 1.188 pontos-de-venda instalados em 134 cidades de 21 Estados e no Distrito Federal. Diariamente, mais de 1,5 milhão de pessoas freqüentam as suas unidades.2 Segundo a consultoria britânica Interbrand, somente a marca McDonald‟s está avaliada em US$ 27.5 bilhões, ocupando a posição de número nove no ranking das marcas mais valiosas do mundo. Os sanduíches, acompanhamentos, bebidas, sobremesas e itens de cafeteria que compõem a linha de produtos do McDonald‟s são reconhecidos internacionalmente pelo característico padrão de qualidade da marca. O negócio da empresa, no entanto, é mais do que alimentar o consumidor. Dos ingredientes rigorosamente selecionados à rapidez e à cortesia no atendimento, da limpeza das instalações aos cuidados com a decoração do ambiente, tudo é concebido para proporcionar uma refeição saborosa, nutritiva e, em todos os sentidos, agradável. Portanto, mais do que vender hambúrguer ou batatas fritas, a vocação do McDonald‟s é oferecer “momentos saborosos”, uma experiência de plena satisfação ao cliente – a qualquer hora, em qualquer ponto-de-venda da rede e nas mais diferentes cidades do mundo. Alinhado entre os cinco maiores empregadores do Brasil, do atual quadro de 35 mil funcionários da própria rede e franqueados, 91% têm menos de 25 anos de idade e 55% são do sexo feminino, o que consolida a imagem de grande gerador de postos de trabalho para jovens e mulheres. Priorizando a contratação de pessoas das comunidades do entorno de suas unidades, a empresa representa a oportunidade de entrar no mercado de trabalho para 67% dos atendentes de 1 McDonald‟s Comércio de Alimentos LTDA é uma empresa que atua no segmento de fast food em escala global. 2 Os dados numéricos e as informações institucionais expostos no presente capítulo foram consultados e extraídos da publicação corporativa Balanço Social 2004 McDonald‟s Brasil, 2005. 5 restaurante. O McDonald‟s é hoje um reconhecido núcleo de formação profissional, no qual os jovens são expostos a atividades educativas visando à qualificação técnica, ao senso de comprometimento com o negócio e a valores como espírito de equipe e responsabilidade social. 2.1 História da empresa A história da transformação do McDonald‟s na maior rede de fast food do mundo teve início em 1937, quando os irmãos Dick e Maurice McDonald abriram um restaurante no sistema Drive-In na cidade de Arcádia, na Califórnia. Três anos mais tarde, mudaram-se para a cidade de San Bernardino, também na Califórnia, onde abriram um restaurante McDonald´s na famosa Rota 66. O cardápio continha apenas 25 itens, a maioria deles churrascos. Em 1948, depois de notar que grande parte do faturamento provinha da venda de hambúrguer, os irmãos renovaram totalmente o restaurante: substituíram todos os utensílios por embalagens descartáveis, oportunizaram a visitação pública de sua cozinha (onde os clientes podiam ver a impecável higiene e limpeza), eliminaram o serviço de garçonetes, típicos de drive-ins (os clientes teriam que sair dos seus carros e fazer o pedido no balcão), introduziram uma nova forma de produção dos sanduíches com a reformulação do cardápio e os alimentos passaram a ser preparados com base em uma linha de montagem. Quando o restaurante foi reaberto, passou a vender somente um tipo de hambúrguer, um de cheeseburguer, três sabores de refrigerante, café, leite, batata frita e um tipo de torta (FONTENELLE, 2002). E foi aí que a história da empresa começou a ser um grande sucesso. A história da marca começou a mudar em 1954, quando o vendedor de máquinas de agitar milkshakes (multimixers), Ray Kroc, ficou fascinado com a popularidade e estilo do restaurante McDonald‟s durante uma visita comercial. Depois de ver o restaurante em operação, propôs aos irmãos McDonald, que já vendiam franquias, a vendê-las fora da localização original da empresa (Califórnia e Arizona), sendo dele a primeira franquia. Partiu para Chicago com uma planta do restaurante, uma receita para as batatas fritas e um contrato que lhe dava permissão para encontrar novos locais para as filiais. Uma das únicas exigências era a de que todos os restaurantes deveriam ter a aparência exatamente igual ao original. Assim, 6 em abril de 1955 o ex-representante comercial inaugurou seu primeiro restaurante em Des Plaines, no Estado de Illinois (FONTENELLE, 2002). A idéia era simples: servir hambúrgueres de boa qualidade através de um serviço rápido e cortês em um ambiente totalmente limpo. Estes conceitos estão até hoje ligados à marca. Começava, naquele momento, uma revolução na indústria e na história da alimentação mundial. Um ano depois, Ray Kroc já tinha montado uma rede com mais de 20 restaurantes espalhados pelo território norte-americano. Em 1958 completava a venda de mais de 100 milhões de hambúrgueres. No início dos anos 60, a dedicação de Kroc aos estabelecimentos era total, e logo se cansou da letargia dos irmãos McDonald. Com a ajuda de um investidor desembolsou milhões em verba e comprou a parte dos irmãos McDonald no negócio. Nesta mesma década, os estabelecimentos ganharam lugares para sentar e, em 1967, com quase mil restaurantes funcionando nos Estados Unidos, o McDonald‟s iniciava sua escalada internacional (FONTENELLE, 2002). Em relação à marca, com o fim da Segunda Guerra Mundial, Ray Kroc contratou um antigo funcionário dos estúdios MGM para fazer publicidade de suas lanchonetes. A nova população americana, formada basicamente por crianças, seria o público-alvo. O mascote escolhido para a marca representava a rapidez do atendimento e foi o cozinheiro Speedee, um boneco que lembrava um mestre-cuca com cabeça de hambúrguer. Logo foi rebatizado para Archie McDonald – já em uma alusão aos posteriores e famosos arcos amarelos. Em 1965, os franqueados John Gibson e Oscar Goldstein lançaram o novo mascote, cujo nome foi baseado em uma simples rima: Ronald McDonald. Adotando uma abordagem descentralizada, a empresa também começou a construir playgrounds pelos Estados Unidos. As crianças ficaram fascinadas: sanduíches embrulhados como presentes, refrigerantes com canudinhos coloridos, refeições acompanhadas de brindes; além de tudo, na recepção havia um palhaço (FONTENELLE, 2002). No Brasil – o 25° País do mundo a ter uma lanchonete McDonald‟s instalada em seu território – a rede está presente desde 1979, quando inaugurou uma unidade na praia de Copacabana no Rio de Janeiro. Dois anos depois, chegou a São Paulo, com a abertura de um restaurante na Avenida Paulista. O sucesso foi tão grande em São Paulo que, já em 1984, foi implantado na cidade o sistema Drive-Thru. Adquiriu enorme popularidade em 1994 com o slogan “Gostoso como a vida tem que ser”. 7 Existem no cardápio do McDonald‟s produtos desenvolvidos exclusivamente para o Brasil, como o sanduíche Cheddar McMelt, o guaraná, a torta de banana, o McFruit Maracujá, o McNífico Bacon e o já extinto McCalabresa. O Big Tasty, que foi lançado com o slogan “O grande matador de fome”, consolidou-se como um dos sanduíches mais vendidos do McDonald‟s no Brasil ao lado do campeão Big Mac, que vende em média 50 milhões de unidades por ano. 3 2.2 Visão, estratégia e valores Quatro compromissos orientam as atividades desenvolvidas pelo McDonald‟s no território brasileiro. Trata-se de um conjunto de princípios que sintetizam e traduzem a amplitude daquilo que a empresa entende como o seu papel dentro da sociedade. São eles: ser o melhor empregador e oferecer uma experiência única de desenvolvimento profissional e pessoal; oferecer produtos saudáveis e de qualidade, adequados a uma alimentação variada, equilibrada e nutritiva; participar ativamente junto às comunidades atuando como um bom vizinho, que se preocupa com o meio ambiente e realiza ações em prol da saúde e do esporte; investir continuamente no desenvolvimento econômico, social e ambiental no Brasil. Honrar tais compromissos tem sido para a empresa um sucesso desafiador. Ao longo dos últimos vinte e oito anos, a rede cresceu, organizou-se e instituiu um modelo padrão no setor de alimentação. Com a meta permanente de desenvolver e aprimorar o modelo de contribuição direta de funcionários, franqueados e fornecedores, a empresa se impõe à obediência a quatro princípios estratégicos: Concentração de esforços em uma única atividade – a venda de refeições; Ênfase na gestão de pessoas; Administração descentralizada; Trabalho em parceria com os fornecedores; Manter sob controle as diversas variáveis envolvidas no negócio é indispensável para sustentar o desenvolvimento da empresa ao longo do tempo. 3 Fonte: MUNDO DAS MARCAS, 2006. Disponível em: <http://www.mundodasmarcas.blogspot. com/2006/05/mcdonalds-inveno-do-fast-food.html>. Acesso em: 12 set. 2007 8 Para isso, o McDonald‟s tem o seu trabalho orientado por um conjunto de valores corporativos. São eles: Interagir permanentemente com o cliente, entendendo suas necessidades e conquistando sua simpatia, sua satisfação e sua confiança; Formar e desenvolver pessoas; Conviver de forma positiva com a diversidade de opiniões, promovendo atitudes que fortaleçam o comprometimento com a decisão da equipe; Agir sempre de maneira íntegra e coerente com os valores e princípios defendidos; Promover com equilíbrio o sucesso de todo o sistema McDonald‟s (funcionários, franqueados e fornecedores); Manter o entusiasmo e a determinação de fazer o melhor, renovando continuamente a energia para o sucesso; Praticar efetivamente o equilíbrio e a harmonia entre os focos de dedicação (trabalho, família, saúde, estudo e lazer) que promovam a felicidade e a qualidade de vida; Reconhecer os esforços, as atitudes cotidianas e o empenho das pessoas em trabalhar em equipe, estimulando os talentos e celebrando as conquistas; Promover atitudes que reforcem a consistência e a prática da cidadania, dentro e fora da empresa. 2.3 Sistemas de gestão Estima-se que a marca McDonald‟s responda por 70% do valor de mercado da corporação McDonald‟s.4 No Brasil, o significado da marca confunde-se também com o pioneirismo em ações que contribuíram decisivamente para introduzir ou modernizar os conceitos de serviço ao cliente, franquia, valorização de pessoal, relacionamento com fornecedores, ação comunitária e interação empresa-governo. 4 Balanço Social 2004 McDonald‟s Brasil, 2005, op. cit. 9 Desde a sua chegada no País, a empresa destacou-se como introdutora de ações e procedimentos que, não raro, tornaram-se paradigmas para o setor e até mesmo para companhias de outras áreas de atuação. Configurada como tradição, essa filosofia de trabalho fez do McDonald‟s uma liderança natural no campo da inovação empresarial brasileira. Este é, de certa forma, um papel que a sociedade habituou-se a atribuir ao McDonald‟s. O diálogo estabelecido com a sociedade reforça o vínculo da empresa com consumidores, comunidade, parceiros, autoridades e poder público. As necessidades, demandas e os questionamentos desses públicos são a matéria bruta a partir da qual se extraem soluções para a elevação da qualidade em escala sistêmica: no produto, no serviço, na presença institucional. 2.3.1 Gestão de clientes O restaurante é o principal canal de comunicação do McDonald‟s. Cada unidade da rede do restaurante tem autonomia para prestar informações e atender a queixas apresentadas por clientes, solucionando os problemas na hora, na medida do possível. A ordem expressa é antecipar-se à formulação da eventual reclamação: o sanduíche que acidentalmente cai da bandeja, é logo substituído por outro, sem que o cliente precise solicitar a troca, por exemplo. Cada gerente de restaurante, assim, personifica uma unidade de Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) pronta para oferecer resposta imediata às demandas do cliente. Caso não se satisfaça com a solução apresentada nessa primeira instância, o cliente tem à disposição o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) ou e-mail, por meio do qual a empresa acolhe observações, dúvidas, pedidos ou reclamações. São mais de treze mil manifestações de clientes por ano atualmente, constituindo uma ferramenta importante de monitoramento da satisfação dos consumidores. Satisfazer os consumidores, no caso, consiste em cumprir a promessa da marca. Em outras palavras, isso significa proporcionar a experiência de ser cliente de um restaurante rápido e fácil de usar, acessível, limpo, seguro, confortável, convidativo, dedicado às crianças, conveniente, comprometido com a comunidade e que ofereça escolha e variedade. 10 Todos os anos, uma pesquisa anual realizada em dezoito regiões do país detecta o grau de percepção desse conjunto de atributos por parte do cliente. Um monitoramento mais fino é realizado pelo programa “Cliente Misterioso”, pelo qual, sem se identificar, auditores (mistery shoppers) visitam restaurantes como clientes comuns e avaliam se a promessa da marca é cumprida a contento. O foco permanente no cliente permite à empresa antecipar-se às demandas de mercado – sejam elas referentes à composição do sanduíche que chega à mesa ou à decoração do restaurante. É o caso da campanha “Saladas e Muito Mais”, que, após duras críticas em relação à epidemia de obesidade nos Estados Unidos e no mundo, fez o McDonald‟s introduzir o novo cardápio de saladas em dezembro de 2004. Acompanhando o lançamento, a empresa desde então vem distribuindo milhões de exemplares da nova versão de seu Guia Nutricional, com dicas sobre saúde, alimentação e qualidade de vida, além das lâminas de bandeja com tabelas nutricionais impressas no verso. Formalizado no Brasil em 2005, o novo comitê de Gestão Nutricional representa o interesse do McDonald‟s em manter sintonia com a mudança de hábitos de consumo do cliente brasileiro, hoje muito atento à importância de uma alimentação balanceada. Diante de um público ciente de que pode e deve exigir cada vez mais opções de escolha no cardápio, as ações da empresa têm estimulado a diversificação do menu e enfatizado sua disponibilidade de informações nutricionais. Em outra medida, a companhia também se mobiliza para conscientizar seus clientes sobre a relação direta entre atividade física e vida saudável. Entreter com informação também é uma idéia no projeto Educação de Bandeja. Trata-se de disponibilizar, através das lâminas de papel das bandejas, dicas e curiosidades dos esportes, brincadeiras e outras atividades saudáveis especialmente para o público infantil. Renovados mensalmente, os assuntos também variam desde mitologia grega à origem dos nomes, passando pela divulgação do McDia Feliz. 2.3.2 Gestão de pessoas Investir em formação, capacitação e desenvolvimento contínuo das pessoas é visto pela empresa como a chave do crescimento sustentável a longo prazo. A empresa é uma das maiores empregadoras do setor privado brasileiro – e empenha 11 esforços permanentes para se manter também entre as mais atraentes para o trabalhador. Em sintonia com a imagem de juventude associada à marca, cerca de 98% dos funcionários diretos da companhia têm entre 16 e 35 anos. O perfil etário do quadro de pessoal faz do McDonald‟s também o maior empregador de jovens do País e o que mais oferece oportunidades de iniciação no mercado de trabalho. Ao recrutar atendentes para os seus restaurantes, a empresa não exige experiência anterior, assumindo a responsabilidade de formá-los, por meio de cursos e treinamentos consecutivos. A cada ano, por exemplo, a empresa promove nos restaurantes campanhas de conscientização sobre gravidez na adolescência ou DST‟s, fenômenos considerados problemas de saúde pública no Brasil. O incentivo ao estudo é permanente e começa pela própria jornada de trabalho, em regime de meio-período, para que o funcionário freqüente a escola – exigência da empresa. A promoção a determinados cargos está condicionada à progressão escolar continuada. Em sua maioria, o time de atendentes de restaurante está em sua primeira experiência profissional e cursa o Ensino Médio. No cotidiano de trabalho, o jovem deve sentir-se respeitado, participar de decisões diárias e expressar seus pontos-de-vista, objetivo que contribui para a construção de sua auto-estima pessoal e profissional. Ainda que saia da empresa, espera-se que essa pessoa, questionadora e ciente de seu potencial, esteja bemencaminhada para lutar pela auto-realização no mercado de trabalho e na vida. 2.4 Diversidade Buscar o equilíbrio da diversidade é uma diretriz internacional do grupo McDonald‟s e conta com pontos na avaliação anual de cada chairman regional. Com efeito cascata, a determinação superior obviamente influencia as políticas do McDonald‟s nos mais diferentes países. Não é diferente no Brasil, onde o quadro de pessoal da empresa se assemelha a um retrato em escala reduzida da riqueza humana do País. Cada um dos mais de quinhentos restaurantes e outros diversos pontos-de-venda do McDonald‟s têm a orientação expressa de prestigiar mão-deobra local na hora de recrutar sua equipe, que acaba refletindo a composição daquela comunidade. 12 A identificação com aquilo que há de melhor no País – a aceitação das diferenças – procura alinhar o McDonald‟s na defesa de ações de inclusão. Desde 1° de setembro de 2004, vigora na empresa a política de Tolerância Zero em relação a temas como assédio e discriminação. O primeiro restaurante brasileiro a introduzir cardápios em braile e a adotar rampas de acesso a cadeiras de rodas como padrão no projeto de suas unidades, mantém um programa de incentivo à contratação de portadores de necessidades especiais, sejam eles de ordem física ou mental. Downianos e deficientes auditivos estão entre os mais aptos, considerando este público interno, a atuar na linha de frente da empresa. Dentro do mesmo espírito, o McDonald‟s também participa do Projeto Menor Aprendiz, do Governo Federal. A iniciativa atende a adolescentes não necessariamente enquadrados no perfil McDonald‟s, mas oferece formação técnica para atuação em restaurantes, incluindo palestras sobre temas transversais, como sexualidade e prevenção ao uso de drogas. Além dessas ações de engajamento, o McDonald‟s também se vale de uma série de instrumentos para garantir um ambiente de trabalho agradável. Isso implica a promoção de atividades que incentivem a motivação e o envolvimento dos colaboradores na execução dos serviços, com reconhecimento e estímulo aos indivíduos que apresentem desempenhos excepcionais. O programa “Destaque do Mês” homenageia com quadro e foto os funcionários de alta performance de cada turno nos restaurantes, eleitos pelos colegas, recebendo ainda um bônus de 25% do salário médio da função. Outro exemplo é a gincana “Na ponta da língua”, criada em 2003 para avaliar a compreensão dos atendentes sobre os Compromissos McDonald‟s. A unidade cujo pessoal acerta todas as questões recebe um diploma. Tem ainda a ação Star, uma competição que premia aqueles que sabem tudo sobre QSL (Qualidade, Serviço e Limpeza), oferecendo, todos os anos, bolsas de estudo aos melhores funcionários de 30 estações de trabalho dos restaurantes. 13 2.5 Comunicação A diversidade de opiniões também encontra acolhida na empresa, uma vez que se trata de um princípio vinculado ao valor corporativo de justiça. Diversas instâncias são disponibilizadas para a livre manifestação do funcionário. A primeira delas é o Programa Portas Abertas: qualquer profissional tem o direito de ser atendido por seu superior, a qualquer momento e para expor qualquer tipo de assunto. Outra via democrática de diálogo é o Programa Aberto Para Ouvir (PAPO), canal direto entre qualquer funcionário e a direção da empresa, através de aerogramas para que o profissional envie sua sugestão, queixa, crítica ou elogios a uma central de atendimento. Sugestões e opiniões de funcionários são acolhidas na revista mensal McNews, o mais importante veículo interno da empresa, uma vez que atinge todos os funcionários dos escritórios e dos restaurantes, levando ao leitor novidades, políticas, mudanças, procedimentos, resultados de competições e campanhas internas. 2.6 Relação com a comunidade Como premissa corporativa, cada restaurante emprega mão-de-obra residente em seu entorno geográfico. Em cada ponto onde se instala, portanto, a bandeira vermelha e amarela já chega impulsionando a economia local. Trata-se do primeiro de uma série de impactos positivos para aquela comunidade. O modelo de inserção comunitária da empresa conjuga esforços de funcionários, franqueados e fornecedores em iniciativas regulares com foco em saúde, esporte e educação. A visão é a de que a empresa tem o dever de retribuir à população todo o apoio que possibilitou o enorme sucesso alcançado no País. Atuante também na área de responsabilidade social, o McDonald‟s é freqüentemente citado pelo anuário Guia Exame de Boa Cidadania Corporativa como destaque de empresa em favor da comunidade. Um dos maiores destaques do McDonald‟s na área é o Instituto Ronald McDonald, uma organização civil sem 14 fins lucrativos fundado e alimentado pela empresa desde 1999, cujo papel é “propiciar, com dignidade e conforto, o tratamento às crianças e adolescentes portadores de câncer no Brasil”. O Instituto Ronald McDonald capta recursos e os destina para aquelas organizações que apresentam projetos consistentes para a área de tratamento e busca da cura da doença. Ao longo de todo o ano, o McDonald‟s dedica apoio àqueles que lutam contra o câncer infanto-juvenil através do repasse de parte da verba arrecadada com a comercialização McLanche Feliz, a refeição infantil do McDonald‟s. Além disso, os clientes dos restaurantes também são convidados a colaborar com o Instituto Ronald McDonald através de cofrinhos instalados ao lado de cada caixa operador. No entanto, do conjunto de iniciativas em benefício da criança e do adolescente com câncer, o McDia Feliz se destaca como o projeto de maior visibilidade. Realizado anualmente em um sábado, reverte todo o dinheiro levantado com a venda diária de sanduíches Big Mac para hospitais, instituições e ONG‟s cadastrados pelo IRM nessa iniciativa. Por saber que um dos grandes problemas enfrentados por pacientes dessa doença é a migração temporária de suas cidades e regiões em busca de um tratamento adequado, que concentram os centros oncológicos mais avançados na região Sudeste do País, o McDonald‟s também procura ajudar pessoas nessa situação através da Casa Ronald McDonald, no Rio de Janeiro. O objetivo é oferecer amparo, hospedagem, alimentação e transporte aos pacientes e responsáveis que vão ficar longe de casa durante o tratamento. Uma outra forma de envolvimento comunitário foi criada em função das solicitações de restaurantes que ansiavam por promover ações locais de responsabilidade social: o Programa Bom Vizinho faz cada restaurante McDonald‟s ficar atento para as comunidades de suas redondezas, levando muitos funcionários e gerentes a atividades voluntárias que promovem o espírito solidário e a unificação da equipe. Como complemento ao programa, em 2003 surgiu a Gincana Bom Vizinho, criada para capacitar restaurantes e seus colaboradores a construírem um relacionamento duradouro com a população por meio de atividades que fortaleçam a noção de cidadania. As atividades, variadas, se estendem desde o entretenimento de crianças em hospitais ou creches carentes, passando por ginástica para a 15 comunidade via parceria com academias locais, até arrecadações de grande porte (de alimentos, roupas ou brinquedos) em benefício da comunidade local. Como aspirante a bom vizinho, o McDonald‟s também apóia e participa de campanhas de utilidade pública. Tradicionalmente, em locais carentes de estrutura adequada, o McDonald‟s disponibiliza seus restaurantes como postos de atendimento da Campanha Nacional de Vacinação contra a Paralisia Infantil. Também, data de 2001 a participação da empresa na luta contra a exclusão digital, ao oferecer aos seus funcionários e clientes acesso gratuito à Internet – a McInternet – por meio de terminais instalados nos próprios restaurantes. As atividades de envolvimento comunitário também se estendem para além da porta da empresa e dos restaurantes com o Programa Ronald McDonald. Crianças em escolas, creches e hospitais são as platéias dos espetáculos gratuitos protagonizados pelo personagem-símbolo da marca, trazendo em seus shows mágicas, entretenimento e lições a respeito de nutrição, vida ativa, cidadania e bons hábitos e educação. Vimos até aqui os princípios básicos que norteiam todos os restaurantes McDonald‟s do mundo, focalizando em especial o brasileiro. Pudemos conhecer melhor essa empresa como uma entidade corporativa, através das suas estratégias, dos seus valores e dos seus sistemas de gestão. A partir de agora, nos dedicaremos a compreender as suas principais estratégias de marketing, e para isso nos apoiaremos nas definições e conceitos propostos pelos autores especialistas no assunto, visando traçar, ao longo do trabalho, os paralelos com a marca para que a análise fique ainda mais aprofundada e pertinente. 16 3. CAPÍTULO II – O MARKETING NA PUBLICIDADE Novas empresas, novas marcas e novos produtos são posicionados no mercado a todo instante para disputar os consumidores e, entre eles, há muitos que são criados por pessoas despreparadas que se arriscam no mundo dos negócios motivadas pelo desejo de obter dinheiro e sucesso rapidamente. A conseqüência é que muitos desses empreendedores acabam por fracassar, porque há uma grande diferença entre aqueles que têm apenas grandes idéias e aqueles que têm, acima de tudo, conhecimento e ferramentas ideais para vencer. Englobando esses conhecimentos e ferramentas necessárias para fazer uma empresa lucrar e se destacar da concorrência, cada vez mais o marketing ganha importância no cenário empresarial global. É sobre ele que trataremos neste capítulo. 3.1 Definição de Marketing Há uma grande diversidade em relação ao conceito de marketing. Las Casas (2000) define o marketing como sendo a área de conhecimento que engloba todas as atividades relacionadas à troca, desejos, necessidades e satisfação dos consumidores. Segundo Kotler (2000, p.33): Marketing significa trabalhar com mercados, os quais, por sua vez, significam a tentativa de realizar as trocas em potencial com o objetivo de satisfazer às necessidades e aos desejos humanos. Assim, voltamos à definição de que marketing é a atividade humana dirigida para a satisfação das necessidades e desejos através do processo de troca. Dias (2003, p.3) define marketing da seguinte maneira: Marketing é uma palavra em inglês derivada de market, que significa mercado. É utilizada para expressar a ação voltada para o mercado. Assim entende-se que a empresa pratica o marketing tem o mercado como a razão e o foco de suas ações. 17 Dias (2003) relata também que o conceito de marketing surgiu após a guerra nos anos 50, quando a industrialização mundial acirrou a disputa pelos mercados e as empresas viram que não adiantava ter somente produtos bons com um custo inferior, mas custos e benefícios que o levariam a sua escolha. Desde esta época, as empresas já começavam a praticar pesquisas e análises de mercado para poder adequar seus produtos e serviços às necessidades dos consumidores, comunicando seus benefícios em veículos de massa, fazendo promoção de vendas e expandindo seus canais de distribuição. Dias (2003, p.3) descreve o conceito de marketing como: [...] a função empresarial que cria continuamente valor para o cliente e gera vantagem competitiva duradoura para a empresa, por meio da gestão estratégica das variáveis controláveis de marketing: produto, preço, comunicação e distribuição. De acordo com Kotler (2000), o conceito de marketing é um avanço em relação ao conceito de vendas. No conceito de vendas, o principal enfoque de uma empresa está em encontrar um comprador para o produto que ela fabrica, e de alguma forma “vender” a esse cliente a idéia de desfazer-se de seu dinheiro em troca do produto que a empresa oferece. Em contrapartida, no conceito de marketing, que reflete uma visão mais contemporânea do campo, o objetivo da empresa é fazer o que o cliente deseja. Por este motivo, a empresa orientada para o mercado concentra-se no entendimento das necessidades e desejos dinâmicos de seus clientes. A orientação para o cliente significa pleno entendimento dos seus desejos e necessidades, do ambiente competitivo e da natureza do mercado, empregado para formular todos os planos e ações da empresa a fim de tornar os clientes satisfeitos. Assim, o marketing consiste em uma série de fenômenos consecutivos, pelos quais os indivíduos e seus grupos de referência adquirem o que desejam e necessitam, através de oferta e troca de produtos de valor com outras pessoas. Na visão de Kotler (2000) o conceito de marketing, portanto, enfatiza a necessidade do cliente como forma de satisfazer os objetivos da organização. 18 Na perspectiva de McKenna (1993), o marketing é a forma de relações, unida à comunicação de conceitos e à criação de novos mercados, que, como um processo educativo, representa uma nova forma de raciocínio que se deve difundir pela empresa inteira. No entanto, não existe fonte de informação maior que o cliente, pois conhecendo seus clientes e suas necessidades, a empresa é capaz de se voltar para ele agindo com base nas informações que possui sobre os consumidores. Conforme os conceitos expostos, observamos que a chave do sucesso empresarial consiste em voltar à atenção para os desejos e necessidades dos clientes. Contudo, além de concentrar as ações no mercado, é preciso alcançar os objetivos da empresa, visando à maximização dos resultados e a diminuição dos riscos. Mais do que isso, a empresa deve formar as relações certas, no intuito de conquistar o crédito e o reconhecimento que não conquistaria somente com a publicidade (MCKENNA, 1993). Por isso, as organizações desenvolvem um plano estratégico de marketing, coordenando e definindo estratégias na busca de vantagens competitivas sobre a concorrência, a fim de proporcionar à empresa condições de conhecer o mercado consumidor, ou seja: o que se deve vender, a que preço e para quem vender, assim como a sua distribuição e como promovê-la com eficácia. Churchill (2003), sustenta que os elementos produto, preço, comunicação e distribuição (ou promoção e praça) são chamados também de composto de marketing ou “quatro Ps”. Esses elementos são muito importantes e devem ser combinados de forma coerente para tornar sua utilização de forma eficiente. 3.2 Composto de Marketing Quando falamos em composto de marketing, estamos nos referindo a um conjunto de instrumentos e ferramentas controláveis, por meio dos quais as empresas podem obter um melhor ajustamento entre a oferta que a empresa faz ao mercado e a demanda existente. A seguir, destacamos os quatros componentes deste mix: Produto, Preço, Praça e Promoção. 19 Produto Definir o produto é provavelmente a mais importante decisão de planejamento que uma empresa pode tomar. É através dos produtos que descobrimos o direcionamento das empresas, pois identificamos o que a empresa deseja atingir. Eles são oferecidos com intuito de suprir uma necessidade ou um desejo. Não falamos necessariamente de um produto físico, mas de serviços prestados que também resultam em produtos adquiridos pelo consumidor. Segundo Las Casas (1997, p. 167) "Produtos podem ser definidos como o objeto principal das relações de troca que podem ser oferecidos num mercado para pessoas físicas ou jurídicas, visando proporcionar satisfação a quem os adquire ou consome". Ao serem elaboradas, as organizações devem considerar que um produto precisa oferecer muito mais do que um simples objeto, ou alimento; ele deve encantar o cliente pelo diferencial que traz agregado a sua real utilização. Segundo especialistas, o produto deve proporcionar utilidade para quem vai consumir, pois quanto maior for a utilidade proporcionada, maior será a chance de ser escolhido entre as alternativas existentes. O mix de produtos que o mercado oferece atualmente é enorme, e, dependendo da linha de produtos que a empresa trabalha, ela só consegue diferenciar o seu produto da concorrência oferecendo um valor a mais, seja no design, na facilidade de manuseio ou até mesmo no seu descarte. Considerando-se tais tendências, as organizações precisam avaliar aspectos como disponibilidade do produto no ponto de venda, suas características, atributos e a satisfação proveniente de sua posse, como fatores que determinam sua utilidade total. Conforme Las Casas (1997, p. 169) "Algumas vezes o esforço de diferenciação poderá ser feito não nas características físicas do produto ou nos produtos adicionais, mas na mente do consumidor". No caso das empresas do ramo de fast food, por exemplo, o produto oferecido é comida rápida, seja ele hambúrguer ou prato feito. No entanto, com um mercado lotado de ofertas semelhantes a preços competitivos, a preferência passa a ser aquele restaurante que não entrega somente o alimento servido de maneira rápida, mas sim, junto com ela, um pacote que inclui um serviço cortês e um ambiente limpo 20 e agradável, apesar da rapidez. No entanto, o restaurante que serve comida rápida em um ambiente que se mantém agradável e que, ainda, é capaz de servir como um “refúgio” por proporcionar um momento de prazer àqueles consumidores que estão preocupados com seus problemas, certamente ganhará a preferência. E se, além disso, conhecer os seus clientes e tratá-los de maneira personalizada considerando a rapidez do serviço, maior a chance de conquistá-los. Assim, mais do que oferecer o produto principal, é fundamental que as organizações conheçam os seus perfis de clientes e tentem descobrir o que é que eles procuram. Ao oferecer o produto, devem incluir junto com ele variados serviços – tangíveis ou intangíveis – que surpreendam e satisfaçam suas necessidades e desejos, conquistando sua preferência e lealdade. Para Kotler (2000) esta orientação está relacionada ao Quinto "P" que se constitui no "Público". Kotler (2000, p. 126) define o verdadeiro valor para o cliente e, através de suas palavras, confirmamos que “uma empresa tem por objetivo oferecer algo de maneira diferente e melhor, para que o mercado-alvo venha a preferi-lo e até mesmo pague um preço mais alto por ele”. Esta parece ser uma das razões pela qual a marca McDonald‟s se destaca dos seus concorrentes diretos e indiretos mesmo a preços elevados. Não somente por oferecer aos clientes o padrão chamado QSL&V (qualidade, serviço, limpeza e valor), ou seja, lanches de qualidade através de um serviço diferenciado em um ambiente limpo a um preço justo; mas por conhecer os seus quatro principais perfis de clientes e por também ter sido o primeiro da sua categoria a estudar e oferecer estes diferenciais. Assim, conquistou a preferência de muitos clientes, cujos hábitos se transformaram em lealdade, que permanece e que se estende através das gerações. Preço À primeira vista, o preço representa para o cliente simplesmente o montante de dinheiro que irá desembolsar para adquirir um determinado produto; e se o produto apresentar um preço muito elevado, o consumidor acabará se sentindo lesado, que logo no início perderá o interesse pelo bem. 21 Para Gobe (2000, p. 35) “o preço representa o custo monetário do produto, a quantidade de dinheiro que os consumidores têm de pagar para adquiri-lo. Para o profissional de vendas, o preço permite expressar o valor do produto e gerar receita. Já para o consumidor, o preço é um padrão de medida usado para julgar o valor e potencial de satisfação”. Para que as empresas não percam oportunidades, é necessário demonstrar para o cliente de uma maneira inteligente os motivos pelo qual determinado produto tem um preço tão elevado, de modo que o consumidor sinta que está pagando pelos benefícios e também pelas vantagens que o produto oferece de maneira justa. No momento da formulação dos preços, as empresas devem levar em consideração, além dos custos de produção, a concorrência, o interesse do cliente, o lucro que deseja obter e, assim, transmitir que o preço do produto vai além do valor monetário. Quando o consumidor adquire um produto, ele demonstra que está pagando por algo que deseja e que trará algum tipo de retorno, podendo ser na maioria das vezes a satisfação pelo uso do bem que adquiriu. Segundo Las Casas (1997, p. 192) "Muitas decisões de compra são feitas com base nos preços dos produtos, a maioria dos consumidores possuem desejos e necessidades ilimitadas, porém recursos limitados. A alocação destes recursos de forma eficiente otimizará a satisfação dos indivíduos de uma sociedade. O comprador, portanto, de modo geral, somente comprará algum produto ou serviço se o preço justificar o nível de satisfação que poderá derivar de sua compra”. Assim, percebemos que a empresa também deve levar em consideração os valores intangíveis que o produto ou serviço oferece na determinação do preço que os consumidores irão pagar. Baseando-se apenas nos valores tangíveis, ela corre o risco de perder para a concorrência, já que os produtos estão cada vez mais parecidos e oferecendo benefícios igualmente muito semelhantes. Dessa maneira, retorna-se ao exemplo do padrão QSL&V que o McDonald‟s oferece aos seus clientes: são os diferenciais agregados ao produto principal – os lanches servidos de maneira rápida e exata – que aumentam a percepção de valor pelo cliente, fazendoo pagar mais caro e ainda considerar o preço justo. Ele percebe o preço elevado como justo porque é o que vale a satisfação que terá se lanchar nesta empresa pelos benefícios que oferece. 22 Praça Devido à globalização, o mercado pode contar com uma abertura imensa no que se refere aos meios de distribuição de produtos. As organizações buscam as formas mais eficazes para colocar o produto em lugares estratégicos que ofereçam uma boa visualização para o consumidor e que facilitem o seu manuseio. O ajustamento das empresas para eliminar perdas, elevar qualidade e, principalmente prestar bom serviço aos clientes, faz com que elas se empenhem em obter uma sincronia com todas as atividades relacionadas à logística. A distribuição nada mais é do que as atividades que envolvem tempo e movimento, ou seja, que tem como objetivo a movimentação e a armazenagem de cargas dentro de uma empresa a fim de melhor aproveitar os espaços físicos, definindo a melhor forma de movimentar os estoques e tudo o que está relacionado à distribuição do produto. Mas o sentido da logística também está ligado ao planejamento de marketing, ou seja, como fazer para que o consumidor tenha acesso aos produtos e serviços, qual é a melhor forma de disponibilizá-los e como ele valoriza estes agregados que um produto ou serviço pode oferecer. Assim, concordamos com a afirmação de Gobe (2000, p. 36): A palavra praça ou distribuição pode assumir dois significados. O primeiro está diretamente ligado ao planejamento de marketing, ou seja, qual é a melhor forma para que o consumidor tenha acesso aos produtos e aos serviços da empresa... O segundo sentido diz respeito a atividades de tempos e movimentos - movimentação e armazenagem de cargas dentro de uma empresa - e envolvem decisões como as seguintes: qual é a melhor forma de movimentar estoques; qual é o transporte mais adequado para fazer as mercadorias chegarem ao seu destino e qual é a melhor forma de operacionalizar esses fatores. Podemos considerar que distribuição está ligada ao fato de proporcionar facilidade para o consumidor no momento da aquisição do bem, e, em conseqüência da evolução do real atendimento da satisfação do cliente, as organizações devem considerar que o consumidor buscará aquele produto que lhe oferecer mais vantagem, desde o momento da compra até o momento da entrega da mercadoria. Consideramos, assim, o que explica Las Casas (1997, p. 215): 23 O sistema de distribuição a ser determinado por um administrador de marketing fará, portanto, parte do pacote de utilidade ou satisfação que os consumidores receberão com a compra do produto. A colocação de produtos em estabelecimentos apropriados e em épocas certas, a preços acessíveis ao consumidor visado, é, portanto determinante para o sucesso de uma estratégia mercadológica. Não podemos esquecer que, atualmente, o grande objetivo de um canal de distribuição eficiente é oferecer ao consumidor acessibilidade, pois é exatamente o que ele busca quando procura um produto e, muitas vezes, até se dispõe a pagar mais por isso. Conforme Kotler (2000, p. 126) "Eles querem que o produto ou serviço esteja disponível de maneira mais conveniente possível". A comodidade que os consumidores buscam faz com que muitas empresas modifiquem todo o seu planejamento de distribuição: umas deixam de atender apenas um segmento como rede atacadista e passam atender varejo, outras utilizam meios online para vender, tudo com o objetivo de oferecer ao cliente o produto de forma rápida e acessível. Neste caso, o conceito de canal ou de distribuição pode ser modernizado para disponibilidade, como uma forma de entregar, com a maior facilidade possível para o cliente, a utilidade do produto ou serviço. Através destas considerações, no caso do McDonald‟s, percebemos o impacto da disponibilidade no ponto-de-venda. Todo o layout dos estoques para reposição e do balcão (desde a estufa de alimentos até a distribuição das embalagens, dos brindes, das bandejas e lâminas, dos canudos e guardanapos, dos sachês de ketchup e mostarda) são programados para a estratégia de conveniência do serviço, ou seja, todo o espaço é pensado para ser melhor aproveitado e para facilitar o atendimento rápido ao consumidor. E, para os consumidores que não querem sair de casa, o McDonald‟s também oferece seu serviço de delivery (McEntrega), proporcionando aos seus consumidores o máximo de acessibilidade e conforto, ao bastar entrar no website, clicar o lanche desejado, a forma de pagamento, completar o endereço para entrega e esperar. O serviço disponibiliza ainda que o consumidor acompanhe o andamento do seu pedido, desde a montagem até a rota de entrega. 24 Promoção As organizações gastam tempo suficiente até descobrir qual é o produto ideal pra ser lançado no mercado e que mercado devem atingir. O que as empresas devem considerar é que, a partir do momento em que o produto está pronto para ser lançado, é preciso definir que ferramentas serão utilizadas para que o consumidor tenha conhecimento do seu produto. É nesta etapa do processo que a chamada Promoção é utilizada pelas corporações. Quando se escolhe um meio de fazer com que o público conheça o produto, é preciso usar os componentes necessários para que o cliente entenda a mensagem que se deseja passar, pois ela precisa transmitir o real significado do produto. Com isso afirmamos as palavras de Costa (1996, p. 51) "O ato de se comunicar com o mercado envolve, também, toda e qualquer oportunidade em que algo ou alguém da empresa de alguma forma tenha algum contato, direto ou indireto, com os públicos, passando-lhes algum tipo de mensagem". Para realizar uma ação promocional sobre um produto, as organizações devem pensar no composto para alcançar os objetivos com a comunicação que irá realizar. Características como alocação de verbas e determinação de quais atividades serão necessárias devem ser bem planejadas, pois existem produtos que não dependem unicamente de uma boa ação promocional para serem vendidos; precisam de um esforço em outras áreas, como um trabalho de vendas mais intenso, pois o simples fato de mostrar o produto em um comercial não é suficiente para despertar o interesse do cliente. Como ressalta Las Casas (1997, p. 245) "Para o desenvolvimento de uma estratégia promocional, os objetivos de marketing devem ser considerados. Assim é possível determinar o papel da promoção no plano mercadológico, pois ela será em certos casos enfatizados, em outros não". Em outras palavras, podemos afirmar que "a comunicação mercadológica, aquela projetada para ser persuasiva, para conseguir um efeito calculado nas atitudes e/ou no comportamento do público visado, faz-se pela venda pessoal, promoção de vendas, merchandising, relações públicas, embalagem, marketing direto, propaganda e publicidade" (PINHO, 2001, p.41). No caso das empresas do ramo de fast food, especialmente o McDonald‟s, o esforço da promoção de vendas acontece desde o momento em que o cliente pára 25 na frente do menu para decidir. Neste momento, funcionários corteses se colocam à disposição para ajudar, e esta “ajuda” significa uma estratégia de persuasão de vendas que culmina no convencimento do cliente a levar o lanche que se quer vender. A estratégia da promoção de vendas através da presença do vendedor também se estende ao up grade ou conversão, ou seja, a maneira de sugerir ao cliente para que leve um produto de tamanho maior por uma diferença de preço que parecerá ser pequena (dependendo de como o vendedor conduz). Além da venda pessoal, a estratégia de merchandising ou embalagem do ponto-de-venda também alavanca as vendas que se deseja. Por toda a parte há banners, faixas, móbiles, translites e displays com a imagem apetitosa do produto estratégico do mês, levando o consumidor a comprar pela imagem. Compra pela imagem também acontece via mídia, pelas propagandas televisivas e outdoors. No entanto, a estratégia utilizada pelo McDonald‟s para a mídia televisão tem sido cada vez mais mostrar os benefícios intangíveis proporcionados pela “experiência” de estar no McDonald‟s, de modo que há muito tempo os slogans adotados sugerem a felicidade proporcionada por escolher o McDonald‟s, e as duas últimas propagandas veiculadas não mostraram uma única vez os produtos, mas pessoas sorrindo que parecem estar felizes por estar dentro de um dos seus restaurantes. Assim, observamos uma tendência cada vez maior de promover os produtos através do esforço de diferenciação pessoal, presencial e personalizada de cada empresa em detrimento da utilização das mídias, já que estas últimas estão saturadas de ofertas e de promessas de produtos muito equivalentes. 3.3 Estratégia de Marketing Todas as organizações tomam decisões estratégicas em relação ao futuro, possuindo alguma forma de implantar essas decisões, mesmo que sejam feitas de modo informal. Segundo Kotler (1998, p.90), "a estratégia é um plano de como alcançar as metas estabelecidas. Cada negócio deve estabelecer sua própria estratégia para atingir suas metas". 26 Por sua natureza complexa e abstrata, a estratégia requer aprendizagem e conhecimento compartilhados, requerendo muito mais do que a coleta de dados e os números para interpretação individual e isolada. Como um processo sistêmico, Senge (apud Costa e Almeida, 2002) define estratégia como: Uma visão sistêmica do processo, suas inter-relações sociais, culturais, econômicas, políticas, organizacionais, psicológicas etc. Uma visão do domínio pessoal dos indivíduos envolvidos no processo e o delineamento da conduta, atitude, energia pessoal, predisposição efetiva, interesse, capacidade de realização e emoção desses indivíduos; Um modelo mental, capaz de conceber a lógica do processo, a didática para compreensão, comunicação e disseminação das ações e dos compromissos individuais e de grupos, capaz também de conceber e identificar conceitualmente o significado e a extensão das ações de cooperação organizacional; Um processo para estabelecer um objetivo comum, no sentido de negociar parâmetros para decisão, padrões de qualidade na relação entre os organismos ou entidades em cooperação, definindo critérios para aferição da qualidade da relação e da eficácia do sistema, e implicando a adoção de uma sistemática para estabelecer objetivos comuns e obter comprometimento; Um modelo delineado de aprendizagem em grupo, que reúna um conjunto de teorias, técnicas, práticas e rituais que permitam colocar a cooperação em prática de maneira simples e competente. Porter (apud Kotler, 2000) resumiu três tipos genéricos que fornecem um bom ponto de partida para o pensamento estratégico: liderança total em custo, diferenciação e foco. Na visão de Kotler (2000), a definição da estratégia de marketing consiste em três partes: 27 A primeira parte descreve o mercado-alvo, a posição planejada para o produto e vendas, participação no mercado e objetivo de lucro. o orçamento de marketing. A terceira parte descreve o planejamento de vendas a longo prazo, os objetivos de lucro e a estratégia do mix de marketing. Podemos entender a estratégia como a arte de aplicar recursos e meios para atingir os fins desejados, podendo defini-la também como a arte de construir o futuro. A estratégia de marketing envolve a seleção de um mercado-alvo específico e a tomada de decisões em relação aos elementos cruciais de produto, preço, promoção e distribuição para satisfazer às necessidades dos consumidores desse mercado. Escolher a estratégia correta entre muitas alternativas é o teste final para o desenvolvimento de uma boa estratégia de marketing (FERREL et aI., 2000, p.20). Criar valor para a empresa e aumentar seu potencial criativo coletivo talvez sejam, então, as melhores razões para a organização criar estratégias. Conforme Costa e Almeida (2002), criar estratégias seguramente implica escolher uma direção bem definida para os negócios no futuro, fortalecendo a identidade corporativa da organização e estabelecendo um ritmo de trabalho que implique colher determinados resultados em um espaço de tempo bem determinado. Direção, identidade e ritmo, desse modo, são os propósitos da estratégia. A estratégia do McDonald‟s é oferecer “momentos saborosos” através de um lanche de qualidade, um serviço rápido, exato e amigável em um ambiente limpo. A partir disso, tudo o que é feito e comunicado ao consumidor parte desta estratégia. O desafio da empresa é cumprir essa promessa a todo instante, para que o cliente saiba exatamente o que esperar e, assim, se construa um alicerce de credibilidade em torno da marca e dos serviços que ela oferece. Os serviços se constituem em outra forma de entrega envolvida pelo marketing, cujas definições e estratégias serão abordadas a seguir. 28 3.4 Marketing de Serviços Segundo Las Casas (2000, p.15): Serviço é um ato, um esforço, um desempenho e que pode apresentar-se de várias formas. Muitos serviços estão associados à transferência de um bem. Ao alugar um imóvel, por exemplo, um corretor transfere, além de um bem físico, serviços de assessoria e cobrança. Mas um advogado pode prestar serviços de conhecimentos profissionais, sem que haja transferência de um bem. Portanto, considerando estas situações, definir serviços como atos ou ações caracteriza a parte intangível presente a qualquer das situações mencionadas. Serviço é a parte que deve ser vivenciada, é uma experiência vivida, é o desempenho. Serviço é toda atividade ou benefício, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer à outra e que não resulte na posse de algum bem. A prestação de um serviço pode ou não estar ligada a um produto físico. Atividades como alugar um quarto de hotel, depositar dinheiro em banco, viajar de avião, consultar um psiquiatra, cortar o cabelo, consertar o carro, assistir um jogo profissional ou a um filme, todas envolvem a compra de um serviço. A empresa, segundo Kotler (2000, p.320), deve examinar quatro características principais dos serviços ao elaborar programas de marketing. “Serviços são, via de regra, intangíveis, inseparáveis, variáveis e perecíveis”. Las Casas (2000, p.11) afirma: Sabe-se que, quanto mais avançada a nação, maior a importância do setor de serviços na economia de um país. Entre as causas disso, destaca-se o maior poder aquisitivo da população, que permite que as tarefas rotineiras mais tediosas sejam transferidas a terceiros, prestadores de serviços. Berry e Parasuraman (1995, p. 16) afirmam que “a essência do marketing de serviços é o serviço. A qualidade do serviço é a base do marketing de serviços”. Em empresas de serviços, o tradicional composto de marketing não funciona bem se não houver qualidade. Para alcançar os resultados desejados, o marketing de serviços precisa estar apoiado em um sólido conceito de serviços perfeitamente executados, possibilitando a competitividade da organização, atraindo a confiança do cliente e 29 proporcionando reforço à marca. No marketing de serviços, a ênfase está na marca da empresa, enquanto em mercadorias, está na marca de cada produto. O serviço de qualidade está intimamente ligado à cultura organizacional voltada para o cliente e exige que os administradores concentrem suas energias no desenvolvimento dos recursos humanos para atendimento e vendas. Nas empresas de serviços, o produto são os serviços, portanto, os administradores fazem o marketing para os funcionários, para que eles vendam melhor os serviços para o consumidor final. Os clientes devem ter suas necessidades mais que supridas: devem ser surpreendidos e, para tanto, as empresas de serviços precisam superar as expectativas dos clientes para criar reputação por um serviço de qualidade superior (BERRY e PARASURAMAN, 1995). O desenvolvimento da orientação para o cliente é extremamente importante para a eficácia do marketing de serviços. “Independentemente de como a empresa oferece seus serviços, o sucesso do marketing está diretamente relacionado ao grau de orientação para o cliente” (KOTLER, HAYES, BLOOM, 2002, p. 24). As empresas de serviços precisam se adaptar aos clientes, adotando uma perspectiva de fora para dentro. Essa perspectiva inicia-se pela “definição correta dos mercados, concentra-se nas necessidades dos clientes, coordena todas as atividades de marketing que afetam os clientes e gera lucros criando relacionamentos a longo prazo, com base na satisfação do cliente e na valorização deste” (KOTLER, HAYES, BLOOM, 2002, p. 24). Em uma empresa de serviços, o cliente enfrenta a incerteza quanto à qualidade do serviço, que é afetado não apenas pela interação cliente-fornecedor, mas tudo o que sustenta o processo de produção. Assim, além dos 4 P‟s do marketing externo, o marketing de serviços também requer o marketing interno e o marketing interativo (KOTLER, 2000; ARMSTRONG,1998). O marketing interno ou endomarketing envolve todos os funcionários, que devem ser constantemente treinados e motivados pela empresa para proporcionar satisfação ao cliente. Os membros da empresa de serviços devem trabalhar com os clientes e não para os clientes, pois há significativa interação entre eles. A qualidade dessa interação influencia a qualidade do serviço como um todo, correspondendo ao 30 marketing interativo. A qualidade do serviço depende tanto de quem fornece o serviço quanto das condições do fornecimento, pois o cliente julga a qualidade do serviço levando em consideração a qualidade técnica (conhecimento) e a qualidade funcional (empatia) (KOTLER, 2000; ARMSTRONG, 1998). Desta maneira, para um restaurante, por exemplo, tão importante quanto oferecer um alimento de qualidade é oferecer um ambiente agradável e um atendimento espontâneo que seja competitivo e que supere as expectativas dos clientes. Para superar as expectativas dos clientes, no entanto, é muito importante que as empresas, antes, conheçam suas necessidades e desejos. A seguir, trataremos do comportamento dos consumidores, descrito na literatura como o processo padrão perceptual e motivacional que leva o consumidor a decidir e comprar. 3.5 Comportamento do Consumidor A expansão das empresas e, principalmente, dos mercados, fez com que os profissionais de marketing perdessem um pouco o contato com seus consumidores. O estudo do comportamento do consumidor torna-se necessário para entendermos as diferentes razões pelas quais os consumidores realizam suas compras, sendo uma matéria interdisciplinar que envolve a psicologia, sociologia, economia e antropologia. É sabido que compreender como selecionam, compram, usam e descartam produtos ou serviços não é uma tarefa fácil, uma vez que os clientes podem não ter consciência de suas motivações. No entanto, é somente através do entendimento deste processo que a empresa é capaz de facilitar e influenciar a escolha do consumidor, disponibilizando produtos e serviços que atendam aos seus desejos e necessidades e tornando os clientes fiéis às suas ofertas (LAS CASAS, 1997; KOTLER, 2000). O consumidor, no processo de compra, age em decorrência de uma série de influências de ordem interna e externa. Os fatores internos abrangem a estrutura psicológica do indivíduo, como motivação, aprendizagem, percepção, atitudes, personalidade, formação passada e expectativas futuras. Já os fatores externos correspondem às influências externas do meio ambiente em que o indivíduo vive e 31 que são por ele assimiladas, como família, classe social, grupos de referência e cultura (LAS CASAS, 1997). O processo de compra inicia com o despertar da necessidade por um produto ou serviço, sendo este o fator motivador. Uma necessidade pode ser ativada por meio de estímulos internos (impulsos) ou externos (sensoriais), apresentando certo nível de intensidade e perdurando por certo período de tempo; ou seja, pode variar de diversas maneiras de acordo com as circunstâncias de cada indivíduo (FONSECA, 2002; KOTLER, 2000). Uma vez identificada a necessidade, o passo seguinte no processo é a procura de informações. Nesse estágio, o consumidor buscará informações em fontes de experiências passadas (manuseio, exame, uso do produto ou serviço), fontes pessoais (família, amigos, vizinhos e conhecidos), fontes comerciais (propaganda, vendedores) ou fontes públicas (mídia de massa, órgãos de proteção ao consumidor). Após levantar as informações, o consumidor começa a associá-las aos seus interesses, chegando ao próximo estágio, o da avaliação (FONSECA, 2002; KOTLER, 2000). “Associando suas motivações às informações colhidas na etapa anterior, o consumidor identifica algumas opções que melhor condizem com suas necessidades” (FONSECA, 2002, p. 14), desprezando algumas das opções avaliadas. Assim, ele irá decidir por aquela opção que, de acordo com o momento e as circunstâncias, melhor satisfaz suas necessidades, decidindo sua compra. A compra é o “momento em que a expectativa se transforma em experiência” (FONSECA, 2002, p. 15). O profissional de marketing deve ter especial cuidado nesse estágio, transformando a expectativa do consumidor em experiência positiva. Quando a expectativa é muito grande, é comum o consumidor frustrar-se por uma experiência negativa. Finalizando o processo de compra, o consumidor desenvolverá sentimentos pós-compra, que correspondem à sua percepção do processo como um todo. Através da análise entre expectativa e experiência, dá-se a relação custo/benefício. Se a experiência for satisfatória, o consumidor desenvolverá sentimentos positivos em relação à sua escolha. Porém, sentimentos negativos também poderão aparecer 32 após a compra se o consumidor considerar sua experiência ruim (FONSECA, 2002; KOTLER, 2000). De acordo com Fonseca (2002, p. 11) “são infindáveis os motivos que levam as pessoas aos restaurantes e engana-se quem acha que é só pela alimentação ou pelo serviço”. O autor aponta como motivos ou expectativas o fato de o cliente pretender suprir o status (ser visto em restaurantes bem freqüentados), ambiente (peculiaridades da decoração ou estilo), clima (estilo dos funcionários, freqüentadores, composição entre ambiente e música), cardápio (atende aos anseios do cliente), curiosidade (despertada por uma inovação, meios de comunicação ou terceiros), preço (custo e benefício), chefe de cozinha (um nome famoso ou em destaque) e estilo de serviço (serviço diferenciado). Lôbo (1999) explica a probabilidade da opção do cliente em se dirigir a determinado restaurante como sendo um triplo movimento de simpatia (do cliente em relação ao restaurante), esforço de vendas (do restaurante em relação ao cliente) e preço. Embora preço, ofertas de serviço e características diferenciadas tenham considerável importância na decisão do cliente, é certo que variam de um cliente para o outro. Por isso, é fundamental entender a relação cognitiva existente entre o comprador e a empresa, ou seja, o processo perceptual que motiva o cliente a decidir a compra e permanecer fiel a determinadas marcas. 3.5.1 O processo perceptual De acordo com Sheth, Mittal e Newman (2001, p.286) “A realidade objetiva de um produto importa pouco; o que importa é a percepção que o cliente tem de um produto ou marca. A percepção é o processo pelo qual um indivíduo seleciona, organiza e interpreta a informação que recebe do ambiente”. Kotler (2000, p.195), em um argumento conceitual muito semelhante, afirma que “Percepção é o processo por meio do qual uma pessoa seleciona, organiza e interpreta as informações recebidas para criar uma imagem significativa do mundo”. 33 De fato, o que determinará a qualidade de um produto ou serviço oferecido para cada cliente irá variar de acordo com suas próprias percepções individuais. Convêm entendermos, então, os três processos que direcionam a percepção que os clientes têm sobre o que lhes é apresentado: seleção, organização e interpretação. De acordo com Sheth, Mittal e Newman (2001, p.286), a seleção consiste em “atentar a um objeto ou evento do ambiente com um ou mais dos cinco sentidos: visão, audição, olfato, tato e paladar”. O objeto ou evento do ambiente é denominado estímulo. A organização consiste em “categorizar, classificando o estímulo percebido de acordo com categorias semelhantes de objetos armazenadas na memória” (SHETH, MITTAL E NEWMAN, 2001, p.286). A interpretação, por sua vez, consiste em “acrescentar significado a um estímulo, formando uma „regra‟ sobre o objeto ser ou não apreciado, e também sobre que valor lhe seria atribuído por aquele que o percebe” (SHETH, MITTAL E NEWMAN, 2001, p.286). De acordo com estas considerações, trazendo a análise do processo perceptual do consumidor para o exemplo do McDonald‟s, poderíamos concluir que a percepção da sensação ou estímulo acontece quando da impressão da textura e do sabor do suculento hambúrguer quente, ao passo que a etapa de organização acontece quando o cliente identifica todos os ingredientes e passa a classificar o alimento como um tipo semelhante ou diferente de outros que comeu antes; já no processo de interpretação, o consumidor julga se o hambúrguer é gostoso e se gosta mais ou menos deste em relação a outros consumidos anteriormente. Kotler (2000) discorre mais detalhadamente sobre a filtragem das percepções dos clientes em relação às informações que recebem, ou seja, sobre a etapa do processo seletivo. Os clientes empregam três processos seletivos: a atenção seletiva, a distorção seletiva e a retenção seletiva. No processo de atenção seletiva, das milhares de comunicações de marketing às quais o cliente típico é exposto, apenas um pequeno número é eficazmente percebido. Os clientes buscam algumas propagandas, algumas 34 prateleiras, alguns vendedores ou outras fontes de informação, ao passo que evitam os outros, dependendo de suas necessidades e interesses. Milhares de exposições não são percebidas conscientemente simplesmente porque não despertam o interesse do consumidor. Assim, o processo de atenção seletiva se relaciona à filtragem dos estímulos recebidos, já que uma pessoa é exposta a milhares de anúncios por dia e é impossível prestar atenção em todos eles. No processo de atenção seletiva, mesmo que uma propaganda esteja face a face com o cliente, ele pode ainda assim ignorá-la. Inicialmente, a atenção de uma pessoa é atraída pelas características de contraste e beleza do estímulo. Além da atenção inicial, entretanto, para que o processamento do estímulo continue, é preciso que haja interesse pessoal no produto ou serviço anunciado (SHETH, MITTAL E NEWMAN, 2001). No caso de restaurantes, usa-se o estímulo da propaganda visual dos produtos para atrair o consumidor, aproveitando a oportunidade da fome ou, ainda, criando neles a vontade de comer. Por isso, as empresas devem se esforçar ao máximo para atrair a atenção do consumidor. Devem estar cientes de que os estímulos que ele mais percebe se relacionam intimamente com suas necessidades atuais, ou seja, o consumidor perceberá mais facilmente um anúncio de alimento se estiver com fome; com o que ele antecipa ou espera, percebendo mais facilmente um anúncio de um novo alimento se estiver exposto em restaurantes; e os estímulos cujos desvios são maiores em relação a um estímulo normal, percebendo mais facilmente anúncio com descontos maiores do que outros, com descontos menores (KOTLER, 2000). O processo denominado distorção seletiva consiste na tendência humana de “transformar a informação em significados pessoais e interpretá-la de maneira que se adapte a seus prejulgamentos” (KOTLER, 2000, p.195). Sheth, Mittal e Newman (2001, p.292), denominam este processo de interpretação seletiva, onde após uma compra importante, os clientes buscam comunicações que ratifiquem para eles a sensatez da sua escolha. Em conformidade com Kotler, também explicam que, de modo geral, a informação é interpretada de modo a conformar-se com crenças e expectativas prévias, muitas vezes afastando-se da realidade objetiva. 35 O terceiro processo estabelecido de acordo com Kotler, a retenção seletiva, as pessoas tendem a reter informações que sustentam suas crenças e atitudes, descartando todo o resto que é percebido. A retenção seletiva justifica o fenômeno de lembrarmos dos aspectos positivos de um produto ou uma marca que gostamos, ignorando os pontos positivos dos produtos concorrentes. Sheth, Mittal e Newman (2001, p.288) asseguram ainda que outros três fatores moldam as percepções dos clientes, e também são eles os responsáveis pelas variações de percepção de pessoa para pessoa: características do estímulo, contexto e características do cliente. As características do estímulo envolvem a natureza da informação oferecida pelo ambiente, tais como as características sensoriais e o conteúdo de informação. Uma característica é sensorial quando influencia qualquer um dos cinco sentidos. Conseguir a atenção do público é um dos grandes desafios de marketing da atualidade, já que cada pessoa é exposta a um volume de cerca de três mil propagandas por semana. Sendo assim, as características sensoriais criam uma identidade nova ao produto, fazendo-o destacar-se diante da profusão de novas informações e estímulos que surgem continuamente no mercado. A outra característica de um estímulo é seu conteúdo de informação. O conteúdo informacional leva o processo perceptual além da sensação ou seleção do estímulo, na direção da organização e da interpretação. País de origem do produto, fabricante e preço são informações que permitem completar a impressão de qualidade da marca. Ao perceberem um estímulo com determinado conjunto de características, os clientes também serão influenciados pelo contexto que lhes foram apresentados. Em geral, as percepções de paladar são influenciadas pelo contexto propiciado pelo nome da marca. Faz toda a diferença um bom produto ser servido por um atendente bem-educado e atencioso, ou um que ofereça um atendimento impessoal. As percepções que envolvem o contexto onde está inserida determinada marca, em geral, são decisivas na fidelidade do consumidor. Finalmente, temos como fortes determinantes na percepção as características dos clientes. Cada indivíduo tem experiências diferentes de vida, memórias 36 diferentes e maneiras de receber estímulos diferentes. E cada conhecimento prévio e sentimento individual se transformam em expectativas – crenças antecipadas sobre o que alguma coisa vai possuir ou oferecer. As expectativas influenciam as percepções da realidade no sentido de que as pessoas quase sempre acabam vendo o que esperavam ver, por exemplo, a percepção boa ou ruim se transforma na influência tendenciosa de uma boa ou má recomendação. Sendo assim, o que vimos até agora deixa claro que as estratégias a serem definidas pelas empresas e seu sucesso na conquista de fidelidade dos clientes devem muito ao entendimento de como estes últimos processam a percepção dos estímulos recebidos. No entanto, para que o entendimento do comportamento do consumidor seja mais completo, é necessário entendermos também o que o leva a buscar determinados produtos ou serviços, ou seja, sua motivação. 3.5.2 O processo motivacional Para compreender o conceito de motivação, é necessário compreender os conceitos de necessidade e desejo. Sheth, Mittal e Newman (2001, p.59) definem necessidade como um sentimento de privação do estado desejado, uma “condição insatisfatória de um cliente, que o leva a uma ação que tornará essa condição melhor”. Desejo, por outro lado, é definido como “o afã de obter mais satisfação do que é absolutamente necessário para melhorar uma condição insatisfatória”. Em outras palavras, as necessidades nascem de um desconforto nas condições físicas ou psicológicas da pessoa, enquanto os desejos satisfazem as condições físicas e psicológicas além do estado de conforto mínimo. Da conjugação desses dois estados surge o que chamamos de motivação. Motivação pode ser definida como “o estado de moção ou excitação que impele o comportamento na direção de um objeto-alvo” (SHETH, MITTAL e NEWMAN, 2001, p.326). Na visão de Kotler (2000, p.194) “Uma necessidade passa a ser um motivo quando alcança determinado nível de intensidade. Um motivo é uma necessidade que é suficientemente importante para levar a pessoa a agir”. 37 Portanto, entendemos por motivação o estado de necessidade que move as pessoas, que desperta o interesse, estimula, impulsiona para a ação. De acordo com os estudos do psicólogo americano Abraham Maslow (1908) (apud Sheth, Mittal e Newman, 2001, p.328), as necessidades e desejos humanos organizam-se em uma hierarquia. As necessidades de nível mais alto ficam dormentes até que as de nível mais baixo sejam satisfeitas. Segundo a hierarquia de Maslow: Necessidades fisiológicas, como sede e fome; Necessidades de segurança, como segurança e proteção; Necessidades sociais, como amor e pertença; Necessidades de estima, como auto-estima, reconhecimento e status; Necessidades de auto-realização, como desenvolvimento e realização próprios. Segundo Maslow, as duas primeiras necessidades seriam realmente “necessidades”, ao passo que as três últimas seriam “desejos”. A hierarquia proposta por Maslow pode ser ilustrada pela pirâmide a seguir: FIGURA 1: Hierarquia das necessidades de Maslow Fonte: adaptada de Kotler, 2000, p.194 38 Ao traçar um paralelo entre as considerações propostas por Maslow e as oportunidades junto aos consumidores do McDonald‟s, percebemos que a empresa busca satisfazê-los da seguinte maneira: QUADRO 1: Satisfação das necessidades dos clientes do McDonald’s Necessidades Fisiológicas Segurança Sociais Benefícios oferecidos Satisfação Alimentos e bebidas. Mantenedores da ordem, seguranças, câmeras e fachadas visíveis através de paredes de vidro, comportamento, serviços e produtos padrão. Funcionários simpáticos e atenciosos, atendimento personalizado, ponto de encontro de amigos. Fome e sede. Estima Marca. Autorealização Marca, qualidade dos produtos e serviços. Segurança, proteção e familiaridade (contra a estranheza). Conexão emocional, sentimento de pertença, sensação de lazer, familiaridade. Status, reconhecimento por estar fazendo uma refeição em um local valorizado. Através do esforço próprio, poder desfrutar esta marca. Fonte: A autora (2007). Em relação à satisfação de necessidades apresentados no quadro, confirmamos as palavras de Perez (2004, p.15): Muitos consumidores valorizam mais o status sinalizado pela marca que os benefícios funcionais constitutivos do produto concreto. Para os ocidentais, deparar-se com um totem do McDonald‟s em um país desconhecido traz um grande conforto, pois sabemos o que vamos encontrar e, portanto, estamos protegidos do diferente e do estranho, sensações comuns e freqüentes em situações desse tipo. Apesar de não ser um signo brasileiro, o McDonald‟s está tão incorporado em nosso cotidiano que é capaz de nos propiciar o conforto e a segurança de que precisamos. Sendo assim, é visível que a grande oportunidade das empresas para criar lealdade é ajustar o posicionamento dos seus produtos e serviços de maneira a concordar com as necessidades dos clientes e supri-las através de marcas e produtos que as satisfaçam de maneira funcional e emocional. Conquistar um cliente pela emoção significa, antes, compreender as suas necessidades e os seus desejos. Sheth, Mittal e Newman (2001, p.338) relacionam essa ligação através do trecho: 39 Necessidades e emoções estão intimamente ligadas. Como as necessidades, as emoções são capazes de energizar uma pessoa na direção de objetos-alvo relevantes. O sentimento de privação de objetosalvo desejados (que geram a motivação) é experimentada na consciência como uma emoção negativa, e sua conquista (que subsidia a moção) é experimentada na consciência como uma emoção positiva. No entanto, no processo de persuasão, mais do que oferecer marcas e produtos potencialmente competitivos, é fundamental que as empresas saibam criar uma disposição positiva por parte do consumidor. Ou seja, literalmente mudar o seu estado de espírito a favor da compra. Uma disposição positiva pode ser criada por um ambiente agradável quando o cliente entra no estabelecimento vendedor, e este ambiente (com uma música agradável, por exemplo) poderá ser decisivo na permanência do cliente por mais tempo, com o conseqüente aumento da possibilidade de consumo. As disposições são induzidas por estímulos externos e internos. Entre os estímulos de marketing que podem induzir disposições positivas ou negativas, além do ambiente da loja ou da empresa que oferece o serviço, estão: a atitude do vendedor, as características sensoriais do produto, o tom e o modo da propaganda e o conteúdo da mensagem veiculada pelo vendedor ou pela propaganda. Segundo Sheth, Mittal e Newman (2001, p.341): As disposições são simplesmente emoções sentidas com menor intensidade; elas também duram pouco. São fáceis de induzir, e aparecem e desaparecem da consciência com prontidão e freqüência. As disposições afetam o comportamento momentâneo em geral e a resposta às atividades de marketing às quais se pode estar exposto naquele momento. As emoções e disposições podem orientar muitos comportamentos de consumo pelos valores emocionais ou hedonistas que oferecem. O consumo hedonista refere-se ao uso de produtos e serviços não por sua utilidade funcional, mas pelo prazer intrínseco que provoca. Em outras palavras, o consumo hedonista refere-se aos prazeres, ao envolvimento profundo que muitas pessoas têm por determinados produtos, serviços e marcas. Neste estágio, o consumidor não consome de maneira casual; o interesse neste caso é extremo, porque o objeto-alvo é apreciado, estimado e amado. Sendo assim, as pessoas consomem com prazer, 40 para gerar satisfações e, muitas vezes, para definir sua identidade. A definição da identidade por meio do consumo é orientada segundo o que as pessoas pensam de si mesmas, o que elas valorizam e o modo como elas vivem. Com freqüência, a compra tem origem na necessidade do homem de mostrar aos outros quem, como e o que ele é. Por exemplo, um consumidor que freqüenta qualquer restaurante McDonald‟s do Brasil pode aparentar ser um indivíduo com médio ou alto poder aquisitivo, que desfruta uma boa qualidade de vida, possui espírito jovem, procura ser moderno e que é importante ou tem um ritmo de vida agitado, para optar por refeições rápidas. São deduções que podem estar corretas ou não, mas que formam impressões sobre a personalidade de quem usufrui a marca McDonald‟s, justamente por serem as promessas e a personalidade da própria empresa. Esta relação é particularmente interessante porque o envolvimento profundo afeta o comportamento dos clientes de tal maneira que os transformam em líderes de opinião, extremamente fiéis e praticamente insensíveis ao preço estabelecido; e clientes que dedicam um tempo maior nas atividades relacionadas ao objeto apreciado (SHETH, MITTAL e NEWMAN, 2001). Assim, é possível compreendermos até que ponto a fidelidade dos clientes a uma marca é determinada por fatores psicológicos comuns de comportamento de consumo. Todavia, para uma compreensão mais aprofundada, é necessário ainda entendermos como se dá o processo de construção de marcas, para então concluirmos os fatores que atraem os clientes para determinados produtos em detrimento de outros semelhantes. 41 4. CAPÍTULO III – GESTÃO DE MARCAS Ries e Trout (2002) nos fazem refletir sobre um atual problema cujas conseqüências terminam por afetar marcas de forma generalizada: o excesso de comunicação na sociedade. São veículos, meios de comunicação, ações de marketing e propaganda crescendo em volume, enquanto a capacidade do homem em absorver tais informações se apresenta limitada para tanto. Esse cenário resulta na progressiva ineficácia destas ações, alimentada pelo exagero crescente da utilização da propaganda para expor grande volume de informações. Já Martins (2000) aponta-nos outro problema vivenciado, principalmente, no setor industrial brasileiro. Trata-se de um sério processo de comoditização pelo qual os produtos estão passando. Através do advento da tecnologia e de sua acessibilidade, o quesito qualidade, tido anteriormente como fator de diferenciação, vem perdendo sua importância como referência. O enfraquecimento dos níveis de lealdade dos consumidores tem levado as empresas a realizarem descontos e promoções como principais fatores de diferenciação, privilegiando resultados de curto prazo que terminam por enfraquecer a delicada relação custo / benefício (PINHO, 1996). A partir daí, as escolhas de produtos passam a ser orientadas pela força da marca – sua capacidade em transmitir os benefícios de forma coerente, inteligente e sinérgica – e a percepção de valor pelo receptor dessas mensagens. Trava-se, portanto, nova batalha: a guerra das marcas. Podemos concluir que uma das formas de uma empresa se diferenciar competitivamente, em longo prazo, é através do valor proporcionado pela gestão de sua marca. 4.1 Marca: evolução de conceitos A marca pode ser nome, termo, símbolo, desenho, ou mesmo a combinação desses elementos, que têm a importante função de identificar bens ou serviços de uma empresa com o objetivo de diferenciá-los da concorrência. Assim, uma marca sinaliza ao consumidor a origem do produto e protege, tanto o consumidor quanto o fabricante, dos concorrentes que oferecem produtos que pareçam idênticos, marcando-os com a insígnia da distinção atribuindo a eles identidade, autoria e propriedade. Afinal, conforme Perez (2004, p.11) “Sem marca, o produto é uma 42 coisa – uma mercadoria, um saquinho de café, um calçado ou uma latinha de molho. A percepção que o consumidor tem de um produto genérico, sem marca, tende a ser dominada pela condição de coisa do produto, desprovendo-o de sua carga emocional, de seu psiquismo subjetivo” (AAKER, 1998; KOTLER, 2000; PEREZ, 2004). Domingues (apud PINHO, 1996) define variados papéis para as marcas, que passam a desempenhar função concorrencial (tornando-se competitiva); identificadora (identificando individualmente produtos e serviços); individualizadora (produtos marcados se tornam bens únicos perante um conjunto de bens similares); de descobrimento ou revelação (revela a existência de produtos novos ao consumidor); de diferenciação (torna o produto diferenciado em sua categoria); função publicitária (evitando o anonimato da mercadoria) e, finalmente, de diferenciação interna (identificando versões e constituindo também diferenciação externa para o mercado). Em suma, a marca está atrelada às funções de identificar e diferenciar produtos e serviços dos concorrentes, com o objetivo de resguardar seus valores intrínsecos. De acordo com Aaker (1998), no sentido mercadológico, evidências do uso de marcas remontam à história antiga, quando destilarias na Europa Medieval do século XVI gravavam a fogo o nome do fabricante em seus produtos, para diferenciá-los durante o processo de compra e evitar sua substituição por outros de menor valor. Embora as marcas já fizessem parte do comércio por longo tempo, foi no século XX que a gestão da marca se tornou um dos enfoques do marketing na criação de marcas competitivas e diferenciadas, através do uso de pesquisas sobre o mercado e os hábitos de consumo. Passou a haver, então, o uso de associações com marca, relacionando atributos e benefícios de produtos, nomes, símbolos e embalagens. O objetivo era atenuar a importância do preço na decisão da compra, por intermédio da diferenciação, transpondo as barreiras de commodities para produtos com marcas. Lindstrom (2007) afirma que as primeiras evidências históricas documentadas sobre os efeitos positivos da construção de marca surgiram nas décadas de 50 e 60. 43 Foi quando se percebeu uma tendência por parte dos consumidores a escolher os produtos de marca, ainda que os seus concorrentes não apresentassem diferenças de qualidade significativas. Contudo, foram as décadas de 70 e 80 o berço do desenvolvimento emocional das marcas, conferindo a elas valores e sentimentos para diferenciá-las da concorrência. Com efeito, temos visto desde a última década o mundo evoluir de uma economia industrial para uma economia orientada para as pessoas, transferindo o protagonismo das máquinas para o consumidor. A velocidade tomou o lugar da estabilidade, os valores intangíveis se tornaram mais valiosos que os tangíveis, as idéias se transformaram na mais nova e poderosa moeda comercial e o aspecto emocional dos produtos e seus sistemas de distribuição passaram a ser o segredo entre a escolha final do consumidor e o preço que deverá pagar. Além disso, a atual tendência faz julgar não somente pela nossa esperteza, treinamento e eficiência, mas também pelo modo como tratamos pessoalmente uns aos outros. Sendo assim, a chave do sucesso, agora mais do que nunca, está na mão das marcas que se comunicam com os consumidores no nível dos sentidos e das emoções. “Nas lojas de amanhã, „comprar‟ estará fora de moda por ser uma atividade estéril, e em seu lugar encontraremos „a arte de comprar‟, que é muito mais experimentar uma marca do que simplesmente comprar” (GOBÉ, 2002, p.31). No entanto, ainda hoje, muito embora se saiba que as relações entre marcas e consumidores são sensoriais, poucas empresas fazem uso de todo o potencial de sentidos como apelo de marca, de modo que apenas a visão e a audição (que puderam ser largamente aproveitadas com o advento da televisão) são exploradas para a capacidade de atrair. Martins (1997) afirma que a interação de uma marca com o consumidor pode ser bastante ampla, começando através dos estímulos visuais comunicados pelo símbolo, passando pela sonoridade do nome, pela campanha publicitária, e pode ser somada a um conjunto de ações eficientes, tais quais o atendimento focado no consumidor, os serviços facilitadores, a qualidade do produto, a receptividade e eficiência do pós-venda, entre outros. Como conseqüência dessa interação, a percepção positiva de tudo aquilo que o consumidor recebe pela marca, e absorve de forma subjetiva, retorna à representação da empresa em forma de valor. 44 Frente a este novo contexto, portanto, podemos redefinir o conceito de marca. A marca moderna passa a funcionar não somente como um nome próprio ou um símbolo de identificação, sinalização e proteção; começa a simbolizar uma conexão afetiva, íntima, fascinante e sedutora com o consumidor. Por esta propriedade, a marca passa a ser o maior patrimônio das empresas, indo além da idéia de meras facilitadoras das transações comerciais para transformar-se em poderosos e complexos signos que agregam valores e posicionamento social e institucional no mundo (PEREZ, 2004). Gobé (2002, p.33) discorre sobre a criação de marcas emocionais, à qual corresponde a uma mudança na percepção do conceito da marca, e, conseqüentemente, no diálogo com os consumidores no processo de decisão. De acordo com o autor: A Marca Emocional é o meio pelo qual as pessoas se conectam subliminarmente com as empresas e seus produtos de forma profundamente emocional [...] atingindo nossa imaginação e oferecendo a promessa de novos reinos. Essas estratégias funcionam porque todos nós respondemos emocionalmente às nossas experiências de vida e projetamos naturalmente valores emocionais sobre tudo e todos à nossa volta. O autor ilustra a diferença entre conceitos tradicionais da percepção da marca e a dimensão emocional que uma marca precisa expressar para tornar-se a preferida, através daquilo que ele conceitua como os “10 mandamentos” básicos: QUADRO 2: Diferença entre marcas tradicionais e emocionais Marcas Tradicionais Marcas Emocionais Foco em: Definição: Foco em: Definição: 1 2 Consumidores Produtos Compram Suprem necessidades Pessoas Experiências 3 Honestidade É presumida Confiança 4 5 6 7 8 9 10 Qualidade Notoriedade Identidade Função Ubiqüidade Comunicação Serviço Obrigação Ser conhecido Reconhecimento Trata de qualidades práticas É vista É dizer, contar Vender Preferência Aspiração Personalidade Sensação Presença Diálogo Relacionamento Vivem Suprem desejos É insinuante, íntima, conquistada Cria a venda Ser amado Caráter e carisma Trata de experiências É sentida É participar, associar Reconhecimento Fonte: adaptada de Gobé (2002). 45 Assim, estabelecemos que as marcas emocionais têm seu foco em experiências e interações com as pessoas, diferente da abordagem tradicional que prioriza as qualidades funcionais dos seus bens e serviços. Dotadas do caráter emocional, as marcas passam a criar e satisfazer não mais as necessidades, mas os desejos dos seus consumidores. Jaime Troiano,5 um dos mais respeitados consultores de marca do país, afirma que o que torna uma marca desejada, diferenciada e merecedora de um preço prêmio é justamente o somatório de associações positivas e estímulos causadores de sentimentos hedonistas que a marca provoca nos seus consumidores. Estes são exatamente os fatores que incrementam o patrimônio de uma marca – o brand equity. Definir o patrimônio da marca é de vital importância para as empresas que querem se diferenciar da concorrência. A importância da mensuração do patrimônio da marca é bem definida por Aaker (1998) através do seguinte trecho: A marca deve estar, sempre, acima de qualquer coisa que não seja a eficácia de sua gestão voltada para as necessidades, expectativas e satisfação dos consumidores nos seus ciclos de aquisições. Ocorre que os relacionamentos, em qualquer nível, são muito difíceis de explicar, medir e controlar. A importância da medição do brand equity para nossas marcas surge, portanto, da necessidade de conhecermos os elementos que possam nos levar a entender, monitorar e dar impulso aos valores e ao valor das marcas (AAKER, 1998, p.XV) Ainda segundo o autor, o valor de uma marca estabelecida é, em parte, devido ao fato de que hoje é mais difícil construir marcas do que há algumas décadas, pelo custo de propaganda e distribuição ser atualmente muito mais alto e, depois, pelo volume de marcas se multiplicar continuamente no mercado. Assim, diante deste cenário e do caráter demasiado subjetivo dos relacionamentos com os consumidores, torna-se fundamental conhecer o patrimônio das marcas para definir o seu valor diante da concorrência. 5 TROIANO, 2005. Disponível em: <http://www.troiano.com.br>. Acesso em 03 out.2007 46 4.2 O patrimônio da marca (brand equity) O patrimônio da marca ou brand equity é o conjunto de dimensões ligadas ao nome e símbolo de uma marca que podem acrescer valor à empresa e aos produtos e consumidores (AAKER, 1998). Para Martins (2000, p.197), “Brand equity é tudo aquilo que uma marca possui, de tangível e intangível, e que contribui para o crescimento sustentado dos seus lucros”. Pinho (1996) explica estas duas dimensões – tangível e intangível – como sendo, a primeira, o valor patrimonial de uma marca ou de uma empresa obtido através da diferença entre o seu valor líquido e o valor pelo qual ela poderá ser vendida; a segunda, como o valor agregado que é “obtido pela força e natureza dos sentimentos e significados que o consumidor estabelece na sua relação com elas” (PINHO, 1996, p.47). Apesar de variadas, as abordagens supracitadas apresentam um ponto comum: o valor. Seja ele definido pelo lucro, crescimento sustentado, preço diferenciado ou por atribuições de significado, está sempre vinculado ao patrimônio da marca. Concluímos então que, para entender o processo de criação de valor de uma marca, é necessário conhecer o patrimônio de marca (brand equity) e sua dinâmica. Aaker (1998) define algumas dimensões do brand equity, como patentes, trademarks e relações com canais de distribuição. Entretanto, suas quatro principais dimensões podem ser consideradas: lealdade à marca, reconhecimento de nome e símbolo, qualidade percebida e associações da marca. 4.2.1 Lealdade à marca A lealdade influi no processo de compra de um consumidor a favor da marca, na medida em que ajuda a neutralizar ações e lançamentos de novos concorrentes. De acordo com Aaker (1998, p.19): “A lealdade da base de consumidores reduz a vulnerabilidade da ação competitiva. Os concorrentes podem ver-se desencorajados a investir recursos para atrair consumidores satisfeitos”. 47 Vista como pilar do brand equity, a lealdade oferece à marca benefícios que resultam em alavancagem comercial, atração de novos consumidores, tempo para reagir às ameaças da concorrência e redução dos investimentos em marketing. Diferente das outras dimensões da marca, a lealdade necessita da experiência de uso para se consolidar. Ela não pode existir sem que o consumidor tenha efetuado uma compra previamente. A lealdade pode ser segmentada em níveis que servem de base para a análise da performance dessa dimensão. Estes níveis apresentam comportamentos que variam da indiferença do consumidor, ao orgulho e comprometimento do mesmo com a marca. Cada nível é um novo desafio a ser alcançado pela organização e representa incremento dos benefícios supracitados, como pode ser observado a seguir, na pirâmide da lealdade. FIGURA 2: Pirâmide da lealdade à marca Fonte: AAKER, 1998, p.41. No primeiro nível, o consumidor não se prende às marcas. Para ele, os benefícios estão no preço. Já o segundo contempla consumidores satisfeitos chamados compradores habituais. Apesar de não existir insatisfação neste nível, os consumidores podem ser vulneráveis aos concorrentes que consigam criar vantagens adicionais. Entretanto, dificilmente mudam de marca, principalmente, se 48 tal atitude pressupõe esforço. O terceiro nível comporta consumidores satisfeitos que temem custos da mudança (gasto de tempo, dinheiro ou performance). Este grupo pode ser chamado de compradores leais, mas suscetíveis à mudança, pois algum concorrente obteria sucesso caso apresentassem benefícios que compensassem sua mudança. No quarto nível, residem os consumidores que realmente têm uma ligação afetiva com a marca. Este sentimento pode ser resultante de associações positivas com símbolo, excelentes experiências e alta qualidade percebida associadas. Este grupo pode ser chamado de amigos da marca, por ter desenvolvido um vínculo emocional com ela. O último nível é, em particular, o maior desafio para uma corporação e sua conquista é o principal objeto de estudo deste trabalho. Este grupo tem orgulho de ser usuário da marca, uma vez que ela pode traduzir o que eles realmente são. Confiam nela de tal forma que a indicam a outras pessoas. Este é o verdadeiro valor do grupo deste nível, pois, além de contribuir com o consumo, tem a capacidade de fidelizar os outros níveis por sua convicção pela escolha da marca. Oliver (1999), em uma linha de raciocínio diferenciada, propõe outro modelo de criação de lealdade. Segundo ele, a lealdade cognitiva foca os aspectos da performance da marca; a lealdade afetiva é direcionada para o gostar da marca; a lealdade conativa é experimentada quando o consumidor tem a intenção de agir a favor da marca; finalmente, a lealdade de ação é o comprometimento com a ação propriamente dita de recompra. Tais características e as respectivas vulnerabilidades estão descritas na tabela a seguir: QUADRO 3: Fases da Lealdade e Correspondentes Vulnerabilidades Estágio Marcador Cognitivo Lealdade a informações como preço e características. Afetivo Lealdade a um “gostar”: “Eu compro porque gosto do produto”. Vulnerabilidades Melhores avaliações, reais ou imaginadas, dos atributos ou preço dos competidores através da comunicação e experiência própria ou indireta. Deterioração dos atributos da marca ou preço. Busca de variedade e experiências voluntárias. Não-satisfação induzida cognitivamente. Aumento do “gostar” em relação a outras marcas, possivelmente criado através do imaginário e 49 Conativo Lealdade a uma intenção: “Eu estou comprometido com a compra do produto”. Ação Lealdade à inércia, associado com a superação de obstáculos. associações. Busca de variedade e experiências voluntárias. Deterioração da performance. Mensagens competitivas contraargumentativas persuasivas. Experiências induzidas (exemplo: cupons, amostras e promoções no ponto de venda). Deterioração da Performance. Não disponibilidade induzida. Maiores obstáculos gerais. Deterioração de performance. Fonte: Adaptada de Oliver (1999), p. 36. É bastante nítido que o consumidor passa por uma série de etapas até atingir o nível de lealdade. A empresa seria a responsável pelo fornecimento de informações, através de ações de marketing, para fazer com que o consumidor percorresse o caminho da lealdade. Durante este caminho, o consumidor está sujeito a um grande número de influências por parte de outras empresas. Essa vulnerabilidade é o que torna a lealdade algo fugaz, sujeita a muitas interferências. De acordo com o autor, essas interferências se configurariam através da criação de uma não-satisfação induzida pela concorrência. De qualquer forma, em ambos os modelos aqui apresentados, concluímos que o fator lealdade varia desde níveis onde compras por hábito predominam, até um nível onde existe realmente o comprometimento do consumidor com a marca. Este nível mais alto de lealdade representa um desafio para as empresas. Fatores como o mercado em que a empresa atua e os produtos que comercializa exercem grande influência e tendem a restringir essa possibilidade. O momento mais importante é pelo qual a marca passa a transmitir uma série de significados para o consumidor, fazendo parte da construção da sua personalidade e o representando para o seu grupo social como uma forma de definir a sua identidade. Podemos dizer que estes consumidores, neste patamar, apresentam um envolvimento extremo com a marca, a qual passa a fazer parte integrante da vida do consumidor. Este é o consumidor fiel, imune aos esforços das marcas concorrentes. Tal segmento de consumidores leais representa um grande e importante fator para o valor de marca, pois são eles que irão garantir certa confiabilidade nas previsões de vendas futuras da empresa. 50 Outro aspecto importante no que se refere à lealdade à marca, de acordo com Solomon (2002), é o fato de que os consumidores têm facilidade em atribuir características humanas aos produtos. A criação de uma personalidade de marca é primordial para destacar o produto e criar lealdade. Entretanto, o modo como um consumidor se sente em relação à marca é afetado também pelo que outras pessoas pensam sobre a marca, na medida em que tais pessoas usam as características de consumo do indivíduo para definir sua identidade social. A lealdade à marca também traz benefícios que impactam na lucratividade, pois “Para qualquer negócio, é dispendioso conquistar novos consumidores e é relativamente barato manter os existentes, especialmente quando estes últimos estão satisfeitos com a marca, ou até mesmo gostam dela” (AAKER, 1998, p.19). Assim, se gerenciada de forma estratégica, a lealdade à marca pode gerar valor através da redução de investimentos em marketing. 4.2.2 Conhecimento da marca Sabemos que os consumidores tendem a comprar as marcas que conhecem já que a familiaridade lhes traz conforto. Além disso, a marca conhecida é dedutivamente mais confiável e, provavelmente, será escolhida diante de outra desconhecida. O conhecimento é a capacidade de um consumidor de reconhecer ou se relembrar de uma marca, além de associá-la ao seu tipo de negócio. Portanto, se um consumidor lembra do nome de um famoso restaurante, mas não se recorda do seu negócio, pode significar que a ligação do nome com o produto não ocorreu. Logo, a eficácia de conhecimento da marca não existe. Esta dimensão compreende um intervalo de níveis que retratam sua intensidade, como podemos perceber através da pirâmide do conhecimento, criada por Aaker (1998). 51 FIGURA 3: Pirâmide do conhecimento Fonte: AAKER, 1998, p.65. No primeiro nível, há desconhecimento. Neste extremo estão as marcas que não são conhecidas pelos seus potenciais consumidores. No segundo nível, existe o reconhecimento, que pode ser baseado em um teste, onde o entrevistado identifica marcas relacionadas a um determinado segmento de negócio (teste de recall). Focando a variável conhecimento deste processo, o teste de recall pode simular uma situação de compra em um ponto de venda. No terceiro nível, o de lembrança da marca, ocorre de forma espontânea, sem envio de estímulos ao consumidor para obtenção de lembrança. Trata-se de uma posição de prestígio ocupada pela marca na mente do consumidor. De acordo com Ries e Trout (2002, p.33), esta é uma tarefa difícil para as marcas, na medida em que “a mente humana é um recipiente totalmente inadequado em nossa sociedade com excesso de comunicação”, pois possui mecanismos de defesa contra o volume de comunicação emitida. Ela rejeita, então, novas informações que não sejam aparentemente adequadas. O quarto nível, top of mind (a mais lembrada), apresenta um alto índice de conhecimento da marca. Pode ser representado por marcas que ocuparam a primeira posição na pesquisa de recall sem estímulos. 52 Aaker ainda comenta sobre uma posição acima da top of mind. Algumas marcas são absolutas em determinados segmentos. A associação do produto com a marca chega a ser tão forte que, no processo de compra, o consumidor desconsidera os concorrentes. Em geral, nessa posição, a marca passa a representar toda a sua classe de produtos. É o que ocorre, por exemplo, com as marcas Gillette, Band-Aid e Xerox. No entanto, é importante ressaltar que estar na categoria top of mind pela lembrança de marca nem sempre representa liderança em consumo. Muitas vezes, a marca que representa sua categoria de produtos não é a marca preferida ou consumida; muitos consumidores memorizam o nome da marca, mas no momento da decisão de compra optam pelo concorrente e, ainda assim, o chamam pela marca que mais lembram. Observamos também o caso das copiadoras Xerox, que passaram a ser sinônimo do serviço de fotocópia, mas tem poucas associações com os produtos (impressoras, softwares e as próprias máquinas copiadoras) que oferece no mercado. Kotler (2000) afirma que um alto patrimônio de marca fornece à empresa uma série de vantagens competitivas, tais como: custos de marketing reduzidos, devido à conscientização e à fidelidade do consumidor em relação à marca; poder de negociação com os distribuidores e varejistas, porque os consumidores desejam que eles tenham a marca nos seus pontos-de-venda; maior preço em relação aos concorrentes, porque a marca tem maior qualidade percebida; extensões de linha com maior facilidade, devido à alta credibilidade da marca; e finalmente defesa contra a concorrência por preço. Por isso, o nome de marca deve ser cuidadosamente gerenciado para que o seu valor patrimonial se mantenha intacto. Isto requer manutenção e aprimoramento da conscientização da marca, bem como sua qualidade e sua funcionalidade percebidas e associações positivas a ela (KOTLER, 2000). 4.2.3 Qualidade percebida Para Aaker (1998), a qualidade percebida pode influenciar diretamente as decisões de compra e a lealdade à marca, ter capacidade de sustentar um premium price e ainda ser fator primordial para o sucesso de uma extensão de marca. “Se 53 uma marca é bem conceituada em um segmento, a suposição natural é de que ela terá uma alta qualidade num contexto correlato” (AAKER, 1998, p.20). A alta percepção de qualidade do consumidor facilita trabalhos de marketing e comunicação e pode criar associações de bem-estar e segurança, ligadas ao modelo hedonista. A percepção de qualidade nem sempre tem ligação direta com os atributos tangíveis de um serviço ou produto. Ela faz parte do conhecimento do consumidor sobre a qualidade geral ou superioridade de produtos e serviços em relação aos seus substitutos. A qualidade percebida, portanto, não pode ser definida objetivamente. Isso ocorre devido ao fato de que os consumidores possuem julgamentos subjetivos e intenções, baseadas em variáveis como nível de conhecimento, situação de compra ou sensibilidade ao preço. Entretanto, a qualidade percebida difere da satisfação. “Um consumidor pode estar satisfeito porque era baixa a sua expectativa sobre o grau da performance. A alta qualidade percebida não é compatível com baixas expectativas” (AAKER, 1998, p.88 e 89). Mas o que é qualidade e o que a torna percebida pelos consumidores? De acordo com Kotler (2000, p.79), a qualidade é “a totalidade dos atributos e características de um produto ou serviço que afetam sua capacidade de satisfazer necessidades declaradas ou implícitas”. Aaker (1998), na dimensão dos serviços, propõe cinco razões determinantes para a influência na percepção de qualidade pelos consumidores: tangibilidade, confiabilidade, competência, atendimento, empatia. A primeira delas, a tangibilidade, pode refletir a qualidade através das instalações físicas, equipamentos e a aparência dos funcionários. A confiabilidade pode ser expressa através de um serviço eficiente, exato e desenvolvido com segurança. Neste caso, ela tem um vínculo com as pessoas que realizam o serviço. A terceira dimensão, a competência, remete à realização dos serviços sem erros, através de treinamentos e padronização, por exemplo. O atendimento pode refletir qualidade se a equipe estiver disponível e motivada a ajudar os consumidores com eficiência e de forma rápida. A última dimensão, a empatia, diz respeito à interface 54 pessoal entre o cliente e a empresa. Além do tratamento com respeito é necessário mostrar que a corporação se preocupa realmente com o consumidor. 4.2.4 Associações da marca Fortes associações da marca podem proporcionar uma barreira contra concorrentes, na medida em que “Para introduzir uma marca nova à mente você tem de apagar ou reposicionar a marca antiga que já ocupa a categoria” (RIES e TROUT, 2002, p. 31). Associações de marca são imagens mentais e impressões armazenadas na memória ligadas ao nome e/ou símbolo de uma marca. Podem ser criadas através de ações de comunicação, marketing e acúmulo de experiências no relacionamento com a marca. Aaker (1998, p.116) afirma que “as associações representam as bases para as decisões de compra e para a lealdade à marca. Há uma porção de associações possíveis e uma variedade de formas de atribuir valor”, ilustrando esse fenômeno com um exemplo pertinente, através do trecho que se segue: Quando aplicamos uma escala para expressões geradas na associação de palavras para McDonald‟s, as mais fortes associações foram com: Big Macs, Arcos Dourados, Ronald, Chicken McNugget, Egg McMuffin, emqualquer-lugar, familiar, gorduroso, temperado, alimento, barato, crianças, bem conhecido, batatas fritas, rápido, hambúrgueres e gordo (AAKER, 1998, p.144). No exemplo citado, percebemos que algumas associações feitas com a marca McDonald‟s foram mais esperadas, por se relacionarem com o símbolo, com os produtos oferecidos, com o público freqüentador ou com o personagem da marca; outras associações, de caráter mais individual e subjetivo, se apresentaram positivas por refletir a imagem que a empresa quer passar: relações com a acessibilidade, o sabor, o valor (em relação aos EUA, onde foi feita a pesquisa), ao ritmo do serviço e ao reconhecimento da marca; outras, ainda, se mostraram pejorativas e contra aquilo que a empresa deseja refletir, como o de uma empresa que oferece alimentos não-saudáveis e engordativos. Esta é uma das razões pelas quais as empresas devem estar sempre atentas às associações que os consumidores fazem com as 55 suas marcas, para medir até que ponto a comunicação da empresa está sendo eficaz. Dentre as principais formas de criar valor para a marca, as associações: ajudam a mente a achar/processar informações, criam diferenciação e posicionamento, influenciam na razão de compra, criam atitudes positivas e sentimentos em relação à marca, facilitam as extensões de marca (AAKER, 1998). Provavelmente sejam estas as razões pelas quais o McDonald‟s protege sua partícula Mc agressivamente, utilizando atualmente cerca de cem nomes registrados com esse prefixo (AAKER, 1998, p.226). É verdade que a utilização do Mc ou Mac para nomear quaisquer dos seus produtos cria diferenciação e facilita as extensões da marca McDonald‟s, já que a associação com a empresa passa a ser imediata pela propriedade quase exclusiva sobre a partícula. As associações podem, de forma resumida e rápida, organizar pacotes de informações sobre a marca na mente do consumidor, e chamá-las através de suas ligações. Elas podem ainda trazer recordações de experiências com a marca através da simples visualização de seu símbolo gráfico. As mais freqüentemente utilizadas podem ser agrupadas em onze tipos: características do produto, atributos intangíveis, benefícios ao consumidor, preço, usos e aplicações, usuário ou comprador, celebridades e pessoas, estilo de vida e personalidade, classe do produto, concorrentes e área geográfica ou cidade (PINHO, 1996). Associações com personalidades ou personagens como Ronald McDonald são bem-sucedidas no processo de posicionar marcas. É relevante considerarmos a possibilidade de estes ícones serem também tratados como marcas, por possuírem uma imagem e uma rede de associações definida. Algumas outras associações podem estimular sentimentos positivos que acabam sendo transmitidos à marca. Campanhas que apóiam causas ou ajudam grupos sociais podem persuadir consumidores a escolhê-la. É o caso do McDonald‟s com as suas iniciativas, entre elas os cofrinhos do Instituto do Câncer Infantil e o McDia Feliz (na luta contra o câncer infantil desde 1988), e o Programa Bom Vizinho, empregado em 2003 pelos restaurantes McDonald‟s, em que grupos de voluntários interessados (entre funcionários, gerentes e clientes) são estimulados 56 através de uma competição entre restaurantes a adotar comunidades em situação de vulnerabilidade social e levar até eles entretenimento, educação, vacinação, esportes, inclusão digital (através da McInternet), alimentos, roupas, e tudo o que puderem em seu benefício, através de parcerias e de iniciativas próprias. Através desta estratégia, a imagem de marca passa a ter atributos como cidadania, atenta e responsável aos problemas sociais. Consumir esta marca e contribuir com a causa da campanha faz do consumidor “uma pessoa melhor”, tanto no contexto das impressões do seu grupo social (que compartilham mesmos valores), quanto no contexto de sua auto-imagem. Outra poderosa estratégia de associação refere-se aos tours às instalações empresariais. O McDonald‟s também explora programas de tours internos, denominados McTours. Há programas de treinamentos especiais para funcionários, que incluem trinta minutos de apresentação da história da empresa, trinta minutos de visitas às instalações e mais trinta minutos para servirem lanches aos visitantes e os deixarem à vontade. Segundo Aaker, “são o coração do esforço de construir a marca”, uma vez que as pessoas envolvidas “não apenas são alvo da exposição direta de primeira linha com o produto, recebendo informação autêntica sobre o que se passa na fabricação, como também têm uma experiência interessante e prazerosa que fará parte de várias associações” (Aaker, 1998, p.180). Sendo assim, conforme o exposto, lealdade à marca, reconhecimento, qualidade percebida e associações da marca são os elementos-chave para formar o patrimônio ou valor de marca. Eles agregam valores e tornam a marca potencialmente competitiva. No entanto, antes de seguirmos para um dos focos do trabalho também muito relacionado ao brand equity, o valor emocional agregado às marcas, vamos ainda discorrer, rapidamente, sobre os componentes básicos de uma marca que a diferenciam das demais e, portanto, também agregam valor aos elementos do seu patrimônio. São eles: o nome da marca, seu símbolo e seu slogan. 57 4.3 Elementos da marca 4.3.1 O nome O nome é imprescindível para que a marca atinja qualquer escala de conhecimento. Trata-se de um elemento essencial que poderá facilitar esforços de comunicação e, por si só, criar e armazenar associações bastante úteis. Uma vez estabelecido, pode ser uma barreira contra concorrentes, facilitar a criação de subnomes e beneficiá-los através da transferência do seu brand equity. Nesse caso, voltamos a ilustrar como exemplo o McDonald‟s e sua partícula Mc, conforme o que Lindstrom (2007, p.61) afirma: O McDonald‟s usa o “Mc” em seu nome para tirar vantagem de tudo o que for possível. Seu mundo é inundado por Big Macs, McNuggets, McMuffins, e até McSundays. Se você receber um e-mail da corporação será cumprimentado com as palavras “Tenha um MACnífico Dia”. A filosofia de denominações do McDonald‟s é parte essencial de sua marca. 4.3.2 O símbolo Martins (2000) afirma que o avanço tecnológico na produção industrial propiciou a padronização de atributos para a maioria dos produtos, transformandoos em similares, e que certas diferenças existentes são muito difíceis de serem comunicadas com eficiência ao consumidor. Nesse contexto, o símbolo pode ser o elemento central do brand equity, o principal responsável pela diferenciação da marca. O símbolo, além de criar identificação instantânea através de formas e cores, pode, por si só, promover conhecimento da marca, afetar a lealdade e a qualidade percebida da marca, comunicar atributos e associações, uma vez que “Sabemos que é mais fácil apreender as imagens visuais (símbolos) do que as palavras (nomes)” (AAKER, 1998, p.208). O símbolo pode, também, ser representado graficamente através de um personagem, o que reforça e torna mais efetivos os mecanismos de associação com a marca: 58 O fato de um personagem ser apreciado ou associado a um sentimento positivo, tal como alegria e riso, é importante. As pessoas empenham-se na „transferência de afeto‟, o que significa que elas tendem a transferir o afeto (sentimentos de preferência ou relutância) por um objeto para outro que seja percebido como ligado ou relacionado ao primeiro de alguma forma significativa (AAKER, 1998, p.211). Nesse sentido, cabe afirmarmos que os famosos Arcos Dourados, o “M” do McDonald‟s, é o elemento que instantaneamente identifica a marca McDonald‟s para a maioria das pessoas em todo o mundo. Da mesma maneira, o cineasta norteamericano Morgan Spurlock, através do seu documentário6 a respeito da empresa, provou que seu personagem-símbolo Ronald McDonald é mais conhecido do que Jesus Cristo para as crianças daquele país. Sabe-se que este conhecimento devese ao fato de que a empresa começa a seduzir os clientes ainda na infância, através de parquinhos infantis nas lojas e da própria figura do palhaço Ronald. Assim, as crianças, quando crescem, retornam ao McDonald´s porque a lanchonete evoca momentos felizes que ela passou na companhia do pai e da mãe. Lindstrom (2007) afirma que “Ronald McDonald” tornou-se associação popular com a palavra “Enjoy” (“Aproveite”), e também fortemente com a palavra “Sorriso”, perdendo o primeiro lugar de associação com esta palavra apenas para a Disney. Assim, concordamos com Aaker (1998) quando afirma sobre a “transferência de afeto” do personagem para a marca. Provavelmente, a figura do palhaço Ronald transfere para a marca associações afetivas que não aconteceriam sem o personagem. 4.3.3 O slogan Foi abordada anteriormente a importância do nome e símbolo como elementos-chave que contém os esforços do brand equity. A simples mudança de símbolo e nome poderia anular os investimentos de anos de comunicação usados para fortalecer o conhecimento e criar associações da marca. Apesar das fortes características do símbolo e nome no processo de comunicação, eles possuem suas 6 O referido documentário chama-se Super Size Me – A Dieta do Palhaço, 2004, em que o cineasta Morgan Spurlok tenta provar os malefícios causados por uma dieta de um mês à base de fast food. 59 limitações. Algumas associações ou conclusões mais objetivas são difíceis de serem alcançadas com a exposição de um símbolo ou através do nome. O slogan, então, se apresenta como uma solução muito mais flexível, na medida em que possui menos limitações legais e possibilidade de comportar maior número de informações. De acordo com Perez (2004, p.86 e 87): “Os slogans são vocalizações (vocare, em latim), representando vocatio, chamada ou vocalização da marca. São frases ou sentenças concisas usadas repetidamente na propaganda de uma empresa, produto ou serviço”. Ainda segundo a autora, o slogan é “o comando que desperta associações funcionais e emocionais”, cujo propósito é o de “aproximar os consumidores das marcas e dos produtos que pretende promover”. Dentre suas capacidades, o slogan pode promover novas associações para enriquecimento da imagem da marca, aumentar a coerência entre nome e símbolo, afastar interpretações pejorativas, reforçar o nome através da repetição e mudar o posicionamento sem abalar significativamente as dimensões do brand equity (Aaker, 1998). Trazendo o nosso objeto de estudo novamente como exemplo, o McDonald‟s com o seu último slogan “Amo Muito Tudo Isso” reaproximou seus consumidores pela conexão emocional, afetiva, amorosa e intangível com a que estabeleceu. A tomada de decisão por esse slogan, criado por uma agência publicitária alemã em 2003, surgiu da necessidade de re-posicionar a empresa em uma época que levava grande parte da culpa pela epidemia de obesidade nos Estados Unidos. Assim, decidiu-se vincular a imagem da rede a uma vida mais saudável e ativa, reformulando o cardápio e aproximando a marca dos esportistas famosos e celebridades da geração saúde. O resultado dessa estratégia foi o aumento anual de US$ 2 bilhões7 nas vendas nos últimos dois anos, e a adaptação do slogan por jovens de todo o mundo para qualquer situação apreciada, relacionada ou não ao McDonald‟s. O slogan adotado é flexível e pôde ser traduzido para os 119 países onde a marca está presente. 7 Fonte: Revista eletrônica ISTO É DINHEIRO, 2005. Disponível em: <http://www.terra.com.br/istoe dinheiro/419/negocios/mcdonalds>. Acesso em: 27 out. 2007. 60 O slogan, portanto, cumpre com a função de reforçar uma imagem de marca por meio da associação de um valor a um nome, com o propósito de satisfazer, de seduzir, de mostrar, de demonstrar e de agradar. (PINHO, 1996). Antes de seguirmos para o próximo capítulo, convém discorrermos rapidamente sobre o contexto do relacionamento com os novos públicos consumidores. Para tanto, utilizaremos Gobé (2002) para compreender quem são estes clientes potenciais que emergem neste novo cenário em que estamos inseridos, valiosos para as empresas que desejam permanecer modernas. 4.4 Relacionamento: quem são os novos clientes São muitos os fatores que levam a mudar o cenário social de um país. A rápida inovação tecnológica foi, seguramente, um dos fatores que mais acarretou mudanças no desenvolvimento comercial, e muitas empresas seguem ignorando este fato. Hoje, muitas estão desconectadas das alterações nas populações consumidoras, tal como a evolução das gerações, influência das mulheres e o potencial de consumo do público homossexual, cada vez mais presente no cenário comercial. Antes de tentar satisfazer as necessidades de qualquer pessoa, no entanto, é preciso conhecê-la, e essa é uma tarefa complexa em nossa fluida sociedade. De acordo com Gobé (2002), as três maiores populações consumidoras que participam do mercado varejista, hoje, são: a Geração Pós-Guerra (de 37 aos 55 anos), a Geração X (de 25 a 36 anos) e a Geração Y (de 6 a 24 anos). São segmentos sociais muito diferentes, e que, portanto, precisam ser tratados de maneira diferenciada. “A Geração Pós-Guerra responde a sinais de realização, status e desempenho; a Geração X valoriza a imaginação, a criatividade e os relacionamentos, e a Geração Y responde ao divertimento, à interatividade e às experiências” (GOBÉ, 2002, p.39). Além da diversidade de gerações, convém considerarmos a influência que a força econômica feminina vem assumindo no novo cenário social. De acordo com Gobé (2002, p.88) “O poder aquisitivo das mulheres cresce cada vez mais e com 61 constantes mudanças no que compram e no seu por quê. Para começar, elas estão comprando mais produtos e serviços tradicionalmente vendidos a homens, como automóveis, computadores, jogos, ferragens, bebida e charutos”. E não é para menos, já que há algum tempo a classe feminina conquistou sua emancipação de um mundo tradicionalmente voltado para os homens, já que eram eles que trabalhavam e exerciam o poder sobre a economia e a política, enquanto elas cuidavam dos filhos e do lar. No entanto, após a entrada das mulheres no mercado de trabalho, muita coisa mudou. Hoje, pode-se afirmar que “a crescente influência das mulheres em nosso mundo estende-se para além de seu poder aquisitivo ou da evolução de seus hábitos de compras. As mulheres são realmente uma verdadeira força a ser levada em consideração no novo perfil econômico” (GOBÉ, 2002, p.90). E mais do que isso, as mulheres valorizam e são absolutamente sensíveis àquilo que se apresenta como a promessa do futuro das marcas: o componente emocional. Conforme Faith Popcorn, fundadora da consultoria de marketing Faith Popcorn´s BrainReserve: É importante reconhecer o valor das mulheres como compradoras por duas razões. Primeiramente, porque as mulheres são grandes consumidoras e controlam 80% dos gastos da casa, e em segundo lugar, porque a maneira como pensam e se comportam é completamente diferente dos consumidores do sexo masculino. As empresas devem saber se comunicar com as mulheres e para isso precisam desenvolver um bom relacionamento com elas. As consumidoras mulheres são leais; se confiarem em um tipo de produto ou marca e firmarem um relacionamento com ele, permanecerão leais por toda vida. Vou mais longe e arrisco dizer até que a maneira de divulgar um produto para mulheres é única, completamente diferente se 8 essa divulgação fosse feita para homens. A respeito das mulheres como consumidoras, podemos relacionar cinco elementos-chave que são considerados por elas os mais importantes no momento de avaliar o que oferece uma marca: respeito, individualidade, alívio de estresse, conexão e relacionamento. As marcas que objetivam ganhar o prestígio e a fidelidade das mulheres devem reconhecer sua inteligência e informação, sua diversidade sem estereotipá-las, suas tensões pela sobrecarga de multi-funções, sua tendência a avaliar as emoções e não os componentes racionais, e, finalmente, 8 Fonte: Newsletter eletrônica CATHO ONLINE: Indicação de leitura: Mulher Eveolution, por Faith Popcorn, 2007. Disponível em <http://www.catho.com.br/jcs/inputer_view.phtml?id=1605>. Acesso em 29 out. 2007. 62 sua simpatia ao diálogo que reflita os valores que lhes são importantes. De acordo com Gobé (2002, p.101) “a maior ofensa praticada à mulher pela publicidade são os anúncios unidimensionais e irreais, que a transformam num objeto”. Além disso, elas querem anúncios, produtos e negócios que não façam comparações com o mundo masculino, uma vez que elas próprias estão criando o seu universo, solicitando silenciosamente que as marcas saibam falar com elas considerando conexão profunda com seus desejos, com a sua intimidade e de forma nova e criativa. Além das mulheres, um outro público consumidor que merece destaque são os homossexuais. “As empresas que ignoram esse público não só perdem bons negócios mas infelizmente também assinam o atestado de ignorância, e a nossa sociedade – principalmente a Geração Y, altamente adversa à discriminação – está se tornando cada vez menos tolerante com essa postura” (GOBÉ, 2002, p.106). De fato, os movimentos dos últimos anos têm atenuado bastante a discriminação, o maior vilão da não integração destes grupos. Ele dificulta a consolidação de uma vida normal a este público, fazendo com que se sintam culpados e, muitas vezes, intimidados. Esta é a principal dificuldade na mensuração e categorização deste público pelas pesquisas, justamente porque muitos ainda têm medo de se identificar. No entanto, a respeito do seu potencial de consumo, sabe-se que “a concentração urbana de muitos homossexuais e a pouca probabilidade de criarem filhos aumenta a possibilidade de ter uma boa renda” (GOBÉ, 2002, p.107). De acordo com Gobé (2002, p.107), “os consumidores homossexuais estão entre aqueles que mais reagem ao posicionamento das empresas em sua comunidade, seja ele positivo ou negativo”. Este público atribui, mais do que qualquer outro grupo, extremo valor à forma como são tratados pelas empresas, sendo o tratamento com respeito a condição para que permaneçam fiéis ou troquem de marca. De acordo com pesquisa americana, 77% deles migraram para marcas que os trataram com respeito, dos quais 76% permaneceram fiéis. Em contrapartida, 87% abandonaram marcas que os desconsideraram, e destes, 79% nunca mais voltaram a comprar o produto relacionado. O comportamento dos homossexuais frente às preferências em relação à empresas e marcas, portanto, pode ser percebido como a mais rica ilustração de 63 Marca Emocional. Para eles, os atributos de uma marca que joga com a sinceridade e que cria forte conexão emocional através da identificação com os seus consumidores são decisivos para a sua preferência, fazendo merecer sua valiosa fidelidade. Assim, os exemplos reais ilustram que o potencial de uma marca como identidade emocional está diretamente relacionado não somente ao resultado dos anúncios ou produtos em si, mas também à postura e à política da empresa que a oferece ao mercado (GOBÉ, 2002). Assim, vimos até aqui quais são os fatores psicológicos padrão no comportamento de consumo e as dimensões envolvidas no valor patrimonial de uma marca que a torna competitiva e atraente. No entanto, entender os componentes do brand equity ainda não explica suficientemente o que torna os consumidores tão fiéis a certas marcas, a ponto de rejeitar as demais. Há uma série de estratégias relativamente atuais que foram incorporadas à gestão de marcas e que não somente atraem, mas seduzem os consumidores para si de maneira inadvertida e que tem apresentado grandes resultados para muitas empresas. Portanto, faz-se necessário partirmos para uma compreensão mais aprofundada a respeito dessas estratégias que levam os consumidores a tornaremse fiéis a determinadas marcas, mas que os atingem de maneira inconsciente, despercebida, e, portanto, subliminar. 64 5. CAPÍTULO IV – COMUNICAÇÕES DESPERCEBIDAS Para a presente monografia, compreender a força da sugestão e da persuasão de qualquer esforço de marketing significa, antes, compreender até que ponto a racionalidade torna-se inócua diante da emotividade, o pensamento diante da paixão e a consciência diante das comunicações inadvertidas. Para tanto, nos apoiaremos nos estudos de Calazans (1992) e Ferrés (1998) com o objetivo de descobrirmos como as estratégias subliminares foram utilizadas ao longo do tempo, manipulando as decisões a favor da compra e servindo como base para as atuais oportunidades sensoriais em torno de produtos e marcas. 5.1 Conceito de subliminar Na visão de Calazans (1992), por definição, subliminares são as mensagens que nos são enviadas dissimuladamente, ocultas, abaixo dos limites da nossa percepção consciente (medidos pela Ergonomia) e que vão influenciar nossas escolhas, atitudes, motivar a tomada de decisões posteriores. Ainda, propõe uma fórmula para explicar o subliminar: a maior quantidade de informação, pelo menor tempo de exposição. Sendo assim, quanto maior a quantidade de informação dentro do menor tempo de exposição possível, maior a nossa percepção inconsciente do que está sendo transmitido. Já para Ferrés (1998), a definição de subliminar pode ser considerada através de dois sentidos. O sentido mais estrito se equivale ao conceito proposto por Calazans, considerando subliminares todos os estímulos que não são percebidos de maneira consciente porque estão abaixo do umbral sensorial mínimo ou acima do umbral sensorial máximo. Ou seja, neste sentido, o conceito subliminar se referiria, portanto, aos umbrais sensoriais. No entanto, neste trabalho, tomaremos como subliminar o que Ferrés explica como sendo o seu sentido mais amplo, que pode ser compreendido no trecho a seguir: 65 Num sentido mais amplo, considera-se subliminar qualquer estímulo que não é percebido de maneira consciente, pelo motivo que seja: porque foi mascarado ou camuflado pelo emissor, porque é captado desde uma atitude de grande excitação emotiva por parte do receptor, por desconhecimento dos códigos expressivos por parte do próprio receptor, porque se produz uma saturação de informações ou porque as comunicações são indiretas e aceitas de uma maneira inadvertida (FERRÉS, 1998 p.14). Assim, consideramos subliminares todas as informações que não são percebidas conscientemente por parte do receptor, pela sua camuflagem, pelo seu potencial de despertar emoções nos receptores ou por sua subjetividade, influindo nas suas ações e tomadas de decisões de maneira inadvertida, não pretendida e silenciosa. A seguir conheceremos, através de Calazans (1992), como as técnicas subliminares foram concebidas e interpretadas, para que possamos compreender suas implicações sobre a psique humana. 5.2 Origem e evolução das técnicas subliminares A Teoria Subliminar remonta ao filósofo grego Demócrito (400 a.C), desde quando afirmava que “muito do que é perceptível não é claramente percebido” (apud CALAZANS, 1992, p.21); e ao longo do tempo foi descrita por Platão, aprofundada por Aristóteles, Montaigne, Leibniz, entre muitos outros, chegando a Freud. Uma das primeiras descobertas significativas a respeito da percepção subliminar, no entanto, aconteceu graças ao ex-discípulo de Freud, Otto Poetzle. Poetzle demonstrou, mediante estudos de caso e experiências documentadas, que o conteúdo dos sonhos consiste em informações percebidas subliminarmente, de modo que todos os dados excluídos da percepção consciente são gravados e processados através dos sonhos. Estes dados excluídos da percepção consciente teriam uma explicação fisiológica. Segundo documentos de Poetzle, os olhos realizam cerca de 100 mil fixações diariamente, dos quais uma ínfima porcentagem realiza-se conscientemente. O restante dos dados, portanto, fixa-se como subliminar. Esta é a chamada “Lei da Exclusão”. 66 Os efeitos dos estímulos sensoriais imperceptíveis conscientemente vinham sendo medidos pela Psicologia Experimental desde então, até que, em 1919, Poetzle provou que os estímulos subliminares tinham o mesmo resultado prático das sugestões pós-hipnóticas para alterar o comportamento humano. Estas pesquisas tomaram proporções exeqüíveis quando, quarenta anos mais tarde, em um cinema de New Jersey, o publicitário Jim Vicary colocou um taquicoscópio (um tipo de projetor de slides) no filme Picnic e sobrepôs a ele, em intervalos de cinco segundos, frases como “Drink Coke” (“Beba Coca-Cola”) e “Eat Popcorn” (“Coma Pipoca”) a uma velocidade de 1/3000 de segundo. As palavras foram projetadas tão depressa que passaram imperceptíveis à consciência, mas aumentaram as vendas destes produtos na ordem de 57,7% e 18,10%, respectivamente. Este foi o famoso “Experimento Vicarista”, por muito tempo tido como a única evidência concreta da existência de percepções subliminares. Nos anos 70, a tecnologia subliminar foi adaptada à mídia televisão em um frame (1/30 segundo) no jogo infantil Kusker Du, obtendo igualmente ótimos resultados. A partir de então, seguiram-se muitas experiências com a tecnologia de projeção subliminar taquicoscópica, demonstrando sua validade empírica em hipóteses psicanalíticas ao encontrar-se em uso para tratamento clínico subliminar de obesidade, esquizofrenia, homossexualidade, entre outros. Diante da emergente necessidade de compreender as causas dos fenômenos e processos subliminares, muitos anos de pesquisa sobre as bases fisiológicas do ser humano foram investidos, até que, em 1974, Wilson Bryan Key reuniu suas conclusões na obra Subliminal Seduction. O autor explicou que a morfologia celular do olho humano contém a fóvea (sua parte central) composta por células cones, como o foco da visão consciente; já a visão periférica (o canto do olho) composta por células bastonetes, seria a responsável pelo registro visual das percepções subliminares. Outros estudos acerca da morfologia e fisiologia humana – que remontam a Roger Sperry (prêmio Nobel de Neurocirurgia e Anatomia de 1981), Eccles e Betty Edwards – demonstraram que os dois hemisférios cerebrais também têm grande influência sobre o processo perceptual porque se comportam de maneira diferenciada, de modo que “o lado esquerdo é o eixo sintagmático, que executa a 67 leitura linear letra a letra, pensa com lógica e é racional, enquanto que o lado direito do cérebro é o eixo paradigmático das imagens visuais, analogias e emoções” (CALAZANS, 1992 p.35). Sendo assim, o hemisfério esquerdo avalia, critica e compara; o direito é holístico, analógico e movido pelo visual, pelos impulsos e emoções. Sob o ponto de vista de marketing e de comportamento do consumidor, após pesquisas realizadas, chegou-se à conclusão de que: O hemisfério esquerdo do cérebro detém a decisão de compra de bens de alto envolvimento ou bens de comparação, como carros e computadores. O hemisfério direito decide a aquisição impulsiva e emocional dos bens de baixo envolvimento, os bens de conveniência, como doces e refrigerantes. Tais conclusões impactaram no aperfeiçoamento das estratégias de indução subliminar, porque compreenderam os reflexos psicológicos de projeção no campo visual esquerdo e permitiram identificar que, em anúncios ou comerciais, imagens e ícones são mais eficazes que textos verbais como estímulos à compra inconsciente e inadvertida pelos consumidores. Para este trabalho, entretanto, nos interessa compreender em especial os reflexos do funcionamento do eixo paradigmático, uma vez que as estratégias subliminares se relacionam com os ícones não-verbais, emocionais e inconscientes que são enviados ao lado direito do cérebro. A partir deste momento, utilizando os argumentos de Ferrés (1998), discorreremos sobre os processos que levam a emoção a burlar a razão, ou seja, quando os mecanismos de sedução e fascínio “sabotam” o pensamento questionador, explicativo e lógico, bem como a maneira como o ser humano reage a estes processos. 68 5.3 O processo subliminar de sedução Argumentando que “quando se defrontam a emoção e a razão, normalmente é a razão que acaba por sucumbir”, Sigmund Freud já expressava a sua visão sobre a influência da emotividade nas decisões do homem. Carl G. Jung (18-?), em uma linha de pensamento similar, afirmava que “menos de um em mil da população do mundo se deixa instruir pela reflexão; os outros cedem à força sugestiva da evidência gráfica”. Sobre o comportamento mental de percepção, Ferrés (1998) afirma que o processo subliminar da sedução representa o “triunfo da metonímia”: conquista adesão total para um indivíduo a partir da adesão a apenas uma parte dele; induz a ampliar a única dimensão afetada, convertendo-a em manifestação do todo. E a sua força consiste em dois processos psíquicos: o “adormecimento da realidade” ou da capacidade analítica, reflexiva e crítica como conseqüência do domínio das emoções; e a generalização da emoção ou “transferência globalizadora”, graças à atuação do pensamento primário que tende a completar seguindo os parâmetros de simplicidade, comodidade, simetria, continuidade, unificação e regularidade. Sendo assim, o caráter metonímico da sedução tende a projetar a parte no todo, aproveitando o fascínio produzido por uma qualidade isolada para projetá-la no conjunto da realidade, adequando-se às expectativas e atribuindo sentido e valor por semelhança ou contigüidade. Segundo Ferrés (1998, p.69): O processo de sedução tem, pois, uma primeira fase fragmentadora, de decomposição da realidade, com o objetivo de eliminar as dimensões que interessa camuflar, e uma segunda fase globalizadora, de reconstrução, que consiste em transferir para o conjunto os valores da dimensão fascinante selecionada. Ferrés (1998) reforça seu raciocínio ao discorrer sobre as diferenciadas formas de atuação das duas vias da comunicação persuasiva: A via racional, regida pelo pensamento lógico, atua por argumentação [...] A via emotiva, regida pelo pensamento associativo, obedece a outros parâmetros: não atua por argumentação, mas por transferência. Atua por simples continuidade, por proximidade, por semelhança, por simultaneidade, por associação emotiva ou simbólica. A via racional pretende convencer, quer dizer, oferecer razões ou argumentos [...] A via emotiva, em troca, pretende seduzir, atrair o receptor pelo fascínio (FERRÉS, 1998, p.59). 69 Complementa, ainda, com as aplicações das duas vias: Utilizar a via racional para a publicidade de um produto supõe oferecer argumentos que avançam sobre as vantagens objetivas deste produto quanto às marcas [...] Em troca, utilizar a via emotiva supõe conectar o produto com valores emocionais que, do ponto de vista lógico, nada ter a ver com ele (FERRÉS, 1998, p.59). Para os profissionais da comunicação persuasiva, a via emotiva é mais facilmente manipulada porque é mais divertida, induzindo a uma maior abertura e receptividade por parte dos consumidores; também facilita porque não desperta mecanismos de defesa, porque a utilização da via emocional tende a ser mais sutil e camuflada, fazendo conexão com as necessidades íntimas do receptor. Dessa maneira, ele pensa que está se divertindo. De fato, a maior parte das pessoas não é consciente dos motivos pelos quais a comunicação a atrai. Ferrés (1998, p.205) afirma que “com freqüência isso é alcançado criando para o produto alguns contextos que não têm nenhuma relação objetiva com o seu valor de uso. De forma inconsciente, o receptor transfere ao produto os valores do contexto”. O autor explica a estratégia (1998, p.203) a seguir: A publicidade não deve ficar centrada no produto, e sim, no receptor. [...] Procura-se conhecer as suas possibilidades e suas fragilidades, para tirar proveito delas. Mais do que oferecer argumentos racionais para a compra, mais do que basear os anúncios em qualidades intrínsecas do produto, em valores funcionais, procura-se anunciar o produto associando-o a valores emocionais do receptor. Sabendo que nada atrai mais as pessoas do que elas próprias, Ferrés ainda sustenta que a publicidade não vende outra coisa a não ser projeções pessoais e individuais que se quer seguir: “no fundo de toda experiência sedutora, há, pois, uma experiência narcisista. A sedução não é outra coisa do que a busca inconsciente do Eu no Outro” (Ferrés, 1998, p.71). Tanto a psicanálise quanto o marxismo contribuíram poderosamente para descobrir dimensões ocultas nos relatos, e a eficácia dos processos de sedução se deve ao fato de que ative mecanismos de associação e transferência, pelo seu caráter “metonímico, narcisista, soporífero e globalizador” (FERRÉS, 1998, p.72). 70 A concepção de “caráter metonímico” e de “transferência globalizadora” da sedução exposta por Ferrés parece ter, pois, muita relação com o que nos diz Calazans (1992) a respeito da psicologia da Gestalt – teoria que a partir de 1890 busca explicar certas leis que regem a percepção humana das formas. A Teoria da Gestalt explica este fenômeno do pensamento primário quando afirma que não se pode ter conhecimento do todo através das partes, e sim das partes através do todo; e que só através da percepção da totalidade é que o cérebro pode de fato perceber, decodificar e assimilar uma imagem ou um conceito. Segundo afirmam Moura e Ribeiro (1998): Entre os princípios da Gestalt, destaca-se como fundamental referência para as composições gráficas, o seguinte conceito: "o todo é mais do que a soma das partes". Isto equivale a dizer que "A + B" não é simplesmente "(A+B)", mas sim um terceiro elemento "C" que possui características 9 próprias. É através das Leis de Gestalt que podemos entender o comportamento natural do cérebro quando age no processo de percepção, uma vez que facilita a compreensão das imagens e das idéias. Dentre as leis, destaca-se para nós o conceito de figura e fundo como sendo “o mais primitivo processo da percepção, quando um órgão sensório focaliza e destaca um padrão de estímulos como figura, deixando o resto como fundo” (CALAZANS, 1992 p.26). O mesmo aplica-se ao ouvido: o fundo musical, que dá o “clima” a anúncios publicitários, é subliminar enquanto estivermos focalizando atentos a fala e os gestos do ator-personagem. Assim, enquanto estamos atentos a determinados estímulos, outros deles estão sendo absorvidos e percebidos de maneira inconsciente. Assim, ao associar os estudos sobre as bases fisiológicas e morfológicas de Key à psicologia sobre percepção humana da Gestalt e às pesquisas sobre o cérebro humano, é possível concluirmos que os processos subliminares ocorrem graças ao fenômeno: a fóvea foca a figura consciente percebida pelo eixo sintagmático (o hemisfério esquerdo do cérebro), enquanto a visão periférica capta o fundo subliminar inconsciente pelo eixo paradigmático (o direito). 9 Fonte: WIKIPÉDIA. Gestalt. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Gestalt. Acesso em 29 out. 2007. 71 Para Al Ries e Jack Trout (2002), por vivermos em uma sociedade saturada de informação, a mente humana se adaptou a essa overdose aprendendo a filtrar e rejeitar a informação à qual não lhe interessa expor naquele momento. É a saturação subliminar que não deixa tempo de pensar os estímulos. Assim sendo, voltando a falar de aplicação em termos práticos, devemos concordar com Ferrés (1998) ao afirmar que o subliminar tem seu potencial melhor aproveitado quando inserido dentro da programação normal do que nos intervalos comerciais, burlando assim os mecanismos de defesa do consumidor. Sobre eles, trataremos a seguir. 5.3.1 Os mecanismos de defesa do consumidor Há muitas evidências de que o homem é influenciado por motivos que vão além da razão. No entanto, o ser humano parece ter dificuldade em aceitar o fato. Ferrés (1998) afirma que, no processo de compreensão do psiquismo humano, existem quatro fatores que dificultam o alcance da lucidez na análise do homem sobre si mesmo: sua concepção errônea sobre ser livre, racional, consciente e, finalmente, uma concepção errônea da objetividade da sua própria percepção. Através do “Mito da Liberdade Humana”, Ferrés (1998) explica a ilusão em que vive o homem ao pensar que escolhe e decide sozinho: As pessoas se enganam ao se acharem livres apenas porque não existem impedimentos externos para a execução de seus desejos. [As democracias ocidentais] Não atuam sobre a decisão de maneira direta, mediante a obrigação ou a proibição, mas de maneira indireta, pressionando com promessas e ameaças veladas. As limitações à liberdade provêm seguidamente da indução mais ou menos inadvertida de desejos e temores. Uma coisa é impedir o indivíduo de agir conforme sua vontade e outra é condicionar sua vontade para que aja conforme se deseja (FERRÉS, 1998, p.15). De acordo com essa afirmação, no sentido estratégico comercial, podemos depreender que, enquanto vendedores, somos capazes de condicionar os desejos dos consumidores sem que eles percebam, porque acreditarão que estarão fazendo suas escolhas conforme suas próprias vontades. 72 Ferrés (1998) explica que os seres humanos também vivem a ilusão de que sempre se comportam de maneira lógica, acreditando na primazia da razão sobre o sentimento. Assim, vivem também um segundo mito, que ele denomina “Mito da Racionalidade Humana”. Argumenta que, no entanto, dificilmente conseguiremos mudar as crenças das pessoas apenas com argumentos racionais. Tomemos um fumante como exemplo: ele sabe os males que causam os cigarros, mas não consegue largar o vício até que alguma interferência (como doença ou a morte de algum ente querido, por exemplo) o atinja emocionalmente. De acordo com Ferrés (1998, p.18) “a vontade de ser racional e a orgulhosa convicção de sê-lo se devem sem dúvida à pressão social. Na cultura ocidental, tendeu-se a condenar, desde Platão, o mundo da irracionalidade e das emoções”. De fato, Sócrates argumentou que, uma vez que ninguém age voluntariamente contra aquilo que sabe ser o melhor, apenas a ignorância pode explicar ações frívolas e nocivas. Em um período próspero em que novas idéias filosóficas e científicas a respeito do homem e do mundo emergiam, entender e justificar as atitudes inconscientes era considerado praticamente uma ofensa. Dentro do processamento da consciência, quando os raciocínios provêm das emoções, segundo Ferrés (1998), o processo é sempre consciente. O inverso ocorre quando as emoções derivam das idéias. E é quando as emoções conspiram contra o racional, influenciando sobre as decisões mais do que podemos imaginar. Segundo Ferrés (1998, p.19): São muitas as investigações que demonstram a capacidade das emoções para burlar a racionalidade [...] O sexo dos homens, por exemplo, condiciona a direção e a dureza das sentenças. Os homens têm cinco vezes mais possibilidades de ser declarados culpados do assassinato de suas esposas do que as mulheres. Também a raça dos acusados condiciona as sentenças: os negros têm mais possibilidades que os brancos de serem declarados culpados por um mesmo tipo de delito. “São investigações que demonstram até que ponto a via emocional condiciona a racional, até que ponto o pensamento associativo, primário, elementar, impõe-se sobre o pensamento lógico” (FERRÉS, 1998, p.20). 73 Nos processos de racionalização, a pessoa busca argumentos lógicos que sirvam como justificação das decisões, contudo, quando estas já estão tomadas. Nestes casos, as autênticas motivações são de caráter emotivo. O que acontece não passa, portanto, de uma justificação, com a única intenção de devolver à consciência a tranqüilidade da aparência de racionalidade, quando a auto-estima a respeito da decisão não corresponde às expectativas sociais. Um exemplo bem interessante ajuda a compreender melhor a razão dos processos de racionalização: em uma sessão em um teatro, um hipnotizador orienta o hipnotizado que, quando recupere a consciência, terá esquecido tudo o que aconteceu, mas que, quando ele – o hipnotizador – coce a orelha, ele – o hipnotizado – abrirá a janela. O hipnotizador desperta o hipnotizado, e trava-se entre eles uma conversa banal. De repente, o hipnotizador coça a orelha. O hipnotizado se levanta. Todo mundo ri. Ele se surpreende. O hipnotizador lhe pergunta aonde vai. “Abrir a janela”, responde. “Por quê?”, inquire o hipnotizador. “Porque faz calor”, replica o hipnotizado. (FERRÉS, 1998, p.21). A história demonstra que, com freqüência, os processos de racionalização são inconscientes, e que a pessoa prefere ter razão a usá-la de verdade. Segundo Ferrés, os homens vivem ainda uma terceira dimensão mitológica a respeito da sua própria natureza perceptual. O “Mito da Percepção Objetiva” faz pensar que o que percebemos é necessariamente autêntico. “A percepção é forçosamente seleção, porque a pessoa não pode processar conscientemente todos os estímulos que recebe. Segundo alguns teóricos, o que percebemos conscientemente é apenas 1/1000 do que vemos” (FERRÉS, 1998, p.27). Sendo assim, as percepções humanas são menos objetivas, racionais e conscientes do que se pensa: Perceber é antes de tudo selecionar e interpretar. Como se realizam estes processos de seleção e interpretação? As percepções humanas estão condicionadas tanto por padrões culturais como por tendências pessoais derivadas de sentimentos, de temores e desejos (FERRÉS, 1998, p.28). Não restam dúvidas que as emoções condicionam as percepções. Sabe-se que cores quentes (o vermelho, o amarelo, o laranja) provocam a sensação de que saem da superfície e se aproximam do espectador. Sabe-se também que crianças 74 pobres lembram das moedas como maiores do que são na realidade. Consideramos como mais bonitas as pessoas que queremos. Tende-se a atribuir ao negro a responsabilidade da agressividade por uma disputa entre um negro e um branco. E não se trata apenas da percepção visual. Também outros sentidos são facilmente burlados quando as emoções e sentimentos entram em jogo. Nas comunicações e percepções humanas, o sujeito está condicionado por fatores de caráter cultural e emotivo dos quais não é consciente (FERRÉS, 1998). Sabemos que alguns fenômenos conhecidos em psicologia - como a defesa perceptiva, a dominância perceptiva e a dissonância cognitiva -, também permitem ilustrar a existência de estímulos que, apesar de permanecerem inconscientes como conseqüência do bloqueio provocado pelas emoções, exercem uma influência decisiva sobre o comportamento. Sobre a defesa perceptiva: A defesa perceptiva consiste numa resistência a perceber de maneira consciente estímulos que podem provocar ansiedade ou angústia. O sujeito se defende do estímulo perturbador atrasando seu reconhecimento ou captando-o de maneira distorcida, para ajustá-lo a seus próprios preconceitos. Assim, as informações angustiosas ou perturbadoras são desviadas do consciente para o inconsciente (FERRÉS, 1998, p.33). Como exemplo, o autor cita o afeto e a paixão, que fazem ver os aspectos positivos da outra pessoa enquanto os negativos são mascarados. A dominância perceptiva ou atenção seletiva acontece “quando se superpõem estímulos opostos, só um resulta dominante em função de interesses, preconceitos ou valores” (FERRÉS, 1998, p.34). É a razão pela qual uma pessoa com sobrepeso detecta mais rapidamente um anúncio de sistema de emagrecimento do que outros, satisfeitos com o seu peso e desinteressados no assunto. A dissonância cognitiva, por sua vez, “ocorre quando se produz uma discrepância entre a percepção da realidade e a imagem que o sujeito tem de si mesmo [...] Sabe-se, por exemplo, que as pessoas com menos probabilidade de acreditar nos perigos do tabaco são os fumantes que tentaram parar de fumar e fracassaram na tentativa” (FERRÉS, 1998, p.34). Neste caso, as pessoas que fumam sabem que fumar é um mau hábito. Algumas justificam seu comportamento olhando para o lado bom: dizem a si mesmas que fumar as ajuda a manter o peso e 75 que o excesso de peso representaria um perigo maior para a saúde do que o fumo. Por ser psicologicamente desconfortável manter cognições contraditórias, a pessoa é motivada a substituir ou reduzir a importância de sua cognição dissonante (FESTINGER, 1956). Diante dessas considerações, é possível compreender até que ponto o comportamento dos consumidores é influenciado sem que eles percebam, ou seja, o potencial que tem o marketing através dos mecanismos persuasivos e subjetivos de sedução pela via emocional. Essa estratégia faz uso de todos os sentidos humanos para condicionar as emoções, os prazeres e as percepções. Portanto, no último capítulo, discorreremos sobre a capacidade dos sentidos humanos e os elementos utilizados pela gestão estratégica de marketing para direcionar as decisões e as escolhas dos consumidores, sem, no entanto, que eles percebam. 76 6. CAPÍTULO V – MARKETING SENSORIAL E DESCONSTRUÇÃO DA MARCA Nos primórdios da humanidade, sabemos que o homem fazia o uso da sua capacidade de sentir para uma função em especial, que acompanha todos os animais: o sentido de emergência. Ritualístico e tribal, o homem tinha nos sons e ruídos o mecanismo principal de leitura do “mapa” do seu universo, e, nesse sentido, sempre foi culturalmente auditivo. Com a fragmentação tribal, nasceu o alfabeto, que deve responder por três mil anos de história do homem ocidental. Através dele, o homem passou a transformar a visão no órgão vital para aprendizagem, tornando-se linear e lógico: o mundo passou a ser vivenciado em perspectiva. A escrita foi fragmentada, e, na reunião desses “fragmentos”, nasceu a idéia, o pensamento racional e a ciência. Através do contexto histórico, cabe a afirmação de Lindstrom (2007, p.23), quando diz que os “nossos sentidos estão mais sintonizados para detectar o perigo do que para expectativas de prazer sensorial”. No entanto, com o aprimoramento das armas e evolução da tecnologia, o homem passou a contar com a proteção através de ferramentas avançadas de segurança, e os sentidos puderam evoluir da sua função essencial de alerta para o dos prazeres e das sensações. Gobé (2002, p.157) diz que “Á medida que progredimos para uma economia que cresce no relacionamento pessoal, o valor associado ao projeto de produtos de consumo e ambientes de varejo como experiências sensoriais exigirá, mais do que nunca, emoção, imaginação e visão”. Hoje, podemos identificar a grande oportunidade que nasce no tocante das estratégias de vendas e competitividade pelas marcas, e que ainda tem muito a ser descoberta e a evoluir: a sedução via estímulos sensoriais. 6.1 A marca como entidade sensorial Se existe algo do qual não há dúvidas, é a de que para vivermos bem buscamos incessantemente variadas maneiras de sentir prazer através dos sentidos. Quando não estamos satisfeitos, corremos atrás de uma boa música para escutar, um bom livro para ler, uma comida gostosa para saborear, um instrumento 77 para tocar, ou qualquer atividade de lazer através da qual nos sintamos envolvidos o suficiente para esquecer – nem que seja por um momento – os problemas que enfrentamos diariamente, e gozarmos de um pouco de alegria através de boas sensações. Reações que, muitas vezes, nem nos damos conta. Gobé (2002, p.16) afirma que “Os matizes de uma imagem, o deleite de um prato diferente, a memória de um som familiar, a carícia macia de um tecido, as associações de velhos aromas – estas são dicas que formam impressões indeléveis em nossa memória emocional”. De fato, somos tomados por impulsos movidos por impressões de caráter emocional. No entanto, muito embora as experiências sensoriais tragam respostas imediatas e transformadoras, elas não são aproveitadas em toda a abrangência que merecem nas iniciativas das marcas, apesar da evidência comprovada que ilustra o efeito dos cinco sentidos no comportamento do consumidor. Falando em estratégias, a maioria dos profissionais de marketing tem trabalhado em cima de uma realidade bidimensional, raramente buscando atingir o enorme potencial da conquista através dos cinco sentidos. (GOBÉ, 2002; LINDSTROM, 2007). Quase tudo o que compreendemos e aceitamos ocorre devido aos sentidos. Nesse ínterim, conforme Lindstrom (2007, p.26) “Há claras razões para extrair a plataforma da marca de maneira a atrair tantos sentidos quanto possível. Por exemplo, quando você passa diante de uma padaria e sente o aroma do pão quentinho saindo do forno, não sente o impulso de entrar? É difícil resistir”. Também convence sobre o estímulo aos sentidos através do trecho: É possível que você se sinta muito atraído por uma foto fabulosa de uma maçã recém-colhida brilhando com o orvalho da manhã. Mas, se você conseguir sentir seu cheiro e ouvir o som da fruta sendo fatiada, acabará convencido. Acrescente a este quadro uma textura que seja capaz até de transmitir um sabor e você não hesitará em comprá-la (Ibidem, p.112). A pergunta que fica então é: por que não associarmos essas sensações que estamos sempre em busca às marcas com as quais nos relacionamos? Ainda que muitos estímulos prazerosos potencialmente associáveis a determinadas marcas ou produtos não tenham uma relação direta com seus benefícios funcionais, somente pelo prazer que proporcionaria, não seria muito mais vendedor? Então, por que até hoje muitas marcas não fizeram uso dessa estratégia de combinar múltiplos 78 estímulos potencialmente competitivos? É presumível que qualquer produto que combina dois ou mais sentidos de forma dinâmica, tende a tornar-se duas vezes ou mais agradável. Como conseqüência, a publicidade sensorial bem planejada certamente criará a preferência do consumidor. Em relação a este objetivo, transformar uma marca em sedutora e fascinante significa trazê-la à vida como entidade multissensorial e emocional pela qual as pessoas se apaixonarão. Dessa maneira, os produtos devem ser experimentados, sentidos e descobertos, de modo que proporcionem sensações hedonistas. Assim, pode-se estabelecer como novo conceito conhecer os clientes, saber do que gostam e o que desejam e cativá-los pelos sentidos (PEREZ, 2004). De acordo com Gobé (2002, p.160): Neste novo mundo em que a velocidade e as telas do computador estão empurrando a nossa vida cada vez mais para fora da realidade física, a experiência direta com os produtos com os quais interagimos diariamente pode impactar o nosso humor e os nossos sentimentos de uma maneira muito profunda. Assim, devemos dar atenção especial para a construção simbólica da marca sob o viés sensorial e os elementos da sua expressividade, capazes de estimular a relação dos consumidores com a marca, despertar interesses, permitir que a resposta emocional domine o pensamento racional e otimizar o impulso do comportamento de compra. Portanto, nos deteremos na análise dos cinco sentidos como canais para estabelecer o envolvimento emocional com os consumidores. São eles: visão, audição, olfato, tato e paladar. Visão A partir do entendimento dos efeitos de comunicação subliminar, através do emprego da Gestalt e da compreensão do cérebro réptil, muitos subliminares foram programados em anúncios e fotografias publicitárias através de camuflagens. Nas obras de Key, nos são apresentadas extensas ilustrações com design projetado para esconder imagens embutidas – o “efeito iconeso” –, baseadas na estratégia da velocidade, ao passo que prevêem visualizações que não passem de dois segundos. 79 No entanto, falando em estratégia visual voltada para vendas, sabemos que os consumidores também formam impressões a partir de embalagens, cores, imagens, fotografias, logos e do sentimento geral sobre o modo como a empresa os comunica. De fato, vimos até aqui que a maioria das pessoas forma a opinião sobre uma companhia a partir de suas percepções sobre ela, e não com base no que ela efetivamente diz. E aí está a importância de transmitir sentimentos através de tudo o que alcança a visão do consumidor. Segundo pesquisas, a visão é o sentido percebido como o mais poderoso e sedutor, muitas vezes conseguindo anular o efeito dos demais sobre a percepção, e ainda persuadir contra toda a lógica humana (LINDSTROM, 2007). Com efeito, sabe-se que ao longo do século passado “o mundo da propaganda atendeu e satisfez nosso sentido da visão garantindo excelente satisfação visual. Tornamo-nos visualmente sofisticados, e sabemos que o que vemos nem sempre é o que recebemos. Mesmo assim, ainda é a embalagem do produto que atrai nossa atenção em primeiro lugar” (LINDSTROM, 2007, p.23). É inegável que uma embalagem diferenciada chama atenção nas prateleiras, transmitindo sensações específicas e, muitas vezes, decisiva em relação à lealdade do consumidor. De acordo com Perez (2004, p.66): [...] como objetos semióticos, são portadoras de informação e, portanto, mídias, veículos de mensagens carregadas de significação. Nas embalagens, os planos, os espaçamentos e os materiais constituem-se como espaços privilegiados de significação e devem ser planejados e executados com essa perspectiva sígnica. [...] A embalagem, na perspectiva emocional, deve causar impacto para que possa ser vista e diferenciada, mas também tem de criar uma conexão emocional com pessoas, a fim de que possa ser apreciada, desejada. Na condição de objeto semiótico e emocional, podemos resumir a embalagem como portadora de cinco funções fundamentais: Diferenciação: a embalagem deve ter a capacidade de distinguir um produto dos seus concorrentes; Atração: a embalagem deve apresentar a capacidade de ser percebida nitidamente em frações de segundos; 80 Efeito espelho: a embalagem deve estabelecer uma correspondência entre o produto e a auto-imagem do consumidor; Sedução: a embalagem deve ser capaz de fascinar; Informação: a embalagem deve ser capaz de transmitir informações úteis ao consumidor. Sendo assim, para adquirir valor emocional e capacidade para ser desejada pelos consumidores, a embalagem deve ser utilizada como um espelho que reflita o estilo de vida e os valores do consumidor atual ou potencial. Dessa maneira, se estabelece uma conexão emocional que se estende ao produto e à marca (relembrando o que Ferrés explica como “metonímia da sedução”), conquistando a fidelidade do consumidor não pela qualidade do produto ou pela percepção de qualidade que se tem dele, mas pelo poder de sedução e de aproximação proporcionado pela embalagem. As embalagens de todos os produtos oferecidos pelo McDonald‟s obedecem a um padrão rigoroso de cores que também se alinha com a identidade visual da empresa, e, além da programação das cores estratégicas para despertar a fome, as embalagens são cuidadosamente elaboradas para fazer crer que, ali dentro, não há apenas um alimento: mas um objeto de desejo, algo superior ao de “coisa” (FONTENELLE, 2004). Ainda no que se refere à percepção visual, temos também o logotipo como forte componente de aproximação dos consumidores. De acordo com Perez (2004, p.52): O conceito de logotipo baseia-se em duas origens fundamentais: uma grega e outra vinculada à tipografia. Em grego, o elemento logos significa fala, palavra ou discurso. Na tipografia, o termo logo designa um conjunto de signos tipográficos reunidos em um só bloco indissociável, ao passo que o termo inglês type designa um conjunto de caracteres tipográficos. Em um conceito menos literal, podemos afirmar que o logotipo representa “a imagem da palavra”, ou, ainda, “a chave de acesso imediato ao universo representativo da marca” (PEREZ, 2004, p. 52 e 54). Em conformidade com Perez, 81 Gobé explica que “Identidades de logotipos fortes tornam os programas de publicidade e de relações públicas muito mais eficazes, fazendo deles um atalho visual para o significado das mensagens; desta forma, influenciam os consumidores a serem receptivos a elas” (GOBÉ, 2002, p.173). Mas como influenciar a receptividade dos consumidores através do logotipo? Para Gobé (2002, p.173) o logotipo assume a função de “bandeira da empresa”, representando o recurso visual mais importante e atuando como catalisador de sentimentos bons ou maus. Sobre a função catalisadora de sentimentos que os logotipos exercem, Perez (2004, p.53) afirma que: O modo como desenhamos as letras é responsável pelas conotações emocionais que queremos gerar, especialmente quando tratamos de logotipos. Os estilos tipográficos falam muito de outro tipo de estilo: o estilo de vida, isto é, a época ou a personalidade de uma marca. Em relação a esta afirmação, podemos encontrar a explicação sobre a época ou personalidade de uma marca em Gobé (2002), ao relacionar as diferentes épocas e respectivas concepções de logotipia adotadas ao longo do tempo pelas empresas: QUADRO 4: Comparativo da evolução dos logotipos Idade Pragmatista (1940 – 1960) Contexto Pós-Guerra; EUA como Superpotência (Sonho Americano); Globalização da indústria americana. Valores Produtos e serviços com ênfase na função, na confiabilidade e pragmatismo. Expressão visual Exemplos de marcas Visibilidade; Estabilidade; Consistência; IBM, McDonald‟s, Ford, Lewis. Fonte: adaptada de Gobé, 2002. Idade Evangelizadora (1970 – 1990) Liberdade econômica; Guerra do Vietnã; Concepção negativa da globalização; Afloramento da consciência social. Práticas comerciais com novos ideais de justiça, igualdade e sensibilidade para com o meioambiente. Orientada para estilos de vida; Consciência ambiental; Benetton, The Body Shop, Nike, Apple. Idade Sensualista (1990 - hoje) Estabelecimento social da Geração X; Revolução da Internet e a geração digital; Era da Velocidade; Vontade de mudanças. Hedonismo; Charme; Fama; Expressão individual; Logotipos modulares, interpretativos e expressivos; Amazon.com, eBay, Yahoo!, MTV. 82 Através do quadro, podemos verificar a evolução dos conceitos de logotipos ao longo dos anos e através das gerações: da ênfase funcional à expressão individual, dos logotipos consistentes aos expressivos, dos valores pragmáticos do Pós-Guerra aos valores hedonistas de hoje. Notamos que os logotipos foram incorporando a flexibilidade e a liberdade de expressão conquistada gradualmente pelas gerações, tanto em comportamento quanto nos valores. Assim, é visível a mudança da logotipia dura e séria da IBM ou do McDonald‟s em relação à logotipia arrojada da MTV, eBay ou do Yahoo!, estas últimas capazes de refletir, individualmente, a “cara” do público-alvo que deseja atingir. Apenas para refletir: através do logotipo, somos capazes de identificar para que público o McDonald‟s está direcionado? Se a marca tivesse como público-alvo apenas as crianças, é muito provável que o logotipo fosse projetado de maneira muito diferente, com uma aparência mais “divertida” e, portanto, atrairia muito mais crianças do que qualquer outro tipo de consumidor; por outro lado, sabemos que a marca é direcionada para famílias e jovens adultos, fazendo sentido a logotipia ter sido mantida por tanto tempo, já que a empresa efetivamente atrai todos os públicos, sendo o infantil apenas uma parte deles. Ainda em relação ao sentido visão, no que se refere à capacidade persuasiva subliminar, o universo de possibilidades aplicáveis ao campo visual também compreende a percepção das cores. Kandinsky (1996, p.65) reflete sobre o efeito sensorial das cores sobre as impressões humanas com bastante expressividade: Do ponto de vista estritamente físico, o olho sente a cor. Experimenta suas propriedades, é fascinado por sua beleza. A alegria penetra na alma do espectador, que a saboreia como um gourmet, uma iguaria. O olho recebe uma excitação semelhante à ação que tem sobre o paladar uma comida picante. Mas também pode ser acalmado ou refrescado como um dedo quando toca uma pedra de gelo. Portanto, uma impressão inteiramente física, como toda sensação, de curta duração e superficial. Ela se apaga sem deixar vestígios, mal a alma se fecha. De acordo com enciclopédia eletrônica Wikipédia, a história da significação das cores remonta à época pré-histórica, desde o tempo em que o homem andava em um universo verde, atento para um alerta vermelho – tais como frutas, animais 83 feridos ou ainda fêmeas no cio.10 Contudo, a mais antiga teoria sobre cores que se tem notícia é de autoria do filósofo grego Aristóteles. Aristóteles concluiu que as cores eram uma propriedade dos objetos. Assim como peso, material e textura, eles eram dotados de cores. E, pautado pela mágica dos números, disse que eram em número de seis: o vermelho, o verde, azul, amarelo, branco e negro. A evolução nas pesquisas sobre a realidade da percepção da luz veio através da figura de Leonardo da Vinci no período da Renascença, ao se opor à Aristóteles afirmando que a cor não era uma propriedade dos objetos, mas da luz; e que, da mesma maneira, o branco e o preto não eram cores, mas extremos da luz. Contudo, havia uma concordância, ao afirmar que todas as outras cores poderiam se formar a partir do vermelho, verde, azul e amarelo. Da Vinci propôs uma simbologia cromática: surgiram, pela primeira vez, concepções metafóricas e associativas para representação de cores, como branco-luz, amarelo-terra, verde-água, azul-ar, vermelho-fogo, preto-trevas. Trazendo contribuição nas descobertas científicas, Newton teve reconhecimento pela teoria gravitacional e fez importantes experimentos sobre a decomposição da luz com prismas, acreditando que elas se deviam ao tamanho da partícula de luz. No século XIX, o poeta Goethe passou trinta anos tentando terminar um tratado sobre as cores que poria abaixo a teoria de Newton, descobrindo aspectos que Newton ignorara sobre a fisiologia e psicologia da cor. Observou a retenção das cores na retina, a tendência do olho humano em ver nas bordas de uma cor complementar e notou que objetos brancos sempre parecem maiores do que negros. Também reinterpretou e renomeou as cores vermelho, amarelo e azul de púrpura, amarelo e azul claro – se aproximando das atuais tintas magenta, amarelo e ciano utilizadas em impressão industrial. Porém, as observações de Goethe em nada afetaram a teoria de Newton, porque suas explicações para os fenômenos eram muitas vezes insatisfatórias ao não propor nenhum método científico para 10 Fonte: WIKIPÉDIA.Teoria das cores. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_das_cores>. Acesso em 29 out. 2007. 84 provar suas teses. Suas observações foram novamente resgatadas só no início do século XX, pelos estudiosos da Gestalt e sobre pintores modernos como Paul Klee e Kandinsky. Atualmente, o estudo da teoria das cores se divide em três abordagens com as mesmas características que Goethe propunha para cores: a cor física (óptica física), a cor fisiológica (óptica fisiológica) e a cor química (óptica fisico-química). Na perspectiva de Perez (2004, p.73) “A cor é um dos elementos mais importantes da sintaxe da linguagem visual”. Gobé (2002, p.128) complementa ao afirmar que “A cor muitas vezes fixa o temperamento de uma marca através de seu logotipo e sua embalagem”. No entanto, selecionar a cor adequada diz respeito ao público. O segredo para o sucesso se resume em adequação ao consumidor e individualidade. Quem é o seu público? Qual a mensagem que se quer passar? A escolha de uma cor como constituição de identidade para uma marca pode parecer elementar, mas na realidade é um exercício mais complexo do que se imagina. Se bem selecionada, ela realmente é capaz de influenciar comportamentos, como impulso às compras e tempo de permanência nos ambientes. Mas não se pode esquecer que a percepção da cor afeta os consumidores de maneiras diferentes, e sofre muitas tendências relacionadas com nacionalidade, idade, classe social, gênero e religião (GOBÉ, 2002). De fato, a percepção de cores sempre foi influenciada por aspectos psicológicos e culturais, podendo depender muito do contexto onde ela está inserida. Guimarães (2004) cita que os códigos culturais de cada indivíduo interferem nos demais, podendo influir no significado da mensagem transmitida e seu armazenamento da informação. Porém, apesar das diferenças culturais, algumas cores contêm significados universais, já que há muito tempo o homem tem contato com as cores através da natureza: A longa exposição do homem às cores presentes na natureza estabeleceu, desde o início, uma dicotomia primordial: noite e dia. Suscetível às trevas da noite, o homem era obrigado a se recolher em sua caverna e aguardar a luz do dia. Ao amanhecer, tornavam-se possíveis a caça e a sua alimentação. O repouso, associado ao azul-escuro do céu noturno, provocava a diminuição de sua atividade metabólica e glandular, ao 85 contrário da energia e da iniciativa características da sua atividade diurna, na presença da luz amarela (BARROS, 2006, p. 204). A partir desse raciocínio, também é possível compreendermos conceitos como a relação do branco com a luz e a vida, ao contrário do preto, relacionado ao carvão, às cinzas e à morte. Destes significados surgiram expressões como “a situação está preta”, “um dia negro” – assumindo conotações negativas –, “idéias claras” e “pessoa iluminada” – assumindo conotações positivas (GUIMARÃES, 2004). O autor também cita Bystrina, apontando que desde o início da cultura, a binaridade vida e morte – correspondente ao branco e ao preto – é a mais importante para o homem. Vinculada à escuridão e às trevas, a morte deu origem à simbologia do preto nos países ocidentais. Cada cultura é uma cultura, as diferenças entre as influências são pontuais, e isso acaba por criar situações e rotinas de vida distintas, influenciando na linguagem, na expressão e na compreensão. Muitos foram os autores que interpretaram e estudaram o fenômeno psicológico das cores, atribuindo-lhes significados. No entanto não entraremos em detalhes neste capítulo, tendo em vista que nos interessa compreender o que torna a cor subliminar. Mas afinal, o que é cor? Segundo Farina (1994), cor é luz; e se assim não fosse, poderíamos percebêla com suas diferentes intensidades próprias mesmo no escuro absoluto. Na realidade, a percepção das cores constitui um evento psicológico cuja visibilidade e distinções dependem de diferentes comprimentos de onda. Veremos um objeto completamente branco quando ele refletir todas as radiações luminosas que o alcançam; inversamente, quando a superfície do objeto absorver totalmente as diversas longitudes de onda, não refletindo nenhuma delas, o olho não captará radiação alguma e o objeto será visto como integralmente preto. Os comprimentos de onda visíveis pelo homem se encontram entre 380 e 760 nanômetros, o que equivale dizer que enxergamos todas as cores dentro do espectro do violeta ao vermelho, passando pelo azul, verde, amarelo e laranja. De acordo com Calazans (1992, p.67): 86 Cada comprimento de onda tem efeito físico, e mesmo biofísico; basta recordar que caso larvas de mosca sejam expostas à luz verde, todas morrem. Uma dose excessiva de raios X pode causar câncer, esterilizar mulheres (queimando o núcleo dos óvulos no ovário). E a ergonomia prova que a luz pode queimar a retina e cegar. Isto parece ser o suficiente para comprovar que comprimentos de onda acima e abaixo dos limites do espectro visível – os raios infravermelhos e ultravioletas, respectivamente, bem como os raios X, gama, cósmicos, de radar e da televisão –, podem não ser perceptíveis ao olho humano, porém suas existências são indiscutíveis. De acordo com Farina (1994) as cores têm efeitos subliminares psicossomáticos, uma vez que os seus efeitos ocorrem abaixo do limiar da consciência e se dão no sistema neurovegetativo. O trajeto inconsciente pelo qual percorre a luz e causa fome, sede ou excitação sexual direto no cérebro foi descrito por Calazans (1992, p.67): Quando a luz chega à retina, influencia a síntese da melatonina, que ocasiona a síntese de serotonina, um neurotransmissor do sistema nervoso central que inibe ou ativa os neurônios do hipotálamo ou do complexo límbico [...] causando instantâneas reações emocionais e estimulando as glândulas pituitária e pineal. Tais reações ativam o sistema endócrino, ativando o hipotálamo (cérebro réptil) e causando ativação no sistema nervoso simpático e parassimpático. Podemos exemplificar a reação à exposição das cores ao afirmar que o azul e o vermelho podem alterar o ritmo cardíaco e a pressão arterial: o azul corresponde às ondas curtas de intensidade e tem efeito calmante; o vermelho equivale às ondas longas de maior intensidade, tendo efeito oposto. O amarelo-avermelhado ativa as funções de metabolismo do hipotálamo, despertando a fome e alterando a atividade gástrica. Tal descoberta seria a explicação do fato do McDonald‟s, uma empresa que busca o lucro na rotatividade, gerar tanta visita: “O amarelo-laranja desperta a fome e faz comprar mais do que era desejado, e o vermelho desde o logotipo „M‟ excita para que engula rapidamente e saia logo”. Assim, “O cliente, sem saber, sente-se 87 inquieto, com pressa e sem disposição para curtir por mais tempo o local” (FRANCKOWIAK apud CALAZANS, 1992, p.68) Para Calazans (1992, p.68): A cor pode induzir subliminarmente a escolha de uma embalagem na prateleira de um supermercado, pode levar a trabalhar mais tranqüilamente, pode curar a pressão arterial ou ser relaxante... Fitas de videocassete com subliminar taquicoscópico empregam as cores subliminarmente, peças de teatro, filmes de cinema e TV empregam spots com gelatinas que projetam luzes coloridas, causando um „clima‟ subliminar que orienta as emoções dos espectadores, bem como pode orientar uma escolha eleitoral. Farina (1994) relacionou os diferentes significados psicológicos que exercem as cores sobre os homens, os quais serão expostos resumidamente através da tabela a seguir: QUADRO 5: Os diferentes significados psicológicos das cores Branco Origem e simbolismo Do germânico blank (brilhante). Simboliza luz. Nunca é considerado cor. Para os ocidentaris, simboliza a vida a o bem. Para os orientais, é a morte, o fim, o nada. Preto Do latim niger (negro). É expressivo e angustiante. Às vezes tem conotação de nobreza, seriedade. Cinza Do latim cinicia (cinza). Simboliza posição intermédia entre luz e sombra. Não interfere junto às cores em geral. Vemelho Do latim vermiculus [verme, inseto (a cochonilha)]. Desta se extrai uma substância escarlate, o carmim. Simboliza uma cor de aproximação, de encontro. Laranja Do persa narang. Simboliza o flamejar do fogo. O vermelho moderado. Amarelo Do latim amaryllis. Simboliza a cor da luz irradiante em todas as direções. Associações afetivas Ordem, simplicidade, limpeza, bem, pensamento, juventude, otimismo, piedade, paz, pureza, inocência, dignidade, afirmação, modéstia, deleite, despertar, infância, alma, harmonia, estabilidade, divindade. Mal, miséria, pessimismo, sordidez, tristeza, frigidez, desgraça, temor, negação, melancolia, opressão, ganância, angústia, renúncia, intriga. Tédio, tristeza, decadência, velhice, desânimo, seriedade, sabedoria, passado, finura, pena, aborrecimento, carência. Dinamismo, força, baixeza, energia, revolta, movimento, barbarismo, coragem, furor, esplendor, intensidade, paixão, vulgaridade, poderio, vigor, glória, calor, violência, dureza, excitação, ira, interdição, emoção, ação, agressividade, alegria comunicativa, extroversão. Força, luminosidade, dureza, euforia, energia, alegria, advertência, tentação, prazer, senso de humor. Iluminação, conforto, alerta, gozo, ciúme, orgulho, esperança, idealismo, egoísmo, invesja, ódio, adolescência, espontaneidade, variabilidade, euforia, originalidade, espectativa. 88 Verde Do latim virdis. Simboliza a faixa harmoniosa que se interpõe entre o céu e o Sol. Cor reservada e de paz repousante. Cor que favorece o desencadeamento de paixões. Azul Do árabe e persa lázúrd. É a cor do céu sem nuvens. Dá a sensação do movimento para o infinito. Roxo Marrom Púrpura Violeta Do latim russeus (vermelho carregado). Cor que possui um forte poder microbicida. Do fancês marron (castanho). Do latim purpura. Simboliza a dignidade real. Do provençal antigo viula (viola). Possui bom poder sonífero. Vermelhoalaranjado --- Adolescência, bem-estar, paz, saúde, ideal, abundância, tranqüilidade, segurança, natureza, equilíbrio, esperança, serenidade, juventude, suavidade, crença, firmeza, coragem, desejo, descanso, liberalidade, tolerância, ciúme. Espaço, viagem, verdade, sentido, afeto, intelectualidade, paz, advertência, precaução, serenidade, infinito, meditação, confiança, amizade, amor, fidelidade, sentimento profundo. Fantasia, mistério, profundidade, eletricidade, dignidade, justiça, egoísmo, misticismo, espirituaidade, delicadeza, calma. Pesar, melancolia, resistência, vigor. Engano, calma, dignidade, autocontrole, estima, valor. Engano, miséria, calma, dignidade, autocontrole, violência, furto, agressão. Desejo, excitabilidade, dominação, sexualidade. Fonte: adaptada de Farina, 1994, p.113-115 e 133-134. Como podemos observar, cada cor é capaz de transmitir variados tipos de associações afetivas. As cores, portanto, constituem estímulos psicológicos para a sensibilidade humana, sendo capazes de atingir a parte motivacional e influir subjetivamente nos consumidores, para gostar ou não de algo, para negar ou afirmar, para se abster ou reagir. Relacionando também os efeitos das cores, Perez (2004, p.79-80) afirma que o fundo escuro tem o poder de “empurrar” para frente os elementos que estão sobre ele em cores mais claras e vibrantes, e, quanto mais luminosa a cor, maior a impressão de que o objeto está mais próximo do que na verdade se encontra. Matizes em um extremo da luz visível (vermelho, laranja e amarelo) tendem a ser percebidos como mais energéticos e descontraídos, enquanto os do outro extremo (verde, azul e roxo) parecem mais calmos e introvertidos. Por exemplo: vermelhos tendem a ser percebidos como aventureiros, sociáveis, excitantes, poderosos e protetores. Amarelos costumam ser vistos como alegres, joviais, estimulantes, carinhosos e impulsivos. Verdes e azuis são percebidos como calmos, suaves e relaxantes. Ao mesmo tempo, vermelho, laranja e amarelo são vistos como cores quentes, enquanto azul, verde e roxo são consideradas cores frias. 89 Afirma também que cores metálicas como dourado e prateado oferecem imagens brilhantes; elas assumem as qualidades, respectivamente, do ouro e da prata, criando “sensações de brilho, luxo e elegância em razão das associações com opulência e metais preciosos” (Ibidem, p.81) Outra consideração interessante a respeito das cores: algumas têm significado universal, como o vermelho “pare”, o amarelo “atenção” e o verde “siga”, e podem causar reações fisiológicas semelhantes em certas culturas. Sobre a cor amarela, Perez ainda afirma que é considerado agradável e, com freqüência, associado com autoridade. Nesse sentido, podemos pensar na hipótese das cores amarela e vermelha do McDonald‟s sinalizarem aos consumidores mensagens subliminares imperativas como “Atenção” e “Pare”, despertando o interesse e fazendo-os entrar. Evidências de efeitos subliminares no âmbito visual são o que não faltam. Sabe-se que cerca de 90% dos estudos e pesquisas realizados na área de percepção subliminar referem-se à comunicação visual. No entanto, por ser a tecnologia de mensagens subliminares multimídia, não explorar as demais possibilidades de comunicação pode representar uma grande perda de oportunidades (CALAZANS, 1992). Audição As estratégias de percepção subliminar também encontram terreno fértil no que se refere ao universo dos sons. “Enquanto ouvir envolve o recebimento de informações auditivas através dos ouvidos, escutar baseia-se na capacidade de filtrar, focar seletivamente, lembrar e responder ao som” (LINDSTROM, 2007, p.83). É o que nós não escutamos, mas ouvimos, portanto, o que torna a percepção auditiva subliminar. Sabe-se que o ouvido humano possui capacidade auditiva limitada em relação aos demais mamíferos, de modo que sua gama sonora audível restringe-se à faixa de freqüência dos 20 aos 20.000 Hertz. Acima de 20.000Hz, encontram-se ondas de Ultra Som, e abaixo de 20Hz, ondas de Intra Som. Morcegos e golfinhos 90 são capazes de escutar, respectivamente, sons de freqüências seis e quatorze vezes mais altas que o limite sonoro percebido pela acuidade auditiva humana. Isto parece ser a evidência suficiente de que, embora não sejam percebidos objetivamente, os sons Intra e Ultra som existem e podem ser captados de maneira inconsciente pelo homem. Tal conclusão apresenta-se não somente lógica como também comprovável. Relatos de experiências com correntes elétricas abaixo do limiar consciente datam de meados de 1800, quando foram observados efeitos e reações ao subliminar. Em 1910, H. Ohms pôde demonstrar cientificamente, via psicogalvanômetro (o famoso “detector de mentiras”), o efeito subliminar de palavras reduzidas a sons inaudíveis (CALAZANS, 1992). De acordo com Calazans (1992), podemos encontrar exemplos de tais inserções subliminares na mixagem do filme O Exorcista (1976), onde foram aplicados sons imperceptíveis conscientemente, mas que provocaram reações angustiantes de tensão, de desejo de fugir, de esconder-se e de evitar dores nos telespectadores. Para isto, foram usados sons de diferentes freqüências, mixagens e inserções graduais, reproduzindo enxame de abelhas furiosas, gritos de porcos sendo degolados, gemidos de casais no momento do orgasmo, entre outros. No entanto, as estratégias subliminares sonoras não se limitam à edição de freqüências. Com efeito semelhante, Key (apud CALAZANS, 1992, p. 51) afirma que “o coração humano bate a 72 pulsações por minuto, e que músicas ou vozes neste ritmo afetam o comportamento humano”. Isto pode ser explicado por Zé Rodrix, o autor do jingle com essa estratégia para a marca Chevrolet (1989), ao afirmar que “o ritmo do coração de uma mãe amamentando o seu bebê é o que ele sempre vai associar ao conforto, tranqüilidade, segurança e prazer” (apud CALAZANS, 1992, p.53). Dick Sutphen afirma que este ritmo é muito hipnótico e que, uma vez nele, você está pelo menos 25 vezes mais sugestionável do que você estaria em um ritmo normal, de plena consciência. Sobre os efeitos psicológicos humanos induzidos pela música, Perez (2004) sustenta que, como uma possibilidade do som, ela tem o poder de relaxar pessoas, apressá-las, alegrá-las ou entristecê-las. De fato, pesquisas demonstraram que a 91 música afeta definitivamente a velocidade das compras, o tempo passado na loja, o tempo de espera das pessoas e o valor a ser gasto na loja. De uma maneira geral, a música clássica, suave, acalma; e quanto mais acalma, faz as pessoas permanecerem por mais tempo na loja. Como conseqüência, elas gastam mais (GOBÉ, 2002). Ronald E. Millman, em um artigo no Journal of Consumer Research (apud LINDSTROM, 2007, p.83) demonstrou esta tendência, concluindo que a despesa média em jantares é em torno de 30% maior com música lenta do que com ritmos mais fortes. Outro estudo, realizado por Judy e Mark Alpert, conclui que a música alegre produz alegria, mas são as músicas tristes que levam aos maiores impulsos de compra. Estudos comprovaram que o som tem um efeito imediato e, em grande parte, cognitivamente pessoal sobre a lembrança e as emoções, podendo disparar uma gama incontrolável de associações no cérebro, estimulando a produção de endorfinas no corpo e ativando os poderosos centros de prazer no cérebro. Em relação aos consumidores das novas gerações, principalmente, a música é um dispositivo que serve para construir uma identidade, uma eficaz associação de personalidade à marca, sendo esta última capaz de oferecer um tipo de serviço personalizado que permite que a empresa transcenda o marketing orientado para o produto para uma experiência de identificação de estilos aos seus clientes. Todavia, a estratégia de induzir os comportamentos via audição não se limita apenas às músicas; ela também se apresenta sob outras formas sutis e sofisticadas, tais quais os relacionamentos interpessoais. Gobé (2002, p.215) afirma que: Nós ainda gostamos quando as pessoas com quem negociamos têm as mesmas afinidades. Isto significa ser capaz de descobrir com que seus clientes se preocupam e dizer que você apóia as mesmas causas e se interessa pelas mesmas coisas. Diga-lhes que você aprecia a mesma música, os mesmos valores, os mesmos sonhos. Torne-se seu melhor amigo. Essa é a forma de criar fidelidade. Calazans (1992) nos mostra que essa mesma estratégia de criar fidelidade pode ser conduzida de maneira subliminar. No livro Modernas Técnicas de Persuasão, Donald e Herd abordam variadas técnicas de venda pessoal com 92 interação direta, que se apresentam eficazes porque a presença física do vendedor permite estabelecer uma afinidade e identificação inconsciente com os compradores. Esta afinidade e identificação que permitem a técnica se baseiam no fato de que o ser humano enxerga a si próprio como o modelo padrão de normalidade, e, portanto, mede os outros por si. Sendo assim, a estratégia é a que o vendedor de produtos, serviços ou idéias se porte da maneira mais semelhante possível com seu comprador, seja pela maneira e ritmo que respira, pela velocidade e tom que fala, pelos gestos e manias, pela postura e expressão corporal; a idéia é a de que o vendedor se torne um “espelho” do consumidor, de maneira que este último se sinta parecido e próximo o suficiente para aceitar o que se diz e confiar no vendedor. Nesse sentido, o McDonald‟s explora bem o seu potencial de aproximação com os consumidores. Exatamente com o objetivo de prestar a eles um atendimento o mais personalizado possível, a companhia identificou os seus quatro principais tipos de consumidores (quais sejam: os executores, os socializadores, os comunicativos e os perfeccionistas) e procura, através do treinamento dos funcionários, transformar o atendimento individual para que tenha “a cara” do consumidor. Essas sutis técnicas na fala, nas expressões e nos gestos para induzir comportamentos, no entanto, não são restritas apenas a vendedores: apresentadores de televisão e animadores de programas de auditórios são mestres nessa estratégia. Olfato Algumas de nossas lembranças olfativas mais marcantes provêm da infância. O sentido de olfato dos adolescentes é 200% mais forte do que os adultos que passaram da meia-idade. Considerando que a influência das crianças nas decisões de compra dos pais atinge o assombroso nível de 80%, apelar para o sentido do olfato torna-se cada vez mais importante (LINDSTROM, 2007, p.79). Sem dúvida, o argumento utilizado por Lindstrom já convence sobre a importância deste investimento sobre as vendas. Gobé (2002) complementa ao afirmar que dados de pesquisas indicam que os indivíduos nascidos antes de 1930 freqüentemente associam os odores naturais, como o pinho, à sua infância; já os 93 indivíduos mais jovens associam odores químicos, como Pez, com sua infância. Esta é uma informação relevante para o potencial de conquista do consumidor, porque os odores que se associam à infância possuem maior força emotiva. Outra importante razão para explorar estratégias que utilizam o olfato, de acordo com Gail Vance Civille, diretor da empresa Sensory Spectrum, especializada em projeção de estímulos de produtos sensíveis aos cinco sentidos, em New Jersey: As pessoas adoram produtos perfumados e, entre outros, serão sempre os preferidos. As pessoas apontam nos produtos perfumados outros atributos positivos baseados unicamente em seus aromas. Dois tipos de papel-toalha podem ser apresentados a alguém, com a diferença de um deles ser perfumado, e o cliente com certeza dirá que o perfumado é mais macio (apud GOBÉ, 2002, p.148). Importante ressaltar que esta tendência se apresenta, aliás, como a evidência da “transferência globalizadora” de caráter metonímico citado por Ferrés (1998) que exerce a projeção da parte no todo. Desta maneira, além do olfato se apresentar eficaz na estratégia de seduzir pelos seus próprios valores intrínsecos, também exerce a importante função de agregar consigo impressões sensoriais múltiplas que, muitas vezes, nada tem a ver com cheiros. Gobé (2002, p.147) afirma que estudos revelam que o cheiro tem o potencial de evocar as emoções com maior força que qualquer outro sentido. Isto se deve ao fato de existirem mais conexões entre a região olfativa do cérebro e o complexo amígdalo-hipocampal (onde a memória emocional é processada) do que para qualquer outro sentido. O cheiro não é filtrado pelo cérebro; é instintivo e involuntário. Portanto, o nariz é na realidade um elo direto para as memórias e emoções, esperando por seu estímulo. Já Key (apud CALAZANS, 1992, p.63) sustenta com outro argumento o poder do olfato sobre as sensações. Afirma que “os sinais olfativos podem ser mais poderosos nos níveis subliminares que os visuais, haja vista que todo complexo límbico, o cérebro mamífero, desenvolve-se a partir do bulbo olfativo”. Para a maioria das espécies animais, de fato, sentir cheiros é uma questão de vida ou morte. Acredita-se que o olfato seja o mais primitivo dos sentidos, e o menos conhecido pela ciência. Em um mundo onde quase tudo tem odor, é esse o sentido que decifra 94 as mensagens químicas das quais depende a reprodução e, freqüentemente, a sobrevivência. Segundo Rémy Chauvin, o etologista da Sorbonne (apud CALAZANS, 1992, p.63), “todos os dias são catalogados novos „feromônios‟, hormônios que o organismo vivo emite para fora, visando um tipo de comunicação química de estados emocionais / sexuais”. Conforme artigo extraído do endereço eletrônico Boa Saúde: A palavra feromônio deriva do grego e significa "que transmite excitação". São substâncias que funcionam como mensageiros entre seres da mesma espécie, desencadeando respostas fisiológicas e comportamentais previsíveis. Eles foram originariamente descritos em insetos, nos quais apresentam importância fundamental para a preservação da espécie. Podem agir, por exemplo, atraindo o macho até a fêmea, ou retardando a 11 maturação sexual em abelhas fêmeas, que então se tornariam operárias. Em se tratando de reprodução, no mundo animal a ação dos feromônios tem efeitos muito evidentes. Os cachorros ficam atiçados quando a cadela está no cio, pelos feromônios de atração que ela exala. Nos seres humanos, contudo, a excreção destes componentes foi gradativamente reduzida pelo desenvolvimento dos outros sentidos, o que faz com que sua resposta seja bem menos percebida e eficaz. No entanto, os cientistas provaram sua existência e, de acordo com muitos psicólogos, também influenciam o seu comportamento. Conforme descrição da enciclopédia eletrônica Wikipédia: Feromônios são substâncias químicas naturais produzidas por todos os seres humanos. Nós usamos estas substâncias para nos comunicarmos uns com os outros em um nível subconsciente. Eles são detectados por um órgão no nariz chamado VNO e transmitidos para uma parte do 12 cérebro chamada hipotálamo. Fonte: Revista eletrônica BOA SAÚDE. Feromônio – o cheiro do amor. Disponível em: <http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=4597&ReturnCatID=763>. Acesso em: 30 out. 2007 12 Fonte: WIKIPÉDIA. Feromônio. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Ferom%C3%B4nio>. Acesso em 30 out. 2007. 11 95 De acordo com Calazans (1992) a ação dos feromônios sobre a psique humana tem despertado a atenção de muitas empresas, de tal maneira que pretendem sintetizá-las com o objetivo de atrair os consumidores para os seus produtos e lojas. Sobre a fisiologia nasal, estima-se que o nariz humano tenha cerca de 25 milhões de células olfativas, que capturam as moléculas odoríferas e enviam essa informação ao cérebro, que por sua vez realiza o reconhecimento dos odores. O olfato permite sentir vários tipos de cheiros, podendo identificar mais de quatro mil diferentes, além de ser o único dos sentidos que tem conexão direta com o processamento de emoções e o armazenamento de memórias.13 Dessa maneira, poderíamos afirmar que o olfato está para a memória assim como o som está para o humor. Entretanto, Lindstrom (2007, p.109) afirma que “O cheiro nos afeta muito mais do que possamos imaginar. Testes demonstram que nosso humor melhora 40% quando estamos expostos a uma fragrância agradável – particularmente quando é uma fragrância que desperta boas lembranças”. Aliás, pesquisas revelam que clientes expostos a perfumes bons, cheiro de café, pães e biscoitos não somente melhoram seu humor, mas, também, passam a se comportar de maneira mais gentil e até altruística (GOBÉ, 2002). O McDonald‟s poderia utilizar todo o seu potencial de atração no que se refere ao universo dos cheiros. Poderia explorar o aroma irresistível do pão quentinho saindo da tostadeira, onde é caramelizado, evocando nos consumidores o impulso de entrar no restaurante. É consensual que o aroma de pão recém-saído do forno atrai as pessoas para as padarias, e podemos nos arriscar afirmando que o aroma do pão recém-feito é até melhor do que o seu sabor. O mesmo acontece com o café, aplicável aos McCafés brasileiros. No entanto, segundo a pesquisa Brandsense feita pelo instituto americano Millward Brown (apud Lindstrom, 2007), grande parte dos consumidores afirmam que o McDonald‟s cheira a óleo reutilizado, o que afasta muitos deles dos restaurantes. Portanto eis, aí, uma grande oportunidade para a empresa. 13 Fonte: Periódico quinzenal SUPERINTERESSANTE. O sentido da vida. ed.n° 4, 1988. 96 O arsenal de produtos aromatizados encontra grandes oportunidades na crescente urbanização, evocando o mundo natural dos quais deixamos gradativamente de ter contato. Conforme David Easton (apud GOBÉ, 2002 p.149), projetista de ambientes de Nova York: “Ambientes artificiais devolveram nosso desejo primordial pelo natural”. Dessa maneira, o cheiro não precisa limitar-se ao produto em si, podendo-se estender aos ambientes com fragrâncias agradáveis no ar influenciando o comportamento melhorando o humor dos indivíduos. Conforme Gobé (2002, p.149): “[...] como a experiência informal sugere, as fragrâncias agradáveis são um aspecto do ambiente físico que possibilita às pessoas sentiremse mais contentes – assim como as temperaturas agradáveis, a iluminação atraente e a ausência de barulho que desconcentre podem produzir um efeito equivalente”. Os odores interagem com as pessoas de maneiras complexas e com uma série de variáveis, a ponto de influenciar a permanência nos ambientes. É fácil de perceber, afinal um cheiro ruim sempre nos faz querer sair do ambiente no qual está instalado. Um cheiro bom, em contrapartida, pode ser o nosso maior motivador da permanência no local. Portanto, boas lembranças, bom humor e maior permanência no local são reações naturais quando se explora o olfato como estratégia de sedução. De acordo com Perez (2004, p.96) “o cheiro traz permanência, marcas, memória” e pode se tornar um elemento decisor na escolha da marca. No entanto, tal qual a audição, a capacidade humana para sentir cheiros é limitada: no canal nasal, as células olfativas cobrem uma área de 10 centímetros quadrados; já no cachorro, essas células ocupam 25 centímetros quadrados; no tubarão, 60. Enquanto o homem precisa de 500 milhões de moléculas para perceber o cheiro do vinagre, o cão pode sentir o mesmo cheiro com apenas 200 mil. Outro exemplo: uma pessoa produz cerca de meio litro de suor por dia; desse volume, a cada passo, caem no chão uma fração mínima de cerca de 250 mil moléculas de ácido butílico – um dos componentes do suor. Com apenas um milésimo dessa quantidade, um cão pode sentir seu cheiro. A dimensão da capacidade de percepção olfativa do cão, quando comparada à do homem, portanto, faz-nos refletir 97 até que ponto este último é capaz de captar o sentido, registrando-o, porém, de maneira inconsciente e inadvertida. 14 Uma simples aspiração pode ser o suficiente para despertar fome, provocar atração ou repulsa, ou ainda trazer de volta recordações do passado. Além disso, graças ao olfato, um aliado do paladar, são sentidas as diferenças de sabores, o que faz toda a diferença quando se está resfriado. Muitas pessoas que perdem o olfato não sabem que o perderam; e, quando percebem, é porque não sentem mais o gosto da comida. O olfato é o grande responsável pelo apetite: qualquer pessoa, sem perceber, sente melhor os cheiros quanto mais perto da hora de comer, o que faz com que sinta o aroma da comida de longe. Quando isso acontece, o cérebro induz o estômago a produzir sucos gástricos. As glândulas salivares entram em ação, o que invoca o apetite. Metade do sabor é cheiro. A perda de olfato, além de estar associada à depressão, pode levar à desnutrição. Fisiologicamente, explica-se essa conexão do paladar com o olfato. As papilas gustativas da língua são capazes de identificar quatro sabores básicos: amargo, azedo, doce e salgado. A diferença entre um doce e um tipo de vinho, por exemplo, é dada pelo cheiro de cada um. Afinal, uma pessoa cheira o ar quando aspira e quando expira. Quando se expira, o fluxo de ar, que passa pela garganta, capta moléculas odoríferas do alimento que está sendo mastigado. Essas moléculas alcançam assim a câmara olfativa; o cérebro, então, soma as informações das papilas gustativas com as do olfato e o resultado é o paladar. Por isso, quando se está gripado e a câmara olfativa fica obstruída com muco, impedindo que as moléculas entrem em contato com os receptores, não se sente com precisão o gosto dos alimentos. No entanto, o odor é tão importante para o sabor que as indústrias de alimentos investem milhões nos chamados aromatizantes artificiais. Hoje, estão disponíveis no mercado mais de dez mil aromatizantes, cada um o resultado da combinação de duzentas a trezentas moléculas de substâncias diferentes. O aroma artificial de morango, que existe desde a década de 60, consumiu exatamente vinte anos de pesquisas. Algumas vezes os aromatizantes artificiais são muito mais caros que os naturais. O aroma artificial de baunilha é cerca de duzentas vezes mais caro 14 Fonte: Periódico quinzenal SUPERINTERESSANTE. Op.cit. 98 que a baunilha natural. Apesar disso, a indústria prefere o aromatizante porque tem o odor dez vezes mais forte, garantindo um sabor muito mais acentuado de baunilha. Tato Sabe-se que a pele é o maior órgão do corpo humano. Através dela, somos capazes de sentir frio, calor, dor ou pressão. Estima-se que há cerca de 50 receptores para cada cem milímetros quadrados, cada um contendo cerca de seiscentos e quarenta mil microrreceptores orientados para as sensações. A partir daí, depreende-se o porquê, por muito tempo, o homem utilizou o toque para detectar o perigo e servir de alerta para o bem-estar. No entanto, muito mais do que isso, também precisamos deste estímulo para crescer e nos desenvolvermos (LINDSTROM, 2007). Gobé (2002) afirma que o tato é o principal dos cinco sentidos e se apresenta como o mais imediato deles. Para compensar a falta da visão, os cegos têm o tato tão desenvolvido que são capazes de sentir se os objetos têm cores diferentes pela temperatura deles. Isso porque as diversas cores possuem temperaturas variadas, que são imperceptíveis para as pessoas que não têm o tato tão sensível. No sentido mercadológico, há muito tempo, discussões sobre o paralelo entre design e competitividade pedem atenção para a importância da diferenciação estética de um produto. No entanto, ainda é significativa a porcentagem de empresas que não valorizam esta questão. De acordo com Perez (2004, p.65): No fim do século XX e início do século XXI, muito se tem ouvido falar do design sensorial como a grande força no estabelecimento da identidade marcária, especialmente de produto. A idéia subjacente é a de que o design é capaz de criar emoções, experiências sensoriais e, finalmente, gerar vendas. Nestes anos de grande efervescência tecnológicas que traz consigo a frieza deste mundo, surge a necessidade de um toque humanista nos objetos que facilite as conexões afetivas com os consumidores. Em uma linha de raciocínio muito semelhante, Gobé (2002, p.163) afirma que: 99 O design pode agregar uma promessa de experiências emocionais e sensoriais; ele alivia a tensão da padronização em massa, destruindo os conceitos robóticos da homogeneidade e da quantidade para trazer um novo senso de humanidade às nossas vidas. A partir das duas visões temos que o design, portanto, como elemento de “humanização” dos objetos, em um período de grande padronização de produtos e sua superficialidade subjacente, torna-se uma das grandes promessas sensoriais de competitividade entre as marcas. “Neste mundo, privado de tato e tornando-se ainda mais limitado pelo advento da Internet, penso que as empresas que incentivam o toque serão recompensadas pela simpatia de seus clientes” (GOBÉ, 2002, p.142). Não há dúvidas sobre a importância das formas e das texturas em meio à competitividade de produtos. A sinergia existente entre o tato e os demais sentidos é capaz de formar impressões únicas na mente do consumidor. De acordo com Lindstrom (2007), a textura e o formato diferenciados fazem com que, mesmo às cegas, sejamos capazes de afirmar que estamos segurando uma garrafa de CocaCola clássica. E, se a garrafa caísse e quebrasse, ainda poderíamos identificar os seus cacos, pela sua forma e vincos tradicionais. Da mesma maneira, a textura crocante dos flocos de milho Kellogg‟s tem total relação com o sucesso do produto, pelo ruído exclusivo que ouvimos e sentimos na boca e que, se bem trabalhado, seríamos capazes de reconhecer quando servido anonimamente em qualquer Buffet de café da manhã. Assim como os flocos de milho da Kellogg‟s, a crocância singular das McFritas também tem relação com o seu sucesso. As batatas fritas do McDonald‟s são facilmente reconhecíveis, tanto pela forma quanto pela textura. Ela já foi considerada a melhor batata frita do mundo, justamente pela combinação ideal de texturas que apresenta: crocante por fora, macia por dentro. O McDonald‟s explora consistentemente o sentido do tato através dos brindes que vêm junto com o famoso Happy Meal (ou “McLanche Feliz”) para as crianças, bem como as lâminas de bandeja para colorir e das esculturas de balões que ganham no espaço dedicado a elas - o Mundo Feliz. Além destes, são entregues às crianças, a cada mês, diferentes folhetos divertidos, coloridos e interativos (os PDP‟s – Prime Distribution Premium), sempre sem custo algum, que as estimulam a dobrar, montar, recortar e pintar formando bonecos e criando brincadeiras com as próprias 100 mãos. É pela interação através do tato, portanto, que o McDonald‟s consegue fazer com que as crianças levem a marca para casa de forma afetiva e ainda lembrem dela com bastante freqüência. Paladar Sabor e alimento são associações imediatas e, nesse sentido, observamos que o alimento é uma forma de intercâmbio social e cultural, e o sabor assume muitos desses atributos. Assim como as diferentes formas de cumprimento, os alimentos carregam em si significados culturais e contribuem para a aproximação e socialização entre as pessoas (PEREZ, 2004, p.97) De acordo com Gobé (2002, p. 135): Oferecer alimentos sugere uma espécie de parentesco e faz as pessoas se sentirem à vontade, podendo até sentir prazer. Se os hóspedes em nossas casas recebem essa cortesia básica, por que ela não é estendida de forma mais ampla aos clientes? As pessoas buscam um lugar para fugir das preocupações do trabalho e das responsabilidades do lar, um lugar onde possam relaxar e jogar conversa fora. [...] Para muitas pessoas, esse serviço é muito mais valioso do que a etiqueta de preço que o acompanha, tanto pelo benefício tangível como pelo valor simbólico do gesto. Não há o que substitua um relax com os amigos ou um lanchinho depois de uma boa caminhada fazendo compras. Sendo assim, oferecer alimentos e bebidas em situações de consumo não só traz uma possibilidade de associação positiva como também revela cordialidade, uma vez que é uma prática comum, quando recebemos pessoas que gostamos em nossa casa, oferecemos algo para comer e beber. Este aspecto, o da cordialidade, é o que também possibilita uma associação positiva. Outra oportunidade para conquistar clientes é cativá-los pelo sabor enquanto esperam nas filas. Clientes detestam filas. Alguns estabelecimentos começaram a oferecer alguns petiscos às pessoas que aguardam nas filas dos caixas ou das entregas. Quando os supervisores percebem que as filas ameaçam ultrapassar o tempo de espera de três ou quatro minutos, por que não oferecer uma batatinha frita, por exemplo? Acho que os clientes esqueceriam o aborrecimento da espera e ficariam satisfeitos com a surpresa do gesto (GOBÉ, 2002, p.138 e 139). 101 Com efeito, o humor das pessoas se altera muito quando oferecemos a elas algum petisco. É como se fosse um agrado. As empresas não devem perder a oportunidade de aumentarem o seu potencial de atração e lembrança através de estratégias que marquem na memória dos consumidores o carisma e, porque não, o sabor da marca. Em suma, vimos até aqui muitas maneiras de estimular a relação dos consumidores com as marcas através do apelo aos cinco sentidos. Não utilizá-los, conforme percebemos, representa atualmente uma grande perda de potencial competitivo. As empresas estão cada vez mais atentas a estas estratégias, deixando para trás aquelas que estão preocupadas apenas com os apelos para as imagens e para os sons, como se fossem as únicas maneiras de atrair. A seguir, avaliaremos a marca McDonald‟s sob outra perspectiva. Investigaremos como alcançou o status de símbolo do fetichismo que representa atualmente. Também analisaremos as suas principais estratégias de marketing, identificando aquelas que recorrem aos sentidos para a capacidade de seduzir e apontando as oportunidades entre aquelas que ainda não foram desenvolvidas para o apelo aos estímulos sensoriais. 6.2 A marca McDonald’s: o símbolo do fetichismo Poderia ser uma simples marca. No entanto, sabemos através de Fontenelle (2002) que a marca McDonald‟s foi eleita em 1997 pela Interbrand, consultoria inglesa, a número um do mundo em termos de reconhecimento, deixando para trás marcas poderosas como Coca-Cola e Disney. Sua logomarca, os arcos dourados, se tornou mais conhecida do que a cruz cristã, e só não é a primeira em termos de reconhecimento graças ao símbolo dos Jogos Olímpicos. Da mesma maneira, o clown Ronald McDonald, seu personagem-símbolo, só perde para Papai Noel em termos de reconhecimento pelas crianças americanas, conforme pesquisa realizada pela companhia em 1986. Do ponto de vista político, o McDonald‟s chega a ser considerado o símbolo da democracia, como o emblema da ocidentalização e da liberdade; também está associado à paz mundial, já que “os países só podem ter um McDonald‟s quando eles tiverem obtido um nível suficiente de prosperidade econômica e estabilidade política” (LANGDOM, apud FONTENELLE, 2002, p.31), o 102 que permitiu que nenhum país onde tivesse um McDonald‟s entrasse em guerra com outro que também o possua em seu território. Como está presente em 121 países, podemos dizer que há um gosto global “mcdonaldizado”, graças à padronização operada pelo sistema McDonald‟s que permite que se tenha, em todos os cantos do mundo, a familiaridade do seu tempero, dos seus molhos, dos seus pães, das suas batatas fritas e do sanduíche global Big Mac. O fetichismo sobre a marca McDonald‟s pode ser explicado em parte devido ao contexto onde nasceu. A marca surgiu em uma era industrial, fordista, em torno do cinema próspero de Hollywood e na esteira da descoberta do automóvel (o grande ícone americano), o que abriu a oportunidade para o desenvolvimento e aprimoramento dos promissores drive-ins. Esta época, precedida pela Grande Depressão dos anos 30 – fruto da quebra da Bolsa de Valores de Nova York –, representou um período de expectativas, em que a riqueza tornou-se o principal desejo nacional. A marca também se desenvolveu em meio à Guerra Fria, o silencioso duelo ideológico do socialismo e do capitalismo, cada qual prometendo um modelo econômico, social e cultural que refletisse, a seu modo, o ideal de felicidade e bem-estar. Nesse contexto, descobriu-se o poder e o valor das imagens e da propaganda. Do lado ocidental, representado pelo capitalismo americano, a vida era apresentada como brilhante, já que os cidadãos agora possuíam carros, bens de consumo, liberdade de opinião e o direito de ir e vir. Do lado socialista, a felicidade era sinônimo de emprego, saúde, moradia e educação para todos, garantido pelo Estado. Nesse sentido, a liberdade de escolha capitalista foi a imagem que se contrapôs à igualdade socialista, aos poucos considerada, de maneira generalizada, como um regime de opressão. Assim, a queda do Muro de Berlim, em 1989, representou para os socialistas a abertura para um mundo de liberdade, o sonho americano, o “american way of life” retratado nas propagandas, em que poderiam finalmente “comer, beber e viver” (FONTENELLE, 2002, p.38). A respeito do “american way of life”, apresentou necessidades e tendências que sempre foram respondidas pelo McDonald‟s. O drive-in foi o negócio focado no serviço de atendimento a consumidores dentro dos carros, cuja produção massiva possibilitou o seu acesso fácil e, portanto, o aumento vertiginoso da sua aquisição 103 pelas pessoas. Dentro dos seus carros, os consumidores preferiam ser atendidos sem precisar sair. A partir daí, surgiram as garçonetes de patins, que proporcionavam mais agilidade ao atendimento e, ainda, davam a ele uma certa representação de “teatro ao ar livre”. Assim, em uma época pautada pela necessidade cada vez maior de rapidez, provocada pelas mudanças sociais em curso que instituíram a pressa urbana, o McDonald‟s atendia e respondia a essa tendência que emergia na América do Pós-Guerra. O McDonald‟s também se tornou um drive-in distinto dos demais por não possuir jukeboxes (máquinas de música), não vender cigarros, bebidas alcoólicas e chicletes, não servir de ponto de encontro para boêmios e não tolerar qualquer tipo de vadiagem. No entanto, a rapidez do serviço, o baixo custo dos produtos oferecidos e a atração pelas garçonetes fizeram com que os adolescentes, a geração vista como problemática e desordeira, se tornasse o principal público da empresa. Visando um tipo de consumidor mais sério, o McDonald‟s passou a pensar em outra estratégia de operacionalizar o seu negócio, através de uma forma que prescindisse das garçonetes e se concentrasse mais na qualidade do serviço. Assim, nascia outro tipo de disciplina: o sistema self-service, em que os consumidores teriam que descer dos seus carros e se dirigir até os balcões para fazer os seus pedidos. Objetivando oferecer um lugar calmo para “famílias limpas” e se aproximar da “estética do claro e do limpo”, iniciou-se uma série de alterações para alcançar o maior padrão de higiene na alimentação: prateleiras de vidro embutidas começaram a ser utilizadas em paredes brancas; balcões passaram a ser de mármore também branco; materiais foram utilizados no revestimento das mesas e cadeiras para que não absorvessem sujeira e fossem resistentes aos efeitos de deterioração provocados por umidade e gordura; pisos de madeiras foram substituídos por materiais mais resistentes, de melhor aparência, que dessem a impressão de espaço amplo e que fossem mais fáceis de limpar. A qualidade do ar também se tornou motivo de preocupação, o que deu origem ao desenvolvimento de exaustores, ventilação no período do verão, e, mais tarde, ar condicionado. 104 E foi assim que, conforme Fontenelle (2002, p.72) “[...] o McDonald‟s tornouse o protótipo e o reflexo do espaço social idealizado, no qual pudessem reinar disciplina e ordem”. A orientação para a “ordem” dentro do McDonald‟s está intimamente ligada à repetição. O padrão taylorista, muito bem retratado no filme mudo Tempos Modernos (1936) de Charles Chaplin, fez com que a empresa se tornasse a primeira instituição privada a apresentar o caráter de um ritual sagrado ou de comportamentos condicionados e estereotipados. Até hoje, observa-se uma absoluta uniformidade no comportamento dos funcionários e dos públicos consumidores do McDonald‟s: o tempo de espera é definido, há constância nas ações e as falas são prescritas, desde o momento em que se faz o pedido até o “tenha um bom dia e volte sempre” na despedida. Dessa maneira, além de um lugar asséptico, a empresa assumiu uma postura previsível, onde o consumidor sempre sabe como deve se comportar, o que esperar, o que comer e o quanto vai pagar. Nesse sentido, o McDonald‟s deixa de oferecer apenas hambúrgueres, e passa a oferecer também conforto e confiança, proporcionando um sentimento de natureza eterna em meio ao rápido fluxo de mudanças que traumatizam as pessoas com o choque do imprevisível. O Sistema McDonald‟s nunca atuou, portanto, no prosaico ramo de alimentação. Ele atua, desde sempre, como sinônimo de ideais, de interesses e como uma espécie de show business, no qual se vendem “experiências” e “sensações” que dão acesso a um ritual, em que se mesclam taylorismo alimentar, ordem unida e uma boa dose de carinho. No entanto, devemos considerar também outros aspectos que puderam ter levado ao fetichismo da marca McDonald‟s. Para tanto, nos apoiaremos em Al Ries (1998), estrategista de marketing, discorrendo rapidamente sobre como o processo de nascimento e permanência de uma marca deve ocorrer. Na perspectiva de Al Ries, “uma nova marca deve ser capaz de gerar publicidade favorável na mídia ou não terá uma chance no mercado” (RIES, Al; RIES, Laura, 1998, p.20). Para ele, a força mais poderosa no processo de construção de uma marca chama-se relações públicas, que tratará de conquistar a 105 mídia, cujo papel é determinante para formar opiniões e, portanto, para uma marca existir. Segundo o autor, são os outros que estão lhe elogiando, o que surte um efeito muito mais positivo do que o “auto-elogio”, que ninguém mais acredita. E o melhor meio de gerar publicidade na mídia, ainda segundo o autor, é ser o primeiro. “Ser a primeira marca em uma nova categoria” significa ser capaz de criar ou recriar um produto a fim de gerar um novo conceito. A construção da marca McDonald‟s nos leva a concordar com Al Ries. De fato, há documentos suficientes sobre a ampla e intensa utilização da cobertura positiva da mídia pelo McDonald‟s. A empresa soube reinventar o hambúrguer com a produção de um conceito totalmente novo, associando-o a um estilo de vida também inteiramente novo que emergia com a evolução da tecnologia e do surgimento dos automóveis como os novos bens de consumo de produção massiva. Somando isso tudo às oportunidades em termos de tendências identificadas por Kroc, têm-se algumas outras importantes razões para o sucesso da marca McDonald‟s. No entanto, a hipótese deste trabalho é a de que as prováveis razões para o imenso poder dessa marca não terminam nessas considerações. Ele se deve também à atração pelo seu apelo aos cinco sentidos. Mas em que nível a empresa os explora? Esta é a pergunta que buscaremos responder a seguir, através da análise de todos os elementos que compõem a plataforma de Branding sensorial da marca McDonald‟s. Para atingir este objetivo, analisaremos a marca de acordo com o processo de desconstrução proposto por Lindstrom (2007), cujo desafio é descobrir se a marca, despida de seu logotipo e nome, é forte, resistente e composta de elementos independentes o suficiente para ainda assim ser reconhecida. 6.3 Desconstrução da marca segundo Lindstrom (2007) De acordo com o autor, há doze componentes que formam os fundamentos da filosofia de “desconstrução da marca”. São eles: Imagem, Cor, Nome, Linguagem, Ícone, Forma, Som, Navegação, Comportamento, Serviço, Tradição e Ritual. A idéia é que: 106 Depois de montar o cenário da marca e separá-la em diversos fragmentos chega o momento de juntar os pedaços. Sem dúvida, ao tornar a montá-la você conhecerá muito melhor cada um dos fragmentos. Este conhecimento permitirá reconstruir a marca de maneira que cada componente sensorial seja aumentado e possa funcionar independentemente (LINDSTROM, 2007, p.45 e 46). Perez (2004, p.58) concorda que, no processo de construção de uma marca multissensorial, “Resistir à fragmentação é um controle de valor da percepção da identidade visual. Um logo forte e autêntico é reconhecível e identificável mesmo em fragmentos”. Sendo assim, faremos a análise de cada um dos seus componentes. Imagem Podemos afirmar que uma imagem de uma marca forte representa a capacidade de ser exposta e identificada em qualquer tamanho, em qualquer região e em qualquer contexto. Imagem de marca relaciona-se com a personalidade da marca, o seu estilo, a sua representatividade, a sua forma de atuar diante dos consumidores e as diversas associações que estes atribuem às diversas manifestações da marca. A imagem de marca, portanto, pode não ter nenhuma relação com os produtos e serviços por ela representados, já que, por definição, se relaciona com a imagem que quer ser percebida pelo consumidor. De acordo com a literatura de marketing, a imagem de marca é construída e sedimentada por um conjunto de imagens, como embalagem, símbolos, slogans e jingles, veiculadas pelos mais variados meios de divulgação através de publicidade e propaganda (FONTENELLE, 2002). Nesse sentido, como é percebida a marca McDonald‟s? Os cuidados com a sua imagem já começam com as embalagens, elaboradas para transmitir a idéia de que o hambúrguer que está ali dentro é algo quase sagrado. Ele não pode ser oferecido de maneira casual, devendo obedecer a estratégias de layout de apresentação e postura de entrega, princípio que se estende também para os demais produtos da empresa e que faz crer que cada produto tem um status superior ao de “comida” (FONTENELLE, 2002). 107 Seu ambiente é composto por uma arquitetura e um espaço interior que remetem à idéia de um lugar de diversão, um espaço para o lazer. Todas as imagens são produzidas em excesso, e tudo também deve parecer big. Através de muitos sinais, é observável que a marca McDonald‟s transmite, desde sempre, o ideal de um lugar de diversão, de entretenimento e de felicidade incomparável, produzidos em dezenas de propagandas coloridas e alegres. E há uma imagem que foi concebida para reunir todo o ideal de diversão que a marca deseja refletir: o palhaço Ronald McDonald. As bandeirinhas, que representam o signo circense por excelência, também são um recurso bastante utilizado pela empresa, que procura materializar, no espaço físico de cada loja, a idéia do circo, da diversão, do universo da alegria que está diretamente associada aos picadeiros. (PEREZ, 2004; FONTENELLE, 2002) Criado à semelhança do mundo de fantasias da Disney, Ronald McDonald tornou-se a “personalidade de marca” do McDonald‟s: foi estrategicamente concebido para responder à pergunta “como seria a marca se fosse uma pessoa?”, e sua personalidade foi moldada visando estabelecer associações com as respostas “alegre”, “divertida”, “carinhosa” e “amigável”. De acordo com essa estratégia, Ronald passou a viver em uma terra encantada chamada McDonaldland, que rapidamente foi materializada nas lojas com os Ronald‟s Places e os salões feitos especialmente para as McFestas. A terra do McDonald‟s sempre foi habitada por uma série de personagens e o Ronald, o mocinho, representa o personagem principal, que resguarda a ordem de maneira permanente e garante a diversão segura (FONTENELLE, 2002, p.186). Todos os dias somos capazes de identificar uma evidência que ratifica a imagem de lugar divertido desejado pelo McDonald‟s: a presença sempre numerosa de famílias com crianças nas suas lojas. Esta parece ser a confirmação da percepção comum de que o McDonald‟s transcende a experiência típica de comer fora, mas é compreendido como um lugar de diversão para as famílias. A fórmula “comida, família e diversão” representa uma “experiência feliz”, uma “folga” dos problemas e dos hábitos tediosos. Tal conceito acabou dando origem ao jingle “You Deserve a Break Today” (“Você merece uma folga hoje”), que, dado o sucesso, inaugurou uma série de 108 comerciais com o mesmo estilo leve e descontraído, retratando as lojas como o espaço ideal para o lazer (FONTENELLE, 2002, p.186) e reforçando a maravilha da “experiência de estar no McDonald‟s” até os dias de hoje. Estas observações sobre a imagem da marca McDonald‟s são confirmadas também por outras evidências. O McDonald‟s há pouco tempo estabeleceu uma parceria com a Disney de Paris e, mais recentemente, com a Dreamwork Entertainment, com o objetivo de manter o ambiente mágico direcionado para as crianças. A maior prova, entretanto, está nos dados numéricos: a venda de McLanche Feliz vem crescendo ano a ano, na ordem de cerca de 3%, o que representa aproximadamente três milhões de McLanches vendidos por mês.15 De acordo com Perez (2004, p.95 e 96): O recurso do personagem é amplamente utilizado pelo McDonald‟s na figura do palhaço Ronald McDonald. O personagem e seus companheiros, que aparentam sair de uma história em quadrinhos, lembram às pessoas que a diversão espera por elas nas lojas da rede. Dá-se ênfase à diversão e esta passa a ser um valor central na construção da imagem da marca McDonald‟s. Entretanto, a escolha de um palhaço não foi por acaso. A imagem associada à diversão foi escolhida para se contrapor a outros aspectos menos positivos da marca, como a padronização dos seus produtos que, ao contrário de diversão, remete à ausência de liberdade de escolha. A simbologia do palhaço está ligada ao imprevisto, à surpresa, ao riso, à brincadeira, enfim, à diversão; porém, desde que o Ronald foi criado, nos anos 60, muita coisa mudou e a eficácia do palhaço como grande símbolo de diversão não se sustenta sozinho. Percebemos que as parcerias com a Disney, a Dream Works, e outras empresas de entretenimento, além da ampliação de espaços para brincadeiras, têm colaborado para a manutenção de um ambiente fun, que antes era preenchido somente pelo Ronald McDonald. Assim, podemos dizer que, apesar do esforço de alocação de novos recursos, o McDonald‟s continua mantendo a imagem que sempre desejou transmitir. Para crianças e famílias, um lugar onde reinam a ordem, a segurança, o lazer e, principalmente, a diversão. Fonte: McDONALD‟S CORPORATION. Disponível em <http://www.mcdonalds.com>. Acesso em 03 nov. 2007. 15 109 Cor De acordo com os estudos de Modesto Farina (1994), vimos que o vermelho equivale às ondas longas de intensidade, e produz um efeito estimulante que pode alterar o ritmo cardíaco e a pressão arterial do receptor. Já o amarelo-avermelhado ativa as funções de metabolismo do hipotálamo, despertando a fome e alterando a atividade gástrica. Assim, temos que o amarelo-avermelhado desperta a fome e a gula, e o vermelho produz a excitação necessária para que o consumidor faça sua refeição de maneira rápida. Farina ainda afirma que o vermelho pode indicar dinamismo, força, energia, coragem, intensidade, excitação, calor, alegria, extroversão; enquanto que o amarelo pode indicar iluminação, conforto, alerta, adolescência, espontaneidade, euforia, expectativa. Perez (2004) afirma que vermelhos tendem a ser percebidos como aventureiros, sociáveis, excitantes, poderosos e protetores; amarelos costumam ser vistos como alegres, joviais, estimulantes, carinhosos e impulsivos. Ambas as cores quentes. Quando observadas, essas características parecem relacionar-se intimamente com o conceito de “jovem”, já que também podem ser resumidas em dinamismo e intensidade. Há quem diga que a fome despertada pela combinação dessas duas cores é devido ao fato de que o amarelo indica vazio e o vermelho calor; portanto, a conjugação de vazio e calor desperta a fome e a sede. Outra perspectiva a respeito das cores foi comentada: o vermelho pode indicar “pare”, o amarelo “atenção” e o verde “siga”, e podem causar reações fisiológicas semelhantes em certas culturas (PEREZ, 2004). Lindstrom (2007) também relaciona o amarelo a uma posição de autoridade. Perez (2004) sustenta ainda que o fundo escuro tem o poder de “empurrar” para frente os elementos que estão sobre ele em cores mais claras e vibrantes; e cores luminosas dão a impressão de que o objeto está mais próximo do que na verdade se encontra. 110 Já as cores metálicas, como dourado e prateado, oferecem imagens brilhantes; elas assumem as qualidades, respectivamente, do ouro e da prata, criando “sensações de brilho, luxo e elegância em razão das associações com opulência e metais preciosos” (PEREZ, 2004, p.81). Diante de todas essas considerações, podemos atribuir a eficácia da conjugação das cores vermelha e amarela para a marca McDonald‟s pelo fato de que desperte o interesse como um sinal de “atenção” e “pare”; que dê a impressão de que se aproxima dos consumidores; que seja lembrada mais facilmente; que estimule a fome com as alterações psicológicas e fisiológicas nos consumidores; que represente jovialidade com suas características intensas e dinâmicas; e que seu símbolo dourado represente o luxo e o status de quem valoriza elegância e opulência. As reações provocadas pelas cores nos consumidores podem ser diversas, mas essas considerações fizeram muitas marcas lutarem pela propriedade da conjugação dessas duas para a construção das suas imagens. É o que justifica, segundo Lindstrom (2007), décadas de luta entre o McDonald‟s e a Kodak pela sua propriedade. Ao observarmos o totem, as embalagens, as imagens, o símbolo, o logotipo, a pintura, a decoração das lojas, a sinalização, os acessórios, os materiais, o website e o próprio personagem-símbolo da marca, tudo no McDonald‟s utiliza a combinação das duas cores. O universo vermelho e amarelo domina o espaço do McDonald‟s, de tal maneira que a utilização massiva das cores se constitui, talvez, na identidade principal da marca, perfeitamente representativa e associável a ela. Nome Vimos com Aaker (1998) que um nome forte é imprescindível para que a marca atinja qualquer escala de conhecimento. Trata-se de um elemento que cria e armazena associações pertinentes. Uma vez estabelecido, representa uma barreira contra concorrentes e facilita a criação de sub-nomes. 111 O McDonald‟s teve seu nome originado do sobrenome dos irmãos Dick e Maurice McDonald, mas a partícula “Mc” foi muito bem aproveitada ao longo dos anos. Quase que a totalidade os elementos de composição das lojas e da empresa como um todo recebe como denominação o prefixo “Mc”, com o objetivo de criar a sua identidade exclusiva para tudo o que for possível. A associação de qualquer produto, benefício ou serviço relacionado ao McDonald‟s passa a ser clara e até óbvia: McFestas, McTours, McLanches, McGranas, McValor, McLand, McCard. É até possível que não saibamos do que se trata, mas certamente saberemos que é algo que pertence ao McDonald‟s. Esta estratégia não só protege as inovações da concorrência, como também facilita muitas associações criativas em torno de tudo o que se relaciona ao McDonald‟s e ao seu “McMundo”. A partícula se adapta bem a qualquer palavra a ela justaposta, de tal maneira que facilita novas denominações com a entrada de novos produtos ou com a inauguração de novos serviços. Forma A forma, segundo Lindstrom (2007) é um dos componentes da marca mais negligenciados, mesmo que ela possa ser a clara expressão da marca. Além de criar identificação instantânea através de formas e cores, ela pode ainda promover conhecimento da marca, afetar a lealdade e a qualidade percebida da marca, comunicar atributos e associações (AAKER, 1998). A facilidade de apreensão das imagens visuais em relação às demais é o que torna a forma uma das melhores identificações com a marca. No caso do McDonald‟s, os Golden Arches (“Arcos Dourados”) são claramente o sinônimo e o universo representativo da marca. Eles fazem referência à marca registrada McDonald‟s e estão presentes nos estabelecimentos, nas embalagens e nas peças de comunicação do mundo inteiro. Mesmo em preto-ebranco e sem o nome da marca, ou até mesmo em picotes de algum anúncio rasgado, o próprio desenho do “M” arredondado já cria a imediata associação com a empresa e o reconhecimento do símbolo. Ao observarmos os cinco últimos logotipos da empresa, concluiremos que a sua forma se manteve praticamente igual ao longo 112 dos anos, o que lhe conferiu consistência e possibilitou a fácil identificação por parte dos consumidores. FIGURA 4: Evolução do logotipo McDonald’s Fonte: ALETP 16 O “M” para o símbolo da marca, solução oriunda da arquitetura original da sua primeira loja nos Estados Unidos, está totalmente integrado com o design geral da empresa, cabendo afirmar que os famosos Arcos Dourados é o elemento que instantaneamente identifica a marca McDonald‟s para a maioria das pessoas em todo o mundo. Além disso, de acordo com Fontenelle (2002), o próprio padrão de interiores das lojas McDonald‟s, mesmo que desprovidos do famoso símbolo e de qualquer referência ao nome da marca, se apresenta inconfundível. A caracterização das lojas tem decorações que envolvem uma atmosfera de “escape” para um ambiente tranqüilo e familiar, e que desde sempre esteve vinculada a uma aparência “assexual”. Por isso são bem iluminadas, claras e com uma música suave de fundo, em nada se aproximando com as músicas agitadas que possam atrair desordem. O layout típico do balcão, da cozinha e dos salões, bem como o conjunto de cores utilizado, reforça o padrão imediatamente reconhecível que se verifica em todas as lojas da rede. Mesmo que fôssemos deslocados para uma das suas lojas de olhos 16 ALETP – Publicidade, Propaganda, Marketing e Curiosidades. McDonald‟s – História da marca. 2007. Disponível em: <http://aletp.com/2007/03/09/>. Acesso em: 23 out. 2007 113 vendados, ao enxergarmos o seu ambiente facilmente identificaríamos a empresa, mesmo que retirássemos todas as referências aos produtos, símbolos e nome. Ícone Em se tratando de vínculo com a marca, não há dúvidas de que o representante para o McDonald‟s se chama Ronald McDonald. Ronald McDonald é um palhaço sensível e inteligente que se transformou no primeiro mascote efetivamente conhecido da rede de restaurantes de refeição rápida McDonald's. De acordo com o livro Fast Food Nation (2001), 96% das crianças das escolas dos Estados Unidos podem identificar Ronald McDonald, fazendo dele o ícone de propaganda mais reconhecido deste país, perdendo somente para o Papai Noel. Nos comercias televisivos, Ronald habita o mundo de fantasias chamado McDonaldland, e vive aventuras com os seus amigos Papabúrguer, Shake e Birdie. A Corporação também caracterizou Ronald McDonald como sendo capaz de falar trinta e uma diferentes línguas, incluindo mandarim. Criado originalmente por Terry Teene, Willard Scott e George Voorhis, Ronald McDonald foi nomeado oficialmente em 2003 como o Embaixador da Alegria junto às crianças, pela Corporação McDonald‟s. A história de Ronald McDonald tem início na década de 1960, quando um franqueado da rede McDonald's decidiu patrocinar um programa televisivo da época chamado O Circo do Bozo. Nesta época, era o popular palhaço Bozo quem anunciava os produtos McDonald's junto às crianças telespectadoras do programa. Foi a partir do Bozo que surgiu a idéia do McDonald's criar o seu próprio palhaço e, já em 1965, Ronald torna-se o "personagem de marca" para as campanhas nacionais e, posteriormente, internacionais, do McDonald's (Love, 1996). De acordo com Fontenelle (2002), o palhaço resultou de uma série de minuciosos estudos que levaram a criar a sua aparência e personalidade, a ponto de até mesmo a cor e a textura de sua peruca terem sido analisadas cuidadosamente. 114 Embora pela época do surgimento do palhaço a marca McDonald's já dispusesse de um símbolo forte como os seus "arcos dourados", os estrategistas de marketing alegaram que a televisão exigiria um novo formato de imagem um símbolo que pudesse transmitir o discurso da marca de uma forma mais dinâmica e, consequentemente, mais divertida. Os arcos dourados, apesar de toda a sua popularidade, não conseguiam representar toda a “experiência” que deveria ser associada ao comer no McDonald‟s. Figura emblemática de uma era marcada pela busca da diversão a qualquer custo, Ronald surge, portanto, na década em que a sociedade americana já podia ser definida como uma “sociedade do entretenimento, do lazer, do espetáculo” (FONTENELLE, 2002, p. 229). Linguagem No mundo do McDonald‟s, tudo é relacionado com a palavra e com a idéia de sorriso e diversão. Ao entrar em quaisquer dos restaurantes, somos geralmente atendidos por funcionários sorridentes e, prestando atenção para a comunicação visual da empresa, incluindo website e vitrine de brindes do Ronald, todos os personagens sorriem. Ao pegarmos uma caixinha de McLanche Feliz e vermos o que comunica, com certeza encontraremos a palavra “divirta-se” ou “aproveite”, seja em relação às dicas saudáveis que recomenda, seja em relação aos brindes que o acompanha. Também, a palavra “Enjoy” ou “aproveite” está absolutamente associada à figura de Ronald McDonald, e, portanto, vinculada à marca. Lindstrom (2007, p.64) afirma que “Quanto mais forte for a personalidade da marca, mais focada será no ser humano e menos no produto, e maior será a facilidade do consumidor para associar palavras, frases e expressões à marca”. Sendo assim, não admira que a palavra “sorriso” e “enjoy” estejam diretamente relacionadas à marca McDonald‟s. Uma imagem de marca totalmente voltada à diversão e ao lazer proporcionado pela “experiência” de “momentos saborosos” dentro dos restaurantes está muito relacionada à sensação de sorrir e aproveitar a vida. Certamente, se a estratégia do McDonald‟s ainda fosse centrada no produto que oferece, o resultado dos esforços para associação com as expressões “sorrir”, “divertir-se” e “aproveitar a vida” seriam muito mais complicados. 115 Som O som é, com freqüência, subestimado pelas marcas. Aquelas que estabelecem alguma melodia como padrão acabam se tornando privilegiadas. A música tem o poder incomparável de penetrar na mente, e, silenciosamente, continuar se repetindo por muitas horas. De acordo com Lindstrom (2007), uma pesquisa realizada entre os consumidores do McDonald‟s revelou que o seu som é freqüentemente comparado ao som de crianças berrando e, em alguns casos, com o apito eletrônico do timer das frituras. Uma consideração nada agradável para a empresa, já que oportunidades neste sentido é o que não faltam. Poderíamos dizer que uma das maiores oportunidades perdidas pelo McDonald‟s ao longo do tempo foi a de não ter dado continuidade ao seu famoso jingle do Big Mac. A melodia se tornou muito conhecida entre os seus consumidores na época em que foi veiculada, mas os seus consumidores mirins de hoje a desconhecem. A cada troca de campanha, um novo jingle é lançado no mercado, e nenhuma música tradicional da marca se torna permanente. O slogan utilizado pela empresa, atualmente, é o “Amo Muito Tudo Isso”, antecedido por um ritmo “pa-ra-papa-pá...” que poderia ser explorado, a partir de agora, como o ritmo oficial do McDonald‟s para todas as campanhas que lançar. A mudança contínua na estratégia de sons acaba por não definir a identidade sonora da marca, e, nesse sentido, o McDonald‟s tem muitas oportunidades a explorar. Outra oportunidade que pode ser largamente aproveitada: a música do Rock do Ronald. O hit surgiu há três anos, e ensina as crianças a seguirem os passos da dança exercitada pelo Ronald, nas suas aparições nas lojas. Atualmente, foi incorporado em uma plataforma de atuação essencialmente sensorial que visa envolver as crianças no dia-a-dia dentro dos restaurantes, um espaço dedicado a elas onde se dedicam à atividades lúdicas. O envolvimento através do som gera familiaridade e fácil memorização, e, conforme vimos, a figura do Ronald facilita a associação a marca; esses são elementos que caracterizam o Rock do Ronald como uma imensa estratégia de aproximação e fidelização do público infantil, com imediata associação da música com o personagem e com a marca. 116 Navegação A navegação é, de forma resumida, a maneira como encontramos o caminho conhecido da marca, o seu grau de facilidade para ser explorado e utilizado, a zona de conforto oferecida por ela. Nesse sentido, podemos dizer que a navegação da marca McDonald‟s é muito forte. A padronização dos restaurantes da cadeia, no mundo todo, gera um nível de familiaridade e de conhecimento que, mesmo que desconheçamos o restaurante visitado, sabemos exatamente como é o seu funcionamento, a sua lógica interna e o que esperar dele. O layout das lojas, o posicionamento dos funcionários, a estrutura do balcão, da cozinha e dos salões, os produtos oferecidos, a ordem de apresentação, a combinação de vendas e as formas de comunicação como um todo são praticamente as mesmas em todos os restaurantes McDonald‟s do mundo. Além disso, a forte programação de navegação da marca McDonald‟s se estende aos seus websites, de tal maneira que o padrão é respeitado e a comunicação é igualmente eficaz: todos os canais de acesso são facilmente identificados. Podemos afirmar que a navegação pela marca McDonald‟s alcança o nível intuitivo. Assim, concluímos que o McDonald‟s atinge uma das suas principais promessas de marca, o de ser “acessível” e “fácil de usar”. Comportamento O comportamento também consiste na personalidade da marca. A maneira como a marca se apresenta para os seus consumidores, o seu estado de espírito, a forma de atendimento e de prestação de serviços é o indicador deste item da desconstrução. Os serviços McDonald‟s são reconhecidos por serem amigáveis e por estabelecerem uma conexão afetiva com o consumidor. Todos os funcionários têm um sorriso no rosto, mostram-se disponíveis para ajudar quando o cliente necessitar e, independentemente das suas atuações dentro do restaurante, cumprimentam os clientes na chegada e se despedem na saída. 117 Em conformidade com a imagem de diversão transmitida pela marca, os funcionários são orientados para aparentarem estar sempre dispostos e alegres, e devem dispensar um tratamento especial às crianças. Os funcionários que não obedecerem a estes parâmetros, não são considerados dentro do perfil da empresa. Devem, sempre que possível, encantar as crianças com um presente pelo qual não precisarão pagar. Para cumprir com este objetivo, a corporação criou recentemente um programa inteiramente dedicados às crianças: o Programa Mundo Feliz Ronald McDonald. O Programa Mundo Feliz consiste em uma plataforma que engloba desde o McLanche Feliz, o Ronald‟s Place, a McFesta e o Programa Anfitrião até os Shows do Ronald, visando aumentar a experiência do público consumidor nos restaurantes, transformando cada experiência dentro do McDonald‟s em um “momento inesquecível”. Os funcionários que são orientados exclusivamente para garantir a satisfação total dos clientes dentro dos restaurantes são chamados de Anfitriões, e, dessa maneira, passam a fazer parte do Programa Anfitrião. Neste programa, eles são treinados para desenvolver brincadeiras e atividades lúdicas e educativas junto às crianças, em um espaço destinado a elas dentro do próprio restaurante, chamado “Espaço Mundo Feliz”. Ali, realizam pinturas de rosto, esculturas de balões, pintura em lâminas de bandeja e diversas brincadeiras de roda, procurando envolver os pais em exercícios para estimular a diversão em conjunto, ou, caso prefiram, deixando que os pais descansem e façam as suas refeições tranqüilos enquanto os seus filhos brincam. Além destas atividades, os anfitriões também entregam para as crianças, de maneira personalizada, um presente por terem visitado a loja, que consiste em um folheto invariavelmente colorido e atraente, que pode ser ilustrado e informativo, mas que sempre as estimulam a interagir com o objeto destacando, dobrando, montando, pintando ou criando brincadeiras com as próprias mãos. São chamados de PDP‟s (já citados) e um exemplo é o famoso “Sorriso do Ronald”, com o qual muitos consumidores costumam tirar fotos. 118 Outra estratégia criada para aumentar as associações de diversão e magia com a marca foram as McFestas. As McFestas são festas de aniversário proporcionadas pelo McDonald‟s em um salão exclusivo, que contém as imagens dos personagens da McDonaldland, e são amplamente decoradas com motivos que aumentam a sensação de fantasia em relação à marca. Os funcionários que conduzem a festa são treinados para serem os verdadeiros promotores de alegria, que garantirão a “aura” que fidelizará as crianças ao McDonald‟s ao longo dos anos. Este serviço oferecido pelo McDonald‟s reforça a sua imagem e o seu comportamento como uma empresa preocupada em divertir os consumidores. Igualmente, o Show do Ronald segue a mesma estratégia como um poderoso mecanismo de associação de diversão com a marca. O Show traz pessoalmente a figura conhecida e desejada pelas crianças do mundo inteiro, o personagem-símbolo que cria a expectativa da vida alegre e fascinante na mente das crianças. Já comentamos o fascínio que Ronald McDonald exerce sobre o público infantil, e podemos considerá-lo como o melhor recurso da marca para ilustrar o padrão de comportamento desejado. Durante o Show, o personagem realiza uma série de brincadeiras que divertem e ensinam ao mesmo tempo, incluindo ginástica, mágicas e danças. Também, a sugestão do McLanche Feliz, uma combinação “bombástica” de sanduíche, bebida e surpresa, é uma das maiores estratégias de marketing que já foi criada para crianças. Um “pacote” com o qual ela pode saborear um lanche gostoso e, ainda, ganhar um brinde colecionável e de qualidade, representa, sem dúvida, a própria tradução de diversão. O comportamento do McDonald‟s, através de variadas ferramentas, apresenta-se, portanto, muito claro e consistente: o de uma marca alegre, divertida e dedicada às crianças. Serviço O serviço consistente é aquele que as empresas prometem como diferencial e efetivamente cumprem. Existem muitas oportunidades de oferecer mais do que os 119 clientes esperam, e o McDonald‟s é eficaz na sua promessa de ser rápido, cortês, limpo, conveniente, acessível e fácil de usar. Seu comprometimento com a agilidade na entrega dos pedidos tenta ser cumprido à exaustão, de modo que o atendimento ao cliente não deve ultrapassar o tempo de experiência total de 210 segundos, e a montagem do lanche na bandeja, em no máximo um minuto. De acordo com Fontenelle (2002, p.95), o padrão de serviço no McDonald‟s sempre visou garantir, em primeiro lugar, a rapidez no atendimento. Para isso, foram criados diversos instrumentos que pudessem agilizálo (como a espátula para colocar as batatas fritas no saquinho), além da especialização das tarefas de produção e atendimento final ao cliente, envolvendo uma complexa linha de montagem em que o fluxo das operações era estudado e cronometrado com esmero. A cordialidade também é um diferencial do atendimento. Todos os atendentes devem ser simpáticos, sorridentes e atenciosos, e devem conhecer os quatro principais perfis de clientes da empresa, para que os tratem da maneira mais personalizada e exclusiva possível. Essa estratégia foi criada, segundo Fontenelle (2002, p.96), porque “a eficiência da máquina deveria ser complementada com o „calor humano‟ de cada funcionário [...] por meio de um sorriso e de um atendimento amigável, pois uma série de trocas indiferente entre membros poderia ser enervante se não passasse de pura troca mecânica”, e completa afirmando que, dessa maneira, o cliente “não pode se sentir excitado, emocionado, com a experiência McDonald‟s”. No entanto, a agilidade do serviço, a oscilação de humor dos atendentes (a quase totalidade adolescentes) e a demanda de clientes às vezes impede que esse padrão de excelência se cumpra com consistência, mas percebemos que, de uma maneira geral, essa promessa é entregue com sucesso. A limpeza, outro fator de diferenciação, foi um dos maiores agregadores de valor na construção da marca McDonald‟s. Não só no preparo dos alimentos, mas também nos banheiros, no estacionamento e até nas redondezas em que se situa a loja. Fontenelle (2002) explica que Ray Kroc era um obcecado por limpeza, e, portanto, elevou a limpeza a um nível jamais visto nos restaurantes fast food: tratou de fazer os seus restaurantes um lugar que primaria pelo asseio, incluindo unhas limpas e cuidadas, uniforme limpo e passado, cabelos limpos e penteados. Para 120 Kroc, a filosofia freudiana de “limpeza, beleza e ordem” como sinônimo de vida civilizada era a base que nortearia o sucesso dos seus restaurantes. Tradição A tradição consiste nos hábitos que a marca conservou e que hoje são esperados pelos consumidores. Ou seja, aquilo que se tornou de costume, de praxe. Quando entramos em qualquer estabelecimento McDonald‟s, esperamos ser recepcionados com um funcionário sorrindo, que nos guiará em direção à menor fila e se mostrará à disposição para ajudar com as opções e variedades do cardápio. Provavelmente ele terá nas mãos uma prancheta com a comanda de pedidos, sugerirá a oferta do mês, e, se aceitarmos, também sugerirá um tamanho maior. Chegando ao caixa, veremos os funcionários que montam o pedido se deslocando pelo balcão em um ritmo conhecido, em uma rota igualmente conhecida. Nosso pedido será entregue com um olhar firme, um sorriso e um desejo de boa refeição. No caminho em direção às mesas, é esperado que estejam limpas. E, se caso qualquer produto da bandeja cair no chão, sabemos que haverá a reposição do produto sem que peçamos um novo ou tenhamos que pagar novamente. Este comportamento se tornou tradição por ser uma regra em qualquer estabelecimento McDonald‟s do mundo, seja ele no Brasil ou no Japão. É esperado um atendimento rápido e amigável em um ambiente limpo, que satisfaça e, na medida do possível, se antecipe às necessidades dos clientes. O comportamento citado, naquela ordem, caracteriza o McDonald‟s de uma maneira especial, podendo ser identificado mesmo na ausência de elementos visuais que indiquem sobre qual marca se trata. Ritual A maioria dos rituais tem origem nos consumidores. No McDonald‟s, é possível removermos qualquer ingrediente do lanche solicitado. Para isso, surgiram os sanduíches com o selo “Feito Especialmente Para Você”, que, no entanto, 121 sabemos que demoram mais para serem produzidos e o maior tempo de espera nas filas, portanto, é inevitável. Esta é uma cultura que não existia e que foi gradativamente cristalizada na empresa, de modo que hoje uma boa parte dos lanches são adaptados ao paladar de cada cliente. Assim, surgiram os sanduíches especiais que, na prática, representa a oportunidade aos clientes de personalizar o lanche ao seu gosto. Outro ritual que se construiu ao longo dos anos foi a idéia de que, para os jovens, McDonald‟s tem um sentido mais especial na presença de amigos. Assim, muitos jovens se reúnem entre amigos para freqüentar os restaurantes, com o objetivo de fazer da visita uma experiência mais prazerosa. Assim, uma ida ao McDonald‟s passa a figurar como um evento “temático” e uma oportunidade de reunião de amigos, o que reforça a sensação de lazer pelos consumidores. Todavia, a empresa tem muitas oportunidades nesse sentido. Poderia promover algum evento fixo que estivesse relacionado a esta tendência de reunir os amigos, em períodos programados semestralmente ou anualmente. Imaginamos que os consumidores esperariam por esta data para comemorar alguma coisa do seu interesse. A partir do momento em que esta cultura se estabelecesse entre os seus consumidores, de fato, se estabeleceria um ritual da marca. Sendo assim, percebe-se que a marca McDonald‟s se utiliza de boa parte do seu potencial estratégico para o apelo aos estímulos sensoriais, mas ainda tem muito a explorar. A criação do Programa Mundo Feliz veio para estimular ainda mais o envolvimento do público infantil com a marca, através dos cinco sentidos, e consolidar a imagem da marca como promotora de diversão e lazer para estes consumidores – o público adulto fiel de amanhã. Observa-se uma necessidade cada vez maior de explorar, de maneiras criativas e diferenciadas, o potencial de atração dos serviços e dos produtos por parte da empresa, já que os comerciais televisivos (que outrora enfatizavam muito mais a imagem do Ronald McDonald para atrair do que hoje em dia), por si só, já não garantem recursos necessários e credibilidade suficiente para gerar fidelização e sustentar a marca. E estes recursos diferenciados e criativos, segundo Lindstrom 122 (2007, p.82) encontram muitas lacunas que podem ser preenchidas, quando afirma que “McDonald‟s é a marca que, entre as 100 da Fortune, representa o maior conflito sensorial”. 123 CONSIDERAÇÕES FINAIS Através da compilação de dados documentais a respeito da organização McDonald‟s, bem como o levantamento bibliográfico necessário para sustentar a hipótese levantada pela pesquisa, observamos que os objetivos propostos foram contemplados. O objetivo central da pesquisa foi investigar até que ponto o apelo aos cinco sentidos, utilizado em alguma medida na estratégia de construção e desenvolvimento da marca McDonald‟s, é determinante para criar reconhecimento de marca e fidelizar os seus consumidores. Para tanto, fez-se necessário, antes, compreendermos que outras estratégias adotadas pelo McDonald‟s também influenciaram nestes resultados ao longo da sua história, para que a análise acerca da importância da participação do sensorial na estratégia fosse viabilizada, e a hipótese da pesquisa confirmada. Os capítulos anteriores procuraram contemplar, com atualidade, a dimensão da influência da gestão estratégica de marcas sobre a percepção de qualidade e de valor pelos consumidores, no sentido de investigar o quanto qualquer marca bem trabalhada, galgada em princípios fundamentais de marketing, é capaz de impactar na decisão de compra e no seu reconhecimento pelas pessoas. Depois, procuramos avaliar em que peso o marketing subliminar e as comunicações despercebidas, captadas pelos sentidos humanos, trazem diferenciação para a marca e seduzem os seus consumidores de modo a conquistar a sua preferência e lealdade. Assim, confirmamos o nosso objetivo último: a importância da utilização do apelo sensorial para a construção de marcas na atualidade. Os resultados da pesquisa evidenciaram que a marca McDonald‟s possui uma trajetória de sucesso desde o seu princípio, por diversas razões. Primeiro, porque ficou atenta ao contexto histórico em que se inseria (o advento dos automóveis e o sistema de produção fordista, que viabilizou a produção em série), acompanhando o seu desenvolvimento e adaptando-se às novas necessidades e desejos do seu público consumidor. A partir desta adequação, aprimorou o sistema drive-in para o sistema drive-thru, que atendeu com sucesso à nova tendência de rapidez no 124 atendimento. Depois, porque foi a primeira do seu segmento em soluções que afetaram definitivamente a satisfação dos consumidores, com a preocupação excessiva em torno dos produtos que oferecia, da limpeza do ambiente de consumo que diferia das demais lanchonetes da sua época, da rapidez do serviço que atendeu às novas demandas e do valor agregado que entregava aos clientes. Em terceiro lugar, porque delineou bem a sua imagem de marca e transmitiu com eficiência o que desejava refletir, através de ícones, serviços e posturas que indicam uma empresa com ambiente familiar, que prima pela ordem, pela segurança e que se dedica de maneira especial às crianças. Em quarto lugar, porque adquiriu consistência e padronização de todas as suas unidades, o que conquistou credibilidade, familiaridade e sensação de segurança e conforto por parte dos consumidores. Pudemos observar, também, que a marca McDonald‟s segue à rigor os elementos que compõem o mix de marketing, que por si só levam a marca a um nível de organização e de concordância entre aquilo que promete e aquilo que oferece, destacando os seus diferenciais e aumentando a superioridade dos seus produtos e serviços em relação à concorrência. Outro fator importante: a marca procura satisfazer todos os níveis das necessidades humanas propostos através da hierarquia de Maslow, atendendo às necessidades fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e de auto-realização dos seus consumidores, o que contribui para elevar a marca a uma categoria superior no sentido de preferência e de lealdade. Ainda no que se refere à psicologia do consumidor, o McDonald‟s soube criar muito bem as associações que refletissem a sua imagem de marca, através do clown Ronald McDonald e sua turma, do ambiente familiar que o destacou das demais lanchonetes da época, da atitude dos vendedores quase sempre atenciosos, simpáticos e sorridentes e da decoração alusiva à diversão, à magia e ao entretenimento que a empresa proporciona. Pudemos identificar as associações positivas que contribuíram para o reconhecimento da marca. No entanto, muitas associações negativas se evidenciaram em relação aos seus produtos gordurosos e nocivos à saúde, em um cenário polêmico em que a empresa sofria duras críticas como sendo a principal responsável pela epidemia de obesidade nos EUA. Em 125 conformidade com as tendências comportamentais da sociedade, sabemos que a empresa re-posicionou a sua imagem de marca como sendo responsável e preocupada com a saúde dos seus consumidores. Para tanto, ampliou o seu cardápio, reformulou os seus produtos, criou programas que vinculassem sua imagem a uma vida saudável e ativa, faz parcerias com celebridades esportivas e passou a inserir tabelas contendo informações nutricionais nas lâminas de bandeja, nas embalagens, em quadros afixados nas paredes e em guias para serem distribuídos aos clientes. Através deste exemplo, pudemos concluir que a empresa continua caminhando ao lado das mudanças e se adequando às dinâmicas necessidades e desejos do público-alvo em tempo hábil. Também pudemos concluir que a maioria dos elementos sensoriais presentes na construção da marca McDonald‟s, quando avaliados separadamente, tem uma personalidade independente capaz de ser reconhecidas sem que o logotipo ou o nome da marca os identifiquem. Através do estudo, fomos capazes de observar que os elementos constitutivos iconográficos da marca McDonald‟s se integram plenamente, alinhados em uma padronização que cria consistência e gera reconhecimento em qualquer lugar do mundo. O logotipo vale-se de uma partícula poderosa, capaz de identificar qualquer elemento a ela justaposta como sendo pertencente ao McDonald‟s. Assim, um suposto McTênis, mesmo que não possua relação alguma com a cadeia de restaurantes, nem nunca tenha sido comercializado pela empresa, é dedutivamente associado ao McDonald‟s. Isto proporciona uma facilidade incrível de extensão de marca, o que também impacta na redução de custos para propaganda. No entanto, enquanto o nome da empresa se apresenta como um elemento sensorial auditivo e visual forte que pode ser automaticamente associado à empresa, o símbolo “M” para o McDonald‟s não deixa dúvidas. Os Arcos Dourados é a clara representação da empresa, podendo despir-se de qualquer outra referência à marca para ser identificada e reconhecida. Esta força se manteve pela consistência na utilização do símbolo – em tudo o que for possível – que se manteve praticamente inalterado desde que foi concebido. 126 Ao realizarmos uma análise aprofundada de cada elemento sensorial da marca, dentro da capacidade perceptual de cada sentido humano, fomos capazes de identificar que a marca, consciente ou não, propositalmente ou não, desenvolveu o seu potencial estratégico sensorial para a atração, sedução e fidelização dos seus consumidores. A avaliação da marca sob a óptica de Martin Lindstrom (2007) revelou que a marca McDonald‟s possui uma imagem muito consistente, forte e passível de desconstrução. Os cuidados com as embalagens, elaboradas para transmitir a idéia de que o hambúrguer que está ali dentro é algo quase sagrado; a arquitetura projetada para remeter à idéia de um espaço para o lazer; as bandeirinhas que fazem alusão ao universo da alegria e magia circense; o clown Ronald McDonald e sua turma, que representa próprio ícone da alegria; a combinação das cores vermelha e amarela em quase tudo o que se refere à empresa, provocando reações fisiológicas e psicológicas diversas nos consumidores; a utilização do prefixo “Mc” na quase totalidade dos elementos constituintes da marca, criando uma identidade exclusiva; os Arcos Dourados, que imediatamente identificam a empresa no mundo inteiro; a acessibilidade e a fácil navegação, que permitem que a empresa seja muito fácil de usar; a padronização estética e funcional dos restaurantes da cadeia, programados para ser familiar, que gera reconhecimento mesmo sem qualquer referência ao nome e aos produtos, e mesmo que sejamos deslocados até uma de suas lojas de olhos vendados. Através de muitos sinais, é observável que a marca McDonald‟s transmite, desde sempre, o ideal de um lugar de diversão, de entretenimento e de felicidade incomparável, onde tudo é relacionado com a idéia de sorriso, de “folga” e de bem-estar. Entretanto, o planejamento estratégico da marca, considerando a programação sensorial, ainda tem muito a ser pensado em relação aos elementos som, olfato e ritual. O potencial da marca para atrair através de um som próprio, de um cheiro agradável e de um ritual que se repita de tempos em tempos é bastante considerável. Ao final do trabalho, pudemos concluir que o sucesso obtido pela marca e o fetichismo que permeia em torno de si é o resultado da trajetória de muitos acertos trilhada ao longo dos anos, em que também pesaram a criação de elementos que evocam os sentidos e que seduzem os consumidores para a marca. E também somos capazes de afirmar que a sensorialidade presente na sua construção 127 estratégica é o aspecto que, atualmente, apresenta-se como o principal diferencial da marca em relação às demais, levando em consideração o atual cenário de marcas crescendo em volume no mercado e a ineficiência da publicidade tradicional para promovê-las com sucesso. Sendo assim, sustentamos que os aspectos sensoriais explorados pela marca são determinantes para a atração de novos consumidores, revelando-se uma estratégia – agora mais do que nunca – promissora para a marca moderna e que deverá fazer parte, cada vez mais, da sua essencial personalidade única. Consideramos, finalmente, que apesar dos objetivos determinados terem sido alcançados através da presente pesquisa, esta se trata de um estudo introdutório que poderá servir de estímulo para outros do mesmo gênero. Para uma compreensão mais aprofundada e a obtenção de respostas mais sólidas a respeito do assunto marcas e percepção sensorial, sugerimos a realização de novos estudos que investiguem e comparem as diversas percepções que os consumidores têm em relação à marca, relacionadas aos aspectos explorados no nível emocional que apelam para os cinco sentidos para a capacidade de atrair, fascinar, seduzir e fidelizar clientes. 128 REFERÊNCIAS AAKER, D.A. Marcas: brand equity, gerenciando o valor da marca. São Paulo: Negócio Editora, 1998. BARROS, L. A cor no processo criativo: um estudo sobre a Bauhaus e a teoria de Goethe. São Paulo: Editora Senac, 2006 BERRY, L. L.; PARASURAMAN, A. Serviços de marketing: competindo através da qualidade. 3. ed. São Paulo: Maltese, 1995. CALAZANS, F.M.A. Propaganda subliminar multimídia. São Paulo: Summus, 1992. CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Campus, 1999. CHURCHILL, G. A.; PETER, J. P. 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