PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS SUMÁRIO 1

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PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS
SUMÁRIO
1 - Conceito e formas de participação.......................................................... 02
2 - O programa de Participação nos Lucros e Resultados......................... 03
3 - Histórico do sistema................................................................................. 04
4 - Introdução no Direito Brasileiro............................................................... 05
5 - Natureza jurídica........................................................................................ 06
5.1. - Auto aplicabilidade da primeira parte do inciso XI do art. 7º
da CF/88................................................................................................... 07
5.2. - Natureza jurídica da participação nos lucros ou resultados
e não incidência da Contribuição previdenciária................................ 09
6 - Disposição Legal....................................................................................... 12
8 - Defesa e crítica à Participação nos Lucros............................................. 15
9 - A Medida Provisória regulamentadora................................................... 18
10 - Emendas apresentadas........................................................................... 18
11 - Participação ou flexibilização............................................................... 18
12 - Urgência e relevância............................................................................. 19
13 - Objetivos.................................................................................................. 20
14 - Participação dos sindicatos................................................................... 20
15 - Abrangência............................................................................................. 21
16 - Formas de solução de conflitos e sanção........................................... 22
17 - Os riscos de se pagar o PLR de forma aleatória.................................. 22
18 - Efeitos fiscais........................................................................................... 23
18.1 - Os principais aspectos fiscais............................................................ 24
Referências...................................................................................................... 25
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PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS
1- CONCEITO E FORMAS DE PARTICIPAÇÃO.
Inúmeros autores já se lançaram na tentativa de formular um conceito de
participação nos lucros. As definições não são muito díspares, guardam
apenas diferenças de concepções que cada autor reputa do sistema.
A mais antiga definição foi aprovada no Congresso Internacional de
Participação nos Lucros, realizada em Paris, em 1889. Atribui-se a
participação a seguinte definição: ”Convenção, livremente feita, pela qual os
empregados recebem parte, prefixada, dos lucros”.
Georges Bry definiu participação como: “uma modalidade do contrato de
trabalho pelo qual o assalariado recebe do empregador um acréscimo salarial,
uma parte dos lucros da empresa, não como sócio, mas como trabalhador
cooperante da produção”.
No Brasil, Nélio Reis asseverou que, “participação nos lucros é a
convenção no contrato pela qual o trabalhador tem direito a receber o salário
consistente de uma parte fixa, outra variável, previamente determinada, e
calculada sobre o lucro da empresa”.
Analisando hoje o instituto frente as recentes experiências práticas e
mesmo legislativas, vê-se que essas três definições não mais contemplam a
amplitude que esse direito ganhou nas constituições modernas.
O conceito mais abrangente, e talvez que se aproxima do texto da
Constituição, é o formulado por Cesarino Júnior. Segundo o autor, participação
nos lucros é: “atribuição facultativa ou obrigatória pelo empregador ao
empregado, além do justo salário legal ou convencionalmente a ele devido, de
uma parte dos resultados líquidos exclusivamente positivos da atividade
econômica da empresa”.
Um conceito satisfatório do instituto deve, naturalmente, pautar-se pelos
princípios e regras inseridas em nossa Constituição, não somente observando
o dispositivo garantidor do direito, mas todas as demais normas que dão
harmonia às opções políticas do legislador constituinte.
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No que tange as formas de participação nos lucros, as experiências
práticas são as mais ricas, que sequer os autores dão conta de classificá-las
adequadamente. Não há uma fórmula geral que seja amplamente aceita.
As três formas mais conhecidas de participação são: a) direta: planos de
participação em salário fixo, em dinheiro; b) indireta: planos de participação em
ações ou quotas das empresas; c) mista: combinação das formas direta e
indireta.
Hoje há inegável tendência em definir participação nos lucros como
sinônimo de salário variável, sem encargos, tudo orientado para a flexibilização
das relações de trabalho em proveito da livre iniciativa. Mas essa tendência
deve ser vista com ressalvas, posto que a Constituição preconizou como
princípio fundamental do Estado, ao lado da livre iniciativa, os valores sociais
do trabalho (art. 1º, IV, da CF/88).
2 - O PROGRAMA DE PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS.
O Programa de Participação nos Lucros e Resultados é um tipo de
remuneração variável, uma ferramenta, bastante utilizada pelas empresas,
mundialmente, que auxilia no cumprimento das estratégias das organizações.
Também conhecido como PLR, esse programa visa o alinhamento das
estratégias organizacionais com as atitudes das pessoas dentro do ambiente
de trabalho, pois só será feita a distribuição dos lucros aos funcionários casos
algumas metas pré-estabelecidas sejam cumpridas.
A Participação nos Lucros ocorre quando os funcionários têm direitos à
parte do resultado econômico da atividade fim da empresa, ou seja, (vendas –
custos e despesas operacionais), sejam elas fixas ou variáveis, apuradas
semestralmente ou anualmente. Já a Participação nos Resultados visa
estabelecer metas sobre os resultados e implica o alcance de objetivos já
combinados desde a proposta de implantação, ou seja, metas de vendas
redução de devolução de mercadorias entre outros.
O programa é na verdade o vínculo, um elo entre esses dois tipos de
programas acima representados, ou seja, é o pagamento aos funcionários
devido a resultados planejados tais como, que requer esforços de superação,
assim como maior nível de participação das equipes e dos funcionários.
Costa (1997) salienta que é “imprescindível estabelecer a existência de
lucro como condicionante financeira para a distribuição da quantia aos
profissionais caso atinjam as metas”, porém, caso se busque a redução de
prejuízos, então se poderá traçar tal intenção como meta.
Motivos para implantar o PLR:
 Incentivo de colaboradores a comprometer-se cada vez mais com os
objetivos da empresa
3



Gerar melhores resultados organizacionais através de parceria entre
empresa e funcionário
Recompensa os colaboradores pela superação e performance aplicada
na busca dos resultados organizacionais.
É isento de Tributação (INSS, FGTS e IRRF)
Existem algumas práticas errôneas e até mesmo ilegais nestes programas
de participação nos lucros, uma dessas práticas mais comum, é quando um
determinado valor é negociado através de acordo ou convenções coletivas e
posteriormente e pago esse valor já combinado ao empregado. Essa prática é
totalmente ilegal e tem sua legalidade prevista no art 2° da lei n° 10101, de
19/12/2000.
Art. 2° – Será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados
mediante procedimentos escolhidos de comum acordo.
Portanto não havendo a prática deste procedimento, é caracterizado
pagamento de gratificação ou premiação não sendo assim isento dos impostos
(INSS, FGTS e IRRF), inclusive a integração nos reflexos trabalhistas (13
salario, férias, DSR, Aviso Prévio).
3 - HISTÓRICO DO SISTEMA.
Os autores não são acordes em fixar a data em que se deu a primeira
experiência de participação nos lucros. Alguns indicam que foi Napoleão
Bonaparte, quem, em 1812, concedeu participação nos lucros aos artistas da
Comédien Française. No entanto, a maioria aponta como precursor o francês
Edmé-Jean Leclaire, que em 1842 ou 1843, introduziu a participação nos
lucros aos empregados de sua uma fábrica de tintas.
O sistema passou a ser praticado em empresas de países europeus
desde o século XIX. Um estudo realizado, dava conta que até 1917, havia a
prática de participação nos lucros em 136 empresas da Inglaterra, 114 da
França e 30 da Alemanha.
A igreja católica inclui o tema em várias encíclicas papais, incentivando a
participação dos empregados nos lucros como mecanismo para diminuir as
desigualdades sociais impulsionadas pelo capitalismo então em expansão. A
defesa do sistema feito pela Doutrina Social Católica foi decisiva na instituição
de mecanismos de participação nos lucros.
A prática da participação nos lucros se difundiu neste século, mormente
após a segunda grande guerra. No entanto, na maioria desses países não há
legislação regulamentando a matéria. Sua instituição decorre da tradição e do
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costume regional. Países como a Bélgica e a Holanda, por exemplo, a adotam
via Contrato Coletivo de Trabalho.
Mas a primeira constituição a incluir a participação nos lucros foi a
mexicana, em 1917, que a disciplinou, juntamente com outros direitos sociais.
Curioso é que a Organização Internacional do Trabalho – OIT, jamais a
disciplinou em suas Convenções e Recomendações.
Na Ásia, nos chamados tigres asiáticos (Coréia, Singapura, Hong Kong,
Malásia, Indonésia, Taiwan e Tailândia), as modalidades de participação nos
lucros e resultados são largamente utilizadas, sem que haja qualquer
legislação regulamentadora. Esses países convivem, na verdade, com uma
ampla desregulamentação da contratação do trabalho.
Por outro lado, há inúmeros países onde a participação nos lucros é
regulamentada, porém é facultativa a sua concessão. É o caso de Portugal,
Itália, Reino Unido, Suíça, Espanha, Uruguai, Panamá, Argentina e Estados
Unidos. No México, Chile, Peru e Venezuela, a distribuição é obrigatória. Na
França a distribuição de lucros é obrigatória apenas para empresas com mais
de 100 (cem) funcionários.
4 - INTRODUÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO.
A primeira tentativa de instituição da participação nos lucros no Brasil se
deu em 1911, através de um projeto de lei, o qual não veio a ser aprovado. Até
a década de 50, mais ou menos, já havia no Brasil o costume em algumas
empresas de distribuir lucros aos seus empregados, que à época
denominavam interesses.
Tanto é que a CLT, que é de 1943, chegou a tratar a matéria no capítulo
da duração do trabalho: “Não haverá distinção entre empregados e
interessados, e a participação em lucros e comissões, salvo em lucros de
caráter social, não exclui o participante do regime deste capítulo” (art. 63).
Contudo, a participação nos lucros somente se integrou ao nosso direito
pela Constituição de 1946, embalado pelo clima democratizante que vivia
nosso país, através de proposta do deputado Paulo Sarazate. O art. 157, IV, da
dispunha que:
“Art. 157. A Legislação do Trabalho e da Previdência
Social obedecerão aos seguintes preceitos, além de
outros que visem à melhoria da condição dos
trabalhadores: IV – participação obrigatória e direta dos
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trabalhadores nos lucros da empresa, nos termos e pela
forma que a lei determinar”.
Sem dúvida a principal característica desse modelo era a obrigatoriedade
da participação nos lucros. Não contemplava também a participação em
resultados.
Na Constituição de 1967, no auge do regime militar, a participação nos
lucros foi mantida, embora a redação tenha sido alterada para adequar-se à
filosofia do regime. Manteve-se a mesma redação do caput do art. 157 da
Constituição de 1946, o inciso V, agora do art. 158, tinha seguinte redação:
”integração do trabalhador na via e no desenvolvimento da empresa, com
participação nos lucros, e excepcionalmente, na gestão, segundo for
estabelecido em lei”. Essa mesma redação foi mantida pela emenda nº 1, de
1969.
Com a mudança introduziu-se a idéia de integração do trabalhador na
vida e no desenvolvimento da empresa, indicando, assim, os objetivos da
participação nos lucros.
A atual Constituição, por sua vez, assegurou em seu art. 7º, ao lado de
outros direitos dos trabalhadores: ”participação nos lucros ou resultados,
desvinculada da remuneração e, excepcionalmente, participação na gestão da
empresa, conforme definido em lei”.
Todas as tentativas de regulamentação dos dispositivos constitucionais
não tiveram êxito. O direito à participação nos lucros sempre foi uma promessa
e uma esperança ao trabalhador. A instituição do PIS e do PASEP em 1970
(Leis Complementares de nº. 7 e 8), não constituía programa de participação
nos lucros, como alguns autores se pronunciaram. Sua característica era de
formar um fundo para aumento da renda nacional. De resto, tanto o PIS como o
PASEP, foram revogados pela atual Constituição, sendo seus recursos
destinados a manter o programa de Seguro-Desemprego (art. 238).
5 - NATUREZA JURÍDICA.
O legislador constituinte, procurando incentivar as empresas em geral a
repartir seus lucros ou resultados com os trabalhadores, como meio de
encontrar o justo equilíbrio entre o capital e o trabalho, de um lado, assegurou
aos empregados a participação nos lucros ou resultados e, de outro lado,
desvinculou o produto dessa participação nos lucros ou resultados da
remuneração para efeitos trabalhista e previdenciário. Trouxe benefícios, tanto
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aos empregados com a possibilidade de percepção de lucros ou resultados,
como às empresas que se viram livres de encargos trabalhista e previdenciário.
De fato, prescreveu a Constituição Federal em seu art. 7º, inciso XI:
‘Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais,
além de outros que visem a melhoria de sua condição
social:
..............................................................
XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada
da remuneração, e excepcionalmente, participação na
gestão da empresa, conforme definido em lei.'
A regulamentação desse inciso XI veio com a Medida Provisória nº 794,
de 29 de dezembro de 1994, reeditada ao longo dos cinco anos, até que a de
nº 1.982, de 23 de novembro de 2000, converteu-se na Lei nº 10.101, de 19 de
dezembro de 2000.
Verifica-se o texto constitucional retrotranscrito que se trata de garantia
fundamental do trabalhador, insusceptível de supressão por Emendas (art. 60,
§ 4º, IV da CF). Em torno desse inciso XI duas correntes formaram-se na
doutrina e na jurisprudência como veremos no tópico seguinte.
5.1. - AUTO APLICABILIDADE DA PRIMEIRA PARTE DO INCISO XI DO
ART. 7º, da CF/88.
Seguindo a orientação doutrinária acerca dos direitos fundamentais,
parcela da doutrina e da jurisprudência consideram auto-aplicável a primeira
parte do inciso XI sob exame. Apenas a participação dos trabalhadores na
gestão da empresa estaria na dependência de regulamentação.
Segundo essa corrente, a regulamentação eventual de norma
constitucional auto-aplicável deve ser feita com muita cautela, a fim de não
extrapolar os limites da constitucionalidade, pois norma da espécie contém
estrutura que basta a si mesma prescindindo de qualquer complementação.
E mais, mesmo as chamadas normas de eficácia contida, desde que
entram em vigor, devem ser aplicadas até onde possam. É o caso da
desvinculação da participação nos lucros ou resultados da remuneração devida
aos empregados. O preceito constitucional que a desvincula da remuneração é
'norma cheia'. O que a Constituição desvinculou, desvinculado continuará. O
legislador ordinário não poderia promover a sua vinculação parcial ou total à
remuneração, sob pena de ferir a literalidade do texto constitucional, que
expressa um conceito unívoco.
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Nesse sentido decidiu o Colendo STJ no Resp nº 283.512, Rel. Min.
Franciulli Netto:
‘EMENTA.
RECURSO
ESPECIAL.
ALÍNEA
‘A'.
TRIBUTÁRIO.
SALÁRIO-DECONTRIBUIÇÃO. VERBAS PERCEBIDAS PELOS EMPREGADOS A TÍTULO
DE PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS. NÃO INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA. ARTIGO 7°, INCISO XI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
NORMA DE EFICÁCIA CONTIDA, APENAS EM PARTE. ART. 28, § 9°, LETRA
‘J', DA LEI N. 8.212/91.’
RECURSO NÃO CONHECIDO.
A questão merece ser apreciada no âmbito exclusivamente
infraconstitucional, notadamente à luz do art. 28, § 9°, letra ‘j', da Lei nº.
8.212/91, com observância do inciso XI, do artigo 7°, da Carta Magna.
Deve prevalecer o entendimento segundo o qual a análise da aplicação
de uma lei federal não é incompatível com o exame de questões
constitucionais subjacentes ou adjacentes. A competência somente seria
deslocada para a Máxima Corte se a v. decisão recorrida tivesse julgado o feito
única e exclusivamente sob o prisma constitucional, o que se não verifica na
espécie.
A letra fria desse dispositivo da Carta Maior embora não totalmente autoaplicável ou de eficácia contida, é plenamente eficaz num ponto, mesmo antes
da Medida Provisória n. 794/94, de 29 de dezembro de 1994, ou seja, no que
diz respeito à desvinculação entre participação nos lucros e remuneração do
trabalhador.
Recurso não conhecido. (DJ de 31-03-2003, p. 190).
Entretanto, há uma corrente doutrinária em sentido oposto, ou seja, não
só a participação nos lucros ou resultados, como também a própria
desvinculação desta da remuneração depende de regulamentação. Essa
corrente tem apoio em duas decisões monocráticas do STF, adiante referidas,
proferidas com base no suposto entendimento manifestado pelo Plenário
daquela Corte nos atos do Mandado de Injunção nº 102 impetrado pelo
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pombos (Rel. p/ acórdão Min. Carlos
Velloso, DJ de 25-10-2002).
De fato, no RE 380.636-SC, de que foi Relator o Min. Gilmar Mendes,
chegou a afirmar que a ‘regulamentação do art. 7º, XI da Constituição somente
ocorreu com a edição da Medida Provisória nº 794, de 1994, que implementou
o direito dos trabalhadores na participação nos lucros da empresa. Desse
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modo, a participação nos lucros somente pode ser considerada desvinculada
da remuneração (art. 7º, XI da Constituição Federal) após a edição da citada
Medida Provisória' (DJ de 24-10-2005, p. 0057).
No RE 351.506-RS de que foi Relator o Min. Eros Grau, também, ficou
decidido:
‘Conforme se infere dos votos proferidos no Mandado de Injunção 102-PE,
Plenário, DJ de 25.10.2002, Redator para o acórdão o Ministro Carlos Velloso,
somente com a superveniência da Medida Provisória nº 794, sucessivamente
reeditada, foram implementadas as condições indispensáveis ao exercício do
direito dos trabalhadores no lucro das empresas. Dessa maneira, embora o
inciso XI do artigo 7º da Constituição assegurasse o direito dos empregados à
participação nos lucros da empresa e previsse que essa parcela – participação
nos lucros – é algo desvinculado da remuneração, o exercício desse direito não
prescindida de lei disciplinadora que definisse o modo e os limites de sua
participação, bem assim a natureza jurídica dessa benesse, quer para fins
tributários, quer para fins de incidência de contribuição previdenciária' (DJ de
04-03-2005, p. 0083).
Verifica-se, entretanto, que no invocado Mandado de Injunção o Plenário
da Corte Suprema não chegou a examinar o mérito do pedido, julgando
prejudicada a ação conforme ementa do V. Acórdão:
‘Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e
das notas taquigráficas, por votação majoritária, reconhecer a legitimidade ativa
da entidade sindical para impetrar mandado de injunção coletivo, vencido o
Ministro Relator. Prosseguindo no julgamento, o Tribunal, também por votação
majoritária, julgou prejudicada a ação de mandado de injunção, em face da
superveniência de medida provisória disciplinando o art. 7º, inciso XI, da
Constituição Federal, vencido o Ministro Sepúlveda Pertence. (MI nº 102, Rel.
p/ Acórdão Min. Carlos Velloso, DJ de 25-10-2002).
Ora, difícil concluir que essa decisão do Plenário firmou a tese da
negativa de auto-aplicação de preceito constitucional concernente à
participação dos empregados nos lucros ou resultados, principalmente no que
diz respeito à desvinculação do produto dessa participação da remuneração
devida ao trabalhador.
5.2. - NATUREZA JURÍDICA DA PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS OU
RESULTADOS E NÃO INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA.
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Transcrevamos novamente o inciso XI do art. 7º da Constituição Federal
para melhor exame:
‘XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada
da remuneração, e, excepcionalmente, participação na
gestão da empresa, conforme definido em lei;’
Como se verifica, a Constituição Federal excluiu, de forma expressa, a
natureza remuneratória das participações dos empregados nos lucros ou
resultados auferidos pela empresa.
Ora, se a PLR está excluída do conceito de remuneração, por óbvio, a
contribuição social de que trata o art. 195, I, ‘a’, da CF/88 incidente sobre a
‘folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a
qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício', não poderá levar em conta aquela PLR na definição do fato
gerador da contribuição previdenciária, nem integrar o aspecto quantitativo
desse fato gerador. Em outras palavras, a participação nos lucros ou nos
resultados não poderá servir de suporte fático da tributação. A participação nos
lucros ou resultados é, por assim dizer, fato não jurígeno em termos de direto
tributário.
É certo que cabe ao legislador infra-constitucional definir o fato gerador
dos tributos, mas é certo, também, que essa definição legal há de ser feito nos
termos desenhados pela Carta Política, não podendo desrespeitar as
limitações constitucionais ao poder de tributar. E uma dessas limitações é
exatamente a imunidade tributária. Não importa a denominação ‘imunidade',
‘isenção', ‘não-incidência', ou quaisquer outros vocábulos ou termos utilizados
na Constituição Federal. Basta simples exame dos textos constitucionais para
verificar que o legislador constituinte utilizou-se de diferentes expressões, ao
estatuir, dentre outras, as seguintes imunidades: a imunidade de custas
judiciais na ação popular (art. 5º, LXXVIII, da CF); a imunidade de taxas, aos
reconhecidamente pobres, para expedição de registro civil de nascimento e de
óbito (art. 5º, LXXVI, ‘a’ e ‘b’, da CF); a imunidade de taxas nas ações de
habeas corpus e habeas data (art. 5º, LXXVII, da CF); imunidade recíproca (art.
150, VI, ‘a’, da CF); imunidade genérica dos partidos políticos, das instituições
de educação e de assistência social, dos sindicatos, dos templos e do livro (art.
150, VI, ‘b’ e ‘c’ ,da CF); imunidade do IPI (art. 153, § 3º, III, da CF); imunidade
do ITR sobre pequenas glebas rurais (art. 153, § 4º, da CF); imunidade das
contribuições sociais (art. 195, § 7º, da CF); imunidade do IVMS em relação ao
ouro como ativo financeiro ou instrumento cambial (art. 15r, X, ‘c’, c.c art. 153,
§ 5º, da CF) etc.
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O importante é que as imunidades externam vedações absolutas ao
poder de tributar certas pessoas (subjetivas) ou certos bens (objetivas), ou
ainda, uns e outros. Conceituamos a imunidade como uma limitação
constitucional ao poder de tributar. Por isso, são inconstitucionais as leis
ordinárias que afrontam a imunidade.
No caso sob exame, o legislador constituinte, objetivando incentivar as
empresas a repartirem seus lucros ou resultados com os seus empregados,
promovendo a ‘socialização dos lucros' como meio de alcançar o justo
equilíbrio entre o capital e o trabalho, prescreveu no inciso XI do art. 7º da
Carta Política, que a PLR fica desvinculada da remuneração. Em outras
palavras, retirou do campo do exercício da competência impositiva prevista no
art. 195, I, ‘a’, da CF tudo o que for pago pela empresa a título de participação
nos lucros, ou resultados.
Forçoso é concluir que o inciso I do art. 22, da Lei nº 8.212/91, que define
a contribuição a cargo da empresa em ‘vinte por cento sobre o total das
remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês,
aos segurados empregados ...', há de ser interpretado com a exclusão das
parcelas correspondentes à participação nos lucros ou resultados. A PLR, uma
vez imunizada pela Constituição, jamais poderia integrar a base de cálculo da
contribuição previdenciária, sem gravíssima ofensa ao texto constitucional.
Ainda que pudesse, em tese, sustentar que a obrigatoriedade da empresa
de promover a distribuição do lucro ou resultado a seus empregados somente
surgiu com o advento da MP nº 794/94, o certo é que o montante pago
voluntariamente pela empresa antes dela, a título de participação nos lucros ou
resultados, jamais poderia integrar a base de cálculo da contribuição
previdenciária, porque imunizada pela Carta Política. Afinal, a exclusão da
participação nos lucros ou resultados do conceito de remuneração não é algo
que dependa de definição legal. Desde que os lucros ou resultados do
exercício sejam distribuídos entre empregados da empresa, por meio de
critérios objetivos, o respectivo montante fica ipso fato excluído do conceito de
remuneração, base de cálculo da contribuição previdenciária.
Nesse sentido veio prescrever o § 3º, do art. 3º, da Lei nº 10.101/2000:
§ 3º Todos os pagamentos efetuados em decorrência de planos de
participação nos lucros ou resultados, mantidos espontaneamente pela
empresa, poderão ser compensados com as obrigações decorrentes de
acordos ou convenções coletivas de trabalho atinentes à participação nos
lucros ou resultados.
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Esse parágrafo, na verdade, parte do princípio da auto-aplicabilidade da
primeira parte do inciso XI do art. 7º, da CF/88 ao permitir a compensação dos
pagamentos espontaneamente feitos pela empresa, a título de participação nos
lucros e resultados, com as obrigações decorrentes de acordos ou convenções
coletivas de trabalho atinentes a participação nos lucros ou resultados.
Na mesma esteira da Constituição (art. 7º, XI), a MP deixa claro que a
participação não tem natureza salarial, estando isenta de incidência de encargo
trabalhista e previdenciário (art. 3º). A maioria dos autores já defendia que o
próprio dispositivo constitucional possui eficácia plena e, portanto,
havia excluído da remuneração a participação nos lucros, e que era
desnecessário a regulamentação.
A Lei de Custeio da Previdência Social (8.212/91), já dispunha que a
participação nos lucros não integra o salário-de-contribuição (art. 28, § 9º,
alínea ‘j’). O TST, através da Resolução 33/94, cancelou o Enunciado 251, que
ao contrário entendia que a participação nos lucros tinha natureza salarial.
A isenção não alcança os trabalhadores, que terão tributadas na fonte as
parcelas recebidas a título de participação nos lucros.
A isenção de encargos funciona como incentivo à concessão da
participação, o que teoricamente, é uma postura correta do Estado. Inclusive, a
própria Constituição, assegura que o Estado incentivará as empresas que ”(…)
pratiquem sistemas de remuneração variável que assegurem ao empregado,
desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da
produtividade de seu trabalho” (art. 218, § 4º).
No entanto, essa isenção deve ser vista com ressalvas, para que não se
institua, a pretexto de conceder participação, salário variável em valor
significativo ou superior às parcelas fixas. Isso obviamente constituiria fraude à
Receita, à Seguridade Social e ao próprio trabalhador.
Como um dos únicos mecanismos de evitar a fraude, pelo pagamento de
salário a título de participação nos lucros, com acerto a MP impôs que a
distribuição não poderá ser inferior a um semestre.
6 - DISPOSIÇÃO LEGAL.
A LEI Nº 10.101, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2000, Dispõe sobre a
participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa e dá
outras providências.
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O Presidente da República adotou a Medida Provisória nº 1.982-77, de
2000, que o Congresso Nacional aprovou, e eu, Antonio Carlos Magalhães,
Presidente, para os efeitos do disposto no parágrafo único do art. 62 da
Constituição Federal, promulgo a seguinte Lei:
Art. 1º Esta Lei regula a participação dos trabalhadores nos lucros ou
resultados da empresa como instrumento de integração entre o capital e o
trabalho e como incentivo à produtividade, nos termos do art. 7º, inciso XI, da
Constituição.
Art. 2º A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre
a empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir
descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo:
I - comissão escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante
indicado pelo sindicato da respectiva categoria;
II - convenção ou acordo coletivo.
§ 1º Dos instrumentos decorrentes da negociação deverão constar regras
claras e objetivas quanto à fixação dos direitos substantivos da participação e
das regras adjetivas, inclusive mecanismos de aferição das informações
pertinentes ao cumprimento do acordado, periodicidade da distribuição, período
de vigência e prazos para revisão do acordo, podendo ser considerados, entre
outros, os seguintes critérios e condições:
I - índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa;
II - programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente.
§ 2º O instrumento de acordo celebrado será arquivado na entidade sindical
dos trabalhadores.
§ 3º Não se equipara a empresa, para os fins desta Lei:
I - a pessoa física;
II - a entidade sem fins lucrativos que, cumulativamente:
a) não distribua resultados, a qualquer título, ainda que indiretamente, a
dirigentes, administradores ou empresas vinculadas;
b) aplique integralmente os seus recursos em sua atividade institucional e no
País;
c) destine o seu patrimônio a entidade congênere ou ao poder público, em caso
de encerramento de suas atividades;
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d) mantenha escrituração contábil capaz de comprovar a observância dos
demais requisitos deste inciso, e das normas fiscais, comerciais e de direito
econômico que lhe sejam aplicáveis.
Art. 3º A participação de que trata o art. 2º não substitui ou complementa a
remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência
de qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da
habitualidade.
§ 1º Para efeito de apuração do lucro real, a pessoa jurídica poderá deduzir
como despesa operacional as participações atribuídas aos empregados nos
lucros ou resultados, nos termos da presente Lei, dentro do próprio exercício
de sua constituição.
§ 2º É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores
a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em periodicidade
inferior a um semestre civil, ou mais de duas vezes no mesmo ano civil.
§ 3º Todos os pagamentos efetuados em decorrência de planos de
participação nos lucros ou resultados, mantidos espontaneamente pela
empresa, poderão ser compensados com as obrigações decorrentes de
acordos ou convenções coletivas de trabalho atinentes à participação nos
lucros ou resultados.
§ 4º A periodicidade semestral mínima referida no § 2º poderá ser alterada pelo
Poder Executivo, até 31 de dezembro de 2000, em função de eventuais
impactos nas receitas tributárias.
§ 5º As participações de que trata este artigo serão tributadas na fonte, em
separado dos demais rendimentos recebidos no mês, como antecipação do
imposto de renda devido na declaração de rendimentos da pessoa física,
competindo à pessoa jurídica a responsabilidade pela retenção e pelo
recolhimento do imposto.
Art. 4º Caso a negociação visando à participação nos lucros ou resultados da
empresa resulte em impasse, as partes poderão utilizar-se dos seguintes
mecanismos de solução do litígio:
I - mediação;
II - arbitragem de ofertas finais.
§ 1º Considera-se arbitragem de ofertas finais aquela em que o árbitro deve
restringir-se a optar pela proposta apresentada, em caráter definitivo, por uma
das partes.
§ 2º O mediador ou o árbitro será escolhido de comum acordo entre as partes.
§ 3º Firmado o compromisso arbitral, não será admitida a desistência unilateral
de qualquer das partes.
14
§ 4º O laudo arbitral terá força normativa, independentemente de homologação
judicial.
Art. 5º A participação de que trata o art. 1º desta Lei, relativamente aos
trabalhadores em empresas estatais, observará diretrizes específicas fixadas
pelo Poder Executivo.
Parágrafo único. Consideram-se empresas estatais as empresas públicas,
sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas e demais
empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do
capital social com direito a voto.
Art. 6º Fica autorizado, a partir de 9 de novembro de 1997, o trabalho aos
domingos no comércio varejista em geral, observado o art. 30, inciso I, da
Constituição.
Parágrafo único. O repouso semanal remunerado deverá coincidir, pelo menos
uma vez no período máximo de quatro semanas, com o domingo, respeitadas
as demais normas de proteção ao trabalho e outras previstas em acordo ou
convenção coletiva.
Art. 7º Ficam convalidados os atos praticados com base na Medida Provisória
no 1.982-76, de 26 de outubro de 2000.
Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Congresso Nacional, em 19 de dezembro de 2000; 179º da Independência e
112º da República.
Senador ANTONIO CARLOS MAGALHÃES.
Presidente
7 - DEFESA E CRÍTICA À PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS.
Sob o prisma teórico, o tema já incorporou vários adjetivos: velho,
complexo, árido, entre tantos outros. Historicamente, a participação nos lucros
tem rendido acaloradas discussões sobre a sua viabilidade e eficácia.
Encontra, de um lado, defensores ardorosos, e de outro; ferrenhos opositores.
O que é mais interessante é que essas posições são verificadas não somente
em meio aos estudiosos, mas também entre empresários e trabalhadores.
As críticas dos autores concentram-se basicamente na alegação de que a
participação é um mecanismo equivocado, de difícil definição de seus critérios
e jamais atinge o resultado psicológico e econômico a que se propõe. Da
mesma maneira o conflito e a tensão entre empregado-empregador continua
latente.
15
Barassi já dizia que a participação nos lucros é ”uma velha ilusão que
pertence ao passado”. Menos cético, Pontes de Miranda, reconhecia que a
participação nos lucros é um instrumento que incentiva a produtividade, evita
greves, reduz as desconfianças e permite melhor funcionamento das
democracias.
Em comentários a atual Constituição, Cretella Júnior, destaca outras
vantagens da participação nos lucros: ”A técnica da participação nasceu para
incentivar o trabalhador a trabalhar mais e melhor, comportando-se como se
fosse “dominus” e não como “servus” e, nestas condições, a não paralisar o
trabalho”.
A maioria dos autores favoráveis à participação nos lucros se apoiam
em fundamentos psicológicos e econômicos. Dizem que o empregado se
sente moralmente participante da empresa; por outro lado, ainda representa
um incentivo econômico para aumentar sua renda, não mais adstrita ao salário.
Segundo o economista Hélio Zyberstajn, defensor da participação nos
resultados, não em lucros, como instrumento de incremento da produtividade,
assenta que hoje “Existe um consenso segundo o qual programas de
participação nos resultados ¾ nos quais a PEL se insere ¾ constituem um
método para implantar elementos de convergências na relação trabalhadorempresa, porque, se bem-sucedidos podem assegurar ao mesmo tempo, a
sobrevivência e a garantia do emprego”.
José Pastore, afirma que o:
”sistema vem sendo gradualmente adotado nos países
mais avançados como incentivo à parceria e redutor de
conflitos. Por meio dele, os trabalhadores aproximam-se
da empresa; torcem pelo seu sucesso; e se empenham
na melhoria da sua produtividade, eficiência e
desempenho geral”.
Esse consenso, apregoado principalmente pelos adeptos da Teoria
Econômica Moderna, não é compartilhado por Robert Kurtz, ensaísta alemão, o
qual manifesta fundadas dúvidas a respeito:
“A idéia tão natural de que o aumento da produtividade
facilita a vida dos homens não leva em conta a
racionalidade das empresas. Na verdade, trata-se de
saber qual será o uso de uma maior capacidade
produtiva. Se a produção visa a suprir as próprias
16
necessidades, a evolução dos métodos e dos meios será
utilizada simplesmente para trabalhar menos e desfrutar
do maior tempo livre”.
Falar em melhoria das condições de vida, proporcionada pelo aumento da
produtividade, como se fosse uma conseqüência lógica e inevitável, não nos
parece ser um raciocínio razoável. No Brasil, por exemplo, tem-se verificado
nos últimos anos um aumento significativo da produtividade das empresas;
contudo, esses indicadores não refletem nos alarmantes índices de
desemprego, miséria e concentração de renda que ostentamos.
Setores empresariais chegam sustentar a incompatibilidade do modelo
capitalista com a distribuição de lucros. Reputam que o capital deve ser
remunerado com lucros, e o trabalho com salários. Argumentam, ainda, que a
concessão da participação nos lucros provocaria a descapitalização das
empresas, retirando sua capacidade de reinvestir os lucros. Alguns chegam a
afirmar que a participação nos lucros resultaria em inflação, pois aumentaria o
poder aquisitivo dos trabalhadores, sem um aumento equivalente de produção.
A posição de Arthur Mazzini é bem caricata nesse sentido:
”O lucro por excelência, é a remuneração dada ao capital
empregado ou investido. Portanto, ao investidor, ao
empresário¾ e somente a ele ¾ cabe o lucro. Aos
empregados cabe a justa remuneração pelos serviços
prestados, ou seja, o salário e outras vantagens, diretas e
indiretas, e benefícios complementares, conforme
parâmetros de mercado e talento individual de cada um.
Todavia não o lucro”.
A grande maioria das organizações de trabalhadores sempre viu com
reservas a participação nos lucros. Os sindicatos de timbre revolucionário,
sempre refutaram a idéia de participação, entendendo que esse mecanismo
somente tornaria mais vulnerável a luta de classes. Identificam no instrumento
uma estratégia política das classes dirigentes de romper com a união dos
trabalhadores.
Em contrapartida, outros sindicatos, que atuam dentro do sistema
capitalista (nos limites da ordem) reivindicando melhores condições de vida e
de trabalho, vêem na participação nos lucros uma alternativa de aumento dos
rendimentos dos trabalhadores, minimizando a mais-valia do trabalho.
É claro que esses argumentos reproduzem as diversas visões, no
discurso travestidas de vantagens, que cada um dos atores sociais
17
(empresários, governo e sindicatos) vêm no sistema. A verdade é que a favor
ou contra nem sempre é a questão central do debate, mas a indagação de que
objetivo se pretende alcançar. E aí muitos sonegam a resposta óbvia: a
participação nos lucros como mero instrumento para viabilizar um projeto
econômico e político, distanciando ou negando os postulados um direito social
que a Constituição lhe conferiu.
9 - A MEDIDA PROVISÓRIA REGULAMENTADORA.
Depois de uma longa hibernação, tramitação de dezenas de projetos de
lei no parlamento por quase 50 anos, já nos estertores do governo Itamar
Franco, foi editada, em 24 de dezembro de 1994, a Medida Provisória 794 com
o objetivo de regulamentar o dispositivo constitucional.
10 - EMENDAS APRESENTADAS.
Ao ser convertida em lei o que alguns assim não acreditam certamente
serão efetuadas várias modificações na MP. Já foram apresentadas na Câmara
dos Deputados 26 (vinte e seis) propostas de emendas aditivas e supressivas.
As emendas são: 11 de autoria do deputado Wilson Braga; 13 de Jair
Menegheli; 1 de Francisco Dornelles e 2 de João Almeida.
Em geral, as emendas visam corrigir as distorções da MP. As propostas
dos deputados objetivam basicamente:
a) Tornar obrigatória a participação do sindicato na negociação;
b) Fixar prazo de 180 dias para pactuação da participação nos lucros;
c) Introduzir a necessidade de mecanismos de acesso e aferição das
informações das empresa;
d) Vedar a distribuição diferenciada do lucro de forma individual ou
departamental;
e) Impedir a participação acionária;
f) Impossibilitar compensação de perdas e prejuízos antigos;
g) Excluir o recurso ao Poder Judiciário.
11 - PARTICIPAÇÃO OU FLEXIBILIZAÇÃO.
Para muitos pode parecer inadvertida a regulamentação da participação
nos lucros, via Medida Provisória, nos últimos dias de mandato do governo
Itamar Franco. Mas, se verificarmos detidamente no contexto político e
econômico da época, podemos desvendar nessa MP, que mais do que fazer
18
valer o preceito constitucional, propugna também introduzir mecanismos de
flexibilização nas relações de trabalho.
Não se pode olvidar que à época os esforços do governo eram para
viabilizar sua política de estabilização econômica, representada pelo Plano
Real. A Lei 8.880, de 27 de maio de 1994, extinguiu a política salarial em vigor
(Lei 8.700/93), pondo fim a sistemática de reajuste em vigor desde 1979.
Assim, sob a ótica do governo, a participação nos lucros foi introduzida para
funcionar como um apanágio para “compensar” a ausência de reajustes
automáticos dos salários nas datas bases seguintes.
Em um contexto mais amplo, a MP trouxe nas suas entrelinhas vários
dispositivos que possibilitam a flexibilização na remuneração, abrindo caminho
e viabilizando a prática da remuneração variável.
Nesse sentido, a MP contemplou, em parte, uma reivindicação do setor
empresarial, que a partir do início da década de 90 tem tentado
desregulamentar as relações de trabalho, a pretexto de viabilizar a competição
das empresas no mercado internacional. Segundo os adeptos da flexibilização,
o custo da mão-de-obra no Brasil, com excesso de encargos sociais, inviabiliza
por completo a competição.
Todos acompanharam as campanhas levadas a cabo, em especial por
entidades patronais (Federações), pela redução do que chamavam de “Custo
Brasil”. Indiscutivelmente que a MP, ao isentar as empresas de encargos
sociais, além de autorizar o abatimento das parcelas distribuídas no Imposto de
Renda, atendeu essa reivindicação (ainda que se reconheça legítima).
Não é sem razão que o Prof. José Pastore, declaradamente um dos mais
entusiastas da flexibilização da contratação do trabalho no Brasil, logo após a
edição da primeira MP, em artigo publicado na Folha de São Paulo,
reconheceu que “A medida provisória traz grandes avanços no campo da
necessária flexibilização das nossas relações de trabalho”. Ela estabelece, com
base no inciso XI do artigo 7º, da Constituição Federal, que as parcelas pagas
a título de participação estão isentas de qualquer tipo de encargo trabalhista ou
previdenciário.
12 - URGÊNCIA E RELEVÂNCIA.
Para iniciar, a regulamentação da matéria por meio de Medida Provisória,
requer a satisfação dos requisitos de urgência e relevância, segundo informa o
art. 62 da Constituição. Ora, se há quase 50 anos não foi regulamentada a
matéria, não se pode crer que agora esses requisitos se encontrem presentes.
19
Pode-se crível que a matéria seja relevante, como de resto os demais direitos
assegurados aos trabalhadores pela Constituição e que reclamam
regulamentação; mas urgente, de tal forma que justifique a edição de uma MP,
não é aceitável.
Ademais, sendo a matéria polêmica, com posições no seio da sociedade
bastante desencontradas, nada mais adequado que em um regime
democrático que esse direito fosse regulamentado através de lei aprovado pelo
Congresso Nacional.
13 - OBJETIVOS.
O artigo 1º da MP diz que um dos seus objetivos é ser um instrumento de
”integração entre capital e trabalho e de incentivo à produtividade”. Além de
notadamente utópico, mormente nos dias atuais, a medida não traz qualquer
disposição que assegure e eficácia mínima desse preceito. Sequer indica como
será atingida essa integração. Edésio Passos, bem observou que a medida
poderá funcionar como incentivo à produtividade, jamais como integração do
trabalhador à empresa. Na verdade a MP não trouxe uma palavra que sugira
proporcionar à distribuição de renda ou mesmo a democratização das relações
de trabalho.
14 - PARTICIPAÇÃO DOS SINDICATOS.
O mais polêmico dispositivo da MP sem dúvida foi o artigo 2º e seus três
parágrafos. A primeira edição (MP 794) dispunha que participação nos lucros
deveria ser realizada por meio da negociação coletiva. Já na segunda edição
(MP 860), foi alterado para dispor que a empresa deveria convencionar a
participação “por meio de uma comissão escolhida”, afastando assim a
negociação coletiva, e como conseqüência, a participação dos sindicatos no
processo negocial. O § 2º ainda dispõe que o instrumento do acordo celebrado
deverá ser depositado na entidade sindical dos trabalhadores.
Com razão, juristas e entidades sindicais protestaram pela manobra do
governo, que claramente pretendia colocar o sindicato de fora, privilegiando a
negociação no interior da empresa. A alteração esta alinhada com a proposta
do governo de modificar a organização sindical, viabilizando a criação de
sindicatos por empresa, e não por categoria ou ramo de atividade.
Não é indicado também quem é essa comissão “escolhida”, não
mencionando sequer se deve ser eleita por seus pares. Sem dúvida que em
nosso modelo, sem organização dos trabalhadores no local de trabalho
20
(conselho e comissões de fábrica), essa comissão, sem qualquer garantia de
emprego, sem formação adequada, se tornaria vulnerável diante do
empregador.
Não há indicação que tipo de instrumento é esse firmado entre a empresa
e a comissão de trabalhadores, já que o sindicato não participaria do processo.
Como sabemos, o Acordo Coletivo de Trabalho requer a intervenção de um
sindicato profissional. Figura estranha também é a referência ao depósito do
instrumento no sindicato. Ou seja, confunde-se o papel do sindicato com a de
um cartório.
É mais flagrante ainda a inconstitucionalidade dessa alteração, posto que
o art. 8º, inciso VI, da nossa Constituição, prevê a obrigatoriedade da
participação dos sindicatos nas negociações coletiva de trabalho.
Com esses fundamentos a CONTAG e outras entidades sindicais
ingressaram com Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADIn perante o STF.
O Ministro Ilmar Galvão, relator do processo, concedeu liminar sustando,
quando já em vigor a MP 1204/95, a disposição do art. 2º “toda empresa
deverá convencionar com seus empregados, por meio de comissão por eles
escolhida, a forma de participação daqueles em seus lucros ou resultados”. O
processo ainda aguarda julgamento no Tribunal. Provavelmente, o julgamento
confirmará a liminar deferida.
15 - ABRANGÊNCIA.
Quanto a abrangência da participação nos lucros, a MP exclui a pessoa
física, as entidades sem fins lucrativos (esta segundo condições que
estabelece), e as empresas estatais. Aqui também resta dúvida quanto a
eficácia desse dispositivo.
O inciso XI do art. 7º da Constituição, ao assegurar entre os direitos dos
trabalhadores a participação nos lucros, não faz qualquer restrição ou distinção
a tipo de empresa. A CLT ao falar em empregador, para fins de incidência de
direitos, não distingue sem fins lucrativos ou mesmo pessoa física. É
empregador em nosso ordenamento jurídico toda empresa que ”assumindo os
riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal
de serviços” (art. 2º).
Já em relação as empresas estatais, a própria constituição dispõe em seu
art. 173 § 1º que, caso explorem atividade econômica, devem sujeitar-se ”ao
regime próprio das empresas privadas, inclusive quanto às obrigações
trabalhistas e tributárias”. Ou seja, não há possibilidade de regimes de relação
de trabalho diferenciados entre estatais e empresas privadas.
21
A única possibilidade de exclusão do direito à participação nos lucros
parece ser em relação aos domésticos, já que a Constituição não os inclui
entre os direitos conferidos aos demais trabalhadores (art. 7º, XXXIV, parágrafo
único).
16 - FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS E SANÇÃO.
Caso haja impasse nas negociações, como formas de solução de
conflito, são indicados o recurso a mediação e a arbitragem de ofertas finais.
Embora a MP não fala Dissídio Coletivo de Trabalho, pensamos que
inviabilizada a negociação, e superada as possibilidades de solução via
mediação e arbitragem, as partes têm direito de suscitar a instauração de
dissídio. O art. 114 da Constituição, ao manter o poder normativo da Justiça do
Trabalho, assegura a invocação dessa tutela.
Naturalmente, esse não é o melhor caminho para ambas as partes.
Sabidamente, Tribunais não têm condições técnicas de estabelecer avaliar e
decidir sobre cláusula de participação nos lucros.
Por fim, tornado obrigatório o pagamento de participação nos lucros,
concedido incentivos e sugerida a participação em resultados; a MP não
estabeleceu nenhuma penalidade pelo seu descumprimento. É uma norma
sem sanção. Sequer impõe ao empregador sentar para negociar com seus
empregados, formular propostas ou estabelecer prazos para implementação da
participação.
Talvez o Dissídio Coletivo funcionasse para fixar cláusula de conteúdo
obrigacional, impondo às empresas a obrigação de negociar com o sindicato a
participação nos lucros, determinando inclusive que disponha as informações
necessárias, sob pena de multa diária.
17 - OS RISCOS DE SE PAGAR O PLR DE FORMA ALEATÓRIA.
O pagamento da participação nos lucros e resultados de forma
equivocada, consiste diante do fato de muitos empregadores não exibirem a
conta aberta desta parcela, permitindo que seja conferido se o percentual está
sendo calculado de forma correta. Outras empresas de forma equivocada
pagam esta parcela de maneira aleatória, sem flutuar de acordo com os lucros
e resultados. Agora o STJ deu razão ao INSS em tributá-la.
Consultores de Entidades Patronais estão sugerindo que os Empresários
paguem o PLR – Participação nos Lucros e Resultados mensalmente. O intuito
22
é aliviar o fluxo de caixa. Ocorre, que tais conselhos que estão sendo seguidos
por algumas Empresas estão em desacordo com o que estabelece o parágrafo
2º do artigo 3º da Lei que regulamenta o PLR, Lei 10.101/2000, senão
vejamos: “§ 2o É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição
de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em
periodicidade inferior a um semestre civil, ou mais de duas vezes no mesmo
ano civil.”
Dessa forma, se a Empresa paga o PLR mensalmente, está em
desacordo com o que estabelece a Lei. A conseqüência jurídica deste
equivocado procedimento é que o pagamento realizado pela Empresa, a título
de PLR, em desacordo com a Lei 10.101/2000, atrai a incidência de
contribuição previdenciária sobre estes valores. Em outras palavras, temos aí a
criação de um novo Passivo Oculto das Empresas, que além de repartirem com
os seus empregados uma parcela do seu lucro irão ter que recolher imposto
para o INSS sobre estes valores. Em recente decisão o Superior Tribunal de
Justiça (RECURSO ESPECIAL Nº 856.160 – PR (2006/0118223-8) entendeu
que: “O gozo da isenção fiscal sobre os valores creditados a título de
participação nos lucros ou resultados pressupõe a observância da legislação
específica regulamentadora, como dispõe a Lei 8.212/91. Descumpridas as
exigências legais, as quantias em comento pagas pela empresa a seus
empregados ostentam a natureza de remuneração, passíveis, pois, de serem
tributadas.”
Lê-se claramente na decisão que: “Em outras palavras, para o gozo do
benefício fiscal pretendido pela recorrente, torna-se indispensável a
observância da disciplina da lei específica acerca da forma que deve ser
creditada a participação nos lucros, como bem decidiu o Tribunal de origem”
Assim, antes de assinar um Acordo sobre o PLR com seus empregados,
estude exaustivamente a lei juntamente com seu advogado e analise os riscos
jurídicos que devem ser evitados.
18 - EFEITOS FISCAIS.
De acordo com a Lei 10.101/2000, a participação nos lucros ou resultados
será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, mediante um
dos procedimentos a seguir descritos, escolhidos pelas partes de comum
acordo:
1 - comissão escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante
indicado pelo sindicato da respectiva categoria;
2 - convenção ou acordo coletivo.
É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de
valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em
23
periodicidade inferior a um semestre civil, ou mais de duas vezes no mesmo
ano civil.
18.1. - OS PRINCIPAIS ASPECTOS FISCAIS.
IMPOSTO DE RENDA NA FONTE
As participações respectivas serão tributadas na fonte, em separado dos
demais rendimentos recebidos no mês, como antecipação do imposto de renda
devido na declaração de rendimentos da pessoa física, competindo à pessoa
jurídica a responsabilidade pela retenção e pelo recolhimento do imposto.
INSS E FGTS
A participação dos trabalhadores nos lucros, quando distribuída de acordo
com a Lei 10.101/2000, não se sujeita à incidência de INSS e FGTS ou
qualquer outra verba trabalhista.
IMPOSTO DE RENDA - PESSOA JURÍDICA
A pessoa jurídica tributada pelo Lucro Real poderá deduzir, como
despesa operacional, as participações atribuídas aos empregados nos lucros
ou resultados, dentro do próprio exercício de sua constituição.
Assim, não há necessidade que a participação esteja “paga” para que
seja dedutível, podendo ser contabilizada nos balancetes ou balanço, segundo
o regime de competência.
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO - CSLL
Como no Imposto de Renda, admite-se a dedução, como despesa
operacional, para fins de CSLL sobre o Lucro Real, da participação dos
trabalhadores, dentro do próprio exercício.
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REFERÊNCIAS.
BRICKLEY, J., C. Smith C. W., ZIMMERMAN, J.L. Managerial Economics and
Organizational Architecture. New York: McGraw-Hill Irwin, 2001.
COSTA, Sergio Amad. A Prática das Novas Relações Trabalhistas, por uma
Empresa Moderna. São Paulo: Atlas, 1997.
MARTINS, Sergio Pinto. Participação dos empregados nos lucros das
empresas. São Paulo: Malheiros Editores, 1996.
MERÍSIO, Patrick Maia. Direito coletivo do trabalho [recurso eletrônico] /
[Patrick Maia Merísio]. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. recurso digital (Provas
e concursos).
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
w.w.w.google.com.br.
Acesso em: 11/04/2012.
25
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