UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA LORENA BOMFIM FREIRE CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS DE ENTEROBACTÉRIAS ISOLADAS DE INFECÇÕES DA CORRENTE SANGUÍNEA EM UM HOSPITAL PÚBLICO DE SALVADOR, BAHIA. SALVADOR 2015 LORENA BOMFIM FREIRE CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS DE ENTEROBACTÉRIAS ISOLADAS DE INFECÇÕES DA CORRENTE SANGUÍNEA EM UM HOSPITAL PÚBLICO DE SALVADOR, BAHIA. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Farmácia, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre. Orientadora: Profa. Dra. Joice Neves Reis Pedreira Salvador 2015 Sistema de Bibliotecas - UFBA Freire, Lorena Bomfim. Caracterização do perfil de resistência aos antimicrobianos de enterobactérias isoladas de infecções da corrente sanguínea em um hospital público de Salvador, Bahia / Lorena Bomfim Freire. - 2016. 82 f.: il. Inclui anexo e apêndices. Orientadora Profª. Drª. Joice Neves Reis Pedreira. Dedico a minha mãe, minha irmã e meu pai (in memoriam) por sempre me apoiarem e incentivarem as minhas escolhas e decisões. AGRADECIMENTOS À Deus, por te me conduzido durante essa jornada, com sabedoria, paciência, determinação e me guiando à fim de eu superar os obstáculos. À minha mãe, Genyse Bomfim, e minha irmã, Camila Bomfim por me apoiarem e compreenderem sempre, dando amor e carinho. Sem vocês eu não conseguiria concluir mais uma etapa da minha vida. Ao meu pai, Francisco, hoje um espírito de luz que está eternamente ao lado, me guiando, que sempre me deu amor, carinho e que sempre apoiou as minhas decisões. Obrigada por tudo!!!! À minha orientadora, professora Drª Joice Reis, por ter me aceitado como orientanda, pelos ensinamentos e aprendizados, paciência, confiança, compreensão, incentivos. Obrigada por tudo! Aos meus familiares, tios e primos, obrigada pelo acolhimento, incentivo, compreensão e carinho. Aos meus amigos e colegas de equipe: Soraia Machado, Ana Paula Menezes, Milena Soares, Jailton Azevêdo, Cláudia Alves, Eduardo Viana, Maira Silva, Mariela Correia, Márcia Azevedo, Larissa Romã, Angélica pelos anos de convívio, amizade, e por cada contribuição. Aos meus amigos e colegas do LPMC pelo acolhimento, amizade e companheirismo. Ao Hospital Ana Nery, especialmente às bioquímicas Silvia Cruvinel e Débora Alves, e suas equipes, obrigada pela atenção e gentileza. Vocês foram peças-chave. Aos meus amigos do PPGFAR, pelo coleguismo, companheirismo, pelos momentos de alegria e tristeza. Sem vocês esse caminho seria mais comprido. À Drª Maria Goreth Barberino, pelos ensinamentos, confiança e incentivo. Seu apoio foi de suma importância para a execução desse trabalho. À todos os meus amigos por sempre confiarem, apoiarem e me compreenderem. Ao Programa de Pós-graduação em Farmácia da UFBA (PPGFAR). A Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES) pela Bolsa concedida À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) pelo apoio financeiro concedido através do Edital 030/2013 e termo de outorga nº SUS0024/2014 “Para um ensinar, dois tem que aprender” (Provérbio budista) RESUMO As infecções da corrente sanguínea (ICS), ou seja, uma invasão da corrente sanguínea por bactérias são uma das principais causas de morbi-mortalidade em todo o mundo. A emergência de micro-organismos multi-drogas resistentes que limita as opções terapêuticas, aumenta os custos e reduz a sobrevida dos pacientes, tem contribuído para a gradivdade destas infecções. As enterobactérias constituem o grupo dos principais patógenos causadores de ICS além de possuírem diversos mecanismos de resistência aos antibióticos, tais como: aquisição de enzimas (β-lactamase de espectro estendido e carbapenemases), alteração de permeabilidade de membrana e aquisição de bombas de efluxo. O objetivo desse estudo foi caracterizar o padrão de resistência e perfil de genes de resistência de isolados de enterobactérias em casos de ICS, no período de maio de 2013 a abril de 2014, em um hospital público de Salvador, Bahia. Os isolados bacterianos foram identificados através dos aparelhos BD Phoenix® e Vitek 2 ®. O teste de susceptibilidade aos antimicrobianos foi feito pela técnica de Kirby-Bauer. Para os isolados resistentes aos carbapenêmicos foram realizados o Teste de Hodge Modificado, Teste de inibição pelo ácido fenilborônico e EDTA. Posteriormente, os isolados que apresentaram positividade no teste de detecção para ESBL e/ou resistência à pelo menos um carbapenêmicos foram testados por PCR multiplex para detecção de genes de resistência TEM, SHV, OXA-1-like, CTX-M-grupo 1, CTX-M-grupo 2 e CTX-M-9, codificadores de ESBL, e IMP, VIM e KPC, codificadores de carbapenemases. No período estudado foram identificados 118 casos de ICS por enterobactérias, sendo as mais frequentes: K.pneumoniae (33,3%), E.cloacae (19,7%), S.marcecens (17,1%) e E.coli (11,1%). O perfil de multiresistência por ESBL foi identificado em 44 isolados e a resistência aos carbapenêmicos em tês, dos quais apenas um apresentou-se positivo no Teste Modificado de Hodge e Teste de inibição pelo ácido fenilborônico. A PCR multiplex identificou 31% (13/44) de isolados com o gene OXA-1-like e variantes, 29% (12/44) CTX-M-1 e 22% (9/44) SHV. A PCR detectou gene IMP em dois isolados de K.pneumoniae ESBL positivos porém sensíveis aos carbapenêmicos, sendo que apenas um destes isolados apresentou o gene KPC. A presença de enterobactérias produtoras de carbapenemases, não parece ser um problema clínico em Salvador, mas medidas de precauções devem ser mantidas em todas a unidades de saúde, porque K. pneumoniae produtora de carbapenemase foi identificada no local do estudo. Palavras-chave: infecção da corrente sanguínea; multi-droga resistência; β-lactamase de espectro estendido; carbapenemase. ABSTRACT The bloodstream infection (BSI), i.e., an invasion of the bloodstream by bacteria is a major cause of morbidity and mortality worldwide. The emergence of multi-drug resistant microorganisms limiting the therapeutic options, increases costs and reduces the survival of patients, has contributed to the severity of the BSI infections. Enterobacteriaceae are the group of the main pathogens ICS besides having different mechanisms of resistance to antibiotics, such as: acquisition of enzymes (β-lactamase extended and carbapenemases spectrum), changes in membrane permeability and acquisition of efflux pumps. The aim of this study was to characterize the resistance patterns and resistance gene profile in BSI Enterobacteriaceae isolates, from May 2013 to April 2014, in a public hospital in Salvador, Bahia. Bacterial isolates were identified by BD Phoenix® and Vitek 2 ®. The antimicrobial susceptibility test was made by the Kirby-Bauer method. Isolates resistant to carbapenems were submitted to Hodge Test Modified, inhibition test by phenylboronic acid and EDTA. Subsequently, the isolates that showed positivity in the detection test for ESBL and / or resistance to at least one carbapenems were tested by multiplex PCR to detect resistance genes TEM, SHV, OXA-1-like CTX-M group 1 CTX-M-2 group and CTX-M-9, ESBL encoders and IMP, VIM and KPC, carbapenemases encoders. In the period studied were identified 118 cases of BSI by Enterobacteriaceae, the most common: K. pneumoniae (33.3%), E. cloacae (19.7%), S. marcecens (17.1%) and E. coli (11.1%). The multidrug pattern for ESBL was detected in 44 isolates and carbapenem resistance in three cases, of which only one was positive in Hodge Test Modified and in the phenylboronic acid inhibition test. The multiplex PCR identified 31% (13/44) isolates with the OXA-1-like gene and variants, 29% (12/44) CTX-M-1 and 22% (9/44) SHV. The PCR detects IMP gene in two isolates of K. pneumoniae ESBL positive but sensitive to carbapenems in Kirby Bauer test and, only one of these isolates presented the KPC gene. The presence of Enterobacteriaceae producing carbapenemase, does not seem to be a clinical problem in Salvador, but precautions measures should be maintained in all health units, since we have identified K. pneumoniae producing carbapenemase in the study Keywords: bloodstream infection; multi-drug resistance; ESBL; carbapenemase. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Fluxograma dos testes de detecção de resistência realizados nas enterobactérias isoladas de hemocultura no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um Hospital de salvador, Bahia. ........................................................................................................................ 37 Figura 2: Esquema para aplicação de discos de antimicrobianos para detecção de carbapenemases. ....................................................................................................................... 39 Figura 3: Teste de Hodge Modificado ...................................................................................... 39 Figura 4 - Teste de fenotípico para detecção de ESBL em Klebsiella pneumoniae................. 49 Figura 5 - Teste fenotípico de detecção de ESBL em Klebsiella pneumoniae resistente à todos carbapenêmicos testados........................................................................................................... 49 Figura 6 - Teste de triagem fenotípica para KPC em Klebsiella pneumoniae. ........................ 53 Figura 7 - Teste de Hodge com isolados de Klebsiella pneumoniae ........................................ 53 Figura 8 - Gel de agarose 1,5% dos produtos de amplificação de PCR Multiplex para detecção dos genes OXA, SHV e TEM em enterobactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia......................................................................................................................... 54 Figura 9 - Gel de agarose 1,5% de produtos de amplificação de PCR Multiplex para detecção dos genes CTX-M grupo 1, grupo 2 e grupo 9 em enterobactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. ....................................................................................................... 55 Figura 10 - Gel de agarose 1,5% de produtos de amplificação de PCR Multiplex para detecção dos genes IMP, KPC e VIM em enterobactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. ........................................................................................................................................ 56 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Frequência de enterobactérias isoladas em hemoculturas por unidade de internamento no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. ................................................................................................................... 48 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Características das unidades de internamento e leitos do Hospital Ana Nery na cidade de Salvador, Bahia. ....................................................................................................... 34 Tabela 2 - Critérios de interpretação da Disco Difusão para cada antibiótico. ........................ 38 Tabela 3 - Caracterização dos pares de primers e concentração na reação da PCR multiplex para detecção dos genes codificadores de ESBL e carbapenemases. ....................................... 42 Tabela 4 - Cepas controle e os respectivos genes de resistências utilizados nas PCR multiplex .................................................................................................................................................. 44 Tabela 5 - Espécies de enterobactérias identificadas em corrente sanguínea no período de maio de 2013 a abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia, de acordo com o sistema automatizado de identificação. ......................................................................... 45 Tabela 6 - Frequência de enterobactérias isoladas de hemoculturas no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. ......................... 46 Tabela 7 - Características dos pacientes com infecção da corrente sanguínea por enterobactérias no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvados, Bahia. ....................................................................................................... 47 Tabela 8 - Perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos por espécies de enterobactérias causadoras de infecções da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. ............................................................ 51 Tabela 9: Caracterização dos pares de primers e concentração na reação da PCR multiplex para detecção dos genes TEM, SHV e OXA-1-like. E variantes codificadores de ESBL. ..... 58 Tabela 10: Frequência de óbitos por espécie de enterobactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. ....................................................................................................... 60 Tabela 11 - Frequência de óbitos por genes identificados em enterobactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. ...................................................................................... 60 LISTA DE ABREVIATURAS ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária ATCC American Type Culture Collection CDC Center for Disease Control and Prevention CLSI Clinical and Laboratory Standards Institute EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético ESBL Extended spectrum beta-lactamase EUA Estados Unidos da América ICS Infecção da corrente sanguínea IRAS Infeção relacionada à assistência de saúde LPMC Laboratório de Pesquisa em Microbiologia Clínica MBL Metalo β-lactamase MDR Micro-organismo multidroga-resistente NNIS National Nosocomial Infections Surveillance PBPs Penicillin-binding proteins PCR Polymerase chain reaction ONU Organização das Nações Unidas Q.S.P Quantidade Suficiente Para SCN Staphylococcus coagulase negativo TSA Ágar triptona de soja UTI Unidade de terapia intensiva UCO Unidade coronariana UPC Unidade pós cirúrgica WHO World Health Organization SUMÁRIO 1. Introdução.......................................................................................................................... 16 2. Referencial teórico ............................................................................................................ 17 2.1 Infecções Relacionadas aos Serviços de Saúde ................................................................ 17 2.2 Infecções da corrente sanguínea................................................................................19 2.3 Enterobactérias...........................................................................................................20 2.4 Mecanismos de resistência aos antimicrobianos........................................................20 2.4.1 Resistência intríseca ou natural.........................................................................21 2.4.2 Resistência adquirida........................................................................................21 a) Alterações de afinidade pelos alvos da droga.........................................................21 b) Alteração de permeabilidade..................................................................................22 c) Bombas de efluxo...................................................................................................22 d) Degradação de antimicrobianos pela ação enzimática...........................................22 · Enzimas da classe β-lactameses........................................................................23 β-lactameses de espectro estendido (ESBL) .........................................24 AMPc β-lactameses...............................................................................25 Carbapenemases....................................................................................25 2.5 Métodos de detecção fenotópicos............................................................................28 2.6 Métodos de detecção genotípicos............................................................................29 3. Justificativa........................................................................................................................30 4 Objetivos............................................................................................................................32 4.1 Objetivos gerais........................................................................................................32 4.2 Objetivos específicos................................................................................................32 5. Materiais e métodos...........................................................................................................33 5.1 Período e tipo de estudo............................................................................................33 5.2. Critério de inclusão...................................................................................................33 5.3 Local de esudo..........................................................................................................33 5.4 Coleta de dados.........................................................................................................33 5.5 Procedimentos microbiológicos...............................................................................33 a) Hemoculturas.................................................................................................33 b) Isolamento de bactérias.................................................................................34 c) Identificação de bactérias ............................................................................34 d) Testes de detecção de resistência..................................................................35 Preparo de amostras...................................................................................35 Teste de sensibilidade aos antimicrobianos................................................35 Detecção fenotípica da produção de ESBL................................................35 Testes inibidores e potencializadores para detecção de carbapenemases..36 Teste fenotípico de detecção da produção de carbapenemase do tipo não MBL..........................................................................................................................................36 Teste fenotípico de detecção de carbapenemase do tipo MBL...................39 Testes genotípicos de detecção de resistência.............................................40 Seleção de amostras...............................................................................40 Extração de DNA...................................................................................40 PCR multiplex para detecção de genes de genes que codificam ESBL e carbapenemases.........................................................................................................................40 a) Eletroforese em gel.........................................................................41 5.6 Análise estatística......................................................................................................41 5.7 Limitações.................................................................................................................41 6. Resultados ............................................................................................................................45 6.1 Resultados gerais.........................................................................................................45 6.2 Características do paciente...........................................................................................46 6.3 Resultados fenotípicos................................................................................................48 6.4 Resultados genotípicos.................................................................................................53 7. Discussão..............................................................................................................................61 8. Conclusão..............................................................................................................................65 Referências................................................................................................................................66 Anexo........................................................................................................................................74 Anexo A: Documento de aprovação no Comitê de Ética..............................................74 Apêndice...................................................................................................................................78 Apêndice A: Formulário para coleta de dados pessoais de pacientes portadores de infecções da corrente sanguínea causadas por enterobactérias.................................................78 Apêndice B: Formulário para coleta de dados epidemiológicos de pacientes portadores de infecções da corrente sanguínea causadas por enterobactérias............................................79 16 1. Introdução As infecções da corrente sanguínea (ICS) são uma das principais causas de morbi- morlidade no mundo e estão diretamente relacionada ao aumento do tempo de internamento do paciente e de custos associados com o período de permanência no hospital (MOEHRING; ANDERSON, 2014). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, as ICS possuem causas multifatoriais cujo critérios de diagnósticos bem como fisopatologia, implicações terapêuticas, prognósticas e preventivas são distintas. O tratamento dessas infeções é realizado após a avaliação clínica do paciente, considerando os sinais e sintomas sistêmico, foco de origem primário e presença ou ausência de dispositivos vasculares (ANVISA, 2009). Há alguns anos vêm-se observando a emergência de patógenos multiresistêntes aos antimicrobinaos relacionados com essas infecções, os quais dificicultam o tratamento, favorecendo, consequentemente ao agravamento do quadro clínico e caracterizado como problema mundial (LAUPLAND, 2013). Inseridas nesse contexto estão as enterobactérias, as quais constituem uma das principais causas de infecções da corrente sanguínea, atrás apenas do S.aureus e SCN (MOEHRING, ANDERSON, 2014). Essas bactérias detém diversos mecanismos de resistência além dos intrínsecos, tais como: aquisição de bombas de efluxo, alteração de permeabilidade das porinas, presença de enzimas que degradam antibióticos (TENOVER, 2006). Hoje, a aquisição de enzimas tais como beta-lactamase de espectro estendido e carbapamenases são de grande preocupação mundial. Essas enzimas degradam antibióticos de última geração, restringindo as opções de tratamento, tornando-o, muitas vezes, limitado à polimixina e tigeciclina (NORDMANN; NAAS; POIREL 2011). Assim, a identificação dos mecanismos de resistência aos antimicrobianos em bactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea é de suma importância para traçar o perfil epidemiológico local, bem como direcionar o tratamento empírico, aperfeiçoar as medidas de controle de infecção, reduzir custos associados com o internamento e aumentar a sobrevida do paciente. 17 2. Referencial teórico 2.1 Infecções Relacionadas aos Serviços de Saúde Em 1989 o CDC introduziu o conceito de infecção nosocomial no mundo como sendo a infecção adquirida após 48 horas de admissão em um hospital, ou que não estavam no período de incubação no momento da admissão do paciente (GARNER et al., 1988). Atualmente utiliza-se o termo infecções relacionadas aos serviços de saúde (IRAS) devido à proporção de tal problema, ou seja, extrapolou os hospitais e atingiu outras unidades de saúde, tais como, home care e ambulatórios, os quais executam técnicas de diagnóstico e tratamentos endovenosos, pequenas intervenções cirúrgicas, hemodiálises e afins (HORAN et al, 2008). Essas infecções são responsáveis por elevadas taxas de mobi-mortalidade em todo o mundo além de contribuírem para o aumento dos custos associados ao internamento (PUJOL; LIMÓN ,2013; SCOTT, 2009). Desde a década de 1970 estudos são realizados a fim de avaliar frequência, os principais sítios e patógenos relacionados com as IRAS. Segundo o Center for Disease Control and Prevention (CDC), as IRAS ocorrem em 1 a cada 25 pacientes internados, totalizando 722.000 casos por ano, dos quais 75.000 vão á óbito. A pneumonia e infecções do sítio cirúrgico são as infecções mais prevalentes, representando 21,8% dos casos, seguidos de infecções gastrointestinais (17%), ITU (12,8%) e infecções da corrente sanguínea (10%) (MAGILL et al. 2014). O National Healthcare Safety Network, entre os anos de 2007 e 2008, detectou nos EUA que de a partir de 47.582 IRAS relatadas, as bacteremias e as ITUS associadas a cateteres foram as mais frequentes representando 39,2% dos casos, seguidas de pneumonias (24,9%), infecções em sítio cirúrgico (22,7%) e associadas à ventilação mecânica 13,2%. Entre 2009 e 2010, o número de casos reportados aumentou para 69.475 e a infecção mais frequente continuou sendo a bacteremia (40%) (SIEVERT et al, 2013). De forma geral, observa-se que nos Estados Unidos os principais sítios de infecções associados aos serviços de saúde são basicamente os mesmos, alterando a ordem de prevalência de acordo o período, o tipo de unidade hospitalar e a localidade. Na Europa a frequência de IRAS não difere muito do que se encontra nos EUA, ou seja, 5 a 10% dos pacientes que são admitidos em hospitais adquirem uma IRA (HUMPHREYS et al 2008; SIEVERT et al, 2013; SMYTH et al, 2008; WHO, 2010; ZARB et al, 2012). Um estudo realizado nos países britânicos em 2006 detectou que as IRAS mais comuns foram: 18 gastrointestinais (20,6%), ITUs (19,9%), em sítios cirúrgicos (15,5%), pneumonias (14,1%), na pele (10,4%) e infecções na corrente sanguínea primária (7%), (SMYTH et al. 2008). Zarb e colaboradores (2012) verificaram que na Espanha a ITR foi a infecção mais frequente (26%), seguida de infecções no sítio cirúrgico, responsáveis por 19% das IRAS e ITU, por 17%. No Brasil, entre os anos 1997 a 1999 o programa de vigilância de resistência bacteriana de abrangência mundial denominado SENTRY verificou a ocorrência de 3728 casos de infecções nosocomiais em 12 hospitais brasileiros. As infecções da corrente sanguínea foram responsáveis por 54% do total desses casos, seguido de infecções do trato respiratório inferior (22%), em pele ou tecidos (21%) e ITUs (23%) (SADER et al 2001). Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) as principais IRAS relatadas no Brasil são: infecção respiratória (48%), urinária (20%), da corrente sanguínea (14%) e da pele e tecidos moles (12%). (SANTOS et al., 2005). De acordo a Organização das Nações Unidas (ONU) A prevalência de IRAS no Brasil no período de 1995 a 2010 foi de 14%, dado este superior ao encontrado em países Europeus, tais como Finlândia, Inglaterra, Holanda, França e Espanha; Paises Africanos (Senegal e Gana), e América do Norte (Canadá e EUA) (WHO, 2010). Em 2007 no município de Ponta Grossa, Paraná, de 768 infecções tratadas em um hospital de alta complexidade, 63,2% foram de origem hospitalar, das quais 16,3% ocorreram em UTI neonatal, 27,8% em UTI adulto e 55,9% em enfermarias. Os principais patógenos identificados foram Escherichia coli (23,2%); Staphylococcus aureus (15,5%); Pseudomonas aeruginosa (11,8%); Klebsiella pneumoniae (10,3%); Staphylococcus coagulase-negativo (10,0%); Enterobacter aerogenes (10,0%) (GASPAR et al, 2012). Posteriormente, no período de 2000 a 2010, um estudo avaliou as IRAS na cidade de São Paulo tendo identificado que as infecções da corrente sanguínea foram responsáveis por 23% dos casos, seguido das infecções cutâneas e de tecidos (9,2%), associadas a feridas cirúrgicas e gastrointestinais (5,7%). Os bastonetes Gram-negativos foram os patógenos mais comuns, representando 49,9% dos isolados, dentre os quais os predominaram Acinetobacter baumanii (11,5%), K. pneumoniae (10,5%), Enterococcus spp.(8%) e P. aeruginosa (6,9%) (MACIEL et al., 2014). Na Bahia, segundo o Relatório Anual dos Indicadores de Infecção, em 2010 as infecções hospitalares tiveram uma taxa de episódios de 2,7% cuja letalidade foi de 6,3%. Os principais tipos de infecções foram: respiratórias (25,3%), ICS (20,2%), ITU (18%) e infecções em sítio cirúrgico (16,9%) (BAHIA, 2010). 19 Sendo assim, diversos fatores contribuem para a variação da frequência das IRAS: local de aquisição, sazonalidade, características do serviço, presença de co-morbidades e patógenos circulantes (MOEHRING; ANDERSON, 2014). As principiais espécies isoladas se alternam entre: S.aureus, E.coli, Staphylococcus coagulase-negativos, Klebsiella spp., P.aeruginosa e Enterococcus spp (BEREKET et al. 2012; SIEVERT et al, 2013; ZARB et al. 2012). 2.2 Infecções da corrente sanguínea Infecções da corrente sanguínea, ou seja, a presença de bactérias viáveis no sangue por um longo período causando problemas ao indivíduo podendo ser proveniente de procedimentos médicos, odontológicos ou outras infecções é uma importante causa de morbimortalidade (MOEHRING; ANDERSON, 2014). O aumento dessas infecções associado ao isolamento de patógenos resistentes a diferentes antimicrobianos está caracterizado como um importante problema de saúde pública mundial, uma vez que uma terapia inapropriada possibilita o agravamento do quadro clínico do paciente e eleva custos com o internamento e com medidas de controle e erradicação, aumento da gravidade do estado de saúde e o tempo de permanência na unidade de saúde (LAUPLAND, 2013; MOEHRING; ANDERSON, 2014). Portanto, a vigilância e o conhecimento da epidemiologia dessas infecções fornecem dados importantes para as intervenções de prevenção e garantia de segurança ao paciente que utiliza os serviços de saúde (COSGROVE, 2006). Há muitos anos a problemática das IRAS é estudada e sua vigilância é realizada em diversos países. Entre os anos de 1986 e 2003 National Nosocomial Infections Surveillance (NNIS) relatou a distribuição dos bacilos Gram-negativos em unidades intensivas para os principais sítios de infecções relacionadas aos cuidados de saúde nos EUA. Registou-se 33,2% de bacteremia associada a tais patógenos em 1986 foi e em 2003, 23,8%, ou seja, houve uma redução a qual pode ser devido à implementações e conscientização de boas práticas de controle de infecções no decorrer dos anos. No ano de 2003, espécies de Enterobacter foi o patógeno mais frequente, representando 4,4% de todos os microorganismos isolados e 18,5% dos bacilos Gram-negativos. Outras espécies de enterobactérias mais comuns foram: K. pneumoniae (4,2%), E.coli (3,3%) e Serratia marcescens (2,3%) (GAYNES; EDWARDS, 2005). No decorrer dos anos, as infecções causadas por enterobactérias tornou-se uma preocupação de saúde em todo o mundo, pois essas bactérias além de deterem mecanismos de resistência intrínsecos, adquiriram outros mecanismos de resistência aos antimicrobianos, os 20 quais somados reduzem as opções terapêuticas para um limitado número de drogas antimicrobianos. Diversos estudos relacionam as enterobactérias multirresistentes com surtos de infecções associadas aos serviços de saúde (ALMEIDA et al, 2013; CABRAL et al, 2012; CAMPANA, et al 2013; GALES et al, 2003; GIAKKOUPI et al, 2003; LEVERSTEIN-VAN HALL, 2010; NORDMANN; NAAS; POIREL, 2011; PEIRANO et al, 2009; STUART, 2011). 2.3 Enterobactérias Enterobactérias são bacilos Gram-negativos, fermentadores de glicose, anaeróbios facultativos e oxidase negativos. São ubíquas e constituem a microbiota intestinal dos animais, incluindo o homem. As espécies que constituem a microbiota humana são Proteus mirabilis, K. pneumoniae E.coli, Citrobacter freudii e Enterobacter spp. (PATERSON, 2006). Apesar de constituírem a microbiota humana, essas bactérias são importantes patógenos causadores de infeções quando atingem outros sítios corpóreos. E.coli, por exemplo, é o principal patógenos em ITUs; Klebsiella spp. e Enterobacter spp. são importantes agentes causadores de pneumonias; gastrointerites normalmente são causadas por Salmonella spp. ou Shiguella spp. e todas as espécies estão associadas à ICS, infecções intra-abdominais, peritonites. Há algumas décadas essas bactérias são estudadas quanto à aquisição de mecanismos de resistências aos antibióticos: carbapenêmicos, cefalosporinas de 3ª e 4ª geração, quinolonas, aminoglicosídeos, dentre outros (PATERSON, 2006). 2.4 Mecanismos de resistência antimicrobiana Diversos mecanismos de resistência bacteriana aos antibióticos já são esclarecidos, inclusive, algumas espécies apresentam resistência natural a determinadas classes de antibióticos. O surgimento de micro-organismos multirresistentes (MDR) tem ocorrido em diversos países tanto como patógenos de infecções comunitárias quanto nas hospitalares, como consequência do uso indiscriminado de antimicrobianos, mutações e recombinações gênicas (ASHLEY et al., 2011). Os casos mais relevantes são aqueles relacionados com a resistência adquirida, cujas bactérias inicialmente sensíveis ao antimicrobiano, torna-se resistente. Dentre os mecanismos de resistências estão: aquisição de bombas de efluxo; produção de enzimas, tais como as betalactamases de espectro estendido e as carbapenemases; mutação espontânea da proteína-alvo; 21 e alterações nos canais de porina das membranas (TENOVER, 2006). Atualmente a hidrólise dos antibióticos beta-lactâmicos é o mecanismo de resistência mais comum entre as enterobactérias e a associação de mais de um mecanismo tem sido cada vez mais comum (BUSH; JACOBY, 2010; DJAHMI et al. 2014). 2.4.1 Resistência intrínseca ou natural A resistência intrínseca é uma característica natural de um micro-organismo, que ocorre sem uma exposição prévia ao antibiótico. O conhecimento da resistência intrínseca das diferentes espécies ajuda a escolher as estratégias de tratamento empírico. A resistência natural das bactérias a determinados antibióticos deve-se a três possíveis razões: a) A ausência de um processo metabólico influenciável pelo antibiótico; b) Existência de enzimas que apresentem a capacidade de inativar o antibiótico; c) Presença de particularidades inerentes à morfologia bacteriana. (COX; WRIGHT, 2013). Um exemplo clássico de espécie que possui uma ampla resistência intrínseca é a Stenotrophomonas maltrophilia, um bastonete Gram-negativo, não fermentador de lactose com susceptibilidade apenas ao levofloxacino e ao sulfametoxazol-trimetropim (CLSI, 2014). Tal artifício restringe as opções de tratamento e, quando associado aos mecanismos de resistência adquiridos, torna-se um sério problema de saúde pública (COX; WRIGHT, 2013). 2.4.2 Resistência adquirida Existem quatro grandes mecanismos de resistência aos antibióticos que são: a alteração do local de ação, a alteração da permeabilidade, a bomba de efluxo e o mecanismo enzimático que altera a estrutura química do antibiótico a) Alterações do local de ação Este tipo de resistência caracteriza-se pela diminuição ou mesmo ausência de afinidade do antibiótico ao local de ligação. Esta ocorre por alteração da estrutura do peptidoglicano, interferência na síntese de proteínas ou na síntese de DNA. As PBP’s, ou seja, grupo de proteínas-alvo de penicilinas podem ter alterações que resultam em redução na afinidade com estes antimicrobianos. As principais alterações são: substituição da sequência de aminoácidos, hiperprodução e/ou aquisição de novas PBP’s e recombinação de genes que codificam essas proteínas gerando novas que não possuem afinidade com o antibiótico (GEORGOPAPADAKOU; LIU, 1982). Temos como exemplo, a resistência aos beta- 22 lactâmicos; resistência aos glicopeptídeos; resistência aos macrolideos, lincosamida e estreptogramina B;resistência a oxazolizonas e a tetraciclinas. b) Alteração da permeabilidade As bactérias Gram-negativas são constituídas por duas membranas celulares, interna e externa, constituídas por fosfolipídeos e lipídeos, respectivamente. Tal constituição favorece a penetração lenta do fármaco, a qual é realizada por meio da difusão pelos canais de porina e bicamada lipídica. A permeabilidade da membrana celular, cuja modificação pode ser ocasionada por alterações estruturais, pelo número, seletividade ou tamanho das porinas, é fundamental para que o antibiótico atue de forma desejável sob o micro-organismo (DECOUR, 2009). c) Bombas de efluxo Bombas de efluxo são partes integrantes da membrana plasmática bacteriana responsáveis pelo transporte ativo de substâncias para o exterior da célula. Elas são codificadas por elementos genéticos localizados em cromossomos e em algumas espécies elas têm sido detectadas em plasmídeos, o que pode facilitar a propagação dos genes de efluxo, contribuindo para a resistência intrínseca e adquirida, permitindo à bactéria sobreviver em ambientes hostis, como, por exemplo, na presença de antibióticos e desinfetantes. (MAHAMOUD et al., 2007) A hiperexpressão dessas bombas de efluxo, contribuem para a redução da concentração da droga no interior da célula, lançando o antibiótico para fora da membrana. As bombas de efluxo estão presentes tanto em bactérias Gram-negativas quanto em Gram-positivas, sendo mais frequentes em Gram-negativos (MAHAMOUD et al., 2007) d) Degradação de antimicrobianos pela ação enzimática O mecanismo enzimático de resistência devido a inativação do fármaco resulta na produção, pela bactéria, de enzimas que degradam ou inativam o antibiótico. Existem três principais mecanismos, tais como, hidrólise, transferência de um grupo ou processo redox. A forma mais comum são as amidases hidrolíticas, isto é, as β-lactamases, que quebram o anel β-lactâmico das penicilinas e cefalosporinas. 23 · Enzimas da classe β-lactamases As β-lactamases são enzimas capazes de catalisar a hidrólise do anel β-lactâmico impossibilitando assim sua atividade antimicrobiana. Este é o principal mecanismo de resistência das bactérias Gram-negativas aos β-lactâmicos, uma vez que inativa tais antibióticos diminuindo a habilidade destes de alcançarem o sítio ativo, as proteínas ligadoras de penicilina (PBPs). As β-lactamases atuam via éster de serina em que o anel β-lactâmico é atacado pela hidroxila livre da cadeia lateral do resíduo de serina que ativa o sítio da enzima, produzindo um éster acil covalente. O anel β-lactâmico é rompido em sua cadeia lateral pelo radical hidroxil livre do resíduo de serina da β-lactamase (sítio ativo da enzima). Após a hidrólise do éster ocorre a liberação da enzima ativa e da droga inativada (BUSH, 1983) As bactérias Gram-negativas apresentam a produção de β-lactamases como o principal mecanismo de resistência aos antibióticos β-lactâmicos e o mais disseminado mundialmente (HALL; BARLOW, 2005). Tais enzimas foram primeiramente descritas por Ambler (1980), o qual propôs duas classificações moleculares segundo a sequência de aminoácido: Classe A, representada pelas serinas proteases, e Classe B, metalo-β-lactamases que requerem íons bivalentes no sítio ativo, sendo o mais comum o zinco. Posteriormente duas novas classes foram descobertas: Classe C, ampC β-lactamases que apesar de serem serinas possuem uma origem evolutiva distinta das primeiras descritas, e Classe D, oxacilina β-lactamase as quais contém poucas semelhanças com as classes A e C apesar de ser uma serina protease (JAURIN; GRUNDSTRÖM, 1981; OUELLETTE et al. 1987). A prática clínica utiliza com mais frequência uma outra classificação que considera as características funcionais dessas enzimas. Elas são classificadas de acordo com a especificidade e a sensibilidade ao ácido clavulânico em quatro grupos. Grupo 1 - hidroliza cefalosporinas e não são inibidas pelo ácido clavulânico. Grupo 2 corresponde às penicilinases, ESBL, cefalosporinases dentre outros mecanismos que são inibidos pelo ácido clavulânico. Grupo 3, metalo-β-lactamases, é resistente ao ácido clavulânico, entretanto, sua principal característica é a necessidade da presença de íons zinco para serem ativadas sendo, portanto, sensíveis aos agentes quelantes de zinco tal como o EDTA. Grupo 4, foi primeiramente representado por penicilinases sensíveis ao ácido clavulânico e posteriormente foi excluído do esquema. Hoje, esse grupo é composto pelas oxacilinases cuja característica é a resistência a todos os inibidores das demais enzimas: ácido clavulânico, tazobactam, sulbactam e EDTA (BUSH 1989; BUSH et al. 1995; BUSH; JACOBY, 2010). 24 β-lactamase de espectro ampliado (ESBL) As β-lactamases de espectro estendido (ESBL) são enzimas mediadas por plasmídeos com a propriedade de degradarem β-lactâmicos de espectro estendido, tais como cefalosporinas de 3ª e 4ª geração, monobactâmicos e penicilinas e por serem sensíveis à cefoxitina e, principalmente, aos inibidores específicos (ácido clavulânico, sulbactam e tazobactam). Essas enzimas são representantes da classe A de Ambler e do grupo 2be e 2d da classificação de Bush e Jacob (AMBLER, 1980; BUSH; JACOBY, 2010). A primeira ESBL foi identificada em 1983 após a descoberta de uma cepa de K.pneumoniae resistente à cefoxitina, cefuroxima e cefamandol (KNOTHE et al., 1983). Posteriormente foi identificado o gene SHV, denominado como “sulphydryl variable” devido às suas propriedades bioquímicas (BRADFORD, 2001). Desde então a distribuição desses genes aumentou e hoje existem diversos outros envolvidos nesse mecanismo, tais como, CTX-M, BES, BEL, PER, VEB e subtipos que embora se distinguem em uma sequência de aminoácido comportam-se de forma semelhante (BUSH; JACOBY, 2010). Hoje já existem mais de 200 variantes dos genes que codificam enzimas com potencial de atividade sob a hidrólise de oxi-imino cefalosporinas e a benzilpeniclina e são de grande relevância mundial devido à ampla disseminação em diversas espécies de enterobactérias (BUSH et al, 2014). Atualmente o grupo de genes que codificam ESBL mais frequentes no mundo são do tipo CTX-M (cefotaximases) com cerca de 160 subtipos relatados, conhecidas por sua capacidade de hidrolisar a cefotaxima mais efetivamente do que ceftazidima, podendo ter ação também sobre a cefepime (RAWAT; DEEPTHI, 2010). Essa enzima foi inicialmente descrita em 1990 a partir de um isolado de E.coli com alto nível de resistência à cefotaxima (BAUERNFEIND et al., 1990). A distribuição dessas ESBL é geograficamente distinta, sendo CTX-M-14 e CTX-M-15 as mais frequentes em isolados clínicos (CASTANHEIRA et al. 2013; ZHAO; HU, 2013). No Brasil as ESBL do tipo CTX-M são as mais relatadas, chegando a representar 91% do total das ESBL identificadas. Os subtipos mais comuns são CTX-M-2, CTX-M-8 e CTX-M9, contudo, casos de CTX-M-15 já foram relatados (CARVALHO-ASSEF et al. 2014; MINARINI et al. 2009; SEKI et al. 2013;). Outros genes de resistência para ESBL também já foram encontrados no Brasil tais como TEM, SHV, GES, BES diversas variantes incluindo (BONNET et al. 2000; DROPA et al. 2009; MARRA et al. 2011; PICÃO et al. 2010; RIBEIRO et al. 2010). 25 AmpC β-lactamase De acordo a classificação de Ambler e a de Bush, a Classe C e Grupo 1 das β-lactamases, respectivamente, são representadas pelas enzimas do tipo Amp C, as quais podem ser de origem cromossomal ou plasmidial. Apesar de possuírem semelhanças com as ESBLs quanto ao perfil de resistência aos β-lactâmicos e serem serina-proteases, a Amp C difere em relação à resistência ao ácido clavulânico ou outro inibidor de β-lactamase, os quais, muitas vezes, atuam como indutor da enzima (BUSH; JACOBY, 2010). O primeiro gene para AmpC descrito foi denominado de CMY-1 (cefamicinase) devido a capacidade hidrolítica as cefamicinas, em 1988 após o isolamento de uma cepa de K.pneumoniae resistente a penicilinas, cefalosporinas de todas as gerações cefamicinas, aztreonam, tigeciclina, clorafenicol e sulfonamidas, surgiu a ideia acerca da possibilidade de transferência de genes de resistência via plasmídeos (BAUERNFEIND et al. 1989). Hoje, existem diversos genes tais como DHA, MOX e FOX dentre outros, com disseminação mundial, sendo o CMY o mais identificado (BUSH; JACOBY 2010; JACOBY, 2009; PHILIPPON et al., 2002 ). Em espécies dos gêneros Citrobacter, Enterobacter, Serratia e Providencia expressão da AmpC é pequena, entretanto, é induzida pela exposição aos β-lactâmicos, havendo muitas vezes divergência entre o resultado do antibiograma e a resposta terapêutica, ou seja, a resposta in vitro muitas vezes não prediz a resposta in vivo (BUSH; JACOBY, 2010). A partir da transferência de genes cromossomais via plasmídeos, diversas espécies tais como E.coli, K.pneumoniae e Salmonella spp. atualmente são relatadas com tal perfil de resistência (JACOBY, 2009; PHILIPPON et al. 2002). No Brasil, onde a maioria dos estudos se limitam à região Sudeste, a presença de genes que codificam AmpC em diversas espécies de enterobactérias foram identificados. O gene CMY-2, assim como em outras partes do mundo, são os mais frequentes (CAMPANA et al. 2013; DIAS et al. 2008; JACOBY, 2009; PAVEZ et al. 2008). Carbapenemases As carbapenemases, ou seja, β-lactamases que hidrolisam carbapenêmicos além de cefalosporinas e penicilinas, são inseridas em três grupos da classificação de Ambler: A,B e D. Na classificação funcional, por sua vez, essas enzimas pertencem ao subgrupo 2f e 3 (BUSH; JACOBY, 2010). Essas enzimas constituem uma das maiores preocupações no âmbito da resistência bacteriana uma vez que as opções terapêuticas para o tratamento de 26 infecções por bactérias produtoras de carbapenemases muitas vezes ficam limitados ao uso de tigeciclina e polimixina, os quais possuem alta toxicidade, contribuindo para a elevada letalidade (18 a 69%) de infecções por bactérias que expressam este mecanismo de resistência. (MONTEIRO et al., 2009; NORDMANN; NAAS; POIREL, 2011; PEIRANO et al, 2009; SEIFFERT et al. 2014; STUART; 2011;). As carbapenemases do grupo A são representantes das serinas proteases, cromossomais ou plasmidiais, caracterizadas pela fraca susceptibilidade ao ácido clavulânico, tazobactam e sulbactam. Inseridas nesse grupo estão as enzimas codificadas pelos genes GES e KPC mediados por plasmídeos, totalizando 57 variantes ( BUSH et al, 2014; BUSH; JACOBY, 2010;) sendo a KPC de predominância mundial. O primeiro caso de KPC foi identificado na Carolina do Norte em 2001 em uma cepa de K.pneumoniae, justificando sua nomenclatura (Klebsiella pneumoniae carbapenemase) (YIGIT et al., 2001). Atualmente existem inúmeros relatos de clones produtores dessas enzimas em diversas espécies de enterobactérias associados à surtos em todo o mundo sendo as variantes KPC-2 e KPC-3 as mais frequentes (BUSH; JACOBY, 2010; DJAHMI et al., 2014). No Brasil o primeiro caso de KPC foi identificado em 2008 na cidade de Recife após uma análise de quatro isolados de K. pneumoniae resistentes aos carbapenêmicos. Além da presença da KPC-2 foram encontrados nos isolados outros genes de multirresistência: CTXM-2, SHV e TEM (MONTEIRO et al., 2009). Após este, outros casos foram relatados em diversas regiões do Brasil, associados a diversas espécies de enterobactérias (PEIRANO et al., 2009 e SEKI et al 2013). As integrantes da classe B de Ambler ou Classe 3 de Bush, por sua vez, denominadas de Metalo-β-lactamases (MBLs) apresentam como principal característica a presença de Zn+2 no seu sítio ativo. Essa propriedade torna-as susceptíveis aos agentes quelantes, tal como EDTA e sensíveis apenas à monobactâmicos e polimixina (AMBLER, 1980; HALL; BARLOW, 2005; BUSH et al., 1995; BUSH; JACOBY, 2010). Em 1995, foi identificada a primeira MBL, denominada IMP (imipnemase), isolada de Serratia marcecens no Japão (ITO et al. 1995). Posteriormente ocorreu a descoberta da VIM (Verona imipenase) com 31,4% de similaridade com a IMP, esta enzima predispõe uma redução da susceptibilidade para penicilinas e cefalosporinas, e representa o tipo mais frequente de MBL relatados em todos os continentes. (LAURETTI et al. 1999; MALTEZOU, 2009). As MBLs, hoje, possuem cerca de 100 variantes detectadas em cepas de enterobactérias e em bactérias não-fermentadores de glicose no mundo todo, inclusive no 27 Brasil (BUSH; JACOBY, 2010; GIAKKOUPI et al. 2003; MARTÍNEZ et al., 2014; MIRIAGOU et al. 2003; SADER et al. 2005; VOURLI et al., 2006; WIRTH et al., 2009 ). Em 2008 foi identificada uma nova enzima a New Deli Metalo-betalactamase (NDM) isolada de K.pneumoniae, identificada de um paciente hospitalizado em Nova Deli, Índia. Desde então, a presença dessa enzima em enterobactérias tem sido descrita em todo o mundo tanto em casos isolados quanto em surtos. Atualmente, existem 12 variantes de NDM sendo a Índia o principal país de origem (BUSH et al, 2014; CARVALHO-ASSEF et al., 2013; GONÇALVES et al. 2009; SEIFFERT et al. 2014; TADA et al. 2014; YONG et al., 2009;). No Brasil já foram identificadas MBLs do tipo VIM, IMP, SPM e NDM. A SPM, São Paulo metalo-β-lactamase, é de origem brasileira, inicialmente identificada em São Paulo em 2002. Essa enzima foi associada a surtos e manteve-se restrita ao país por um período até ser detectada em outros países (ALMEIDA et al. 2013; GALES et al., 2003; FEHLBERG et al. 2012; PELLEGRINO et al. 2006; RIZEK et al. 2014; SALABI et al. 2010; SILVA et al. 2014; TOLEMAN, 2002;). No Brasil, o primeiro caso de NDM foi detectado no Rio Grande do Sul, em uma cepa de Providência rettgeri, isolada de um paciente com doença vascular periférica com um quadro de “pé diabético” (CARVALHO-ASSEF et al. 2013). Outros casos surgiram posteriormente, entretanto a maioria das espécies reportadas foram de bacilos Gram-negativos nãofermentadores de glicose (CAMPANA et al. 2013; CARVALHO-ASSEF et al. 2014; FRANCO et al. 2010; GONÇALVES et al.; 2009; POLOTTO et al. 2012). A classe D das carbapenemases, ou seja, do grupo das oxacilinases compreende da OXA23 e OXA-48 como principais representantes as quais são frequentemente encontradas em Acinetobacter baumanii. Esse grupo de enzimas detém a particularidade de não possuir inibidores, ou seja, tanto o EDTA quanto os inibidores de β-lactamases são inativos (DJAHMI et al. 2014; NORDMANN; NAAS; POIREL, 2011; PEIRANO et al, 2009; STUART; 2011;). As OXA carbapenemases bem como as demais genes que codificam carbapenemases estão emergindo no mundo e muitas vezes, outros mecanismos de resistência antimicrobiana estão presentes, como por exemplo: outros tipos de enzimas, alteração de canais de porinas e aquisição de bombas de efluxo, dificultando o tratamento, limitando-o à polimixina e tigeciclina, constituindo um sério problema nas instituições de saúde (CABRAL et al, 2012; CARVALHO-ASSEF et al. 2014; DAIKOS et al. 2009; DJAMDJIAN et al. 2011; JASKULSKI et al. 2013; MONTEIRO et al. 2009; RIZEK et al. 2014 SEKI et al., 2013;). 28 2.5 Métodos de detecção fenotípicos Diante dessa problemática mundial o diagnóstico clínico e a correta identificação do perfil de resistência antimicrobina é essencial para auxiliar o tratamento, bem como o manejo do paciente infectado com bactéria MDR. Sendo assim, é fundamental a realização de testes fenotípicos a fim de identificar os mecanismos de resistência. Os laboratórios clínicos encontram suporte para a execução destes métodos nos docuemntos emitidos pelo CLSI, que padroniza o teste de disco aproximação como forma de avaliar fenotipicamente a presença de ESBL em P.mirabilis, K.pneumoniae, K.oxytoca e E.coli. Recomenda-se a inicialmente utilização de cefalosporinas de 3ª geração (ceftazidima, cefotaxima, e ceftriaxona) e aztreonam. Para fins confirmatórios o documento orienta o uso de ceftazidima ou cefotaxima isolado e em associação com ácido clavulanico (CLSI, 2014). Outra técnica para detecção fenotípica de ESBL é a disco aproximação. Nessa técnica utiliza-se um disco de amoxacilina associado com ácido clavulânico no centro da placa de petri. Ao redor desse disco, numa distância de dois mm coloca-se três discos de cefalosporinas de 3ª ou 4ª geração, como por exemplo cefepime, ceftriaxona, ceftazidima e cefotaxima, e um disco de monobactâmico, como o aztreonam. Após a incubação observa-se a presença de uma zona de inibição entre os discos testados e a amoxicilina/ácido clavulânico ou distorção de halos de pelo menos uma cefalosporina ou o monobactâmico. Esse resultado indica a positividade para o feste fenotípico. A ANVISA (2013) preconiza como detecção fenotípica de carbapenemase o teste com ácido fenilborônico e cloxacilina para possíveis KPC e com EDTA para MBLs. Para ambos testes utiza-se em meio Muller-Hinton um disco de um carbapenemêmico, imipenem ou meropenem como e sem o aditivo. Após a incubação de 18 a 24 horas compara os halos formados. Para detecção de KPC, se houver uma diferença de 5mm no halo do disco com ácido fenilborônico e não tiver alteração no tamanho do halo com a cloxacilina o resultado é para uma possível KPC. Para MBLs, a leitura é similar, uma vez que o resultado positivo é a presença de uma diferença de 5mm no halo do disco com o EDTA para o sem aditivo. Para resultados positivos em ambos os casos, é recomendado a identificação do gene de resistência por biologia molecular. Outro teste fenotípico para detecção de carbapenemase é o Teste de Hodge Modificado, no qual utiliza-se um inóculo de uma cepa de referência, normalmente E.coli ATCC 25922, que não seja resistente a algum carbapenêmico. Em seguida um disco de carbapenêmico é inserido no centro da placa e a cepa suspeita é sobreposta com uma estria do centro do disco 29 para a extremidade da placa. Após a incubação de 18 a 24 horas se houver crescimento da cepa de referência com distorção no halo de inibição o resultado é considerado positivo (CLSI, 2014). 2.6 Métodos de detecção genotípicos As técnicas moleculares também são importantes epidemiologicamente, para se determinar qual enzima é mais prevalente em determinada região. Além disso, há casos em que um mesmo isolado clínico expressa múltiplas enzimas, sendo necessário a utilização de técnicas moleculares para detectar quais enzimas estão presentes (PITOUT; LAUPLAND, 2008). 30 3. Justificativa Luzzaro e colaboradores (2002) avaliaram a prevalência de bactérias Gram-negativas em bacteremia de 16 hospitais da Itália durante dois anos, no período de 1999 e 2000, e encontraram os seguintes micro-organismos: E. coli (76%), K. pneumoniae (5.4%), Proteus mirabilis (4,2%) e Enterobacter spp (3,7%). Na Espanha, um estudo realizado em um hospital universitário em 2011 detectou que 72% dos isolados de K. pneumoniae eram ESBL (ALEGRÍA et al. 2011). Micek e colaboradores (2012) em um estudo realizado em Washinton, EUA, no período de 2002 a 2006 detecaram 754 pacientes com infecção da corrente sanguínea por bactérias Gram-negativas. E.coli, K.pneumoniae, Enterobacter spp., P.mirabilis e S.marcecens foram as espécies de enterobactérias mais frequentes, 30,8%, 23,2%10,1%, 4,9% e 4% respectivamente. Entretanto, esse estudo não avaliou o perfil de multirresistência dos patógenos. No Brasil as infecções da corrente sanguínea também possuem como principais patógenos as enterobactérias, contudo, os estudos são limitados. Em estudo realizado em São Paulo no período de 2000 a 2001, essas infecções por bactérias Gram-negativas representaram 34% do total de 150 hemoculturas positivadas. Os micro-organismos mais frequentes foram K.pneumoniae (23,5%), E.coli (21,6%), Pseudomonas aeruginosa (17,6%) e espécies de Enterobacter (15,7%) as quais apresentaram fenótipos de resistências aos antimicrobianos variados, com uma taxa de 23,5% de ESBL e de 17,6% e de AmpC (RIBAS et al, 2007). Por sua vez, entre 2007 e 2010, um estudo nacional de vigilância, que agregou 16 hospitais, baseado no SCOPE (Vigilância e Controle de Patógenos de Importância Epidemiológica) brasileiro avaliou que as bacteremias nosocomiais foram causadas principalmente por bactérias Gram-negativas, representando cerca de 58,5% dos casos, seguido das Gram-positivas (35,5%). Dentre os patógenos, a K.pneumoniae foi a enterobactéria mais frequente (13,2%), cujos testes de sensibilidade antimicrobiana detectaram resistência para diversas classes inclusive carbapenêmicos. Entretanto, não foram realizados testes moleculares para identificação do gene de resistência envolvido. A taxa de mortalidade dos pacientes infectados por enterobactérias variou entre 0 a 50% dos casos dependendo da espécie. As unidades intensivas foram as responsáveis pelas maiores taxas de isolamento e de mortalidade associada com as bacteremias estudas (MARRA et al. 2011). Com o aumento do uso de antimicrobianos de amplo espectro associado à presença de mutações espontâneas e transmissão horizontal de genes, os relatos de desenvolvimento de 31 MDR estão em crescente aumento. No Brasil, a maioria dos dados sobre multi-resistência são das regiões sul e sudeste, sendo que a Bahia requer de estudos que avaliem o perfil de MDR. Diante do exposto, podemos afirmar, a perceptível importância da identificação das cepas de bactérias Gram-negativas causadoras de bacteremia, tanto em ambiente hospitalar quanto na comunidade, bem como a caracterização molecular e do perfil de resistência à terapia antibacteriana em Salvador a fim de poder direcionar a terapia antimicrobiana mais apropriada. 32 4. Objetivos 4.1. Objetivo geral Caracterizar o perfil de resistência aos antimicrobianos em enterobactérias em casos de infecções da corrente sanguínea, em um hospital público de Salvador, Bahia. 4.2. Objetivos específicos a. Determinar a frequência de espécies de enterobactérias implicadas em infecções da corrente sanguínea. b. Determinar o perfil de sensibilidade antimicrobiana destes patógenos; c. Caracterizar os principais mecanismos de resistência antimicrobiana através de métodos fenotípicos e genotípicos. 33 5. Materiais e Métodos 5.1.Período e tipo do estudo Estudo prospectivo conduzido no Hospital Ana Nery na cidade de Salvador (HAN), Bahia no período de Maio de 2013 a Abril de 2014. 5.2.Critério de inclusão Foram incluídos no estudo indivíduos admitidos no hospital Ana Neri que foram diagnosticados com ICS causadas por enterobactérias no período de Maio de 2013 a Abril de 2014. Após detecção de hemocultura positiva por bacilos Gram-negativos, os isolados foram enviadas para o Laboratório de Pesquisa de Microbiologia Clínica (LPMC) da Faculdade de Farmácia, Universidade Federal da Bahia (UFBA). 5.3.Local de estudo O estudo foi realizado no HAN na cidade de Salvador, vinculado à Universidade Federal da Bahia, que presta serviços de média e alta complexidade e cujas especialidades são: cirurgia vascular, cardiologia e nefrologia. O HAN possui 175 leitos distribuídos entre 6 enfermarias, 4 unidades intensivas, pronto atendimento e nefrologia (Tabela 1). Os dois últimos são considerados unidades fechadas bem como as demais, uma vez que os pacientes são internados por meio do sistema de regulação estadual e podem permanecer alguns dias. 5.4. Coleta de dados Os dados demográficos e clínicos e outras informações necessárias para a realização do estudo foram coletados retrospectivamente, apesar dos isolados serem prospectivos, através de revisão de prontuários, utilizando um formulário com abordagens sobre dados gerais do paciente, sintomas, tratamento, história clínica, internação, fontes e fatores de risco e uso prévio de antibióticos (Apêndice A, Apêndice B). Contudo, foram coletados apenas os seguintes dados: idade, tempo e motivo de internamento, e desfecho clínico, devido à dificuldade de acesso aos prontuários na instituição. 5.5. Procedimentos Microbiológicos a) Hemoculturas 34 As hemoculturas foram coletadas pelos funcionários do laboratório do Hospital Ana Nery conforme a solicitação médica. Em seguida foram encaminhados para o setor de microbiologia do laboratório do hospital onde os frascos Bact-Alert® contendo as amostras foram incubadas no aparelho com o mesmo nome por até 5 dias. b) Isolamento das bactérias Após a sinalização do aparelho para a positividade da amostra, foi realizado um Gram direto, e, posteriomente, a amostra foi semeada em ágar Mac Conkey e ágar Chocolate, incubada por 18 a 24 horas em estufa com 5% CO2, no laboratório de análises clínicas do HAN. Tabela 1- Características das unidades de internamento e leitos do Hospital Ana Nery na cidade de Salvador, Bahia. Unidades N° de leitos Unidades intensivas 26 UCO 8 UPC 7 UTI 6 UTI pediátrica 5 Enfermarias 118 Cardiologia 21 Cirurgia cardiológica 23 Cardiopediatria 13 Clínica cirúrgica A 26 Clínica cirúrgica B 18 Clínica Médica 17 Nefrologia 23 Pronto Atendimento 8 Fonte: A autora c) Identificação de bactérias Os isolados foram identificados através do aparelho de automação Phoenix BD® no laboratório de análises clínicas do HAN. Posteriormente, no LPMC as identificações das espécies E.cloacae, E.aerogenes, Citrobacter freuddi, Morganella morganii, Proteus spp, Klebsiella spp, Klebsiella oxytoca, Salmonella spp foram confirmadas por testes bioquímicos através dos cartões de identificação do Vitek 2® no Laboratório de microbiologia do Hospital 35 Universitário Professor Edgard Santos (Hospital das Clínicas/UFBA). Adicionalmente, os isolados K.pneumoniae, E.coli e Serratia marcecens foram confirmados a partir do perfil de resistência intrínseca. Em casos de dúvidas esses isolados foram confirmado pelo Vitek 2®. Para as bactérias, com discordância na identificação, foram considerados os resultados do Vitek 2® devido à probabilidade de correta identificação ser superior à 90%. Após a identificação as bactérias foram congeladas em criotubos contendo BHI + 20% de glicerol em freezer de -80ºC, para análise posterior dos perfis de resistência. d) Teste de detecção de resistência · Preparo das amostras A partir de uma amostra bacteriana crescida em TSA a 35-37 °C por 16-18 horas, suspensões bacterianas foram preparadas de acordo com a escala 0,5 de McFarland (~108 UFC/mL) em solução salina estéril. Posteriormente, essas suspensões foram semeadas em placas contendo meio de Mueller-Hinton (Difco), com o auxílio de swabs estéreis. · Teste de sensibilidade Antimicrobiana Foram realizados testes de susceptibilidade aos antimicrobianos pelo método de discodifusão (Kirby-Bauer), segundo as recomendações do CLSI (2014), para os seguintes antimicrobianos: ampicilina, amicacina, amoxacilina/ácido clavulânico, aztreonam, ceftazidima, cefotaxima, ceftriazona, cefepime, cefoxitina, ciprofloxacino, gentamicina, ertapenem, imipenem, meropenem, polimixina, tigeciclina e sulfametoxazol/trimetropim (Tabela 2). Os discos de papel filtro impregnados com os antimicrobianos Bio-rad® foram aplicados sobre o meio de cultura. Posteriormente, as placas foram então incubadas a 37 °C por 20-24 horas. Como controles foram utilizadas as cepas E. coli ATCC 25922. Os resultados foram interpretados segundo o CLSI 2014. Os critérios de interpretação para polimixina e tigeciclina foram os recomendados pela ANVISA (2013). A partir do perfil observado foram feitos testes de triagem fenotípicos para detecção de mecanismos de multirresistência (Figura 1). · Detecção fenotípica da produção de ESBL A produção de ESBL foi investigada pelo método de disco aproximação. Este teste foi realizado conforme descrito no CLSI 2014. Após a inoculação bacteriana com auxílio de swab estéril em ágar Mueller-Hinton, foram adicionados à superfície do meio um disco de cefotaxima, ceftazidima, aztreonam, ceftriaxona e um disco de amoxacilina/ácido clavulânico 36 no centro da placa, observando uma distância de dois milímetros entre cada disco. As culturas foram então incubadas a 37 °C por 20-24 horas. A observação de distorção dos halos ou zona confluência entre os discos foi indicativo da produção de ESBL. Para os micro-organismos em que a distorção do halo não foi clara, a distância dos discos foi reduzida a para 1,5mm em relação à amoxacilina/ácido clavulânico, ficando, dessa forma, evidente a presença da zona de distorção. A cepa de referência utilizada para controle positivo foi a E.coli ST 127. · Testes com inibidores e potenciadores para detecção de carbapenamses Para os isolados resistentes à pelo menos um carbapenêmico, foi feita a suspensão bacteriana e, posteriormente a semeadura de forma uniforme em Ágar Muller Hinton. Discos de Meropenem, Imipenem e Ertapenem foram inseridos com e sem adição de 10µL de solução de ácido fenilborônico 40mg/mL Sigma®, 10µL de solução de cloxacilina 75mg/mL Sigma® e 10µL ml de EDTA 0,1M., de acordo o preconizado pela ANVISA (2013). As culturas foram então incubadas a 37 °C por 20-24 horas (Figura 2). A interpretação desse teste permite a identificação de carbapenamses do tipo KPC e MBL ou AmpC plasmidiais. · Teste fenotípico de detecção da produção de carbapenemases do tipo não MBL Teste Modificado de Hodge, segundo a CLSI (2014) - Uma suspensão de E.coli ATCC 25922 foi preparada com turvação equivalente a escala 0,5 de McFarland (~108 UFC/mL) em solução salina estéril. Posteriormente, essa suspensão foi semeada em placas contendo meio de Mueller-Hinton (Difco), com o auxílio de swabs estéreis. Após a inoculação bacteriana com auxílio de swab estéril em ágar Mueller-Hinton, foi adicionado à superfície do meio no centro da placa de petri um disco de ertapenem. Em seguida foram feitas linhas perpendiculares ao disco com o micro-organimso teste (Figura 3). As placas foram incubadas a 37 °C por 20-24 horas. Os resultados foram considerados positivos para produção de carbapenemase, se a presença de reentrância em forma de trevo foi observada no halo do ertapenem em contato com a amostra teste. Para controle positivo e negativo foram utilizadas as cepas K.pneumoniae ATCC 1705 e ATCC 1706, respectivamente. 37 Figura 1 - Fluxograma dos testes de detecção de resistência realizados nas enterobactérias isoladas de hemocultura no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um Hospital de salvador, Bahia. Bactéria Suspensão na escala 0,5 Mc Farland Semeadura em Ágar Muller Hinton e inserção dos discos de antibiótico e realização do teste de detecção fenotípica de ESBL Teste de detecção fenotípica para ESBL positiva ? Sim Resistência à algum carbapenêmico? Não Teste de detecção fenotípica para detecção de carbapenemases positivo Não PCR multiplex para detecção genes codificadores de ESBL Teste fenotípico para detecção de KPC Teste de Hodge modificaado Teste fenotípico para detecção de MBL PCR multiplex para detecção genes codificadores de carbapenemases e ESBL 38 Tabela 2 - Critérios de interpretação da Disco Difusão para cada antibiótico. Antibiótico Concentração Critério de interpretação da do disco (µg) zona de diâmetro (mm) Sensível Não sensível Amicacina 30 ≥17 ≤16 Ampicilina 10 ≥17 ≤16 20/10 ≥18 ≤17 Aztreonam 30 ≥21 ≤20 Cefepime 30 ≥25 ≤24 Cefotaxima 30 ≥26 ≤25 Cefoxitina 30 ≥18 ≤17 Ceftazidima 30 ≥21 ≤20 Ceftriaxona 30 ≥23 ≤22 Ciprofloxacino 5 ≥21 ≤20 Ertapenem 10 ≥22 ≤21 Imipenem 10 ≥23 ≤22 Gentamicina 10 ≥15 ≤14 Meropenem 10 ≥23 ≤22 Polimixina1 10 ≥12 ≤11 25/23,75 ≥16 ≤15 15 ≥18 ≤17 Amoxacilina/Ácido clavulânico Sulfametoxazol/ trimetropim Tigeciclina1 1. Dados utilizados conforme ANVISA (2013). Fonte: A autora 39 Figura 2: Esquema para aplicação de discos de antimicrobianos para detecção de carbapenemases. Fonte: Adaptado de ANVISA, 2013. Figura 3: Teste de Hodge Modificado E.coli ATCC 25922 Halo de inibição formado pela E.coli ATCC 25922 ao ter contato pelo carbapenêmico. Crescimento da E.coli ATCC 25922 após a inativação do carbapenêmico pela K.pneumoniae ATCC 1705 1.K.pneumoniae ATCC 1705 – Resultado positivo 2. K.pneumoniae ATCC 1706 – Resultado negativo 3. Isolado clínico – Resultado positivo. Fonte: Adaptado de CLSI, 2014. · Teste fenotípico de detecção de carbapenemase do tipo Metalo-β-lactamase A detecção da produção de MBLs foi investigada pelo método de disco-aproximação. Este teste foi realizado segundo ANVISA, 2013. As suspensões bacterianas foram obtidas como já descrito anteriormente. Após a inoculação bacteriana com auxílio de swab estéril em 40 ágar Mueller-Hinton, foram adicionados à superfície do meio dois discos de meropenem a uma distância, de centro a centro dos discos, de 20 mm. A um dos discos foi adicionado 10µL ml de EDTA 0,1M. A restauração da sensibilidade pelo imipenem com EDTA foi identificada através da observação de uma diferença de diâmetro do halo de pelo menos 5mm em relação ao carbapenêmico sem EDTA. A cepa utilizada como controle positivo foi E.cloacae CCBH 10892 a qual possui o gene NDM-1 e para controle negativo a K.pneumoniae ATCC 1705 · Testes genotípicos para detecção de genes de resistência Seleção de amostras Todas as amostras que apresentaram resultados positivos nos testes fenotípicos de identificação de resistência foram submetidas ao teste de PCR multiplex, segundo DALENE, (2010) para identificação dos genes codificadores de ESBL: TEM (TEM-1 e TEM-2 e variantes), SHV (variantes SHV, incluindo SHV-1) OXA-1-like (variantes OXA-1, OXA-4 e OXA-30) e CTX-M (grupo 1, grupo 2 e grupo 9); e carbapenemases: KPC, VIM e IMP Extração do DNA: As bactérias identificadas como produtoras de ESBL e as resistentes a pelo menos um carbapenêmico foram subcultivadas em TSA e incubadas durante 16 – 18h, à 35 – 37ºC. Posteriormente, foi realizada uma suspensão de cinco colônias em 100 µL de água miliQ estéril em eppendorf de 1,5mL. Incubou-se em banho-maria a 95ºC por 10 minutos e centrifugou a 12000 rpm por dois minutos. Em seguida o sobrenadante foi transferido para outro eppendorf de 1,5mL e armazenado à -20ºC. PCR Multiplex para detecção de genes que codificam ESBL e carbapenemases Um total de 3 reações de PCR multiplex foram realizadas, duas para detecção de genes de resistência codificadores de ESBL (Tabela 3) e uma para carbapenemase, segundo a descrição de (DALLENE et al, 2010). Para cada PCR multiplex foi preparado uma mistura de 25 µL contendo 12,5 µL de GoTaq Colorless Master Mix®, Promega, 2 µL de DNA da amostra teste, uma concentração variável de primers (Tabela 3) e água para PCR q.s.p. As reações para ESBL foram executadas no termociclador Mastercycler gradient®, Eppendorf, sob as seguintes condições: desnaturação inicial 94ºC por 10 minutos; 30 ciclos de 94ºC por 40 segundos, 60ºC por 40 41 segundos e 72ºC por 1 min; e extensão final à 72ºC por 7 minutos. Para as carbapenemases, a temperatura de amplificação foi de 55ºC e utilizou-se o terminociclador MyCyler®, Bio-rad. Para todas as reações cepas de referência foram empregadas como controle positivo (Tabela 4) exceto para OXA-1-like e variantes e CTX-M grupo 9. a) Eletroforese em gel Para a visualização e intrepretação dos perfis genotípicos os produtos da amplificação foram submetidos a uma eletrofose em gel de de agarose 1,5% (Fisher) em TBE 1x, à 100V e 100A por 1 hora e 30 minutos. Foram utilizados 10 µL de cada amostra com adição de 2 µL de tampão de corrida (New England Biolabs). O marcador de peso molecular de 100kb (Tridye®, New England Biolabs) foi adicionado no primeiro e último poço de cada gel. Posteriormente o gel foi corado em solução contendo brometo de etídio 0,5µg/mL por 30 minutos e descorado em água por 30 minutos. A visulaização dos fragmentos amplificados e a captura de imagem em formato (.tif) foi realizada no fotodocumentador L-Pix EX. 5.6. Análise Estatística A associação entre o perfil de resistência, a cepa e o desfecho clínico foi realizada através do teste estatístico de qui-quadrado, sendo os valores de p>0,05 considerados estatisticamente significantes. O armazenamento e a análise de dados foram feitos no programa Epi-Info versão 3.5.1. A identificação dos genes de resistência antimicrobiana foi estratificada de acordo com a espécie bacteriana isolada. 5.7 Limitações Acesso aos prontuários: a dificuldade de acessar os dados dos pacientes com ICS por enterobactérias impossibilitou verificar associações da infecção com fatores e fontes de risco, utilizações prévia e profiláticas de antimicrobianos e histórico de infecções anteriores. 42 Tabela 3 - Caracterização dos pares de primers e concentração na reação da PCR multiplex para detecção dos genes codificadores de ESBL e carbapenemases. Gene Primer Sequência [] pmol/µL Amplicon (bp) 800 MULTIPLEX I – genes codificadores de ESBL TEM – variantes TEM-1 e TEM-2 e variantes SHV – variantes SHV, incluindo SHV-1 OXA-1-like – OXA-1, OXA-4 e OXA-30 MultiTSO-T_for CATTTCCGTGTCGCCCTTATTC 0,4 MultiTSO-T_rev CGTTCATCCATAGTTGCCTGAC 0,4 MultiTSO-S_for AGCCGCTTGAGCAAATTAAAC 0,4 MultiTSO-S_rev ATCCCGCAGATAAATCACCAC 0,4 MultiTSO-O_for GGCACCGATTCAACTTTCAAG 0,4 MultiTSO-O_rev GACCCCAAGTTTCCTGTAAGTG 0,4 713 564 MULTIPLEX II – genes codificadores de ESBL do tipo CTX-M Grupo 1 – incluindo variantes CTX-M-1, MultiCTXMGp1_for CTX-M-3 e CTX-M-15 MultiCTXMGp1-2_rev Grupo 2 – incluindo CTX-M-2 Fonte: A autora TTAGGAARTGTGCCGCTGYA* 0,4 CGATATCGTTGGTGGTRCCAT* 0,2 MultiCTXMGp2_for CGTTAACGGCACGATGAC 0,2 MultiCTXMGp1-2_rev CGATATCGTTGGTGGTRCCAT* 0,2 688 404 43 Continuação Tabela 3: Caracterização dos pares de primers e concentração na reação da PCR multiplex para detecção dos genes TEM, SHV e OXA-1-like. E variantes codificadores de ESBL Grupo 9 MultiCTXMGp9_for TCA AGC TGC CAT CGG T 0,4 MultiCTXMGp9_rev TGA TTC TCG CCG CTG AAG 0,4 561 MULTIPLEX III – genes codificadores de carbapenemases. Variantes IMP, exceto: IMP-9, IMP-16, IMP-18, IMP-22 e IMP-25 Variantes VIM, incluindo VIM-1 e VIM-2 * Y=T ou C; R=A ou G, D=A ou G ou T; Y=T ou C. Fonte: A autora MultiIMP_for TTGACACTCCATTTACDG* 0,5 MultiIMP_rev GATYGAGAATTAAGCCACYCT* 0,5 MultiVIM_for GATGGTGTTTGGTCGCATA 0,5 MultiVIM_rev CGAATGCGCAGCACCAG 0,5 139 390 44 Tabela 4 - Cepas controle e os respectivos genes de resistências utilizados nas PCR multiplex Cepas controle para PCR multiplex Genes codificadores E.coli ST 127 TEM-1 e CTX-M-2 E.coli ST 998 CTX-M-15 K.pneumoniae ATCC 1705 KPC K.pneumoniae ATCC 700603 SHV-18 P.fluorescens CCBH 11805 VIM K.pneumoniae Derivada BR-01 IMP Fonte: A autora. 45 6. Resultados 6.1 Resultados gerais No período de maio de 2013 a abril de 2014 foram realizadas 2417 hemoculturas no HAN, das quais 491 foram positivas para algum patógeno. Destas 268 foram bactérias Grampositivas, 205 Gram-negativas e as demais foram leveduras. Os patógenos mais frequentes foram: os SCN (38,8%), K.pneumoniae (8,5%), S.aureus (8,5%) e P.aeruginosa (6,2%). Do total das hemoculturas positivas para bactérias Gram-negativas, 138 foram enterobactérias, das quais foram possíveis avaliar neste estudo 117 (84,7%) uma vez que algumas bactérias perderam a viabilidade durante o processo de transporte. Um total de 41, 35% do total de isolados tiveram a identificação confirmada pelo sistema VITEK 2®, destas 12 (28,6%) foram distintas da identificação realizada pelo Phoenix BD® (Tabela 5). Tabela 5 - Espécies de enterobactérias identificadas em corrente sanguínea no período de maio de 2013 a abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia, de acordo com o sistema automatizado de identificação. BD Phoenix ® Espécie E.cloacae Enterobacter spp. C.freudii E.aerogenes K.oxytoca Klebsiella spp. Morganella morganii Proteus peneri Proteus vulgaris Proteus spp. S.liquefaciens Salmonella spp. TOTAL Fonte: A autora Vitek 2 N Espécie 18 E.cloacae E.coli 1 E.cloacae 3 C.freudii E.cloacae M.morganii 4 E.aerogenes K.pneumoniae 3 K.oxytoca C.freudii 1 K.pneumoniae 1 M.morganii 1 P.mirabilis 2 P.peneri M.morganii 1 Proteus vulgaris 3 K.pneumoniae E.cloacae 3 Salmonella enterica 41 N 17 1 1 1 1 1 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 2 1 3 41 46 Das 117 enterobatérias identificadas, as espécies mais frequentes foram: K.pneumoniae e E.cloacae, correspondendo a 33,3% e 19,7% dos casos, respectivamente (Tabela 6). Desse total, 14 (12%) foram provenientes de pacientes cujo período de internamento foi inferior a 72 horas, sendo caracterizadas como infecções adquiridas na comunidade ou associadas a outros serviços de saúde. Os patógenos neste tipo de infecção foram: 42,8% E.coli (n=6) , 35,7 % K.pneumoniae (n=5) e 7% S.marcecens, P.mirabilis e Salmonella entérica (n= 1 para cada espécie). Dentre as 103 enterobactérias causadoras de ICS após as 72 horas de internamento, as espécies identificadas foram: K.pneumoniae 31% (n=32), E.cloacae 21,4% (n=22), S.marcecens 18,4% (n=19), E.coli 6,8% (n=7) e um total de 20 isolados foram de outras espécies. Tabela 6 - Frequência de enterobactérias isolaem hemoculturas no período de maio de 2013 a abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. Espécie K.pneumoniae E.cloacae S.marcecens E.coli Outras* Total Total (n) 39 22 19 13 22 117 Frequência (%) 33,3 19,7 17,1 11,1 18,8 100 *P.mirabilis (n=8), Proteus peneri (n=1), Salmonella enterica (n=3), C.freuudii (n=2), E.aerogenes (n=2), K.oxytoca (n=2) e M.morganii (n=4). Fonte: A autora 6.2 Características do paciente As enterobactérias foram provenientes de 110 pacientes distintos, assim, 7 casos de infecções da corrente sanguínea ocorreram em pacientes reincidentes. O sexo mais frequente foi o masculino, representando 54,5% dos pacientes. A faixa etária com maior número de casos foi entre os maiores de 60 anos e entre 31 a 60 anos, correspondendo a 44,% e 38,2%, respectivamente A mediana do período de internamento foi de 38 dias, sendo o tempo mínimo 2 dias e máximo 206, entretanto, cinco casos não foram possíveis de analisar o prontuário para saber o tempo de hospitalização (Tabela 7). Nesse estudo foram identificados dois casos de infecções poli-microbiana por Gramnegativos. Ambos ocorreram em crianças menores de um ano, internadas na UTI pediátrica, sendo identificadas K.oxytoca e P.aeruginosa como patógenos do primeiro caso e E.cloacae e P.aeruginosa no segundo. Ao relacionar o número de isolados por unidade de internamento 47 verificou-se que a maioria dos casos foram oriundo de pacientes internados em unidades intensivas, das quais a Unidade Coronariana foi o setor que com maior número de hemoculturas positivas para os patógenos estudados. As unidades intensivas juntas apresentaram 46% do total de hemoculturas positivas para enterobactérias. A K.pneumoniae foi a espécie mais frequente, representando 37% dos casos (Gráfico 1). Tabela 7 - Características dos pacientes com infecção da corrente sanguínea por enterobactérias no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvados, Bahia. Nº de Características pacientes Sexo Feminino Masculino Faixa etária (anos) <2 2 a 15 16 a 30 31 a 60 >60 Motivos de internamento Cardiopatias e suas complicações Nefropatias Angiopatias e suas complicações Outras* Não especificado *Foram consideradas: doenças Leishimaniose visceral e infecções. Frequência (%) 110 50 60 110 10 3 45,5 54,5 9,1 2,7 6 42 49 110 59 23 9 18 1 gastrointestinais, doenças do 5,4 38,2 44,6 53,6 20,9 8,2 16,4 0,9 trato respiratório, neoplasias, Fonte: A autora. Através da avaliação dos prontuários dos pacientes foi possível identificar que sete pacientes tiveram bacteremias por enterobacterias em dois momentos distintos e um paciente teve três episódios de bacteremia no período do estudo. Nesses casos os micro-organismos mais frequentes foram S. marcecens (n= 8) e K. pneumoniae e E.cloacae, ambas com três isolados (17,6%). Desse total 76% (13 infecções) ocorreram em unidades intensivas. 48 Gráfico 1: Frequência de enterobactérias isoladas em hemoculturas por unidade de internamento no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. Fonte: A autora 6.3 Resultados fenotípicos Ao analisar o perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos, 83% dos isolados apresentaram resistencia a ampilicina, uma vez que muitas espécies de enterobactérias possuem resistência intrínseca a tal antibiótico. Do total de patógenos estudados 44 (37,6%) foram positivos no teste de deteção fenotípica para ESBL, ou seja, resistentes às cefalosporinas de 3ª geração e 4ª geração e ao aztreonam (Figura 4) Um total de três isolados (K.pneumoniae ) foram resistentes ao imipenem, meropenem e ertapenem. Os patógenos resistentes aos carbapenêmicos não apresentaram distorção do halo ou zona de confluência no teste de fenotípico para ESBL, sendo resistentes, inclusive, para amoxacilina/ácido clavulânico (Figura 5). Este perfil de resistência foi verificado em todas as unidades de internamento, sendo que as intensivas abrigaram a maior parte dos casos, 56,8%, das quais a UTI cirúrgica e UCO tiveram 18% de todos os isolados de ESBL, isso demonstra que a distribuição de bactérias ocorre praticamente de maneira uniforme no hospital. 49 Figura 4 - Teste de fenotípico para detecção de ESBL em Klebsiella pneumoniae. A B A: Teste com 2mm de distância em relação ao Amoxacilina/Ácido clavulânico. B: Teste com 1,5mm de distância em relação à Amoxacilina/Ácido Clavulânico No centro de ambas um disco de Amoxacilina/Ácido Clavulânico e nas extremidades cefotaxima, ceftazidima, aztreonam, ceftriaxona Fonte: a Autora. Figura 5 - Teste fenotípico de detecção de ESBL em Klebsiella pneumoniae resistente à todos antimicrobianos testados Fonte: A autora. O teste fenotípico de Hodge foi realizado para todos as 44 enterobactérias que foram positivas no teste de detecção de ESBL, incluindo as resistentes aos carbapenêmicos. Dessas, apenas uma (K. pneumoniae) foi positivo no no teste fenotípico de detecção de carbapenemases com o ácido fenilborônico e teste modificado de Hodge (Figura 6 e Figura 7). 50 Todas as outras bactérias resistentes aos carbapenêmicos foram negativas para o teste fenotípico de detecção de MBL e para o teste de detecção de AmpC plasmidial. 51 K.pneumoniae E.cloacae S.marcecens E.coli P.mirabilis Outros* Total 39 22 19 17 6 14 117 S 82 77 90 100 100 86 86 NS 18 23 10 14 14 S 5 5 5 23 33 28 12 NS 95 95 95 77 67 72 88 S 69 100 90 90 100 93 87 NS 31 10 7 13 S 36 59 85 82 83 79 62 NS 64 41 15 3 17 21 38 S 36 59 85 82 83 79 62 NS 64 41 15 18 17 21 38 S 36 59 85 82 83 79 62 S: Sensível NS: Não sensível. Considerado os isolados resistentes ou intermediário aos antimicrobianos testados. * P.peneri (n=1), S.enterica (n=3), C.freuudii (n=2), E.aerogenes (n=2), K.oxytoca (n=2) e M.morganii (n=4). ** Um isolado de M.morganii foi sensível dose dependente. *** Espécies com resistência intrínseca ao antibiótico testado. Fonte: A autora NS 64 41 15 18 17 21 38 S 36 59 85 81 83 79 62 Ciprofloxacino (%) Cefepime (%) Cefotaxima (%) Ceftriaxona (%) Ceftazidima (%) Aztreonam (%) Amicacina (%) n Ampicilina (%) Espécie Amoxacilina/ clavulonato (%) Tabela 8 - Perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos por espécies de enterobactérias causadoras de infecções da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. NS 64 41 15 18 17 21 38 S 36 64 85 88 83 86 62 R 64 6 15 22 17 14 38 S 44 64 85 65 83 57 60 NS 56 6 15 35 17 43 40 52 K.pneumoniae E.cloacae S.marcecens E.coli P.mirabilis Outros* Total 39 22 19 17 6 14 117 S 92 100 100 100 100 100 97 NS 8 3 S 92 100 100 100 100 100 97 NS 8 3 S 92 100 100 100 100 100 97 NS 8 3 S 61 64 84 88 50 43 67 NS 39 36 16 12 50 47 33 S NS S NS 82 18 100 14 86*** 100 84 16*** - 100*** 94 6 100 100 - 100*** 71 29*** 71 29*** 71 29 76 34 S: Sensível NS: Não sensível. Considerado os isolados resistentes ou intermediário aos antimicrobianos testados. * P.peneri (n=1), S.enterica (n=3), C.freuudii (n=2), E.aerogenes (n=2), K.oxytoca (n=2) e M.morganii (n=4). ** Um isolado de M.morganii foi sensível dose dependente. *** Espécies com resistência intrínseca ao antibiótico testado. Fonte: A autora. S 98 91 100 100 100 100 97 NS 2 9 3 S NS 47 53 68 32 84 16 64 36 33 67 64 36 61 39 ESBL + (%) Sulfametoxazol/ trimetropim (%) Tigeciclina (%) Colistina (%) Cefoxitna (%) Gentamicina (%) Imipnem (%) n Ertapenem (%) Espécie Meropenem (%) Continuação Tabela 8 - Perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos por espécies de enterobactérias causadoras de infecções da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. 64 41 16 16 17 21 38 53 Figura 6 - Teste de triagem fenotípica para KPC em Klebsiella pneumoniae. A: Disco de Meropenem sem aditivo B: Disco de Meropenem com ácido fenilborônico C: Disco de Meropenem com cloxacilina. Fonte: A autora. Figura 7 - Teste de Hodge com isolados de Klebsiella pneumoniae A B A: Teste de Hodge Modificado positivo B: Teste de Hodge Modificado negativo Fonte: A autora. 6.4 Resultados genotípicos Para as 44 enterobactérias que apresentaram perfil fenotípico positivo para ESBL foram realizadas três reações distintas de PCR multiplex, afim de detectar os principais genes envolvidos nos mecanismos de resistência bem como a presença de genes que codificam carbapenemases (Figura 8, Figura 9, Figura 10). Dessas, apenas dois isolados, um K.pneumoniae e um E.cloacae foram negativos para todos os genes pesquisados. Das 42 54 enterobactérias remanescentes 71,4% apresentaram genes OXA, 64,3% CTX-M-1, 50% SHV, 45% TEM, 21,4%CTX-M-2 e 2,4% CTX-M-9. Os genes que codificam carbapenemases, por sua vez, só foram identificados em três isolados de K. pneumoniae, sendo identificado o gene IMP e em um caso o gene KPC. Entretanto, apenas o micro-orgnamismo que continha o gene KPC demonstrou resistência a pelo menos um carbapenmêmico e positividade para o teste fenotípico com ácido fenilborônico e Teste de Hodge Modificado. Figura 8 - Gel de agarose 1,5% dos produtos de amplificação de PCR Multiplex para detecção dos genes OXA, SHV e TEM em enterobactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Produtos de PCR correspondentes ao gene TEM 1000kb 900kb 800kb 700kb 600kb 500kb 400kb Produtos de PCR correspondentes ao gene SHV 300kb Produtos de PCR correspondentes ao gene OXA-1-like e variantes 200kb 100kb Poços 1 e 16: marcador de100kp. Poço 2: E.coli 300 – controle positivo para TEM (800kb). Poço 3: K.pneumoniae ATCC 700603 – controle positivo para SHV (713kb). Poços 4 a 13: Amostras positivas no teste fenotípico de detecção de ESBL. Poços 14 e 15: Controles negativos da extração e da PCR, respectivamente. Não houve controle positivo para o OXA-1-like (564kb). Fonte: A autora. 16 55 Figura 9 - Gel de agarose 1,5% de produtos de amplificação de PCR Multiplex para detecção dos genes CTX-M grupo 1, grupo 2 e grupo 9 em enterobactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Produtos de PCR correspondentes ao gene CTX-M grupo 1 1000kb 900kb 800kb 700kb 600kb 500kb 400kb 300kb Produtos de PCR correspondentes ao gene CTX-M grupo 2 200kb 100kb Poços 1 e 15: Marcador de 100kb. Poço 2: E.coli 300 - controle positivo CTX-M grupo 2 (404kb). Poço 3: E.coli 455: controle positivo CTM-M grupo 1 (688kb). Poços 4 a 12: Amostras positivas no teste fenotípico de detecção de ESBL. Poços 13 e 14: controles negativos da extração e da PCR, respectivamente. Fonte: A autora. Ao avaliar a presença de mais de um gene em um mesmo patógeno a combinação SHV, OXA e, CTX-M-1 foi a mais frequente, sendo 13,6 % (8 de 44) isolados de K.pneumoniae e 2,2% (1 de 44) de S.marcecens. Do total de 44 micro-organimos apenas 6 apresentaram um único gene de resistência, sendo o OXA o mais comum, representando 33,3% desses casos (Tabela 9) Do total das amostras analisadas os genes de resistência (ESBL e/ou carbapenemases) foram identificados em 42 isolados. A origem dos pacientes com infecção por estes isolados foi: 18,1% provenientes da UTI cirúrgica e da UCO, 15,9% da UTI geral, 11,3% do Pronto atendimento, 4,5% da UTI pediátrica e as demais das enfermarias, exceto da nefrologia, a qual não obteve nenhum caso (Tabela 9). 56 Figura 10 - Gel de agarose 1,5% de produtos de amplificação de PCR Multiplex para detecção dos genes IMP, KPC e VIM em enterobactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 1000kb Produtos de PCR correspondentes ao gene KPC Produtos de PCR correspondentes ao gene VIM 900kb 700kb Produtos de PCR correspondentes ao gene IMP 800kb 600kb 500kb 400kb 300kb 200kb 100kb O primeiro poço e o 17 representam o marcador de 100kb. Poço 2: P.fluorescens CCBH 11805 – controle positivo para VIM (390bp). Poço 3: K.pneumoniae ATCC 1705 – controle positivo para KPC (530bp). Poço 4: K.pneumoniae Derivada BR-01 - controle para IMP (139bp). Poços 5 ao 14: amostras do Hospital Ana Nery que deram positivas para o teste fenotípico de ESBL mas negativa aos genes analisados nessa reação. A amostra do poço 6 foi a única positiva no Teste Modificado de Hodge e com o ácido fenilborônico. Poços 15 e 16: controles negativo da extração de DNA e da PCR, respectivamente. Fonte: A autora Os isolados que continham genes codificadores de carbapenemases (IMP, KPC) foram isolados de pacientes distintos, admitidos para tratamento de cardiopatias. Os isolados que continham o gene IMP foram identificados em uma criança menor de 2 anos, com período de internamento na UTI pediatrica de 47 dias, e o outro de uma idosa de 68 anos, internada por 38 dias na UCO, sem histórico de infecção da corrente sanguínea no período estudado e que foi a óbito após dois dias após a realização da hemocultura. Por sua vez, o portador da enterobactéria produtora de carbapenemase do tipo KPC foi identificada de um homem de 39 anos, internado por 57 dias com histórico de dois episódios de infecções na corrente sanguinea anterior ao período do estudo, sendo um por P.aeruginosa e outro por K.pneumoniae não produtora de carbapenamase com um desfecho clínico de melhora. Ao se avaliar o desfecho clínico, 32,7% dos pacientes (36/110) com infecções da corrente sanguínea por enterobactérias foram à óbito em um período de até 30 dias após a infecção 57 (Tabela 10). Desses, 44,4% foram por K.pneumoniae, 19,4% E.coli, 11,1% S.marcecens, 8,3% E.cloacaee 16,7% outras espécies. Enterobactérias produtoras de ESBL foram identificadas em 36,1% dos pacientes que foram a óbito. A combinação dos genes SHV, OXA, CTX-M-1 foi a única identificada em 2 casos que foram a óbito. Dos três pacientes que tinham infecção por enterobactérias positivas para os genes que codificam resistência aos carbapenêmicos, apenas um foi à óbito (Tabela 11). As unidades intensivas, juntas, abrigaram 61% do número de óbitos, sendo a UTI adulta a mais frequente, com 45,4%. Ao analisar os casos de óbitos entre as unidades de internamento foi verificado uma relação de dependência com unidades intensivas, cujo p-valor foi <0,05. Entretanto, o mesmo resultado não encontrado entre os óbitos e os perfis de multirresistência analisado no estudo. 58 Tabela 9: Caracterização dos pares de primers e concentração na reação da PCR multiplex para detecção dos genes TEM, SHV e OXA-1-like. E variantes codificadores de ESBL. IMP IMP KPC - Pronto atendimento Laboratório Cardiopediatria Cardiologia Cardiologia cirúrgica TEM OXA, CTX-M-2 SHV, CTX-M-1 CTX-M-1 SHV, OXA, CTX-M-1 SHV, OXA, CTX-M-2 SHV, OXA, CTX-M-1, CTX-M-2 SHV, OXA, TEM, CTX-M-1 SHV, OXA, TEM, CTX-M-1, CTX-M-2 TEM, OXA TEM, SHV, CTX-M-1 TEM TEM,SHV - Clínica cirúrgica 1 1 1 1 9 1 1 3 3 1 1 1 1 1 Clínica médica K.pneumoniae K.pneumoniae K.pneumoniae K.pneumoniae K.pneumoniae K.pneumoniae K.pneumoniae K.pneumoniae K.pneumoniae K.pneumoniae K.pneumoniae K.pneumoniae K.pneumoniae K.pneumoniae Genes carbapenemases Unidade coronariana Genes ESBL UTI cirúrgica N UTI pediátrica Espécie UTI geral Unidade de Internamento 1 1 1 1 4 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 59 Continuação Tabela 9: Caracterização dos pares de primers e concentração na reação da PCR multiplex para detecção dos genes TEM, SHV e OXA-1-like. E variantes codificadores de ESBL E.cloacae E.cloacae E.cloacae E.cloacae E.coli E.coli E.coli S.marcecens S.marcecens S.marcecens P.mirabilis P.mirabilis C.freudii M.morganii K.oxytoca TOTAL Fonte: A autora 1 2 4 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 44 OXA OXA, CTX-M-1 TEM, OXA, CTX-M-1 CTX-M-9 CTX-M-2 OXA SHV, OXA, CTX-M-1 TEM, CTX-M-2 TEM, SHV, CTX-M-2 OXA, CTX-M-1 TEM, OXA TEM, OXA, CTX-M-1 - Pronto atendimento Laboratório Cardiopediatria Cardiologia Cardiologia cirúrgica Clínica cirúrgica Clínica médica Genes carbapenemases Unidade coronariana Genes ESBL UTI cirúrgica N UTI pediátrica Espécie UTI geral Unidade de Internamento 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 7 2 8 8 2 1 4 2 1 3 2 3 60 Tabela 10: Frequência de óbitos por espécie de enterobactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. Nº de óbitos (n) K.pneumoniae E.coli S.marcecens E.cloacae Outros* Total 16 7 4 3 6 33 Nº de óbitos (%) 44,4 19,4 11,1 8,3 16,7 *P.mirabilis (n=3), E.aerogenes (n=1) e M.morganii (n=1) Fonte: A autora. Tabela 11 - Frequência de óbitos por genes identificados em enterobactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea no período de Maio de 2013 a Abril de 2014 em um hospital público na cidade de Salvador, Bahia. Genes TEM OXA CTX-M-9 SHV, OXA, CTX-M-1 SHV, OXA, CTX-M-1 e CTX-M-2 SHV, OXA, TEM, CTX-M-1 SHV, OXA, TEM, CTX-M-1 e CTX-M-2 TEM, OXA, CTX-M-1 TEM, OXA, IMP TEM, SHV, CTX-M-2 Negativo Total Fonte: A autora. Nº de óbitos 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 2 13 61 7. Discussão Atualmente a emergência de bactérias multirresistentes é um problema mundial, o qual atinge tanto os países desenvolvido quanto os subdesenvolvidos e emergentes (LAXMINARAYAN et al., 2013). No Brasil, não obstante dos demais países, tal problemática é motivo de preocupação na saúde, apesar dos estudos se concentrarem principalmente nas regiões sul e sudeste. Nesse estudo foi identificado que as principais bactérias causadoras de ICS foram SCN, S.aureus, P.aeruginosa e K.pneumoniae, sendo esta a enterobactéria mais frequente, seguida da E.cloacae, S.marcecens e E.coli. Estes resultados se assemelham aos relatados em outras partes do mundo e no próprio país há alguns anos (DANTAS, 2011; GIROMETTI et al., 2014; MOEHRING, ANDERSON, 2014; RIBAS et al. 2007;). Semelhante ao estudo realizado por Dantas (2011), ocorreu pouca variação entre os casos de ICS por enterobactérias em unidades intensivas e os demais setores do hospital. Entretanto, ao correlacionar com os casos de multiresistência, as 3 UTIs juntas abrigaram 56,8% dos isolados produtores de β-lactamase de espectro estendido. As unidades intensivas são setores críticos nos quais os pacientes são mais debilitados e possuem quadros clínicos mais complicados e, consequentemente, são imunosuprimidos. Assim, devido a quantidade de unidades intensivas no HAN o número de enterobactérias multiresistentes superior, apesar de distinto dos estudos anteriores realizados no Brasil, condiz com o esperado uma vez que os aqueles ocorreram em instituições com apenas uma unidade intensiva (DANTAS, 2011; FERNANDES et al., 2011). Nesse estudo 44 (34%) isolados foram resistentes aos β-lactâmicos de espectro estendido, sendo a K.pneumoniae a mais incidente, totalizando 56,8% dos casos. Em 2014 na Itália, Falcone e colaboradores (2014) observaram 253 episódios de ICS causadas por enterobactérias, das quais 31,1% foram positivas no teste fenotípico para ESBL. Dessas 64,9% foram E.coli, 27,6% foram K.pneumoniae, 4,2% foram P.mirabilis e 3,1% Enterobacter spp. Recentemente, Abdallah e colaboradores (2015) verificaram que a frequência de espécies de enterobactérias produtoras de β-lactamase de espectro estendido foi: 54,5% (30/55) E . coli , 66,66% (10/15) K.pneumoniae , 35,71% (5/14) Enterobacter spp, e um isolado de M.morganii. No Brasil, um estudo semelhante realizado por Ribas e colaboradores em 2007 detectou que as enterobactérias causadoras de infecções da corrente sanguínea ESBL positivas representaram 23,5% dos isolados, das quais 41,7% foram K.pneumoniae. De forma semelhante, estudos posteriores realizados no mundo e no Brasil 62 registraram a K.pneumoniae foi a espécie que mais apresentou tal mecanismo (DANTAS, 2011; FERNANDES et al, 2011; GIROMETTI et al., 2014). A super-expressão de genes de resistência bem como a presença simultânea de mecanismos de resistência não enzimáticos, tais como alteração dos canais de porina e produção de bombas de efluxo podem estar presentes em enterobactérias ESBL positivas, dificultando a identificação deste perfil, dificultam a detecção fenotípica deste perfil de multirestência em muitos casos. Tal problemática pode justificar a presença de quatro isolados de K.pneumoniae resistentes à amoxacilina/ácido clavulânico, além das cefalosporinas de 3ª geração utilizados e aztreonam. Entre esses isolados ESBL positivos as taxas de resistência ao ciprofloxacino e gentamicina foi alta, fenômeno este descrito tanto na literatura estrangeira bem como na nacional, impondo restrição sobre as opção terapêuticas para o tratamento dessas infecções (LAXMINARAYAN et al., 2013; SEKI et al, 2013). A análise molecular para os principais genes de resistência codificadores de ESBL mais frequentes foram OXA, CTX-M-1 e SHV, respectivamente presentes em 31 (70%), 29 (65%) e 22 (50%) patógenos do total de 44 isolados pesquisados. Como citado anteriormente é comum a identificação de mais de um gene de resistência para codificar ESBL (CASTANHEIRA et al, 2013; SEKI, et al, 2013). Dos 44 isolados que foram realizados a biologia molecular 34 apresentaram mais de 1 gene codificador de ESBL. De uma forma geral, mudanças na frequência dos principais genes codificadores de ESBL é perceptível no Brasil e no mundo. Apesar de não existirem estudos que correlacionam a frequência de genes OXA em enterobactérias causadoras de ICS para poder equiparar com nossos achados, os genes OXA-1 e variantes são identificados em isolados clínicos de diversos sítios, principalmente associado à outros genes que codificam β-lactamase de espectro estendido, tal como CTX-M grupo1 (POIREL et al., 2010). Em Portugal, uma pesquisa que caracterizou os genes que codificam ESBL em enterobactérias causadoras de infecções em ambiente hospitalar detectou que o tipo CTX-M foi o mais frequente (47%) seguido do SHV e TEM, ambos identificados em 22% dos isolados (GONÇALVES, 2010). Posteriormente na Itália foi identificado que 47,7% das enterobactérias causadoras ICS com fenótipo ESBL positivas apresentaram gene CTX-M, 37.5% foram positivas para TEM e 15.2% para SHV (FALCONE et al., 2014). Diferentes genes do grupo CTX-M têm sido reportados no mundo, inclusive no Brasil devido ao uso prévio de cefalosporinas. No nosso estudo esses genes foram mais frequentes do que os genes SHV e TEM, dado este semelhante ao encontrado por Marra e colaboradores (2011), cuja 63 frequência de genes CTX-M em K.pneumoniae causadoras de ICS foi de 91,4%, TEM 89,3% e SHV 72,3%. Ao relacionar os genes CTX-M e suas variantes identificados nesse estudo observou-se uma similaridade em outras partes do mundo, inclusive no Brasil. O gene CTX-M grupo 1, que inclui a variante CTX-M-15 é o mais frequente no mundo e no Brasil em isolados clínicos de enterobactérias (ZHAO; HU, 2013). Castanheira e colaboradores (2013), detectaram os principais genes codificadores de β-lactamase de espectro estendido em isolados de enterobactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea em 26 hospitais norteamericanos. De um total de 175 espécimes clínicas 43,6% carreavam os genes CTX-M, dos quais 33,8% foi do tipo CTX-M-15, sendo mais comum em E.coli e K.pneumoniae, respectivamente. Em 2013, no Rio de Janeiro, 91% das enterobactérias produtoras de ESBL causadoras de ICS apresentaram gene CTX-M, dos quais 49% foram K.pneumoniae, 42% E.cloacae e 15% E.coli. Neste estudo não foi possível distinguir qual a variante do CTX-M grupo mais frequente nos isolados, estudos posteriores devem ser realizados a fim de distinguir os genes (SEKI et al, 2013). Em contrapartida ao alto índice de ESB, apenas 3 isolados foram resistentes aos carbapenêmicos, sendo todos K.pneumoniae. Desses, 2 foram negativos nos testes fenotípicos e genotípicos. Isso pode ocorrer devido ao fato dos Teste modificado de Hodge e inibição com ácido fenilborônico não possuírem 100% de precisão bem como a possibilidade de haver outros dos genes codificadores de carbapenemase não analisados neste estudo, regiões de codificação do primer pouco específica ou à outro mecanismo de resistência aos carbapenêmicos distinto da produção de carbapenemase tais como: alteração de permeabilidade da membrana e presença de bombas de efluxo (DOYLE et al.; 2012; NORDMANN; NAAS; POIREL, 2011). A identificação de apenas um isolado de K. pneumoniae portador do gene KPC pode ser reflexo do tipo de atendimento oferecido na instituição: hospital sem emergência que atende apenas pacientes agendados para a realização de procedimentos cirúrgicos e/ou transferidos de outras instituições. No Brasil, a KPC-2 é a mais frequente, representando aproximadamente 22% dos isolados resistentes à carbapenêmicos (TAVARES et al., 2015). Entretanto, este estudo não avaliou separadamente a variante de KPC presente nos isolados de enterobactérias causadoras de infecção da corrente sanguínea. Existe relato de presença de genes codificadores carbapenemase em espécies com perfil de resistência ESBL porém com sensibilidade in vitro aos carbapenêmicos (SEKI et al., 2013). Nesse estudo 2 (4,9%) isolados apresentaram tal características, ou seja, foi 64 identificado, em ambos casos, o gene IMP porém susceptibilidade aos carbapenêmicos testados. As IMP carbapenemase, juntamente com as demais metalo-β-lactamases emergem no cenário mundial e resultados similares à esses são de grande preocupação e relevância clínica, uma vez que o paciente pode ser tratado com carbapêmico, podendo haver falha terapêutica e, consequentemente, aumentando os custos com internamento e agravando o quadro clínico do paciente. Posteriormente, uma análise similar deve ser realizada a fim de pesquisar a presença tanto de genes que codificam tanto ESBL quanto carbapenemases nos isolados que foram susceptíveis às cefalosporinas de 2ª e 3ªgeração, monobactâmicos e penicilinas com o objeitvode traçar um perfil molecular das enterobactérias no hospital estudado. Apesar da importância de se conhecer a epidemiologia dos micro-organismos multiresistêntes a fim de otimizar as políticas de controle de infecção e tratamento, bem como reduzir os danos ao paciente, há pouco registro de estudos similares à esse na cidade de Salvador. 65 8. Conclusões · No Hospital Ana Nery, no ano de 2013 foram identificados 118 casos de hemoculturas positivas para enterobactérias sendo que a espécie mais frequente foi K.pneumoniae (33,3%), seguido de E.cloacae (19,7%). · O teste fenotípico de identificação de ESBL foi positivo em 37% (44/118) dos isolados. Sendo mais comum em K. pneumoniae (25/44); · Os genes que codificam resistência antimicrobiana mais frequentes foram: OXA-1like (71,4%), CTX-M grupo 1( 64,3%), SHV (50%) e TEM(45%); · Três isolados de K.pneumoniae foram resistentes aos carbapenêmicos, porém apenas um apresentou positividade tanto nos testes fenotípicos quanto genotípicos, sendo detectado o gene KPC. · Dois isolados, sensíveis aos carbapenêmicos, porém ESBL positivos, foram positivos para a pesquisa do gene IMP. 66 Referências ABDALLAH, H.M. et al. Extended-Spectrum β-Lactamase- and Carbapenemase-Producing Enterobacteriaceae Isolated from Egyptian Patients with Suspected Blood Stream Infection. 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