Eixo Temático: Negócios Internacionais A DINÂMICA INDUSTRIAL DO BRASIL: REGIONALISMO NA AMÉRICA LATINA VS ABERTURA COMERCIAL INDUSTRIAL DYNAMIC OF BRAZILIAN INDUSTRY: REGIONALISM IN LATIN AMERICA VS COMMERCIAL OPENNING João Victor Souza Da Silva, Felipe Orsolin Teixeira RESUMO O presente trabalho objetiva analisar, em perspectiva histórica, a relação entre as experiências de integração do Brasil na América Latina e sua dinâmica industrial, a partir da segunda metade do século XX. A CEPAL indicou a reestruturação comercial e produtiva da América Latina, como caminho para o alcance do desenvolvimento econômico. A partir da segunda metade do referido século, o Brasil adotou a estratégia nacional de integração regional, pela ALALC e ALADI, que foram base para manutenção industrial do país na transição do século, período marcado por flexibilizações e inserção global como franco exportador de primários. A importância do comércio regional se reflete na competitividade industrial e complementaridade comercial que o país ainda apresenta frente seus vizinhos, em contrariedade ao seu posicionamento frente às grandes economias globais. Palavras-Chave: Regionalismo, Globalização, Integração regional, dinâmica industrial. ABSTRACT This work aims to analyze, from a historical perspective, the relationship between Brazil's integration experiences in Latin America and its industrial dynamics, from the second half of the twentieth century. CEPAL indicated the commercial and productive restructuring in Latin America as a way to achieve economic development. From the second half of that century, Brazil adopted the National regional integration strategy for the ALALC and ALADI, which were the basis for the country's industrial maintenance in the transition of the century, a period marked by flexibilities and global integration as an exporter of primary franc. The importance of regional trade is reflected in the industrial competitiveness and trade complementarity that the country still has opposite its neighbors, in opposition to its position relative to the major global economies. Keywords: Regionalism, Globalization, Regional Integration, industrial dynamic. 1 1.INTRODUÇÃO A discussão acerca do desenvolvimento econômico perpassa as fronteiras sutis da economia e se faz objeto de interesse entre outras análises político-sociais. Como assegura Schumpeter (1997), a compreensão do referido fenômeno não pode ser tomada se não adotarse estruturas não econômicas como critério, em outras esferas da sociedade, apesar da assunção que o desenvolvimento parte de si e para si, em ciclo contínuo. Propõe-se atenção aos fenômenos não econômicos que influem sobre a dinâmica do desenvolvimento alçado pelo Brasil no século XX. A identidade cultural, histórica e social entre os países latino-americanos dá luz sobre questões econômicas relevantes brasileiras. Seitenfus (1989) aponta que a aproximação institucional do Brasil no subcontinente se deu por sua cooperação regional na Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), em 1960, a qual propunha a superação do subdesenvolvimento por meio da matriz da Comissão Econômica para América Latina (CEPAL) da industrialização conjunta, pelo processo de substituição de importações (PSI), em nível regional (PSRI). Na década de 1980 foi instituída a Associação Latino Americana de Integração (ALADI) como proposta de reorganização regional em decorrência das assimetrias1 regionais, buscando manter políticas industrializantes em concomitância com abertura gradual da economia, em processo de desestruturação do Estado e inflexão sobre sua estratégia nacional até então adotada. O entendimento da superação de uma estratégia nacional adotada durante o período áureo do desenvolvimentismo industrial em transição para novo modelo de políticas econômicas, com diferente ênfase ao caráter nacionalista da indústria, torna pertinente a discussão acerca do comportamento industrial brasileiro em fins do século XX. Este trabalho tem como finalidade compreender a relação entre a adoção de políticas industrializantes brasileiras e os processos de integração econômica internacional na América Latina a partir da década de 60. Com ênfase no processo de substituição de importações e exportações, atenta-se aos esforços de superação das vantagens comparativas iniciais, pela ruptura com a deterioração dos termos de troca. Será enfatizado o PSRI como estratégia nacional de industrialização por aproximação na América Latina e a ambiguidade dessa estratégia no novo contexto regional institucionalizado pela ALADI, sob a égide da CEPAL. O trabalho é dividido em três partes, além desta introdução e da conclusão. A primeira sessão objetiva apresentar a perspectiva de desenvolvimento adotada, sob a ótica estruturalista da CEPAL como base para pensamento da história econômica do Brasil e da América Latina. A sessão seguinte aborda historicamente as principais experiências de integração regional adotadas pelo Brasil e relação com a dinâmica industrial brasileira ao longo do século XX e início do século XXI. A terceira sessão expõe a evolução setorial do comércio exterior de manufaturados brasileiros, em termos quantitativos, revelando sua posição frente a América Latina. Por fim, as considerações finais buscam sintetizar o conteúdo deste trabalho e expor as principais considerações que podem ser tomadas. 1 Será adotado o conceito de assimetrias de Sorgine (2012), segundo o qual, são distinções estruturais significativas entre grupos comparados de países, decorrentes de fatores econômicos, institucionais, políticos ou geográficos. 2 2. REVISÃO DE LITERATURA Schumpeter (1996) foi o primeiro economista a dedicar atenção ao fenômeno do desenvolvimento econômico. Em seu trabalho, enfatiza o papel das inovações, com destaque do progresso técnico, como fatores fundamentais do desenvolvimento. Conforme o autor, o desenvolvimento ocorre quando processos inovativos rompem o fluxo circular da economia, de modo a esta tender a um ponto de equilíbrio superior e mais qualificado. Não há consenso, no entanto, sobre a definição e alcances do desenvolvimento econômico. Por sua vez, é de concepção amplamente aceita que a elevação da renda per capita é fator fundamental na sua busca. Bresser-Pereira (2006a) entende desenvolvimento econômico como o crescimento sustentado da renda de uma sociedade, atrelada à melhoria da qualidade de vida, por meio de um processo contínuo de acumulação de capital e aumento da produtividade, decorrente da incorporação do progresso técnico à produção. Furtado (1990) compreende que na América Latina o desenvolvimento deve ser buscado por uma reestruturação socioeconômica nas bases produtiva, comercial e de consumo por meio da assimilação e promoção do progresso técnico, proporcionando maior excedente e distribuição equitativa deste, entre os agentes na sociedade. Furtado (2009) é categórico ao defender que os problemas estruturais comuns às economias latino-americanas são reflexos e refletem sobre as estruturas de produção e distribuição de riquezas. Concentração de renda e terras, resultado de séculos de formação colonial expôs países como Brasil a um cenário de inequidade que inviabiliza o caminho ao desenvolvimento, em condições de subemprego, assim como pela falta de autonomia na tomada de decisões referentes ao destino nacional. A heterogeneidade social, marca de países latino-americanos, deve ser percebida como fenômeno que, mesmo estando além das fronteiras do econômico, impacta diretamente sobre o funcionamento da economia. Ademais, Furtado (1990) ressalta que tal heterogeneidade existe quando não há satisfação, de modo apropriado, das necessidades básicas da população de determinada sociedade, mesmo que sob processo de industrialização e crescimento econômico. Furtado (1974) define o subdesenvolvimento como subproduto do processo de desenvolvimento dos países centrais, não sendo uma etapa, mas uma relação direta do funcionamento destes. A difusão desigual do progresso técnico materializada pelo posicionamento externo de países, estruturados de modos distintos, marca o atraso e precariedade das economias latino-americanas, fundamentalmente exportadoras de primários, e importadoras de manufaturas da Europa ou Estados Unidos, principalmente. Seria, pois, a própria distinção centro-periferia, fruto e consequência da formação estrutural desigual entre os diferentes países e reforçada pela manutenção das vantagens comparativas, a caracterização da distinção entre desenvolvimento e subdesenvolvimento. Prebisch (1949) defende a importância da reestruturação do comércio exterior dos países latino-americanos como forma de alcance do desenvolvimento econômico. Conforme o autor, quanto mais ativo o comércio exterior do país, maior a tendência de aumento da produtividade do trabalho e assimilação do progresso técnico. Todavia, para tanto seria necessário extrair os elementos propulsores do desenvolvimento econômico por meio da industrialização e substituição de importações e exportações, superando as barreiras estruturais da deterioração dos termos de troca. A reorganização e reestruturação das economias latino-americanas por meio da industrialização só poderiam ser possíveis por meio do papel relevante do Estado e consolidação de uma estratégia nacional de desenvolvimento. Pois, como ressalta Evans 3 (2012), não há possibilidade de ocorrer o desenvolvimento sem a atuação decisiva de um Estado desenvolvimentista. É definido como desenvolvimentismo o conjunto de Estratégias Nacionais adotadas pelo Estado ao longo do século XX durante o período de industrialização e reestruturação socioeconômica brasileira, quando o país mudou de pauta predominantemente agrária e primário-exportadora, para uma economia dinâmica industrial e urbana (BRESSERPEREIRA, 2006b). Bresser-Pereira (2006a) compreende estratégia nacional como um acordo informal que busca promover a cooperação entre os agentes econômicos nacionais, com vistas a reduzir riscos e promover valores positivos de interesse de toda nação. Enfatiza a necessidade de planejamento e centralidade do Estado como fundamentais no processo de desenvolvimento econômico de economias latino-americanas. A adoção de uma estratégia nacional requer congruência entre interesses de diferentes agentes nacionais os quais sofrem influência de sujeitos externos. De tal modo, é assumida a complexidade de tal ação conjunta e reafirma-se sua relevância na busca do desenvolvimento econômico. Bresser-Pereira (2006b) compreendeu como desenvolvimentismo ou nacionaldesenvolvimentismo a estratégia nacional adotada pelo Brasil voltada ao protecionismo à indústria nascente e formação de poupança do Estado, em meados do século XX. Neste período, o país alcançou taxas elevadas de crescimento econômico e evolução industrial. Partindo deste entendimento e da compreensão da economia como dinâmica e inconstante, em conflito contínuo entre novas e antigas estruturas, seja pela ótica de Marx (1996), Schumpeter (1996) ou Furtado (2009), as quais convergem neste ponto comum do objeto, busca-se compreender a origem comum destas forças e dos processos causadores de mudanças, como relação direta da formação histórico-econômica da América Latina e das forças externas e internas que agem de modo a impulsionar seus países, no “caminho do desenvolvimento”. É nitidamente assegurada por Chang (2004) a existência de contraposição entre objetivos e políticas sugeridas com o intuito de promover o desenvolvimento, para os países atrasado ou periféricos. Políticas comerciais e financeiras liberalizantes e globalizantes, foram fortemente recomendadas aos países latino-americanos, principalmente na segunda metade do século XX e última década, com o Bretton Woods e Consenso de Washington. Tais recomendações pautaram-se na promessa do desenvolvimento como certo. Estranhamente, ao passo que estes, indiretamente, desestruturaram e fragilizaram o comércio na região latinoamericana - quando estes adotaram políticas liberais no plano internacional – o objetivo do desenvolvimento caminhou em sentido contrário se comparado ao período protecionista2 e de integração regional, marcadamente “ruim” pelas políticas dos organismos internacionais. Contrário às ideias de padronizações de políticas como vias para o desenvolvimento, Bresser-Pereira (2006a) enfatiza o caráter nacionalista e particular das estratégias nacionais, em virtude das características próprias históricas, sociais e econômicas o país. É desinteressante a padronização de políticas a nível global porque se ignoram as individualidades dos diferentes sujeitos internacionais. A complexidade da definição de desenvolvimento - reafirma-se – impossibilita associação direta entre adoção ou não de políticas liberais ou protecionistas e seu alcance. No entanto, ao partir da aceitação dos conceitos de Furtado (2009) e Prebisch (1949), pretende-se 2 Bresser-Pereira (2006a) o caráter positivo do período protecionista da economia brasileira com institucionalização do processo de substituição de importações e forte intervencionismo e protecionismo sobre a indústria, pelo Estado, como estratégia nacional de relativo sucesso na busca pelo desenvolvimento econômico no Brasil. 4 relacionar a aproximação ou distanciamento político e econômico entre o Brasil e os países latino americanos em meados do século XX, ao seu posicionamento externo industrial com vistas à superação dos malefícios da deterioração dos termos de troca, por meio do intercâmbio com maior valor agregado, na região. Inicialmente voltada a moldes do regionalismo fechado, o PSRI norteou as relações do Brasil na América do Sul, com vistas à promoção o desenvolvimento conjunto. Prebisch (1959) define PSRI como processo de mudança estrutural na pauta de importações e de exportações, por meio da integração do comércio em nível regional, agregando valor aos termos de troca, por meio de políticas industrializantes. Reitera-se a importância do contexto regional para o desenvolvimento da indústria e desenvolvimento econômico do Brasil, no entendimento de Prebisch (1949) e Furtado (2009), e seu caráter plural que foge das barreiras conceituais estritamente econômicas. Fatores de ordem política ou culturais interferem diretamente sobre a eficiência dos processos de integração econômica internacional na América Latina. Desta forma, recorre-se novamente à Schumpeter: “[...] o desenvolvimento econômico não é um fenômeno a ser explicado economicamente, mas que a economia, em si mesma sem desenvolvimento, é arrastada pelas mudanças do mundo à sua volta, e que as causas e portanto a explicação do desenvolvimento devem ser procuradas fora do grupo de fatos que são descritos pela teoria econômica (SCHUMPETER, 1996, p. 74). A explicação será então buscada em fenômenos históricos e políticos, além de econômicos. A formação da América Latina deve refletir diretamente sobre a postura externa de seus países componentes no ambiente global, o que impacta sobre sua própria dinâmica interna. A aproximação ou distanciamento de seus países na busca pelo entendimento de problema e objetivos comuns será então objeto chave de discussão no trabalho que se segue, na análise do avanço rumo ao desenvolvimento alçado pelo Brasil em meados do século XX. A sessão seguinte se propõe a abordar, historicamente, a evolução do Brasil em sua dinâmica industrial, sob processos regionalistas institucionalizados sob influência teórica e política da CEPAL, a partir da segunda metade do século XX. 3. INTEGRAÇÃO REGIONAL E INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA NO SÉCULO XX Ao referir-se à ALALC e ALADI como processos de integração regional, deve-se considerar o significado para o Brasil de tal processo no cenário internacional. Prazeres (2007) argumenta que processos regionalistas são arranjos cooperativos definidos por políticas governamentais que visam estabelecer preferências comerciais a um grupo limitado de países. Deste modo, propõe-se a construção de políticas comerciais coordenadas conjuntas. Processos regionalistas adotados em meados do século XX foram denominados de regionalismo fechado. Melo e Panagariya (1995) e Sabbatini (2001) caracterizam os modelos adotados no “velho” regionalismo como fortemente protecionistas e sob intervenção direta do Estado, integrando economias semelhantes por meio de reduções tarifárias, com vista a promover integração comercial e beneficiamento regional da indústria. Prazeres (2007) sinaliza integração econômica pela materialização da integração comercial, produtiva e financeira, possibilitando coexistência de mais de um processo mesmo não estruturando integração econômica plena. Integração comercial ocorre pela facilitação e consequente intensificação dos fluxos comerciais na região integrada. Integração produtiva se 5 dá pela constituição de cadeias produtivas intra-regionais e integração financeira pela institucionalização e intensificação do fluxo de capitais entre os países, por meio de políticas coordenadas de proteção a propriedade. Tinbergen (1968) acrescenta que processos de integração podem ser positivos ou negativos. Positivos se constituídos por instituições e instrumentos internacionais, negativos, por sua vez, se pautados na redução sistemática de obstáculos econômicos, como barreiras tarifárias ou empasses migratórios, por exemplo. A definição de agenda externa comum na América Latina consolidou-se em 1960 pela formação da Associação Latino-Americana de Livre Comércio. Em consonância com Kaplan (1968), o bloco teve como principal objetivo a integração de políticas comerciais por meio de um processo de integração negativa, com diminuição de barreiras comerciais. Deste modo, previa o maior fluxo de mercadorias de alto valor agregado na região por meio da manutenção do Processo de Substituição de Importações, em nível regional. Pautada em ideais cepalinos e em defesa de políticas “ruins3” de industrialização por meio do protecionista processo de substituição regional de importações e exportações (PSRI), o bloco de integração possibilitou em duas décadas de funcionamento a reestruturação da pauta produtiva e exportadora de suas principais economias e uma adequação e integração comercial regional, pelas economias mais frágeis, devendo, pois, ser considerado positivo em seu objetivo de substituição de pauta comercial externa (PRAZERES, 2006). Importante enfatizar a influência dos organismos internacionais criados na década de 1950 sobre as relações econômicas regionais. Conforme Dathein (2005), Bretton Woods foi marcado pela definição de uma orientação para uma nova ordem de comércio global. O Banco Mundial (BIRD) propositou reestruturação de economias europeias e Japão e o Fundo Monetário Internacional (FMI) preocupou-se com a reestruturação do balanço de pagamento, equilíbrios externos dos países capitalistas manutenção do câmbio para livre mobilidade de capitais. Já o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) dedicou-se a busca pelo livre comércio como berço para acordos abertos bilaterais, em escala multilateral. Prazeres (2006) afirma que o avanço industrial brasileiro em relação aos demais países o beneficiou como “comercialista”, pois que “ganhou” mercados para seus manufaturados, devido à abertura comercial dos países vizinhos. Estes, por sua vez, “integracionistas”, buscavam beneficiar-se do crescimento dos mais dinâmicos, complementando sua economia. Havia, pois, forte pressão externa sobre a liberalização da ALALC e readequação das posturas comerciais e industriais dos países, em contrariedade às estratégias desenvolvimentistas adotadas até então. Por outra via, Paiva e Braga (2007) atribuem o insucesso da ALALC às consideráveis assimetrias existentes entre os países associados. A complementaridade produtiva advinda da formação de economias de escala restringiu-se a um grupo limitado de economias com maior avanço industrial, com destaque para o Brasil, não se materializando para a maior parte dos países latino-americanos. Deste modo, generalizou-se desgosto por parte das economias mais fragilizadas em relação às aberturas tarifárias multilaterais, no bloco. Outra incidência direta sobre a qualidade da integração regional se deu por limitações sobre dinamismo industrial brasileiro, oriundos das crises externas da década de 1970 e distanciamento dos objetivos estratégicos do país, evidenciados pela diferença de perspectivas de crescimento das empresas multinacionais em relação ao Estado Nacional (BASTOS, 2012). Furtado (1975) atribui à capacidade de influência dos capitais financeiros globais sobre economias periféricas, sua instabilidade e precariedade de autonomia internacional, ao 3 Ver Chang (2004) Chutando a escada e seu entendimento sobre políticas boas e ruins. 6 passo que a sua base industrial é movida mais por interesses de multinacionais que por algum tipo de estratégia nacional. Faz-se relevante explanação acerca da importância das estratégias nacionais na busca pelo desenvolvimento, tal qual proposto por Bresser-Pereira (2006a), com enfoque no cuidado com a qualidade das empresas atuando nacionalmente e institucionalização de mecanismos dotados de autonomia rumo os interesses do país, visando coesão social. Salama (2008) atribui dentre outros elementos, às deseconomias de escala das multinacionais instaladas no Brasil e seu repasse desigual entre custos e rendas, à crise fiscal e financeira pela qual o país passou ao longo da década de 1980. Cardoso e Faleto (1970) defendem que se deve levar em conta não tão somente os interesses internacionais sobre os países periféricos, como mais relevantemente, os desequilíbrios internos e sujeição de elites nacionais aos interesses externos. Deste modo, pode-se perceber um forte paradoxo na busca pelo desenvolvimento econômico por meio do PSRI no período pós-guerras: a industrialização por meio de políticas “ruins” gerou reestruturação produtiva e comercial em países como o Brasil, porém não galgou rumo ao desenvolvimento. Chang (2007) enfatiza que não se devem levar em conta tão somente políticas e instituições a serem adotadas. Deve-se basear no ambiente histórico e político no qual o país está inserido (para o qual é dado maior enfoque estrutural, por parte dos cepalinos na América Latina) e a forma como estas instituições são adotadas. No Brasil, as instituições consideradas ruins apresentaram relativa eficácia na promoção da industrialização, por métodos protecionistas de substituição de importações de importações, a nível regional. A ALADI, baseado em Gert (1991), surge então em 1980 como um berço de novos processos de integração regionais, de acordo com as similaridades entre diferentes grupos de países na América Latina. A Associação dá margem para formação de parceiras estratégicas sub-regionais em respeito assimetrias industriais e comerciais, mantendo, ainda, objetivos de industrialização por integração, previstos em regime anterior. A partir de então o Brasil passa a aproximar-se mais do subcontinente e definir a América do Sul como seu eixo estratégico comercial. Granato (2012) defende que o bloco emergente buscava um processo de integração mais equilibrado, visando limitar vantagens comparativas regionais por meio de especializações em diferentes cadeias de valor agregado. Arraes (2011) e Bastos (2012) definem o período como de transição política e econômica e inflexão sobre momento anterior. Propôs-se abertura gradual e flexível da economia, de modo a contrastar a manutenção de políticas de protecionismo regional em indústria e comércio, com expansão e inserção em mercados globais. Por outra via, a desestruturação da base industrial por meio da crise fiscal e reestruturação institucional, marcas dos países latino-americanos em fins da década de 1970 para 1980, foram base para perda de capacidade e competitividade industrial no Brasil nas décadas posteriores. Paralelamente, há distanciamento considerável do Brasil em relação às economias periféricas americanas e maior exposição global (CASTILHO, 2012). Em consonância com Barbosa (2010) e Granato (2012), Brasil e Argentina passam a buscar uma série de acordos de integração os quais culminaram no MERCOSUL, sob a égide da ALADI, ainda na década de 1980, o que tende a influenciar sua aproximação comercial e produtiva em detrimento de economias mais distantes do Cone Sul. O MERCOSUL surge então como alternativa de integração regional entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, dado contexto conturbado de abertura comercial e financeira internacionais. Arraes (2011) destaca que o bloco surgiu em respostas à nova configuração econômica global, mais aberta e integrada, sob a liderança de Brasil e Argentina. O objetivo 7 assumido pelo bloco, então, pautou-se na livre circulação de pessoas, serviços e fatores, adoção de uma tarifa externa comum e coordenação de políticas estratégicas setoriais comuns. Visava, pois, diminuição das assimetrias regionais, inserção qualitativa no cenário internacional e manutenção de políticas de preferências comerciais na região (ALMEIDA, 1999). Vizentini (2007) e Bastos (2012) destacam a integração do MERCOSUL movida pela maior abertura comercial e atração de investimentos estrangeiros, visando associação entre bases industriais e dimensionamento nas cadeias globais de comércio. Identifica-se, pois, como processo de regionalismo aberto em contraponto às experiências anteriores. O Brasil no bloco incipiente buscou manutenção de políticas regionalistas em um processo de expansão de parceiros e ligações comerciais. Bielsholwsky (2009) sintetiza a ruptura de paradigmas quanto a políticas industriais durante a segunda metade do século XX. Por volta dos anos 1960 desenvolveram-se uma série de políticas econômicas pautadas na integração regional em benefício da indústria nacional. No entanto, a partir das últimas décadas a prioridade passou a ser a estabilização macroeconômica em detrimento das antigas políticas desenvolvimentistas adotadas. Para tanto, abertura comercial e financeira pautadas na inserção nas cadeias globais de comércio se fizeram fundamentais neste processo de transição, o que culminou na tendência ao afastamento da coordenação conjunta de políticas industriais no sub continente. A abertura comercial dos anos 1990 provocou uma reestruturação produtiva e comercial do Brasil, com declínio significativo de sua produção industrial. Por conseguinte, o processo de inserção nas cadeias globais de valor se deu pela introdução como novamente primário exportador, o que refletiu seu destaque internacional na década de 2000, como destacam Fenelon, Nobre e Rocha (2015). Na sessão seguinte busca-se explanar quantitativamente a relação entre integração econômica regional do Brasil, na América Latina, com destaque para América do Sul. O processo de substituição de importações e exportações em nível regional será utilizado como parâmetro como para análise do período áureo do PSRI e transição, assim como a evolução da pauta de comércio exterior comparada regionalmente e externamente indicará a importância do comércio sul-americano no dinamismo da indústria brasileira, em perspectiva do comércio exterior. 4. CARACTERÍSTICAS SETORIAIS DO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO NA REGIÃO O processo de substituição regional de importações, como previamente exposto, propunha reestruturação produtiva nacional através da reestruturação da pauta exportadora, por vias da inserção estratégica regional, por meio de blocos integracionistas fechados. Para tanto, a abertura comercial e a substituição das exportações são parâmetros que refletem a eficiência do processo de substituição regional de importações. Verifica-se a seguir a evolução das exportações de manufaturados sobre exportações totais, o Brasil a partir de 1962, sob vigência de blocos regionais de integração. O Gráfico 1 apresenta a variação percentual das exportações de produtos manufaturados, relativo ao montante total exportado, entre 1962 e 2014. 8 Gráfico 1 - Exportação de Manufaturados sobre exportações totais (percentualmente) 2014 2012 2010 2008 2006 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970 1968 1966 1964 1962 70 60 50 40 30 20 10 0 Exportações de manufaturados (%) Fonte: Elaboração própria com base em dados disponíveis em CEPAL (2015) Infere-se, pela análise gráfica, a reestruturação da pauta de comércio exterior do Brasil a partir da segunda metade do século XX. O país, historicamente primário exportador, demonstra crescente participação de produtos manufaturados em sua pauta de exportações totais. O crescimento acentuado ocorre entre as décadas de 1960 e 1990, quando, a partir desta, há tendência de estabilização e declínio. No início da década de 1990 e da década de 2000 a participação relativa dos manufaturados aproximou-se de 59%, sobre o total, o que se seguiu de declínio significativo na década seguinte. As exportações brasileiras durante as décadas de 1990 e 2010 foram predominantemente produtos intensivos em recursos naturais. Podem-se distinguir dois períodos distintos, com aumento de produtos intensivos de capital durante a década de 1990. A partir de 2001 há perda de participação de produtos intensivos em capital e retomada de intensivos primários como principal da pauta externa brasileira (HIDALGO; FEISTEL, 2013). A exposição do comércio intra-regional como parâmetro de avaliação do processo de substituição de importações pela inserção em cadeias regionais de comércio se apresenta no Gráfico 2, a seguir. É exposta a participação relativa dos países da ALADI, representação da América Latina sobre o total do comércio exterior brasileiro, entre os anos de 1962 e 2014, em valores percentuais. 9 Gráfico 2 - Participação do comércio brasileiro com ALALC/ ALADI – 1962 a 2014 (Percentual) 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 1962 1963 1976 1977 1978 1979 1980 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 0,00% Participação ALADI Fonte: Elaboração Própria com base em dados disponíveis CEPAL (2015) O Gráfico 2 possibilita análise da evolução da aproximação e distanciamento do comércio regional ao longo das cinco décadas posteriores a institucionalização da ALALC. Entre 1962 e 1998 ocorreu uma evolução significativa brasileiro com a América Latina. As sucessivas crises internacionais em fins do século impactaram diretamente sobre os países emergentes, incluso Brasil e Argentina, o que fragilizou o comércio subcontinental. Paralelamente, a reestruturação das pautas de comércio exterior e diminuição significativa das exportações de manufaturas a partir dos anos 2000, associa-se a tendência de declínio do comércio brasileiro com os membros da ALADI, e maior exposição às cadeias globais de comércios, para com as quais o Brasil posiciona-se acentuadamente como primário-exportador (CASTILHO, 2012). Verifica-se de modo preliminar o sucesso do intento de substituição regional de importações. A evolução significativa do comércio com os países latino-americano, conforme o Gráfico 1, condiz com o aumento considerável de sua pauta de exportações de maior valor agregado entre os países da região (CASTILHO, 2012). Os objetivos dos blocos de integração ALALC e ALADI, sob influência política e teórica da CEPAL, em busca do desenvolvimento por meio da reestruturação das cadeias regionais de comércio, via industrialização, são exitosos até início dos anos 1990. As exportações intrarregionais são caracteristicamente de médio e alto valor agregado. Castilho (2012) define que, dada especialização das economias latino-americanas, representam perfis exportadores distintos internamente e externos ao continente, em decorrência da baixa competitividade das indústrias latino-americanas, sendo o setor manufaturados mais dinâmico e relevante internamente, em detrimento dos parceiros externos. A seguir, no Gráfico 3 dedica-se exposição das informações referentes à abertura comercial da economia brasileira. Schimitz (2010) afirma que o grau de abertura comercial de um país é definido pela relação entre a soma de suas importações e exportações, sobre o total de seu PIB. Desta forma, a expõe-se a abertura comercial do Brasil em relação à América Latina e ao mundo. 10 Gráfico 3 – Abertura Comercial Brasileira entre 1962 e 2014 – ALALC/ ALADI e Mundo 25% 20% 15% 10% 5% 1962 1963 1976 1977 1978 1979 1980 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 0% Abertura comercial - Mundo Abertura Comercial - ALADI Fonte: Elaboração própria com base em dados disponíveis em Banco Mundial (2016) e Cepal (2015). A economia brasileira demonstra-se muito fechada no referido período de análise. O comércio exterior apresenta pouca relevância em seu produto interno bruto, reflexo do protecionismo industrial adotado e desligamento das cadeias globais de comércio, anteriores à década de 1980, como exposto outrora neste trabalho. Como explicitado anteriormente, a flexibilização adotada pelo país em fins do século XX proporcionou maior importância do comércio exterior na composição do produto, que chegou a representar valores superiores à 10% em 1994. O declínio da abertura comercial na segunda metade da década de 1990 pode ser justificado por instabilidades regionais e fragilidades institucionais os quais o MERCOSUL e Brasil, como principal economia regional, se sujeitaram. A proliferação das crises globais, principalmente a asiática, a russa e a argentina, impactaram diretamente sobre o Brasil em sua condição de país emergente, o que se refletiu sobre a baixa em seu comércio exterior (VIZENTINI, 2010). Importante considerar a relevante participação do comércio regional na composição do PIB brasileiro, apesar de sua fraca abertura comercial. A abertura à região manteve-se por volta de um quarto de toda abertura brasileira, durante o período analisado, o que demonstra o caráter estratégico da região em sua pauta de comércio exterior, apesar da fraca exposição comercial da economia do Brasil. Durante a primeira metade da década de 2000 ocorreu um aumento significativo da abertura comercial brasileira em paralelo a reprimarização de sua pauta de comércio exterior, como demonstra o Gráfico 1. No mesmo período ocorre um destaque para o comércio extra continental. Diferenciou-se em aproximadamente 15 pontos percentuais a abertura comercial ao mundo em relação à América Latina, entre 1999 e 2006, o que ressalta o caráter primárioexportador brasileiro extra bloco em período recente. Seguidamente, demonstra-se a evolução do Brasil como país competitivo industrialmente na região e a importância do comércio sul-americano para manutenção da base industrial brasileira, por meio da complementaridade comercial estabelecida com os países vizinhos no setor de manufaturados. O Índice de Complementaridade Comercial (ICC) foi definido por Balassa (1965) como formalização da teoria ricardiana das vantagens comparativas. Há complementaridade comercial quando um país apresenta vantagens comparativas em um setor cujo parceiro apresenta desvantagens comparativas reveladas, ocasionando ICC superior a 1. Tais relações são representadas pelos índices Índice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR) e Índice de Desvantagem Comparativa revelada (IDCR). 11 Carneiro (2014) sintetiza que há complementaridade comercial quando há concentração da pauta de exportações de um país na pauta predominante de importações de seu parceiro. Refere-se a relação entre competitividades externas entre países analisadas, o que materializa-se em ganhos reais se associado a maior abertura comercial entre os parceiros comerciais. O Gráfico 4 apresenta a evolução do ICC do Brasil na América do Sul entre 1970 e 2011. Gráfico 4 – Complementaridade Comercial do Brasil na América do Sul – Mercado de manufaturados (1970-2011)4 1,3 1,2 1,1 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 Argentina Bolívia Chile Colômbia Paraguai Peru Uruguai Venezuela Equador Fonte: Elaboração Própria com base em dados disponíveis em Banco Mundial (2016). O Brasil apresenta significativa Complementaridade Comercial na região, o que reflete seu destaque industrial frente os vizinhos, predominantemente primário- exportadores. Em 1970 as assimetrias regionais indicaram log ICC entre 1,2 e 1,3, o que indica exacerbada complementaridade comercial. Em 2010, por sua vez, há queda significativa do ICC em relação aos países sul-americanos, em tendência a valor aproximado a 0,75, o que indica ainda forte complementaridade. A perda de vantagens comparativas para o setor de manufaturados na região é reflexo da reestruturação da pauta exportadora manufaturada para bens primários, assim como o posicionamento brasileiro externo ao subcontinente. Outra razão para a perda de complementaridade é a diminuição das assimetrias regionais, ao passo que o Brasil não mais se apresenta como potência predominante industrial na América do Sul. O Gráfico 4 expõe que a postura comercial brasileira, para bens industriais, apresenta comportamento semelhante e com tendência comum na análise do conjunto de países sulamericanos. Embasa-se isto pela conformidade da ALADI como mecanismo de coordenação de políticas comerciais regionais em busca da diminuição de assimetrias, o que tende a configurar ambientes menos heterogêneos entre as economias sul-americanas. 4 Os dados dispostos estão logaritmizados, dada necessidade de diminuição da dispersão dos valores na série, com o intuito de facilitar o processo de análise. 5 Respectivamente, 1.2, 1.3 e 0.7 indicam 18, 20 e 5, em termos não logaritmizados. Consideram-se valores exacerbados superiores a 1, o que aponta forte complementaridade no setor entre os países apresentados. 12 A característica de comércio intra-industrial na região reflete o potencial comercial que o Brasil apresenta e como se beneficia das relações bilaterais na manutenção de sua base industrial pouco competitiva em ambientes internacionais externos à América Latina e América do Sul. Ademais, o declínio seguido de estabilização das relações assimétricas, simbolizadas pelo ICC, reflete o período de desestruturação da indústria brasileira e readequação de seu comércio exterior. O distanciamento estratégico da região e tendência à manutenção do posicionamento exportador de bens de intensidade em fatores naturais, ocasionou perda de protagonismo brasileiro como exportador de manufaturas na região. Castilho (2012) frisa que a China, como representação das grandes economias industriais do mundo, impactou diretamente sobre a dinâmica de comércio intrarregional de manufaturas. Por um lado, se portou como forte importador primário da região, o que refletiu sobre sua desestruturação em comércio exterior, por outro, foi responsável pela maior parte das importações de bens industriais, das economias latino-americanas, a partir dos anos 2000. A complementaridade comercial ainda apresenta valores exacerbados, para o mercado de manufaturas, entre Brasil e os países da América do Sul, o que não difere substancialmente das relações estabelecidas com os demais latino-americanos. É reflexo, pois, das grandes assimetrias ainda existentes na região, o que indica forte mercado potencial para a indústria brasileira, dado a característica de intercâmbio de bens industriais predominantes, na região. Por fim, o Gráfico 5 sintetiza a importância industrial na composição do PIB brasileiro ao longo das diferentes experiências históricas de integração. A análise possibilita correlacionar os períodos e políticas integracionistas adotadas e a dinâmica industrial do Brasil, em importância relativa frente os demais setores da economia. Gráfico 5 – Participação percentual da indústria do PIB brasileiro (1947-2012) 2012 (1) 2008 2006 2004 2002 2000 2010 (1) Indústria sobre PIB - Brasil 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970 1968 1966 1964 1962 60 50 40 30 20 10 0 Fonte: Elaboração própria com base em dados disponíveis em FGV (2014). Pode se perceber dois momentos distintos pela análise gráfica. Entre 1962 e 1985 há forte evolução do PIB industrial brasileiro, alcançando valores próximos a 50%, em contraponto ao período posterior a 1994, a partir do qual se perpetua tendência estagnada inferior a 30% do PIB nacional. É nítida perda de relevância industrial na composição do PIB brasileiro a partir da década de 1990. A ruptura provocada pelos mecanismos de reestruturação comercial e produtiva impactaram diretamente sobre a perda relativa da base industrial como geradora de riquezas, no país. Durante o período áureo do processo de substituição regional de importações em integração latino-americana, o país apresentou crescimentos crescentes no PIB industrial, associados diretamente a sua abertura comercial na região e processo de substituição de exportações. 13 Contrariamente, o período de readequação externa em detrimento de maior inserção internacional, destacou as vantagens comparativas brasileiras como primário exportador, exceto regionalmente, onde se posicionou como forte supridor de bens manufaturados. A desestruturação industrial do país incidiu diretamente sobre a perda de competitividade externa e complementaridade, como indicam o Gráfico 1 e o Gráfico 4. Nos anos 2000, com elevados níveis de comércio exterior e distanciamento das políticas estratégicas latinoamericanas, o Brasil apresentou composição do PIB industrial relativamente inferior ao ano de 1962, em inícios dos processos de integração regional. 5.CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve por objetivo analisar, em perspectiva histórica, a relação entre os processos de integração econômica regionais do Brasil na América do Sul e sua dinâmica industrial. As fortes assimetrias existentes entre a economia brasileira e as demais da região foram fator determinante de seu posicionamento regional como maior potência industrial e exportador de manufaturas. A mudança nas estratégias nacionais de desenvolvimento, de protecionista e desenvolvimentista industrial a políticas de maior abertura e flexibilização comercial foram fatores decisivos para a dinâmica industrial do país, muito influenciada pelo ambiente externo, apesar da característica fechada da economia brasileira. Aproximação ou distanciamento da América Latina impactaram diretamente sobre a dinâmica e competitividade industrial brasileira. A diminuição de assimetrias regionais entre o Brasil as economias mais frágeis se deu mais pela desestruturação da indústria brasileira e sua mudança de pauta de comércio exterior, que por de fato ascensão das economias menores, o que indica ainda forte complementaridade comercial para o setor de manufaturados, na América do Sul, e mercado potencial a ser explorado, dada característica comercialista brasileira e a característica do mercado predominantemente industrial, na região. O Brasil dispõe-se no início do século XXI como maior potência industrial e país de renda mais alta na região, apesar de tendência declinante da indústria. O posicionamento como primário exportador global impactou inversamente sobre seu protagonismo regional, em decorrência da presença de grandes economias industriais externas, como a China, que exportam manufaturas para os países latino-americanos e importam os bens primários exportados na região. Este trabalho limita-se na compreensão da dinâmica industrial em associação às políticas de regionalização adotadas, todavia, considera-se avanço pertinente no assunto. Abrem-se, pois espaços para investigação quanto ao caráter da indústria estabelecida nos países, intensidade tecnológica e competitividade em processos de integração produtiva constituídos na América Latina. Sintetiza-se a forte correlação entre políticas comerciais e industriais de integração regional e o dinamismo da economia brasileira. Não é inválido afirmar que a base industrial e posicionamento regional brasileiro na América Latina, se dão em fruto de uma série de políticas consideradas “ruins” ao longo do século XX, protecionistas e intervencionistas, em um ambiente global de pressões sobre a liberalização dos mercados em prol do desenvolvimento, proposto pelas economias centrais. 14 REFERÊNCIAS ALMEIDA, P. R. de. A Formação da Diplomacia Econômica do Brasil. In: Lua Nova: Revista de Cultura e Política. São Paulo: Scielo, 1999. ARRAES, V. A Difícil Integração dos Países do Cone Sul. In: Meridiano 47, vol. 12, Brasília: UnB, 2011. ARJOL, S, N.; GONZÁLEZ, M, G. Medición De La Complementariedad Comercial Sectorial Para La Integración Productiva De Argentina Y Brasil. Interfaces Científicas Humanas e Sociais – Volume 3, N. 3, p. 27 - 40. Aracaju, Jun. 2015 BARBOSA, R. MERCOSUL e a Integração Regional. São Paulo: Fundação Memorial, 2010. BASTOS, P. P. Z. 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