PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HIMANAS DISCIPLINA DE HUMANISMO E CULTURA RELIGIOSA CONSIDERAÇÕES SOBRE O CHINTOÍSMO Alexandre Ferreira da Silva Porto Alegre Novembro de 2009 Considerações sobre o Shintoismo O Shintoismo (Xintoísmo) é uma religião essencialmente japonesa e que retrata bem a maneira de ser daquele povo. Não é fácil se admitir que ela condicionou a imagem da maneira de ser do povo japonês ou se foi o inverso, a maneira de ser desse povo que condicionou os aspectos do Shintoismo. Aceita-se mais esta segunda possibilidade, pois que aquela religião não tem um fundador nem um texto que possa ser tido como escritura sagrada. Na verdade essa religião foi se construindo a partir de uma variedade imensa de costumes, e cujo panteão é composto por um aglomerado de deidades inerente a cada região, a cada clã e mesmo a determinados lugares e pessoas. O Xintoísmo é a religião japonesa mais antiga, o seu início é obscuro, mas tudo indica que já existia na metade do primeiro milênio a.C., mas que somente a partir do sexto século d.C., quando o povo japonês começou lentamente a integrar com as demais civilizações continentais, foi que os registros foram sendo conhecidos fora do Japão. Naquele período existia como uma mistura amorfa de cultos relacionados com a adoração à natureza, com a fertilidade, com métodos de adivinhação, devoção aos heróis, e ao shamanismo. O Shintoismo, portanto, foi se constituindo a partir da junção de tudo o que foi referido antes, por isto se trata de uma religião que não teve um fundador como aconteceu com o Budismo, o Cristianismo, o Islamismo e outras. Por esta razão também tem qualquer cânon de escrituras sagradas, nem uma filosofia religiosa explícita, ou um código moral específico. Suas raízes estão fixadas apenas em práticas religiosas préhistóricas. Na verdade o Xintoísmo derivou da adoração japonesa de deuses terrestres e ancestrais desde o começo da sua história quando todo clã tinha seu próprio deus (Ujigami). Os deuses do Shintoismo são em grande número, cerca de oito milhões de deidades. Também é muito elevado o número de santuários dedicados às deidades do shinto e que começaram a ser erguidos a partir do 3º e 4º séculos. O Xintoísmo confere qualidades divinas ao Sol, aos astros, e também a locais específicos tais como rios, lagos e lugares de grande beleza natural como bosques, fontes, pedras, montanhas, como acontece com referência ao Monte Fuji, que é uma montanha sagrada do Japão. No panteão das deidades do Shinto também estão incluídos elementos abstratos como a fertilidade, o crescimento, a beleza, a produtividade, etc. incluindo-se a alma de pessoas importantes tais como guerreiros, líderes, poetas. Nesta relação inclui-se a família imperial (A deusa Amaterasu de quem acreditam descender a família imperial) assim como também um imenso número de divindades ancestrais de clãs (uji). Um outro aspecto do Shintoismo, com referência às deidades, compreende a adoração em santuários (jinja) estabelecidos em honra a elas e nos quais determinadas deidades podem residir. Afirmam que uma deidade pode também residir em objetos (Shintai objeto sagrado no qual o kami reside). Talvez o símbolo mais universalmente conhecido seja o Torii, trata-se de um portal composto por dois suportes verticais e dois horizontais pintados de vermelho e que é colocado na entrada dos templos demarcando a área sagrada do santuário e sob o qual os devotos costumam passar. Há datas especiais de adoração, momentos importantes relativas ao ciclo da vida de indivíduos (nascimento, mocidade, matrimônio, e mais recentemente, e até mesmo de exames de entrada escolares). Também há as datas festivas (matsuris) relativas aos diversos períodos anuais, tais como o ano novo, o advento do plantio do arroz, o solistício do verão, o início da colheita, e assim por diante. Existe um número imenso de santuários xintoístas. Há santuários de importância nacional, como o Santuário Principal de Ise, consagrado a Amaterasu, e associado com a Família Imperial, pelo que se constitui um centro nacional de peregrinação, mas o número de santuários é fabuloso, especialmente porque normalmente cada família tem seu próprio, e até mesmo cada pessoa em particular. As famílias costumam ter um "matsuri" especial relativo à sua própria história e fundação. Em muitas ocasiões os santuários estão repletos de devotos que buscam bênçãos para suas fortunas, e purificações que são conferidas pelos sacerdotes. No período de Heian (710 - 1185 d.C.) o Xintoísmo sofreu grande influência do Budismo Indiano. Assim certos kami foram criados como manifestação de Budhas. Grandes influências da cultura chinesa se fizeram sentir sobre o Xintoísmo, tanto quanto do Confucionismo. Durante o período de Tokugawa (1603 - 1868), as seitas budistas se tornaram instrumentos do regime feudal, por isso o Xintoísmo passou a ser considerado cada vez mais como a fonte exclusiva da identidade japonesa, em detrimento de outras ideologias estrangeiras e a partir daí a influencia budistas e confuncionista decresceu. A palavras Xintoísmo quer dizer modo dos deuses, cuja essência é "kami". Os xintoísta dizem que tudo tem seus próprios espíritos os quais eles chamam "kami". Até mesmo um homem se torna Kami quando ele morre. Dizem que existem oito milhões Kami no mundo, mas tendo-se em mente que a palavra milhões apenas significam "muitos" por isto o número de Kami é considerado muito superior àquela quantidade. Dizem que o Espírito Divino é encontrado em todas as coisas quer sejam nas coisas do céu quer da terra. Pensando assim para os xintoístas existem os "kami" das montanhas - especialmente o Monte Fuji - do sol, da lua, dos planetas, das estrelas, e até mesmo das plantas, dos animais, dos seres humanos. Também há um "kami" de uma cerejeira que floresce, de uma árvore bonsai, dos jardins formais, e do Sakaki (a árvore santa). Podemos ver que os "kami" num certo sentido são equivalentes aos elementais da natureza citados por outras doutrinas. De um modo geral o xintoísta reconhece o Sol como um irmão querido; as montanhas, como irmãs; os animais, como irmãos; as flores, como irmã, e assim por diante. Entre os inúmeros "kami", há aqueles que são responsáveis pela boa colheita e tem o nome de "Fuku-nenhum-kami" e também os que trazem desastres, chamados de Magatsu-Kami. Por isto dizem ser importante se invocar Fuku-nenhum-Kami e repelir Matatsu-Kami. No xintoísmo existem muitos festivais anuais, praticamente cada efeméride, cada fase do calendário anual (Primavera, inverno, outono, verão) é assinalada com um deles e ligados aos festivais existe um número expressivo de canções e danças compondo rituais específicos. No Japão cada aldeia tem seu próprio santuário de shinto no qual é divinizado o kami mais importante na aldeia. Algumas divinizaram kami da água (Ryu-jin ou um espírito de dragão); outras, o kami de uma velha árvore, e assim por diante. Quando um membro importante de uma aldeia morre, ele pode ser aceito como um Kami secundário. O Xintoísmo aceita o mundo material como bom em contraposição ao Budismo que o considera mal. Estes conceitos opostos resultam do Xintoísmo ser dualista e o Budismo Monista, como discutiremos noutra palestra. Segundo os xintoístas foram os "kami" que criaram as ilhas de Japão e que a deusa do sol Amaterasu foi à mãe do primeiro imperador que foi enviado a terra para fundar a dinastia imperial. Esta convicção era sagrada e se tornou a base de Xintoísmo Estatal, e como conseqüência o Imperador se tornou símbolo da unidade da nação. Esta tradição foi que determinou o respeito pelas autoridades do estado, especialmente pelo Imperador e a sua família. Este tem sido um conceito sempre foi muito arraigado na cultura japonesa e que fez com que o Xintoísmo fosse a religião oficial do Japão por muito tempo. Bibliografia BALDUS, H. & WILLEMS, E. “Casas e Túmulos Japoneses no Vale da Ribeira de Iguape”, Revista do Arquivo Municipal, 7, 77, 1941, pp. 121 – 135. BATH, S. Xintoísmo: o Caminho dos Deuses, São Paulo, Ática, 1998.