PARECER AVALIAÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS PNLD- 2017 CATEGORIA: REPROVADA Equipe: Língua Portuguesa 1. IDENTIFICAÇÃO DA OBRA Código da Coleção Códigos por ano Composição 28040COL01 28040C0124 28040C0125 28040C0126 28040C0127 Tipo 1 Título PORTUGUÊS: UMA LÍNGUA BRASILEIRA Editora EDITORA LEYA Autoria LÍGIA REGINA MÁXIMO CAVALARI MENNA MARIA REGINA FIGUEIREDO HORTA MARIA DAS GRAÇAS VIEIRA Ano Edição 6º Número de páginas 1ª 7º 2015 1ª 8º 2015 1ª 2015 9º 1ª 2015 6º 7º 8º 9º 336 239 280 280 Anos a que se destinam Anos Finais do Ensino Fundamental 2. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO ADOTADOS Para cumprir a exigência de qualidade da educação, os livros didáticos inscritos no PNLD são submetidos a um processo de avaliação pedagógica pautado por critérios eliminatórios, comuns a todas as disciplinas curriculares, e específicos de cada uma delas. Tais requisitos não podem ser infringidos para que uma obra possa ser adquirida e distribuída pelo MEC. Os critérios eliminatórios comuns a 1 serem observados nas obras inscritas no PNLD 2017, submetidas à avaliação, são os seguintes: Critérios eliminatórios comuns I. respeito à legislação, às diretrizes e às normas oficiais relativas ao Ensino Fundamental; II. observância de princípios éticos necessários à construção da cidadania e ao convívio social republicano; III. coerência e adequação da abordagem teórico-metodológica assumida pela coleção no que diz respeito à proposta didáticopedagógica explicitada e aos objetivos visados; IV. correção e atualização de conceitos, informações e procedimentos; V. observância das características e finalidades específicas do Manual do Professor e adequação da coleção à linha pedagógica nele apresentada; VI. adequação da estrutura editorial e do projeto gráfico aos objetivos didático-pedagógicos da coleção. Além desses critérios eliminatórios comuns a todas as áreas do PNLD, foram estabelecidos outros critérios eliminatórios específicos da área de LÍNGUA PORTUGUESA, relacionados aos princípios que norteiam o ensino de Língua Portuguesa, presente no Anexo 3 Edital de Convocação 02/2015 – CGPLI, Anos Finais do Ensino Fundamental, 6º ao 9º anos: I. Critérios relativos à natureza do material textual O conjunto de textos que uma coleção oferece para o ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa deve justificar-se pela qualidade da experiência de leitura que possa propiciar ao estudante, contribuindo para a sua formação como leitor proficiente, inclusive como leitor literário. Uma coletânea deve, portanto: a) estar isenta tanto de fragmentos sem unidade de sentido quanto de pseudotextos, redigidos com propósitos exclusivamente didáticos; b) ser representativa da heterogeneidade própria da cultura da escrita — inclusive no que diz respeito à autoria, a registros, estilos e variedades (sociais e regionais) linguísticas do Português —, de forma a permitir ao estudante a percepção de semelhanças e diferenças entre tipos de textos e gêneros diversos, pertencentes a esferas socialmente mais significativas de uso da linguagem; c) ser adequada — do ponto de vista da extensão, da temática e da complexidade linguística — ao nível de escolarização em jogo; d) incluir, de forma significativa e equilibrada, em relação aos demais, textos da tradição literária de língua portuguesa (especialmente os da literatura brasileira); e) incentivar professores e estudantes a buscarem textos e informações fora dos limites do próprio livro didático. No trabalho com o texto, em qualquer de suas dimensões (leitura e compreensão, produção de textos orais e escritos, construção de conhecimentos 2 linguísticos), é fundamental a diversidade de estratégias, assim como a articulação entre os vários aspectos envolvidos, de forma a garantir a progressão nos estudos. Além desses, em cada um dos componentes de Língua Portuguesa outros critérios afiguram-se fundamentais para garantir à coleção um desempenho ao menos satisfatório, em termos metodológicos. II. Critérios relativos à leitura As atividades de compreensão e interpretação do texto têm como objetivo final a formação do leitor (inclusive a do leitor literário) e o desenvolvimento da proficiência em leitura. Portanto, só podem constituir-se como tais na medida em que: a) encararem a leitura como uma situação de interlocução leitor/autor/texto socialmente contextualizada; b) respeitarem as convenções e os modos de ler próprios dos diferentes gêneros, tanto literários quanto não literários; c) desenvolverem estratégias e capacidades de leitura, tanto as relacionadas aos gêneros propostos, quanto as inerentes ao nível de proficiência que se pretende levar o estudante a atingir. III. Critérios relativos à produção de textos escritos As propostas de produção escrita devem visar à formação do produtor de texto e, portanto, ao desenvolvimento da proficiência em escrita. Nesse sentido, não podem deixar de: a) considerar a escrita como uma prática socialmente situada, propondo ao estudante, portanto, condições plausíveis de produção do texto; b) abordar a escrita como processo, de forma a ensinar explicitamente os procedimentos envolvidos no planejamento, na produção e na revisão e reescrita dos textos; c) explorar a produção de gêneros ao mesmo tempo diversos e pertinentes para a consecução dos objetivos estabelecidos pelo nível de ensino visado; d) desenvolver as estratégias de produção escrita relacionadas tanto ao gênero proposto quanto ao grau de proficiência que se pretende levar o estudante a atingir. IV. Critérios relativos ao trabalho com a oralidade A linguagem oral, no que diz respeito a demandas de seu convívio social imediato, é o instrumento por meio do qual se efetivam tanto a interação professor-estudante quanto o processo de ensino-aprendizagem. Será com o apoio dessa experiência prévia que o aprendiz não só desvendará o funcionamento da língua escrita como estenderá o domínio da fala para novas situações e contextos, inclusive no que diz respeito a situações escolares como as exposições orais e os seminários. Assim, caberá à coleção de Português, no que diz respeito a esse quesito: a) recorrer à oralidade nas estratégias didáticas de abordagem da leitura e da produção de textos; b) valorizar e efetivamente trabalhar a variação e a heterogeneidade linguísticas, situando nesse contexto sociolinguístico o ensino das normas urbanas de prestígio; 3 c) propiciar o desenvolvimento das capacidades e formas discursivas relacionadas aos usos da linguagem oral próprios das situações formais e/ou públicas pertinentes ao nível de ensino em foco. V. Critérios relativos ao trabalho com os conhecimentos linguísticos O trabalho com os conhecimentos linguísticos objetiva levar o estudante a refletir sobre aspectos da língua e da linguagem relevantes para o desenvolvimento tanto da proficiência oral e escrita quanto da capacidade de analisar fatos de língua e de linguagem. Por isso mesmo, seus conteúdos e atividades devem: a) abordar os diferentes tipos de conhecimentos linguísticos em situações de uso, articulando-os com a leitura, a produção de textos e o exercício da linguagem oral; b) considerar e respeitar as variedades regionais e sociais da língua, promovendo o estudo das normas urbanas de prestígio nesse contexto sociolinguístico; c) estimular a reflexão e propiciar a construção dos conceitos abordados. Manual do Professor O Manual do Professor deve constituir-se como um instrumento capaz de subsidiar adequadamente o uso da coleção pelo professor, tanto no trabalho de sala de aula quanto na orientação para o estudo autônomo por parte do estudante. Não pode, portanto, ser meramente uma cópia do livro do estudante, com as respostas preenchidas. Será, portanto, excluído o Manual do Professor que não: a) explicitar com clareza e correção os pressupostos teóricos e metodológicos a partir dos quais a proposta didático-pedagógica foi elaborada; b) descrever com precisão e funcionalidade a organização dos livros, inclusive no que diz respeito aos objetivos a serem atingidos nas atividades propostas e aos encaminhamentos necessários; c) apresentar subsídios para a avaliação dos resultados de ensino, assim como para a ampliação e adaptação das propostas que figuram no(s) livro(s) do estudante; d) propor formas de articulação entre as propostas e atividades do livro didático e os demais materiais didáticos distribuídos por programas oficiais; e) fornecer subsídios para a atualização e formação do professor, tais como bibliografias básicas, sugestões de leitura suplementar, sugestões de integração com outras disciplinas ou de exploração de temas transversais, dentre outros; f) apresentar subsídios que contribuam com reflexões sobre o processo de avaliação da aprendizagem de Língua Portuguesa de acordo com as orientações descritas nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos; g) explicitar, de forma pertinente, as articulações entre o Manual do Professor impresso e o Manual do Professor Multimídia, para as obras Tipo 1. 4 Considerando-se tais critérios, a coleção 28040 revelou, conforme análise detalhada a seguir, um desempenho insatisfatório. 3. DESCRIÇÃO DA OBRA Na coleção analisada, os volumes do 6º e 7º anos estão organizados em quatro unidades temáticas, sendo a primeira composta de três capítulos e as demais, de apenas dois. Já os volumes do 8º e 9º anos se organizam em apenas duas unidades, compostas de quatro capítulos cada uma, e mais um capítulo de revisão. Apesar dessa variação, todos os volumes totalizam nove capítulos. Enquanto as unidades são estruturadas por temas mais gerais, os capítulos são organizados por gêneros textuais, cujas atividades convergem para a realização de um Projeto Didático, apresentado ao final de cada unidade. No volume do 6º ano, os capítulos da Unidade 1 (“Quem somos nós”) trabalham os gêneros memórias literárias (capítulo 1), sinopse (capítulo 2) e entrevista (capítulo 3). Nos três capítulos, as propostas de produção textual se orientam pelo projeto “Exposição Quem Somos Nós”, que objetiva realizar uma exposição de fotos, objetos e textos. A Unidade 2 (“Aventuras mil”) focaliza os gêneros narrativa de aventuras (capítulo 4) e história em quadrinhos (capítulo 5). Nesses dois capítulos, os textos elaborados pelos alunos visam ao projeto “Revistinha Aventuras Mil”. A Unidade 3 (“Ouvi contar”) explora os gêneros conto popular (capítulo 6) e mito (capítulo 7). A culminância dessa unidade visa ao projeto “Roda de Leitura Ouvi Contar”. A Unidade 4 (“A gente e o ambiente”) focaliza gêneros do tipo expositivo (artigo, resumo e verbetes de dicionário, no capítulo 8) e cartaz de propaganda (capítulo 9). As atividades culminam no projeto “Campanha a Gente e o Ambiente”. No volume do 7º ano, a Unidade 1 (“Palavra maravilha”) congrega gêneros da esfera literária, a exemplo de romance e conto (capítulo 1), poema (capítulo 2) e cordel (capítulo 3). Nos três capítulos, as propostas de produção textual se orientam pelo projeto “Sarau Palavra Maravilha”. A Unidade 2 (“Nossa revista”) pretende trabalhar gêneros da esfera jornalística, a exemplo de notícia (capítulo 4) e reportagem (capítulo 5). Nesses dois capítulos, os textos elaborados pelos alunos visam à execução do projeto “Nossa Revista”. A Unidade 3 (“Escrevi para você”) trabalha textos didáticos e paradidáticos (capítulo 6) e carta pessoal (capítulo 7). A culminância dessa unidade está proposta na forma do projeto “Exposição Escrevi para Você”. A Unidade 4 (“Nossa vida, nossos contos”) trabalha os gêneros conto (capítulo 8), biografia e autobiografia (capítulo 9). As atividades culminam no projeto “Exposição e Rodas de Leitura Nossa Vida, Nossos Contos”, que objetiva expor os textos produzidos pelos alunos ao longo dos capítulos 8 e 9. No volume do 8º ano, a Unidade 1 (“Nosso jornal”) visa a aproximar os alunos dos gêneros charge, cartum e tira (capítulo 1), artigo de opinião (capítulo 2), crônica (capítulo 3) e anúncio (capítulo 4). Nos quatro capítulos, as propostas de produção textual se orientam pelo projeto “Nosso jornal”. A Unidade 2 (“No palco e na tela”) pretende trabalhar gêneros textuais ligados ao teatro e ao cinema, a exemplo de artigo expositivo e seminário (capítulo 5), texto dramático (capítulo 5 6), roteiro de filme (capítulo 7) e resenha crítica (capítulo 8). Nesses quatro capítulos, o material elaborado pelos alunos visa à execução do projeto “Mostra no Palco e na Tela”. O 9º capítulo é de revisão de conteúdo. No volume do 9º ano, a Unidade 1 (“Linguagem da Mídia”) objetiva trabalhar os gêneros perfil (capítulo 1), resenha crítica e sinopse (capítulo 2), artigo de opinião (capítulo 3) e texto de divulgação científica (capítulo 4). Nos quatro capítulos, as propostas de produção textual se orientam pelo projeto “Blog Linguagem da Mídia”. A Unidade 2 (“Criações Literárias”) pretende trabalhar gêneros textuais da esfera literária, o que justifica o estudo de romance de terror (capítulo 5), crônica (capítulo 6), conto (capítulo 7) e poema (capítulo 8). Nesses quatro capítulos, o material elaborado pelos alunos visa à execução do projeto “Coletânea de Criações Literárias”. Assim como no volume do 8º ano, o capítulo 9 é de revisão dos conteúdos estudados. As atividades se organizam nas seguintes seções, cuja ordem, embora regular, não é rigidamente fixa: “O que você vai aprender neste capítulo” – expõe, em tópicos, os conteúdos que serão trabalhados no capítulo; “Olhe e veja” – objetiva explorar os conhecimentos prévios dos alunos ou levá-los a formular hipóteses acerca do tema ou do gênero a ser trabalhado; “Leitura” – traz o texto principal do capítulo, para ser lido; “Estudo do texto” – apresenta questões de compreensão e de interpretação do texto principal; “Linguagem e recursos expressivos” – apresenta questões que focalizam a linguagem utilizada no texto principal, a sua forma de organização e os principais recursos linguísticos utilizados pelo autor; “Para ler” – em alguns capítulos é substituída por “Para ver”, “Para navegar” ou “Para ouvir”. Consiste em boxes, colocados do lado direito de algumas páginas, que trazem sugestões de livros, filmes, músicas, vídeos e sites; “Outras leituras” – apresenta outro(s) texto(s), que se relaciona(m) com o texto principal, ou pelo gênero ou pela temática; “Veja como se escreve” – traz questões que levam o aluno a refletir sobre aspectos formais do texto escrito; “Produção oral” – traz propostas de produção de textos orais; “Trocando ideias” – traz perguntas para que os alunos, oralmente, emitam sua opinião a respeito de temas diversos; “O que você aprendeu” – em alguns capítulos, essa seção aparece duas vezes: na primeira, apresenta um resumo das principais características do gênero textual trabalhado; na segunda, sintetiza os conteúdos trabalhados ao longo do capítulo; “Para saber mais” – apresenta textos de pequena extensão, com o objetivo de ampliar os conteúdos ou os temas trabalhados no capítulo; “Produção escrita” – traz propostas de produção de textos, sempre do mesmo gênero trabalhado no capítulo; “Para refletir sobre a língua” – apresenta atividades, geralmente em forma de perguntas, que visam a explorar os conhecimentos linguísticos; “Atividades de ampliação” – propõe novas atividades, de leitura ou de produção de textos; 6 “Projeto” – colocada sempre ao final de cada uma das unidades, traz a proposta de desenvolvimento de um Projeto Didático. Ao final dos volumes, há uma lista com a bibliografia utilizada na obra. O Manual Impresso do Professor se configura como uma cópia do Livro do Aluno acrescida de orientações gerais para o professor e respostas das atividades, ao longo dos volumes; e de um encarte, ao final dos volumes, intitulado “Assessoria pedagógica”. Nos quatro volumes analisados, esse encarte se organiza em duas grandes partes: na “Parte 1”, o leitor encontra uma introdução, a fundamentação teórico-metodológica da obra, a apresentação da coleção, alguns textos teóricos e textos de apoio didático para o professor. Na “Parte 2”, apresentam-se breves considerações teóricas, orientações didáticas e sugestões de leituras e de atividades complementares para o desenvolvimento dos conteúdos de cada capítulo. O Material Digital de cada volume se organiza em duas partes, o “Guia do usuário” e o “Manual do Professor Multimídia”. Ao se clicar no “Guia do Usuário”, aparecem dois ícones: um deles corresponde a um botão de pesquisa e o outro dá acesso a um texto intitulado “Apresentação”, estruturado em duas seções: 1. “Propósito pedagógico do Manual do Professor Multimídia”; 2. “Explorando o Manual do Professor Multimídia e os Objetos Digitais”. Essa última se subdivide nos seguintes tópicos: “2.1 O Manual do Professor Multimídia” e “2.2 Os Objetos digitais”. No primeiro tópico, há informações detalhadas sobre a navegação no Manual, o significado dos ícones nele presentes e os modos de acesso pelo professor; no segundo, há explicações sobre os modos de acesso aos OEDs, os tipos de OEDs presentes no material e sua catalogação. Clicando no “Manual do Professor Multimídia”, o professor tem acesso a uma barra de ferramentas vertical, na qual se encontram quatro ícones. O primeiro dá acesso ao mesmo conteúdo que aparece no Manual Impresso do Professor. O segundo exibe o sumário da obra e permite que o usuário chegue a uma página, ou a um capítulo, ou, mesmo, à seção intitulada “Assessoria Pedagógica”. O terceiro ícone dá acesso ao índice dos objetos educacionais (OEDs), por unidades. Por fim, o último ícone é uma ferramenta de pesquisa, que permite ao usuário digitar algum item que queira pesquisar e, em seguida, apertar um botão de pesquisa. No total, o volume do 6º ano apresenta doze OEDs, que se distribuem da seguinte maneira: na Unidade 1 – “Memórias: histórias de todos” (animação, p. 26); “A origem da Língua Portuguesa” (animação, p. 30); “Onomatopeia” (animação, p. 45); “Linguagem verbal e não verbal” (vídeo, p. 46); “Neologismo” (animação, p. 85). Unidade 2 – HQs e tirinhas” (animação, p. 135); “Por falar em português...” (animação, p. 140); “Trabalhando a acentuação” (vídeo, p. 155). Unidade 3 – “Histórias do nosso folclore” (animação, p. 185). Unidade 4 – “Celulares na escola” (vídeo, p. 243); “Cartaz e folheto” (vídeo, p. 251); “Interdisciplinaridade em debate” (vídeo, p. 255). No volume do 7º ano, encontra-se um total de dez OEDs, que se distribuem da seguinte maneira: Unidade 1 – “A língua em constante mudança” (vídeo, p. 29); 7 “A arte da palavra” (vídeo, p. 47). Unidade 2 – “Entoação” (animação, p. 139); “Ambiguidades” (animação, p. 141); “Fazendo uma reportagem escrita” (vídeo, p. 147). Unidade 3 – “O discurso direto e o discurso indireto: duas formas de dizer” (animação, p. 188); “Resumindo” (animação, p. 191); “Tipologia textual” (animação, p. 197). Unidade 4 – “Contos maravilhosos” (animação, p. 248); “Biografias e autobiografias” (vídeo, p. 267). No volume do 8º ano, encontra-se um total de onze OEDs, que se distribuem da seguinte maneira: Unidade 1 – “Charges, cartuns e tiras” (animação, p. 17); “Intertextualidade” (vídeo, p. 26); “Polêmica gera debate” (animação, p. 33); “Coesão” (vídeo, p. 42); “Artigo de opinião” (animação, p. 47); “A crônica” (animação, p. 66); “Debate público” (animação, p. 79). Unidade 2 – “Ser ou não ser” (animação, p. 143); “Estrutura da narrativa” (animação, p. 182); “Trabalhando com orações subordinadas” (vídeo, p. 212); “Parágrafo” (animação, p. 237). No volume do 9º ano, encontra-se um total de dez OEDs, que se distribuem da seguinte maneira: Unidade 1 – “Interdisciplinaridade em debate” (vídeo, p. 8); “O gênero perfil” (vídeo, p. 10); “Descrição: o retrato em palavras” (animação, p. 11); “Entrevista” (animação, p. 20); “A resenha crítica” (animação, p. 54). Unidade 2 – “Linha do tempo: maneiras de contar histórias” (infográfico, p. 130); “Terror na literatura e no cinema” (animação, p. 132); “Orações reduzidas” (animação, p. 149); “Trabalhando com regência” (vídeo, p. 175); “Poesia e ritmo” (animação, p. 220). 4. ANÁLISE Sem prejuízo de qualidades outras, a análise da coleção 28040 revela: deficiências e (ou) insuficiências metodológicas no tratamento didático conferido aos seguintes eixos de ensino: leitura, produção de textos escritos, oralidade e conhecimentos linguísticos; erros conceituais e (ou) de informação e induções a erro. A seguir, os problemas encontrados serão explicitados, com apoio de diversos exemplos coletados do material analisado. 4.1 Deficiências e (ou) insuficiências metodológicas no tratamento didático conferido ao eixo da leitura No âmbito da leitura, merece observação inicial a composição da coletânea, no que diz respeito à natureza do material textual. À exceção do volume do 7º ano da coleção analisada, nos demais há evidências de que a coletânea de textos e as atividades que objetivam trabalhar o eixo da leitura não favorecem a ampliação das práticas de leitura literária na escola. O volume do 6º ano, por exemplo, explora poucos gêneros dessa esfera, sendo os gêneros memórias literárias [v. 6, p. 12-13; v. 6, p. 19-21] e epopeia [v. 6, p. 96-99] apresentados na forma de excertos. Nesse volume, os autores escolhidos – Ilka Brunhilde Laurito, Homero (fragmento da “Odisseia”, traduzido e adaptado 8 por Marques Rebelo), Luís da Câmara Cascudo, Teófilo Braga, Betty Mindlin e Leonardo Boff – constituem um conjunto restrito de autores do que a esfera literária tem a oferecer a alunos desse nível de ensino. No volume do 8º ano, também se observa uma oferta insuficiente dos gêneros da esfera literária (apenas três gêneros: crônicas [v. 8, p. 64-65; v. 8, p. 73-74; v. 8, p. 224-225], fragmento de romance [v. 8, p. 127-128] e conto [v. 8, p.155156]). Os autores incluídos são Zeca Baleiro, Luís Fernando Veríssimo, Rubem Braga, Shakespeare e Dalton Trevisan, mais uma vez um conjunto diminuto de autores representativos dessa esfera. Por fim, no volume do 9º ano, embora se apresentem diversos textos da esfera literária (a exemplo de poemas [v. 9, p. 36; v. 9, p. 37; v. 9, p. 38; v. 9, p. 222223; v. 9, p. 232-236; v. 9, p. 265; v. 9, p. 266-267], epopeia [v. 9, p. 225], história de terror [v. 9, p. 134-136], crônicas [v. 9, p. 160-161; v. 9, p. 168-169] e contos [v. 9, p. 188-194; v. 9, p. 201-204; v. 9, p. 259-262]), vários desses textos são recortes, alguns muito pequenos, o que é insuficiente para se fazer um trabalho consistente de leitura do texto literário. Exemplos dessa insuficiência se encontram: no recorte do poema “Saudades”, do qual só se apresentam 04 (quatro) versos (v. 9, p. 232); no poema I-Juca Pirama, do qual só se apresentam 02 (duas) estrofes (v. 9, p. 233); no poema “O navio negreiro”, do qual se apresenta apenas 01 (uma) estrofe (v. 9, p. 233); no poema “Profissão de fé”, do qual se apresentam apenas 04 (quatro) versos (v. 9, p. 234), dentre outros poemas; no recorte de “Os lusíadas”, obra da qual se apresenta apenas 01 (uma) estrofe (v. 9, p. 225); e no recorte da história de terror, apresentada no v. 9, p. 134-136. Os autores desses textos (Manoel de Barros, Mario Quintana, Cora Coralina, Carlos Drummond de Andrade, Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias, Castro Alves, Olavo Bilac, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Augusto de Campos, Álvaro de Campos, Ronaldo Azeredo, Arnaldo Antunes, Vinícius de Moraes, Mia Couto, Luís de Camões, Mary Shelley, Moacyr Scliar, Machado de Assis, Artur Azevedo, dentre outros), embora formem um conjunto representativo do que a esfera literária tem a oferecer aos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, são estudados em trechos tão insuficientes de textos que não oportunizam aos alunos uma visão satisfatória das características literárias desses autores. Em alguns desses poemas, não há indicação de corte, como os que são apresentados na p. 233 (“I-Juca Pirama” e “O navio negreiro”). Assim, a oferta insuficiente de textos literários e a forma como ela é feita compromete, já de partida, o trabalho com leitura de textos literários. Essa leitura é comprometida mais ainda pelas características das atividades vinculadas a esses textos, pois a análise efetivada evidencia que elas não colaboram para a formação do leitor literário, já que não estimulam nem a fruição estética nem a apreciação crítica dos textos literários; não estabelecem relações entre o texto literário e o contexto histórico, social ou político de sua produção; e não proporcionam um diálogo da produção literária com outras obras artísticas. Também a aproximação do aluno ao padrão linguístico do texto é feita de forma muito superficial, voltada majoritariamente para elucidação do vocabulário. Além da insuficiência do trabalho com a literatura, é notório que questões relativas à diversidade sociocultural brasileira ficam ausentes da coleção, 9 mesmo quando o tema dos textos propicia discussões pertinentes. Esse é o caso que se verifica no capítulo 2 do volume 6, por exemplo, onde se apresentam sinopses de um mapa turístico do Rio de Janeiro. As imagens e os textos apresentados mostram um Rio de Janeiro sem trânsito, sem violência, sem favelas. E, nas atividades propostas, nenhuma menção aos problemas dos grandes centros urbanos é feita. No capítulo 7 do volume 6, para trabalhar com o gênero ‘mito’, apresentam-se ao aluno textos que retratam a visão de mundo de grupos indígenas, mas nenhuma reflexão se faz sobre a participação desses povos na formação da sociedade brasileira. No capítulo 3 do volume 7, o cordel de Patativa do Assaré (v. 7, p. 78-79) tematiza as consequências da migração de sertanejos para os grandes centros urbanos e, no final do texto, o eu lírico faz uma prece para que as crianças pobres tenham, “em vez de uma prisão”, “Bom conforto e boa escola / Um lápis e um caderno”. Nas atividades sobre esse texto, entretanto, nenhuma discussão se propõe sobre a situação dos sertanejos ou sobre a necessidade de educação de qualidade para todas as crianças brasileiras. Da mesma maneira, a reportagem sobre o quilombo urbano, no v. 7, p. 156-158, propiciaria uma discussão sobre a situação dos negros na sociedade brasileira; mas, nas atividades que exploram esse texto, essa discussão não é estimulada. No capítulo 1 do volume 8, apresenta-se uma charge que tematiza a questão da seca e da barganha política que se verifica em algumas partes do país; mas isso não é explorado nas atividades. No capítulo 3 do volume 8, há textos que tratam da influência da tecnologia, mas nenhuma atividade explora a questão da exclusão tecnológica que há no país. No capítulo 1 do volume 9, apresenta-se o perfil de um homem simples do interior mineiro, que tem vasta experiência em construir e consertar moinhos de moenda, assim como uma matéria de jornal sobre um morador de comunidade pobre que desenvolve um projeto de leitura em uma favela carioca. Na seção que trabalha a leitura, não se identificam atividades consistentes que explorem características gerais desses tipos brasileiros. Em síntese, são questões que comprometem a coleção quanto à qualidade da experiência de leitura: a pouca representatividade da coletânea quanto aos textos literários, o que é agravada pelo uso frequente de fragmentos; a natureza das atividades, pouco propícia ao desenvolvimento da proficiência em leitura; e a ausência de estímulo ao debate de questões relativas à diversidade sociocultural brasileira. 4.2 Deficiências e (ou) insuficiências metodológicas no tratamento didático do eixo da produção de textos escritos As propostas de produção de textos escritos da coleção, com bastante frequência, desconsideram a escrita como uma prática socialmente situada, principalmente pela carência de definição de objetivos plausíveis para as atividades. O que a análise deixa claro é que o objetivo maior para a produção dos textos se limita à exibição nos projetos didáticos que estão programados para o ano letivo. No que se refere aos temas sugeridos nas propostas, observa-se pouca definição ou alimentação temática para a maioria deles. Observe-se, por exemplo, a proposta temática para a elaboração das memórias literárias: o aluno terá que “escrever um texto sobre um episódio marcante em sua vida” (v. 6, p. 10 27). Na proposta de escrita de um conto popular (v. 6, p. 175), cabe aos alunos decidirem, sem subsídios ou orientações consistentes para tanto, sobre o que irão escrever: “Agora você vai criar um texto narrativo baseado na estrutura do conto popular. Sua personagem principal será uma das crianças das fotos acima.”. As fotos disponibilizadas são a seguir reproduzidas. A primeira foto – que não é nítida – mostra dois garotos correndo atrás de um caminhão, supostamente, em uma estrada. Apenas pelas informações em corde-rosa, para o professor, tem-se a informação de que eles estão em um lixão; a segunda foto mostra um garoto saltando sobre umas pedras para atravessar um riacho. Vê-se que nenhuma das duas fotos apresentadas estimula a composição de narrativas ou favorece a escrita de um conto popular. Observe-se, ainda, a proposta temática para a elaboração de uma quadrinha (v. 7, p. 65). Para tanto, inicialmente o aluno deve observar as imagens reproduzidas a seguir. 11 A primeira imagem mostra um surfista pegando onda; a segunda é um quadro de Tarsila do Amaral, intitulado “Carnaval em Madureira”; e a terceira é a fotografia de uma instalação do artista Ernesto Neto, intitulada “Anthropodino”. Orienta-se o aluno a observar as três imagens e, em seguida, questiona-se: “1. De qual você mais gostou? Por quê? 2. Observe as cores, as formas, o ambiente, as pessoas (se houver), os movimentos da imagem que escolheu, as impressões que a imagem provocou em você. Faça uma lista de tudo o que vier à sua cabeça.” (v. 7, p. 65-66). Vê-se que há pouca ou nenhuma contribuição temática das fotos disponibilizadas para a escrita de uma quadrinha (poesia popular em quatro versos, muito usada em desafios), sobretudo se considerada a faixa etária a que a obra didática se destina. Considerem-se ainda as propostas de escrita de um cordel, uma charge, uma crônica, um perfil e uma resenha crítica, tal como reproduzidas a seguir. Notese que, mais uma vez, as orientações para a elaboração temática são vagas e o aluno acaba por definir, por si só, a direção que o texto deve tomar. Na proposta de escrita de um cordel (v. 7, p. 99), a orientação é: “2. Pensem nos temas típicos de um poema de cordel: fatos históricos, acontecimentos mágicos ou religiosos, fatos cotidianos, casos ocorridos na região, vida de pessoas famosas, histórias de amor, crítica a problemas sociais e políticos. Pode ser uma história que ouviram recentemente, um filme ou livro de que gostaram, algo que tenha acontecido na escola, na cidade, no país... Reflitam: a) Qual tema seria mais interessante para o público-alvo? b) O que o pretendido leitor gostaria de ler? c) Que tipo de história seria mais atraente para esse público leitor?”. Para a elaboração de uma charge, no v. 8, p. 20-21, dentre as orientações dadas, encontra-se a seguinte, referente ao tema: “3. Leiam e vejam os noticiários recentes. Que notícias chamaram mais a sua atenção? Qual delas poderia dar uma boa charge?”. A mesma indefinição se evidencia na proposta de escrita de uma crônica (v. 8, p. 77-78), em que a orientação é: “1. Permaneça, durante alguns dias, atento às coisas que acontecem ao seu redor, às cenas do dia a dia na família, na escola, na cidade. Leia jornais, revistas ou assista a noticiários. Então, escolha um ponto de partida, isto é, o fato cotidiano sobre o qual irá escrever em sua crônica.”. Na atividade direcionada para a elaboração de um perfil, no v. 9, p. 29-31, solicita-se que o aluno produza “um texto para apresentar traços [de um] colega escolhido recorrendo ao relato de episódios da vida dele para reafirmar um aspecto central dele que você notou e pretende que seja compreendido pelo leitor.”. Acrescenta-se: “2. Devem ser incluídos pequenos relatos sobre experiências vividas pelo colega, como fatos engraçados ou outras ocorrências que ajudem a compor o perfil. 3. Se achar interessante, acrescente o depoimento de colegas ao texto ou o depoimento do entrevistado.”. A elaboração de uma resenha crítica, no v. 9, p. 54-55, assenta-se em indicação ao aluno para selecionar “a obra ou evento sobre o qual irá escrever uma resenha fornecendo informações e fazendo comentários para orientar um leitor a fazer escolhas. 2. Se quiser escolher um evento cultural, consulte os jornais e as revistas da sua cidade para ver o que está acontecendo. [...] 3. Se preferir, escreva sobre algo que já leu, viu ou teve a oportunidade de conhecer.”. Esse 12 procedimento – de fornecer orientações muito gerais para a elaboração temática, deixando seu delineamento inteiramente sob a responsabilidade do aluno – é o mais recorrente na coleção analisada. Em algumas propostas, nem mesmo orientações vagas são disponibilizadas, ficando para o aluno a escolha do tema sobre o qual irá escrever. Veja-se, por exemplo, a proposta de elaboração da introdução de um romance de terror (v. 9, p. 147-148), em que se lê: “4. Escolha um tema e pense na caracterização das demais personagens. Você pode criar uma história com monstros, fantasmas, vampiros, zumbis, entre outros seres assustadores. [...].”; a proposta de elaboração de uma crônica (v. 9, p. 173-175), em que se lê: “1. Escolha seu ponto de partida, isto é, o fato ou a situação sobre o(a) qual irá discorrer em sua crônica.”; a proposta de elaboração de um conto (v. 9, p. 208-212), em que se lê: “Escolha uma letra de canção com a qual você vai trabalhar. [...].”. É importante destacar ainda que, nas propostas de elaboração de um artigo de opinião (v. 9, p. 88-89) e na de um texto de divulgação científica (v. 9, p. 119120), o tema da produção não é sequer citado. Discorre-se apenas sobre a estrutura composicional dos gêneros. Não foram identificadas, igualmente, nas propostas de produção de textos escritos, orientações consistentes acerca da construção da textualidade de acordo com o contexto de produção ou o gênero proposto. De um modo geral, elas são superficiais e insuficientes para propiciar ao aluno segurança no encaminhamento da textualidade, a exemplo de: “Use a primeira pessoa do discurso para narrar” e “Você contará fatos passados; portanto, use os marcadores temporais adequados e verbos no passado” (no v. 6, p. 28, na proposta para escrever memórias literárias); “Descrevam o lugar, destacando os aspectos históricos e curiosos” (no v. 6, p. 49, na proposta de escrever sinopse); “A dica é eliminar o excesso de marcas da oralidade, isto é, aquelas palavras repetidas que usamos na modalidade oral da língua, como aí, tipo, né, então etc.”; “Lembrem-se de colocar o nome de vocês na frente das perguntas e o nome do entrevistado na frente das respostas para o leitor saber quem é quem” (no v. 6, p. 83, na proposta para escrever uma entrevista); “5. Comece fazendo um lide, respondendo às questões básicas: quem? o quê? onde? quando? como? e por quê? 6. Evite manifestar sua opinião. Lembre-se de que, na notícia, o que prevalece é a informação” (no v. 8, p. 51, para a elaboração de uma notícia); e “[...] 3. Ao escrever, sinta-se livre para expor suas impressões, os sentimentos que o fato ou a situação lhe despertam. 4. Se quiser, dirija-se ao leitor, buscando aproximar-se dele. 5. Elabore pequenos trechos descritivos para dar “vida” às personagens e aos lugares; use adjetivos, comparações e recursos poéticos como a metáfora” (no v. 9, p. 174, para a elaboração de uma crônica). Pode-se verificar que são todas orientações muito gerais, que se revelam insuficientes na ajuda ao aluno quanto à construção da textualidade. Faltam, ainda, nas propostas da coleção, orientações consistentes relacionadas ao uso do registro de linguagem adequado ao gênero e à situação. Quando presentes, tais orientações são vagas, como se pode verificar na proposta de escrita de conto popular, no v. 6, p. 175: “Use a linguagem informal, mas sem exageros”; na proposta de elaboração de uma notícia, no v. 7, p. 133, at. 4: “Empreguem um registro escrito mais formal (como o usado neste livro, por exemplo).”; na proposta de escrita de artigo de opinião, no v. 8, p. 48-50: “2d) A 13 linguagem deve ser clara, objetiva e obedecer às normas urbanas de prestígio; em seu texto os verbos deverão estar conjugados predominantemente no presente do indicativo.”; na proposta de escrita de crônica, no v. 8, p. 77-78: “1. (...) Não é preciso ser muito formal, mas capriche na pontuação, na concordância, na acentuação e na ortografia.”; ou na proposta de escrita de um artigo de opinião, no v.9, p.88-89: “6. Lembre-se de que a linguagem deve ser clara e acessível ao público do blog, obedecendo às normas urbanas de prestígio.” Desse modo, pode-se concluir que, a coleção não contribui pedagogicamente para a formação do produtor de texto, pois, além de desconsiderar a escrita como prática socialmente situada e com objetivos definidos, suas atividades de produção descuidam de fornecer ao aluno alimentação temática suficiente para a produção, tampouco fornecem orientações consistentes para a construção da textualidade e para o uso do registro adequado à situação e ao gênero, o que compromete a construção de proficiência nesse âmbito. 4.3 Deficiências e (ou) insuficiências metodológicas no tratamento didático conferido ao eixo da oralidade Na coleção em análise, as atividades não exploram de forma suficiente e significativa gêneros orais adequados a situações comunicativas diversificadas, na medida em que o eixo da oralidade é abordado de modo assistemático e pouco consistente. Observa-se, ainda, que, nas esparsas propostas disponibilizadas, faltam estímulos para que o aluno desenvolva a capacidade da escuta atenta e compreensiva. Por exemplo, após a proposta de contação de casos (v. 6, p. 73), há orientações para a avaliação da atividade, dentre as quais se encontram as seguintes perguntas para avaliar os ouvintes: “1. Souberam ouvir e respeitar os colegas que contaram os casos? 2. Fizeram silêncio para não atrapalhar a atividade? 3. Participaram de maneira adequada nos momentos em que foram solicitados?”. Ora, além de tais questões serem colocadas após a realização da atividade, de modo que não servem de estímulo para o desenvolvimento da capacidade de escuta, focam nas atitudes dos alunos e não no desenvolvimento das capacidades discursivas da escuta visando à interação e à argumentação. Na proposta de assistir ao filme “Central do Brasil” e depois comentá-lo em uma “roda de comentários” (v. 7, p. 220), encontra-se a seguinte orientação: “[...] Na sua vez de falar, exponha sua opinião, dizendo se gostou, o que achou da história da escrevedora de cartas etc. É importante respeitar a vez de falar de cada um. Saber ouvir é um exercício muito importante. Pratique!”. Na proposta de apresentação de um seminário (v. 8, p. 133-136), encontra-se a orientação: “4e) Quando um membro do grupo estiver se apresentando, mantenham silêncio, prestando atenção à fala dele”. E, mais adiante: “Os seminários só se realizam plenamente na interação com o público, que deve saber ouvir, acompanhar e respeitar os grupos que estiverem se apresentando.”. Na proposta de realização de uma entrevista (v. 9, p. 28-29), encontra-se a seguinte orientação: “6. Mantenha uma atitude de respeito com o colega entrevistado. Espere que ele termine a resposta para então fazer a pergunta seguinte.”. Na proposta de roda de comentário (v. 9, p. 171-172), encontra-se a orientação: “3. Quando for o orador: - Manifeste-se apenas quando chegar a sua vez e não 14 interrompa a fala dos colegas. [...]. 4. Quando for o ouvinte: - Fique atento à fala dos colegas. - Não converse com o colega do lado (...).”. Como se vê, são orientações ineficazes que, além de serem vagas, são predominantemente de natureza comportamental e não ajudam o aluno a aprender a escutar atenta e compreensivamente. Igualmente, não se evidencia na coleção a exploração das relações entre as modalidades oral e escrita da língua, em diferentes práticas sociais e em diferentes gêneros. Há, inclusive, atividades orais que requerem um planejamento escrito prévio, como nas propostas de entrevista e exposição oral (v. 7, p. 35-38), exposição oral (v. 7, p. 129-130), relato oral (v. 7, p. 285), debate (v. 8, p. 79-82), seminário (v. 8, p. 133-136) e leitura dramática (v. 8, p. 158-159). Não há, porém, na condução dessas atividades, observação alguma acerca das diferenças ou semelhanças entre a escrita e a fala. As propostas também carecem de orientações precisas para a construção do plano textual dos gêneros orais, mesmo aquelas que envolvem o trabalho com gêneros orais mais formais, como a de debate (v. 6, p. 227-230), as de exposição oral (v. 6, p. 262-264; v. 7, p. 129-130) e a de apresentação de seminário (v. 8, p. 133-136). Para a exposição oral, por exemplo, o volume 6 traz orientações sobre o uso de palavras e expressões como “segundo”, “conforme” e “de acordo com”, para “citar a fala de outras pessoas”. Ou, ainda, organizadores textuais, como “primeiramente”, “além disso” e “por fim”, os quais, segundo o volume, podem ser usados “para somar ideias”. Para a exposição oral de dados coletados em uma entrevista (v. 7, p. 38), o volume 7 apresenta um “exemplo de roteiro”, muito breve, com orientações como: “1. Digam primeiro quais foram os entrevistados e seu grau de parentesco com eles (mãe, pai, avós, tias, parentes mais distantes, entre outras possibilidades). 2. Se vocês pesquisaram em livros, dicionários e sites, informem quais foram suas fontes. 3. Informem quais são os nomes e os sobrenomes e registrem tudo o que conseguiram descobrir a respeito deles. Vocês podem organizar por temas: a escolha, a origem, o significado... Em relação aos sobrenomes, digam o que conseguiram concluir, mesmo que sejam hipóteses ainda sem comprovação.”. Como se pode observar, são orientações que ajudam pouco e até confundem o aluno na construção do plano textual dos gêneros orais. Outra lacuna verificada nas propostas de elaboração de gêneros orais diz respeito à pouca orientação dada para o uso de recursos audiovisuais como auxiliares à produção oral. Interessante observar que, no capítulo 9 do volume 6, a proposta para o eixo da produção de textos escritos é a de produção de cartaz de propaganda. Ainda assim, na proposta de produção oral do capítulo – de exposição oral – não se identifica nenhuma orientação sobre a contribuição dos cartazes na tarefa de expor oralmente algum trabalho. Na proposta de realização de entrevista (v.9, p.28-29), encontra-se a seguinte orientação: “4. Providencie um gravador. Se não for possível, leve papel e caneta para fazer anotações. (...)”. Nota-se que essa orientação não auxilia o aluno a perceber de que maneira o gravador pode ser utilizado para registrar informações relevantes para a realização da entrevista. 15 Além disso, a literatura oral e outras práticas culturais orais presentes nas diferentes regiões brasileiras não são exploradas na coleção. Na proposta de contação de histórias (v. 6, p. 196-197), o volume traz orientações para o aluno pesquisar uma boa história, entre familiares e amigos, ou na biblioteca e internet. Mas, na condução da atividade, os aspectos literários do texto selecionado pelo aluno não são enfatizados, assim como não é enfatizada a prática cultural de transmitir histórias de geração a geração. Assim, há insuficiência metodológica na condução do eixo da oralidade na coleção, na medida em que se verificam diversas falhas de natureza conceitual e pedagógica no tratamento desse eixo, a saber: estudo inconsistente dos poucos gêneros orais explorados; falta de estímulos para que o aluno desenvolva a capacidade da escuta compreensiva, com presença de orientações vagas e imprecisas, de natureza apenas comportamental; falta de orientações eficazes para a construção do plano textual dos gêneros orais; ausência de tratamento da relação entre oralidade e escrita; ausência de exploração da literatura oral, dentre outras. 4.4 - Deficiências e (ou) insuficiências metodológicas no tratamento didático conferido ao eixo dos conhecimentos linguísticos Na coleção, as atividades propostas para o trabalho com o eixo dos conhecimentos linguísticos apresentam uma abordagem pouco consistente dos fatos e das categorias gramaticais, dispensando-se, com frequência, a perspectiva de seu funcionamento comunicativo em ocorrências textuais e discursivas autênticas. Na maior parte das atividades, prevalece uma abordagem tradicional e transmissiva dos fenômenos gramaticais, que são estudados na perspectiva da frase (ou da oração), com o uso de uma metalinguagem gramatical. Além disso, nas atividades, verificam-se muitas insuficiências metodológicas, como será ilustrado a seguir. Observe-se, por exemplo, a maneira como se introduzem as noções de “sujeito e predicado”, no v. 7, p. 140-141. Primeiramente, solicita-se: “1. Releia o título de notícia a seguir: ‘Show em homenagem a Noel Rosa é destaque na Oficina de Música.’”. Note-se que o título dado aparece pela primeira vez no volume, e não se refere a nenhuma notícia lida anteriormente no capítulo. Desse modo, o aluno não pode relacionar o título apresentado na atividade a nenhum outro texto. Após a apresentação do título de notícia, colocam-se três perguntas: “a) Qual é o verbo dessa oração? b) A respeito de que é feita uma declaração, nessa oração? c) Qual é essa declaração?”. Percebem-se, nessas perguntas, algumas fragilidades. Na questão a), por exemplo, o título de notícia não é mais referido como “título de notícia”, e, sim, como uma “oração”. Ele perde, assim, sua função textualdiscursiva, e passa a ser apenas uma unidade de análise sintática. Na questão b), espera-se que o aluno responda que se faz uma declaração a respeito do “show em homenagem a Noel Rosa”, que é o sujeito. No entanto, não estaria errado se o aluno percebesse que, no título apresentado, faz-se também uma declaração a respeito de Noel Rosa, ou a respeito de um show. Após essas questões, apresentam-se as definições de “sujeito” e “predicado”: “As orações geralmente apresentam dois grupos de palavras: um grupo sobre o 16 qual se declara alguma coisa – o sujeito; um grupo que apresenta essa declaração – o predicado.”. Atrelar as definições de sujeito e predicado a enunciados “declarativos” acarreta a compreensão equivocada de que essas funções sintáticas não estão presentes em enunciados de outros tipos, como os interrogativos, exclamativos e injuntivos, por exemplo. São muito frequentes, nas atividades do eixo dos conhecimentos linguísticos, orientações para o aluno formar frases ou orações, de modo inteiramente descontextualizado e artificial, como se vê no v. 8, p. 26, at. 1g: “Crie uma frase em que o verbo competir seja transitivo indireto.”; no v. 8, p. 52, at. 4: “Forme uma oração com cada um dos verbos que você e seus colegas relacionaram na atividade 2.”; no v. 9, p. 154, at. 1b: “Empregando o verbo assistir ainda com o sentido de “acompanhar visualmente, ver”, criem outra frase em que também ocorra crase.”; ou no v. 9, p. 183, at. 3: “Construa uma frase para cada um dos substantivos que você formou no exercício anterior. [...]”. Outras atividades de formar frases ou orações descontextualizadas se encontram no v. 8, p. 104, at. 2; v. 8, p. 139, at. 2; v. 8, p. 169, at. 2; v. 9, p. 64, at .1 e; v. 9, p. 252, at. 2; v. 9, p. 274, at. 2, dentre várias outras. Há, também, grande quantidade de atividades de mera classificação, sem nenhum objetivo aparente, ou melhor, o objetivo é a fixação de terminologia. É o que se vê, por exemplo, no v. 8, p. 29, at. g: “Identifique e classifique os sujeitos das duas orações do segundo balão.”; no v. 8, p .29, at. h: “Identifique e classifique os predicados dessas mesmas orações.”; no v. 8, p. 52, at. 3: “Identifique e classifique os predicados dos títulos vistos na atividade 1.”; no v. 9, p. 57, at. 2c: “Como se pode classificar sintática e semanticamente essa oração subordinada?”; no v. 9, p. 58, at. 4b: “[...] Considerando que o verbo exigir é transitivo direto, como se classifica a oração subordinada iniciada pela conjunção que?”; ou no v. 9, p. 59, at. 5c: “[...] O verbo lembrar é usado como transitivo indireto no trecho acima. Como é classificada a oração subordinada nesse período?”. Outras atividades que focalizam a classificação podem ser encontradas no v. 8, p. 54, at. 8; v. 8, p. 54, at. 1; v. 8, p. 55, at. 2c; v. 8, p. 83, at. 1c e 2b; v. 8, p. 85, at. 5 e 6; v. 8, p. 106, at. 2e; v. 8, p. 138, at. 1c e 2; v. 8, p. 163, at. 1a; v. 8, p. 164, at. 3; v. 8, p. 195, at. 9; v. 8, p. 212, at. b; v. 8, p. 213, at. 2e; v. 8, p. 232, at. 1a; v. 8, p. 232, at. 4; v. 9, p. 62, at. 9b; v. 9, p. 63, at. 11d; v. 9, p. 124, at. 4c; v. 9, p. 150, at. 4c; v. 9, p. 154, at. 10c; v. 9, p. 177, at. 6b; v. 9, p. 180, at. 1b; v. 9, p. 212, at. 1a; v. 9, p. 246, at. 2b; v. 9, p. 269, at. 1c e 2c; v. 9, p. 270, at. 3; v. 9, p. 272, at. 3; v. 9, p. 275, at.1d, dentre outras. A frequência desse procedimento configura claramente insuficiência metodológica, pela insistência em fixação de uma metalinguagem em detrimento da reflexão sobre fenômenos linguísticos. Pode-se observar, ainda, que na abordagem das normas urbanas de prestígio, as atividades da coleção raramente tomam como referência o português brasileiro contemporâneo. No geral, prevalece a tendência de preservar a tradição gramatical, de origem lusitana, ainda que essa tradição não reflita a ‘normalidade’ do português brasileiro. É o que se vê, por exemplo, na abordagem dos pronomes demonstrativos. Está escrito no v. 6, p. 154, que “na linguagem usada no dia a dia, normalmente não nos preocupamos com a diferença entre esse e este, porque a diferença de 17 sentido entre essas palavras fica clara pela situação”. Indo de encontro a essa afirmação, nesse mesmo volume 6, apresenta-se, na sequência, um exercício em que o aluno deve “reescrever as frases, substituindo [as lacunas] pelo pronome demonstrativo mais adequado.”. As frases apresentadas, criadas ad hoc para a tarefa, trazem apenas um pronome como resposta correta. Assim, em “a) ___ sapatos que estou usando já estão velhos.”, a resposta tida como correta é apenas “Estes”, como se no português brasileiro fosse incorreto usar “Esses” no enunciado dado. Evidências de desconsideração do português brasileiro contemporâneo podem ser encontradas, ainda, no v. 7, p. 225-228, em que se faz o estudo das preposições. Note-se a artificialidade, para um falante do português brasileiro, do enunciado “Ele era tão pequeno que só poderia se esconder sob a cama.”, sugerido na atividade do v. 7, p. 226, at. 2b. Note-se, ainda, o estranhamento, para um falante da modalidade brasileira do português, da seguinte explicação, presente no v. 7, p. 227: “Há uma preposição cujo uso é bastante peculiar: per. Ela aparece em contração com os artigos o(s) e a(s): pelo: per + o; pelos: per + os; pela: per + a; pelas: per + as”. No v. 7, p. 261, trata-se dos pronomes pessoais retos e oblíquos e apresenta-se ao aluno o quadro – reproduzido a seguir – dos pronomes, com as formas de pronomes retos: “eu, tu, ele(a), nós, vós, eles(as)”; e de pronomes oblíquos: “me, mim, comigo, te, ti, contigo, se, si, consigo, o, a, lhe, nos, conosco, vos, convosco, os, as, lhes”. Nesse quadro, nenhuma menção é feita às formas “você” e “a gente”, nem aos usos, no português brasileiro, dessas formas pronominais. Distante da modalidade brasileira do português, igualmente, é o tratamento que a obra dá aos pronomes oblíquos em função de complemento verbal, no v. 7, p. 262. Aí se explica que “os pronomes pessoais oblíquos o, a, os e as têm a função de objeto direto, pois complementam verbos transitivos diretos. Os pronomes pessoais oblíquos lhe e lhes têm a função de objeto indireto, pois complementam verbos transitivos indiretos. Os pronomes me, te, se, nos e vos exercem a função de objeto direto ou de objeto indireto nas orações, conforme o verbo que complementam.”. Na sequência dessas explicações, há uma atividade (v. 7, p. 262, at. 3) de substituição de formas nominais por pronomes, sem nenhuma consideração da função textual e discursiva dessas formas, no texto em que se inserem, conforme reprodução a seguir. 18 Outra evidência de que o português brasileiro contemporâneo não é levado em consideração se vê no v. 8, p. 52-54, em que a obra pretende refletir sobre as “orações sem sujeito”. Os casos de verbos impessoais apresentados são: os que indicam fenômenos da natureza, “fazer” e “haver” indicando tempo decorrido, “haver” como sinônimo de “existir” e verbo “ser” indicando distância e tempo. Nenhuma menção se faz ao fato de, no português brasileiro, ser bastante frequente o emprego do verbo “ter” no lugar de “haver”. Outro exemplo desse mesmo procedimento se encontra no v. 8, p. 104, em que se apresentam “os tempos verbais do modo indicativo”, dentre os quais consta o pretérito mais-que-perfeito, sem nenhuma referência à substituição desse tempo verbal simples pela sua forma composta, no português do Brasil. Além disso, no v. 8, p. 104, at. 3d, acerca da locução “vai aumentar”, solicita-se que o aluno compare essa forma com “aumentará”. A resposta esperada é: “A primeira forma é mais informal” (MP, v. 8, at. 3d). A obra, portanto, induz o aluno a acreditar que a opção pela locução revela nível de registro informal, apenas. Ainda no v. 8, p. 165, trata-se da “voz passiva sintética”, com exemplos das formas de plural – “Alugam-se casas na praia” e “Vendem-se apartamentos” –, sem se mencionar nenhuma vez o fato de, no português brasileiro, ser frequente a concordância em desacordo com a norma-padrão da língua. A tendência de desconsiderar a variedade brasileira do português também pode ser observada no volume 9. Veja-se, por exemplo, a atividade da p.154, que pretende incentivar uma reflexão sobre o uso do sinal indicativo de crase. Para tanto, traz como exemplo o seguinte trecho de um texto lido anteriormente, na seção “Leitura”: “E foi em Ingolstadt, ao assistir às aulas de herr Waldman, que passei a admirar os velhos alquimistas.”. Após apresentar esse trecho, as questões postas para o aluno são: “a) Expliquem a ocorrência da crase em assistir às aulas. b) Empregando o verbo assistir ainda com o sentido de ‘acompanhar visualmente, ver’, criem outra frase em que também ocorra crase.”. Nota-se que nenhuma discussão é feita no volume sobre o uso do verbo “assistir” (na acepção de “ver”) como transitivo direto, que é o uso mais frequente no português brasileiro contemporâneo. Além disso, no v. 9, p. 178, at. 8 e at. 9, a obra trata da regência do verbo “preferir”, insistindo ainda que, de acordo com as normas urbanas de prestígio, esse verbo deve ser usado como no exemplo: “Reginaldo preferiu o inferno ao paraíso.”. No que se refere à regência verbal, no v. 9, p.179, apresenta-se um quadro (reproduzido a seguir) com diversos verbos e sua regência considerada 19 “correta”. Algumas das regências indicadas se afastam dos usos mais frequentes no português brasileiro contemporâneo, como as dos verbos “assistir”, “chegar” e “namorar”, só para citar alguns casos. Por fim, no v. 9, p. 217, a obra trata de colocação dos pronomes oblíquos átonos, e, além de apresentar a mesóclise como uma possibilidade de uso, repete que, “conforme as normas urbanas de prestígio, um período não deve ser iniciado com um pronome oblíquo”, sem fazer menção aos usos mais corriqueiros desses pronomes no português do Brasil. Cabe ainda destacar que, na coleção em análise, não se encontram, dentre as atividades do eixo dos conhecimentos linguísticos, nenhuma que auxilie o aprendiz a conhecer o dicionário, compreendendo sua organização e suas funções. Não há evidências, ainda, de que as atividades do eixo dos conhecimentos linguísticos consideram e valorizam a variação linguística, na abordagem das 20 diferentes normas. A norma trabalhada nesse eixo é apenas a norma-padrão, não sendo as demais normas sequer mencionadas. Veja-se, por exemplo, o estudo que se faz, no volume 7, acerca do gênero, número e grau dos substantivos (v. 7, p. 69-74), em que não se encontra nenhuma referência a formas variantes brasileiras. Veja-se, ainda, o estudo que se faz, no volume 8, acerca do modo imperativo (v. 8, p. 107-108). Parte-se de um trecho extraído de um anúncio, em que se lê: “Exija, devolva, troque, reclame, recorra. O Código de Defesa do Consumidor é uma conquista de cada brasileiro.” Na sequência, na at. c (v. 8, p. 107,), pergunta-se ao aluno: “Como ficariam esses verbos se o leitor fosse chamado de tu, como ocorre em Portugal, em Angola e em algumas regiões de nosso país?”; e, na at. d, lê-se: “É muito comum a mistura das pessoas do discurso em um bate-papo informal. Mesmo tratando nosso interlocutor por você, usamos a conjugação na segunda pessoa do singular, ou vice-versa. Quando você pede uma ajuda, por exemplo, diz ‘Por favor, me ajude’ ou ‘Por favor, me ajuda’?”. A obra não aproveita, no entanto, as atividades, para aprofundar, discutir e valorizar formas variantes brasileiras. Em suma, nessa coleção, as atividades do eixo dos conhecimentos linguísticos apresentam diversas insuficiências metodológicas vinculadas à opção por uma abordagem pouco consistente dos fatos e das categorias gramaticais, predominantemente metalinguística, transmissiva e dissociada de ocorrências textuais e discursivas autênticas, em detrimento de atividades promotoras de reflexão sobre os fatos linguísticos. Acrescente-se, no tratamento desse eixo, a desconsideração das características do português brasileiro contemporâneo, bem como a ausência de tratamento da variação linguística. 4.5 Erros conceituais e induções a erro No volume do 9º ano da coleção analisada, foram identificados alguns equívocos no tratamento de questões gramaticais que induzem os alunos a erros conceituais. No v. 9, p. 56, por exemplo, acerca do enunciado: “Vale lembrar que esta resenha foi escrita sem leitura prévia do livro de John Green.”, explica-se: “Note que, na primeira oração, não existe nenhum termo que possa ser sujeito da locução vale lembrar. Isso ocorre porque seu sujeito é a 2ª oração: [...] Dessa forma, essa oração exerce a função de sujeito da primeira oração; por isso recebe a classificação de oração subordinada substantiva objetiva direta”. Uma oração que exerce a função de sujeito não pode ser “objetiva direta” como se explica no volume, mas, sim, “subjetiva”. Outro equívoco identificado se encontra no v. 9, p. 61. Aqui, explica-se que “[...] a oração subordinada substantiva completiva nominal funciona como complemento nominal de um substantivo, adjetivo ou advérbio da oração principal. Uma preposição – entre o nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) da oração principal e a conjunção integrante que – introduz essa oração subordinada substantiva.”. No v. 9, p. 63, at. 10, apresenta-se uma tirinha na qual aparece uma oração subordinada substantiva completiva nominal sem a 21 preposição que, de acordo com a explicação dada na p. 61, deveria estar presente. Na at.10c, pergunta-se: “A preposição exigida entre esse nome e a oração completiva aparece?” É aceita como resposta um simples “não”. A resposta à pergunta seguinte (“O registro usado nessa tira é formal ou coloquial?”) deveria justificar a ausência da preposição, mas nenhuma indicação sobre isso se faz na atividade. No v. 9, p. 122, at. 1, encontra-se mais um equívoco. No enunciado que se apresenta (“Os vasos primitivos armazenavam alimentos e água, embora também fossem utilizados como urnas funerárias ou peças decorativas.”), explica-se que a primeira oração é a “principal”, e a segunda é a “oração subordinada adverbial concessiva principal”, classificação que induz o aluno ao erro no estudo das orações. No v. 9, p. 126, at. 7c, apresenta-se como resposta correta uma relação de conformidade no seguinte enunciado: “Conforme o gelo derrete, a sua capacidade de refletir a luz solar enfraquece, o que leva a uma perda ainda maior de gelo.”. Apesar de o termo empregado ter sido “conforme”, o sentido pretendido não é de conformidade, mas de proporcionalidade, de modo que a resposta está incorreta. No v. 9, p. 177, há uma equivocada confusão no tratamento dos verbos “esquecer” e “lembrar”. Primeiramente, são dados dois trechos retirados de uma crônica: “I – Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste [...] II – E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada como se nunca a tivesse visto antes [...]”. Em seguida, questiona: “a) O verbo esquecer apresenta a mesma transitividade nos dois casos acima?”, sendo a resposta correta: “Não, no primeiro ele é transitivo direto, no segundo ele é transitivo indireto.”. Na explicação que vem em seguida, lê-se: “Alguns verbos apresentam mais de uma regência, dependendo do contexto que lhe dá diferentes significados. É o que você observou na atividade anterior com o verbo esquecer. Agora veja as diferentes regências do verbo lembrar, semelhantes ao verbo esquecer, que admitem duas construções.”. Se forem atentamente analisados os trechos retirados da 22 crônica, ficará evidente que, em ambos, o verbo “esquecer” (“esqueço o casalzinho no parque” e “esqueço de tudo”) tem o mesmo significado. Assim, a explicação de que “alguns verbos apresentam mais de uma regência, dependendo do contexto que lhe dá diferentes significados” não é válida para os exemplos em foco. O que a obra não esclarece é que os verbos "esquecer” e “lembrar” apresentam formas pronominais (“esquecer-se” e “lembrar-se”), e essas formas devem ser seguidas de preposição “de”, segundo a norma-padrão. Em vários usos do português brasileiro, entretanto, essa regra é desconsiderada, mesmo em registros formais cultos, de modo que se emprega indistintamente “esqueci tudo” e “esqueci de tudo”. São, portanto, formas variantes correntes. No v. 9, p. 180, at. 11, a atividade solicita que o aluno “copie as frases no caderno, fazendo as modificações necessárias para adequar a regência verbal às normas urbanas de prestígio”. Na letra d, a frase é: “Prefiro muito mais cinema do que teatro.” e a resposta considerada correta é: “Prefiro muito mais cinema a teatro.” Há um evidente equívoco, pois, se for seguida a norma-padrão vigente solicitada na atividade, não se deveriam usar expressões intensificadoras como “muito mais” junto ao verbo “preferir”. No v. 9, p. 212, at. 1b, que objetiva trabalhar concordância nominal, em referência ao trecho de um conto (“Ao mesmo tempo lembra as mulheres que viu por esse mundo de Cristo, italianas, marselhesas ou turcas, muitas delas bonitas, ou que lhe pareciam tais.”), solicita-se que o aluno “copie o artigo, os adjetivos e o pronome que se referem [ao substantivo “mulheres”]” e dá como resposta correta a de que o “pronome indefinido” “tais” faz essa referência. No trecho dado, entretanto, o termo “tais” faz referência a “bonitas”. No v. 9, p. 217, at. 2, apresentam-se enunciados em que há ênclise e solicita-se que o aluno os “reescreva utilizando a próclise”. Na at. 2a (“Nesse caso, diga-lhe francamente que é casado.”), entretanto, a próclise é inadequada, apesar de o volume aceitar como resposta correta: “Nesse caso, lhe diga francamente que é casado.”. 5. CONCLUSÃO Em função a) das deficiências e (ou) insuficiências metodológicas no tratamento didático conferido aos eixos da leitura, da produção de textos escritos, da oralidade e dos conhecimentos linguísticos; e b) dos erros conceituais e da indução a erros apontados neste Parecer, a coleção 28040 não subsidia adequadamente o trabalho didático, devendo, portanto, ser REPROVADA no PNLD 2017. Assinatura da Coordenadora Pedagógica Assinatura da Coordenadora Institucional Nome da Coordenadora Pedagógica Nome da Coordenadora Institucional Eliana Borges Correia de Albuquerque Magna do Carmo Silva Cruz 23