TÍTULO: Depressão, ansiedade e fatores associados em acadêmicos

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PREVALÊNCIA DE ANSIEDADE E A ASSOCIAÇÃO COM
COMPORTAMENTOS DE RISCO À SAÚDE EM ACADÊMICOS DE UMA
FACULDADE PRIVADA
Deise de Azevedo Ajala dos Santos - FAG 1
Maristela Sobral Cortinhas - FAG 2
Russélia Vanila Godoy
Introdução
A ansiedade é um transtorno bastante prevalente, variando de 3% a 25%, de
acordo com a população e o instrumento utilizado (DSM-IV, 2003; Holmes, 1997). As
mulheres tendem mais do que os homens a serem diagnosticadas como ansiosas e a
incidência destes transtornos diminui à medida que as pessoas envelhecem (Holmes,
1997).
A característica principal da ansiedade é uma preocupação excessiva,
acompanhada de pelo menos três dos seguintes sintomas: inquietação ou sensação de
estar com os “nervos à flor da pele”; fatigabilidade; dificuldade em concentrar-se ou
sensações de “branco”; irritabilidade; tensão muscular e perturbação do sono. (DSM IV,
1995).
Os sintomas da ansiedade são subdivididos em sintomas de humor, cognitivos,
somáticos ou motores. Os sintomas de humor consistem em tensão, pânico e apreensão.
Os sintomas cognitivos são a desatenção e um prejuízo nas tarefas do cotidiano, como
trabalho e estudo. Os sintomas somáticos podem ser divididos em dois grupos: os
imediatos, que consistem em suor, boca seca, respiração curta, pulso rápido, aumento da
pressão sanguínea, tensão muscular; e os sintomas atrasados podem ser pressão
sanguínea cronicamente aumentada, dores de cabeça, fraqueza muscular, má digestão e
cólicas estomacais. Por fim, os sintomas motores que consistem em impaciência,
1
2
Acadêmica de 9° Período do Psicologia da Faculdade Assis Gurgacz – FAG – Cascavel – PR.
Psicóloga, Mestre em Educação, especialista em Educação Inclusiva, professora Faculdade Assis
Gurgacz – Cascavel - PR e coordenadora do grupo de pesquisa PSICOEDU da FAG. Pesquisadora
colaboradora no grupo de Pesquisa Processos Interativos, Aprendizagem e Cultura, na Linha de
2
inquietação, atividade motora sem objetivo como movimentos rápidos com os dedos
dos pés e respostas de susto exageradas a ruído súbito (Holmes, 2001). Estes sintomas
devem estar presentes na maioria dos dias, nos últimos seis meses para se configurar um
transtorno de ansiedade (DSM IV, 1995).
Compreende-se que em algumas circunstâncias a ansiedade serve como um
impulso ou motivador, sendo considerada adaptativa. No entanto, a ansiedade é
considerada anormal quando o nível torna-se muito alto, não há justificativa para a
ansiedade ou ela conduz a consequências indesejáveis. (Holmes, 1997).
Estudos sugerem que a ansiedade surge como possível fator associado a alguns
comportamentos de risco à saúde, que figuram entre as maiores causas de mortalidade
entre adolescentes no Brasil. A expressão comportamento de risco pode ser definida
como participação em atividades que possam comprometer a saúde física e mental
(Feijó; Oliveira, 2001). Os indivíduos ansiosos estariam mais propensos a consumir
bebidas alcoólicas e drogas ilícitas, serem sedentários, possuírem atitudes agressivas,
comportamento sexual de risco e envolverem-se em acidentes de trânsito (Souza et al,
2008).
O objetivo dessa pesquisa foi determinar a prevalência de ansiedade em
acadêmicos de uma faculdade privada do oeste do Paraná. Faz-se importante a
identificação dos fatores associados à elevada sintomatologia ansiosa, para auxiliar no
delineamento de estratégias preventivas no contexto acadêmico. Tendo em vista que o
trabalho do psicólogo escolar em conjunto com a equipe pedagógica pode proporcionar
ótimos resultados em trabalhos de prevenção.
O psicólogo escolar pode contribuir para criar estratégias para melhorar a
relação professor-aluno, que pode ser um dos pontos geradores de ansiedade. Silva e
Santos (2002) falam sobre a importância da relação professor aluno e como isso pode
contribuir para elevar ou amenizar a ansiedade dos mesmos. Segundo os autores
mencionados (2002, p.56)
Alguns professores sentem que seu relacionamento com os
alunos determina o clima emocional da sala de aula. Esse clima
poderá ser positivo, de apoio ao aluno, quando o relacionamento
é afetuoso, cordial. Neste caso, o aluno sente segurança, não
Pesquisa Processos Inclusivos,
[email protected]
Tecnologias Assistivas
e
Cultura, no NUPPE
- UTP.
3
teme a crítica e a censura do professor. Seu nível de ansiedade
mantém-se baixo e ele pode trabalhar descontraído, criar, render
mais intelectualmente. Porém, se o aluno teme constantemente a
crítica e a censura do professor, se o relacionamento entre eles é
permeado de hostilidade e contraste, a atmosfera da sala de aula
é negativa. Neste caso, há o aumento da ansiedade do aluno,
com repercussões físicas, diminuindo sua capacidade de
percepção, raciocínio e criatividade.
Sendo assim, um dos pré-supostos desta pesquisa é que o papel do Psicólogo
Escolar faz-se fundamental na equipe pedagógica das instituições de ensino superior,
podendo este atuar preventivamente na relação educador/educando de forma a otimizar
o processo de aprendizagens dos acadêmicos.
Materiais e métodos
O delineamento da pesquisa é transversal de base institucional. O método de
pesquisa utilizado foi o quantitativo. O método quantitativo permite quantificar opiniões
e dados e, para a análise, são empregados recursos e técnicas estatísticas (Oliveira,
2002).
A população em estudo são os acadêmicos do curso de Psicologia e Educação
Física de uma Faculdade Privada do Oeste do Paraná. Cada um dos cursos possuía oito
turmas em andamento no segundo semestre letivo de 2009, 50% delas fizeram parte da
nossa amostra, sendo que quatro turmas da Educação Física e quatro turmas da
Psicologia. Totalizando uma amostra de duzentos e cinquenta acadêmicos. O único
critério de exclusão foi o não consentimento por parte dos acadêmicos, o que não
ocorreu.
Para a coleta de dados, primeiramente foi solicitada a autorização dos
coordenadores dos cursos de Psicologia e Educação Física. Após o consentimento dos
coordenadores e aprovação do projeto no Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade
Assis Gurgacz (protocolo nº 176/2009), teve início a coleta. A coleta de dados ficou a
cargo dos pesquisadores participantes, que foram previamente treinados. As oito turmas
que fizeram parte da pesquisa foram sorteadas aleatoriamente. Durante o horário de
aula, os pesquisadores entraram na sala e explicaram para todos os alunos sobre os
4
objetivos e procedimentos do estudo e convidaram os acadêmicos das turmas sorteadas
a participar do estudo. Os que consentiram, após assinar o Consentimento Livre
Esclarecido responderam ao questionário.
Os acadêmicos responderam a um questionário auto-aplicado com questões
sobre condições socioeconômicas, idade, sexo, trabalho, religião, atividades físicas, uso
de tabaco, álcool e outras substâncias, doenças, uso de medicamentos e comportamentos
de risco à saúde.
Para a coleta de dados foram utilizados diversos instrumentos padronizados que
compuseram um único questionário, para facilitar a logística do trabalho de campo e a
digitação dos dados.
Foi utilizada a classificação da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa
(ABEP) para avaliar o nível socioeconômico. Esta classificação é baseada no acúmulo
de bens materiais e na escolaridade do chefe da familia, classificando os sujeitos em
cinco níveis (A, B, C, D e E).
Para detectar abuso de álcool foi utilizado o CAGE, que é composto por quatro
perguntas (1. Pensou em largar a bebida?; 2. Fica aborrecido quando outras pessoas
criticam o seu hábito de beber?; 3. Se sentiu mal ou culpado pelo fato de beber?; 4.
Bebeu pela manhã para ficar mais calmo ou se livrar de uma ressaca?) Considera-se um
resultado positivo para o mesmo quando duas ou mais perguntas obtêm a resposta
afirmativa. No Brasil, a validação do CAGE foi feita por Masur e Monteiro (1983), que
encontraram uma sensibilidade de 88% e uma especificidade de 83%.
O screening para ansiedade foi realizado através das Escalas Beck. Estas foram
originalmente criadas nos Estados Unidos, sendo adaptadas para o Brasil por Cunha
(2001). O Beck Anxiety Inventory (BAI) mede a intensidade de ansiedade do indivíduo.
A escala possui 21 perguntas, sendo estas objetivas, contendo quatro opções de
resposta, com pontuação de 0 a 3 pontos. Os pontos de cortes são os seguintes: escore
entre 0 a 10 pontos indica ansiedade mínima; de 11 a 19 pontos ansiedade leve; de 20 a
30 pontos ansiedade moderada; de 31 a 63 pontos ansiedade grave. Entretanto, para
análise dos dados foi dividido o instrumento em duas categorias: positivo e negativo
para ansiedade, sendo que negativo foi considerada a ansiedade mínima; a ansiedade
leve, moderada e grave foi considerado como positivo.
Para garantir a confidencialidade das respostas e manter em sigilo a identidade
dos acadêmicos entrevistados, os questionários foram identificados apenas com um
5
número seqüencial. Os acadêmicos tiveram liberdade para recusar ou retirar o
consentimento sem penalização, a qualquer momento.
A análise dos dados foi realizada no pacote estatístico SPSS 10.0 for Windows.
Foi realizada análise univariada por freqüência simples para conhecer as características
da amostra. Na análise bivariada, foi utilizado o teste do qui-quadrado para comparação
entre proporções.
Todos as exigências da Resolução 196/96 foram obedecidas neste projeto de
pesquisa.
RESULTADOS
A amostra foi composta por 114 acadêmicos, tendo 54,4% de perdas devido ao
não comparecimento de todos os acadêmicos na aula no dia da coleta de dados. Dos
acadêmicos entrevistados; 51,8% faziam o curso de psicologia e 48,2% de educação
física. Estes possuíam em média 22 anos (DP±5,8). A maior parte dos alunos
entrevistados eram do sexo feminino (69,4%), estavam trabalhando atualmente (58,6%),
eram da religião católica (81,1%) e praticavam atividade física (51%). (TABELA 1)
Referente ao uso de drogas lícitas durante a vida, 50% já fumaram e 81,6% já
ingeriram bebidas alcoólicas, sendo que 30,4% fazem uso abusivo de álcool. Referente
ao uso de drogas ilícitas, 13,2% usaram maconha, 4,4% cocaína, 1,8% crack, 3,5%
estimulantes e 7% inalantes. (TABELA 1)
Quanto à saúde física, 7,2% relataram possuir alguma doença, como gastrite,
enxaqueca, bronquite, endometriose e 44,6% necessitaram tomar algum tipo de
medicamento no último mês. Em relação à prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis, 54,9% não utilizaram preservativo na última relação sexual, sendo que
33,3% não possuem parceiro fixo. (TABELA 1)
Em relação à psicopatologia estudada, 21,1% possuem sintomas de ansiedade.
Quanto à gravidade dos sintomas de ansiedade; 58,3% foram considerados de grau leve;
37,5% moderada e 4,2% grave. (TABELA 1)
TABELA 1
VARIÁVEL
N
%
Psicologia
59
51,8
Educação Física
55
48,2
Curso
6
VARIÁVEL
N
%
Feminino
75
69,4
Masculino
33
30,6
Sim
62
59,6
Não
42
40,4
Sim
76
72,4
Não
29
100,0
106
93,8
Sim mas não me machuquei
4
3,5
Sim e saí machucado
3
2,7
7
6,3
104
93,7
Não
103
92,8
Sim
8
7,2
Não
62
55,4
Sim
50
44,6
Não
57
50,0
Sim
57
50,0
Não
21
18,4
Sim
93
81,6
Não
99
86,8
Sim
15
13,2
Não
109
95,6
Sim
5
4,4
Não
62
54,9
Sim
51
45,1
38
33,3
Sexo
Mora c/ pai
Mora c/ mãe
Briga com agressão física
Não
Religião
Não tem
Tem
Doença
Medicamento no último mês
Tabaco
Álcool
Maconha
Cocaína
Uso preservativo na última
relação
Parceiro fixo
Não
7
VARIÁVEL
N
%
Sim
76
66,7
Não
51
49,0
Sim
53
51,0
Ansiedade mínima
90
78,9
Ansiedade leve
14
12,3
Ansiedade moderada
9
7,9
Ansiedade grave
1
0,9
Negativo
90
78,9
Positivo
24
21,1
Negativo
78
69,6
Positivo
34
30,4
Prática atividades físicas
BAI 4 categorias
BAI 2 categorias
CAGE em 2 categorias
Na
análise
bivariada,
o
desfecho
(ansiedade)
teve
uma
associação
estatisticamente significativa com envolvimento em briga e agressão física (0,015),
abuso de álcool (0,018), abuso de cocaína (0,029), e abuso de drogas alucinógenas
(0,007). (TABELA 2)
Tabela 2 – Análise bivariada
Variáveis
Curso
Psicologia
Educação física
Sexo
Feminino
Masculino
Trabalha atualmente
Sim
Não
Mora com o pai
Sim
Não
Mora com a mãe
Sim
Não
Sofreu acidente que necessitou
atendimento
Não sofreu nenhum acidente
1 vez
2 vezes ou mais
Ansiedade (%)
p-valor
0,822
22,0
20,0
0,289
24,0
15,2
0,350
20,7
29,3
0,633
24,2
19,0
0,294
25,0
13,8
0,285
21,2
11,1
50,0
8
Entrou em briga com agressão física
Sim
Não
Possui alguma doença
Sim
Não
Utilização de medicamento no
ultimo mês
Sim
Não
Fumante
Sim
Não
Abuso de bebida alcoolica
Sim
Não
Abuso de maconha
Sim
Não
Abuso de cocaína
Sim
Não
Abuso de drogas alucinógenas
Sim
Não
Uso de preservativo na última
relação sexual
Sim
Não
Prática de atividade física
Sim
Não
TOTAL
0,015*
50,0
18,9
1,00
12,5
21,4
0,816
22,0
19,4
0,819
22,8
19,3
0,018*
35,3
15,4
0,211
33,3
19,2
0,029*
60,0
19,3
0,007*
75,0
19,1
0,143
27,5
16,1
0,239
22,6
13,7
12,3
* Associação estatisticamente significativa.
DISCUSSÃO DOS DADOS
Esta pesquisa apontou alguns comportamentos de risco que podem causar
prejuízos físicos e/ou mentais durante a vida dos acadêmicos. No que diz respeito ao
uso de drogas lícitas durante a vida, 50% já fumaram, sendo 45,3% entre as mulheres e
63,6% entre os homens. Esses dados chamam atenção devido à sua alta prevalência, se
comparados com a expectativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que 1/3 da
população mundial adulta fumam, aproximadamente 47% da população masculina e
12% da população feminina fazem uso de produtos derivados do tabaco. (Iglesias, Jha,
Pinto, Silva, Godinho, 2007).
Dos acadêmicos entrevistados, 81,6% já ingeriram bebidas alcoólicas, sendo que
30,4% fazem uso abusivo de álcool. Os resultados desta pesquisa mostram-se elevados
quando comparados com o II levantamento sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no
9
Brasil realizado pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas) com indivíduos entre 16 e 65 anos, que constatou que 12,3% da
população brasileira é dependente de álcool (Pulcherio, Vernetti, Strey, Faller, 2008).
Esses dados são preocupantes se considerarmos que o uso e/ou o abuso de
bebidas alcoólicas traz consequências negativas e trágicas aos usuários. Em 1994 foi
realizado um estudo toxicológico, no Instituto de Medicina Forense em São Paulo, com
5.960 amostras de sangue e vísceras de vítimas com ferimentos fatais. Tal estudo
mostrou que 48,3% das vítimas tinham alcoolemia positiva (Vieira, 2007).
Referente ao uso de drogas ilícitas a mais prevalente foi a maconha (13,2%). Foi
encontrado resultado semelhante no estudo de Cruzeiro et al (2010) com jovens de 15 à
18 anos de idade, mostrou que 11,5% utilizou drogas ilícitas nos últimos 3 meses. O uso
abusivo de drogas é um dos principais problemas de saúde pública em todo o mundo.
Estima-se que 185 milhões de pessoas acima de quinze anos já consumiram drogas
ilícitas, ou seja, 4,75% da população mundial (ONU, 2005 apud Ferraz, 2010).
Em relação à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, 54,9% não
utilizaram preservativo na última relação sexual, sendo que 33,3% não possuem
parceiro fixo. Um estudo realizado por Cruzeiro e colegas (2010) aponta que 41,5%
dos entrevistados usam ocasionalmente, já o número de pessoas que têm parceiros fixos
foi semelhante ao resultado deste estudo (32,7%). Percebe-se que há uma alta
prevalência da falta de uso de preservativo, pois o número dos que não utilizaram
preservativo na última relação sexual é superior do que o número dos que, na pesquisa
de Cruzeiro (2010), usam preservativos ocasionalmente, considerando que o percentual
de pessoas que tem parceiro fixo é semelhante. Segundo o Ministério da Saúde o uso
consistente de preservativos masculino e feminino nas relações sexuais é a principal
estratégia de prevenção contra as DST's (Ministério da Saúde, 2010).
Os acadêmicos entrevistados possuem uma alta prevalência de sintomas de
ansiedade, talvez esse resultado se deva ao fato de que os testes foram aplicados no
período antecedente às provas e conclusão do semestre, período em que geralmente a
ansiedade dos acadêmicos está elevada. Segundo Araújo et al (2007), a ansiedade pode
se manifestar em situações que denotem alguma ameaça ou simplesmente por alguma
alteração no ambiente, arrolados no processo de desenvolvimento econômico, social ou
cultural.
10
Neste estudo foram encontrados alguns fatores que estão associados ao
transtorno de ansiedade. Tais como envolvimento em agressão física, abuso de cocaína,
drogas alucinógenas e abuso de bebidas alcoólicas.
Um comportamento de risco preocupante encontrado foi o envolvimento em
brigas ou agressões. Como esse é um fator associado à ansiedade, pode estar sendo uma
forma inadequada dos acadêmicos lidarem com situações complicadas do ambiente. O
resultado de uma pesquisa realizada por Silva e colegas (2009), corrobora essa
associação, os jovens que apresentaram algum transtorno mental comum (depressão,
ansiedade e transtornos somatoformes) estavam mais propensos a se envolver em brigas
com agressão física.
Considerando os estudos que relacionam abuso e dependência de substâncias
com comorbidades psiquiátricas, entende-se que a ansiedade se constitui como fator de
vulnerabilidade para o uso abusivo de substâncias (Cavalheiros, Oliveira & Andretta,
2006). Outras pesquisas revelam que o uso de drogas ilícitas pode estar associado com
um comportamento violento ou agressivo, que pode manifestar-se por lutas corporais ou
atividade criminosa e resultar em ferimentos ao usuário da substância ou terceiros
(DSM-IV, 2002). Isto talvez indique que os comportamentos de abuso de substâncias,
de envolvimento em brigas e ansiedade estejam interrelacionados.
Quanto ao abuso de álcool, Vieira e colegas (2007), apontam que o
comportamento de abuso desta substância aumenta o risco de uma série de problemas
sociais e de saúde, dentre eles, doenças sexualmente transmissíveis, problemas de
comportamento, violência e ferimentos não intencionais. Apesar dos prejuízos que o
álcool traz às pessoas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta-o como a
substância psicoativa mais consumida no mundo. Como consequência do consumo, o
álcool potencializa a propensão dos jovens a se engajarem em comportamentos de risco
(VIEIRA et al, 2007). A associação entre ansiedade e abuso de bebidas alcoólicas está
presente em outros estudos. Pulcherio e colegas (2008), avaliaram pessoas com
transtornos relacionados ao uso de álcool e verificaram que 17,05% das pessoas tinham
transtorno de ansiedade. Outro estudo (Peuker e colegas, 2010), mostrou que um terço
dos alcoolistas apresenta um quadro significativo de ansiedade, e 50 a 67% dos
alcoolistas e 80% dos dependentes de outras drogas possuem sintomas semelhantes ao
transtorno do pânico, aos transtornos fóbicos ou ao transtorno de ansiedade
generalizada, fatores estes, que, por sua vez, podem interferir no processo de
11
aprendizagem destes alunos. O que vem confirmar a associação de ansiedade e uso de
álcool ou outras drogas.
Dos acadêmicos entrevistados, 51% praticam atividades físicas. Segundo Pereira
(2002), a atividade física traz benefícios importantes à saúde, tais como a melhoria da
funcionalidade do sistema cardiovascular e diminuição dos riscos de câncer e elevação
do consumo de substâncias anti-oxidantes.
As atividades físicas podem ser consideradas como um recurso para auxiliar os
jovens no alívio de tensões. Um estudo bibliográfico feito por Araujo, Leito, Mello (
2007) mostra que os exercícios físicos aeróbicos possuem um efeito positivo quando se
trata de amenizar a ansiedade. Sendo assim, compreende-se que as atividades físicas
têm papel significativo em qualquer cultura ou sociedade em todo o mundo, sendo
capaz de colocar em cena as emoções e os sentimentos (Belo; Golçalves, 2007).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo mostrou a alta prevalência de ansiedade entre os estudantes dos
cursos de Bacharelado em Psicologia e de Bacharelado e Licenciatura em Educação
Física assim como fatores associados tais com o uso de drogas lícitas e/ou ilícitas, o
envolvimento em brigas com agressões físicas e a não utilização do uso do preservativo
pela maioria dos estudantes. Porém, é preciso considerar que os questionários foram
aplicados no final do semestre, quando normalmente os acadêmicos estão ansiosos para
realizar as últimas avaliações do período. Seria importante uma nova pesquisa no
decorrer do semestre para confirmar ou não os dados coletados.
Sugere-se que, dentro da Faculdade, sejam realizados trabalhos envolvendo a
psicologia escolar, professores dos cursos de Medicina e Farmácia, que possam
propiciar a reflexão dos acadêmicos sobre os prejuízos do abuso de substância e
também sobre a vulnerabilidade que se encontram às doenças sexualmente
transmissíveis.
Possivelmente os acadêmicos são informados, porém a reflexão faz-se
necessária. Um trabalho sobre o manejo da ansiedade também seria importante para que
os acadêmicos aprendam a lidar de forma sadia com os sintomas ansiosos, como a
12
prática de atividades físicas. Esse é um trabalho que poderia ser desenvolvido por uma
equipe de professores dos cursos de Educação Física e Psicologia.
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