Custo da falha interna: uma proposta de cálculo - Simpep

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XIII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006
Custo da falha interna: uma proposta de cálculo do custo de
retrabalho
Maico Jeferson de Oliveira (UTFPR) [email protected]
Kazuo Hatakeyama (UTFPR) [email protected]
Resumo: Este artigo apresenta uma proposta para o cálculo do custo com reprocesso em
uma indústria de moagem de trigo. A proposta é elaborada com base na pesquisa
bibliográfica e coleta de dados realizada na empresa em estudo. O sistema de custeio
adotado na empresa é por absorção. As particularidades para obtenção dos custos variáveis
são exploradas no artigo. Finalmente a proposta é simulada para a conclusão do trabalho.
Palavras-chave: Custo, Qualidade, Retrabalho.
1. Introdução
O tratamento dado aos custos de produção mudou ao longo do tempo, inicialmente a redução
do custo era conseguida pela estratégia de economia de escala, depois a abordagem foi
direcionada para a racionalização de recursos e redução de falhas na produção. O controle de
custos passou a ter um caráter gerencial, uma ferramenta decisória, aumentando a importância
de sua mensuração correta, antes ocultada por rateios arbitrários. O monitoramento dos custos
da qualidade e de falhas nesse sentido é importante para a competitividade da empresa.
Este trabalho tem por objetivo coletar e analisar dados para elaborar uma proposta de cálculo
do custo de reprocesso em um moinho de trigo.
O levantamento de dados e o estabelecimento da proposta são restritos ao escopo da produção
na indústria de moagem de trigo.
2. A contabilidade de custos
Alguns conceitos da contabilidade de custos serão necessários para o desenvolvimento:
a) Gasto – sacrifício financeiro para obtenção de um produto ou serviço (MARTINS, 1998);
b) Custo – gasto relativo à bem ou serviço usado na produção, é denominado de custo direto
quando é diretamente apropriado ao produto, e indireto, do contrário. É classificado ainda
em fixo, quando não muda com a quantidade produzida, ou variável quando aumenta ou
diminui conforme a quantidade produzida (MARTINS, 1998). Logo o custo direto, por
sua natureza, normalmente é também variável, por oscilar de acordo com a quantidade do
produto ao qual é diretamente alocado.
c) Despesa – bem ou serviço consumido diretamente para obtenção de receita. Gasto com
vendedores é um exemplo de despesa. O custo se transforma em despesa no momento da
venda do bem ou serviço (MARTINS, 1998);
d) Perda – Para Martins (1998, p.26) é o consumo involuntário de bem ou serviço;
e) Custo orçado ou estimado – procuram identificar os custos que deverão ocorrer no futuro
(PADOVEZE, 2000). São utilizados em previsões, e podem ser elaborados com dados de
custos realizados no passado.
Segundo Martins (1998, p.61) o esquema básico da contabilidade de custos pode ser
sistematizado em três etapas:
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a) Separação entre custos e despesas;
b) Apropriação dos custos diretos aos produtos;
c) Rateio dos custos indiretos.
Na contabilidade de custos, três conceitos são semelhantes, o método de custeio, o sistema de
acumulação de custos e a forma de custeamento.
O sistema de acumulação de custos indica os caminhos para a coleta, processamento, e saída
das informações para o custeamento do produto, representa a estrutura do banco de dados
(PADOVEZE, 2000).
As formas de custeamento, segundo Padoveze (2000, p.226), são as opções de mensuração
dos elementos obtidos pelo sistema de acumulação, é determinado pelo método e pelo
processo de produção.
O método de custeio é a forma de alocação dos custos diretos e indiretos adotado pela
empresa. Basicamente são três as opções:
a) Custeio por absorção – consiste na apropriação de todos os custos de produção aos bens
elaborados. Os gastos são distribuídos para todos os produtos feitos (MARTINS, 1998);
b) Custeio variável – Também conhecido por custeio direto, embora a denominação variável
seja mais conveniente, pois neste método de custeio são apropriados todos os custos
variáveis (MARTINS, 1998);
c) Custeio baseado em atividades (ABC – Activity Based Cost) – Seu objetivo é reduzir as
distorções provocadas pelo rateio arbitrário dos custos indiretos. Definido por Padoveze
(2000, p.262) como o método de custeamento que identifica um conjunto de custos para
cada evento ou transação (atividades) na organização, que age como um direcionador de
custos.
O custeio ABC é considerado o mais indicado para gerenciamento de custos. Zilli (2003) em
sua pesquisa comprova que o custeio ABC é adequado para a mensuração dos custos da
qualidade, por permitir uma melhor alocação destes custos aos produtos.
Deon (2001) em seu trabalho de medição de perdas encontra dificuldades em gerenciar
perdas através do sistema tradicional de custeio por absorção, pois este sistema não
contempla informações para o controle efetivo.
Silva; Schermack e Afonso (2005) ao elaborar uma proposta de custeio para a secagem de
grãos armazenados demonstram que a apropriação direta dos custos, refletindo a realidade
operacional, melhorou o gerenciamento dos custos.
3. Custos da qualidade
Os custos da qualidade foi empregado inicialmente para justificar a manutenção do setor de
controle de qualidade na empresa. Com o sucesso das empresas japonesas, este escopo foi
ampliado, Juran e Gryna (1991, p.87) relacionam os objetivos da avaliação dos custos da
qualidade:
a)
Quantificar o tamanho do problema da qualidade em uma linguagem que tenha
impacto sobre a administração superior;
b) Identificar as principais oportunidades para a redução dos custos;
c) Identificar as oportunidades para diminuir a insatisfação do consumidor e as
respectivas ameaças à facilidade de vendas;
d) Expandir os controles orçamentários e de custos;
e) Estimular o aperfeiçoamento por meio da divulgação.
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Embora os custos da qualidade tenham objetivos comuns as práticas empresariais necessárias
à sobrevivência da organização, sua aplicação é pouco freqüente. Souza e Collaziol (2005)
realizando um trabalho de investigação no meio empresarial, em empresas com certificado de
qualidade, constataram uma baixa adesão das empresas pesquisadas a implantação de um
sistema formal de planejamento e controle de custos da qualidade. Os pesquisadores
concluíram que um dos fatores que contribui para esta ocorrência, reside nas auditorias de
certificadoras, onde o item custos da qualidade só é verificado, nos casos em que pertence aos
objetivos do sistema de gestão.
Maldener (2003) pesquisando custos da não qualidade na construção civil, conclui que a
mensuração dos custos reais é falha, assim como a identificação das falhas.
Autores como ROBLES (1994), JURAN e GRYNA (1991) e HUTCHINS (1992) classificam
os custos da qualidade em três categorias:
a) Custos de prevenção;
b) Custos de avaliação;
c) Custos das falhas internas e externas.
Segundo Juran (1991, p.103) a lista de categorias compreendendo os custos da qualidade pode
ser preparada em pouco tempo pelo gerente da qualidade, utilizando a literatura, em conjunto
com materiais da contabilidade e de outras funções.
Os custos das falhas internas envolvem os gastos decorrentes das falhas na produção, aonde se
enquadra o retrabalho e/ou reprocesso.
Duas abordagens podem ser usadas para a coleta dos dados (JURAN, 1991):
a) Por estimativa – coleta de dados empiricamente;
b) Aplicando o sistema contábil – mais sofisticada que a anterior, envolve a aplicação dos
princípios contábeis.
4. Metodologia
O trabalho é dividido em duas fases, na primeira fase é feita uma pesquisa bibliográfica
abrangendo a contabilidade de custos e custos da qualidade. Na segunda fase são coletados e
analisados os dados, para em seguida elaborar a proposta de cálculo para o retrabalho,
também denominado de reprocesso.
A pesquisa abrange a produção industrial, através do estudo de caso em um moinho de trigo.
A fábrica em estudo emprega 63 colaboradores diretos na produção e possui uma capacidade
de moagem instalada de 410 toneladas ao dia, é considerada de parte médio para os padrões
brasileiros.
Os dados foram coletados através de observações e entrevistas não estruturadas com
profissionais do setor de contabilidade de custos da empresa.
A estratégia geral para análise dos dados é baseando-se em proposições teóricas. Esta
estratégia é definida por Yin (2001, p.133):
a mais preferida estratégia é seguir as proposições teóricas que levaram ao estudo de
caso. Os objetivos e o projeto originais do estudo baseiam-se, presumivelmente, em
proposições como essas, que, por sua vez, refletem o conjunto de questões da
pesquisa, as revisões feitas na literatura sobre o assunto e as novas interpretações
que possam surgir.
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5. Análise dos dados coletados
Silo de farinha
Moega
Peneira
Imã
Envase
FIGURA 1- Fluxograma de reprocesso
No reprocesso da fábrica estudada, inicialmente a farinha é acondicionada na moega de
recebimento, depois é peneirada, e passada pelo imã para a retirada de eventuais partículas
ferrosas que possam estar presentes, para então ser direcionada através de transporte
pneumático até o silo de estocagem, onde irá compor o novo produto, que será envasado.
Custos variáveis
Custos fixos
FIGURA 2 - Repartição custos variáveis e fixos
O método de custeio adotado pela empresa é o custeio por absorção. Na repartição de custos,
os custos variáveis representam mais de oitenta por cento dos custos totais, sendo composto
basicamente pela matéria-prima, desta forma, o rateio dos custos fixos, mesmo que arbitrário
não vai causar grande efeito no custo de produção total.
QUADRO 1 – Levantamento dos custos diretos do reprocesso
Custos diretos do reprocesso
ƒ
Mão-de-obra direta
ƒ
Energia elétrica
ƒ
Embalagem
A matéria-prima farinha de trigo não entra na composição do custo com retrabalho, visto que
não há perda desta matéria-prima ao ser realizado o retrabalho, ou seja, o seu custo já foi
incorporado ao produto, já os custos listados no quadro 1, ao contrário da matéria-prima,
representam perdas.
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600
100%
93%
500
78%
400
62%
46%
300
200
100
G
er
ai
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0
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
FIGURA 3 – Análise de “Pareto” dos custos indiretos de fabricação
A análise de “Pareto” dos custos indiretos de produção mostra que os custos com mão-deobra, embalagens, e energia elétrica, também se destacam entre os custos indiretos. Estes
custos podem ser alocados diretamente, quando a classificação é feita sobre a ótica da linha de
retrabalho. Este fato pode ser evidenciado quando são comparados o quadro 1 e a figura 3.
6. Proposta de cálculo do custo com retrabalho
A proposta consiste em alocar os custos diretos listados no quadro 1, a quantidade de produto
que passou por reprocesso no período, seguindo alguns critérios descritos adiante.
O custo com as embalagens é facilmente obtido pela contabilidade da empresa. Segundo
Martins (1998, p.125) todos os gastos incorridos para a colocação do ativo em condições de
uso (equipamentos, matérias-primas, ferramentas, etc.) ou em condições de venda
(mercadorias, etc.) incorporam o valor desse mesmo ativo.
No custo com mão-de-obra direta, a capacidade e o número de trabalhadores diretos
necessários para operação da linha, devem ser considerados.
Partindo da capacidade de 3 toneladas por hora, com o emprego de uma pessoa, tem-se:
3 t / h ÷1 hH / h = 3t/hH
Onde:
t – toneladas
h- hora
hH – hora Homem
Com a quantidade de produto que teve retrabalho no período, é possível saber a quantidade de
horas homem gasta. Se foram para o retrabalho 30 toneladas no período, tem-se:
30 t ÷ 3 t /hH = 10 hH
Em cada hora homem utilizada são considerados os valores com encargos.
Para energia elétrica duas informações são necessárias, a capacidade instalada da linha de
reprocesso, e a potência instalada nesta linha. No caso de uma linha de reprocesso com
capacidade de 3 t/h, e potência de 90 kWh, tem-se:
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90 kWh ÷ 3 t/h = 30 kW/t
A energia consumida é obtida pelo produto da quantidade de reprocesso no período pela
potência por tonelada da linha.
No levantamento da potência é considerado o rendimento sobre a potência nominal, sendo de
costume trabalhar com 80% de rendimento em motores elétricos.
7. Simulação da proposta
Para a simulação serão usados dados aproximados da realidade, visto que alguns são
considerados estratégicos para a empresa.
QUADRO 2 – Quantidade de reprocesso por período
Mês
Quantidade de
reprocesso em toneladas
Mês
Quantidade de
reprocesso em toneladas
Janeiro
300
Julho
400
Fevereiro
100
Agosto
300
Março
200
Setembro
300
Abril
250
Outubro
200
Maio
150
Novembro
200
Junho
200
Dezembro
100
Os dados do quadro 2 são fornecidos pela área de produção da empresa.
QUADRO 3 – Custos de insumos
Descrição
Custo em R$
Hora homem com encargos
3,00
Embalagem por tonelada
2,00
kWh da energia elétrica
0,10
Já os dados do quadro 3 são fornecidos pela área de contabilidade de custos da empresa.
QUADRO 4 – Especificações da linha de reprocesso
Descrição
Capacidade da linha de reprocesso
Valor
5 toneladas por hora
Número de pessoas necessárias para operar a linha de
reprocesso (com envase)
4 pessoas
Potência instalada da linha de reprocesso, incluindo os
equipamentos para envase
100 kWh
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TABELA 1 – Custo com retrabalho
Quantidade
toneladas
em Custo com mão-de- Custo
com Custo em energia Custo
obra em R$
embalagem em R$
elétrica em R$
retrabalho
300
720,00
600,00
600,00
1.920,00
100
240,00
200,00
200,00
640,00
200
480,00
400,00
400,00
1.280,00
250
600,00
500,00
500,00
1.600,00
150
360,00
300,00
300,00
960,00
200
480,00
400,00
400,00
1.280,00
400
960,00
800,00
800,00
2..760,00
300
720,00
600,00
600,00
1.920,00
300
720,00
600,00
600,00
1.920,00
200
480,00
400,00
400,00
1.280,00
200
480,00
400,00
400,00
1.280,00
100
240,00
200,00
200,00
640,00
com
8. Considerações finais
A proposta é de fácil aplicabilidade possibilitando sua utilização na rotina de gerenciamento
de custos com retrabalho. As informações necessárias das áreas de custos e produção da
empresa são de fácil obtenção, e não demandam a implementação de mudanças substanciais
nas formas de controle para obtenção dos dados, mesmo com a empresa em estudo usando o
método mais simples de custeio, o custeio por absorção, é possível usar facilmente a
sistemática para levantar custos com retrabalho.
O raciocínio lógico empregado para a elaboração da proposta pode ser sistematizado, os
custos variáveis respondem por mais de 85% do custo de fabricação, representado pela
matéria-prima. Nessa matéria-prima, não ocorrem perdas para a realização do retrabalho, logo
os custos com retrabalho estarão na fração dos aproximadamente 15 % dos custos fixos. Uma
análise dos custos diretos levantados para a linha de reprocesso, e dos custos variáveis de
fabricação, revela que as variáveis são as mesmas, energia elétrica, mão-de-obra, e
embalagem, a diferença esta no tratamento, onde que no custo de fabricação não é possível a
alocação direta, já para o retrabalho é possível alocar estes custos diretamente ao produto.
Quando são usadas informações sobre a capacidade da linha de reprocesso, a potência da
linha de reprocesso, e a quantidade de pessoas necessárias para operar a linha, em conjunto
com as informações de custos fornecidas pela área de contabilidade de custos, chega-se aos
custos com retrabalho.
Referências:
DEON, A. M. Medição do Custo das Perdas Associadas ao Processo Produtivo de Fabricação de Celulose e
Papel. 2001, 112 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Programa de Pós Graduação em
Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis, 2001.
HUTCHINS, D. Sucesso Através da Qualidade Total. Rio de Janeiro:Imagem, 1992.
JURAN, J. M; GRYNA, F. M. Controle da Qualidade. São Paulo: Makron Books,1991.
MALDANER, S. M. Procedimento para Identificação de Custos da Não-qualidade na Construção Civil. 2003,
135 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Programa de Pós Graduação em Engenharia de
Produção, UFSC, Florianópolis, 2003.
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MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 6 ed. São Paulo: Atlas, 1998.
PADOVEZE, C. L. Contabilidade Gerencial: Um Enfoque em Sistema de Informação Contábil. 3 ed. São Paulo:
Atlas, 2000.
ROBLES, A. Jr. Custos da Qualidade: Uma Estratégia para a Competição Global. São Paulo: Atlas, 1994.
SOUZA, M. A. de; COLLAZIOL, E. Custos da Qualidade: Uma Investigação da Prática Empresarial. In:
Simpósio de Engenharia de Produção, 12, 2005, Anais... Bauru: UNESP. 2005. 1CD.
SILVA, J. E; SHERMACK, P.V; AFONSO, A. D. L. Uma Metodologia de Custeio Eficiente para o Processo de
Secagem de Grãos: Um Estudo de Caso em uma Cooperativa Agrícola. In: Encontro Nacional de Engenharia de
Produção, 25, 2005, Anais... Porto Alegre: PUCRS. 2005. 1CD.
ZILLI, C. A. Desenvolvimento de um Modelo de Melhoria de Processos e Projetos com Base no Gerenciamento
dos Custos da Qualidade em um Ambiente de Gestão por Atividades. 2003, 224f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Produção) Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis, 2003.
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