Gestão da inovação é o que dá valor a P&D Ser capaz de realizar inovações tecnológicas é forma sustentável de garantir competitividade para as empresas: o desenvolvimento da tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas foi decisivo para garantir o crescimento da Petrobras e para diminuir a dependência externa brasileira de petróleo; a capacidade de projetar jatos de pequeno e médio porte, econômicos e de bom desempenho, tem sustentado o crescimento da Embraer nos mercados externos sobre seu concorrente canadense; o reconhecido domínio da Oxiteno sobre os processos químicos em que baseia sua produção foi decisivo para que obtivesse o contrato da Unilever para nacionalização de um dos principais componentes do sabonete Dove. É menos percebido que, por trás dos novos produtos e tecnologias de sucesso, há um trabalho sistemático de gerenciamento da inovação tecnológica. Em certas comunidades profissionais, o sucesso na inovação é visto como decorrente tão simplesmente do domínio das tecnologias relevantes para o negócio. Há exemplos recentes que contradizem esse pensamento. Por exemplo, a empresa de autopeças que desenvolveu a tecnologia mais sofisticada e elaborada de injeção eletrônica para motores flex-fuel não foi a que se viabilizou como fornecedora das montadoras e, por isso, ainda está fora do mercado brasileiro. Além da excelência tecnológica, a excelência na prospecção do mercado e agilidade na implementação da inovação são competências críticas para o sucesso comercial da inovação – que, no caso das empresas, é a medida definitiva do desempenho inovador. Em algumas empresas de energia elétrica, têm-se acumulado carteiras de projetos de P&D, internos ou contratados, que guardam pouca relação com as prioridades das empresas e pouco contribuem para a geração de novos produtos e serviços. Esses projetos em geral se desenvolveram primordialmente como conseqüência da imposição legalmente imposta de dispêndio de percentual mínimo do faturamento em P&D. Para viabilizar a execução do dispêndio, muita coisa foi contratada sem que tivesse uma contribuição clara para o processo de inovação. A simples existência de uma atividade de P&D, por maior que seja seu orçamento, não garante capacidade competitiva sustentada em inovação. Outra corrente de pensamento acredita que inovação é, antes de tudo, produto de um bom marketing. Mas aqui também há muitos exemplos de como gastos fabulosos em marketing podem ser desperdiçados em produtos de baixa performance, em projetos nos quais uma solução tecnológica débil compromete marca e imagem. Um exemplo conhecido e relativamente recente é o de uma grande multinacional européia que perdeu substancial fatia de mercado em seu próprio país para o concorrente norte-americano, depois do fracassado lançamento de um sabão em pó que prometia ser tecnologicamente revolucionário, pelo uso de um componente que acelerava o processo de limpeza. O custo da campanha publicitária foi maior que o do desenvolvimento. Testes feitos pelo concorrente descobriram que o novo componente danificava determinados tecidos, que apresentaram furos depois da lavagem com o novo produto em certas condições de temperatura. Ao final, a empresa reconheceu o erro e mudou a fórmula, mas o custo para a imagem de sua marca foi ainda maior que o desperdício da campanha publicitária. A gestão da inovação tecnológica requer a capacidade de integrar e balancear competências relacionadas com diversas funções da empresa; P&D e marketing, certamente, mas também as operações – produção –, os suprimentos, a distribuição e o financeiro. A inovação é o principal processo relacionado com a renovação da empresa, com a mudança do que ela tem para oferecer a seus clientes e com a criação das condições para oferecê-lo. O desafio de gerenciar inovação se torna complexo porque a mudança envolvida sempre apresenta duas 1 facetas que, de certa forma, competem por recursos e poder. Mudar significa aperfeiçoar aquilo que já se sabe fazer: melhorar processos, lançar novas plataformas de produtos, com melhor desempenho. Para isso, as empresas precisam investir em rotinas de inovação que são trabalhosas e custosas, mas cuja dificuldade e risco não são grandes. No entanto, muitas vezes o desafio da inovação para uma empresa significa fazer algo inteiramente novo, para o qual as competências de que já dispõe ajudam, mas não alcançam, e que envolvem risco substancial. A Petrobras não teria realizado o Programa de Águas Profundas se tivesse se limitado a realizar rotinas de aperfeiçoamento. Outro fator complicador é que os problemas que se apresentam para quem gerencia o processo de inovação são muito distintos. Dependem do tamanho da empresa, do setor de negócios em que se insere, do fato de ser brasileira ou estrangeira. As pequenas empresas têm menos recursos financeiros e gerenciais; precisam apostar em um número menor de projetos de inovação, freqüentemente num único, ao passo que para as grandes empresas o desafio é gerenciar prioridades e carteiras de projetos. Nesse último caso, a definição de critérios e adoção de ferramentas para maximizar o valor da carteira de projetos e alinhá-la à estratégia competitiva da empresa é um dos pontos centrais do gerenciamento da inovação. Em setores de alta tecnologia, o conhecimento científico incorporado na inovação requer competências científicas de pesquisa e monitoramento de tendências, enquanto que em setores especializados em produtos de consumo e de menor intensidade tecnológica o design, o conhecimento de tendências de hábitos e a agilidade no desenvolvimento de novos produtos são tão importantes quanto a excelência tecnológica. Os limites e desafios da inovação para profissionais que trabalham em subsidiárias de empresas multinacionais muitas vezes estão relacionados com o alargamento do mandato da subsidiária – e, portanto, com a qualidade dos seus empregos – e a comunicação com a rede de subsidiárias da corporação, ao passo que para grandes empresas brasileiras o desafio é que não são grandes o suficiente, em escala global, e por isso precisam buscar cuidadosamente os mercados em que podem competir. Por perceberem sua contribuição para a efetividade da inovação, cresce o grupo das empresas que adotam práticas gerenciais orientadas para tratar o processo de inovação de forma organizada e sistemática. Essas práticas compreendem não apenas as atividades internas requeridas para a inovação, mas também o gerenciamento de contratos e parcerias com fornecedores de bens, serviços e tecnologia, e com colaboradores de pesquisa e desenvolvimento. Afinal, nas atuais condições de concorrência, a inovação depende de parcerias bem construídas. Fonte QUADROS, Ruy. Gestão da inovação é o que dá valor a P&D. Inovação. Disponível em: http://www.inovacao.unicamp.br/colunistas/colunistas-ruy2.shtml. Acesso em: 23 fev. 2005. 2