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Gerência de Relações Institucionais - Fundação CEEE
Dezembro 2013
em notícia
Economistas prevêem
dificuldades para 2014
U
m ano muito difícil com possíveis
ajustes impopulares pós-eleições,
independente de quem vença o
pleito presidencial, são as principais
projeções para 2014, segundo análise dos
economistas Reinaldo Gonçalves, José
Alvaro Moisés e Eduardo Giannetti.
Convidados pela Fundação CEEE para o 15º
Seminário Econômico realizado no dia 19
de novembro último no Teatro da PUC em
Porto Alegre com mediação da
apresentadora da Globo News Leila
Stereberg, os especialistas foram unânimes quanto às principais tendências macroeconômicas e políticas: “nosso
crescimento de 2,3% está muito abaixo da média mundial e as perspectivas não são favoráveis diante da nossa
vulnerabilidade externa”, informou o economista Reinaldo Gonçalves, titular de
economia internacional do IE-UFRJ. Para o professor de Ciência Política da USP, José
Álvaro Moisés, apesar dos 25 anos de democracia, o Brasil ainda tem um sistema frágil
de representatividade causada pelo ‘presidencialismo de coalizão’ e o descrédito da
classe política. O economista Eduardo Giannetti disse que “de 2010 em diante a
economia só piorou com inflação batendo no teto da meta, enquanto os preços livres
chegam a 7,25% ao ano”.
Turbulências e incertezas
Ao saudar os presentes na abertura do evento que teve 655 inscritos, o presidente da
Fundação CEEE, Juarez Emilio Moehlecke disse que 2013 está sendo “o pior ano para os Juarez Emilio Moehlecke
fundos de pensão”, chegando a registrar uma rentabilidade negativa, recuperando números positivos apenas no
terceiro trimestre. Mesmo diante do momento de turbulência e incertezas, Juarez Emilio Moehlecke lembrou que
é preciso ter uma visão otimista no longo prazo, considerando que a Fundação CEEE registrou uma rentabilidade
superior a 400% nos últimos dez anos. O presidente também destacou o apoio dos patrocinadores Banco Modal,
Planner Corretora, RB Capital, BES Securities, Banco Safra, Amauri Bueno Seguros e Banco Itaú, que viabilizaram
mais uma edição do Seminário Econômico. O evento, transmitido pela internet, teve mais de 1.600 acessos.
Desenvolvidos mais robustos
Autor do livro “Desenvolvimento às Avessas”, Reinaldo Gonçalves abriu o painel
analisando a economia mundial que segundo ele “vem se recuperando gradualmente
desde a crise de 2008”. Considerando o jogo econômico mundial típico para
maratonistas experientes, Gonçalves disse que países como Estados Unidos, Alemanha,
França, Reino Unido e Japão estão voltando aos trilhos. Por serem ‘maratonistas’
conseguem manter a inflação média em 3,8% ao ano e um nível de desemprego na faixa
dos 7,3% (G7) e 7,8% ao ano (demais países desenvolvidos). Enquanto isso, o Brasil “está
descendo ladeira abaixo” e um crescimento pífio de 2,5% ao ano em relação aos países
do BRIC: a Rússia cresce a 3%, a Índia a 5% e a China a 7,3%. Na verdade, argumentou,
Reinaldo Gonçalves
os países desenvolvidos estão saindo da crise mais robustos e mais competitivos. Além
disso, com uma dívida pública de US$ 727 bilhões, o Brasil é o país que mais deve ao mundo: “nós financiamos os
ajustes externos dos países avançados”, completou. Diante do que chamou “crescimento empobrecedor”,
Gonçalves só vê como saída uma revolução tecnológica no país capaz de reverter esse quadro.
Democracia frágil
Como segundo painelista, José Alvaro Moisés discorreu sobre a “Qualidade da
Democracia Brasileira”, lembrando que em 2014 o país comemora 25 de processo
democrático ininterrupto. Em 125 anos de República Federativa somente em dois
períodos o Brasil viveu um processo semelhante: de 1946 a 1964 e de 1988 até hoje. No
entanto, as distorções do sistema eleitoral, a desigualdade nos direitos de cidadania e o
difícil acesso à Justiça pela maioria da população, mostram que a democracia brasileira
ainda tem muito que evoluir. Ele apresentou pesquisas que atestam um índice de apenas
8,7% de mulheres no Congresso Nacional, enquanto que 80% dos alunos que entram no
ensino médio não terminam o ensino fundamental. O quadro que torna a democracia
frágil passa também pela ameaça ao direito à vida: mais de 1 milhão de pessoas foram
executadas nos últimos 27 anos, segundo dados do Ministério da Justiça. Outra pesquisa José Álvaro Moisés
impactante sobre “Os cidadãos e a Qualidade da Democracia” revela que 81% dos pesquisados consideram que “a
justiça não é igual para todos”; 81% não confiam nos partidos políticos e 72% não confiam no Congresso Nacional.
Para os pesquisados, apenas os Bombeiros, a Igreja e as Forças Armadas estão no topo da lista das instituições
confiáveis. Outro fator que torna a democracia frágil é o fato de o presidencialismo do país ser o mais poderoso do
mundo: “a presidente Dilma detém a maior coalizão política desde a proclamação da República em 1889”.
Segundo José Moisés, outro fator que explica as manifestações de junho/julho de 2013 é o fato de 55% da
população não se sentir representada pelos partidos políticos.
Brasil Vulnerável
Para o economista Eduardo Giannetti, não tem como prever boas notícias para o Brasil
em 2014, considerando que, após o crescimento de 7,5% em 2010, o quadro só piorou:
“precisamos ver que não somos tão bons como pensávamos e também não somos tão
ruins”. Destacou os pontos positivos do país como a sua biodiversidade, reservas
naturais, energia solar e capacidade empreendedora, mas citou os três pontos que
travam o desenvolvimento: 1º ) Baixo crescimento econômico; 2º) Inflação pressionada
e 3º) Deterioração das contas externas. Lembrando que dificilmente estes três
elementos andam juntos, disse que o baixo crescimento “é crônico” e a inflação insiste
em bater no teto: “o mais grave é que este governo represou as tarifas de combustíveis,
reduziu as tarifas de energia elétrica e a inflação não cede”. Considerando ainda que 1/3
Eduardo Giannetti
dos índices do IPCA são administrados pelo governo, os preços livres já estão em 7,25%
ao ano: “O Brasil está vulnerável porque depende de US$ 80 bilhões/ano para cobrir déficit em contas correntes”,
justificou. E por quê o país cresce cronicamente pouco? Pela mudança no ambiente externo (recuperação dos
países desenvolvidos), piora das suas contas públicas e pela condução da política econômica. E tem mais: o ajuste
fiscal dos Estados Unidos e a recuperação da Europa é um problema para o Brasil porque
estamos mais fragilizados, explicou Giannetti. Por outro lado, a carga tributária que
representava 24% do PIB em 1988 – considerada normal para os padrões mundiaischegou a 36% do PIB em 2013 e o governo não consegue investir mais do que 3% do PIB
em infraestrutura, mesmo com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Giannetti também criticou a política fiscal do governo com o uso de bancos estatais
(BNDES) para privilegiar os campeões nacionais, referindo-se a grandes empresas que
tomaram empréstimos subsidiados. A expansão do crédito chegou a mais de R$ 400
bilhões (9% do PIB) com subsídios de R$ 24 bilhões/ano em crédito, valores que
representam mais do que é gasto no ‘Bolsa Família’. Na Política Monetária, outro
Leila Sterenberg: mediadora equívoco segundo Giannetti: “o que era teto (6,5% de inflação/ano) virou o centro”.
Finalizando sua participação, Eduardo Giannetti mostrou otimismo por uma reversão desse quadro a médio e
longo prazo, lembrando que o Brasil tem ativos importantes como os recursos naturais, biodiversidade e
capacidade empreendedora do capital humano.
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