FIBROSE CÍSTICA Protocolo Clínico dos Centros de Referência do Estado de Minas Gerais SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Belo Horizonte 2008 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 1 17/6/2009 11:57:19 GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Governador - Aécio Neves da Cunha SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Secretário - Marcus Vinicius Caetano Pestana da Silva SECRETÁRIO ADJUNTO Antônio Jorge de Souza Marques SUBSECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE Subsecretário - Luíz Felipe Almeida Caram Guimarães SUBSECRETARIA DE INOVAÇÃO E LOGÍSTICA EM SAÚDE Subsecretária - Jomara Alves da Silva SUBSECRETARIA DE POLÍTICAS E AÇÕES DE SAÚDE Subsecretária - Helidéa de Oliveira Lima SUPERINTENDÊNCIA DE ATENÇÃO À SAÚDE Superintendente - Marco Antônio Bragança de Matos ASSESSORIA DE NORMALIZAÇÃO DE ATENÇÃO À SAÚDE Assessor - Wagner Fulgêncio Elias Comissão Estadual de Fibrose Cística NÚCLEO DE AÇÕES E PESQUISA EM APOIO DIAGNÓSTICO (NUPAD) FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Organizado por Elizabet Vilar Guimarães e colaboradores Projeto gráfico e editoração eletrônica Autêntica Editora Ilustração Lucas Faria Produção, distribuição e informações Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais Rua Sapucaí, 429 – Floresta – Belo Horizonte – MG – CEP 30150 050 Telefone (31) 3247-3700 E-mail: [email protected] Site: www.saude.mg.gov.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP Comissão Estadual de Fibrose Cística. Fibrose cística: Protocolo Clínico dos Centros de Referência do Estado de Minas Gerais / organizado por Elizabet Vilar Guimarães e colaboradores. – Belo Horizonte : Secretaria de Saúde de Minas Gerais, 2008. 116 p. : il.. ISBN 978-85-89239-73-8 Editores associados: Francisco José Penna, Paulo Augusto Moreira Camargos, Francisco José Caldeira Reis, Alberto Andrade Vergara, José Nélio Januário; autores: Equipes de Fibrose Cística do Hospital das Clínicas da UFMG, do Hospital João Paulo II da FHEMIG; colaboradores: Equipe de Fibrose Cística do Hospital Universitário de Juiz de Fora, Equipe de Fibrose Cística do Hospital Universitário de Uberlândia. 1.Fibrose Cística. I. Guimarães, Elizabet Vilar, org. II. Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. III. Título. fibrose_cistica_170609_Tales.indd 2 17/6/2009 11:57:20 © 2008, Elizabet Vilar Guimarães e colaboradores Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor. CORPO EDITORIAL EDITOR CHEFE Elizabet Vilar Guimarães EDITORES ASSOCIADOS Francisco José Penna, Paulo Augusto Moreira Camargos, Francisco José Caldeira Reis, Alberto Andrade Vergara, José Nélio Januário AUTORES Cintia Cristiane Passos Cristina Gonçalves Alvim Flávia Cassimiro Silva Viegas Irmgard de Assis Juliana Lopes Mascarenhas Dalle Luciana Ribeiro Sampaio Luiza Cristina Gomes Delfim Marcelo Bicalho de Fuccio Marcelo Coelho Nogueira Margarida Maria Gontijo de Brito Soares Maria Beatriz Marcos Bedran Maria Cristina Rocha Pimenta Maria das Graças Rodrigues de Oliveira Maria de Lourdes Penna Santos Renata dos Santos Vieira Sandra Ribeiro Pires Suzana Fonseca Oliveira Melo Valéria Evangelista Guimarães Valéria Maria Augusto Wilson Rocha Filho COLABORADORES Equipe de Fibrose Cística do Hospital Universitário de Juiz de Fora ·Equipe de Fibrose Cística do Hospital Universitário de Uberlândia ·Corpo Técnico do CEAPS/SCT/Laboratório do NUPAD ·Alunos dos Cursos de Especialização em Gastroenterologia Pediátrica e Pneumologia Pediátrica da Faculdade de Medicina da UFMG, ano de 2007. PRODUÇÃO GRÁFICA Autêntica Editora fibrose_cistica_170609_Tales.indd 3 17/6/2009 11:57:20 fibrose cística 4 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 4 17/6/2009 11:57:20 Fibrose Cística Às pessoas com fibrose cística e suas famílias. fibrose_cistica_170609_Tales.indd 5 17/6/2009 11:57:20 fibrose cística 6 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 6 17/6/2009 11:57:20 Fibrose Cística Prefácio Comemoramos em 2007 cinco anos de triagem neonatal em fibrose cística em Minas Gerais. A experiência desses anos culmina na elaboração deste protocolo. Este manual, o qual chamamos protocolo clínico, foi primariamente idealizado com o objetivo de sistematizar as rotinas da assistência multidisciplinar em fibrose cística adotadas pelos serviços que atendem os doentes. Assim, o manual resgata o conceito inicial da assistência idealizada pela triagem neonatal, uma única proposta assistencial implantada em diferentes centros de referência. A adoção de condutas sistematizadas faz-se necessária devido à multiplicidade de propostas terapêuticas encontradas na literatura e ao número elevado de profissionais que cada vez mais se envolvem no tratamento da doença. O conteúdo deste manual foi discutido ao longo de várias reuniões de consenso e representa a opinião dos serviços do Hospital da Clínicas/UFMG, Hospital João Paulo II/FHEMIG, Hospital Universitário de Juiz de Fora/UFJF e Hospital Universitário de Uberlândia/UFU. Como todo protocolo, deve ser revisto periodicamente. Condutas novas com alto grau de evidência científica e adequada avaliação de efetividade, que modifiquem substancialmente algum aspecto diagnóstico ou do tratamento, poderão ser introduzidas a qualquer momento no formato eletrônico do manual. No momento, encontra-se em discussão a implantação sistematizada do teste do suor em Minas Gerais. Aspectos técnicos e operacionais estão sendo revistos. Nova revisão geral do conteúdo deste manual está prevista para 2010, quando o teste do suor também será abordado. Por fim, observamos com grande satisfação que, primeiramente, a triagem neonatal e, agora, a elaboração deste manual marcam momentos especiais da assistência à fibrose cística em Minas Gerais. Bons ventos sopram por aqui. Os editores fibrose_cistica_170609_Tales.indd 7 17/6/2009 11:57:20 fibrose cística 8 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 8 17/6/2009 11:57:20 Fibrose Cística Corpo Editorial Editora chefe Elizabet Vilar Guimarães – Professora adjunta do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Subcoordenadora da Assistência Ambulatorial da Triagem Neonatal em Fibrose Cística do NUPAD-FM/UFMG. Membro do Grupo de Gastroenterologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG e da Equipe Multidisciplinar de Fibrose Cística do Hospital das Clínicas da UFMG. Editores associados Francisco José Penna - Professor titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Diretor da Faculdade de Medicina da UFMG. Coordenador do Grupo de Gastroenterologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG. Coordenador da Assistência Ambulatorial da Triagem Neonatal em Fibrose Cística do NUPAD-FM/UFMG. Paulo A. M. Camargos - Professor titular do Departamento de Pediatria e Coordenador da Unidade de Pneumologia Pediátrica e da Equipe Multidisciplinar de Fibrose Cística do Hospital das Clínicas da UFMG. Alberto Andrade Vergara - Pneumologista Pediátrico. Coordenador do Serviço de Fibrose Cística do Hospital João Paulo II (FHEMIG). Membro do Conselho Assessor Científico da AMAM Francisco José Caldeira Reis - Professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Pneumologista Pediátrico pelo Serviço do Prof. Victor Chernick, Children’s Hospital de Winnipeg, University of Manitoba, Winnipeg, Canadá. Assessor Médico, pela América Latina, da Cystic Fibrosis Worldwide (Associação Internacional de Fibrose Cística). Assessor Especial do Hospital Infantil João Paulo II (Centro Geral de Pediatria) da Rede FHEMIG, da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Membro do Conselho Assessor Científico da AMAM. José Nélio Januário - Professor assistente do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG. Diretor Geral do Núcleo de Ação e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG. Coordenador do Serviço de Referência em Triagem Neonatal de Minas Gerais. Autores Cintia Cristiane Passos - Pós-graduada em Nutrição Clínica no Centro de PósGraduação São Camilo/BH. Nutricionista do Serviço de Fibrose Cística do Hospital Infantil João Paulo II (Centro Geral de Pediatria) da Rede FHEMIG, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Membro do Conselho Assessor Científico da AMAM Cristina Gonçalves Alvim - Professora adjunta, doutora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Membro do Grupo de Pneumologia do Departamento fibrose_cistica_170609_Tales.indd 9 17/6/2009 11:57:20 fibrose cística de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Membro da Equipe Multidisciplinar de Fibrose Cística do Hospital das Clínicas da UFMG. Flávia Cassimiro Silva Viegas - Mestranda do Departamento de Neuroimuno Patologia do ICB – UFMG. Pós-graduada em Reabilitação Cardiopulmonar na PUC MG e em Fisioterapia respiratória na Faculdade de Ciências Médicas – BH. Fisioterapeuta respiratória do Serviço de Fibrose Cística do Hospital Infantil João Paulo II (Centro Geral de Pediatria) da Rede FHEMIG, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Irmgard de Assis - Professora do Departamento de Pediatria UFMG. Membro do Grupo de Pneumologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG. Mestre em pediatria. Membro da Equipe Multidisciplinar de Fibrose Cística do Hospital das Clínicas da UFMG. Juliana Lopes Mascarenhas Dalle - Pós-graduada em Fisioterapia respiratória na UFMG. Fisioterapeuta respiratória do Serviço de Fibrose Cística do Hospital Infantil João Paulo II (Centro Geral de Pediatria) da Rede FHEMIG, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Luciana Ribeiro Sampaio - Fisoterapeuta. Especialista em Fisioterapia respiratória e em Geriatria pela UFMG. Mestranda em Ciências da Reabilitação pela UFMG. Membro da Equipe Multidisciplinar de Fibrose Cística do Hospital das Clínicas da UFMG. Luiza Cristina Gomes Delfim - Pneumologista e alergista pediátrica do Serviço de Fibrose Cística do Hospital Infantil João Paulo II (Centro Geral de Pediatria) da Rede FHEMIG, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Membro do Conselho Assessor Científico da AMAM. Marcelo Bicalho de Fuccio - Doutor em pneumologia pela Universidade Federal de São Paulo. Médico Pneumologista dos ambulatórios de Fibrose Cística de Adultos do Hospital das Clínicas – UFMG e Hospital Júlia Kubitschek – FHEMIG. Marcelo Coelho Nogueira - Mestrando no Departamento de Fisiologia e Biofísica da UFMG. Nutricionista do Serviço de Fibrose Cística do Hospital Infantil João Paulo II (Centro Geral de Pediatria) da Rede FHEMIG, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Margarida Maria Gontijo de Brito Soares - Psicóloga. Pós-graduada em Psicologia Médica pela UFMG (Especialização). Participante do Fórum do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais. Psicóloga da equipe multidisciplinar de Fibrose Cística do Hospital das Clínicas. Membro da Equipe Multidisciplinar de Fibrose Cística do Hospital das Clínicas da UFMG. Maria Beatriz Marcos Bedran - Membro do Grupo de Pneumologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG. Médica do Pronto Atendimento do Hospital das Clínicas da UFMG. Mestre em Pediatria. Membro da Equipe Multidisciplinar de Fibrose Cística do Hosital das Clínicas da UFMG. Maria Cristina Rocha Pimenta - Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia respiratória pelo Centro Universitáriode Belo Horizonte (UNI BH). Membro da Equipe Multidisciplinar de Fibrose Cística do Hospital das Clínicas da UFMG. Maria das Graças Rodrigues de Oliveira - Pneumologista Pediátrica e Especialista em Saúde Pública. Membro do Grupo de Pneumologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG. Membro da Equipe Multidisciplinar de Fibrose Cística do Hosital das Clínicas da UFMG. fibrose_cistica_170609_Tales.indd 10 17/6/2009 11:57:20 Fibrose Cística Maria de Lourdes Penna Santos- Fisioterapeuta Respiratório do Serviço de Fibrose Cística do Hospital Infantil João Paulo II (Centro Geral de Pediatria) da Rede FHEMIG, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Fisioterapeuta Respiratório do Hospital Mater Dei BH. Renata dos Santos Vieira - Nutricionista. Membro da Equipe Multidisciplinar de Fibrose Cística do Hospital das Clínicas da UFMG. Sandra Ribeiro Pires - Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia respiratória pela UFMG. Mestranda em Ciências da Reabilitação pela UFMG. Membro da Equipe Multidisciplinar de Fibrose Cística do Hospital das Clínicas da UFMG. Suzana Fonseca Oliveira Melo - Gastrenterologista Pediátrica do Hospital Infantil João Paulo II (CGP) da Rede FHEMIG, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Preceptora da Residência de Gastroenterologia Pediátrica do Hospital Infantil João Paulo II (CGP) da Rede FHEMIG, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Preceptora do Internato de Pediatria da UNIFENAS/BH. Membro do Conselho Assessor Científico da AMAM. Valéria Evangelista Guimarães - Coordenadora do Núcleo de Psicologia da AMAM. Coordenadora da casa de assistência à Fibrose Cística. Pós-graduada em Educação Ambiental na UEMG BH. Psicóloga Clínica e Hospitalar. Psicóloga do Serviço de Fibrose Cística do Hospital Infantil João Paulo II (Centro Geral de Pediatria) da Rede FHEMIG, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Membro do Conselho Assessor Científico da AMAM. Valéria Maria Augusto – Professora assistente do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG. Coordenadora Clínica do Ambulatório de Transplante Pulmonar do Hospital das Clínicas da UFMG. Wilson Rocha Filho - Pneumologista Pediátrico. Coordenador do Serviço de Pneumologia Pediátrica do Hospital Infantil João Paulo II (FHEMIG). Membro do Conselho Assessor Científico da AMAM. Colaboradores Equipe de Fibrose Cística do Hospital Universitário de Juiz de Fora/UFJF Equipe de Fibrose Cística do Hospital Universitário de Uberlândia/UFU Corpo Técnico do NUPAD: CEAPS, SCT e Laboratório Alunos dos Cursos de Especialização em Gastroenterologia Pediátrica e Pneumologia Pediátrica da Faculdade de Medicina da UFMG, ano de 2007 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 11 17/6/2009 11:57:20 fibrose cística 12 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 12 17/6/2009 11:57:20 Fibrose Cística Sumário Capítulo 1: Fibrose cística ................................................................ 21.1 - Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...... . . . . . 21.2 - Fisiopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21.3 - Apresentações clínicas da FC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21.4 - Diagnóstico de FC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21.5 - Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 17 17 17 18 20 Capítulo 2: Avaliação antropométrica e recomendações dietéticas .................... 21 22.1 - Avaliação antropométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 22.2 - Recomendações Dietéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Capítulo 3: Insuficiência pancreática (IP) e terapia de reposição enzimática (TRE) ....... 27 23.1 - Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 23.2 - Acompanhamento da IP e da TRE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 23.3 - Tratamento da IP: Terapia de reposição enzimática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 23.4 - Complicações relacionadas ao uso da enzima pancreática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 23.5 - Vitaminas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 5 Capítulo 4: Outras doenças digestivas e nutricionais ................................ 24.1 - Doença hepática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24.2 - Doença do refluxo gastroesofágico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24.3 - Íleo meconial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24.4 - Pancreatite recorrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24.5 - Anemia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24.6 - Deficiências nutricionais específicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24.7 - Desnutrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 39 40 41 42 43 44 45 Capítulo 5: Hiponatremia, depleção corporal de sódio e diabetes relacionado à fibrose cística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1 25.1 - Hiponatremia a depleção corporal de sódio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2 25.2 - Pseudo-síndrome de Bartter . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 3 25.3 - Diabetes relacionada à FC (DRFC) e intolerância a glicose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 3 Capítulo 6: Aspectos conceituais da abordagem respiratória ........................... 57 26.1 - Conceitos gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 9 26.2 - Avaliação respiratória do paciente com FC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 0 Capítulo 7: Tratamento das infecções respiratórias por bactérias diferentes de P. aeruginosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 3 27.1 - Conduta diante de culturas de escarro/aspirado traqueal positiva. . . . . . . . . . . . . . . 6 5 Capítulo 8: tratamento das infecções respiratórias por Pseudomonas aeruginosa .. 67 28.1 - Exacerbações leves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 9 Capítulo 9: Conduta em situações específicas infecciosas e não infecciosas .............. 73 29.1 - Resfriado comum (sintomas respiratórios leves) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 5 29.2 - Sinusite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 5 29.3 - Sintomas moderados a graves que necessitam de internação nos casos em fibrose_cistica_170609_Tales.indd 13 17/6/2009 11:57:20 que não se conhece o resultado de cultura de escarro ou aspirado traqueal. . . . . . . . 7 5 29.4 - Outras situações específicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 6 Capítulo 10: Outras modalidades de tratamento ........................................ 210.1 -Tratamento Mucolítico: Dornase alfa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210.2 - Azitromicina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210.3 - Salina Hipertônica a 7,0% . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210.4 - Corticoterapia oral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210.5 - Corticoterapia inalatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210.6 - B2 de longa duração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210.7 - Broncoscopia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 81 81 81 81 82 82 82 Capítulo 11: Transplante pulmonar em fibrose cística .................................. 211.1 - Indicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211.2 - Contra-indicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211.3 - Outras Considerações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Capítulo 12: Abordagem fisioterápica ................................................... 212.1 - Coleta de secreção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212.2 - Avaliação respiratória e motora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212.3 - Orientações aos pais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212.4 - Estímulos proprioceptivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212.5 - Técnicas utilizadas para desobstrução brônquica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212.6 - Aerossolterapia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212.7 - Freqüência da fisioterapia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 84 84 85 87 89 89 89 89 90 92 92 Capítulo 13: Aspectos psicossociais do paciente com fibrose cística ................... 213.1 - Tópicos importantes a serem considerados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213.2 - Prevenção dos transtornos emocionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213.3 - Intervenções durante o acompanhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 95 95 96 Ca Capítulo 14: Abordagem do paciente adulto com fibrose cística ........................ 97 214.1 - Exacerbações infecciosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 9 214.2 - Aspergilose broncopulmonar alérgica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 0 2 214.3 - Agentes Mucolíticos . . . . . . ....................................................... 104 214.4 - Broncodilatadores ............................................................... 105 214.5 - Terapias antiinflamatórias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 0 5 214.6 - Corticóides . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 0 6 214.7 - Ibuprofeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 0 6 214.8 - Suplementação de oxigênio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 0 6 214.9 - Insuficiência pancreática e suplementeação de enzimas pancreáticas . . . . . . . . 1 0 7 214.10 - Condutas no paciente desnutrido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 0 8 214.11 - Vitaminas Lipossolúveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 0 9 214.12 - diabetes relacionado a fibrose cística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 0 9 214.13 - Doença Hepato-biliar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 0 214.14 - Osteporose e osteopenia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 1 214.15 - Doença em articulações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 2 214.16 - opções de fim de vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 2 214.17 - Assistência ventilatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 3 Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 5 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 14 17/6/2009 11:57:21 Capítulo 1Fibrose cística Autores: Alberto Andrade Vergara Maria das Graças Oliveira Elizabet Vilar Guimarães Francisco José Caldeira Reis fibrose_cistica_170609_Tales.indd 15 17/6/2009 11:57:24 fibrose cística 16 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 16 17/6/2009 11:57:24 Fibrose Cística 1.1 - Introdução A Fibrose cística (FC) é a doença hereditária potencialmente letal mais comum da raça branca. No entanto, tem sido descrita em todas as raças. No Brasil, a incidência varia de acordo com a região. No Rio Grande do Sul, parece aproximar-se da população caucasiana centro-européia (1:2.000 a 1:5.000), enquanto que em Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, reduz-se para cerca de 1/9.000 a 1:9.500 nascidos vivos. É uma doença monogênica, na qual a alteração genética localiza-se no braço longo do cromossomo 7, no locus q31. Até o momento, foram identificadas mais de 1.400 mutações do gen, sendo que a mutação ΔF508 é a mais freqüente. As manifestações da doença são decorrentes da alteração na função da proteína reguladora da condutância transmembrana (cystic fibrosis transmenbrane regulator - CFTR), que controla a permeabilidade do íon cloro nas superfícies apicais das células epiteliais. Cinco situações básicas podem ocorrer: ausência total de síntese da CFTR, bloqueio no processamento, bloqueio na regulação, condutância alterada e síntese reduzida. As três primeiras condições conferem manifestações mais graves, enquanto as duas últimas, manifestações mais leves. 1.2 - Fisiopatologia Em condições normais, o fluxo de água através dos epitélios é resultado do gradiente osmótico criado pelo transporte ativo de íons, principalmente sódio e cloro. Na FC a codificação anômala da CFTR prejudica a excreção do cloro. A retenção dos íons cloro provoca a reabsorção de sódio e água para o meio intracelular. O resultado é a desidratação das secreções e o aumento da sua viscosidade, favorecendo a obstrução de dutos das glândulas exócrinas. As manifestações da doença ocorrem em graus variados no pâncreas, pulmões, intestino, fígado e testículos. No suor ocorre o processo inverso. As glândulas sudoríparas normalmente produzem uma secreção com grande quantidade de cloro e sódio. À medida que o suor ascende no ducto da glândula sudorípara, o cloro e o sódio são absorvidos, e o suor aflora na pele com pequena quantidade destes íons. Na FC, como os canais de cloro não funcionam, o cloro e o sódio não são absorvidos, provocando a exteriorização de um suor mais salgado. Na FC não ocorre um aumento do volume do suor, mas a produção de um suor com 5 a 10 vezes mais sal do que nas pessoas normais. 1.3 - Apresentações clínicas da FC Sinusopatia crônica, pólipos nasais. Infecção/colonização brônquica por bactérias patogênicas para FC. Doença endobrônquica: tosse produtiva, sibilância, alterações radiológicas, evidência de doença obstrutiva na espirometria. Baqueteamento digital. 17 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 17 17/6/2009 11:57:24 fibrose cística Íleo meconial, insuficiência pancreática exócrina, síndrome da obstrução intestinal distal, prolapso retal, pancreatite recorrente, doença hepatobiliar crônica. Desnutrição protéico-calórica, edema por hipoproteinemia, deficiência de vitaminas lipossolúveis. Azospermia obstrutiva. Síndrome da perda de sal, depleção aguda de sal e alcalose metabólica crônica. 1.4 - Diagnóstico de FC O diagnóstico de FC é feito a partir da suspeita clínica e confirmado pelo teste do suor alterado. A confirmação da doença pode ser feita também pela identificação de duas mutações genéticas para FC, um exame de diferencial de potencial nasal alterado ou um exame de potencial retal alterado. A presença de cepa de Pseudomonas aeruginosa mucóide em escarro/secreção traqueal de paciente com sintoma da doença também tem sido considerado citério diagnóstico. A triagem neonatal para FC identifica um grupo de crianças com probabilidade de apresentar a doença, mas o diagnóstico tem de ser confirmado pelo teste do suor. Teste do suor O teste do suor permanece como padrão ouro para confirmação do diagnóstico de FC. Realizado com técnica adequada, ele faz o diagnóstico de fibrose cística em 98% dos casos. São necessários dois testes alterados (duas amostras) para confirmar a doença. Até o momento, em Minas Gerais, no Sistema Único de Saúde (SUS), ele é realizado pela estimulação da sudorese localizada pela iontoforese com pilocarpina (método de Gibson e Cooke) e pela análise quantitativa do cloro no suor (método de titulação de Schalles e Schalles). A interpretação do resultado é feita da seguinte forma: Cloro no suor < 40 mEq/L: normal Cloro no suor entre 40 e 60 mEq/L: duvidoso Cloro no suor > 60 mEq/L: alterado O valor de cloro no suor nunca excede 160 mEq/L, e a diferença dos resultados das amostras de suor colhidas no mesmo exame não deve exceder 10 mEq/L. Triagem neonatal para FC A triagem neonatal para FC é realizada em Minas Gerais desde 1º de julho de 2003. O exame faz parte do Programa Estadual de Triagem Neonatal (PETN), e é implementado pela Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) com recursos do Ministério da Saúde (MS). O Serviço de Referência Estadual é o Núcleo de Pesquisa e Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (NUPAD/FM-UFMG). O PETN-MG tem uma cobertura de mais de 95% dos nascidos vivos no Estado. 18 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 18 17/6/2009 11:57:24 Fibrose Cística A triagem neonatal para FC baseia-se na dosagem da Tripsina Imunorreativa (TIR), uma enzima pancreática que, em razão da obstrução dos canalículos e ductos pancreáticos, é absorvida pela corrente sangüínea e encontra-se elevada nos casos suspeitos de FC. Trata-se de um exame com alta sensibilidade, mas com baixa especificidade. A dosagem da TIR é feita no sangue colhido em papel-filtro (teste do pezinho). O ponto de corte é ajustado para considerar positivo 1% da população investigada, sendo que em MG o ponto de corte tem sido de 70 ng/dL. Se a primeira dosagem tiver resultado acima do ponto de corte (TIR > 70 ng/dL), é colhida uma nova amostra de sangue em papel-filtro, de preferência até 45 dias de vida, e repetido a dosagem de TIR. Se a segunda dosagem de TIR também for alterada, é realizado o teste do suor. As crianças que apresentam as duas dosagens de TIR alteradas representam em média 0,08% do total de nascidos vivos. Se a criança apresentar a 1ª ou a 2ª TIR em níveis normais, o diagnóstico de FC é improvável. A incidência de casos falso-negativos pode atingir 5% da população de indivíduos doentes. Nesse caso, o teste do suor é realizado se a criança apresentar sinais e sintomas clínicos compatíveis com FC. Em média, na triagem neonatal, de cada 16 crianças encaminhadas para realizar o teste do suor, uma tem FC. A incidência da FC em Minas Gerais tem sido de cerca de um caso para cada 10.000 nascidos vivos. Análise das mutações: teste de DNA A identificação de duas mutações conhecidas confirma o diagnóstico de Fibrose Cística. Trata-se de um exame com grande especificidade, mas pouco sensível. O diagnóstico não pode ser excluído diante de um resultado negativo na pesquisa de mutações. Para aumentar a sensibilidade do exame seria necessário o seqüenciamento genético completo, o qual é procedimento de alto custo, não utilizado para diagnóstico de FC pelo PETN. Avaliação urogenital Deverá ser realizada quando as manifestações da Fibrose Cística são atípicas. Indivíduos que apresentam azoospermia obstrutiva, caracterizada por ausência bilateral de vasos deferentes ou que os tenham rudimentares normalmente não têm manifestações respiratórias nem insuficiência pancreática, podendo ter concentrações de cloretos no suor normais, limítrofes ou elevadas. Nesses casos, só se poderá firmar o diagnóstico de fibrose cística se houver concentrações elevadas de cloretos no suor ou identificação de duas mutações da doença ou anormalidade do canal de cloro no material de biópsia retal ou no epitélio nasal. 19 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 19 17/6/2009 11:57:24 fibrose cística C 1.5 - Tratamento O tratamento deve ser iniciado o mais precocemente possível e implementado de maneira individualizada, levando-se em conta a gravidade e os órgãos acometidos. Os objetivos gerais do tratamento são: Educação continuada do paciente e dos familiares. Profilaxia das infecções. Detecção precoce e controle da infecção pulmonar. Melhora da obstrução brônquica e da drenagem das secreções. Correção da insuficiência pancreática e da desnutrição. Monitoramento da progressão da doença e das complicações. Aconselhamento genético familiar. 20 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 20 17/6/2009 11:57:24 Avaliação antropométrica e recomendaçõesdietéticas Capítulo 2Avaliação antropométrica e recomendações dietéticas 40kg 1,40 1,35 1,30 Autores: Renata dos Santos Vieira Cíntia Cristiane Passos Marcelo Coelho Nogueira Elizabet Vilar Guimarães 21 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 21 17/6/2009 11:57:25 fibrose cística 22 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 22 17/6/2009 11:57:25 Avaliação antropométrica e recomendaçõesdietéticas 2.1 - Avaliação antropométrica A antropometria, realizada com técnicas corretas, é o primeiro passo do atendimento clínico de todo paciente. Devem ser aferidos em toda consulta: peso, altura e, em menores de 24 meses, o perímetro cefálico (PC). Nos centros de referência é realizada pelo nutricionista. Porém, qualquer profissional da equipe pode realizá-la. O acompanhamento nutricional é mensal durante os primeiros 12 meses após o diagnóstico. Pacientes desnutridos, e aqueles com perdas agudas de peso, devem ser acompanhados com intervalos menores. Demais pacientes devem ser acompanhados trimestralmente. O registro gráfico das aferições deve ser realizado mensalmente para menores de 12 meses e trimestralmente para maiores de 12 meses. Parâmetros adotados Peso ao nascer (recém-nascidos a termo) Maior ou igual a 3000g: peso adequado (PA). Entre 2500 e 2999g: peso insuficiente (PI). Entre 1500 e 2499g: baixo peso ao nascer (BPN). Menos de 1500g: muito baixo peso ao nascer (MBPN). Eutrofia Peso atual entre 90% a 110% do peso esperado para a altura (o ideal é que o peso atual seja >95% do peso esperado para a altura) Análise do gráfico NCHS 2000 Peso/Idade e Estatura/ Idade – entre 0 e 20 anos Peso/ Estatura – entre 0 e 6 anos IMC – entre 2 e 20 anos Peso/Altura (P/A) Estatura/ Idade (E/I) Peso/Idade (P/I) IMC 2 a 18 anos Baixo peso <P10 Baixo peso < P3 Baixa estatura < P3 Baixo peso < P3 Risco Nutricional P10 |– 25 Risco Nutricional P3 |– P10 Risco nutricional P3 |– P10 Risco Nutricional P3 |– P10 >P25 |– 90 Eutrofia P10 |– P90 Eutrofia P10 |– P90 Eutrofia P10 |– P90 23 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 23 17/6/2009 11:57:25 fibrose cística Peso/Altura (P/A) Sobrepeso P90 |– P97 Obesidade ≥P97 Peso/Idade (P/I) Sobrepeso P90 |– P97 Obesidade Estatura/ Idade (E/I) Estatura P90 |– P97 elevada ≥ P97 ≥ P97 IMC 2 a 18 anos Sobrepeso P90 |– P97 Obesidade ≥ P97 O “peso atual” e a “análise do gráfico NCHS 2000” são sempre interpretados conjuntamente, valorizando-se condições específicas (fisiológicas ou não) que alteram apenas um parâmetro, podendo ou não significar desnutrição e, conseqüentemente, alterar a proposta de intervenção nutricional. Avaliação dos pacientes maiores de 18 anos Índice de Massa Corporal (IMC) – a partir de 18 anos Classificação IMC (Kg/m2) Desnutrição energético-protéica Grau III <16 Desnutrição energético-protéica Grau II 16.0 – 16.9 Desnutrição energético-protéica Grau I 17.0 – 18.4 Baixo peso <18.5 Normal 18.5 – 24.9 Sobrepeso 25.0 – 29.9 Obesidade I 30.0 – 34.9 Obesidade II 35.0- 39.9 Obesidade III ≥ 40 Prega cutânea tricipital (PCT) e circunferência muscular do braço (CMB) (para maiores de 2 anos): Devem ser avaliadas preferencialmente pelo mesmo examinador. É de aferição obrigatória apenas nos pacientes em intervenção nutricional. Isoladamente não é usada para diagnóstico de desnutrição. 24 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 24 17/6/2009 11:57:25 Avaliação antropométrica e recomendaçõesdietéticas PCT e CMB em maiores de 2 anos Medida PCT CMB Valor (percentil) Classificação <5 Depleção de tecido adiposo >5 Reservas normais de tecido adiposo <5 Depleção muscular >5 Massa muscular normal FÓRMULA PARA CÁLCULO DA CMB: CB – (0,314 x PCT) 2.2 - Recomendações Dietéticas A ingestão deve corresponder de 120% a 150% do GET (baseado na RDA e FAO). Aportes ainda maiores podem ser necessários. Para o cálculo do GET (gasto energético total) utilizar o “peso ideal”: 0 a 2 anos – Representa o peso adequado para idade (P/I) 2 anos a 10 anos – Representa o peso adequado para estatura (P/E) > de 10 anos – IMC 25 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 25 17/6/2009 11:57:25 fibrose cística Ca Gasto Energético Total (GET) Idade em meses Energia (Kcal/ kg/dia) Idade em anos 0–0,5 124,0 1–2 Energia (Kcal/kg/dia) Meninos Meninas 1-2 104 108 116,0 2-3 104 102 2–3 109,0 3-4 99 95 3–4 103,0 4-5 95 92 4–5 99,0 5-6 92 88 5–6 96,5 6-7 88 83 6–7 95,0 7-8 83 76 7–8 94,5 8-9 77 69 8–9 95,0 9 - 10 72 62 9–10 99,0 11 – 14 55 47 10–11 100,0 15 – 18 45 40 11 –12 104,5 19 – 24 40 38 25 – 50 37 36 51 + 30 30 Proteína Lactentes 4 g/Kg/dia Crianças 3 g/Kg/dia Adultos 2-3 g/Kg/dia Lipídeo 35-45% do VCT se o ganho de peso for insuficiente e 30 a 40% do VCT para pacientes com ganho de peso satisfatório Ácido graxo essencial: 1-2% do VCT sob a forma de ácido linoleico (W3). Carboidratos: devem representar 45-48% do VCT, devendo ser compostos, majoritariamente, de açúcares complexos e fibra. 26 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 26 17/6/2009 11:57:25 Fibrose Cística Capítulo 3 Insuficiência panceática (IP) e terapia de reposição enzimática (TRE) Autores: Suzana Fonseca Oliveira Melo Elizabet Vilar Guimarães Francisco José Penna 27 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 27 Cíntia Cristiane Passos 17/6/2009 11:57:28 fibrose cística 28 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 28 17/6/2009 11:57:28 Insuficiência panceática (IP) e terapia de reposição enzimática (TRE) 3.1 - Diagnóstico clínico A avaliação clínica deve considerar: Características das fezes Sinais e sintomas digestivos como distensão e dor abdominal Estado nutricional Em pacientes recém-diagnosticados pela triagem neonatal, o diagnóstico clínico de IP é realizado a partir de um ou mais dos seguintes achados: hipoalbuminemia, anemia, ganho insuficiente de peso, fezes com característica esteatorréica e lactente “com apetite voraz, levando a esgotamento do seio materno”. Diagnóstico laboratorial Elastase fecal (é realizado rotineiramente em Minas Gerais, porém está limitado a pesquisas), avaliações quantitativas e semi-quantitativas da esteatorréia. Elastase fecal Interpretação da elastase fecal normal: > 200mcg/g de fezes; insuficiência pancreática leve/moderada: 100-200 mcg/g de fezes; insuficiência pancreática grave: < 100 mcg/g de fezes. * Pacientes com FC geralmente apresentam valores < 15 mcg/g de fezes. A insuficiência pancreática (IP) leve, diagnosticada pela elastase fecal, pode ser acompanhada apenas de hiposecreção de bicarbonato, com secreção de enzima suficiente para manter o paciente sem esteatorréia. A IP é progressiva, sendo habitual a piora da função do pâncreas com necessidades de ajustes nas doses de enzimas. Gordura fecal de 24h em fezes de 72h (Van de Kamer): Método quantitativo de excreção de gordura. Necessidade de treinamento adequado na técnica. Não dosa triglicerídeo de cadeia média (TCM), portanto, suplementos à base de TCM devem ser substituídos por suplementos com triglicerídeo de cadeia longa (TCL) dois dias antes de iniciada a coleta das fezes e mantidos durante todo o período de coleta. Pacientes com FC podem ter esteatorréia por causas diferentes de IP, tais como doença hepática e supercrescimento bacteriano. 29 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 29 17/6/2009 11:57:28 fibrose cística Interpretação da gordura fecal por Van de Kamer (limite superior) Lactente menor de seis meses em uso de LM: 0,93 g de gordura por dia Lactente menor de seis meses em dieta artificial: 2,25 g de gordura por dia Criança de idade superior a seis meses: 2,28 g de gordura por dia Coeficiente de absorção de gordura: Registra-se a ingestão alimentar dois dias antes e durante o período de coleta de fezes (Van de Kamer). O coeficiente é a relação entre ingestão e excreção. Esteatócrito: Método semi-quantitativo de excreção de gordura. É realizado rotineiramente em Minas Gerais, porém, está limitado a pesquisas. Interpretação do esteatócrito (limite superior) < um mês: 4,04% De um a três meses incompletos: 1,38% Três meses completos a 72 meses incompletos: 0,29% Pacientes com diagnóstico clínico recente de IP devem ser submetidos à avaliação qualitativa da IP (elastase fecal, quando se tornar disponível) e quantitativa da esteatorréia através da gordura fecal de 24 h (Van de Kamer). 3.2 - ACOMPANHAMENTO DA IP E DA TRE Acompanhamento clínico: Mesmos parâmetros anteriores. Avaliação realizada em toda consulta. Acompanhamento laboratorial: Elastase fecal: se disponível, anualmente até diagnóstico de IP grave. Avaliação longitudinal da capacidade funcional do pâncreas: Gordura fecal 24h em fezes de 72h com coeficiente de absorção de gordura 30 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 30 17/6/2009 11:57:28 Insuficiência panceática (IP) e terapia de reposição enzimática (TRE) Deve ser realizada em Pacientes sem quadro respiratório que justifique baixo ganho de peso, quando: Em terapia de reposição enzimática (TRE) sem ganhar peso satisfatoriamente em duas consultas consecutivas (ou mais de três meses sem ganhar peso); ou Na avaliação de baixa estatura em pacientes, com ou sem TRE, que apresentam Em TRE de com redução progressiva e crônica do percentil peso;respiratório percentil altura menor que 10, independentemente do de quadro Pacientes com dado clínico, porém pouco consistente, de esteatorréia. Esteatócrito: Está sendo avaliado, em pesquisa, a necessidade da sua realização rotineira. Atenção Pacientes com dado clínico inequívoco de esteatorréia não precisam da avaliação laboratorial da mesma. 3.3 - TRATAMENTO DA IP: TERAPIA DE REPOSIÇÃO ENZIMÁTICA 3.3.1 - TRE Neonatal: A IP está presente em 60% dos pacientes ao nascimento. A TRE deve ser iniciada em RN/lactentes oriundos da triagem neonatal quando: Paciente com a forma edematosa e anêmica da doença; Pacientes sem a forma edematosa e anêmica da doença, no entanto: Elastase disponível: sempre que menor que 100 mcg/g de fezes; quando entre 100-200 mcg/g de fezes e paciente com diagnóstico clínico de IP; Sem elastase disponível e com avaliação da esteatorréia pela gordura fecal de 24h em fezes de 72h (Van de Kamer): sempre que a esteatorréia for superior ao valor de referência; quando for inferior ao valor de referência mas paciente com diagnóstico clínico de IP; sem exame laboratorial, porém paciente com diagnóstico clínico de IP. Como repor enzimas: RN e lactentes em dieta láctea exclusiva: Devem receber enzima em toda mamada: 2.000 a 4.000 U de lípase para cada 120 ml de leite (humano ou não). 31 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 31 17/6/2009 11:57:28 fibrose cística Recomendações gerais: As fórmulas semi-elementares com 50% de TCM podem precisar de quantidades menores de enzima. No caso do uso de fórmula a base de aa livres e predomínio de TCL devem-se usar as doses acima de lipase. A enzima deve ser oferecida utilizando-se como veículo uma pequena quantidade de leite materno ou fórmula. Após a introdução de frutas na alimentação, deve ser administrada misturada a uma pequena porção de papa de maçã, banana ou iogurte. Em todas essas situações, as cápsulas devem ser abertas e as microesferas misturadas a um dos veículos citados. 3.3.2 - TRE após iniciado o desmame: 500 a 1.500 U de lipase/Kg/refeição 5.000 a 10.000 U de lipase/Kg/dia Recomendações gerais: A dose para cada refeição deve considerar a quantidade de gordura na mesma. Todo paciente em TRE deve ter um registro e/ou recordatório alimentar anual. O paciente deve ser educado para reconhecer refeições gordurosas. Atenção Lanche não significa refeição menor. Muitas vezes o conteúdo de gordura dessas refeições é maior que o conteúdo do almoço e jantar. Não administrar com: frutas e sucos (exceto abacate), vegetais (exceto batata), açúcar, geléia, gelatina, mel, melado. A administração de doses de enzima superiores a 10.000U/Kg/dia deve ser discutida com a equipe do centro de referência. Critérios para aumento da dose de enzima: Sintomas de esteatorréia: freqüência evacuatória* e aspecto das fezes (impressão de gordurosas ou líquidas, fétidas, volumosas) Parâmetros antropométricos Parâmetros laboratoriais: Gordura fecal aumentada dosada em uso de enzima. Se a dose de enzima prescrita já é máxima e a secreção gástrica está bloqueada, excluir má adesão ao tratamento e outras causas de esteatorréia antes de aumentar dose de enzima (doença hepática, supercrescimento bacteriano, muco intestinal espesso). 32 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 32 17/6/2009 11:57:28 Insuficiência panceática (IP) e terapia de reposição enzimática (TRE) * Para < 4 anos: Número de evacuações não é um bom parâmetro Atenção Aumentos nas doses de enzimas devem representar 25% da dose em uso ou mais ou adequação específica da dose de enzima por refeição habitual avaliada por meio do registro alimentar (ingestão de gordura em cada refeição). 3.4 - Complicações relacionadas ao uso da enzima pancreática 3.4.1 - Complicações leves Constipação intestinal: Frequência evacuatória menor que três vezes por semana e/ ou eliminação de fezes endurecidas e/ou esforço evacuatório e/ou sensação de esvaziamento incompleto do reto. Laxante: leite de magnésia 1 a 3 ml/Kg (não usar em menores de um ano) ou lactulose 1 a 3 ml/Kg ou PEG 4000 (polietilenoglicol sem eletrólitos) 0,5 a 1,0g/Kg. Avaliar dose de enzima: a redução raramente é necessária. Lesão de mucosa oral: Avaliar veículo de administração da enzima. Usar papa de maçã. Irritação perianal: Pode ser secundária ao aumento da velocidade do trânsito intestinal. Nesse caso usar suco de maçã batido com casca e coado ou suplementar com fibra solúvel. Usar creme protetor perianal. Reavaliar dose de enzima. 3.4.2 - Complicações moderadas e graves Colonopatia fibrosante: Avaliação cirúrgica. Reavaliar dose de enzima por refeição e refazer cálculo baseado na ingestão de gordura obtida pelos registros alimentares e no balanço de gordura. * Atenção: não usar apresentações contendo altas doses de enzimas por cápsula em crianças menores; reservá-las para adolescentes (apresentações de 18.000 e 25.000 U de lipase/cápsula). 33 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 33 17/6/2009 11:57:28 fibrose cística Síndrome da obstrução intestinal distal: PROPEDÊUTICA: Leucograma, amilase sérica, provas de função hepática, urina rotina, gram de gota de urina não centrifugada; raio X simples de abdome; ultra-som de abdome; avaliar realização de enema opaco com contraste hidrossolúvel. TRATAMENTO Apresentação crônica: Avaliar dose de enzima e reduzi-la: redução com posterior aumento gradual? Usar laxativo (lactulose ou leite de magnésia). Orientar: ingestão de líquido, uso do sanitário após refeições, dieta balanceada, reforçar aspectos relativos à adesão ao tratamento. Logo após melhora clínica, fazer a gordura fecal. Pode ser necessário aumentar gradativamente a dose de enzima ou inibir a secreção ácida. Apresentação aguda: Acetilcisteína oral: 10-30 ml de solução a 20% em 100 a 120 ml de água ou suco. Pode ser administrada via retal se falhar. Contraste hidrossolúvel*: Gastrografina oral: <25 kg = 50 ml em 200 ml de água ou suco; >25 Kg =100 ml em 400ml de água ou suco. Gastrografina retal: Considerar se a administração oral falhou ou se estiverem ocorrendo vômitos devido à obstrução. Administrar somente sob visão radiológica. Repetir raio X de abdome após uma hora para excluir dilatação maciça. * A condução do caso deve ser discutida/acompanhada pelo cirurgião pediátrico. * Manter o paciente bem hidratado; pode ser necessário iniciar soroterapia venosa. * Pode ser repetido após 24 horas Manter lactulose por uma semana. 3.5 - vitaminas 3.5.1 - Recomendações para suplementação de vitaminas Suplementação de vitaminas lipossolúveis e de vitamina B12 conforme Consenso Europeu Vitaminas Pacientes que necessitam de suplementação Dose inicial 34 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 34 17/6/2009 11:57:28 Insuficiência panceática (IP) e terapia de reposição enzimática (TRE) A IP 4000-10000 UI/dia D IP e quando exposição solar não está assegurada 400-800 UI/dia E Todos 100-400UI/dia K IP, colestase 1 mg/dia a 10 mg/semana B12 Ressecção de íleo distal 300 mcg, IM/mês Outras vitaminas hidrossolúveis Não necessita suplementar se ingestão alimentar é adequada IP: insuficiência pancreática exócrina. Conversão de fatores: UI para mg: vitamina A: UI 0,3 = mcg; vitamina D: UI/40 = mcg; vitamina E: all-rac-α-tocoferol: UI = mg; RRR-α- tocoferol: UI/1,49 = mg. A necessidade de suplementação de vitaminas em pacientes sem deficiência pancreática deve ser avaliada individualmente de acordo com os níveis plasmáticos. 3.5.2- Prescrição da suplementação vitamínica Recomenda-se: Crianças menores de um ano: vinte gotas (1,0 mL) de Protovit® ao dia e 1 cápsula de Ephynal® (400UI de vit E) por semana ou vinte gotas (1,0 mL) de Source CF ao dia. Crianças de um a quatro anos: 1,5 ml (30 gotas) Source CF® ao dia. Pacientes maiores de quatro anos, que mastigam comprimidos: um comprimido de Centrum® ou um comprimido de Source CF® ao dia. Vitamina K: Deficiência comprovada: administração via parenteral: 1mg/Kg/dose por dois dias consecutivos. Repetir PT e PTT a seguir. Quando possível, a administração oral da vitamina K deve ser iniciada ou mantida. Quando indisponível a formulação gotas ou a criança não mastigar a cápsula de Source CF®, iniciar administração parenteral periódica de 15/15 dias em pacientes com doença hepática (colestase ou doença hepática relacionada à fibrose cística) pacientes com recorrência de alteração laboratorial, pacientes que alteram esses exames após o uso de ATB. Sempre rever se o paciente não mantém esteotorréia. 35 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 35 17/6/2009 11:57:29 C fibrose_cistica_170609_Tales.indd 36 17/6/2009 11:57:29 Fibrose Cística Capítulo 4 Outras doenças digestivas e nutricionais Autores: Elizabet Vilar Guimarães Suzana Fonseca Oliveira Melo Alberto Andrade Vergara 37 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 37 Francisco José Penna 17/6/2009 11:57:34 fibrose cística 38 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 38 17/6/2009 11:57:34 Outras doenças digestivas e nutricionais 4.1- Doença hepática Formas clínicas do acometimento do fígado e das vias biliares: Elevação assintomática das enzimas hepáticas Esteatohepatite Colestase neonatal Doença hepática relacionada à fibrose cística Cirrose biliar focal Cirrose biliar multifocal Colelitíase Microvesícula Diagnóstico Clínico: Aumento do tamanho do fígado (≥ 2,5cm do RCD) ou alteração da consistência ou da borda hepática (fígado habitualmente firme e nodular, pode ocorrer apenas aumento do lobo esquerdo). Icterícia. Esplenomegalia. Estigmas de hipertensão porta. Colestase: icterícia, hipocolia fecal, colúria. Colelitíase: na maioria das vezes é assintomática. Mais comum na adolescência e na vida adulta. Laboratorial: Aumento de duas enzimas hepáticas (TGO,TGP,FA,GGT) (> que 1,5 vezes os valores de referência) em 2 exames consecutivos, com intervalo de 3 a 6 meses. Colestase neonatal: aumento de bilirrubinas com bilirrubina direta, correspondendo a 20% ou mais da bilirrubina total. Aumento de GGT e FA. Aumento das transaminases. Aumento da GGT pode ser o primeiro sinal do acometimento hepático. Evolução crescente da GGT pode estar relacionada à cirrose biliar multifocal. Descartar outras causas de hepatopatias (infecciosas e metabólicas). Esteatohepatite: acompanha, com frequência, os pacientes diagnosticados pela triagem neonatal. Segundo a literatura, regride com as correções nutricionais. Avaliar 39 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 39 17/6/2009 11:57:34 fibrose cística deficiência de ácidos graxos essenciais. Quando observada mais tardiamente, excluir intolerância à glicose. Ultra-som abdominal: Indicações: Realizado em todos os casos em que se observa alteração clínica e/ou laboratorial, inclusive na colestase neonatal. Na doença hepática relacionada à fibrose cística (DHRFC), observa-se aumento do volume, heterogeneidade ecográfica, nodularidade, esplenomegalia. Nessa situação, a realização do ultra-som é válida para excluir outras causas de doença hepática e, para acompanhamento evolutivo, repete-se anualmente. Na segunda década de vida, para rastreamento da colelitíase, deve ser feito a cada 2 anos. Biópsia hepática: Excepcionalmente realizada. Útil no diagnóstico diferencial quando a doença apresenta evolução atípica. Tratamento Sem cirrose: iniciar ácido ursodeoxicólico (Ursacol): 20mg a 25 mg/Kg/dia. Efeito colateral mais comum: diarréia. Nesse caso, reduzir dose (10 a 15 mg/Kg/dia). Se PTT alargado: vit K 10mg IM por três dias. Repetir PTT. Tempo de tratamento: indefinido. Na colestase neonatal pode ser suspenso depois de 3 a 4 meses se enzimas e bilirrubina normalizam. Com cirrose: encaminhar para o hepatologista. 4.2 - Doença do refluxo gastroesofágico É muito comum. Pacientes com FC apresentam quadros mais graves (esofagite erosiva e esôfago de Barret). 40 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 40 17/6/2009 11:57:34 Outras doenças digestivas e nutricionais Diagnóstico Clínico: Não ganho de peso Sintomatologia típica (dor, pirose, regurgitação, vômito) Doença respiratória moderada ou grave * Na criança jovem, a dor não costuma ser referida ao andar superior do abdome. Laboratorial pHmetria esofágica de 24 horas Endoscopia digestiva com biópsia do esôfago Tratamento: Medidas gerais: postural, dietéticas. Intervenções respiratórias (dirigidas principalmente à sibilância e pneumonias de aspiração) Tratamento medicamentoso (12 semanas): Menor de um ano: ranitidina: 5 a 10 mg/Kg/dia Crianças maiores de um ano: Omeprazol: 0,7 a 3,3 mg/Kg/dia (usar excepcionalmente em menores de um ano.) Acompanhamento: Persistência de sintomas pépticos: endoscopia digestiva alta Sem melhora respiratória ou do ganho de peso: monitoração da supressão ácida com a pHmetria esofágica. Retorno dos sintomas após suspensão medicamentosa: avaliar manutenção da terapia medicamentosa indefinidamente. 4.3 - Íleo meconial Diagnóstico Clínico: Quadro obstrutivo 41 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 41 17/6/2009 11:57:34 fibrose cística Laboratorial: RX simples de abdome Exames radiológicos contrastados Tratamento: Comunicar O sempre com cirurgia pediátrica. tratamento deve ser instituído após discussão com cirurgião. Considerar contraste radiológico hidrossolúvel oral e, se necessário, retal. Gastrografina: 250 ml a 25%, via oral. . Pode-se repetir a dose. Acompanhar com RX simples de abdome em ortostatismo ou decúbito dorsal com raios horizontais. Se ocorrer falha: considerar administração retal. 4.4 - Pancreatite recorrente É de ocorrência em pacientes com função pancreática normal. Diagnóstico: Clínico: Dor abdominal e vômitos Laboratorial: Aumento da amilase e lipase séricas US de abdome TC de abdome (maior sensibilidade para quadros leves) Tratamento: Avaliação individual: Internação Repouso alimentar Nutrição parenteral 42 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 42 17/6/2009 11:57:34 Outras doenças digestivas e nutricionais 4.5 - Anemia Diagnóstico Clínicos: Baixa sensibilidade e especificidade Laboratoriais: Quando realizar: na suspeita de anemia; aos seis meses de idade; uma vez por ano. Exames: Hemograma, ferro sérico, ferritina*, CLTF, reticulócitos**. * Em relação à ferritina: considerar que reflete o estoque corporal de ferro após seis meses de idade e é o primeiro marcador a cair na deficiência de ferro, porém é proteína de fase aguda. ** A contagem de reticulócitos deve ser realizada quando se suspeita de hemólise (deficiência de vitamina E) e na primeira consulta dos lactentes triados. Ponto de corte para anemia: um mês: 10,7 g/dl dois meses: 9,4 g/dl > seis meses a cinco anos: 11,0 g/dl > 5 anos: 11,5 g/dl 12-18 anos: meninas: 12,0 g/dl meninos: 13,0 g/dl Reticulócitos seis meses: 0,7 a 2,3 % 2 a 18 anos: 0,5-1,0% Índice reticulocitário corrigido: IRC: %Rt X Ht do paciente/ Ht normal IRC > 1,5: reflete aumento da produção de hemácias (hemólise ou perda sanguínea) 43 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 43 17/6/2009 11:57:34 fibrose cística Tratamento: Ferro: 3 a 5 mg/kg/dia * Vitamina E: 400UI três vezes por semana, por três semanas. * Se IRC aumentado, tratar com administração de vitamina E Repetir hemograma e Rt em 30 dias Prevenção: Anemia ferropriva: Ferro (1 a 2mg/Kg/dia de ferro elemento): Após o início do desmame e até dois anos de vida. Após tratamento de anemia em lactentes, até dois anos de vida. Em crianças maiores, após normalização do nível de hemoglobina, por seis meses. Em todo paciente com IP: indicação sendo reavaliada, ainda não conclusiva. 4.6 - Deficiências nutricionais específicas Deficiência de vitaminas lipossolúveis: Diagnóstico clínico e laboratorial Atenção para os sinais e sintomas de deficiências de vitaminas lipossolúveis. Os diagnósticos laboratoriais não são disponíveis em nossos serviços. Doença mineral óssea: Má-absorção de cálcio, vitamina D, vitamina K (ou baixa oferta). O protocolo de diagnóstico, prevenção e tratamento ainda não está definido. Cada caso tem sido discutido individualmente. Deficiência de zinco: Relativamente freqüente e pouco diagnosticada. Deve ser lembrada em lactentes com IP e com lesões cutâneas, e nos casos de falência de crescimento. Deve-se instituir teste terapêutico: 0,5 a 1,0 mg de Zn elemento/Kg /dia. Na baixa estatura, o teste deve ser feito por três a seis meses. 44 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 44 17/6/2009 11:57:34 Outras doenças digestivas e nutricionais 4.7 - Desnutrição 4.7.1 - Lactentes com a forma edematosa (hipoproteinêmica) e anêmica Atenção Trata-se de manifestação inicial grave da doença, com risco maior de mortalidade, requerendo controle clínico rigoroso Tratamento: A avaliação da necessidade de internação hospitalar deve considerar: a avaliação clínica geral, a eficiência das mamadas, a necessidade de hemotransfusão, a capacidade de compreensão adequada e rápida do tratamento (principalmente administração de enzima e sal), a condição social do paciente e outros fatores que influenciem na segurança da equipe na condução ambulatorial dos casos. A TRE deve ser iniciada na primeira consulta e com supervisão do médico. A suplementação com sal deve iniciada no dia do diagnóstico. Suplementação precoce de vitaminas Consultas diárias de controle até o início do “ganho de peso adequado” são preferíveis à internação hospitalar. Reavaliação a qualquer momento da necessidade de internação se o recém-nas- cido: Inicia sintomas respiratórios que complicam o quadro nutricional; Não ganha peso, mamadas parecem ineficazes ou débeis, piora clínica. Intervenção nutricional no lactente hospitalizado: Avaliar administração de dieta por sonda nasogástrica: sucção débil, quadro respiratório que impede administração da dieta por sucção. Tipo de dieta a ser administrada: podem ser utilizadas fórmulas infantis padrão (mais baratas) ou fórmulas hidrolizadas. Ver acima “Tratamento da IP: TRE” Atenção “Ganho de peso adequado”: é considerado, ao diagnóstico neonatal e início da TRE, quando o lactente ganha 25g/dia nos primeiros três meses de vida. Pacientes com IP e baixo ganho de peso ao diagnóstico, após início de TRE adequada, fazem o catch-up, chegando a ganhar até 40g/dia. 45 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 45 17/6/2009 11:57:35 fibrose cística 4.7.2 - Intervenção nutricional Guia para intervenção nutricional Grau de Nutrição < 2 anos 2-18 anos > 18 anos Estado nutricional normal % P/E 90-110 % P/E 90-110 IMC 18,5-24,9 ou nenhuma perda de peso recente Desnutrido Qualquer grau de falha no crescimento/ desenvolvimento % P/E 85-89 ou perda de peso em 4-6 meses ou manutenção do peso em 6 meses IMC < 18,5 ou 5% de perda de peso em menos de 2 meses. Falha no crescimento/ desenvolvimento mesmo com suplementação oral Tentativa de Tentativa de suplementação suplementação e e ainda: IMC < ainda: 18,5 ou perda de % P/E < 85 ou peso maior que perda de peso em 2 5% em menos de percentis. 2 meses. Desnutrido sem resultado à intervenção nutricional (Desnutrido grave) Conduta prevenção Orientação dietética. Considerar suplementação Suporte nutricional invasivo Dieta enteral noturna por SNG ou gastrostomia e/ou Nutrição Parenteral 4.7.3 - Suplementação Oral Indicação de suplementação oral: Ingestão calórica insuficiente Perda de peso Declínio no percentil de peso e/ou estatura Durante infecções pulmonares agudas Suplementos padronizados: Suplemento líquido 1,5kcal/ml, complemento em pó, trigliceril TCM, módulo de proteína. O uso do triglicerídeos de cadeia média (TCM) é recomendado somente para lactentes com síndrome do intestino curto, colestase neonatal ou em crianças com doses de enzimas no limite máximo recomendado sem ganho de peso satisfatório. TCM: iniciar com 1 mL/Kg/dia, podendo chegar a 4 mL/Kg/dia nos lactentes. 46 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 46 17/6/2009 11:57:35 Outras doenças digestivas e nutricionais 4.7.4 - Suporte nutricional invasivo – Protocolo de gastrostomia A adoção do suporte nutricional invasivo é uma conduta complexa, avaliada e decidida pela equipe multidisciplinar, que apenas é possível quando o paciente (quando maior que seis anos) e familiares encontram-se totalmente esclarecidos e dispostos a investir em qualidade de vida e longevidade. 4.7.4.1 - Aspectos relativos à indicação do procedimento Aspectos nutricionais: Para indicação da gastrostomia, o paciente deverá apresentar uma das seguintes características nutricionais: no percentil inferior a 3 de peso e inferior a 10 de estatura (o que equivale à desnutrição crônica); Encontrar-se peso estacionário (ou seja, sem ganho de peso) ou em declínio: nos últimos três meses para menores ou iguais a dois anos e nos últimos seis meses para maiores que esta idade. Apresentar atraso da maturação sexual, com história familiar negativa para atraso constitucional do crescimento e da maturação sexual. Apresentar Apresentar redução da velocidade de crescimento nos últimos dois anos (<5,0 cm/ ano). Os seguintes pré-requisitos também já devem ter sido atendidos: Excluir complicações metabólicas da FC como intolerância à glicose, diabetes relacionado à FC, hiponatremia e depleção corporal de sódio, doença celíaca. Devem ter sido realizados: glicemia de jejum, teste oral de tolerância à glicose, sódio sérico, sódio urinário, Ig A sérica, anti-gliadina IgA e IgG. Já ter sido submetido a apoio nutricional não-invasivo (consultas com nutricionista e uso de suplementos alimentares por via oral) sem êxito. Estar em uso regular de enzima pancreática, já tendo atingido a dose máxima recomendada (10.000U/Kg/dia) e não apresentar esteatorréia (gordura fecal < 3,0g/dia). Não ser portador de distúrbio endocrinológico (comprovado laboratorialmente) relacionado à baixa estatura (deficiência de hormônio de crescimento, hipotireoidismo); Não apresentar comorbidade que se relacione à baixa estatura; Seguramente, não ser portador de baixa estatura familiar. 47 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 47 17/6/2009 11:57:35 fibrose cística Atenção É desejável que o paciente esteja consumindo, por via oral, pelo menos 100% da necessidade calculada para o peso ideal. Porém, vários pacientes apresentam redução crônica do apetite e, apesar de não consumirem 100% da recomendação, a indicação de gastrostomia deve ser feita, se os critérios anteriores são preenchidos. Aspectos da doença pulmonar: A gastrostomia não será realizada em pacientes com necessidade de oxigenioterapia domiciliar, porém sem fazer uso do mesmo. Após instituir a oxigenioterapia deve-se aguardar três a seis meses para nova avaliação da necessidade de suporte nutricional invasivo. Aspectos emocionais: Avaliação psicológica é realizada nos pacientes, procurando concluir se o paciente e responsáveis apresentam condições para colocação da gastrostomia. Principalmente se a gastrostomia é entendida como uma opção terapêutica de melhora da qualidade de vida e se aspectos relativos à imagem corporal não dificultarão a adesão ao uso do dispositivo de infusão da dieta. Aspectos sociais: Ter moradia em adequadas condições sanitárias e com luz elétrica. O paciente ou responsável deve ter condições de aprendizado de manipulação da bomba de infusão. Aspectos éticos: A gastrostomia deve ser indicada no mínimo seis meses antes da realização do procedimento. Durante esse período todas as dúvidas dos pacientes ou responsáveis devem ser respondidas. O paciente deve fazer um mínimo de três consultas com o médico responsável pela indicação, bem como com a nutricionista e psicóloga da equipe. O paciente deve conhecer todos os riscos inerentes ao procedimento e à possibilidade de sucesso ou fracasso do objetivo. É considerado insucesso terapêutico quando não ocorre ganho de peso após um ano da adoção do procedimento. Pacientes e/ou responsáveis devem estar de acordo com o procedimento. Exames propedêuticos que devem ser realizados pré-inserção do tubo de gastrostomia: PHmetria esofágica de 24 h, espirometria (nos pacientes aptos a realizá-la), idade óssea, dosagem de hormônio do crescimento, T4 livre, TSH, glicemia de jejum e TOTG, sódio sérico e urinário, avaliação da saturimetria em consultas consecutivas (se necessário monitorar saturimetria em casa). 48 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 48 17/6/2009 11:57:35 Outras doenças digestivas e nutricionais 4.7.4.2- Aspectos relativos à técnica da gastrostomia A técnica empregada para colocação da gastrostomia é a endoscópica percutânea. A sonda usada é de silicone, calibre de 18 a 24 Fr. Após três meses, a sonda é trocada por um bottom (Mic-Key). Profilaxia de infecções: Doença pulmonar leve ou moderada: antibioticoterapia oral (dose máxima) iniciada 48h antes do procedimento e mantida por 48 h depois. Doença pulmonar grave: antibioticoterapia venosa iniciada sete dias antes do procedimento e mantida por sete dias após. A escolha do antibiótico deve ser guiada pelo resultados de cultura/secreção traqueal. 4.7.4.3- Estabelecimento de aportes: Avaliação da nutricionista: Cálculo dos aportes calórico, protéico e lipídico, considerando-se 150% da recomendação para a idade. Infusão noturna de 40% do aporte diário calculado (durante 5 a 7 horas de infusão). Dieta a ser infundida: Polimérica ou oligomérica. Podem ser usados dietas enterais nutricionalmente completas, suplementos ou módulos de proteína e TCM. A dieta deve ter densidade calórica de 1,5 a 2,5 cal/ml. 4.7.4.4- Acompanhamento Consultas pós-gastrostomia: 1a, 2a e 3ª consultas, com intervalo de 15 dias entre cada uma, e consultas subseqüentes, de 30 em 30 dias nos primeiros seis meses. A seguir, agendamento com os mesmos critérios que pacientes não gastrostomizados. Avaliação da função pulmonar: A cada seis meses nos pacientes aptos a realizá-la. 49 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 49 17/6/2009 11:57:35 C fibrose_cistica_170609_Tales.indd 50 17/6/2009 11:57:35 Fibrose Cística (continuação) Capítulo 5 Hiponatremia, depleção corporal de sódio e diabetes relacionado à fibrose cística SA L Autores: Elizabet Vilar Guimarães Alberto Andrade Vergara Paulo Augusto Moreira Camargos Suzana Fonseca Oliveira Melo 51 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 51 17/6/2009 11:57:36 fibrose cística 5.1- Hiponatremia e depleção corporal de sódio Ao diagnóstico, em pacientes da triagem neonatal: A depleção corporal de sódio é observada em praticamente todos os pacientes. A hiponatremia também é muito freqüente. No primeiro ano de vida, quase todos os pacientes a apresentam em algum momento do acompanhamento. Alguns pacientes se apresentam com sódio sérico menor que 120 mEq/L ao diagnóstico. Diagnóstico: Apresentação clínica: Sinais clínicos agudos clássicos do distúrbio: Desidratação Inapetência Hipoatividade Perda de tônus Cronicamente pode ser manifestada apenas por baixo ganho de peso, anorexia e vômitos esporádicos Avaliação laboratorial: Primeiro ano de vida: Ionograma trimestralmente Segundo ano de vida: Sódio urinário* mensalmente Ionograma trimestralmente Sódio urinário trimestralmente Sempre que forem observados sinais de hiponatremia: realizar o sódio sérico (urgência). Pacientes que apresentaram algum episódio de hiponatremia grave também devem realizar sódio sérico mensalmente nos próximos três meses que se seguem ao episódio. ** Sódio urinário: < 10: sugere depleção corporal grave 10-20: depleção corporal moderada 52 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 52 17/6/2009 11:57:36 Hiponatremia, depleção corporal de sódio e diabetes relacionado à fibrose cística 20-40: nível aceitável > 40: desejável Tratamento: Hiponatremia Com sintomas ou sódio sérico < 120: encaminhar para tratamento hospitalar. Sódio sérico > 120 e assintomático: prescrever 3 a 10 mEq/Kg/dia de sódio. 1,0 g de sal de cozinha: 17 mEq de sódio. Manter administração diária de sais de reidratação oral, livre demanda. Sem o valor de sódio sérico, apenas com sódio urinário baixo e assintomático: prescrever 3 a 10 mEq/Kg/dia de sódio. Manter administração diária de sais de reidratação oral, livre demanda. Prevenção: 3 a 10 mEq/kg/dia de sódio. Sais de reidratação oral em livre demanda. 5.2- Pseudo-síndrome de Bartter Fazer gasometria arterial no mesmo dia para diagnóstico de pseudo-síndrome de Bartter. Tratamento: Corrigir a hiponatremia. Se potássio > 2,5 mEq/l: 3 a 5 mEq/Kg/dia de solução de cloreto de potássio oral (3g de KCl = 40 mEq de potássio). Repetir dosagem em 72 horas. Se potássio < 2,5 mEq/l: encaminhar para correção venosa. Acompanhamento: Sódio sérico semanalmente até normalização. 5.3- Diabetes relacionado à FC (DRFC) e intolerância a glicose (IG) Muitos estudos têm demonstrado que a taxa de declínio do VEF1 e CVF aumenta nos dois a quatro anos que antecedem ao diagnóstico DRFC. 53 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 53 17/6/2009 11:57:36 fibrose cística O teste padrão-ouro para identificação de DRFC e IG é o teste oral de tolerância à glicose (TOTG). Teste oral de tolerância à glicose: após coletar glicemia de jejum, administrar via oral, 1,75g de dextrosol/Kg de peso (máximo de 75g ). Coletar glicemia duas horas após o dextrosol. Categorias de tolerância à glicose em pessoas com FC definidas após TOTG Categorias de tolerância à glicose Glicemia 2h pósdextrosol Glicemia de jejum Tolerância normal à glicose < 126,0 mg/dl < 140,0 mg/dl Intolerância à glicose < 126,0 mg/dl 140,0 – 200 mg/dl DRFC sem hiperglicemia de jejum < 126,0 mg/dl >= 200 mg/dl DRFC com hiperglicemia de jejum >= 126,0 mg/dl TOTG não é necessário Se TOTG não é possível: considerar improvável o diagnóstico de DRFC se glicemia aleatória (ou “casual”) < 126,0 mg/dL, exceto se presentes sintomas de hiperglicemia. Critérios para diagnóstico de DRFC Glicemia >= 200 mg/dL no TOTG (2 horas pós dextrosol) Glicemia de jejum maior ou igual a 126 mg/dL em duas ou mais ocasiões Glicemia de jejum maior ou igual a 126 mg/dL associado à glicemia aleatória > = a 200 mg/dL Níveis de glicemia aleatória > = 200 mg/dL em duas ou mais ocasiões com sintomas de diabetes Sintomas de hiperglicemia em FC Poliúria ou polidpsia inexplicada Dificuldade Baixa no ganho de peso, apesar de intervenção nutricional velocidade de crescimento Atraso na velocidade de maturação sexual Declínio inexplicado da função pulmonar 54 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 54 17/6/2009 11:57:36 Hiponatremia, depleção corporal de sódio e diabetes relacionado à fibrose cística Tratamento: Nutrição: É necessário alcançar um equilíbrio entre dose de insulina a ser administrada e atendimento às necessidades calóricas. Atenção: Risco de dislipidemia (pois a dieta do FC é rica em gordura): risco aumentado para doença microvascular Insulinoterapia: Esquema ideal para o paciente com FC: insulina ultra-rápida antes das refeições e insulina NPH à noite. Acompanhamento com endocrinologista é obrigatório. O tratamento deve ser iniciado por esse profissional. Apenas quando não for possível é que deve ser iniciado por médicos não endocrinologistas. Indicações: DRFC com hiperglicemia de jejum DRFC sem hiperglicemia de jejum IG: Apenas nas situações de descontrole glicêmico, como durante exacerbações respiratórias. Acompanhamento: Aferição da pressão arterial em toda consulta. Controle glicêmico domiciliar glicemia de jejum: entre 72 e 108 mg/dL; glicemia 2h pós-prandial: entre 72 e 126mg/dL. Triagem anual para complicações microvasculares da diabetes: fundoscopia, dosagem urinária de albumina, exame dos pés para neuropatia periférica. 55 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 55 17/6/2009 11:57:36 C fibrose_cistica_170609_Tales.indd 56 17/6/2009 11:57:36 Fibrose Cística (continuação) Capítulo 6 Aspectos conceituais da abordagem respiratória Autores: Alberto Andrade Vergara Francisco José Caldeira Reis Irmgard de Assis Maria das Graças Rodrigues de Oliveira 57 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 57 17/6/2009 11:57:39 fibrose cística 58 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 58 17/6/2009 11:57:39 Aspectos conceituais da abordagem respiratória 6.1 - CONCEITOS GERAIS Infecção: presença de microorganismos patogênicos para FC (Haemophilus influenzae, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Burkholderia cepacia, Stenotrophomonas maltophilia, Aspergilus fumigatus, Acromobacter xylosoxidans e micobactérias atípicas) em cultura de escarro/ aspirado traqueal/swab de faringe. Primoinfecção: primeira cultura positiva para microorganismos patogênicos para FC. Colonização: Crônica: três culturas positivas , com intervalo maior que um mês entre elas, em um período de seis meses, por mesma bactéria patogênica. Intermitente: infecções, por mesma bactéria patogênica, que não atinjam a frequência de três episódios em seis meses. Sintomático respiratório Exacerbação respiratória Definição: , critério de fuchs Exacerbação da doença crônica (sintomas respiratórios agudos, diferentes de resfriado): Escore de Fuchs (quatro de 12 critérios): 1.Alteração do volume e da cor do escarro. 2. Hemoptise nova ou aumentada. 3. Aumento da tosse. 4. Aumento da dispnéia. 5. Mal-estar, fadiga ou letargia. 6. Temperatura axilar > 38 ° C. 7. Anorexia ou perda de peso. 8. Cefaléia ou dor na região dos seios da face. 9. Alteração de cor da rinorréia. 10. Alteração da ausculta pulmonar. 11. Queda da VEF1 superior 10% do valor basal. 12. Alterações radiológicas indicativas de infecção pulmonar. 59 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 59 17/6/2009 11:57:39 fibrose cística Classificação da exacerbação: Exacerbação leve: isolamento da bactéria nas vias aéreas inferiores sem sinais diretos de infecção (febre, cansaço, prostração), com repercussão discreta no quadro clínico do paciente (perda de apetite, perda de peso, aumento da expectoração, alteração da cor do escarro). Exacerbação moderada a grave (Exacerbação respiratória moderada/grave): isolamento de bactéria nas vias aéreas inferiores com sinais diretos de infecção e evidente repercussão no quadro clínico do paciente, tais como febre, cansaço, prostração, taquipnéia, desconforto respiratório, hipoxemia, etc.) Sintoma respiratório de resfriado : Sinais e sintomas apenas de vias aéreas superiores. 6.2- Avaliação respiratória do paciente com FC Quadro clínico: Assintomático Sintomas habituais Exacerbação dos sintomas (leve, moderada ou grave) Resfriado comum (apenas sintomas de vias aéreas superiores). Aspectos que devem ser avaliados para caracterização do quadro clínico: Freqüência e intensidade dos sintomas (tosse, chieira, dispnéia, expectoração e seu aspecto) Presença de febre (apesar de rara) Alterações no exame físico (especialmente, dispnéia e ausculta) Diminuição do apetite Perda de peso Saturação de oxigênio Função pulmonar (VEF1), quando possível. 60 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 60 17/6/2009 11:57:39 Aspectos conceituais da abordagem respiratória Exames complementares: Espirometria e radiografia de tórax: uma vez por ano ou mais freqüente (se necessá- rio). Tomografia computadorizada de tórax: A partir dos cinco anos: em todo paciente a cada 3 anos. Antes dos cinco anos: apenas em casos selecionados. Culturas de escarro ou aspirado traqueal (AT): solicitá-los em toda consulta. Dosagem de IgE total: uma vez por ano (diagnóstico da aspergilose broncopulmonar alérgica) Resultados de culturas de escarro ou aspirado traqueal (AT) Avaliar todas as culturas realizadas nos últimos 12 meses ou mais. Classificar: Primoinfecção Colonização intermitente Colonização crônica 61 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 61 17/6/2009 11:57:39 C fibrose_cistica_170609_Tales.indd 62 17/6/2009 11:57:39 (continuação) Capítulo 7 Tratamento das infecções respiratórias por bactérias diferentes de P. aeruginosa Tratamento das infecções respiratórias por bactérias diferentes de P. aeruginosa Autores: Cristina Gonçalves Alvim Francisco José Caldeira Reis Luiza Cristina Gomes Delfim 63 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 63 Paulo Augusto Moreira Camargos 17/6/2009 11:57:41 fibrose cística 64 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 64 17/6/2009 11:57:41 Tratamento das infecções respiratórias por bactérias diferentes de P. aeruginosa 7.1- Conduta diante de culturas de escarro/aspirado traqueal positivas 7.1.1-Haemophilus influenzae Tratar todas as vezes que aparecer na cultura, independentemente de ter ou não sintomas 1ª opção: amoxicilina ou amoxicilina + clavulanato por quatro semanas 2ª opção: cefalosporina de 2ª geração* se não houve erradicação ou persistência de sintomas. * Atenção para o risco de aparecimento de P. aeruginosa. 7.1.2- Staphylococcus aureus sensível à oxacilina (OSSA) Não fazer profilaxia. Tratar sempre a primeira cultura positiva, com ou sem sintomas, por três a quatro semanas. Nas culturas positivas subseqüentes, tratar sempre que estiver sintomático. Outras situações, discutir com equipe do centro de referência Atenção Considerar prolongar tratamento por até três meses se houver persistência ou recorrência de sintomas a curto prazo. Alternativa: considerar a possibilidade de descolonizar o S. aureus das vias aéreas Primeira cultura: tratar com antibiótico oral por três a quatro semanas. Se cultura subseqüente positiva ou persistência de sintoma: associar um segundo antibiótico oral, prolongando o tratamento por mais duas semanas Se persistência de nova cultura positiva ou de sintomas: antibioticoterapia venosa por duas semanas Se nova cultura positiva, após antibioticoterapia venosa, tratar apenas se sintomático 65 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 65 17/6/2009 11:57:41 fibrose cística Exacerbação leve 1ª Ca opção: amoxicilina + clavulanato ou SMZ/TMP por três a quatro semanas. 2ª opção: cefalexina. Outras opções: macrolídeo, preferencialmente claritromicina ou azitromicina. Atenção Limitar uso das cefalosporinas devido ao risco de aparecimento P. aeruginosa mucóide. Exacerbação grave Oxacilina 200mg/Kg/dia, EV, por 14 a 21 dias 7.1.3 - Staphylococcus aureus resistente à oxacilina (ORSA) Tratar sempre Exacerbação leve: Linezolida, VO, por duas ou três semanas (fazer hemograma semanal). Exacerbação grave: Vancomicina ou teicoplanina, EV, por 2 a 3 semanas ou linezolida, VO ou EV, por 14 a 21 dias. 7.1.4 - Stenotrophomonas malthophilia Na maioria das vezes não é patogênico e desaparece sem tratamento. Tratar se sintomático e se for o único agente isolado. Se assintomático, discutir com o centro de referência 1ª opção: Sulfa-trimetoprim por duas a quatro semanas 2ª opção: Cloranfenicol por duas semanas, com hemograma 7.1.5- Burkholderia cepacea Tratar sempre. Seguir antibiograma. Segregação Impedir obrigatória. situações que permitam contato com outros pacientes com FC. 66 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 66 17/6/2009 11:57:42 Fibrose Cística (continuação) Capítulo 8 Tratamento das infecções respiratórias por Pseudomonas aeruginosa Autores: Cristina Gonçalves Alvim Alberto Andrade Vergara Francisco José Caldeira Reis Maria Beatriz Marcos Bedran 67 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 67 17/6/2009 11:57:44 fibrose cística 68 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 68 17/6/2009 11:57:44 Tratamento das infecções respiratórias por Pseudomonas aeruginosa 8.1-Exacerbações Leves Ciprofloxacina por duas semanas. Considerar prolongar para três semanas se necessário. Manter antibiótico inalatório em uso (amicacina inalatória ou colimicina inalató- ria). 8.2-Exacerbações moderadas/graves Internação Ceftazidime + Amicacina ou Gentamicina (de acordo com antibiograma ante- rior), EV, por duas semanas. (Re)Iniciar Colimicina ou Tobramicina após o 10º dia de hospitalização. Considerar cefepime ou meropenen, segundo o antibiograma. Não modificar antibioticoterapia se cultura atual mostrar resistência, mas houver melhora clínica. Associar oxacilina, se cultura positiva para S. aureus nos últimos 12 meses. 8.3-Colonização crônica para p. aeruginosa: antibioticoterapia prolongada Esquema dependerá da gravidade e da evolução, progredindo do esquema 1 ao 4, conforme avaliação individual: 1-colimicina contínua; 2- tobramicina em meses alternados; 3- alternância mensal de colimicina e tobramicina (gentamicina, amicacina ou tobramicina); 4- antibiótico sistêmico a cada três meses em pacientes graves (bronquiectasias extensas, exacerbações freqüentes, cultura semi-quantitativa com crescimento abundante, declínio da função pulmonar, ganho de peso insuficiente ou perda de peso persistentes), alternado três semanas de ciprofloxacina oral com duas semanas de antibioticoterapia venosa. 69 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 69 17/6/2009 11:57:44 fibrose cística 8.4-esquema para erradicação da pseudomonas aeruginosa após o primeiro isolamento Esquema 1 1a cultura positiva p/ P. aeruginosa (ou nova cultura positiva após seis meses de culturas negativas) Ciprofloxacina, duas semanas + colimicina inalatória até resultado da cultura Se o paciente não estiver bem: antibioticoterapia venosa (ver esquema de internação) Culturas de escarro/ aspirado traqueal mensal por seis meses Cultura negativa, em qualquer momento dos 12 meses que se seguem ao primeiro isolamento Cultura positiva, em qualquer momento dos seis meses que se seguem ao primeiro isolamento Manter colimicina por 12 meses Antibioticoterapia EV, se: n)DADEANOSEOU n3INTOMASMODERADOSGRAVESEOU n-¸ADESºOAOTRATAMENTOAMBULATORIAL Alta com colimicina em dose dobrada por três meses. Culturas seguidamente negativas por um ano após o 1o isolamento = erradicação: suspender colimicina Se não apresentar nenhum critério acima: n$OBRARDOSEDACOLIMICINAPORTRÁS MESES nRepetir o tratamento com ciprofloxacina, após discussão com equipe, por duas a três semanas. Três culturas positivas com intervalo entre elas > um mês, dentro de seis meses = colonização crônica – antibioticoterapia inalatória contínua e duradoura “lifelong” 70 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 70 17/6/2009 11:57:45 Tratamento das infecções respiratórias por Pseudomonas aeruginosa Esquema 2 1a cultura positiva p/ P. aeruginosa (ou nova cultura positiva após seis meses de culturas negativas) Ciprofloxacina VO, três meses + colimicina inalatória, três meses, até resultado da cultura Pacientes menores de 12 meses: Tobramicina inalatória por 28 dias Primeira infecção por P. aeruginosa mucóide: Tobramicina inalatória por 56 dias Culturas de escarro/ aspirado traqueal mensal por seis meses Cultura positiva, em qualquer momento dos seis meses que se seguem ao primeiro isolamento Cultura negativa durante os 12 meses que se seguem ao primeiro isolamento Manter colimicina por 12 meses Antibioticoterapia EV, ceftazidime e aminoglicosídeo, por 21 dias. Colimicina INL por três meses. Culturas seguidamente negativas por um ano após o 1o isolamento = erradicação: suspender colimicina Três culturas positivas com intervalo entre elas > um mês, dentro de seis meses = colonização crônica – antibioticoterapia inalatória contínua e duradoura “lifelong” * São apresentados dois protocolos de descolonização. Os centros de referência adotarão um ou outro esquema. Deverá ser preenchido protocolo de descolonização para todo paciente, onde deverá constar: nome, data de nascimento, data da primoinfecção (ou rein71 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 71 17/6/2009 11:57:45 fibrose cística fecção), proposta de tratamento prescrita, descrição dos resultados (registro progressivo das culturas realizadas com antibiograma), registro de todos eventos avaliados como relacionados ou não ao esquema adotado. Essas informações serão armazenadas em banco de dados, o qual deverá ser reavaliado a cada seis meses até resultado conclusivo do melhor esquema a ser adotado. Projeto de pesquisa deverá ser realizado e aprovado pelos comitês de ética em pesquisa. C 72 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 72 17/6/2009 11:57:45 Fibrose Cística (continuação) Capítulo 9 Conduta em situações específicas infecciosas e Não infecciosas Autores: Paulo Augusto Moreira Camargos Luiza Cristina Gomes Delfim Francisco José Caldeira Reis 73 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 73 Maria das Graças Rodrigues de Oliveira 17/6/2009 11:57:47 fibrose cística 74 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 74 17/6/2009 11:57:47 Conduta em situações específicas infecciosas e Não infecciosas 9.1 - Resfriado comum (sintomas respiratórios leves) Sem Pseudomonas aeruginosa em culturas de escarro/aspirado traqueal (AT) nos últimos 12 meses: amoxicilina + clavulanato ou macrolídeo; Com P. aeruginosa em culturas de escarro/AT nos últimos 3 meses: Ciprofloxacina por duas semanas para pacientes que não a usaram nos últimos três meses. Tentar reservar a ciprofloxacina para as exacerbações mais do que para um simples resfriado menor, devido ao risco de resistência. 9.2 - Sinusite A maioria dos pacientes com FC apresenta alterações dos seios da face, mas apenas 1% deles apresenta sintomas sugestivos de sinusite. A radiografia simples dos seios da face não auxilia na conduta. Na presença de sintomatologia (cefaléia, obstrução nasal, gotejamento pós-nasal purulento, pigarro constante, anosmia e, especialmente, halitose): Tratar de acordo com o resultado da cultura e antibiograma (escarro/aspirado traqueal) * Considerar antibioticoterapia prolongada por três a seis semanas e uso de metronidazol. 9.3 - Sintomas moderados a graves que necessitam de internação nos casos em que não se conhece o resultado de cultura de escarro ou aspirado traqueal Iniciar antibioticoterapia de amplo espectro para cobertura de S. aureus sensível, H. Influenzae e P. aeruginosa. Cefepime + amicacina ou ceftazidime + amicacina + oxacilina. 75 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 75 17/6/2009 11:57:48 fibrose cística 9.4- Outras situações específicas 9.4.1 -Atelectasias Tratamento clínico usual (antibioticoterapia e fisioterapia). Tratamento fisioterápico com dispositivos de pressão positiva (EPAP) Broncoscopia Ressecção e lavado brônquico com dornase alfa pulmonar nos casos resistentes. 9.4.2 - Pópilos nasais Considerar uso de corticóide tópico nasal por três meses Considerar tratamento cirúrgico após avaliação otorrinolaringológica 9.4.3 - Pneumotórax Assintomático: Hospitalização e observação por 24h. Sintomático ou acometimento maior de 20% do vol total do HTx: Hospitalização Drenagem torácica - retirar quando parar de borbulhar. Considerar cirurgia se não ocorrer melhora do escape de ar em cinco dias. 9.4.4 - Hemoptise Hemoptise menor Habitualmente Se não requer tratamento específico. persistir, considerar exacerbação de infecção pulmonar. Afastar fatores desencadeantes, como uso de ácido acetilsalicílico, antiinflamatórios não-hormonais. Hemoptise maior: Maioria Excluir auto-limitada e não exige de broncoscopia. medicações que alteram a crase sanguínea. 76 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 76 17/6/2009 11:57:48 Conduta em situações específicas infecciosas e Não infecciosas Propedêutica: radiografia de tórax, cultura de escarro. Tratamento: Sedar se necessário. Vit K. Transfusão. ATB específico à colonização. 9.4.5 - Aspergilose broncopulmonar alérgica Investigar na tosse persistente, sibilos não responsivos ao tratamento usual, febre, malestar, expectoração escura (amarronzada ou enegrecida). Diagnóstico Critérios maiores: Radiografia de tórax infiltrado > 1 cm e colapso segmentar. Bronquiectasia cilíndrica à radiografia de tórax (bronquiectasia central). Aumento de IgE sérica, IgE e IgA (IgG) específicas para Aspergillus fumigatus. Eosinofilia. Teste alérgico positivo. Broncoespasmo (broncoespasmo reversível). Critérios menores: Rolhas marrons ou pretas no escarro. Reação cutânea tardia. Cultura de escarro positiva para Aspergillus. Tratamento Prednisona 2mg/Kg/dia por duas semanas - 1mg/Kg/dia por 2semanas 1mg/Kg/dia em dias alternados por duas semanas. Redução lenta por 4-6 meses (deve ser acompanhada pela dosagem de IgE) Itraconazol Corticóide < 12 anos 5mg/Kg/d; > 12 anos 200mg/d. a longo prazo 9.4.6 - Hipoxemia Hipoxemia crônica diurna: 77 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 77 17/6/2009 11:57:48 fibrose cística Saturimetria < 92% quando não exacerbado: realizar gasometria arterial no mesmo dia. Ca É diagnóstico uma PaO2<55 torr em repouso, em ar ambiente. Conduta: Intensificação das medidas terapêuticas padrão. Oxigênio suplementar contínuo: alcançar PaO2>60 Torr sem efeitos adversos na PaCO2 arterial ou pH. Hipoxemia noturna: Investigar em todo paciente que tiver saturação menor que 92%. Conduta: Suplementação de oxigênio; indicações: 10% ou mais do tempo de sono total com saturação < 90% ou saturação < 90% por cinco minutos consecutivos Em ambiente hospitalar paciente mantém saturação < 90% por 5% do tempo 78 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 78 17/6/2009 11:57:48 (continuação) Capítulo 10 Conduta em situações específicas infecciosas e Não infecciosas Outras modalidades de tratamento Autores: Alberto Andrade Vergara Irmgard de Assis Maria Beatriz Marcos Bedran 79 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 79 Wilson Rocha Filho 17/6/2009 11:57:52 fibrose cística 80 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 80 17/6/2009 11:57:52 Outras modalidades de tratamento 10.1 - TRATAMENTO MUCOLÍTICO: Dornase alfa Indicações da dornase alfa (DNase) VEF1< 70% do valor previsto (após otimização de outras terapêuticas usuais) ou tomografia de tórax de alta resolução com bronquiectasias Como administrar: 1 ampola de 2,5 mL uma vez ao dia. 10.2 - AZITROMICINA Indicações: Como antibiótico convencional. Pacientes que não se beneficiaram após 3 meses de DNase. Colonização crônica por Pseudomonas aeruginosa com evolução desfavorável. 10.3 - SALINA HIPERTÔNICA A 7,0% Indicações: Na indução de escarro em pacientes com tosse improdutiva e cultura negativa. Pacientes que não respondem a DNase. Pacientes que apresentam exacerbações infecciosas freqüentes. * Iniciar com monitorização hospitalar. Realizar saturimetria antes e após a nebulização. 10.4 - CORTICOTERAPIA ORAL (prednisona 1 a 2 mg/kg/dia) Indicações 81 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 81 17/6/2009 11:57:52 fibrose cística Aspergilose Broncoespasmo Estados Ca broncopulmonar alérgica. de difícil controle (prescrever pelo menor tempo possível). terminais. 10.5 - CORTICOTERAPIA INALATÓRIA (Budesonida spray oral 200mcg/ jato; 1 a 4 jatos/dia) Indicações: Sibilância que requer uso regular do broncodilatador. 10.6 - B2 DE LONGA DURAÇÃO Indicação: Em associação ao corticóide inalatório quando doses moderadas ou altas são requeridas para controle de hiperreatividade brônquica. 10.7 - BRONCOSCOPIA Indicações: Necessidade Criança de diagnóstico microbiológico (ausência de secreção) não-responsiva ao tratamento venoso. Deterioração Colapso clínica em paciente previamente não infectado com P aeruginosa. focal persistente/consolidação. Sibilância intratável (excluir broncomalácia e outras condições). Hemoptise (indicação formal de broncoscopia rígida). ATENÇÃO AOS SEGUINTES ASPECTOS: Verificar adesão a medicamentos de uso prolongado: colimicina, tobramicina, pulmozyme, azitromicina, corticóide inalatório, beta 2 de longa duração. Verificar a técnica inalatória. Verificar a vacinação (esquema básico + antipneumocócica + anti-Influenza). 82 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 82 17/6/2009 11:57:52 Fibrose Cística (continuação) Capítulo 11 Transplante pulmonar em fibrose cística Autores: Marcelo Bicalho de Fuccio 83 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 83 Valéria Maria Augusto 17/6/2009 11:57:57 fibrose cística A avaliação sistemática de fatores prognósticos evita o encaminhamento de pacientes em condições clínicas desfavoráveis. 11.1 - Indicações VEF1<30% (ou rápido declínio) Esse parâmetro deve ser analisado em conjunto com outras condições médicas. Não deve ser considerado isoladamente como indicação. Distância caminhada em 6 minutos abaixo de 400 metros Hipercapnia Insuficiência respiratória dependente de oxigênio Hipertensão arterial pulmonar clinicamente ou não evidente (Pressão sistólica de artéria pulmonar acima de 35 mmHg) Exacerbações e internações freqüentes com piora da função respiratória Complicações pulmonares que ameacem a vida (ex.: Hemoptise maciça) Aumento da resistência antimicrobiana 11.2 - Contra-indicações Contra-indicações absolutas Contra-Indicações psicológicas e sociais: Etilismo, tabagismo ou drogadição. Distúrbios psiquiátricos que levem a não adesão ao tratamento pré e pós-trans- plante. Incapacidade Falta de aderir ao plano de tratamento. de sistema de suporte social adequado. Contra-indicações médicas não-infecciosas: Disfunção ventricular esquerda significativa. Disfunção hepática significativa ou hipertensão porta. Insuficiência Diabetes renal. mellitus com lesão significativa de órgão alvo. Neoplasia nos últimos 5 anos. Osteoporose (abaixo de limiar de fratura, ou fraturas vertebrais sintomáticas). Incapacidade de deambular. 84 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 84 17/6/2009 11:57:57 Transplante pulmonar em fibrose cística Outras doenças sistêmicas que comprometem a sobrevivência com ou sem trans- plante. Paralisia Doença diafragmática. pulmonar restritiva grave, associada à disfunção da parede torácica. Desnutrição Obesidade grave (IMC < 17). morbida Contra-indicações médicas infecciosas: HIV. Tuberculose Hepatite (Passado de TBC tratado deve ser decisão de cada centro de transplante). B (HbsAg positivo). Infecção pela Burkholderia cepacia (será considerada contra-indicação absoluta neste centro). Contra-indicações relativas Infecciosas Micobacteriose Atípica: não há evidências sobre a evolução de transplantados infectados. Considerar que a resposta terapêutica é frusta.Tratamento pré-transplante deve ser considerado em colonizados. Colonização por bactérias multi-resistentes (infecção por pseudomonas aeruginosa multi-resistente não é considerada contra-indicação). Infecção por fungos: há maior risco de envolvimento fúngico precoce na anastomose. Não há evidências de maior risco de pneumonia fúngica. Tais condições devem ser tratadas sistemicamente, não há definição sobre a profilaxia com anti-fúngicos. Não infecciosas Idade acima de 65 anos. Múltiplas co-morbidades (Diabetes, hipertensão arterial, refluxo gastro-esofágico, úlcera péptica). 11.3 - Outras considerações Sinusopatia: a avaliação dos seios da face deve ser realizada pré-transplante, quando deve ser considerada a intervenção. Casos selecionados de portadores de cirrose hepática com hipertensão portal: considerar transplante de pulmão + fígado. Diabetes mellitus relacionada a fibrose cística é fator de piora funcional pulmonar. Tais pacientes devem ser considerados precocemente para encaminhamento ao centro de transplante. Nutrição: IMC deve estar acima do percentil 25% e peso acima de 80% do peso ideal. 85 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 85 17/6/2009 11:57:58 Ca fibrose_cistica_170609_Tales.indd 86 17/6/2009 11:57:58 Transplante pulmonar em fibrose cística (continuação) Capítulo 12 Abordagem fisioterápica Autores: Sandra Ribeiro Pires Luciana Ribeiro Sampaio Maria Cristina Rocha Pimenta Flávia Cassimiro Silva Viegas Maria de Lourdes Penna Santos 87 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 87 Juliana Lopes Mascarenhas Dalle 17/6/2009 11:58:03 fibrose cística 88 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 88 17/6/2009 11:58:03 Abordagem fisioterápica O tratamento de fisioterapia deve ser realizado com o menor consumo de tempo possível em relação à eficácia do mesmo, tendo como consequênciauma melhor qualidade de vida 12.1- Coleta de secreção Lactentes: Crianças Aspirado traqueal (AT). e adultos: escarro . Atenção Quando a criança não expectora espontaneamente: induzir com solução salina hipertônica. 12.2 - Avaliação respiratória e motora Avaliar: Padrão respiratório. Ausculta respiratória. Saturação de oxigênio. Freqüência respiratória e cardíaca. Desenvolvimento neuropsicomotor. 12.3 - Orientações aos pais Explicar objetivo do tratamento fisioterápico para melhor adesão ao tratamento. Aprendizado Atividade nas técnicas utilizadas para desobstrução pulmonar. física. Aerossolterapia. 12.4- Estímulos proprioceptivos Devem ser realizados nos recém-nascidos e lactentes não-colonizados para evitar a hiperinsuflação pulmonar e auxiliar a mobilização pulmonar. 89 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 89 17/6/2009 11:58:03 fibrose cística 12.5 - Técnicas utilizadas para desobstrução brônquica Atenção Devem ser realizadas antes das refeições para evitar refluxo gastroesofágico. Em lactentes com doença do refluxo gastroesofágico, as manobras devem ser realizadas evitando a inclinação da cabeça para baixo. 12.5.1 - Menores de dois anos: • Drenagem postural modificada: tempo mínimo de execução 20-30 minutos. Pode ser realizada quantas vezes forem necessárias. • Tapotagem/vibração: tempo mínimo de 20-30 minutos. Podem ser realizadas quantas vezes forem necessárias. Quando necessário, devem ser associadas à drenagem postural modificada. Pode ser realizada com o bico da mamadeira ou por meio de vibrador portátil. • Expiração lenta prolongada (ELPR): técnica passiva aplicada ao lactente. Não tem tempo exato de execução (utilizar até melhora da ausculta respiratória). • • • • Aumento do fluxo expiratório (AFE): mesma indicação da ELPR Drenagem autógena assistida: Deve ser realizada de duas a três vezes por dia. Técnica passiva aplicada ao lactente para auxiliar na mobilização de vários volumes e fluxos expiratórios. • Desobstrução rinofaríngea retrógrada (DRR). Pode ser realizada de acordo com a necessidade. Desobstrução das vias aéreas extra-torácicas. • Estímulo do desenvolvimento neuropsicomotor. • Brincadeiras associadas à respiração: qualquer tipo de brincadeira que trabalhe a respiração: bolinha de sabão, língua de sogra, soprar algodão, etc. Atenção Lactentes com refluxo gastroesofágico: elevar a cabeceira e realizar antes da refeição. 12.5.2 - Dois a três anos • Drenagem postural modificada: mesma indicação faixa etária anterior. • Tapotagem / vibração: mesma indicação faixa etária anterior. 90 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 90 17/6/2009 11:58:03 Abordagem fisioterápica • Desobstrução rinofaríngea retrógrada: mesma indicação faixa etária anterior. • Drenagem autógena assistida: mesma indicação faixa etária anterior. • Técnica de expiração forçada (TEF) a alto volume pulmonar ou Huff: visa a desobstrução das vias aéreas centrais. Deve ser realizada duas vezes e seguida de período de descanso. Acompanha qualquer técnica de desobstrução. • É conhecida como embaçar o espelho. Gera menos pressão na via aérea do que a tosse. • Estímulo do desenvolvimento neuropsicomotor: estímulo do desenvolvimento motor de acordo com a faixa etária. Brincadeiras associadas à respiração: Cama elástica, velotrol , bolinha de sabão, língua de sogra, soprar algodão,etc. 12.5.3 - Três a seis anos • Drenagem postural. • Tapotagem / vibração. • Desobstrução rinofaríngea retrógrada (DRR). • Drenagem autógena assistida. • Drenagem Autógena (DA): • Com a criança maior tentar a realização da técnica independente de auxílio externo. Pode ser realizada até três vezes por dia. • Tempo de execução em cada sessão de 30-45 minutos. Técnica difícil de ser aprendida. Necessita de treinamento mínimo de 72 horas para execução correta. • Ciclo ativo das técnicas de respiração: técnica que dá independência para a criança. Pode ser realizada até três vezes ao dia com tempo de sessão de 10 a 30 minutos. Pode ser associada com a drenagem postural. • EPAP/ EPAP selo d’água / Flutter / Shaker / Acapella®: Tipos diferentes de pressão positiva expiratória. Podem ser realizados até três vezes ao dia por até 15 minutos. 91 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 91 17/6/2009 11:58:03 fibrose cística • Técnica de expiração forçada (TEF) a alto volume pulmonar ou Huff . • Brincadeiras associadas à respiração. • Exercício físico de acordo com a idade. Ca • Cinesioterapia. 12.5.4 - Acima de seis anos Drenagem Postural. Tapotagem / Vibração. Desobstrução Ciclo rinofaríngea retrógrada (DRR). ativo das técnicas de respiração. Expiração EPAP/ lenta total com a glote aberta (ELTGOL). EPAP selo d`água /Flutter / Shaker / Acapella®. Cinesioterapia. Testes submáximos com reavaliações periódicas (teste do degrau, teste da caminhada de seis minutos). Exercício físico. 12.6- Aerossolterapia Broncodilatador e mucolítico: Devem ser realizados antes da fisioterapia desobstrutiva da via aérea Antiinflamatório e antibiótico: Devem ser realizados após a fisioterapia desobstrutiva da via aérea 12.7- Freqüência da fisioterapia Pacientes sintomáticos: Realizar no mínimo duas vezes ao dia. Pacientes assintomáticos: Realizar duas vezes ao dia. 92 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 92 17/6/2009 11:58:03 Abordagem fisioterápica (continuação) Capítulo 13 Aspectos psicossociais do paciente com fibrose cística Autores: Valéria Evangelista Guimarães 93 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 93 Margarida Maria Gontijo de Brito Soares 17/6/2009 11:58:06 fibrose cística 94 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 94 17/6/2009 11:58:06 Aspectos psicossociais do paciente com fibrose cística 13.1- Tópicos importantes a serem considerados • Não infantilizar ou não superproteger a criança, pois essa atitude só prejudica o tratamento. É importante que ela possa vivenciar as diversas etapas de sua vida sem carregar o estigma da doença, mas ao mesmo tempo sendo informada e participando do tratamento. • Preservar as relações dentro do núcleo familiar, pois delas dependerão uma boa adesão ao tratamento e a garantia de uma boa qualidade de vida para o paciente. • Ensinar às crianças desde pequenas a saber se expressar para que possam se sentir seguras no meio social. • Entre quatro e dez anos: a instauração de hábitos de cuidados é de suma importância para o desenvolvimento. Alguns hábitos são: hábitos adequados de alimentação, realização de tratamentos respiratórios, uso de medicação, higiene pessoal, etc. ATENÇÃO para: Desobediência ( também chamada de negação desafiante ou problema de conduta): pode prejudicar o tratamento se a criança se nega a se submeter ao mesmo e são criadas tensões e discussões quando os pais não sabem como manejar. Esse problema é freqüente na infância. Os problemas da alimentação, como falta de apetite e de bons hábitos alimentares, também repercutem seriamente no tratamento. 13.2- Prevenção dos transtornos emocionais Infância Até os quatro anos, os pais se ocupam dos cuidados com a saúde da criança, porém a partir desta idade, devem fazer com que os filhos participem de seus próprios cuidados. Adolescência Podem surgir os seguintes problemas: Rebeldia Vergonha por se sentirem diferentes Auto-imagem versus auto-estima Auto-controle Adulto Vida profissional versus tratamento; Insegurança diante de planejamentos a longo prazo; Relacionamentos conjugais, planejamento familiar. 95 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 95 17/6/2009 11:58:06 fibrose cística 13.3- intervenções durante o acompanhamento Ca Indicações da atuação da psicologia: Enunciado da FC na triagem neonatal; Adesão ao tratamento; Indicação e acompanhamento dos pacientes com gastrostomia; Internação prolongada; Transplante; Óbito. Objetivos da atuação da psicologia: Promover um acolhimento e acompanhamento inicial no diagnóstico. Garantir uma melhor relação da família com a realidade do dia-a-dia, do tratamento e das pessoas envolvidas. Encaminhamento para tratamento na cidade de origem, quando o paciente não puder ser acompanhado no centro; Trabalhos da psicologia em dinâmicas de grupo. Ouvir pacientes e familiares no tocante às suas angústias e à forma de lidar com a doença na família e no social. Atendimento aos paciente/familiares com o objetivo de prepará-los para cirurgias e quaisquer outros procedimentos invasivos. Participação em reuniões interdisciplinares, discussão de caso com a equipe, ações terapêuticas na equipe. Atuar como facilitador junto aos pacientes e familiares no enlace social e com a equipe multidisciplinar e institucional, objetivando melhores resultados. Espaço Lúdico: Trabalhar com a criança suas angústias e dificuldades num espaço apropriado à linguagem infantil, onde por meio do simbólico extraído de trabalhos lúdicos ela possa se expressar e, “falando” a seu modo, possamos identificar seus sintomas subjetivos onde então atuaremos em seu tratamento. 96 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 96 17/6/2009 11:58:06 Abordagem do paciente adulto com fibrose cística (continuação) Capítulo 14 Abordagem do paciente adulto com fibrose cística Autor: Marcelo Bicalho de Fuccio 97 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 97 17/6/2009 11:58:09 fibrose cística 98 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 98 17/6/2009 11:58:09 Abordagem do paciente adulto com fibrose cística Princípios gerais da assitência ao paciente adulto 1. Mínimo de quatro visitas médicas ao ano. Os casos especiais necessitam visitas mais freqüentes. 2. O atendimento de urgência pode ser realizado no ambulatório de fibrose cística ou em outros hospitais ou ambulatórios, como nos centros de atendimento primário. A assistência deve ser compartilhada entre os serviços (ambulatório de FC e local do atendimento de urgência). 3. Pelo menos uma consulta anual para avaliação conjunta dos membros da equipe multidisciplinar (médico, fisioterapeuta, psicólogo, nutricionista) com enfoque na adesão, questões médicas e psicossociais. 4. Os pilares do tratamento são: 1. Antibioticoterapia 2. Limpeza das vias aéreas (fisioterapia respiratória) 3. Suporte nutricional 14.1 - Exacerbações infecciosas Normas gerais do tratamento: Colher escarro para cultura e antibiograma antes de iniciar o antimicrobiano. A escolha do antimicrobiano deve ser baseada nos últimos resultados destes exames. Evitar monoterapia nos casos de Pseudomona aeruginosa. 14.1.1 - Antibióticos usados no tratamento ambulatorial: Patógenos Staphylococcus aureus (sensível) Staphylococcus aureus (resistente a meticilina) Estável clinicamente Haemophilus influenzae Antimicrobiano Dose Amoxicilina/clavulanato 500 mg 8/8 h Cefalexina 500 mg 6/6 h Claritromicina 500 mg 12/12 h. Azitromicina 500 mg (dose inicial), segue 250 mg 24/24h. Eritromicina 500 mg 6/6 h. Clindamicina 1200 mg a 1800 mg/dia de 06/06 h Linezolida 600 mg 12/12h. por 21 dias Amoxicilina 500 mg 8/8 h. Amoxicilina/clavulanato 500 mg 8/8 h. Cefixima 400 mg 12/12 h. Cefaclor 750 mg 12/12 h. 99 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 99 17/6/2009 11:58:10 fibrose cística Patógenos Pseudomonas aeruginosa Burkholderia cepacia Antimicrobiano Dose Ciprofloxacin Associado a um dos seguintes 750 mg 12/12 h. Tobramicina inalatória 300 mg 12/12 h. Colimicina inalatória 150 mg 12/12 h. Amicacina inalatória 250 mg 12/12 h. Sulfametoxazol + Trimetoprim 800mg/160 mg 12/12 h. Doxiciclina 200 mg dose inicial seguido 100 mg 12/12 h. Minociclina 200 mg dose inicial seguido 100 mg 12/12 h. 14.1.2 - Antibióticos usados no tratamento hospitalar (intravenoso): Patógeno Staphylococcus aureus (sensível) Antimicrobiano Oxacilina 1,0 g 6/6 h Cefazolina 1g 8/8 h Vancomicina 1g 12/12 h Teicoplamin 12mg/Kg de 24/24h (casos graves: as 3 primeiras doses devem ser de 12/12 h) Staphylococcus aureus (meticilina resistente ) Dose β-Lactâmicos(1ª escolha) Pseudomonas aeruginosa Ceftazidime 2 g 8/8 h(6,0g/dia?) Ticarcilina 3 g 6/6h Piperacilina 3 g 6/6 h Imipenem 500 mg 6/6 h Meropenem 2 g 8/8 h Aztreonam 2 g 8/8 h Associados a um aminoglicosídeo: Tobramicina 3mg/Kg 8/8 h Amicacina 5-7,5mg/Kg 8/8h Meropenem 2 g 8/8 h Associado a: Burkholderia cepacia Minociclina 100mg iv ou vo 12/12h Amicacina 5-7,5mg/Kg 8/8h Ceftazidime 2g 8/8 h Cloranfenicol 15-20 mg/kg 6/6 h Sulfametoxazol / Trimetoprim 4-5mg/Kg (Trimetroprim) 12/12h 100 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 100 17/6/2009 11:58:10 Abordagem do paciente adulto com fibrose cística (continuação) Patógeno Stenotrophomonas maltophilia Achromobacter xylosoxidans Antimicrobiano Dose Ticarcilina/Clavulanato 3 g 6/6 h Sulfametoxazol / Trimetoprim 4-5mg/Kg (Trimetroprim) 12/12h Ticarcilina/Clavulanato + Aztreonam 3 g 6/6 h +2 g 8/8 h 15-20 mg/Kg 6/6 h + Cloranfenicol + Minociclina 100 mg iv ou vo 12/12h 400 mg 12 / 12 h + 500 mg – 1g 6/6 h ou 2 g 8/8 h Ciprofloxacin +Imipenem ou Meropenem 14.1.3 - Terapia antimicrobiana crônica supressiva: Considerar em adultos colonizados por Pseudomonas sp com VEF1 entre 25% a 75% do previsto. Terapias: 1. Inalatória: Tobramicina (1a escolha) ou Colimicina ou Amicacina. Curso de tratamento de 28 dias, intercalado por 28 dias de descanso por 6 meses. Ou intercalar duas drogas em períodos de 28 dias, sem períodos de descanso (ex. tobramicina e colimicina). 2. Endovenosa: Cursos de 2 semanas de antibiotico (baseado em cultura de escarro) a cada 3 meses 14.1.4- Antibióticos usados na Micobacteriose Atípica Patógeno Antimicrobiano Mycobacterium avium Claritromicina* intracellulare complex Dose Monitorar 15-30 mg/Kg/dia até máximo de 500 mg 12/12 h. Via Oral Rifampicina 10-20 mg/Kg/dia até máximo, 600 mg 24/24 h. Via Oral Hemograma Rifabutina 5-10 mg/Kg/dia até máximo 300 mg 24/24 h. Via Oral Hemograma 101 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 101 17/6/2009 11:58:10 fibrose cística (continuação) Considerar em casos graves Etambutol 25 mg/Kg/dia. Via Oral Sintomas visuais e acústicos Estreptomicina 500-750 mg 2 a 3 vezes por semana, Intravenosa, nas 8 primeiras semanas Função renal, audiometria Patógeno Mycobacterium abscessus Antimicrobiano Dose Monitorar 200 mg/Kg/dia até máximo de 12g. (Dividir de 8/8 h). Via Hemograma Intravenosa Cefoxitina 10-15 mg/Kg/dia. (Dividir de 12/12 h). Amicacina Via Intravenosa Função renal, audiometria 15-30 mg/Kg/dia até máximo de 500 mg 12/12 h. Via Oral Claritromicina* * Níveis reduzidos pela rifampicina/rifabutina ATENÇÃO: Avaliar ressecção cirúrgica se infecção localizada. 14.2 - Aspergilose broncopulmonar alérgica 14.2.1 - Critérios diagnósticos e recomendações de tratamento: IgE total sérica (UI/mL) Sintomas pulmonares e/ou piora na função pulmonar Novas alterações Radiológicas (TC ou Rx Tórax) Sorologia positiva (IgG ou IgE AspergillusEspecífico ou presença de precipitinas para Aspergillus fumigatus) 1. > 1000 ou elevação de 2 vezes o valor basal Sim Sim Sim Recomendação de tratamento Tratar para ABPA 102 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 102 17/6/2009 11:58:10 Abordagem do paciente adulto com fibrose cística (continuação) 2. > 1000 ou elevação de 2 vezes o valor basal 3. > 1000 ou elevação de 2 vezes o valor basal 4. > 1000 ou elevação de 2 vezes o valor basal Não Não Sim Não Sim Não Sim Não tratar para ABPA. Monitorar IgE, Rx, PFP Sim Tratar para infecção, considerar tratamento para ABPA se não houver melhora Sim Considerar tratamento para ABPA, infecção e/ ou asma 5. > 500 no passado, sem mudança do basal Sim Sim Sim Tratar para infecção, considerar tratamento para ABPA ou asma se não houver melhora 6. 500-1000 Sim Sim Sim Tratar para ABPA TC: Tomografia computadorizada de tórax. Rx: Radiografia de tórax. PFP: Prova de função pulmonar. 14.2.2 - Considerações e condutas em situações clínicas específicas: Cenário 1: Inequívoca exacerbação por ABPA Considerar infecção associada (escarro purulento, leucocitose). Cenário 2: ABPA assintomática Risco de evoluir para doença sintomática. Monitorar IgE, Sórologia específica para Aspergillus, PFP e Rx e/ou TC tórax. Cenário 3: Suspeita ABPA: piora radiológica, sem sintomas Considerar tratamento para ABPA após inicio dos antibióticos. Principalmente se altos níveis de IgE. Cenário 4: Suspeita ABPA: com descompensação pulmonar, sem piora radiológica O julgamento clínico é fundamental nesta situação. Pode ser abordado como um dos três cenários anteriores. Se optado por tratar para ABPA, concomitantemente devem ser dados antibióticos (risco de exacerbação respiratória com a administração de alta dose de corticóide). Cenário 5: ABPA prévia com piora funcional e radiológica, sem alteração sorológica 103 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 103 17/6/2009 11:58:10 fibrose cística Infecção ou asma são as primeiras hipóteses. Considerar ABPA se não houver melhora após tratamento antimicrobiano e/ou anti-asmático. Cenário 6: Insucesso no tratamento para FC, piora funcional e radiológica, IgE entre 500-1000 Tratar para ABPA. Se a suspeita clínica for de infecção, tratar para infecção associado ao tratamento para ABPA. 14.2.3 - Tratamento da ABPA: Corticóide sistêmico: Prednisona (ou equivalente): 0,5 a 2 mg/Kg/dia (máximo de 60 mg/dia) por 1 a 2 semanas. Em seguida, mantém-se a mesma dose em dias alternados por mais duas semanas. Realiza-se a retirada gradual em 4 a 6 meses. Anti-fúngico: Caso haja piora clínica na retirada do corticóide deve ser iniciado anti-fúngico Itraconazol: 5 mg/Kg/dia. Administração diária única se dose até 200 mg/dia. Doses maiores que 200mg/dia devem ser administradas de 12/12 h.. Dose máxima: 400 mg/dia. Tempo de tratamento: 3 a 6 meses.Monitorar função hepática. Corticóide Inalatório e Broncodilatadores: Devem ser utilizados para tratar o componente asmático associado e não a ABPA. 14.3 - Agentes mucolíticos 1. Dnase recombinante humana Indicações: VEF1< 70% do valor previsto (após otimização de outras terapêuticas usuais) ou tomografia de tórax de alta resolução com bronquiectasias Nos pacientes em que foi optado o tratamento com Dnase, deve ser feita uma análise longitudinal do benefício da droga. Avaliar: • Sintomas. • Número de exacerbações. • Evolução das provas funcionais. • Caso indicado: alterações radiológicas, colonização bacteriana das vias aéreas. • Micronebulização com solução salina hipertônica: 104 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 104 17/6/2009 11:58:10 Abordagem do paciente adulto com fibrose cística Indicações: Na indução de escarro em pacientes com tosse improdutiva e cultura negativa. Pacientes que não respondem a DNase. Pacientes que apresentam exacerbações infecciosas freqüentes. * Iniciar com monitorização hospitalar. Realizar saturimetria antes e após a nebulização 14.4 - Broncodilatadores A prescrição de broncodilatadores deve ser analisada caso a caso e de acordo com a resposta terapêutica e/ou efeitos adversos. São medicações bem toleradas, que trazem, na maioria das vezes, efeitos benéficos, mas alguns pacientes apresentam piora ao uso de broncodilatadores. Nesses casos a medicação broncodilatadora deve ser suspensa. Beta 2 Agonistas devem ser prescritos pela via inalatória, não sendo recomendável a via oral. Curta duração: Salbutamol spray 100 mcg em espaçador valvulado de grande volume, até de 01/01 hora. Longa duração: Salmeterol 50 mcg 12/12h (Diskus ou Spray com espaçador valvulado de grande volume) Formoterol 12 mcg 12/12h (Cápsulas ou Spray com espaçador valvulado de grande volume) Anticolinérgicos: Brometo de Ipratrópio Spray com espaçador valvulado de grande volume 14.5 - Terapias antinflamatórias Azitromicina: Indicação: Pacientes que não se beneficiaram após 3 meses de DNase. Colonização crônica por Pseudomonas aeruginosa com evolução desfavorável. Dose: 500 mg 3 vezes por semana por 6 meses. 105 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 105 17/6/2009 11:58:10 fibrose cística Atenção: Antes de iniciar o tratamento realizar BAAR no escarro (descartar microbacteria atípica a fim de evitar resistência). Pacientes que forem submetidos a esse tratamento devem ser reavaliados clinica e funcionalmente com objetivo de determinar a manutenção ou suspensão. 14.6 -Corticóides Corticóides inalatórios: indicado para os pacientes com sintomas compatíveis com asma. Corticoides sistêmicos a longo prazo: devem ser evitados. 14.7 - Ibuprofeno Algum benefício em pacientes levemente acometidos (VEF1 > 60% previsto). Avaliar risco/benefício. Dose: 20 a 30 mg/Kg. Máximo de1600 mg 12/12 h. ATENÇÃO: Monitorar dose sérica. Monitorar a função renal 6/6 meses. Avaliar sinais e sintomas gastrointestinais. Não deve ser utilizado em pacientes moderado a gravemente acometidos. 14.8 - Suplementação de oxigênio Indicações: O2 por 24 horas diárias: PaO2 < 55 mmHg em ar ambiente em repouso ou PaO2 < 59 mmHg com evidências eletrocardiográficas de sobrecarga de câmaras cardíacas direitas ou policitemia O2 durante exercício: Se SO2 < 90% O2 noturno: SpO2 < 90% por pelo menos 10% do total do sono Em ambiente hospitalar paciente mantém saturação < 90% por 5% do tempo 106 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 106 17/6/2009 11:58:10 Abordagem do paciente adulto com fibrose cística 14.9 - Insuficiência pancreática e suplementação de enzimas pancreáticas Diagnóstico de IP Esteatorréia: Clinicamente volumosa: IP sem necessidade de comprovação laboratorial. Clinicamente não volumosa ou questionável: necessidade de diagnóstico da esteatorréia e da IP: gordura fecal de 24h em fezes de 72h (técnica de Van de Kamer) e dosagem da elastase fecal, se disponíveis. Outros sinais/sintomas clínicos*: Perda de peso ou baixo peso. Flatulência, desconforto abdominal. Deficiência de vitaminas lipossolúveis. *Indicado realização de gordura fecal de 24h e de elastase fecal. Administração e prescrição: As cápsulas de enzimas devem ser administradas imediatamente antes da ingestão do alimento. Em geral há necessidade de 500 a 4000 U de lipase por grama de gordura ingerida por dia. Como calcular a dose: 500 U lipase por quilo por refeição principal, metade dessa dose nos lanches (se a refeição contiver menor teor de gordura). Após remissão da esteatorréia, reduzir a dose até a mínima necessáriaSe persistir esteatorréia (clínica ou na avaliação da gordura fecal de 24h em fezes de 72 h): aumentar a dose em 150U/Kg a 250 U/Kg por refeição até remissão dos sintomas. Não ultrapassar 2500 U/Kg por refeição. Atenção Avaliar redução da dose de enzimas pancreáticas nos pacientes que utilizam por refeição mais de 2500 U de lipase /Kg. – Casos refratários apesar de dose adequada de enzimas: Avaliar adesão. Administrar enzima entre refeições. Avaliar supressão da acidez gástrica: Prescrever bloqueadores H2 ou inibidores da bomba de prótons. 107 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 107 17/6/2009 11:58:10 fibrose cística – Caso persistam os sintomas, considerar : Gastroenterite infecciosa. Parasitose. Intolerância a glicose. Super crescimento bacteriano intestinal. Colestase. Doença por Clostridium difficile. Doença celíaca. Síndrome do intestino curto. Doença de Crohn. Alergia alimentar. Tumor intestinal. 14.10- Condutas no paciente desnutrido Classificação de estado nutricional, segundo índice de massa corporal (IMC) Eutrófico: IMC entre 20- 25 Desnutrido: IMC < 19 Intervenção nutricional deve ser instituída em indivíduos com critérios de desnutrição ou evoluindo com perda de peso. A intervenção nutricional pode ser realizada com a suplementação da via oral ou com suporte nutricional invasivo. O suporte nutricional invasivo é realizado por sonda nasoentérica ou por gastrostomia, em casos selecionados. Suporte nutricional parenteral por curto prazo pode ser considerado em pacientes gravemente desnutridos com via oral/enteral suspensa. A longo prazo, a via nasoentérica ou por gastrostomia é mais apropriada e segura. 14.11- Vitaminas lipossolúveis Vitamina Aspectos clínicos da deficiência Dose diária a ser suplementada Vitamina A Conjuntiva seca, cegueira noturna 10.000 IU Vitamina D Doença óssea metabólica 400 a 800 IU; exposição solar regular 108 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 108 17/6/2009 11:58:10 Abordagem do paciente adulto com fibrose cística Vitamina E Degeneração espino-cerebelar, anemia hemolítica 200 a 400 IU Vitamina K Discrasia sangüínea 2,5 a 5 mg/semana Avaliação anual laboratorial, se disponível, de Retinol, Vitamina E, 25-hydroxyvitaminD (25-OHD),RNI. 14.12 - Diabetes relacionado a fibrose cística (DRFC) Classificação Glicemia em jejum (mg/ dL) Glicemia 2 horas após ingestão de 75g de glicose Tolerância normal a glicose 70-99 < 140 Intolerância a glicose 100-125 140-199 Diabetes sem hiperglicemia de jejum < 126 > 200 Diabetes com hiperglicemia de jejum ≥ 126 ≥ 200 Diabetes intermitente ≥ 126 em infecções, nutrição enteral, uso de corticóides ≥ 200 em infecções, nutrição enteral, uso de corticóides Avaliação laboratorial: Glicemia de jejum – Anual Tolerância oral a glicose – Anual Hemoglobina glicosilada – Somente deve ser realizada para monitorar casos já diagnosticados de DRFC. Tratamento: Aspectos gerais: 1. Manter o estado nutricional otimizado. 2. Dieta hipercalórica e hiperprotéica. 3. Controlar glicemia para evitar complicações a curto e longo prazo da DM. 4. Evitar hipoglicemia grave. 5. Adaptação social, emocional e psicológica à realidade da fibrose cística e diabetes. 109 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 109 17/6/2009 11:58:11 fibrose cística Tratamento farmacológico: Insulina. Não é recomendado o uso de hipoglicemiantes orais. Controle anual de complicações microvasculares: 1. Urina rotina. 2. Fundo de olho. 14.13- Doença Hepato-biliar Avaliação anual de: TGO. TGP. Fosfatase Alcalina. GGT. Bilirrubina total e frações. Proteína total e Albumina. RNI. Hemograma, glicemia, colesterol: se suapeita clínica de hipertensão portal e hiperesplenismo. Se qualquer enzima hepática 1.5 vez acima do normal: repetir a avaliação da função hepática em 3 a 6 meses. Mantendo alteração laboratorial, prosseguir com propedêutica. TGO e TGP alteradas, avaliar: – Hepatites virais. – Citomegalovirose. – Vírus Epstein-Barr. – Álcool, drogas, toxinas. – Doença hepática relacionada à fibrose cística. GGT ou Fosfatase Alcalina alteradas, avaliar: Obstrução biliar. Colelitíase, colecistite. Doença óssea 110 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 110 17/6/2009 11:58:11 Abordagem do paciente adulto com fibrose cística Na suspeita desses diagnósticos: Realizar ultrassonografia abdominal. Tratamento: Seguimento em conjunto com hepatologista. Tratamento farmacológico Ácido Ursodeoxicólico Utilizar em casos de colestase, fibrose, cirrose. Dose: 20 mg/Kg/dia, dividido em duas tomadas diárias. Atenção: Não há evidência científica para o seu uso em casos de mínima ou nenhuma disfunção hepática ou fibrose portal. Nutrição: Suplementação de vitaminas: Devem ser administradas durante as refeições com as enzimas pancreáticas. Vitamina E hidrossolúvel: 400 a 1200 IU/dia Vitamina D2 ou D3: 800 a 1600 IU/dia Retinol: 10.000 a 20.000 IU/dia Vitamina K: 5 a 10 mg semanal ou diário (dependendo da resposta) 14.14- Osteoporose e osteopenia Avaliação pelo método DEXA (absortimetria de raios-X em duas energias): se sem alterações, repetir a cada 2 a 5 anos. 111 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 111 17/6/2009 11:58:11 fibrose cística Tratamento: Aspectos gerais: Exercícios de levantamento de peso (musculação). Exposição à luz solar . Manter bom estado nutricional. Atenção ao tratamento da infecção pulmonar. Tratamento farmacológico: Suplementação de cálcio: Carbonato de cálcio 1 g / dia (atenção a nefrolitíase) Vitamina D: se dosagem sérica da 25-hidroxivitamina D (25 OHD) < 18 a 20 ng/ mL, suplementar a vitamina até atingir nível sanguíneo de 30 ng/mL. Uso de bifosfonatos orais (ex.: alendronato) pode ser útil. 14.15- Doença em articulações - Artrite episódica: Episódios agudos, com acometimento de todas articulações, assimétrico e com sinais flogísticos. Tratamento Corticóides ou antiinflamatórios não esteróides por curto tempo. Osteoartropatia hipertrófica: tendem a acompanhar as infecções pulmonares. Tratamento Antiinflamatórios não esteróides. 14.16 - Opções de fim de vida Tratamento Paliativo: 1.Seguimento multidisciplinar (médico, enfermeira, assistente social, fisioterapeuta respiratório, psicólogo, e outros) 2.Condução minuciosa dos sintomas (ex.: dor, dispnéia). Cefaléia costuma ser muito intensa. Opiódes são úteis nessas situações (sem levar a depressão ventilatória). Ansiedade, depressão e fadiga devem ser observados. 112 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 112 17/6/2009 11:58:11 Abordagem do paciente adulto com fibrose cística 3.Concentrar esforços em preservar a qualidade vida (determinados pelo paciente e pelos familiares). 4. Orientação dos familiares e/ou cuidadores do paciente sobre otimizar os cuidados. 5. Quantificar e tratar o sofrimento psicológico, social e espiritual. 6. Cuidados de alívio para familiares e/ou cuidadores. Suporte de vida avançado: Aspectos gerais: 1 A vontade do paciente deve ser respeitada. 2 O paciente deve determinar quem tomará decisões sobre cuidados de saúde que receberá. 3.Se possível deve saber as condições de tratamento e suas implicações nos diversos graus de suporte de vida. 4.O(s) médico(s) deve estar, flexíveis e sensíveis para oferecer os diversos locais de tratamento na fase terminal e morte do paciente (unidade de tratamento intensivo, quarto de hospital ou enfermaria, domicílio). 14.17- Assistência ventilatória Aspectos gerais 1.Ventilação mecânica não-invasiva pode ser considerada em pacientes graves com necessidade de suporte ventilatório e que aguardam transplante pulmonar. 2.Atenção: para pacientes terminais, o suporte ventilatório invasivo pode representar uma falsa esperança, prolongando o sofrimento, sem possibilidade de reversão do quadro e sem possibilidade de transplante pulmonar em curto prazo. 3.A insuficiência respiratória é o evento terminal desses pacientes 113 fibrose_cistica_170609_Tales.indd 113 17/6/2009 11:58:11 fibrose cística Bibliografia consultada 1. 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