Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Faculdade de Medicina / Instituto de Estudos em Saúde Coletiva - IESC Departamento Medicina Preventiva Disciplina de Epidemiologia Estudos Ecológicos ESTUDOS ECOLÓGICOS DEFINIÇÃO • Unidade de observação é um grupo de pessoas e não o indivíduo • Grupo pertence a uma área geográfica definida → estado, cidade, setor censitário • Freqüentemente realizados combinando-se arquivos de dados existentes em grandes populações → geralmente mais baratos e mais rápidos • Avaliam o contexto social e ambiental → medidas coletadas no nível individual muitas vezes são incapazes de refletir adequadamente os processos que ocorrem no nível coletivo → nível de desorganização social → epidemia mais intensa ESTUDOS ECOLÓGICOS OBJETIVOS • Gerar ou testar hipóteses etiológicas → explicar a ocorrência da doença • Avaliar a efetividade de intervenções na população → testar a aplicação de nosso conhecimento para prevenir doença ou promover saúde ESTUDOS ECOLÓGICOS NÍVEIS DE ANÁLISE Nível individual Fator em Estudo(X) Doença(Y) caso não caso Total Exposto a b e1 Não Exposto c d eo Total m1 mo n ESTUDOS ECOLÓGICOS Nível coletivo Fator em Estudo(X) Doença(Y) caso não caso Total Esposto ? ? e1 Não Esposto ? ? eo Total m1 mo n ESTUDOS ECOLÓGICOS • Num estudo ecológico não temos a informação sobre a distribuição conjunta do fator em estudo e da doença dentro de cada grupo • Conhecemos o número total de indivíduos expostos (e1) e o número total de casos (m1) dentro de cada grupo, mas não o número de casos expostos (a) • Na análise ecológica, a variável independente (X) é a proporção de indivíduos expostos dentro do grupo (e1/n), e a variável dependente (Y) é a taxa (ou risco) da doença (e1/n) ESTUDOS ECOLÓGICOS TIPO DE VARIÁVEIS UTILIZADAS • Medidas agregadas: agregação das mensurações efetuadas no nível individual → proporção de fumantes, taxa de incidência de uma doença e renda familiar média • Medidas ambientais: características físicas do lugar → poluição do ar, exposição à luz solar. Cada medida ambiental tem uma análoga no nível individual, entretanto, o nível de exposição individual pode variar entre os membros de cada grupo • Medidas globais: atributos de grupos, organizações ou lugares. Não existem análogos no nível individual → densidade demográfica, desorganização social ESTUDOS ECOLÓGICOS TIPOS DE DESENHO Desenhos de múltiplos grupos • Estudo exploratório: comparação de taxas de doença entre regiões durante o mesmo período → identificar padrões espaciais → possível etiologia ambiental ou genética. Freqüentemente, pode conter dois tipos de problemas: – Regiões com poucos casos → grande variabilidade na taxa da doença – Regiões vizinhas tendem a ser mais semelhantes do que regiões mais distantes → autocorrelação espacial ESTUDOS ECOLÓGICOS Estudo analítico: avalia a associação entre o nível de exposição médio e a taxa de doença entre diferentes grupos → estudo ecológico mais comum ESTUDOS ECOLÓGICOS Desenho de séries temporais Estudo exploratório: avalia a evolução das taxas de doença ao longo do tempo em uma determinada população geograficamente definida → utilizado para prever tendências futuras da doença ou avaliar o impacto de uma intervenção populacional ESTUDOS ECOLÓGICOS Estudo analítico: avalia a associação entre as mudanças no tempo do nível médio de uma exposição e das taxas de doença em uma população geograficamente definida. ESTUDOS ECOLÓGICOS Processo de inferência causal dos estudos analíticos de séries temporais pode apresentar dois problemas: – Critérios diagnósticos e de classificação das doenças podem se modificar no tempo – Doença com grande período de latência/indução entre a exposição ao fator de risco e a sua detecção pode dificultar a avaliação entre a associação deste fator e a ocorrência da doença ESTUDOS ECOLÓGICOS Desenhos mistos • Estudo exploratório: combina as características básicas dos estudos exploratórios de múltiplos grupos e de séries temporais → avalia a evolução temporal das taxas de uma doença em diferentes grupos populacionais • Estudo analítico: avalia a associação entre as mudanças no tempo do nível de exposição média e das taxas de doença entre diferentes grupos populacionais → potencializa a interpretação dos efeitos estimados → analisa simultaneamente as mudanças no nível de exposição médio e nas taxas de doença em função do tempo dentro de grupos e as diferenças entre os grupos ESTUDOS ECOLÓGICOS INFERÊNCIA • Limitação para testar hipóteses ecológicas → potencial viés na estimação do efeito • Viés ecológico (falácia ecológica) → inferência causal inadequada sobre fenômenos individuais na base de observações de grupos → uma associação observada no nível agregado não necessariamente significa que essa associação exista no nível individual • Principal problema neste tipo de análise → suposição de que os mesmos indivíduos são simultaneamente portadores do problema de saúde e do atributo associado ESTUDOS ECOLÓGICOS • Durkheim → províncias européias predominantemente protestantes no séc. XIX → taxas de suicídio maiores que em províncias predominantemente católicas → protestantes tenderiam mais ao suicídio → poderiam ser os católicos residentes em províncias predominantemente protestantes os que mais se suicidavam • Minimização do viés ecológico → utilização de dados agrupados em unidades de análise geográfica tão menores quanto possível, tornando-as mais homogêneas → possibilidade de migração dentro do grupo e estimativa de taxas instáveis • Estimar o efeito contextual de uma exposição ecológica no risco individual → efeito da poluição ambiental na produção de doença respiratória → são fundamentais em epidemiologia das doenças infecciosas → risco de doença depende da prevalência em outros indivíduos com os quais se tem contato ESTUDOS ECOLÓGICOS ESTIMATIVA DO EFEITO • Muitos estudos epidemiológicos → estimar o efeito de uma exposição na ocorrência de uma determinada doença em uma população sob risco • Nível individual → efeitos são estimados pela comparação de taxas de incidência da doença em populações expostas e não expostas → razão ou diferença entre as taxas • Nível ecológico → não se conhece a informação sobre a distribuição conjunta entre exposição e doença dentro dos grupos → não se pode estimar os efeitos dessa forma ESTUDOS ECOLÓGICOS • Regressão das taxas de doenças (Y) nos níveis médios de exposição (X) → modelo linear (mais comum) → equação de predição: Yˆ = B0 + B1 X onde B0 e B1 são o intercepto estimado e a angulação da reta, respectivamente • Estimativa do efeito da exposição no nível individual → derivada da regressão → predição de taxas de doença → todos expostos (X = 1) e todos não expostos (X = 0) • Taxa de doença predita (Yˆ X =1 ) em grupo inteiramente exposto: B0 + B1 (1) = B0 + B1 • Taxa de doença predita (Yˆ X =0 ) em grupo inteiramente não exposto: B0 + B1 (0) = B0 ESTUDOS ECOLÓGICOS • Diferença de taxas estimadas: B0 + B1 - B0 = B1 • Razão de taxas estimadas: B0 + B1 = 1 + B1 B0 B0 • Note que o ajuste de um modelo linear poderia levar a uma estimativa negativa da razão de B1 taxas, quando B0 < −1 , não possuindo qualquer significado biológico ou ecológico ESTUDOS ECOLÓGICOS VANTAGENS • Baixo custo e rápida execução → dados disponíveis: SIM, SINASC, SINAN, IBGE • Freqüentemente, não é possível medir adequadamente exposições individuais em grandes populações → nível ecológico • Estudos de nível individual não conseguem estimar bem os efeitos de uma exposição, quando ela varia pouco na área de estudo • Mensuração de um efeito ecológico → implantação de um novo programa de saúde ou uma nova legislação em saúde na melhoria das condições de saúde ESTUDOS ECOLÓGICOS LIMITAÇÕES • Incapacidade de associar exposição e doença no nível individual • Dificuldade de controlar os efeitos de potenciais fatores de confundimento • Dados de estudos ecológicos representam níveis de exposição média ao invés de valores individuais reais • Não há acesso a dados individuais • Dados de diferentes fontes, o que pode significar qualidade variável da informação • Falta de disponibilidade de informações relevantes é um dos mais sérios problemas na análise ecológica