o que é filosofia?

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Editora e redatora chefe - Fernanda Bulhões
Arte e capa - Fernanda Bulhões, Bruno Camilo, Roberto Alves
Diagramação - Bruno Camilo e Roberto Alves
Colaboradores:
Cláudio Loureiro
Rosa Régis
Pedro Danilo
João Paulo
Markus Figueira
Fernanda Bulhões
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Jornal do Adoidecente
O jornal do adolescente doido,
porém decente!
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7HPDO que é filosofia? Quem é o filósofo?
Como se reconhece
um filósofo na rua?
Você já reparou que o filósofo adora perguntar?
E perguntas fazem você parar para pensar?
E parar para pensar é coisa de filósofo??
É..., você agora está aí,
parado e pensando,
será você um filósofo????
O que é Filosofia?
Poderíamos dar uma resposta a partir da
própria etimologia da palavra Filosofia,
proveniente do grego philos (amor, amizade) e
sophia (sabedoria). Portanto, o filósofo não é o
sábio, é, sim, amigo do saber, ele quer, gosta,
ama o conhecimento. Poderíamos também
responder a essaquestão dizendo que a
Filosofia é uma área de conhecimento que se
subdivide principalmente nas seguintes linhas:
ética, estética, lógica, metafísica, política, teoria
do conhecimento e a própria história da
filosofia. No entanto, fica evidente que essas
informações são extremamente insuficientes
para responder ao nosso questionamento que
é: o que é filosofia???
Na verdade, até mesmo para um Filósofo
não é fácil explicar o que é a Filosofia. Explicar
para vocês, alunos do Ensino Médio, então, é
muito mais difícil ainda, mesmo porque ela foi
retirada da grade curricular do Ensino Médio
pela ditadura, há décadas atrás. Mas, apesar das
dificuldades, nos chama a
atenção ver a curiosidade
que vocês têm sobre esta
nova e diferente matéria.
Vocês sempre perguntam: o
que é mesmo a Filosofia???
Vejam bem, não é comum
um aluno perguntar, por
exemplo, ao professor de
Matemática: o que é Matemática? Ou uma
aluna questionar à professora de Português:
qual a utilidade de estudar Português? É curioso
notar que estas perguntas são recorrentes
quando se trata da disciplina de Filosofia. Por
que será???
Eis outra boa questão!
Cláudio Loureiro
FILOSOFIA,,
amiga da
A Filosofia é, em si,
De forma racional,
A concepção de mundo
E da vida como tal.
Enquanto a arte é, em si,
Uma expressão do mundo
E da vida, em que o artista
Mostra o que viu num segundo.
A Filosofia é amor
Ao saber reflexivo
E lógico, não segue a esmo
Sem significativo.
A atividade artística
Surge da inspiração,
Não reflete, não duvida,
Faz por pura intuição.
A Filosofia se apoia
Na controvérsia, em conceitos,
Nas argumentações lógicas
E em disputas de efeito.
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Já a Arte, é nas imagens
E no sentido expressivo;
Nas palavras de expressão
Com seu valor emotivo.
A Filosofia é teórica;
É a busca por soluções
Dos problemas que parecem
Insolúveis - das questões.
A Arte se preocupa
Com a criação da beleza.
O seu trabalho é estético,
É da sua natureza.
E a Arte e a Filosofia,
Juntas, formam um par perfeito,
Em que o Saber e a Forma,
Além do nosso conceito,
Fazem do mundo que se apresenta,
Pra nóss, bem melhor, com efeito.
Rosa Regis
Você sabia que a filosofia está presente em nossas
vidas? Que a filosofia contribuiu para o pensamento e o
comportamento do homem contemporâneo? Pois é, os
filósofos com suas ideias influenciaram e influenciam o
nosso modo de pensar.
A filosofia, em vários aspectos, fundou e marcou as
bases do pensamento ocidental. Você sabia que, por exemplo,
o olhar científico sobre a realidade surgiu pela primeira vez
com os primeiros filósofos gregos? E por isso, a filosofia ficou
conhecida como a “Mãe de todas as ciências”? É isso mesmo!
Mas, atualmente, a filosofia é vista como uma das ciências que
faz parte das Ciências Humanas. Saiu da condição de mãe e foi
para posição de filha, mas tudo bem!
Na matemática, os filósofos
também
fizeram
contribuições
importantes. Certamente, você já
estudou ou ainda vai estudar, por
exemplo: o teorema de Tales, o
teorema de Pitágoras e o plano
cartesiano. Pois é, todas estas
elaborações foram desenvolvidas por
filósofos.
Você sabia que até na política a
filosofia também marcou presença?
Exatamente! Você, certamente, já ouviu falar nos Três
Poderes: o poder Executivo, o poder
Legislativo e o poder Judiciário. Mas
o que isso tem a ver com a filosofia?
Pois bem, essa divisão dos três
poderes foi proposta por um filósofo
francês chamado Montesquieu na
sua obra O Espírito das Leis. Antes
disso, o antigo governante, o
imperador ou rei, tinha total poder
sobre seus súditos. A proposta da divisão dos poderes
visava acabar com as injustiças praticadas pelos reis
absolutistas.
Algumas frases que estão na boca do povo até os dias
de hoje foram criadas por alguns filósofos famosos, como,
por exemplo: “Os fins justificam os meios” (Maquiavel);
“Penso, logo existo” (René Descartes); “Só sei que nada sei”
(Sócrates); “Saber é poder” (Francis Bacon);
“Tudo o que não me mata, me fortalece”
(Nietzsche), vale dizer que desta máxima
surgiu o dito popular: “o que não mata,
engorda”.
Pois bem, como vimos, a filosofia está
presente em nossas vidas apesar de às vezes
não percebermos. Pense nisso!
Pedro Danilo
O filóssofo,
um amante do conhecimento
Quando alguém (cientista, religioso, político, artista etc) se apresenta como sendo o “dono da verdade”, exibindo teorias e verdades absolutas, como a do
big Bang, por exemplo, o filósofo entra em ação, questionando esta suposta verdade apresentada. Ele analisa o discurso “verdadeiro”
e
busca,
primeiro,
compreender os argumentos lógicos que servem
como base a tal teoria.
Mesmo que estes argumentos sejam bem coerentes e convincentes, é
bem provável que o filósofo encontre um problema
na explicação dada e conclua que não há como defender, sustentar, aquela
verdade colocada.
Quer dizer: a postura filosófica é, sobretudo, crítica e reflexiva, questiona as verdades supostamente
certas tanto dos cientistas
como dos religiosos, dos
ateus, dos políticos etc.
Os antigos filósofos
gregos, dos pré-socráticos,
passando pelos sofistas, até
Sócrates, Platão e Aristóteles, por incrível que pareça, foram fundamentais para o
surgimento da nossa ciência moderna e de toda alta
tecnologia que hoje nos beneficia. Pois é, os primeiros
filósofos foram homens extraordinários, tão audaciosos que ousaram questionar as explicações míticas que
vigoravam há milênios. Desafiando a cultura, a religião
e a sociedade de sua época, o filósofo passou a ver o
mundo através da Razão. A mesma Razão que está por
trás da nossa ciência.
É..., se não tivesse existido os filósofos gregos
talvez não existisse a nossa tão apreciada, necessária e
avançada ciência moderna.
Viva os gregos com seu pontapé inicial!
João Paulo
QUEM É O “FILÓSOFO DO
SAMBA”?
Em 1934, um grupo de sambistas do Rio de Janeiro viajou para
o interior do Estado e lá o compositor do grupo, já famoso pelos
sambas gravados por diversos cantores e sucesso nas rádios cariocas,
foi assim apresentado: “Com vocês, Noel Rosa, o filósofo do samba”.
Interessante perguntar: por que “filósofo do samba”? O que existe de
filosófico no samba de Noel? Para responder bem a esta questão é
possível escrever uma tese, mas aqui vai apenas algumas
considerações com vistas a saudarum compositor que morreu aos 26
anos e deixou quase 500 músicas escritas.
Noel Rosa, um artífice do verso, expõe em suas letras seu
pensamento crítico em relação à sociedade, ao progresso, reflete
sobre o amor e seus revezes, a ironia e o absurdo, a ilusão e a
desilusão, o orgulho, o rancor, e o interesse utilitário que o vil metal
provoca nas pessoas colocando a todo instante o caráter delas à prova.
Noel criou frases marcantes usando uma linguagem popular, dentre
elas: “quem acha, vive se perdendo”; "(depois da morte) Meus
inimigos que hoje falam mal de mim, vão dizer que nunca viram
uma pessoa tão boa assim"; “O costume é a força que fala mais
forte do que a natureza, E nos faz dar provas de fraqueza”;
"Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o seu começo
numa festa de São João, morre hoje sem foguete, sem retrato e
sem bilhete, sem luar e sem violão".
No samba
Filosofia,
Noel trata com
fino humor de questões existenciais:
“O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se eu vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nessa prontidão sem fim, vou fingindo que
sou rico
Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo vivo escravo do meu samba
Muito embora vagabundo
Quanto a você, da aristocracia,
Que tem dinheiro, mas não compra a alegria
Há de viver eternamente sendo escravo dessa gente,
Que cultiva a hipocresia”.
Noel é um sambista que pensa bem e faz pensar aquele
que lhe dá atenção.
Uma coisa é afirmar, sem argumentar, que há samba na
filosofia...
Outra é constatar, cantando as letras de Noel Rosa, que
há filosofia no samba.
Markus Figueira
Sócrates: o herói da filosofia,
morreu por uma verdade que não possuía
Cinco séculos antes de Cristo, quando ainda se acreditava que
os deuses viviam entre os homens, Sócrates rejeitou qualquer
sabedoria que não fosse demonstrada através de argumentos
racionais. Em busca do verdadeiro conhecimento, questionou
todos os valores religiosos, morais e estéticos de sua época. Desafiou todos os seus contemporâneos a responder e explicar o
que eles diziam que sabiam. Perguntava ao poderoso político: “o
que é a justiça?”, ao ilustra profeta: “o que é a piedade?”, ao famoso artista: “o que é o belo?”, mas nenhum destes conseguia
lhe responder sem entrar em contradição. Através de argumentos lógicos e racionais, o danado filho de uma parteira sempre
derrotava seus interlocutores na disputa dialética (uma espécie
de duelo feito de perguntas e respostas), mostrava a estes que de
fato estavam enganados sobre o que pensavam saber. Neste
ponto, Sócrates se sentia mais sábio do que os demais, já que ele
não estava iludido com nenhuma suposta verdade. Diferente
dos outros, ele tinha consciência que nada sabia. Daí, sua frase
lapidar: “só sei que nada sei”.
Abandonando a esposa e os filhos, descalço e sempre com
o mesmo traje, Sócrates por muitos anos andou conversando e
incomodando os atenienses em busca da verdade desconhecida.
Até um dia em que dois conterrâneos seus abriram um processo
jurídico contra ele, o acusando de não acreditar nos deuses da
cidade e corromper a juventude.
Em seu julgamento, nos conta Platão, Sócrates, ao fazer
sua própria defesa no tribunal, não tentou persuadir os juízes
que as acusações contra ele eram equivocadas. Ao contrário, em
nenhum momento usou o seu enorme poder de retórica e persuasão a seu favor. Também não se preocupou em escapar da pena
de morte. Ao contrário, preferiu beber a cicuta do que desistir de
sua busca.
Sócrates, um homem extraordinário, sem dúvida. Mas
também um homem enigmático, pois embora tenha se dedicado
ao pensamento e às palavras, nada deixou escrito. O corajoso
Sócrates, o herói dialético da filosofia, foi julgado e condenado à
morte em nome de uma verdade que ele nunca encontrou. De
todo modo, marcou a história da filosofia e da humanidade com
seu exemplo de vida e de morte.
Fernanda Bulhões
Filósofos e Filosofias
Não existe apenas uma definição de filosofia, assim como
não existe um tipo só de filósofo.
Na realidade concreta e sensível de todos os dias,
é tudo plural.
Pela sua própria natureza (escorregadia, como uma
serpente), a filosofia não aceita ser definida de forma
categórica e definitiva, pois ela é complexa e infinita.
Aliás, como já dizia Aristóteles, a filosofia nasce
de um estado de admiração, de espanto, de
perplexidade diante da mais simples e
cotidiana (e sem sentido) realidade.
Eis aqui, só para ilustrar, algumas definições de filosofia:
FRIEDRICH NIETZSCHE (1844-1900) - "a filosofia, tal como até
agora a entendi e vivi, é a vida voluntária no gelo e nos cumes - a
busca de tudo o que é estranho e questionável no existir"
MURICE MERLEAU-PONTY (1908-1961)- “A verdadeira filosofia
é reaprender a ver o mundo”
GILLES DELEUZE (1925-1996) e FÉLIX GUATTARRI (19301993)- “A filosofia é a arte de formar, de inventar, de fabricar
conceitos (...) Criar conceitos sempre novos é o objetivo da
filosofia”.
TEODORO MACHADO (1926-1999) (meu avô): “A filosofia é a
ciência que, com a qual ou sem a qual, o mundo resta tal e qual”
(segundo meu avô, esta definição é um antigo ditado espanhol)
Do mesmo modo que existem inúmeras definições de
filosofia, existem inúmeros tipos de filósofo: crente,
descrente, lógico, dogmático, relativista, sofista,
racionalista, empirista, niilista, positivista, existencialista,
cético, místico, estético, analítico, político, pragmático,
etc..., quase todos metafísicos.
Etc...
Filósofo é gente, e gente é tudo igual porque é tudo
diferente. Pode ser: gente boa, camarada, mau caráter,
indiferente, seboso, inteligente, nervoso, sincero,
engraçado, malandro, vaidoso, esperto, mentiroso,
arrogante, melancólico, deprimido, falante, animado,
divertido, amigo, querido
etc.
Tales de Mileto, o primeiro
filósofo grego, por exemplo,
era tão concentrado nas
grandes
e
complexas
questões sobre a natureza
que era muito desatento
com as coisas pequenas,
simples e corriqueiras.
Tão preocupado vivia em
descobrir o enigma do
universo, que não via o buraco que estava bem a sua frente e
nele cai, de repente.
Fernanda Bulhões