Alterações fisiológicas durante a gestação

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Alterações fisiológicas durante a gestação
Bruno Fischer
21/09/2003
Diversas alterações ocorrem durante a gravidez, portanto um bom entendimento
delas acaba favorecendo o profissional de educação física a orientar de forma
eficiente e segura a mulher que se propõe a praticar exercício físico durante a
gestação.
Alterações Hormonais
Mudanças significativas no perfil endócrino ocorrem durante a gestação,
destacando-se quatro hormônios que desempenham um papel fundamental para a
mãe e para o feto. Dois desses são os hormônios sexuais femininos estrogênio e
progesterona, os quais são secretados pelo ovário durante o ciclo menstrual
normal, passando a ser secretados em grandes quantidades pela placenta durante
a gestação. Outros dois importantíssimos são: a gonodotrofina coriônica e a
somatomamotropina coriônica humana.
- Estrogênio - As principal funções do estrogênio são promover: proliferação de
determinadas células (por exemplo, células musculares lisas do útero), aumento da
vagina, desenvolvimento dos grandes e pequenos lábios, crescimento de pelos
pubianos, alargamento pélvico, crescimento das mamas e de seus elementos
glandulares além de deposição de tecido adiposo em áreas específicas femininas,
tais como coxas e quadris. Ou seja, o estrogênio é responsável por desenvolver as
características sexuais femininas. Durante as primeiras 15-20 semanas de gravidez
o corpo lúteo, responsável pela secreção do estrogênio e do progesterona, aumenta
a secreção desses dois hormônios em duas a três vezes o normal, porém após a
décima sexta semana a placenta passa a secretar esses hormônios, aumentando de
forma drástica sua produção e fazendo com que a secreção de estrogênio fique
cerca de 30 vezes maior que o normal. Durante a gravidez o estrogênio provoca
uma rápida proliferação da musculatura uterina, aumento acentuado do
crescimento do sistema vascular para o útero, dilatação do orifício vaginal e dos
órgãos sexuais externos e relaxamento dos ligamentos pélvicos permitindo assim
uma maior dilatação do canal pélvico o que facilita a passagem do feto no momento
do nascimento. O estrogênio também é responsável por uma maior deposição de
tecido adiposo nas mamas (algo em torno de ½ quilo) fazendo com que elas
cresçam, aumentando o número de células glandulares e tamanhos dos ductos.
- Progesterona - Ao contrário do estrogênio, a progesterona praticamente não
exerce influência sobre as características sexuais femininas, mas sim sobre o
preparo do útero para receber o óvulo fertilizado e da mama para secreção do leite.
Durante a gestação, a progesterona atua disponibilizando para o uso do feto,
nutrientes que ficam armazenados no endométrio. A progesterona também é
responsável pelo efeito inibidor da musculatura uterina, uma vez que se isso não
ocorresse, as contrações expulsariam o óvulo fertilizado ou até mesmo o feto em
desenvolvimento. As mamas também recebem influência do progesterona, fazendo
com que os elementos glandulares fiquem ainda maiores e formem um epitélio
secretor, promovendo a deposição de nutrientes nas células glandulares.
- Gonodotrofina coriônica - A função desse hormônio é manter ativo o corpo
lúteo durante o primeiro trimestre. Sem o corpo lúteo em atividade a secreção de
progesterona e estrogênio seria afetada e assim o feto cessaria seu
desenvolvimento e seria eliminado dentro de poucos dias. Após o primeiro trimestre
a remoção do corpo lúteo já não afeta mais a gravidez uma vez que a placenta fica
responsável pela secreção de estrogênio e progesterona em quantidades muito
elevadas. A concentração máxima de gonodotrofina coriônica acontece
aproximadamente na oitava semana, justamente o período que é essencial impedir
a evolução do corpo lúteo.
- Somatomamotropina coriônica humana - Esse hormônio é responsável
principalmente pela nutrição adequada do feto, diminuindo, dessa forma, a
utilização da glicose pela mãe e tornando-a disponível em maior quantidade para o
feto. Ocorre também uma mobilização aumentada de ácidos graxos do tecido
adiposo materno, elevando a utilização dos mesmos como fonte de energia em
lugar da glicose. Um outro efeito desse hormônio é auxiliar o crescimento fetal,
efeito esse semelhante ao do hormônio do crescimento, contudo esse efeito é
relativamente fraco.
A maioria das glândulas endócrinas é alterada. A exemplo disso temos a tireóide
também afetada, imitando assim os efeitos do hipertireoidismo, causando sintomas
como: taquicardia, palpitações, respiração excessiva, instabilidade emocional e
aumento da glândula tireóide. Mas em apenas 0,08% das gestantes ocorre
realmente o hipertireoidismo. É comum ocorrer aumento dos hormônios adrenais, o
que provavelmente pode contribuir para o surgimento de estrias róseas de pele.
Níveis aumentados de glicocorticóides, estrogênios e progesterona modificam o
metabolismo da glicose aumentando assim a necessidade de insulina. A insulinase
produzida pela placenta pode afetar as necessidades de insulina provocando em
muitos casos a diabetes gestacional.
Alterações Cardiovasculares
O débito cardíaco (DC) aumenta cerca de 30-50% iniciando esse aumento por volta
da 16ª e atingindo o pico por volta da 24ª semana. Após a 30ª semana o DC pode
diminuir um pouco, pois o útero aumentado obstrui a veia cava. Com o DC
aumentado, a freqüência cardíaca aumenta de 70bpm, em média, para 80-90bpm,
acompanhado de um aumento proporcional no volume de ejeção. O volume
sanguíneo também aumenta proporcionalmente com o DC.
Alterações Renais
A taxa de filtração glomerular (TFG) e o fluxo plasmático renal (FPR) são
aumentados durante a gravidez e esses aumentos são relacionados ao aumento do
DC, diminuição da resistência vascular renal e aumento dos níveis séricos de alguns
hormônios. O aumento da excreção urinária de glicose, aminoácidos, proteínas e
vitaminas é conseqüência dos aumentos da TFG e do FPR. O volume renal aumenta
em até 30% além do normal. O aumento da TFG geralmente causaria uma grande
perda de sódio, porém fatores mitigantes resultam na manutenção da homeostase
deste mineral, inclusive atuando sobre seu metabolismo e resultando numa leve
retenção deste mineral. Como a função renal é muito sensível à postura durante a
gravidez, geralmente aumentando a função na posição supina e diminuindo na
posição vertical, a mulher grávida pode sentir necessidade freqüente de urinar
quando tenta dormir.
Alterações Pulmonares
Os estímulos hormonais de progesterona e problemas posicionais causados pelo
aumento do útero são os responsáveis pelas alterações na função pulmonar. Ocorre
aumento do PO2 e diminuição do PCO2, causando hiperventilação. A circunferência
torácica aumenta cerca de 10cm.
Alterações Gastrintestinais
Devido à pressão do útero em crescimento contra o reto e a porção inferior do
cólon pode acontecer constantemente constipação (intestino preso). Regurgitação e
azias também são queixas comuns durante o período gestacional, isso é causado
pelo retardamento no tempo de esvaziamento gástrico e do relaxamento do
esfíncter na junção do esôfago com o estômago, com conseqüente refluxo do
conteúdo gástrico. O relaxamento do hiato diafragmático também contribui com
essas queixas.
Geralmente a gravidez pode ser medida por trimestres, mas esses trimestres têm
uma duração desigual uma vez que o terceiro trimestre varia de acordo com o
tempo total da gravidez.
Primeiro Trimestre (Semana 1 A 12)
- A taxa metabólica aumenta em 10-25%, acelerando todas funções corporais.
- Os ritmos cardíaco e respiratório aumentam à medida que mais oxigênio tem que
ser levado para o feto e mais dióxido de carbono é exalado.
- Ocorre expansão uterina pressionando a bexiga e aumentando a vontade de
urinar.
- Aumento do tamanho e peso dos seios, além de aumentar a sensibilidade dos
mesmos logo nas primeiras semanas.
- Surgem novos ductos lactíferos
- As auréolas dos seios escurecem e as glândulas chamadas de tubérculo de
Montgomery aumentam em número e tornam-se mais salientes.
- As veias dos seios ficam mais aparentes, resultado do aumento de sangue para
essa região.
Segundo Trimestre (Semana 13 A 28)
- Retardamento gástrico provocado pela diminuição das secreções gástricas, essa
diminuição é resultado do relaxamento da musculatura do trato intestinal. Esse
relaxamento também provoca um número menor de evacuações.
- Os seios podem formigar e ficar doloridos.
- Aumento da pigmentação da pele, principalmente em áreas já pigmentadas como
sardas, pintas, mamilos.
- As gengivas podem se tornar esponjosas devido à ação aumentada dos
hormônios.
- O refluxo do esôfago pode provocar azia, devido ao relaxamento do esfíncter no
alto do estômago.
- O coração trabalha duas vezes mais do que uma mulher não grávida e faz circular
6 litros de sangue por minuto.
- O útero precisa de 50% a mais de sangue que o habitual.
- Os rins precisam de 25% a mais de sangue do que o habitual.
Terceiro Trimestre (Semana 29 Em Diante)
- A taxa de ventilação aumenta cerca de 40%, passando de 7 litros de ar por
minuto da mulher não grávida para 10 litros por minuto, enquanto o consumo
aumenta apenas 20%. A maior sensibilidade das vias respiratórias pode causar
falta de ar.
- As costelas são empurradas para fora decorrente do crescimento fetal.
- Os ligamentos inclusive da pelve ficam distendidos, podendo causar desconforto
ao andar.
- Desconforto causado pelas mãos e pés inchados, podendo ser sinal de préeclâmpsia.
- Podem ocorrer dores nas costas devido a mudanças do centro de gravidade e por
um ligeiro relaxamento das articulações pélvicas.
- Os mamilos podem secretar colostro.
- Aumenta a freqüência e vontade de urinar.
- Aumenta a necessidade de repousar e dormir.
Referências Bibliografias
GUYTON, A.C.: Fisiologia Humana. Editora Guanabara Koogan S. A., Sexta edição,
1988.
MANUAL MERCK: Fisiologia materna durante a gravidez
STOPPARD, Miriam, O corpo da mulher, um guia para a vida.
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