XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL, PLANEJAMENTO URBANO A ESPACIALIZAÇÃO DA SEGREGAÇÃO URBANA E A FORMAÇÃO DE “COMUNIDADES”: uma breve análise na cidade de Niterói (RJ). Kelly Soares Figueiredo 1 Resumo Tendo como pano de fundo o processo de urbanização no Brasil caracterizado por ser dependente e gerador de contrastes sociais e espaciais, o presente artigo toma inicialmente a formação do urbano e de uma sociedade urbana como eixo reflexivo. A produção do espaço urbano se deu de forma fragmentada o que permitiu diferentes formas de acesso e uso, uma vez que o acesso à terra na cidade está diretamente relacionado à hierarquização da sociedade em classes. Nesse contexto, a cidade de Niterói (RJ) foi tomada como objeto de estudo na elaboração de uma breve reflexão acerca segregação urbana residencial. Os questionamentos que nortearam o trabalho foram: De que forma a produção do espaço da cidade desencadeou o processo de segregação urbana residencial? Qual a relação com a formação de “comunidades” (áreas de concentração de população de baixa renda)? Através da análise reflexiva da estruturação social e econômica, objetivou-se elucidar a espacialização da segregação urbana da cidade. Palavras-chave: Urbanização; Sociedade urbana; Segregação urbana; Abstract Based on urbanization process in Brazil, that has characteristics of dependence and spatial and social contrasts generator, this article takes initially the formation of urban and an urban society as reflective shaft. The production of urban space was fragmented that allowed different forms of access and use, once that access to land in the city is directly related to hierarchical society into classes. In this context, Niterói (RJ) city was taken as an object of study in one brief reflection about urban residential segregation. The questions that guided this study were: How the production of city space takes the process of urban segregation? Wich relationship with the formation of “communities” (areas of concentrated low-income population)? Over a reflective analysis of social structure and economic, aimed to elucidate the spatial segregation of urban city. Keywords: Urbanization; Urban society; Urban segregation. 1 Bacharel e Licenciada pela Universidade Federal Fluminense (UFF); Pós Graduada no MBA Executivo em Gestão Ambiental pela FUNCEFET; Mestranda em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF); Professora da Secretaria Estadual de Educação do Estado do Rio de Janeiro; E-mail: [email protected]. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Introdução Situada às margens orientais da Baía de Guanabara, a cidade de Niterói possuía em 2010 segundo dados do IBGE 487.562 habitantes distribuídos por uma extensão territorial de 133,916 km², composta por cinco Regiões de Planejamento e cinquenta dois bairros. Município integrante da região metropolitana do Rio de Janeiro, segundo o censo do IBGE 2010 é a segunda mais populosa, além de ser um dos cinco municípios com maior PIB per capita (R$ 19.318,00) e PIB municipal. Ilustração 1 – Mapa das Regiões Administrativas de Niterói Segundo dados divulgados pelo Censo Demográfico do IBGE a população urbana do Brasil passou de 81,25% em 2000, para 84,35% em 2010, já o Estado do Rio de Janeiro apresentou no censo 2010 96,7% de população urbana, e, a cidade de Niterói é considerada 100% urbana. Inserida na Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara e conurbada com os municípios de São Gonçalo e Maricá sendo a sexta cidade mais populosa do estado do Rio de Janeiro. Entre 2000-2010 a cidade Niterói teve um crescimento populacional mais modesto de 0,60%, se comparado ao município do Rio de Janeiro que cresceu 0,86% e ao estado do RJ com 1,06%. A cidade não é exceção quanto à predominância do setor terciário da economia, assim como em todo o estado, onde é responsável por 88,2%, o secundário com 11,6% e primário com 0,2%. Pode-se destacar a indústria de construção Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC naval como setor de aquecimento na economia da cidade, onde 21% dos investimentos serão direcionados para a mesma entre 2011-2013, segundo a FIRJAN. O setor de serviços absorve 54,8% dos empregos formais segundo dados RAIS/Ministério do Trabalho e Emprego, seguido do comércio com 20,8% e a indústria de transformação com 8,3%. Niterói comparada ao Brasil e ao Estado do Rio de Janeiro possui uma menor proporção de domicílios com renda de até 1 salário mínimo per capita, sendo o maior com renda familiar per capita maior que 05 salários mínimos (23,44%). Contudo as desigualdades de renda são significativas, as famílias de renda mais alta possuem um valor médio mensal dos domicílios particulares de R$ 4.686,91, enquanto os de menor renda com R$2.510,00. Segundo o índice FIRJAN, que utiliza três principais áreas do desenvolvimento humano: emprego e renda; educação e saúde. O último publicado em 2010 aponta Niterói na 1ª posição entre os municípios do estado do RJ, o IFDM2 marcando 0,8451, e em relação aos municípios brasileiros ocupa 75 ª posição. Já o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) apresentou aumento ao longo das últimas três décadas, em 1990 era de 0,681 ocupando o 3º lugar do ranking, em 2000 foi de 0,771 ficando no 5º e 2010 de 0,837, estando na frente do município do Rio de Janeiro, em 1º do Estado do Rio de Janeiro e 7º entre os municípios do Brasil. O urbano, a sociedade urbana e o valor do solo urbano A cidade de Niterói teve no seu histórico de ocupação e evolução urbana, a influência da centralidade exercida pela cidade do Rio de Janeiro, tendo o seu tecido urbano evoluindo a partir da área central num padrão radial, a partir da proximidade com a Baía de Guanabara. Em 1950 a cidade já possuía toda a área plana entre a Baía de Guanabara e os morros do maciço central ocupada, consistindo basicamente nas regiões Praias da Baía e Norte, e tem paulatinamente a urbanização se expandindo para outras áreas, como a região Oceânica. Souza (2011) considera que a afirmativa de chamar um local de urbano, é extremamente relativa do ponto de vista conceitual e metodológica no Brasil, uma vez que O IFDM – índice FIRJAN de desenvolvimento municipal avalia o desenvolvimento socioeconômico de todos os municípios brasileiros. 2 Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC “mesmo vila e ‘cidades’ com poucas centenas de habitantes e nítidas características de aglomerado rural são classificadas como urbanas” (SOUZA, 2011, p.19). Na proposição de Lefebvre (1999) a sociedade urbana é aquela consequente da industrialização, e a concentração populacional tende a acompanhar os meios de produção, assim o tecido urbano se expande, implicando numa predominância da cidade perante o campo, e não restritamente às formas urbanas (edificadas). Destaca ainda que a presença de uma simples rodovia já sinaliza a presença do tecido urbano, assim existe uma forte tendência pelo desaparecimento virtual da figura do camponês. Além de defender que há uma explosão do urbano, assim, por exemplo, as cidades médias e pequenas seriam como colônias da metrópole. A urbanização se explica pela definição do urbano abrange a dimensão espacial e temporal, o primeiro pelo fato de que se realiza no espaço e o modifica, e o segundo, por se desenvolver no tempo, prático e histórico. A urbanização da sociedade caracteriza-se pela absorção da não-cidade e da anticidade, que penetram na cidade fazendo com que seu tecido urbano se expanda. A realidade urbana “se povoa com signos do urbano na dissolução da urbanidade; torna-se estipulação, ordem repressiva, inscrição por sinais, códigos sumários (percursos) e de referência”. (Ibidem, p.23) A cidade industrial vivencia a implosão-explosão, pela concentração de pessoas, atividades, riquezas, extensão do tecido urbano, êxodo rural, implicando numa problemática urbana mundial, que se dá por uma realidade urbana que se afirma e confirma como dominante. Lefebvre (Ibidem) faz uso do termo urbano, para representar a sociedade urbana e a cidade. Assim como defende que há uma colonização do espaço urbano, a partir da imagem e espetacularização dos objetos. No cenário global onde se afirma que mais de cinquenta por cento da população vive em espaços urbanos, a América Latina possui mais de três quartos de sua população vivendo em áreas ditas urbanas, se comparada as demais partes do mundo chamadas de ‘Terceiro Mundo” pode-se afirmar que o Brasil de fato é um país que se urbanizou rapidamente, e, que, ainda se urbaniza. A urbanização brasileira se encaixa no modelo dependente, possuindo como reflexo de tal a acumulação de riqueza concomitantemente com a miséria. A crise urbana possui como cerne a propriedade privada, uma vez que é a partir dessa que se tem acesso à cidade e moradia. O processo de produção do espaço se realizou através do parcelamento do solo urbano, o qual implicou em diferenciadas formas de uso do mesmo. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC O solo na perspectiva urbana é visto como um suporte para o desenvolvimento das atividades humanas, tanto do ponto de vista econômico quanto habitacional. E Souza (2011) assinala a cultura como elemento de projeção de uma cidade, a partir do viés do poder, sendo o centro de gestão, seja da esfera política, religiosa e econômica. Essa centralidade possui forte correlação com o número de habitantes, mas também com a renda dos mesmos, na mesma linha de raciocínio infere-se a qualidade dos bens e serviços, assim como nas potencialidades enquanto mercado. O acesso a terra na cidade quanto ao tipo de moradia está diretamente relacionado à maneira como está hierarquizada a sociedade, implicando em tamanhos e formas diferenciadas, revelando que a divisão do trabalho na cidade não implica na separação somente dos trabalhos, mas também nos usos possíveis da mesma. Portanto a formação do preço da terra possui influência desde a esfera da conjuntura nacional até aspectos políticos e sociais, mas deve-se enfatizar que o valor atribuído ao solo urbano é determinado pela localização na cidade. A cidade remete ao local onde há mercado, que a partir das dinâmicas de circulação de pessoas que nela existam e que desencadeiam dinâmicas econômicas, relacionando-se, portanto, com a perspectiva de centralidade espacial. Mas também vem sendo o lócus de criação e expressão política e cultural, sendo a criação coletiva da espécie humana, a qual tem no espaço urbano o retrato de um ambiente artificializado. Já que a natureza foi moldada ao gosto do homem como sendo a extensão do corpo humano, uma vez que se relaciona com as potencialidades desenvolvidas pelo mesmo. A segregação urbana na cidade de Niterói Diferentemente do modelo Norte-Americano de segregação que possui correlação fortíssima com a etnicidade, o padrão brasileiro pode até possuir uma correlação, mas que tem a intensidade superada pela questão do poder aquisitivo, fazendo com que aqueles que possuam menor poder sejam de forma direta afastados do centro e direcionados às periferias, e, como destaca Souza (2011) essa problemática no Brasil é de uma maioria e não de minoria. Quando falamos em segregação residencial faz-se necessário se ater a maneira que ocorre, uma vez que poder ser induzida, quando as pessoas não escolhem sair do local, mas sim muitas vezes são pressionadas a fazê-lo principalmente pelo receio da não Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC aceitação social ou a inexistência de condições financeiras devido ao encarecimento do custo de vida. Mas também pode ser pela autosegregação, as pessoas escolhem e “está fortemente vinculada à busca por segurança por parte das elites, embora esse não seja o único fator” (SOUZA, 2010, p.70). Seguindo o modelo americano de amplas casas no subúrbio, com proposta de afastamento da cidade violenta e caótica, que gerou segregação a ampliação dos espaços privados controlados. A cidade de Niterói teve na região oceânica o modelo de autosegregação a partir de 1970, quando a classe média abandona a área central para a função residencial, com a expansão em massa dos chamados “Complexos de Alphaville” de acordo com Souza (2011). Que os caracteriza sob a forma de condomínios residenciais fechados, pela busca do ar bucólico, com mais áreas verdes, além da possibilidade de viver em casas e desfrutar de maiores espaços. O que permitiu à classe média niteroiense ofertar maior conforto à família, ter animais domésticos, churrasqueiras, piscinas, entre outros itens, além de estarem próximos às praias adequadas ao banho da cidade. Com base nas proposições feitas por Villaça (2001) a região Oceânica compunha características de cidades interioranas pela oferta de grandes lotes, mas também de cidades litorâneas, sobretudo aos cariocas que alimentam um fascínio pelas praias. Mas Souza (2011, p.83) frisa que: A segregação residencial, ela é, essencialmente, um produto da cidade. Meros povoados ou aldeias rurais não possuem uma complexidade que dê origem a bairros inteiros ou grandes espaços segregados, sendo, pelo contrário, relativamente homogêneos. A segregação residencial é um fenômeno urbano, e da grande cidade muito mais das cidades pequenas. Os fatores que impulsionam tal processo estão atrelados à implantação em 1974 da Lei de Fusão, quando o Estado do Rio de Janeiro e o antigo Estado da Guanabara foram unificados, como consequência a capital foi transferida para a cidade do Rio de Janeiro. Assim como houve a inauguração da Ponte Presidente Costa e Silva (fruto da lei 5512 de 17/10/1968), com 13 km de extensão ligando as capitais carioca e fluminense. O que viabilizou o processo de urbanização do município de Niterói e entorno, com intenso processo de migração da população dos municípios adjacentes, tornando-se alvo direto da ação da especulação Janeiro. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina imobiliária do Rio de XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Ilustração 2 – Construção da Ponte Rio-Niterói em 1973 Além de que a década de 1970 foi marcada pela expansão da indústria automobilística, e por consequência de automóveis nas cidades. A pavimentação das vias para a Região Oceânica, além do sistema de financiamento facilitado pelo BNH (Banco Nacional de Habitação) permitiu com que a nova classe média em ascensão conseguisse adquirir sua casa suburbana. Oliveira & Mizubuti (2007) apontam que houve uma expansão demográfica repentina na cidade, de acordo com o censo do IBGE em 1970 a população residente da cidade era de 324.246 habitantes, passando em 1980 para 397.123 e no censo de 1991 registrou-se 436.155 habitantes. Esse aumento expressivo aqueceu a construção civil, sobretudo, com a produção de habitação para a classe média e para segmentos de alto padrão de renda. Crescimento Populacional em Niterói REGIÃO Tabela 70/80 80/91 tx cresc. tx cresc. LESTE 3,25 2,56 2,07 2,3% PENDOTIBA 4,99 1,67 1,48 14,3% OCEÂNICA 5,11 9,60 5,92 23,7% NORTE 1,18 0,21 -0,20 -2,8% PRAIAS DA BAÍA 2,13 0,29 -0,20 6,4% 1: Taxas de crescimento 91/2000 populacional 2000/2010 tx cresc. da cidade tx cresc. de Niterói. Fonte: PMN Tabulação:Figueiredo. Analisando a tabela 1 acima podemos inferir que desde a década de 1970 a Região Oceânica dentre as demais da cidade foi a que manteve maiores taxas de crescimento populacional. Entre as décadas de 1970/80 com 5,11% de taxa de crescimento e a consolidação do ritmo crescente entre 1980/91. Mas o crescimento ocorreu, sobretudo, de forma horizontal, o que gerou um adensamento, mas não superior às áreas consolidadas Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC historicamente como de ocupação populacional, e, já marcadas pela verticalização. Uma vez que em 2010 as regiões apontadas como mais populosas da cidade foram Praias da Baía e Norte, com respectivamente 97 hab/ha e 65 hab/ha (vide tabela abaixo), concentrando juntas 73,1% da população niteroiense, e a Oceânica com 13 hab/ha e 14%. ÁREA REGIÃO (ha) Densidade 2000 2010 LESTE 1.984,73 3 3 PENDOTIBA 1.735,62 29 32 OCEÂNICA 5.209,19 11 13 NORTE 2.318,82 68 65 PRAIAS DA BAÍA 2.083,44 92 97 Tabela 2: Densidade populacional por Região de Planejamento de Niterói. Fonte: PMN Tabulação: Figueiredo. As regiões Praias da Baía e Norte concentram também o maior número de domicílios, em 2010 eram 86.515 e 55.637. Mas quando analisamos as condições socioeconômicas, como a renda per capita, as disparidades se fazem reveladoras, pois a Região Norte apresentou em 2010 uma proporção de 38,9% de domicílios com a renda entre 1/8 do salário mínimo e 1 (hum) salário mínimo, o que se explica quando correlacionamos com as 197 comunidades3 mapeadas na cidade, e verificamos que é aquela que concentra 43% dessas, ou em números 85 comunidades. A região Praias da Baía além de ser mais populosa apresentou maior renda per capita, superior ao município entre 2000 e 2010, por ser maior que 03 salários mínimos e com a menor presença de domicílios com renda per capita inferior a 01 salário mínimo, Vale a pena destacar que para a ONU, assim como para o Ministério das Cidades, a nomenclatura adequada seria “assentamentos informais”, contudo o mais praticado tanto pelo poder público quanto pelos moradores de Niterói, é “comunidade”, mesmo que não haja um consenso quanto à classificação desse termo, já que para os gestores públicos possui forte relação territorial o que permite traçar os limites de forma clara, já para os moradores possui forte correlação com a organização social, definida pela associação de moradores. 3 Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC sendo, portanto mais homogênea quando analisamos esses dados. Mas possui concentração de 19% das comunidades, ou seja, 38. A região Oceânica numa proporção menor que a Praias da Baía também se destacou na última década pela presença de domicílios com renda per capita alta, além de ter apresentado maior crescimento populacional absoluto e proporcional. Mas é válido destacar que ao mesmo tempo em que se teve um crescimento significativo do quantitativo populacional da Região Oceânica, e, 23,6% de seu contingente populacional tendo renda superior a cinco salários-mínimos, têm-se na outra ponta 25,3% entre 1/8 a 1 (hum) salário mínimo, e mais, está no 3º do ranking da cidade em concentração de comunidades, com o quantitativo de 35, o que representa 18% do total. Muitos acreditam que o desenvolvimento de uma cidade seja sinônimo de expansão do tecido urbano, contudo, ambos não estão diretamente relacionados. Pois a cidade tivera expansão do tecido urbano, mas em um padrão antagônico, na medida em que ocorrera a autosegregação da classe média para a Região Oceânica, na mesma proporção houve o crescimento de uma população de baixa renda, e de comunidades, que revelam a segregação residencial. Supostamente esse último crescera em função de fatores relativos à necessidade de mão-de-obra para suprir a demanda nascente no setor de serviços básicos como os domésticos, da mesma forma em que ocorrera o encarecimento e esgotamento de solo para a autoconstrução em regiões como Praias da Baía e Norte. O desenvolvimento urbano não se restringe somente a expansão da área urbanizada e pela sofisticação dessas, mas caracteriza-se verdadeiramente a promoção de “desenvolvimento socio-espacial na e da cidade: vale dizer, a conquista de melhor qualidade de vida para um número crescente de pessoas e da cada vez mais justiça social” (Ibidem, p.101). O desenvolvimento sobrepõe-se a melhor distribuição de riquezas e destruição do ecossistema, tem-se que repensar a respeito desse desenvolvimento questionando sua validade e acessibilidade. O desenvolvimento urbano tem que estar pautado em uma reforma urbana por par do poder público em conjunto com a sociedade que vá além da proposta de modernizar a cidade, ou uma área dela, alterando padrões estéticos e as estruturas socioeconômicas. Mas sim atrelada à promoção de uma reforma estrutural no que tange a sociedade, consequentemente melhorando a qualidade de vida da população, sobretudo, a pobre. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Existem obstáculos à implementação de uma verdadeira reforma urbana, que por diversas vezes se sobrepõem ao Estado, até mesmo por manipulá-lo. Ou seja, a natureza dos obstáculos não está restrita a questão técnica, mas sim política. Que é regida pelos principais grupos e classes dominantes de uma cidade, a qual faz uso do meio midiático principalmente para promover seus ideais de manipulação de gestão do espaço urbano atrelados aos seus interesses. Souza (2001) destaca que o senso comum sobrecarrega de críticas a falta de planejamento urbano, sobretudo olhando para o Estado, que por diversas vezes não tem o poder de superação de crises na dimensão que creditam a ele. Conclusão A cidade de Niterói considerada totalmente urbana para o IBGE, no cenário estadual se insere como de significativa importância tanto no contexto econômico quanto social. Teve no seu histórico de ocupação a influência da centralidade da cidade do Rio de Janeiro, que culminou na evolução do tecido urbano, a partir da área mais plana e próxima da Baía de Guanabara. Sem fugir do padrão de urbanização brasileiro, a cidade tivera a produção do espaço associada ao parcelamento do solo urbano, no qual a sociedade tivera o acesso designado pelo seu poder de compra. Ou seja, numa sociedade capitalista, composta por classes sociais, tem acesso à moradia, dá-se na mesma forma e proporção em que se hierarquiza a mesma. Em meados da década de 1970, sobre influências diversificadas, como o urbanismo Norte-americano de ocupação dos subúrbios, construção da Ponte Presidente Costa e Silva, consolidação do modelo rodoviário, intervenções públicas com a abertura e pavimentação de vias. A cidade vivencia a segregação urbana residencial, sobretudo, a autosegregação rumo à Região Oceânica, que oferece características aprazíveis, de proximidade com o mar, áreas extensas, baratas, arborizadas, além do afastamento do caos da área central. Há uma disseminação dos modelos de condomínios fechados, sobretudo, de casas, culminando em um padrão horizontal de ocupação do espaço. Os dados estatísticos comprovam o crescimento significativo e superior da região Oceânica perante as demais, revelando um adensamento expressivo, mas que não supera as mais antigas e consolidadas. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Além de revelar que a autosegregação estimulara o adensamento de autoconstruções, na cidade, nomeadas de comunidades. O processo revela uma urbanização em que tem o tecido urbano expandindo para áreas periféricas da cidade, mais distantes do Centro, como a Região Oceânica, mas com contradições socioeconômicas que se sobressaem, a partir de extremidades, com população de renda alta numa ponta, e na outra, de baixa renda. O presente artigo não tem a pretensão de vislumbrar todos os fatores influenciadores na produção do espaço da cidade, por isso, o recorte fora dado nas áreas de segregação urbana residencial. Buscando traçar um breve quadro comparativo dentre algumas das regiões administrativas da cidade, e, propondo um desenvolvimento urbano que se paute em uma reforma urbana que promovam a redução das disparidades socioeconômicas, a partir da interlocução dos mais diversos agentes da sociedade, uma vez que não se resume à atuação e intervenção do poder municipal. BIBLIOGRAFIA CITADA ABREU, Mauricio de Almeida. A Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ: IPP, 2008. AZEVEDO, Marlice Nazareth de. In: MARTINS, I. L.; KNAUSS, P. In: Cidade múltipla: temas de história de Niterói. Niterói: Niterói Livros, 1997. CAMPOS, Maristela Chicharo. Riscando o solo – o primeiro plano de edificação para Vila Real da Praia Grande. Niterói: Niterói Livros, 1998. ______. 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