9 DE ABRIL DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO SENHOR Evangelho segundo S. Mateus 26, 14-27 Reflexão Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes e disse-lhes: «Quanto me dareis, se eu vo-lo entregar?» Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. E, a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus.(...) Ao cair da tarde, sentou-se à mesa com os Doze. Enquanto comiam, disse: «Em verdade vos digo: Um de vós me há-de entregar.» Profundamente entristecidos, começaram a perguntar-lhe, cada um por sua vez: «Porventura serei eu, Senhor?» Ele respondeu: «O que mete comigo a mão no prato, esse me entregará. O Filho do Homem segue o seu caminho, como está escrito acerca dele; mas ai daquele por quem o Filho do Homem vai ser entregue. Seria melhor para esse homem não ter nascido!» Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: «Porventura serei eu, Mestre?» «Tu o disseste» - respondeu Jesus.» "Em verdade Eu vos digo: um de vós me há trair." É curioso notar o tom genérico desta declaração: "um de vós". Por que razão Jesus declara com tanta imprecisão que um de entre os Doze O haverá de entregar? Muitos Santos Padres comentaram nesta passagem dizendo que a intenção de Jesus com esta declaração não terá sido tanto a de denunciar Judas, mas a de lhe oferecer uma nova oportunidade de arrependimento e perdão. 1 Observamos a reacção dos discípulos à revelação do Mestre: "Com uma profunda aflição, cada um começou a perguntar: 'Sou eu, Senhor?'" É admirável pensar como os Apóstolos confiam aqui mais na palavra de Cristo do que no que dizem as suas próprias consciências: "Acaso serei eu, Senhor, o que vos há de trair?" Examinam-se a si mesmos, crêem mais no que lhes diz Jesus do que no testemunho das suas boas intenções, da sua (frágil) fidelidade. Este exemplo de humildade por parte dos Apóstolos deve trazer-nos à memória que também nós somos feitos do mesmo barro que Judas: somos capazes da mesma traição, das mesmas negações, dos mesmos pecados, das mesmas covardias. Não nos coloquemos soberbamente ao lado dos justos, como se fossemos infalíveis, irrepreensíveis; depositemos a nossa confiança apenas na Graça e na bondade de Nosso Senhor: "Ainda bem", digamos hoje e sempre a Jesus, "que me tens sustentado com a tua mão, porque me sinto capaz de todas as infâmias... Não me largues, não me deixes" (São Josemaria Escrivá, É Cristo que Passa, n. 15). Ajuda-me, Senhor, a ser-vos fiel! nidade, a felicidade da alma, a compreensão. A humildade animar-nos-á a levar a cabo grandes trabalhos, com a condição de não perdermos de vista a consciência da nossa pequenez e de ir aumentando, um pouco mais cada dia, a convicção da nossa pobre indigência. Admite sem vacilares que és um servidor obrigado a fazer um grande número de serviços. Não te pavoneies por seres chamado filho de Deus - reconheçamos a graça, mas não esqueçamos a nossa natureza-; não te envaideças, se serviste bem, porque cumpriste o que tinhas a fazer. O sol efectua a sua tarefa, a lua obedece; os anjos desempenham o seu papel. Proposta familiar Pedir ao Senhor que permaneça connosco, que vigie connosco, para que não O traiamos, rezando juntos a Oração do Padre Pio. “Fica comigo, Senhor!” Meditar em conjunto no seguinte texto: Recordo-vos que, se formos sinceros, se nos mostrarmos tal como somos, se nos endeusarmos com humildade, não com soberba, manter-nos-emos sempre seguros em qualquer ambiente. Poderemos falar sempre de vitórias e chamar-nos-emos vencedores, com essas íntimas vitórias do amor de Deus que nos trazem a sere- “Fica comigo, Senhor! Fica Senhor comigo, pois preciso da Tua presença para não Te esquecer. Sabes quão facilmente posso Te abandonar. Fica Senhor comigo, porque sou fraco e preciso da Tua força para não cair. Fica Senhor comigo, porque és minha vida, e sem Ti perco o fervor. Fica Senhor comigo, porque és minha luz, e sem Ti reina a escuridão. Fica Senhor comigo, para me mostrar Tua vontade. Fica Senhor comigo, para que ouça Tua voz e Te siga. Fica Senhor comigo, pois desejo amar-Te e permanecer sempre em Tua companhia. 2 3 Propostas Proposta de grupo Fica Senhor comigo, se queres que Te seja fiel. Fica Senhor comigo, porque, por mais pobre que seja minha alma, quero que se transforme num lugar de consolação para Ti, um ninho de amor. (...) Fica comigo nesta noite, Jesus, pois ao longo da vida, com todos os seus perigos, eu preciso de ti. Fazei, Senhor, que Te reconheça como Te reconheceram os Teus discípulos ao partir do pão, a fim de que a Comunhão Eucarística seja a luz a dissipar a escuridão, a força a sustentar-me, a única alegria do meu coração. Fica Senhor comigo, pois é só a Ti que procuro, Teu amor, Tua graça, Tua vontade, Teu coração, Teu Espírito, porque Te amo, e a única recompensa que Te peço é poder amar-Te sempre mais. Como este amor resoluto desejo amar-Te de todo o coração enquanto estiver na terra, para continuar a Te amar perfeitamente por toda a eternidade. Amén. Proposta individual O que é, ainda, em mim, soberba? Porque é que não sei ser humilde como foram os santos? Porque é que não sei que só Tu tens de ver tudo o que faço, e só a Ti quero agradar? Porque me agarro tanto às glórias do mundo? Porque é que não sei viver só em Ti, Senhor? 4 10 DE ABRIL SEGUNDA-FEIRA DA SEMANA SANTA Evangelho segundo São João 12, 1-7 Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Ofereceram-lhe lá um jantar. Marta servia e Lázaro era um dos que estavam com Ele à mesa. Então, Maria ungiu os pés de Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e enxugou-lhos com os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragrância do perfume. Nessa altura disse um dos discípulos, Judas Iscariotes, aquele que havia de o entregar: «Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para os dar aos pobres?» Ele, porém, disse isto, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que nela se deitava. Então, Jesus disse: «Deixa que ela o tenha guardado para o dia da minha sepultura! De facto, os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim não me tendes sempre.»» Reflexão O Evangelho de hoje estabelece um contraste entre duas atitudes espirituais: de um lado, temos a generosidade de Maria; de outro, a ganância e a avareza de Judas. Nestes tempos agitados, somos não apenas outras Martas ansiosas (cf. Lc 10, 41), preocupadas com a vida terrena, com a comida, com a saúde do corpo; mas também outros Judas, apegados aos bens materiais, aos nossos próprios interesses e apetites. "Por que não se vendeu este bálsamo", pensaríamos com Judas, "e não 5 se deu aos pobres?", e nem nos passa pelo coração o amor e o desprendimento com que Maria tudo entrega e deposita aos pés do Mestre! Podemos ver no repreendimento de Jesus a Judas um convite a nos darmos com mais generosidade, com mais desapego, com mais amor. Dar-nos aos outros, sim, mas sobretudo dando-nos a Deus nos outros. Tirando Nosso Senhor da equação, não damos fruto. Somos como a árvore à qual se corta a raiz, à qual se tapa o sol, à qual se corta a água. Aproveitemos esta Semana Santa para combatermos diariamente o nosso egoísmo e a nossa preguiça. Propostas Proposta de grupo de Ti. Meu Senhor e meu Deus, dá-me tudo o que me aproxima de Ti. Meu Senhor e meu Deus, desapega-me de mim mesmo, para que eu me dê todo a Ti". Proposta individual Visitar um Sacrário durante o dia de hoje de 15 minutos e examinar-me na virtude da generosidade. Que ando eu a recusar dar a Jesus? Onde pede o Senhor que eu me dê? O que me prende? No fim, pedir perdão, rezando o Acto de Contrição, por todas as vezes em que me fecho no meu egoísmo e comodismo e não me dou. Uma vez que a Páscoa está quase a chegar, propomos uma entrega mais generosa a Nosso Senhor que também não se poupou na generosidade da Sua entrega. Em grupo procuremos, no dia de hoje, ir à Missa, e lembrarmo-nos de sermos generosos no momento do Ofertório. Proposta familiar Ao longo desta Semana, esforcemo-nos para que a nossa casa seja, à semelhança do lar desta família de Betânia, lugar de simplicidade e hospitalidade para quem a visita, onde Jesus pode encontrar o consolo e a alegria que os rostos amigos costumam transmitir. Rezamos, todos juntos, a oração de S. Nicolau de Flue: "Meu Senhor e meu Deus, tira-me tudo o que me afasta 6 7 11 DE ABRIL TERÇA-FEIRA DA SEMANA SANTA Evangelho segundo São João 13, 21-33. 36-38 Naquele tempo, estando Jesus à mesa com os discípulos, sentiu-Se intimamente perturbado e declarou: «Em verdade, em verdade vos digo: Um de vós Me entregará». (...) Ele inclinou-Se sobre o peito de Jesus e perguntou Lhe: «Quem é, Senhor?» Jesus respondeu: «É aquele a quem vou dar este bocado de pão molhado». E, molhando o pão, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. Naquele momento, depois de engolir o pão, Satanás entrou nele. Disse-lhe Jesus: «O que tens a fazer, fá-lo depressa» Reflexão O Evangelho de hoje olha para Judas, filho de Simão. Ele tinha tudo planeado e já estava em pecado há muito tempo, esperava só uma ocasião oportuna para trair Jesus. O Mestre, sabendo tudo, olhou-o com enorme misericórdia, entregando-lhe o Seu próprio corpo, dando-lhe a Sua vida: “E, molhando o pão, deu-o a Judas Iscariotes”. Naquele momento, Cristo dava ao apóstolo todas as graças de que ele precisava para se converter, mas o seu coração encontrava-se já totalmente endurecido, não sendo capaz de acolher o amor e muito menos de responder ao amor. Ao contrario, enquanto Jesus se entrega por Judas, Judas entrega-o aos sumos sacerdotes, ou seja, o gesto de amor (infinito por um ser de Deus) não foi capaz de amolecer o seu coração, agora incorrigível, a sua frieza chegou a um extremo de 8 indiferença para com Cristo, “que melhor seria nunca ter nascido”. Jesus percebe, este endurecimento e sabe que Judas já não tem salvação por isso diz-lhe «O que tens a fazer, fá-lo depressa». No dia de hoje, o Senhor exorta-nos a não deixar o desespero tomar conta de nós. Embora ignoremos os santos desígnios do Pai, temos a garantia de que, se nos humilharmos com a verdadeira compunção, se reconhermos nossa miséria com sincero arrependimento, se percebemos realmente que tudo de bom vem Dele e que tudo o de mau vem de nós, da nossa concupiscência e da nossa soberba, não há pecado que não seja perdoado. Sejamos, pois, humildes e reconheçamos a nossa grande miséria, não deixemos de recorrer à Virgem Santíssima, refugium peccatorum, que tem sob os seus maternais cuidados o nosso frágil e pobre coração: que Ela afaste de nós o endurecimento de Judas e nos alcance a graça de podermos chorar amargamente, assim o fez São Pedro, em todas as faltas em que porventura viermos a cair. Propostas Proposta de grupo Hoje aprofundo o meu conhecimento sobre a missa, e tento perceber porque é que estamos na presença de Jesus crucificado. E se Jesus que é a cabeça da Igreja está crucificado, poderei eu, sendo o corpo, não estar? Medito sobre isto e pergunto aos meus amigos respostas para estas perguntas! 9 Proposta familiar Hoje em especial, faço tudo aquilo que me for pedido à primeira, de cara alegre como se fosse (e tentando que seja) exactamente o cumprimento da minha vontade e não da de quem mo pediu! Proposta individual Hoje em especial, preparo a minha comunhão com atenção, pedindo a Nossa Senhora que venha e receba Jesus nos seus braços, para que o possa receber com a mesma humildade, pureza e intenções que Ela mesma o recebeu. Peço perdão por todas as vezes que recebi Jesus com indiferença – como Judas! Amoleço o meu coração! Se ainda não me confessei, corro, para poder preparar a Paixão do Senhor! Ele vai morrer por mim! Estou disposto a morrer por Ele? 10 12 DE ABRIL QUARTA-FEIRA DA SEMANA SANTA Evangelho segundo São Mateus 26, 14-25 «Em verdade, em verdade vos digo: Um de vós Me entregará». Profundamente entristecidos, começou cada um a perguntar Lhe: «Serei eu, Senhor?» Jesus respondeu: «Aquele que meteu comigo a mão no prato é que vai entregar-Me. O Filho do homem vai partir, como está escrito acerca d’Ele. Mas ai daquele por quem o Filho do homem vai ser entregue! Melhor seria para esse homem não ter nascido». Judas, que O ia entregar, tomou a palavra e perguntou: «Serei eu, Mestre?» Respondeu Jesus: «Tu o disseste». Reflexão Nesta Quarta-feira, dia em que a Tradição reconhece ter ocorrido a traição de Judas, o Evangelho narra os preparativos para a Última Ceia e os derradeiros acertos entre os príncipes dos sacerdotes e o traidor do Senhor. Esta mesma leitura, coloca-nos à Mesa Santa junto de Cristo e seus discípulos. Logo ao sentar-se para celebrar a Páscoa dos judeus, o Senhor anuncia: "Em verdade, em verdade vos digo: Um de vós Me entregará." É curioso notar o tom algo genérico dessa declaração: "Um de vós". Ao observamos a reacção dos discíplos: “Profundamente entristecidos, começou cada um a perguntar Lhe: «Serei eu, Senhor?»” percebemos que Jesus não fez esta generalização para repreender o pecado de um dos Doze, mas para manifestar as virtudes dos outros Onze. É admirável contemplar como 11 os Apóstolos confiam aqui mais na palavra de Cristo do que no testemunho das suas próprias consciências: Examinam-se a si mesmos, vêem-se livres de dolos, de insídias, de armaduras; crêem, porém, mais no que lhes diz Jesus do que no testemunho das suas pretensas boas intenções, da sua frágil fidelidade. Este exemplo singular de humildade deve-nos trazer à memória que também nós somos feitos do mesmo barro que Judas: somos capazes da mesma traição, das mesmas negações, dos mesmos pecados, das mesmas cobardias. Ao meditarmos, ao longo desta Semana Santa, a Paixão de Nosso Senhor, não nos coloquemos soberbamente ao lado dos justos, como se fossemos infalíveis, irrepreensíveis; coloquemos-nos antes com Anás e Caifás, com Pilatos e os guardas; saibamo-nos perdidos no meio daquela multidão que condenava à morte o Autor da vida: "Seja crucificado! Fora com ele! Crucifica-o!". Depositemos a nossa confiança apenas na Graça e na bondade de Nosso Senhor: Ainda bem, digamos hoje e sempre a Jesus, que me tens sustentado com a tua mão, porque me sinto capaz de todas as infâmias... Não me largues, não me deixes! Propostas Proposta de grupo Proposta familiar Sendo este o dia em que Judas traiu Jesus, proponho em casa renunciarmos a alguma parte da refeição como a sobremesa, sopa ou prato principal, como símbolo da renuncia à nossa vontade. Proposta individual Examino-me bem. Será que confrontado com a acusação de Cristo, também eu seria capaz de O interrogar se poderias ser eu a entregar o meu Senhor? Ou ainda confio demais nas minhas capacidades? Junto um grupo de amigos para falar com um padre sobre a paixão de Cristo. Tal como os apóstolos, que confiaram mais na palavra do Senhor do que nos seus juízos imperfeitos, também nós devemos ouvir humildemente a igreja acerca das nossas próprias vidas, como o filho que ouve e confia na mãe! 12 13 13 DE ABRIL QUINTA-FEIRA DA SEMANA SANTA Evangelho segundo São Lucas 4, 16-21 Naquele tempo, Jesus foi a Nazaré, onde Se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou na sinagoga a um sábado e levantou-Se para fazer a leitura. Entregaram-Lhe o livro do profeta Isaías e, ao abrir o livro, encontrou a passagem em que estava escrito: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos, a proclamar o ano da graça do Senhor». Depois enrolou o livro, entregou-o ao ajudante e sentouSe. Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga. Começou então a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir». Reflexão O Evangelho desta última quinta-feira da Quaresma não podia vir mais a propósito, pelo Ano da Misericórdia que passou. Jesus identifica-se com o Ungido de Deus, o enviado para "levar a boa nova aos pobres proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos". Dando cumprimento a esse texto profético, Jesus proclama "um ano de graças da parte do Senhor" e inaugura o anúncio da Boa Notícia que o Pai quer transmitir aos homens: Deus está conosco e, fazendo-se em tudo semelhante a nós, vem trazer-nos a libertação do pior dos males, o pecado. A divina humanidade de Nosso Senhor 14 vem, pois, dar-nos o toque da Graça, vem ungir-nos com o Espírito de que está revestido. Essa mesma humanidade, que nos toca realmente na Eucaristia, quer também anunciar a cada um de nós a alegria do seu Evangelho. Resgatando-nos da iniquidade que nos mantinha cativos do demónio, Jesus quer continuar a operar em nós a sua obra de salvação e libertação. Abramo-nos à Graça de tão amável Redentor e, livres do pecado e nascidos para uma vida nova em Cristo Jesus, levemos a outros corações o que Ele hoje nos oferece, sem medo de seguir a Boa Nova que Jesus nos trás. Apesar de tantas vezes chocar com os nossos desejos e expectativas mundanas, é este o único caminho que nos fará realmente bons e felizes: "Se alguém quer seguir-me", diz Jesus, "renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”, ou seja, crucifique o homem velho e o seu apego desordenado às criaturas, para poder amar e servir a Deus. Propostas Proposta de grupo Rezo a oração do Angelus ao meio dia, ou às seis da tarde, com os teus amigos. Agradeço a vinda de Jesus que me libertou da escravidão do pecado e agradeço o “sim” de Maria. Proposta familiar A partir de hoje, não tenho vergonha de rezar em frente dos teus pais ou irmãos, principalmete na refeição. Se me custar o desconforto que sinto, entrego 15 14 DE ABRIL SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO DO SENHOR esse sofrimento a Nosso Senhor, pedindo-lhe que o transforme em graças para a minha família. Proposta individual Compro uma cruz de bolso e ando sempre com ela - quando estudar, quando estiver em aula, a trabalhar... agarro-me a ela sempre que me sentir a “fraquejar”, olhando para Ele ali, entregue por mim e ofereco-Lhe o que me está a custar! Que alegria vou sentir por estar junto com Jesus na cruz! 16 Evangelho segundo São João 18, 1 – 19, 42 Narrador 1: Então Jesus veio para fora, trazendo a coroa de espinhos e o manto vermelho. Pilatos disse-lhes: Leitor 1: “Eis o homem!” Narrador 1: Quando viram Jesus, os sumos sacerdotes e os guardas começaram a gritar: Ass.: “Crucifica-o! Crucifica-o!” Narrador 1: Pilatos respondeu: Leitor 1: “Levai-o vós mesmos para o crucificar, pois eu não encontro nele crime algum”. Narrador 1: Os judeus responderam: Ass.: “Nós temos uma Lei, e, segundo esta Lei, ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus”. Narrador 2: Ao ouvir estas palavras, Pilatos ficou com mais medo ainda. Entrou outra vez no palácio e perguntou a Jesus: Leitor 1: “De onde és tu?” Narrador 2: Jesus ficou calado. Então Pilatos disse: Leitor 1: “Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar?” Narrador 2: Jesus respondeu: Pres.: “Tu não terias autoridade alguma sobre mim, se ela não te fosse dada do alto. Quem me entregou a ti, portanto, tem culpa maior”. Narrador 2: Por causa disso, Pilatos procurava soltar Jesus. Mas os judeus gritavam: Ass.: “Se soltas este homem, não és amigo de César. Todo aquele que se faz rei, declara-se contra César”. 17 Narrador 1: Ouvindo essas palavras, Pilatos levou Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado “Pavimento”, em hebraico Gábata”. Era o dia da preparação da Páscoa, por volta do meio-dia. Pilatos disse aos judeus: Leitor 2: “Eis o vosso rei!” Narrador 1: Eles, porém, gritavam: Ass.: “Fora! Fora! Crucifica-o!” Narrador 1: Pilatos disse: Leitor 1: “Hei de crucificar o vosso rei?” Narrador 1: Os sumos sacerdotes responderam: Ass.: “Não temos outro rei senão César”. Narrador 2: Então Pilatos entregou Jesus para ser crucificado, e eles o levaram. Jesus tomou a cruz sobre si e saiu para o lugar chamado Calvário”, em hebraico “Gólgota”. Ali o crucificaram, com outros dois: um de cada lado, e Jesus no meio. Pilatos mandou ainda escrever um letreiro e colocá-lo na cruz; nele estava escrito: Ass.: “Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus”. Narrador 2: Muitos judeus puderam ver o letreiro, porque o lugar em que Jesus foi crucificado ficava perto da cidade. O letreiro estava escrito em hebraico, latim e grego. Então os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: Ass.: “Não escrevas ‘O Rei dos Judeus’, mas sim o que ele disse: ‘Eu sou o Rei dos judeus’”. Narrador 2: Pilatos respondeu: Ass.: “O que escrevi, está escrito”. Narrador 2: Depois que crucificaram Jesus, os soldados repartiram a sua roupa em quatro partes, uma parte para cada soldado. Quanto à túnica, esta era tecida sem costura, em peça única de alto abaixo. Disseram então entre si: Ass.: “Não vamos dividir a túnica. Tiremos a sorte para ver de quem será”. Narrador 2: Assim se cumpria a Escritura que diz: Ass.: “Repartiram entre si as minhas vestes e lançaram sorte sobre a minha túnica”. Narrador 1: Assim procederam os soldados. Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: Pres.: “Mulher, este é o teu filho”. Narrador 1: Depois disse ao discípulo: Pres.: “Esta é a tua mãe”. Narrador 1: Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo. Depois disso, Jesus, sabendo que tudo estava consumado, e para que a Escritura se cumprisse até o fim, disse: Pres.: “Tenho sede”. Narrador 1: Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram numa vara uma esponja embebida de vinagre e levaram-na à boca de Jesus. Ele tomou o vinagre e disse: Pres.: “Tudo está consumado”. Narrador 1: E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. 18 19 Reflexão Deus morreu. Naquela cruz, não morreu só um bom homem com uma boa mensagem para passar. Não morreu um homem inspirador, não morreu uma estrela. Morreu Deus. Que ilógico! Deus, infinitamente superior, infinitamente poderoso escolher amar-nos ao ponto de precisar de nós, precisar de nós ao ponto de desejar salvar-nos, e desejar salvar-nos ao ponto de se humilhar como o mais miserável dos pecadores, sendo inocente! Deus amarnos ao ponto de morrer por nós! “Deus pôs na Cruz de Jesus todo o peso dos nossos pecados, todas as injustiças perpetradas por cada Caim contra o seu irmão, toda a amargura da traição de Judas e de Pedro, toda a vaidade dos prepotentes, toda a arrogância dos falsos amigos. Era uma Cruz pesada, como a noite das pessoas abandonadas, pesada como a morte das pessoas queridas, pesada porque resume toda a fealdade do mal. Contudo, é também uma Cruz gloriosa como a aurora de uma longa noite, porque em tudo representa o amor de Deus que é maior do que as nossas iniquidades e traições. Na Cruz nós vemos a monstruosidade do homem, quando se deixa guiar pelo mal; mas vemos também a imensidão da misericórdia de Deus que não nos trata segundo os nossos pecados, mas em conformidade com a sua misericórdia.” O caminho do calvário, o sofrimento profundo de Jesus, a monstruosidade daqueles homens que o rodearam geram em nós uma revolta profunda. Mas revolta contra o quê, contra quem, se fui eu quem, vez após vez, colocou a coroa de espinhos na cabeça de Jesus, Lhe colocou a cruz às costas, O pregou nessa cruz, lhe deu a beber vinagre… Na verdade, quantos de nós podem dizer de si mesmos: “eu estou inocente da cruz de Jesus”? Pobres seríamos se assim fosse, porque Jesus morreu precisamente pelas culpas de quem o matava – Ele desejava dar a vida que lhe roubavam na cruz! Na origem da condenação de Jesus encontra-se precisamente o mesmo erro em que tantas, tantas vezes caímos! O de dizer, como os judeus, “Não temos outro rei senão César”. Não tenho outro rei senão este mundo. A soberba de nos fazermos os nossos próprios reis, os nossos próprios deuses! Não temos outro rei, Jesus é o nosso rei, mas tantas vezes recusamos a sua realeza! Por isso, diante de um homem indefeso, frágil, humilhado como se apresenta Jesus, um homem de poder como Pilatos fica surpreendido – surpreendido, porque ouve falar de um reino, de servidores – e faz uma pergunta, a seu ver paradoxal: «Logo, Tu és rei!». Que tipo de rei pode ser um homem naquelas condições!? Mas Jesus responde afirmativamente: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz». Jesus fala de rei, de reino, referindo-Se não ao domínio mas à verdade. Pilatos não entende: poderá haver um poder que não se obtenha com meios humanos? Um poder que não corresponda à lógica do domínio e da força? Jesus veio para revelar e trazer uma nova realeza: a realeza de Deus. Veio para dar testemunho da verdade de um Deus que é amor e que deseja estabelecer um reino de justiça, de amor e de paz. Quem está aberto ao amor, escuta este testemunho e acolhe-o com fé, para entrar no reino de Deus. Esta semana pensemos muito na dor de Jesus e digamos: isto é para mim. Ainda que eu fosse a única pessoa no mundo, Ele tê-lo-ia feito. Fê-lo por mim. Beijemos o Crucificado e digamos: por mim, obrigado Jesus, por mim! 20 21 Propostas Proposta de grupo Proposta individual Rezar esta oração escrita pelo Papa Ler esta oração em família Que respondem, porém, os judeus à vista deste rei de dores? Fazem uma grande gritaria e dizem: Crucifica-o, crucifica-o. E vendo que Pilatos, apesar de seus insultos, procurava libertá-lo, aterrorizam-no dizendo: “Se soltares a este, não és amigo de César” (Jo 19,12). Pilatos resiste ainda uma vez e replica: “Então hei de crucificar o vosso rei?” E eles responderam: “Nós não temos outro rei além de César”. Ah, meu adorado Jesus, eles não querem vos conhecer por seu rei e afirmam que não querem outro rei senão César. Eu vos reconheço por meu rei e protesto que não quero outro rei para o meu coração senão vós, meu amor e meu único bem. Infeliz de mim. Também eu vos desconheci por algum tempo como meu rei e protestei não querer servir-vos. Agora, porém, quero que só vós domineis sobre minha vontade. Fazei que ela obedeça a tudo o que ordenardes. Ó vontade de Deus, vós sois o meu amor. Ó Maria, rogai por mim, pois as vossas súplicas nunca são desatendidas. «Ó Cruz de Cristo, símbolo do amor divino e da injustiça humana, ícone do sacrifício supremo por amor e do egoísmo extremo por insensatez, instrumento de morte e caminho de ressurreição, sinal da obediência e emblema da traição, patíbulo da perseguição e estandarte da vitória. Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos erguida nas nossas irmãs e nos nossos irmãos assassinados, queimados vivos, degolados e decapitados com as espadas barbáricas e com o silêncio velhaco. Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos rostos exaustos e assustados das crianças, das mulheres e das pessoas que fogem das guerras e das violências e, muitas vezes, não encontram senão a morte e muitos Pilatos com as mãos lavadas. Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos doutores da letra e não do espírito, da morte e não da vida, que, em vez de ensinar a misericórdia e a vida, ameaçam com a punição e a morte e condenam o justo. Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos ministros infiéis que, em vez de se despojarem das suas vãs ambições, despojam mesmo os inocentes da sua dignidade. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos corações empedernidos daqueles que julgam comodamente os outros, corações prontos a condenálos até mesmo à lapidação, sem nunca se darem conta dos seus pecados e culpas. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos fundamentalismos e no terrorismo dos seguidores 22 23 Combinar com um grupo de amigos ver o filme do Mel Gibson: A Paixão de Cristo. Proposta familiar S. Afonso Maria de Ligório de alguma religião que profanam o nome de Deus e o utilizam para justificar as suas inauditas violências. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje naqueles que querem tirar-te dos lugares públicos e excluir-te da vida pública, em nome de certo paganismo laicista ou mesmo em nome da igualdade que tu própria nos ensinaste. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos poderosos e nos vendedores de armas que alimentam a fornalha das guerras com o sangue inocente dos irmãos. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos traidores que, por trinta dinheiros, entregam à morte qualquer um. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ladrões e corruptos que, em vez de salvaguardar o bem comum e a ética, vendem-se no miserável mercado da imoralidade. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos insensatos que constroem depósitos para armazenar tesouros que perecem, deixando Lázaro morrer de fome às suas portas. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos destruidores da nossa «casa comum» que, egoisticamente, arruínam o futuro das próximas gerações. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos idosos abandonados pelos seus familiares, nas pessoas com deficiência e nas crianças desnutridas e descartadas pela nossa sociedade egoísta e hipócrita. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje no nosso Mediterrâneo e no Mar Egeu feitos um cemitério insaciável, imagem da nossa consciência insensível e narcotizada. Ó Cruz de Cristo, imagem do amor sem fim e caminho da Ressurreição, vemos-te ainda hoje nas pessoas boas e justas que fazem o bem sem procurar aplausos nem a admiração dos outros. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ministros fiéis e humildes que iluminam a escuridão da nossa vida como velas que se consumam gratuitamente para iluminar a vida dos últimos. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos rostos das religiosas e dos consagrados – os bons samaritanos – que abandonam tudo para faixar, no silêncio evangélico, as feridas das pobrezas e da injustiça. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos misericordiosos que encontram na misericórdia a expressão mais alta da justiça e da fé. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nas pessoas simples que vivem jubilosamente a sua fé no diaa-dia e na filial observância dos mandamentos. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos arrependidos que, a partir das profundezas da miséria dos seus pecados, sabem gritar: Senhor, lembra-Te de mim no teu reino! Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos Beatos e nos Santos que sabem atravessar a noite escura da fé sem perder a confiança em ti e sem a pretensão de compreender o teu silêncio misterioso. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nas famílias que vivem com fidelidade e fecundidade a sua vocação matrimonial. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos voluntários que generosamente socorrem os necessitados e os feridos. 24 25 Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos perseguidos pela sua fé que, no sofrimento, continuam a dar testemunho autêntico de Jesus e do Evangelho. Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos que sonham com um coração de criança e que trabalham cada dia para tornar o mundo um lugar melhor, mais humana e mais justo. Em ti, Santa Cruz, vemos Deus que ama até ao fim, e vemos o ódio que domina e cega os corações e as mentes daqueles que preferem as trevas à luz. Ó Cruz de Cristo, Arca de Noé que salvou a humanidade do dilúvio do pecado, salva-nos do mal e do maligno! Ó Trono de David e selo da Aliança divina e eterna, desperta-nos das seduções da vaidade! Ó grito de amor, suscita em nós o desejo de Deus, do bem e da luz. Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que o amanhecer do sol é mais forte do que a escuridão da noite. Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que a aparente vitória do mal se dissipa diante do túmulo vazio e perante a certeza da Ressurreição e do amor de Deus que nada pode derrotar, obscurecer ou enfraquecer. Amém!» Papa Francisco 26 15 DE ABRIL SÁBADO SANTO Leitura do Gênesis 1, 1-2 No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam a superfície do abismo e o espírito de Deus pairava sobre as águas. Disse Deus: «Faça-se a luz». E a luz apareceu. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. Deus chamou ‘dia’ à luz e ‘noite’ às trevas. Veio a tarde e, em seguida, a manhã: era o primeiro dia. (…) Disse Deus: «Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre os animais selvagens e sobre todos os répteis que rastejam pela terra». Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus. Ele o criou homem e mulher. Deus abençoou-os, dizendo: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem na terra». Disse Deus: «Dou-vos todas as plantas com semente que existem em toda a superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os seres vivos que se movem na terra dou as plantas verdes como alimento». E assim sucedeu. Deus viu tudo o que tinha feito: era tudo muito bom. Veio a tarde e, em seguida, a manhã: foi o sexto dia. Assim se completaram o céu e a terra e tudo o que eles contêm. Deus concluiu, no sétimo dia, a obra que fizera e, no sétimo dia, descansou do trabalho que tinha realizado. 27 Reflexão No dia Sábado Santo não há missa nenhuma em qualquer parte do mundo. Assim é porque neste dia esperamos a ressurreição do dia a seguir. Este é um dia em que sentimos a ausência de Deus no mundo – não porque Deus não queira entrar, arrasar os nossos corações e agir em nós, mas porque os homens não o deixam, expulsando-os das suas casas, das suas famílias, das suas vidas. Assim foi com Jesus – Deus deu-nos o seu Filho e nós demos-lhe a morte, escorraçámo-Lo das nossas vidas! Ainda assim, é ainda no Sábado, antes da meia-noite que começamos a Vigília Pascal, a celebração em que esperamos a ressurreição de amanha! “Dois grandes sinais caracterizam a celebração litúrgica da Vigília Pascal. Temos antes de mais nada o fogo que se torna luz. A luz do círio pascal que, na procissão através da igreja encoberta na escuridão da noite, se torna uma onda de luzes, fala-nos de Cristo como verdadeira estrela da manhã eternamente sem ocaso, fala-nos do Ressuscitado em quem a luz venceu as trevas. O segundo sinal é a água. Esta recorda, por um lado, as águas do Mar Vermelho, o afundamento e a morte, o mistério da Cruz; mas, por outro, aparecenos como água nascente, como elemento que dá vida na aridez. Torna-se assim imagem do sacramento do Baptismo, que nos faz participantes da morte e ressurreição de Jesus Cristo.” “Na Vigília Pascal, o percurso ao longo dos caminhos da Sagrada Escritura começa pelo relato da criação. Desta forma, a liturgia quer-nos dizer que também o relato da criação é uma profecia. Não se trata de uma informação sobre a realização exterior da transformação do universo e do homem. Bem cientes 28 disto estavam os Padres da Igreja, que entenderam este relato não como narração real das origens das coisas, mas como apelo ao essencial, ao verdadeiro princípio e ao fim do nosso ser. Ora, podemo-nos interrogar: mas, na Vigília Pascal, é verdadeiramente importante falar também da criação? Não se poderia começar pelos acontecimentos em que Deus chama o homem, forma para Si um povo e cria a sua história com os homens na terra? A resposta deve ser: não! Omitir a criação significaria equivocar-se sobre a história de Deus com os homens, diminuí-la, deixar de ver a sua verdadeira ordem de grandeza. O arco da história que Deus fundou chega até às origens, até à criação.” (Papa Bento XVI) Propostas Proposta de grupo Hoje não há uma missa a quem possa ir com alguém, mas e se desafiar um amigo a fazer comigo a adoração da cruz? Explico-lhe que, entrando em qualquer igreja, se encontra uma cruz sobre o altar com Jesus crucificado e que, nela, vemos o mesmo que viu Nossa Senhora olhando para o filho na cruz, associando-nos à sua dor, consolando o Seu coração e deixando-A consolar o nosso. Só na cruz podemos entrever a dimensão do amor de Deus por nós! Proposta familiar Vou com a minha família à Vigília Pascal. Não espero por amanha para receber a Boa Nova da Ressureição de Jesus! Vou esperá-la já hoje! Vivo em 29 16 DE ABRIL DOMINGO DE PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR Igreja a mesma angústia dos Apóstolos após a morte do Senhor, mas também a mesma alegria que viveram com a Sua ressurreição! É o maior motivo da nossa alegria, porque o único motivo da nossa salvação! Proposta individual Sofro com a ausência de Deus na minha vida, quando não O deixo entrar? Ou ele é só um sentimento que é bom e reconfortante quando está, mas cuja ausência me é indiferente? Dou-lhe espaço na minha vida para agir em mim, ouvir a Sua voz ou, por outro lado calo-o, crucifico-o quando a sua proposta se torna demasiado exigente? Reconheço que só ele conhece o único caminho que me pode tornar verdadeiramente feliz, ou penso saber melhor aquilo que me tornará mais realizado? Oiço a música com a letra “Mas que descanso é viver a morrer todos os dias, por ir contra o próprio querer, esquecer o que se queria e querer o que Deus quer”. Penso na exigência desta proposta de vida! Evangelho segundo S. Mateus 28, 1-10 No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido tirada do túmulo. Então, saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”. Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Ao olhar para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. Chegou também Simão Pedro, que vinha a correr atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou. De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos. Reflexão Jesus, aquele que havia sido humilhado e crucificado, aquele que todos haviam visto morto, derrotado, impotente, ressuscitou. Voltou à vida não para orgulhosamente demonstrar que tinha razão no 30 31 que dizia, mas para humildemente salvar aqueles que o haviam morto, cada um de nós - não para vencer os pecadores, mas o pecado! Muitas vezes ouvimos dizer-se “Jesus morreu para nos salvar”, ou “é pela Sua ressurreição que somos salvos”, mas sabemos verdadeiramente o que isso significa? Não, e provavelmente nunca o perceberemos em profundidade! No entanto, isso não nos impede de reconhecer nestas duas frases a verdade mais importante nas nossas vidas! Cristo morreu verdadeiramente para nos salvar, e não poderia ter-nos salvo sem se ter sacrificado! Olhamos para aquilo que comemos: podia a comida que nos alimentamos nutrir-nos, dar-nos vida sem que primeiro tivesse morrido ela mesma? Assim Cristo não poderia, também, dar-nos a Vida sem primeiro dar a vida! Na atitude de Maria Madalena e dos apóstolos perante a notícia da ressurreição do Senhor vemos a imagem da nossa missão dentro da igreja, perante a notícia da ressurreição do Senhor. “Os dois corriam juntos”: Na verdade, somos chamados a viver a peregrinação desta terra agarrados aos que nos rodeiam, como único meio para vivermos também agarrados a Cristo. Somos verdadeiramente responsáveis pela santificação de todos aqueles que se cruzam no nosso caminho, porque não esta luta não se ganha na independência, mas levando tantos quanto puder a ganhála também! “Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo”. João não deixa que a sua juventude e vigor o levem a sobrepor-se a Pedro, esperando à porta do túmulo por aquele sobre quem Cristo haveria de construir a Sua Igreja. Assim devemos viver nós, fieis à verdade e fieis à igreja, anterior a nós, corpo místico de Jesus! Grande humildade há em dizer, com sinceridade, «não fui eu, nos meus X anos de vida, e sem ter estudado ou pensado a fundo sobre este tema que descobri “algo que a Igreja, pobrezinha, ainda está por descobrir”». Rezemos pela nossa fidelidade ao Santo Padre e a esta igreja que, pessoa a pessoa, desde este momento no Evangelho, propagou esta notícia, causa da nossa alegria! 32 33 Propostas Proposta de grupo Envio uma mensagem a todos aqueles com quem, ao longo da Quaresma, realizei estas propostas. Agradeço-lhes a ajuda que foram na minha preparação para este dia tão importante, e revelo-lhes a minha alegria! Proposta familiar Por vezes, é fácil cair na tentação de achar que despachada a missa no dia de páscoa, o resto do dia não é mais do que uma festa de família, dia de abundância e o fim de um longo caminho! Na verdade, é todas estas coisas, e todas elas são boas, mas nenhuma delas é um fim em si próprio! Todas delas o são pela ressurreição de Cristo. Vivo assim o meu dia, prestando testemunho humilde perante a minha família. Proposta individual Será que chegámos ao fim da estrada, ou simplesmente ao início de uma nova? Devo entender que, mais do que este caminho de deserto, foi a Páscoa de Cristo que me transformou. Sem ela, todos os sacrifícios que vivi não teriam qualquer sentido! Agora, Transformado, sou chamado a viver uma vida nova, porque morto com Cristo, com ele ressuscito hoje também! A exigência da vida cristã é que não me deixe ficar estagnado no “nível” onde estou, mas que aproveite estes saltos para nunca mais voltar para trás no meu amor a Cristo. As equipas poderiam ter escrito uma proposta para os 40 dias de Páscoa que vou viver até ao Pentecostes, mas hoje sou eu que me comprometo a vivê-los intensamente, nunca deixando de me propor e desafiar perante Nossa Senhora, crescendo sempre no amor a Ela e ao Seu Filho! 34 35 36