bullying

Propaganda
Universidade de São Paulo
Instituto de Física de São Carlos
Licenciatura em Ciências Exatas
SLC0631 - Psicologia da Educação II
Prof. José Fernando Fontanari
BULLYING
Filipe Goulart Costa
São Carlos
Setembro/2015
7979040
Introdução
Já virou rotina nos depararmos em meio a tantos lugares uma situação
que se torna corriqueira, como é o caso do bullying. Este é um fenômeno que
ocorre de maneira recorrente e prolongada, causando nos envolvidos graves
danos psicológicos. Em meio a estes tantos lugares, o meio escolar merece
bastante destaque, uma vez que este é um local onde passamos a maior parte
da nossa infância e adolescência e o primeiro espaço responsável por iniciar as
nossas interações sociais e ainda, por este ser um espaço de formação de
cidadãos críticos, aptos a atuar em sua realidade respeitado as diferenças de
classe, gênero, etnia, entre outros aspectos; é preocupante que este espaço
reproduza os preconceitos que existem em nossa sociedade, por isso, cabe-se
destacar as relações que são estabelecidas no âmbito escolar e repensar
sobre a sua função e papel social, no que se refere à formação de indivíduos.
Pretende-se então, com este trabalho discutir as possíveis causas e
consequências desse ato, assim como o papel da escola para resolver este
tipo de situação (FREIRE, 2012).
O Bullying
O bullying sempre existiu no âmbito escolar, porém nunca foi levado a
sério e era interpretado apenas como brincadeiras mal intencionadas. Foi
quando nos anos 80, o psicólogo norueguês Dan Olweus intensificou os
estudos sobre tal e, definiu o bullying como atos agressivos, antissociais e
repetitivos que recaem sobre uma mesma vítima por tempo prolongado
caracterizando assim um desequilíbrio de poder. O bullying difere dos outros
tipos de agressões porque não tem um motivo aparente, ou seja, não é
causado por divergências de ideias ou pensamentos, mas sim, motivado
puramente pela falta de simpatia do agressor para com a vítima. Destaca-se
que o bullying é caracterizado pela repetição das agressões, podendo ser
classificado de duas maneiras: direto e indireto. Como o próprio nome diz; o
bullying classificado como direto é aquele onde a vítima sofre diretamente os
ataques, são exemplos: apelidos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas
verbais ou expressões e gestos que geram mal estar aos alvos. Já aquele que
é classificado como indireto, são ações que levam a vítima ao isolamento social
são ações como: indiferença, difamação, exclusão, entre outros. Percebe-se
que por mais que a agressão física seja a mais aparente, é o poder de
desestruturação psicológica do bullying que o torna tão preocupante (FREIRE,
2012).
Um fato bastante interessante, no que se refere ao histórico do bullying,
que merece ser destacado é que, com o avanço da tecnologia foi possível que
um maior número de pessoas tivesse acesso ao uso de aparelhos eletrônicos
e, uma consequência negativa desse avanço, foi o aparecimento de uma nova
forma de agressão associada ao bullying, conhecido como cyberbullying. Este
tipo de agressão se dá principalmente por meio de e-mails, mensagens de
celulares e redes sociais (FREIRE, 2012).
Os Autores
Os autores de bullying são aqueles que praticam as ações de
agressões, torturando os mais vulneráveis, usando a agressividade para se
imporem e liderarem algum grupo. O ato da humilhação é visto pelo autor como
um modo de se valorizar socialmente. São geralmente muito habilidosos ao
usar esse poder com colegas mais fracos e que não conseguem fazer frente às
agressões. Estes atos de agressão, muitas vezes nem condizem com o autor;
são simplesmente feitos para terem seu ego exaltado interna ou externamente
(FREIRE, 2012).
Mas, de onde vem essa violência? Será que eles já nasceram com a
característica de ser agressivos com o próximo? Uma das causas do bullying
pode estar no estudo da agressividade adolescente, fato já estudado a um bom
tempo, principalmente pelo psicólogo Albert Bandura. Nascido em 1925,
Bandura se tornou um dos psicólogos mais influentes e renomados do mundo.
Atualmente é professor na Universidade de Stanford e, segundo Bandura; o
indivíduo é capaz de aprender também através de reforço vicário, ou seja,
através da observação do comportamento dos outros. É conveniente falar dele,
pois além de toda sua teoria, ele também faz experimentos pontuais que nos
fornecem muitos dados interessantes que explicam muitas coisas. Em seus
experimentos mais conhecidos, realizados de 1961 até 1963, primeiramente
Bandura divide três grupos de crianças separadas por gêneros e faz com que
cada grupo assista a um vídeo de uma mulher adulta espancando um joãobobo, a diferença nos três grupos é que no final do vídeo do primeiro grupo, a
mulher era repreendida, no segundo ela era elogiada e no terceiro esta não
sofria nenhuma consequência. Porém, será em cima de seu segundo
experimento
que
vamos
tirar
nossas
conclusões.
Em
seu
segundo
experimento, as crianças são divididas em 5 grupos, o primeiro grupo assiste a
uma modelo espancando um boneco ao vivo, um segundo assiste a um vídeo
de uma mulher espancando o boneco, no terceiro elas assistem a um cartoon,
onde temos um personagem espancando um boneco, no quarto grupo as
crianças não assistem a nada e no quinto as elas assistem um vídeo em que a
modelo tem atitudes afetuosas com o boneco. Ao final, as crianças são
colocadas em uma sala com diversos brinquedos, entre eles o joão-bobo. O
resultado foi que os três primeiros grupos tiveram praticamente o dobro do
índice de agressividade dos dois últimos, o que nos permite concluir que a
criança reproduz aquilo que está vendo. Outro resultado obtido foi que dentre
os três primeiros grupos, o que obteve maior índice de agressividade foi o
grupo que assistiu ao cartoon, ou seja, a criança reproduziu também o que foi
visto no desenho (BANDURA, 1961; BANDURA, 1963).
Podemos concluir a partir destes experimentos, que a dinâmica familiar
pode influenciar no comportamento do aluno e de fato, não só influencia como
também é apontada como o principal fator que influencia as provocações e
intimidações entre alunos em uma pesquisa realizada por Mariana de Oliveira
Chiorlin (UFSCar, 2007) com professores de uma escola estadual localizada
em São Carlos. Nessa pesquisa, verificou-se o seguinte resultado: metade dos
participantes acreditava que o principal fator de influência era a família,
enquanto 40% acreditavam que o principal fator de influência era a própria
personalidade do aluno e apenas 10% presumiram ser a sociedade a principal
influência. Por fim, nenhum dos participantes acreditava que a dinâmica da
escola pudesse gerar influência nas provocações e intimidações entre os
alunos.
Estes que praticam bullying podem levar para a vida adulta esta mesma
maneira de se comportar, se tornando agressivos com seus familiares e ou até
cometendo assédio moral em suas relações ou ambiente de trabalho. Logo, é
muito importante a identificação dos autores nessa fase escolar, pois assim é
possível orientá-los a fim de corrigir este comportamento (CHIORLIN, 2007).
Os Alvos
Os alvos de bullying são aqueles que sofrem a ação dos autores, ou
seja,
eles
que
são
ridicularizados,
insultados
e
hostilizados.
São
frequentemente ameaçados, intimidados, isolados, ofendidos, discriminados,
agredidos. Recebem apelidos e provocações, têm os objetos pessoais furtados
ou quebrados (CHIORLIN, 2007).
Os alvos são classificados de acordo com o modo que reagem a esses
abusos: quando este não reage às agressões e não se impõe diante dos
abusos sofridos é denominado como alvo típico; quando o alvo reage às
agressões e se torna agressivo com quem o agrediu, e costuma causar
tensões no ambiente em que se encontra, esse pode ser caracterizado como
alvo provocador; uma ultima maneira de classificarmos os alvos é o que
desconta todo o abuso sofrido em um terceiro, ou seja, ele acaba se tornando
um autor para extravasar esse sofrimento, este é nomeado como alvo agressor
(CHIORLIN, 2007).
Alguns aspectos que podem ser inferidos e observados nos alvos que
são atingidos por este tipo de agressão podem estar associados com a baixa
autoestima, podendo ocasionar uma depressão nessa vítima; sentimentos de
vingança; dificuldades em aprender, ocasionando queda em seu rendimento
escolar; altos níveis de estresse, gerando um desequilíbrio emocional, podendo
este afetar as relações sociais, devido ao fato de que esse desequilíbrio resulta
em comportamentos agressivos. Caso essa humilhação não seja superada, o
trauma ocasionado no indivíduo pode ter influência direta sobre a sua
personalidade; tornando este alvo um adulto introspectivo, inseguro e com
dificuldades de manter relações e interagir dentro da sociedade. Os extremos
destas consequências é o bulicídio, termo utilizado para se referir a um suicídio
ocasionado por uma pessoa que sofreu bullying ou um assassinato que teve
como motivação o bullying sofrido (CHIORLIN, 2007)
Ainda na pesquisa realizada por Chiorlin (2007), foi possível observar
quais os principais aspectos percebidos nos alvos de bullying a partir da
convivência dos professores com os alunos e com estes dados, pode-se
construir um gráfico com estes aspectos pela porcentagem que cada um foi
citado pelos professores, como é visto abaixo:
Gráfico 1: Aspectos percebidos nos alvos de Bullying
(fonte: http://www.pedagogia.ufscar.br/documentos/arquivos/tcc-2003/a-influencia-bullying-no-processo-deensino-aprendizagem)
Como é possível observar no gráfico, há uma grande porcentagem em
agressividade que caracteriza o alvo provocador e agressor, e também o medo
que caracteriza o alvo típico. Outro valor expressivo é a baixa porcentagem de
alvos que procuram ajuda, isto mostra talvez insegurança para pedir auxílio a
alguém e ser abusado pelo mesmo.
O bulicídio, já citado a cima, muitas vezes já tomou capas de jornais e
mereceu destaque em diversos noticiários pelo mundo. É possível citar o
Massacre de Columbine ocorrido em 1999 no Instituto de Columbine em
Colorado nos Estados Unidos, local este onde os estudantes Dylan Klebold, 17
anos, e Eric Harris, 18 anos, ridicularizados pelos atletas, uma vez que
preferiam computadores à espertes, mataram 13 pessoas sendo doze alunos
de 14 a 18 anos e um professor de 47 anos, deixaram 25 feridos e após o
ataque, os dois se mataram. Também podemos citar um caso ocorrido aqui no
Brasil, mais precisamente na cidade de Rio de Janeiro, o Massacre de
Realengo ocorreu na Escola Municipal Tasso da Silveira, onde Wellington
Menezes de Oliveira, 23 anos, motivado, dentre outros motivos, por sofrer
bullying quando frequentava a escola, matou doze alunos de 13 a 16 anos,
deixou 22 feridos e cometeu suicídio após o massacre (FREITAS, 2014;
ATIRADOR..., 2011).
A Escola
A instituição escolar, local onde passamos a maior parte de nossa
infância e adolescência, como já foi citado anteriormente; é um espaço que
representa a diversidade cultural, ou seja, no âmbito escolar é muito comum
encontrarmos pessoas com as mais diversas singularidades, como por
exemplo: diferentes concepções de mundo, etnias, formas de se relacionar
com outras pessoas, associadas à sua história de vida, entre outros aspectos.
A escola deve reconhecer essa diversidade cultural e propiciar um ambiente
adequado para a prática escolar, sendo este agradável e saudável evitando ao
máximo um conflito negativo entre os alunos – É válido ressaltar que nem
sempre discordar de opiniões é algo considerado negativo, visto que os
conflitos muitas vezes proporcionam discussões positivas buscando facilitar o
processo de construção de conhecimento - ou até mesmo que pessoas que
trabalham na escola como professores, inspetores e outros funcionários, se
envolvam em problemas considerados prejudiciais aos alunos. E se mesmo
assim, os conflitos negativos ocorram, por mais perfeita que seja a conduta da
escola para evitar esses atritos; a instituição deve estar preparada para
resolver tais problemas (Silva, 2007).
Em um ambiente escolar, a prática do bullying envolve mais que o autor
e o alvo, também acaba por envolver todos que presenciam estes atos. Estes
que não participam das ações são chamados de espectadores, que por
estarem inclusos neste ambiente hostil, de conflitos, tendem a ficar
completamente inseguros, podendo ter pensamentos de que possa vir a se
tronar uma próxima vítima, consequentemente se desmotivando e perdendo a
vontade de frequentar a escola (CHIORLIN, 2007).
Peça fundamental na formação do aluno, o professor deve ter em mente
que a sua postura e atitudes em sala de aula é exemplo para seus alunos e
pode influenciar no comportamento dos mesmos. Involuntariamente, o docente
pode acabar cometendo bullying apresentando posturas negativas durante
suas aulas, exemplo disso é observado quando o mesmo não considera que
cada indivíduo tem seu ritmo para aprender, diferenciar os alunos em uma
correção de prova, incitar a competição, não reconhecer as dificuldades de
seus alunos e achar que todos são iguais. O aluno que indiretamente acaba
sendo atingido por essas atitudes do professor, em forma de resistência e
frustrado, fica disperso em aula, desconexo do conteúdo apresentado pelo
professor e sem motivação para a prática do estudo (Silva, 2007).
A presença de um profissional especializado e apto para prevenir e
enfrentar a violência que ocorre no âmbito escolar como, por exemplo, a
presença de um psicólogo; é primordial para auxiliar as escolas a construir um
ambiente
que
apresente
relacionamentos
interpessoais
harmoniosos.
Entretanto, precisa-se que esse profissional conheça a comunidade escolar, de
modo que esteja presente diariamente nesse cotidiano, para que possa colocar
em prática as suas ações, em busca de transformar positivamente essa
realidade, visto que, segundo Freire (2012) “percebe-se que, muito mais do que
medidas prontas e fora da realidade escolar, o enfrentamento e a prevenção do
bullying passa por um trabalho inicial de investigação e posteriormente por uma
atuação intencional e comprometida com a realidade estudada” e, é a partir
daí, que se denota a importância de um psicólogo no contexto escolar.
Conclusão
Pode-se concluir através deste trabalho que o bullying é um tipo de
agressão caracterizada pela repetição e pela forma prolongada de seus atos. É
bastante
recorrente
em
diversos
lugares,
inclusive
nas
escolas.
A
personalidade do agressor é lapidada principalmente dos exemplos que este
tem em sua casa, como por exemplo, sua família e até mesmo os desenhos
que são por ele vistos na televisão. A identificação do alvo de bullying é de
extrema importância, uma vez que este não costuma procurar ajuda, deve-se
ter atenção total a eles, pois como visto, quando este chega ao seu extremo de
exaustão, pode tomar atitudes irreversíveis como é o caso do bulicídio. A
escola deve ser um ambiente saudável, agradável e principalmente acolhedor,
estando sempre preparada pra enfrentar este tipo de problema. O professor
deve estar sempre preocupado em não ser um agente do bullying, tratando
sempre de forma igualitária seus alunos e respeitando a diferença de cada um.
Por fim, concluímos que o psicólogo escolar é o único profissional preparado
para lidar com este tipo de agressão dentro da escola, promovendo ações que
se tornam preventivas para evitar o bullying ou para intervir e enfrentar esse
tipo de agressão, buscando então, por um ambiente saudável e harmonioso.
Referências
Freire, A. N; Aires, J. S. A contribuição da psicologia escolar na prevenção e
no enfrentamento do Bullying. Revista Semestral da Associação Brasileira de
Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 16, Número 1, Janeiro/Junho de
2012: 55-60.
Bandura, A.; Ross, D.; Ross, S. A. (1961). "Transmission of aggression through
the imitation of aggressive models". Journal of Abnormal and Social
Psychology 63 (3): 575–582.
Bandura, A.; Ross, D.; Ross, S. A. (1963). "Imitation of film-mediated
aggressive models". Journal of Abnormal and Social Psychology 66 (1): 3–11
Chiorlin, M. de O.(2007). A influência do bullying no processo de
ensino-aprendizagem. São Paulo: Ufscar. Acesso em: 11 de setembro de 2015.
Disponível
em:
<http://www.pedagogia.ufscar.br/documentos/arquivos/tcc-
2003/a-influencia-bullying-no-processo-de-ensino-aprendizagem>
Freitas, J. (2014). 15 anos depois, massacre de Columbine é modelo para
ataques. Atualizado em: 17 de Abril de 2014 às 14:07. Acesso em: 11 de
setembro de 2015. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/estadosunidos/15-anos-depois-massacre-de-columbine-e-modelo-paraataques,0319ff16c8e65410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html>
ATIRADOR de Realengo sofria bullying no colégio, diz ex-colega. (2011)
Atualizado em 08 de Abril de 2011 às 08:24. Acesso em: 11 de setembro de
2015.
Disponível
em:
<http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/atirador-de-
realengo-sofria-bullying-no-colegio-afirmam-colegas/>
Silva, W C..(2007). A cultura do bullying e desrespeito na escola. São Paulo:
Ufscar.
Acesso
em:
11
de
setembro
de
2015.
<Disponível
http://www.pedagogia.ufscar.br/documentos/arquivos/tcc-2003/a-cultura-dobullying-e-desrespeito-na-escola>
em:
Download