SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA - SOBRATI MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA LUCIANO BARCELAR DE OLIVEIRA AMIOTROFIA ESPINHAL - ATUAÇÃ DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR EM DOMICÍLIO: RELATO DE CASO. Rio de Janeiro 2014 2 LUCIANO BARCELAR DE OLIVEIRA AMIOTROFIA ESPINHAL - ATUAÇÃ DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR EM DOMICÍLIO: RELATO DE CASO. Tese apresentada à Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva, como requisito obrigatório para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva. Orientador: Dr. Emanuel Primo Rio de Janeiro 2014 3 RESUMO Amiotrofia espinhal é uma doença de herança genética autossômica recessiva que atinge o neurônio motor do corno anterior da medula espinhal. A doença é classificada de acordo com a idade e gravidade dos sintomas, tipo I forma mais grave da doença que ocorre até 06 meses de vida com prognóstico de vida até 02 anos, tipo II forma crônica da doença que ocorre entre 06 e 18 meses de vida, tipo III forma intermediária da doença que ocorre após 18 meses de vida e a tipo IV, forma adulta da doença sendo considerada menos grave e com melhor prognóstico. O objetivo deste estudo é realizar um a revisão de literatura e relatar o caso de um adolescente que foi diagnosticado aos 02 anos de vida com amiotrofia espinhal tipo II, descrevendo a atuação da equipe multidisciplinar em domicilio, os métodos de diagnóstico e tratamento. Apesar dos portadores de amiotrofia espinhal não ter uma expectativa de vida longa, em decorrências das complicações como pneumonias e escoliose, podemos melhorar a qualidade de vida com suporte ventilatório e atuação adequada de cada integrante da equipe. Podemos concluir com este estudo, que a amiotrofia espinhal é uma doença degenerativa e seu aparecimento é raro, entretanto, quando presente, evolui para complicações severas necessitando de cuidados quanto ao suporte ventilatório, assistência nutricional, cuidados com a pele, mobilidade física e baixa imunidade e em alguns casos faz-se necessário cirurgia para correção da escoliose. Palavras-chave: Amiotrofia espinhal tipo II, equipe multidisciplinar. 4 ABSTRATC Spinal muscular atrophy is a disease of autosomal recessive inheritance that reaches the motor neuron of the anterior horn of the spinal cord . The disease is classified according to age and the severity of symptoms , type I most severe form of the disease which occurs up to 06 months of life with life prognosis up to 02 years Type II chronic disease that occurs from 06 to 18 months life, type III intermediate form of the disease that occurs after 18 months of life and the type IV , adult form of the disease is considered less severe and with better prognosis. The objective of this study is to conduct a literature review and report the case of a teenager who was diagnosed at 02 years of living with spinal muscular atrophy type II , describing the work of the multidisciplinary team in the household , the methods of diagnosis and treatment. Despite of patients with spinal muscular atrophy not have a long life expectancy , in derivations of complications such as pneumonia and scoliosis , we can improve the quality of life with ventilatory support and adequate performance of each team member . We can conclude from this study that the spinal muscular atrophy is a degenerative disease and its occurrence is rare , however, when this progresses to severe complications requiring precautions for ventilatory support , nutritional care , skin care , physical mobility and low immunity and in some cases surgery is necessary to correct the scoliosis. Keywords : spinal amyotrophy type II , multidisciplinary team . 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 06 2 OBJETIVO.................................................................................................. 07 3 MÉTODO.....................................................................................................08 4 RELATO DE CASO.................................................................................... 08 5 DISCUSSÃO............................................................................................... 09 6 CONCLUSÃO............................................................................................. 10 7 REFERÊNCIAS.......................................................................................... 10 6 INTRODUÇÃO A atrofia espinhal progressiva (AEP) ou amiotrofia espinhal (AE), é uma doença genética de herança autossômica recessiva que atinge o corpo do neurônio motor no corno anterior da medula espinhal. A doença e classificada conforme a gravidade e idade do inicio dos sintomas: tipo I (infantil grave / aguda ou Síndrome de Werdnig-Hoffman), tipo II (infantil intermediária / crônica), tipo III (juvenil ou doença de Kugelberg-Welander) e tipo IV (forma do adulto). Suas principais manifestações são tônus muscular diminuído, fraqueza e atrofia muscular de distribuição simétrica, diminuição dos reflexos tendinosos, fasciculações (pequenas contrações localizadas), melhor observada na língua e deformidades músculo esqueléticas secundárias (Silva, Przysiezny e Capellani, 2013). Segundo Baioni e Ambiel (2010), os tipos I, II e III são condicionados pelo mesmo gene, SMN1 (Survival Motor Neuron). Este gene é uma cópia quase idêntica do gene (SMN2) e estão localizados no braço curto do cromossomo 5, uma região denominada 5p13 e codificam proteínas quase idênticas (a proteína codificada por SMN2 é truncada). A maioria dos pacientes tem deleções no exon 7 (ou nos exons 7 e 8) do gene SMN1, todavia, como explicar a diferença de gravidade dos 3 tipos da doença. Sabe-se que a magnitude das manifestações da doença esta ligada ao número de cópias do gene SMN2. Existe ainda o tipo IV, que alguns pesquisadores classificam como formas adultas de atrofias espinhais, (SOARES e Col., 2006). Segundo Reed (2002), a amiotrofia muscular é uma doença degenerativa dos motoneurônios do corno anterior da medula espinal e dos núcleos motores de alguns nervos cranianos de herenca quase exclusivamente autossômica recessiva. Após a DMP de duchene, e a segunda forma mais freqüente de doença neuromuscular da infância, com incidência de 1:25.000 a 1:20.000 dos nascimentos. A classificação da amiotrofia espinhal depende fundamentalmente da idade de inicio e grau de comprometimento motor. Existe uma outra forma de classificação da doença proposta por Swaimani, que divide a amiotrofia espinhal em 2 tipos: tipo 1 doença de Werdnig-Hoffmann que é subdividido em grupos (grupo 1: idade de instalação até 2 meses, grupo 2: entre 3 e 12 e grupo 3: entre 12 e 24 meses, respectivamente), e a tipo 2: doença de KugelbergWelander, de instalação, entre 2 e 17 anos com boa evolução, podendo o paciente deambular até a idade entre 20 e 40 anos, (FERREIRA e col., 1993). Portadores de amiotrofia espinhal necessitam de cuidados realizados por equipe multidisciplinar, 7 entretanto, diversos autores relatam como fundamental para o tratamento a atuação do fisioterapeuta, (BAIONE e AMBIEL, 2010). OBJETIVO O objetivo deste estudo é realizar um a revisão de literatura e relatar o caso de um adolescente com amiotrofia espinhal tipo II, descrevendo os métodos de diagnóstico, tratamento e a atuação da equipe multidisciplinar em domicilio. Aos primeiros sinais e sintomas que levantem a hipótese da doença, o pediatra deverá solicitar exames o quanto antes para que poça fechar um diagnóstico preciso, e encaminhar para o tratamento adequado. Entretanto, após o diagnóstico o pediatra se faz necessário para suporte à família e as eventuais complicações clínicas da patologia. Segundo Silva, Przysiezny e Capellani (2013), para traçar um diagnóstico são necessários: exames clínicos, laboratoriais, físicos, neurológicos, complementares, eletroneuromiografia, biopsia muscular e estudo de DNA. Aspectos semiológicos das doenças neuromusculares em crianças maiores constituem dados importantes para o diagnóstico diferencial, (REED, 2002). Para um tratamento adequado aos pacientes portadores de amiotrofia espinhal, são necessários cuidados especiais devido as dificuldade para deglutição e respiração, os pacientes apresentam pneumonias de repetição e na maioria das vezes necessitam de gastrostomia. Desta forma, são necessários sessões de fonoaudiologia e fisioterapia para prover profilaxia de infecções respiratórias e manutenção da capacidade pulmonar (SILVA, PRZYSIEZNY E CAPELLANI, 2013). Soares e col. (2006), descrevem o tratamento fisioterápico com sessões de fisioterapia motora e respiratória para prover a higiene brônquica, reexpansão pulmonar, permeabilidade das vias aéreas, alongamentos, cinesioterapia global e manutenção da amplitude de movimento e prevenção de deformidades. Uma das complicações encontradas na amiotrofia espinhal são as escolioses, infelizmente os pacientes evoluem com prognóstico ruim, pois compromete a capacidade respiratória e função dos membros superiores. Entretanto, pode-se realizar correção da escoliose seguida de artrodese, o que melhora a função pulmonar e aumento na expectativa de vida dos pacientes (SANTOS e col., 2010). 8 O posicionamento e alinhamento adequado do corpo na cadeira de rodas beneficiam, a função respiratória especialmente em pacientes com escoliose. Estudos demonstram estatisticamente a melhora da função em cadeiras com adequação postural comparando com as cadeiras padrão (COLLANGE, 2009). Exercícios de alongamentos, mobilização articular, cinesioterapia global, exercícios de reexpansão pulmonar são eficazes no tratamento da amiotrofia espinhal (UMPHRED, 2004). MÉTODO Foi realizada uma revisão de literatura nas bases eletrônicas de dados SCIELO, LILACS e complementada com pesquisa de livros-texto. Foram utilizadas análises de prontuário do caso relatado, extraindo-se dados desde a sua internação até a presente data. RELATO DE CASO B.C.O.R. com aproximadamente um ano de vida apresentava dificuldades de sustentação de MMSS e MMII, controle de cabeça e tronco. Foi realizado eletroneuromiografia em 03/07/2001, com diagnóstico compatível de doença do 2º neurônio motor com hipótese clínica de amiotrofia espinhal tipo II. Após infecções respiratórias foi hospitalizado e realizada nova eletroneuromiografia em 23/05/2002, onde não foram detectadas alterações significativas comparadas ao exame realizado em 2001, e após a realização de exames complementares foi dado diagnóstico de amiotrofia espinhal tipo II. O paciente permaneceu hospitalizado dos 03 aos 05 anos, e com a progressão da doença foi necessário a realização de gastrostomia e traqueostomia, para suporte ventilatório. Sua mãe conquistou na justiça o direito de internação domiciliar com todo suporte de atendimento multidisciplinar, medicamentos, dietas, materiais de consumo (luvas, sondas, gazes), ventilador mecânico e transporte de emergência. Atualmente B.C.O.R. está com 15 anos, em tratamento domiciliar com a seguinte equipe: - 02 médicos pediatras com 03 visitas semanais; - 06 fisioterapeutas com 02 atendimentos diários; - 01 fonoaudióloga com 05 atendimentos semanais; 9 - 01 enfermeiro com visita semanal; - 01 psicólogo com visita semanal; - 01 nutricionista com visita semanal; e - 04 técnicas de enfermagem sob regime de plantão de 24 horas. O tratamento realizado consiste na manutenção da função respiratória, prevenção de deformidades, posicionamento adequado no leito e cadeira de rodas, controle da dieta para evitar sobrepeso, exercícios fonoaudiológicos para prevenir pneumonias aspirativas, suporte psicológico para o paciente e família, acompanhamento clínico, cuidados com a pele e supervisão de enfermagem. Todo o atendimento é custeado pelo estado do Rio de Janeiro que repassa a verba para o município de Barra Mansa. Porém, como o município não tem estrutura para manter um atendimento domiciliar desta magnitude, foi realizada licitação para que empresas prestem os serviços. DISCUSSÃO Na literatura foram encontradas várias referências que descrevem a patologia, diagnóstico e tratamento. Entretanto, não referem à atuação de equipe multidisciplinar em domicílio. Os estudos também relatam que os pacientes portadores de amiotrofia espinhal não apresentam retardo mental e possuem inteligência normal. O caso apresentado neste trabalho apresenta evolução de acordo com a literatura encontrada (SOARES, 2006). Apesar dos estudos demonstrarem que a progressão das deformidades é rápida, a utilização de orteses, adaptações e posicionamento correto na cadeira de rodas previnem deformidades, minimizam a possibilidade de complicações respiratórias e favorecem a melhora da função respiratória (COLLANGE e col., 2009). O paciente deste estudo não possui controle de cabeça e tronco, apresenta punhos em semiflexão com desvio ulnar, joelhos em semiflexão, pés em inversão, escoliose de grau moderado, movimentação assistido de MMSS e MMII e expressão verbal com dificuldade. O tratamento fisioterápico constitui em mobilização articular, alongamento global, manobras desobstrutivas e reexpansivas, exercícios respiratórios, cinesioterapia passiva, posicionamento no leito e cadeira de rodas (SOARES e col., 2006). 10 CONCLUSÃO Podemos concluir com este estudo que o paciente B. C. O. R. está em internação domiciliar por 10 anos, e neste período não foi necessário retorno ao ambiente hospitalar, não apresentou pneumonias ou úlcera por pressão. O paciente expressa que é feliz, está no 9º ano do ensino fundamental com aulas ministradas pelos professores da rede municipal de educação, realiza atividades com sua família (aniversários, circo e etc.) e freqüenta o estádio da cidade vizinha para assistir jogos de futebol que é sua paixão. Desta forma, ressaltamos a importância da atuação da equipe multidisciplinar em domicílio e a melhora da qualidade de vida do paciente em convívio familiar. REFERÊNCIAS BAIONI, Mariana T. C.; AMBIEL, Celia R.. Atrofia muscular espinhal: diagnóstico, tratamento e perspectivas futuras. Jornal de Pediatria. (Rio de Janeiro), Porto Alegre, v. 86, n. 4, Aug. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br. accessos em 11 nov. 2014. COLLANGE, Luanda André et al. Influência da adequação postural em cadeira de rodas na função respiratória de pacientes com amiotrofia espinhal tipo II. Fisioter. Pesqui., São Paulo, v. 16, n. 3, set. 2009. Disponível em <http://www.scielo.br. acessos em 30 out. 2014. FERREIRA, Laura M. F. et al. Amiotrofia espinal infantil com evolução atípica relato de dois casos: report of two cases. Arq. Neuro-Psiquiatr., São Paulo, v. 51, n. 3, set. 1993. Disponível em <http://www.scielo.br. acessos em 30 out. 2014. REED, Umbertina C. Doenças neuromusculares. J. Pediatr. (Rio J.), 78, supl. 1, ago. 2002. Porto Alegre, v. Disponível em <http://www.scielo.br/. acessos em 30 out. 2014. SANTOS, Daniel Cantarelli dos et al. Tratamento cirúrgico da escoliose em pacientes com amiotrofia espinhal com parafusos pediculares (instrumental de 3ª geração) e complicações precoces. Coluna/Columna, São Paulo, v. 9, n. 2, jun. 2010. Disponível em <http://www.scielo.br. acessos em 30 out. 2014. 11 SILVA, Mayara Cantalice Vogel, PRZYSIEZNY, André e CAPELLANI, Orígenes José. Síndrome de Werdnig-Hoffman (amiotrofia espinal do tipo 1): relato de caso. Arq. Catarin. Med. Santa Catarina, v. 42, n. 1, 96-99, jan-mar 2013; Disponível em <http://www.scielo.br. acessos em 30 out. 2014. SOARES, Janaina, SILVA, Naila, LEITE, Silvériae PARISI, Márcia. Fisioterapia e qualidade de vida de paciente com amiotrofia espinal progressiva tipo I – Relato de Caso. Arq. Ciência Saúde. Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, 44-47, jan-mar 2006; Disponível em <http://www.lilacs.br. acessos em 31 out. 2014. UMPHRED, Darcy A. Reabilitação Neurológica. 4ª ed. São Paulo: Manole Ltda, 2004.