Economica v5n1

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DE
FÁTIMA
DE
MELO • MARCUS ANTONIO MAIA • 177
O processamento da co-referência do
sujeito pronominal em sentenças
formadas por verbos de comunicação
lingüística no Português do Brasil1
Maria de Fátima Benício de Melo*
Marcus Antonio Rezende Maia**
Resumo – O presente estudo psicolingüístico focaliza o processamento das relações co-referenciais entre o sujeito pronominal da
oração complementar e os seus antecedentes potenciais (sujeito ou
objeto) da oração matriz, cujo verbo é de controle do sujeito (autocentrado), do objeto (outro-centrado) ou de duplo controle (bicentrado). O objetivo principal do trabalho é o de verificar a natureza das informações acessadas pelo processador na atribuição da
co-referência, contribuindo para avançar a compreensão sobre a
arquitetura do processo de estabelecimento de relações coreferenciais.
Palavras-chave – Processamento. Co-referência. Sujeito pronominal.
Controle verbal.
1. Introdução
O quadro teórico no qual este estudo se insere é o de processamento de frases, particularmente o processamento da coreferência. Pesquisa seminal desenvolvida na área (cf. NICOL,
1988) sustenta que, ao se estabelecerem relações entre pro* Da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil); Professora
Adjunta de Lingüística da UFPb (Universidade Federal da Paraíba,
Brasil); e-mail: [email protected]. ** Professor Adjunto de
Lingüística da UFRJ; e-mail: [email protected].
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PROCESSAMENTO DA CO-REFERÊNCIA DO SUJEITO PRONOMINAL
nomes e seus antecedentes potenciais (interpretação co-referencial), entra em ação o módulo da co-referência que constitui um estágio intermediário entre processos estritamente
estruturais e processos interpretativos. A função deste módulo
seria, assim, a de identificar quais os antecedentes potenciais
de um item que apresenta dependência referencial, para
poder reativá-los na memória do falante/leitor/ouvinte.
Diversos estudos realizados na década de 80, nos EUA,
buscaram investigar se os pronomes lexicais e as categorias
vazias (pronomes nulos ou vestígios de movimento) possuem
a característica de facilitar a compreensão ou interpretação
de um sintagma nominal mencionado anteriormente na
sentença. Outro desiderato tem sido descobrir os princípios
que regulam as decisões acerca dos tipos de informação
acessados no processamento on-line, isto é, na computação da
co-referência no momento mesmo em que as relações entre
os elementos pronominais e seus antecedentes são estabelecidas, o que pode ser aferido em milésimos de segundos.
O presente trabalho centra-se no processamento de frases, especificamente no que tange à compreensão das relações co-referenciais, em sentenças constituídas de verbos de
comunicação lingüística (exemplo: prometer, aconselhar,
avisar) no português do Brasil. Observemos as seguintes frases:
(1) Claras prometeu a Mariao, mesmo tendo combinado uma viagem com os amigos, que elas/o /Øs ficaria em casa no feriado.
(2) Cláudios aconselhou a Pedroo, no momento exato em que
iam se despedindo, que eleo /Øo fizesse a monografia.
(3) Válters avisou a Júlioo, naquele instante fatídico e estressante, que eles/o / Øs não faria / eleo /Øo não fizesse aquele
tipo de trabalho.
Os verbos em destaque nas frases de (1) – (3) mostram-se
especialmente pertinentes para o estudo sobre o processamento
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da co-referência (resolução anafórica1), uma vez que permitem
uma discussão em torno do fenômeno do controle verbal.
Do ponto de vista da teoria lingüística, controle verbal é
um fenômeno de natureza formal, que se faz presente em frases
infinitivas, em estruturas com PRO – prozão – (sujeito de verbo
no infinitivo, como é o caso do inglês, que só admite essa
possibilidade de construção). No tocante ao português do
Brasil, tem-se duas possibilidades de construção: não-finitas
(exemplo: “Josés pediu a Marcoso para eles/o / Øs/o sair”) e finitas
(exemplo: Josés pediu a Marcoso para que eleo / Øo saísse.). Este
trabalho se restringe à análise deste último tipo de construção.
A semântica do verbo da oração matriz, como podemos
ver nos exemplos (1) – (3), parece ajudar a interpretação ou
identificação dos elementos co-referentes (sujeito ou objeto
? identificados nas frases pelos índices subscritos s e o, respectivamente) do sujeito pronominal ele/ela/Ø. Investigamos se
este tipo de informação é acessado pelo processador para
estabelecer as relações co-referenciais adequadas. Vale
salientar que, no caso da interpretação de Ø, tem-se um tipo
de “controle obrigatório”, isto é, não há ambigüidade. No
tocante ao pronome (ele/ela), porém, há uma ambigüidade
a ser resolvida no processamento.
Foram realizados dois experimentos psicolingüísticos,
com a finalidade de testar o acesso pelo processador a
informações de natureza semântica (controle verbal) e
morfológica (modo verbal), quando da compreensão de
frases envolvendo verbos de comunicação lingüística, por
falantes nativos.
No primeiro experimento, utilizou-se a técnica conhecida na literatura da área como efeito de pré-ativação ou
priming, com o objetivo de testar se, no processamento da coreferência, as informações lexicais sobre o controle verbal (de
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PROCESSAMENTO DA CO-REFERÊNCIA DO SUJEITO PRONOMINAL
sujeito ou de objeto) são acessadas rapidamente, facilitando
o estabelecimento das relações co-referenciais na mente do
leitor/falante. No segundo experimento, foi utilizado o
procedimento denominado de leitura auto-monitorada (selfpaced reading), que permite medir tempos de leitura associados
a segmentos de frases, a fim de se capturar o acesso à
informação de natureza morfológica que estaria atuando em
verbos de comunicação lingüística de duplo controle (de
sujeito e de objeto, ao mesmo tempo), os quais dependem do
modo indicativo para o controle do sujeito e do modo
subjuntivo para o controle do objeto.
2. Experimento 1 - Priming (efeito de pré-ativação)
O paradigma de reativação psicolingüística foi aplicado,
com o objetivo de comparar o efeito de reativação da categoria
vazia em posição de sujeito, no Português do Brasil, com o efeito de reativação do pronome visível (realizado foneticamente)
na mesma posição de sujeito, tomando como base os verbos
auto-centrados (de controle de sujeito), outro-centrados (de
controle de objeto) e de duplo controle (bi-centrados), em
frases como:
(4) Helenas afirmou a Mônicao, num momento de desespero,
que elas / Øs havia falido.
(5) Sandras ordenou a Tâniao, com muita arrogância, que elao
/ Øo saísse.
(6) Joãos informou a Carloss, quando voltavam da faculdade,
que eles/Øs daria aula aos sábados. eleo / Øo desse
2.1. Método
Participantes – 24 alunos de graduação da UFRJ e da UFF
participaram como voluntários deste experimento. Todos eram
falantes nativos de português, com visão normal ou corrigida.
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Estrutura e materiais – Os materiais consistiram de 12
conjuntos de 24 frases. Cada participante foi exposto a um desses
conjuntos experimentais embutido em um conjunto extra de 24
frases distratoras. Cada conjunto experimental era composto de
oito condições experimentais, constituindo uma estrutura
experimental do tipo 3x2x3. Havia três tipos de verbos na oração
principal (AC, OC e BC), dois níveis de anáfora na oração
subordinada (com categoria vazia e com pronome lexical), sendo
que a condição BC subdividia-se em quatro níveis (BC/Pron/
Ind; BC/Pron/Sub; BC/Æ/Ind e BC/Æ/Sub). Havia três níveis
de sonda (sujeito/objeto/outro). As frases na condição com a
sonda “outro” eram as mesmas que as experimentais, diferindo
apenas quanto ao SN testado. Enquanto nas frases experimentais
testava-se o efeito de reativação dos antecedentes sujeito ou objeto
da categoria vazia e do pronome lexical, nas frases de controle
testava-se o efeito de reativação de outros SNs, geralmente um
SPrep interveniente, logo após o SN objeto. Note-se que, embora
as frases fossem muito parecidas, diferindo apenas quanto à
variável testada, a sua distribuição em 12 conjuntos permitiu que
todas as frases fossem comparadas e que cada participante fosse
exposto a apenas uma frase de cada tipo, caracterizando um
desenho experimental do tipo “entre sujeitos” (between subjects).
Procedimentos – O estudo usou uma técnica de reativação unimodal. Os participantes desempenharam uma tarefa
de reconhecimento de sonda de fim de frase, com o propósito
de capturar a reação do leitor imediatamente após o processamento. As frases alvo foram apresentadas por escrito na tela
do computador, registrando-se os tempos de reação a sondas
visuais correspondentes ao sujeito, objeto e outro. Logo após
a apresentação de cada frase, o SN sondado aparecia na tela,
devendo, neste momento, o participante decidir se aquela
palavra havia ocorrido na frase que lera, apertando a tecla
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PROCESSAMENTO DA CO-REFERÊNCIA DO SUJEITO PRONOMINAL
“sim” (S) ou a tecla “não” (N). Após a resposta à pergunta
interpretativa, o informante apertava a tecla de espaço, dando
início ao próximo conjunto de estímulos. As frases experimentais, de controle e distratoras, eram apresentadas em ordem
aleatória a cada participante. Os participantes foram testados
individualmente, em sessões de aproximadamente 10 minutos
e geralmente reportavam, em entrevistas posteriores, ter sido
a tarefa relativamente simples.
Foram computadas as médias dos tempos de resposta por
condição, entre os 24 sujeitos, aproveitando-se apenas as respostas acertadas, tanto para a sonda, quanto para a pergunta
sobre o conteúdo da frase.
O experimento foi realizado no Laboratório de Psicolingüística da Faculdade de Letras (Labcoglin/Lapex) da UFRJ,
em uma sala isolada.
A realização do experimento, para cada participante,
durou em média 10 minutos. Antes do início da tarefa, foi feita
uma prática, seguindo as mesmas instruções, utilizando-se
frases completamente diferentes das experimentais, porém
com a mesma estrutura.
Foi utilizado o programa Psyscope, rodado em um computador Power Macintosh 7100/66, 64 Mb RAM, com uma botoneira
(button-box) como periférico, capaz de registrar tempos de
resposta com precisão de milésimos de segundos. Esta caixa de
botões, conectada ao computador, apresentava três indicações:
à esquerda, o botão verde (SIM); no meio, o botão amarelo
(prosseguimento), e à direita, o botão vermelho (NÃO).
2.2. Resultados
Neste experimento, foram computadas as médias dos
tempos de reação por condição, entre os 24 sujeitos,
aproveitando-se apenas as respostas acertadas, tanto para a
sonda (sujeito, objeto e outro), quanto para a pergunta sobre
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o conteúdo da frase. Visando a uma maior segurança quanto
aos resultados obtidos, realizamos dois testes: ANOVA,
comumente utilizado em Psicolingüística Experimental, e um
teste estatístico, relatados a seguir.
ANOVAs com uma variável entre sujeitos (Grupos: I a
XII) e com três variáveis dentro dos sujeitos (Verbo: AC, OC,
BC/Ind e BC/Subj; Pronome: Pron ou ∅; Elemento: Objeto,
Sujeito e Outro; onde Elemento está aninhado a Pronome e
Pronome está aninhado a Verbo) revelaram um efeito principal
significativo do verbo (AC=1348, OC=1395, BC/Ind=1265 e
BC/Subj=1331) na análise de sujeito (F1(3,36)=4.5992; p <
0,01), e de item (F2(3,256)=4.3044; p < 0,01). A interação dos
três fatores de interesse (Elemento/Pronome/Verbo)
também se mostrou significativa (ver as médias na tabela 1)
na análise de sujeito (F1(16,120) = 4.408; p < 0,01), e de item
(F2(16,256) = 3.4184; p < 0,01). As demais combinações de
fatores não se mostraram significativas.
Tabela 1 – Médias dos tempos de reação para cada condição: Verbo/
Pronome/Objeto do Experimento 1
Objeto
Pron
AC
1398
BC/ind 1321
BC/subj 1367
OC
1191
Sujeito
∅
1459
1189
1243
1223
Pron
1160
1243
1342
1487
Outro
∅
1230
1296
1334
1534
Pron
1408
1342
1434
1595
∅
1440
1201
1268
1324
Tendo em vista que a combinação dos três fatores de
interesse se mostrou significativa, fizemos comparações 2 a 2 de
cada uma dessas combinações, ou seja, testamos quais duplas de
combinações tinham tempos médios estatisticamente diferentes.
Realizamos um Teste de Hipótese, com o objetivo de verificar se os tempos médios de resposta eram iguais. A hipótese
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nula de que os tempos eram iguais foi rejeitada, e a hipótese
alternativa de que os tempos eram diferentes foi aceita. As diferenças dos tempos médios de resposta foram significativas,
levando-se em conta o nível de significância de 1%.Testamos
as condições experimentais 2X2, com o propósito de comparar o efeito de reativação da categoria vazia com o efeito de
reativação do pronome lexical na mesma posição de sujeito,
verificando se o falante/leitor acessa rapidamente informações sobre o controle verbal, a fim de processar a co-referência. A média dos tempos de resposta para o cruzamento de
AC/Pron/Suj com AC/Pron/Obj foi considerada estatisticamente significativa em uma análise de teste de hipótese (testet): P-valor= 0,0000 (Pv<0,01). A comparação das médias dos
tempos de resposta entre AC/Pron/Suj com AC/Pron/Outro
resultou em um P-valor=0,0003 (Pv<0,01). O cruzamento das
médias dos tempos de resposta de AC/Æ/Suj com AC/ Æ/
Obj resultou em um P-Valor=0,0000 (Pv<0,01). Comparandose as médias dos tempos de resposta de AC/Æ/Suj com AC/
Æ/Outro, obteve-se um P-valor= 0.0001 (Pv<0,01). O
pareamento das médias dos tempos de resposta de OC/Pron/
Obj com OC/Pron/Suj resultou em um P-valor= 0,0000
(Pv<0,01) e de OC/ Pron/Obj com OC/Pron/Outro, obtevese um P-Valor= 0,0004 (Pv<0,01). A comparação das médias
dos tempos de resposta de OC/Æ/Obj com OC/Æ/Suj
resultou em um P-valor=0,0029 (Pv<0,01) e OC/Æ/Obj com
OC/Æ/Outro, em um P-valor=0,1972 (Pv>0,01). Para os
verbos bi-centrados, apresentaremos, resumidamente, os
resultados das médias dos tempos de resposta, utilizando-se
o teste-t: BC/Pron/Ind/Suj com BC/Pron/Ind/Obj: Pvalor=0,3394 (Pv>0,01) e BC/Pron/Ind/ Suj com BC/Pron/
Ind/Outro: P-valor=0,3415 (pv>0,01); BC/Pron/Subj/Obj
com BC/Pron/Subj/Suj: P-valor= 0, 8071 (P-v>0,01) e BC/
Pron/Subj/Obj com BC/Pron/ Subj/Outro: P-valor= 0,547
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(P-v>0,01); BC/Æ/Ind/Suj com BC/Æ/Ind/Obj: P-valor=
0,2746 (Pv>0,01) e BC/Æ/Ind/Suj com BC/Æ/Ind/Outro:
P-valor= 0,2923 (Pv>0,01); BC/Æ/Subj/Obj com BC/Æ/
Subj/Suj: P-valor= 0,339 (Pv>0,01) e BC/Æ/Subj/Obj com
BC/Æ/Subj/Outro: P-valor=0,7877 (Pv>0,01).
Tabela 2 – Tempos médios de reação para as condições experimentais: tipo
de verbo (AC, OC e BC ), tipo de anáfora (Pron e Æ), níveis de sonda (sujeito,
objeto e outro) e modo verbal (indicativo e subjuntivo, no caso dos BC).
COND/SONDA
AC/Pron
AC/ø
OC/Pron
OC/ø
BC/Pron/Ind
BC/Pron/Sub
BC/ø/Ind
BC/ø/Sub
SUJEITO
1150
1230
1487
1534
1243
1342
1296
1334
OBJETO
1398
1459
1191
1223
1321
1367
1189
1243
OUTRO
1487
1440
1595
1324
1343
1434
1201
1268
Os resultados apresentados na tabela acima evidenciam
uma interação entre tipo de verbo e anáfora. Observe-se que
para as frases que contêm verbos AC, os tempos gastos no
processamento da co-referência foram menores em relação
ao “sujeito”, do que em relação às sondas “objeto” e “outro”.
Em se tratando das frases com verbos OC na oração matriz,
os tempos médios de resposta para o estabelecimento da coreferência com o “objeto” foram menores do que para as
sondas “sujeito” e “outro”. Tais resultados corroboraram a
hipótese de TANENHAUS ET AL. (1989) de que a resolução da
co-referência parece ser afetada pelo tipo de verbo da matriz.
No tocante aos verbos BC, houve, a priori, a subdivisão
em quatro níveis, conforme mostra a Tabela 2, uma vez que
não é um verbo de controle unidirecional, a exemplo de AC
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e OC, mas de dupla possibilidade de co-referência, dependendo do modo verbal utilizado na oração subordinada (indicativo ou subjuntivo). De acordo com o exposto na tabela, os tempos médios de resposta, para essa tipologia verbal, não apresentaram diferença significativa entre as condições estabelecidas. Ademais, a variável “modo do verbo” da oração subordinada não demonstrou ser rapidamente acessada através do
método experimental utilizado. Em outras palavras: a influência
do controle verbal sobre a co-referência não pôde ser capturada
nesta tipologia de verbo, utilizando-se a técnica de Priming, daí
a necessidade de realizarmos um segundo experimento, de
acordo com o explicitado na última seção deste trabalho.
2.3. Discussão dos resultados
Os tempos médios de resposta, tanto em termos numéricos (número de ocorrências) quanto em termos estatísticos,
foram significativos no tocante aos verbos auto-centrados (de
controle do sujeito) e aos verbos outro-centrados (de controle
do objeto) ¾ com exceção de OC/Æ/Obj, comparado com
OC/Æ/Outro, na ANOVA e no Teste de Hipótese ¾, no
sentido de mostrar a tendência do falante/leitor do português
de acessar rapidamente a informação de natureza lexical de
verbos como prometer, afirmar, garantir, que controlam a coreferência com o sujeito da oração matriz, e aconselhar, pedir,
ordenar, que controlam a co-referência com o objeto. Em
contrapartida, verbos bi-centrados, tais como dizer, avisar,
informar, cujo processamento da co-referência condiciona-se
mais ao modo verbal da oração subordinada do que propriamente à semântica do verbo da oração matriz, o resultado do
teste de hipótese demonstrou que o cruzamento das condições experimentais estabelecidas não indicou diferença significativa quanto às médias dos tempos de resposta.
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Os estudos acerca dos verbos de controle de sujeito, de
objeto e de duplo controle ou de controle ambíguo (exemplo:
prometer, pedir e dizer, respectivamente) forneceram evidência de que o processador tem acesso rápido à informação a
respeito das propriedades de controle do verbo, mas não à
estrutura morfológica dos elementos da 2a oração, no que
tange aos modos indicativo e subjuntivo.
Os resultados do experimento psicolingüístico demonstraram que o processamento da co-referência, em sentenças
formadas por verbos de comunicação lingüística com complementos oracionais, no português do Brasil, é consistente com
a idéia de que verbos de controle do sujeito reativam na
memória dos falantes nativos adultos do português mais
rapidamente o sujeito da oração matriz como o co-referente
do pronome-sujeito da oração subordinada; verbos de controle do objeto, por sua vez, provocam no falante/leitor a
reativação, em menor tempo, do objeto da oração matriz
como o co-referente do sujeito pronominal ele/ela (lexicalizado) da oração complementar.
Comparando-se o tempo gasto para a interpretação do
pronome pleno com a categoria vazia na mesma posição de
sujeito, no processamento da co-referência, nossa expectativa
era a de que o efeito de reativação do segundo tipo de
pronome (Ø) fosse mais rápido do que para o pronome
explícito. No experimento off-line controlado, com sonda de
fim de frase, essa tendência foi confirmada.
Baseados nestes resultados experimentais, concluímos
que a rapidez com que os falantes nativos do português do
Brasil processam a co-referência entre o sujeito pronominal
da oração subordinada (lexicalizado ou nulo) e os três
referentes potenciais (sujeito, objeto e outro) depende
diretamente do tipo de controle exercido pelo verbo da
oração matriz.
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PROCESSAMENTO DA CO-REFERÊNCIA DO SUJEITO PRONOMINAL
Nosso experimento mostra-se relevante com relação a
vários fatos psicolingüísticos: à realidade psicológica dos
pronomes visíveis e das categorias vazias, ou seja, sua saliência
perceptual; o acesso à estrutura gramatical no processo de
priming e o acesso rápido pelo processador à informação sobre
a estrutura argumental dos predicados.
Finalmente, assumindo as posições de BOLAND, TANENHAUS
E GARNSEY (1989), o Experimento 1 apresentou evidência para
o uso imediato de informação de controle verbal no processamento de frases, especificamente quanto àquelas frases
constituídas por verbos de comunicação lingüística do português (denominados de auto-centrados e outro-centrados
ou, ainda, de controle do sujeito e do objeto, respectivamente
– BC) com complementos oracionais.
Os resultados do experimento atenderam à expectativa
de que o falante/leitor leva em conta não apenas a sintaxe
ou o conhecimento meramente lexical, na interpretação de
primeiro passe, conforme ressalta F RAZIER (1987), mas
também acessa informações na interface sintaxe (grade de
subcategorização ou complementos, também chamados de
predicadores previstos pelo verbo) / semântica (por exemplo,
informações acerca de propriedades de controle do verbo ou
com relação ao sujeito ou com relação ao objeto) e pragmática
(efeito que se deseja produzir no ouvinte/leitor em determinadas situações concretas de comunicação: promessa, pedido,
garantia, ordem etc). A integração destes fatores vai ao
encontro da proposta de TANENHAUS ET AL. (1989) de que os
módulos da mente são mais interativos do que a modularidade
estrita, postulada por FRAZIER, CLIFTON E RANDALL (1983), os
quais prevêem, como parte da teoria do Garden-Path, uma
estratégia puramente sintática, a Estratégia do Preenchedor
Mais Recente – MRFS.
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Ressaltamos a idéia de que os tempos mais rápidos
obtidos na compreensão demonstram que a informação
lexical foi acessada, não a posição estrutural do SN mais
recente. É preciso destacar que nos exemplos
(7) Sílvios confessou a Ricardoo, durante uma longa e produtiva
conversa, que Øs faria o acordo.
(8) Lúcias determinou a Sarao, antes do início do período de
férias, que Øo estudasse bastante.
o SN mais recente não é atuante, justamente porque essa
informação estrutural é sobrepujada pela informação lexical, no
que se refere às propriedades de controle dos verbos confessar
(de controle do sujeito) e determinar (de controle do objeto).
Ressalte-se, contudo, que pela maneira como a MFRS é
formulada por FRAZIER ET AL (1983), aplica-se a estruturas de
movimento, o que não é o caso das estruturas frasais finitas
utilizadas neste trabalho. Da MFRS, tomamos a idéia de recência,
que é forte na literatura, inclusive justificando o princípio Late
Closure. Note-se que, no Experimento 1, obtivemos efeitos
relacionados à informação de natureza semântica associados ao
item lexical, desprezando a informação do SN mais recente.
Como no experimento off-line controlado, com sonda de
fim de frase, utilizando a técnica de priming, não se capturou o
acesso rápido ao modo verbal na compreensão dessas frases com
verbos de duplo controle, como ressaltar, no exemplo abaixo:
(9) Roberto s ressaltou a Marcelo o, durante a assembléia
universitária, que Øs participaria/Øo participasse da greve.,
uma vez que, ao contrário das frases anteriores, em que a
semântica do verbo da oração matriz se constitui um fator
decisivo para estabelecer as relações co-referenciais adequadas,
o falante/leitor necessita da informação acerca do modo verbal
da oração subordinada, foi realizado um segundo experimento
(on-line), apresentado a seguir, que teve como base a técnica
de leitura auto-monitorada, capaz de identificar os tempos
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PROCESSAMENTO DA CO-REFERÊNCIA DO SUJEITO PRONOMINAL
relativos de leitura dos diferentes sintagmas, comparando-os
entre si e entre as diferentes estruturas frasais relevantes.
Os resultados do experimento 1 são compatíveis com a
idéia de que as categorias vazias têm a propriedade de reativar
rapidamente seu antecedente na frase, promovendo o
estabelecimento da co-referência correta (cf. FODOR, 1989).
Este efeito de reativação mostrou-se mais rápido, em se
tratando de categoria vazia/antecedente do que entre o
pronome pleno (ele/ela)/antecedente.
3. Experimento 2 – Leitura auto-monitorada
Neste experimento on-line, utilizamos a tarefa de leitura
auto-monitorada (Self-paced reading), com o propósito de testar
o processamento da co-referência em frases que contêm
verbos bi-centrados, como dizer, comunicar, avisar e informar, na
oração matriz, confrontando a ocorrência de pronome-sujeito
lexicalizado com a categoria vazia, nesta posição, e indicativo
ou subjuntivo na oração subordinada.
Quatro condições experimentais foram criadas, para
servirem de linha de comparação (base-line): Sujeito/
Pronome (Suj/Pron); Sujeito/ Æ (Suj/Æ); Objeto/Pronome
(Obj/Pron) e Objeto/ Æ). Estas variáveis foram testadas em
relação aos dois (2) modos verbais da oração subordinada (
Indicativo e Subjuntivo), o que resultou em um conjunto
2X2x2. Dessa forma, tivemos: Suj/Pron/ Ind; Suj/Pron/Subj;
Suj/Æ/Ind; Suj/Æ/Subj; Obj/Pron/Ind; Obj/Pron/Subj;
Obj/Æ/Ind; Obj/Æ/Subj. Foram elaborados 8 conjuntos de
frases, sendo que o falante foi exposto 4 vezes à mesma
condição experimental. Disso, resultaram 192 frases experimentais e 32 frases distratoras.
A lógica do experimento foi a de que, ao ler frases como
as seguintes:
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Indicativo/Sujeito/Pronome pleno (ISPr)
(10) João disse a Pedro /que ele faria o trabalho,/ mas João
não fez,/ porque estava cansado.
Indicativo/ Sujeito/ Pronome nulo (ISØ)
(11) João disse a Pedro /que faria o trabalho,/ mas João não
fez/ porque estava cansado.
Indicativo/Objeto/Pronome pleno (ISOPr)
(12) João disse a Pedro /que ele faria o trabalho,/ mas Pedro
não fez /porque estava cansado.
Indicativo/Objeto/ Pronome nulo (IOØ)
(13) João disse a Pedro /que faria o trabalho,/ mas Pedro não
fez/ porque estava cansado.
O falante deveria identificar o terceiro segmento como
a parte crítica da sentença, uma vez que a forma verbal “faria”,
no modo indicativo, conduz ao estabelecimento da coreferência entre o sujeito pronominal pleno ou nulo da
oração subordinada e o sujeito da oração matriz “João”. Neste
caso, nossa expectativa era a de que o sujeito “João” fosse
processado mais rapidamente do que o objeto “Pedro”.
Comparemos os quatro primeiros exemplos com os
quatro últimos abaixo:
Subjuntivo/Sujeito/Pronome pleno (SbSPr)
(14) João disse a Pedro/ que ele fizesse o trabalho,/ mas João
não fez / porque estava cansado.
Subjuntivo/Sujeito/Pronome nulo (SbSØ)
(15) João disse a Pedro /que fizesse o trabalho,/ mas João não
fez/ porque estava cansado.
Subjuntivo/Objeto/ Pronome pleno (SbOPr)
(16) João disse a Pedro /que ele fizesse o trabalho,/ mas Pedro
não fez /porque estava cansado.
Subjuntivo/Objeto/ Pronome nulo (SbOØ)
(17) João disse a Pedro/ que fizesse o trabalho, /mas Pedro
não fez/ porque estava cansado.
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192 • O
PROCESSAMENTO DA CO-REFERÊNCIA DO SUJEITO PRONOMINAL
Nestas frases, esperávamos que o falante do Português
processasse a co-referência entre o pronome-sujeito “ele” ou
Æ e o objeto “Pedro” de maneira mais rápida do que com o
sujeito “João”, em virtude da ocorrência do modo subjuntivo
“fizesse” na oração subordinada. Tal como nos exemplos
anteriores, 3 (em rosa) é o segmento crítico da sentença.
Vale ressaltar que, para todos os verbos bi-centrados,
foram elaborados vários conjuntos de frases (experimentos
do tipo between subjects). Para cada condição experimental,
houve quatro tipos diferentes de frases, além das frases
distratoras, para que não fosse repetida uma determinada
frase para o mesmo falante/leitor.
Em outras palavras, através do uso da tarefa de leitura
auto-monitorada, pretendemos verificar se, no caso dos verbos
bi-centrados ou de duplo controle, a informação de caráter
morfológico, como modo verbal, é acessada em milissegundos, quando do processamento da co-referência, e se há uma
diferença significativa entre estruturas com indicativo/
referente sujeito e subjuntivo/ referente objeto, em termos das
médias dos tempos de resposta para a tarefa realizada.
3.1. Método
Participantes – 32 estudantes de graduação da UFRJ
participaram como voluntários deste experimento. Todos eram
falantes nativos do português, com visão normal ou corrigida.
Procedimentos – Foi dada a instrução de que os sujeitos
deveriam ler, com atenção, frases mostradas na tela do micro,
divididas em quatro segmentos e seguidas de uma pergunta
interpretativa. Ao apertar a tecla de espaço, o primeiro
fragmento da frase aparecia na tela. Após a leitura atenta, o
falante apertava a tecla amarela na caixa de botões à sua frente,
para que os fragmentos seguintes aparecessem. Ao serem
apresentados os quatro fragmentos, a frase terminava com um
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ponto final. Em seguida, uma pergunta sobre a frase lida
aparecia na tela. O falante, então, respondia-a, pressionando
a tecla verde da “botoneira”, se a resposta à pergunta fosse
SIM, ou a tecla vermelha, se a resposta fosse NÃO. Para que a
frase seguinte aparecesse na tela, o falante apertava a tecla
amarela e procedia novamente, como indicado inicialmente.
O experimento foi realizado no Laboratório de Psicolingüística da Faculdade de Letras (Labcoglin/Lapex) da
UFRJ, em uma sala isolada.
A realização do experimento, por cada participante,
durou em média 10 a 12 minutos. Antes do início da tarefa,
foi feita uma prática, seguindo as mesmas instruções,
utilizando-se frases completamente diferentes das experimentais, porém com a mesma estrutura (cada frase com quatro
segmentos).
Foi utilizado o programa Psyscope, rodado em um
computador Power Macintosh 7100/66, 64 Mb RAM, com uma
botoneira (button-box) como periférico, capaz de registrar
tempos de resposta com precisão de milésimos de segundos.
Esta caixa de botões, conectada ao computador, apresentava
três indicações: à esquerda, o botão verde (SIM); no meio, o
botão amarelo (prosseguimento), e à direita, o botão
vermelho (NÃO).
3.2. Resultados
Os dados foram submetidos a uma análise de variância,
com o intuito de comparar o efeito de vários fatores simultaneamente aplicados sobre a variável “tempo de leitura”. Eis,
a seguir, a descrição dessa análise.
ANOVAs com uma variável entre sujeitos (Grupos: I a VIII)
e com três variáveis dentro dos sujeitos (Verbo: BC/Ind e BC/
Subj; Elemento: Objeto, Sujeito; Pronome: Pron ou Æ; onde
Lingüística, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 177-201, dezembro de 2005
194 • O
PROCESSAMENTO DA CO-REFERÊNCIA DO SUJEITO PRONOMINAL
Pronome está aninhado a Elemento e Elemento está aninhado
a Verbo) revelaram que a combinação dos fatores Elemento e
Verbo (Verbo/Elemento: IO = 1787,4; IS = 1436,2; SO = 1378,6;
SS = 1723) é significativa na análise de sujeito (F1(2,4) = 115.9;
p < 0,01), e na análise de item (F2(1,184) = 0.0991; p < 0,01).
Além disso, as interações (Verbo/Elemento):Grupos e (Verbo/
Elemento/Pron): grupos também se mostraram significativos
na análise de sujeito (F1(14,48) = 2.4293; p < 0.05 e F1(28,94)
= 1.7995; p < 0.05, respectivamente). As demais combinações
de fatores não se mostraram significativas. Tendo em vista que
a combinação de Verbo/Elemento se mostrou estatisticamente
significativa, fizemos comparações 2 a 2, ou seja, testamos quais
duplas de Verbo/Elemento tinham tempos médios estatisticamente diferentes. Pelas médias, vemos que as frases com IS e
SO levam menos tempo para serem processadas do que aquelas
com IO e SS. Testes-t confirmaram essa percepção. A Tabela 3,
a seguir, apresenta os resultados dos testes.
Tabela 3 – Comparações 2 a 2 para cada condição Verbo/ Objeto do
Experimento 2
Comparações
IOXIS
IOXSO
IOXSS
ISXSO
ISXSS
SOXSS
Resultados dos Testes
t(296.86)=4.5843 ,p=0
t(292.17)=5.4285, p=0
t(311.25)=0.7964 ,p=0.4264
t(332.23)=0.9066, p=0.3653
t(314.97)=-4.0945, p=0.0001
t(314.59)=-5.0191, p=0
3.3. Discussão dos resultados
Diferentemente do experimento 1, em que os verbos bicentrados (BC) ou de duplo controle, do tipo de dizer,
comunicar, informar etc., não apresentaram efeitos de reativação
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significativos, os resultados do experimento 2, utilizando a
técnica de leitura auto-monitorada, permitiu medir tempos
de leitura associados a segmentos de frases, revelando que em
frases como as citadas abaixo, foi possível capturar o acesso à
informação de natureza morfológica expressa no modo verbal
da oração subordinada, no momento do processamento da
co-referência. Isto ocorre porque os verbos BC dependem do
modo indicativo, para o controle do sujeito, e do modo
subjuntivo, para o controle do objeto.
Observemos as frases abaixo, cujo fragmento crítico é o
terceiro:
(18) Paulo informou a Sérgio/ que ele realizaria o evento,/
mas Paulo não realizou, /conforme ficou provado.
(18.a.) Paulo informou a Sérgio/ que ele realizaria o evento,/
mas Paulo não realizou, /conforme ficou provado.
(18.b.) Paulo informou a Sérgio/ que Ø realizaria o evento,/
mas Paulo não realizou, /conforme ficou provado.
(18.c.) Paulo informou a Sérgio/ que ele realizaria o evento,/
mas Sérgio não realizou, /conforme ficou provado.
(18.d.) Paulo informou a Sérgio/ que Ø realizaria o evento, /
mas Sérgio não realizou, /conforme ficou provado.
(18.e.) Paulo informou a Sérgio/ que ele realizasse o evento,
/mas Paulo não realizou, /conforme ficou provado.
(18. f.) Paulo informou a Sérgio/ que Ø realizasse o evento,/
mas Paulo não realizou, /conforme ficou provado.
(18. g.) Paulo informou a Sérgio/ que ele realizasse o evento,/
mas Sérgio não realizou, /conforme ficou provado.
(18. h.) Paulo informou a Sérgio/que Ø realizasse o evento, /
mas Sérgio não realizou,/ conforme ficou provado.
A Tabela 3 mostra que houve um efeito de reativação
diferenciado para indicativo e subjuntivo, em relação aos
referentes sujeito e objeto da oração matriz, no processamento
das frases analisadas. Pelos resultados, parece claro que, nas
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196 • O
PROCESSAMENTO DA CO-REFERÊNCIA DO SUJEITO PRONOMINAL
frases com o modo indicativo, o estabelecimento da coreferência se deu de forma mais rápida com o sujeito da matriz
(Paulo) do que com o objeto (Sérgio). Em contrapartida, nas
frases com o modo subjuntivo, o efeito de reativação mais
rápido ocorreu com o objeto da oração matriz (Sérgio) do que
com o sujeito (Paulo), o que corrobora o acesso on-line pelo
parser a informação sobre a morfologia verbal no processamento da co-referência.
Todos os sujeitos/falantes/leitores do português tiveram
acesso às mesmas condições experimentais. As frases foram
propositalmente misturadas (‘randomizadas’), para evitar o
uso de uma heurística ou estratégia de repetição de respostas
no momento da compreensão.
4. Discussão geral e conclusão
Neste trabalho, procuramos investigar se as categorias
vazias e os pronomes visíveis (plenos) possuem a propriedade
de facilitar a compreensão de um SN mencionado previamente na frase. Discutimos a questão dos verbos de controle de
sujeito (auto-centrados), de objeto (outro-centrados) e de
sujeito e objeto, respectivamente (bi-centrados). O fenômeno
do controle suscitou uma questão específica estudada e
apresentada, a saber: a informação de controle é rapidamente
acessada pelo processador, a ponto de influenciar a resolução
da co-referência?
Com o propósito de responder a essa questão, projetamos e aplicamos dois experimentos psicolingüísticos,
utilizando duas técnicas distintas: a técnica conhecida na
literatura como efeito de pré-ativação ou Priming, e a técnica
de leitura auto-monitorada (self-paced reading). A hipótese
testada foi a de que, no processamento da co-referência, as
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informações lexicais a respeito do controle verbal seriam
acessadas rapidamente, contribuindo para o estabelecimento
das relações co-referenciais na mente do falante/leitor. A
hipótese estabelecida, em se tratando da aplicação da técnica
de Priming, foi demonstrada: obteve-se um claro efeito de
reativação dos sujeitos pronominais plenos e nulos dos verbos
auto-centrados e outro-centrados. Os sujeitos pronominais
plenos e nulos dos verbos bi-centrados, entretanto, não
apresentaram efeitos de reativação significativos, o que foi
interpretado como conseqüência da tarefa experimental, que
não permitiu que se capturasse especificamente o acesso à
informação de natureza morfológica em jogo nesta condição,
já que os bi-centrados dependem do modo indicativo para o
controle do sujeito e do modo subjuntivo para o controle do
objeto. Propusemos, então, um novo procedimento experimental (leitura auto-monitorada), a fim de testar o acesso online à informação de natureza morfológica. Este procedimento, que permitiu medir tempos de leitura associados a
fragmentos de frases, possibilitou a demonstração de que o
processador também tem acesso rápido (on-line) à informação
de cunho morfológico, associada a algum conteúdo lexical,
que ajuda o falante/leitor a estabelecer as relações coreferenciais adequadas. Dessa forma, quando ocorre indicativo na oração subordinada, o referente pretendido é o sujeito
da oração matriz; já quando ocorre subjuntivo na oração
subordinada, o referente pretendido é o objeto.
Cumpre salientar que este trabalho se coaduna com a
proposta de NICOL (1988), que distingue atividades de parsing
de árvore (tree-parsing), ou construção da árvore sintática, de
atividades de estabelecimento da co-referência e de atividades
gerais de interpretação. Em um primeiro passe, temos relações
estruturais entre constituintes; posteriormente, ocorre a
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198 • O
PROCESSAMENTO DA CO-REFERÊNCIA DO SUJEITO PRONOMINAL
interpretação de elementos referencialmente dependentes,
freqüentemente chamados de anafóricos. O módulo da coreferência constitui, nesta perspectiva, um estágio intermediário
entre processos estritamente estruturais (sintáticos) e processos
interpretativos gerais. Nesta interface sintaxe / semântica, o
papel do módulo da co-referência seria o de determinar quais
os referentes potenciais de um item dependente referencialmente, para acessá-los e estabelecer a co-referência apropriada,
influenciada também por fatores pragmáticos.
O estudo em tela vai, ainda, ao encontro dos resultados
experimentais apresentados por TANENHAUS ET AL.(1989), os quais
consideram relevantes as propriedades lexicais dos elementos
constitutivos do contexto frasal, buscando evidências para o uso
imediato da informação acerca de propriedades de controle do
verbo, no momento do processamento da co-referência. Neste
sentido, este trabalho diverge da proposta de FRAZIER ET AL. (1983)
de que este tipo de informação não era utilizado, na interpretação de primeiro passe, quando do processamento de categorias
vazias dependentes de antecedentes (sentenças de longa
distância), em inglês. Defendemos aqui, convergindo com
TANENHAUS ET AL., a preponderância da evidência psicolingüística,
a qual sugere que muitos tipos de conhecimento ligados a
representações lexicais são acessados rapidamente durante o
processamento de frases.
Os experimentos 1 e 2 apresentaram resultados consistentes que nos permitiram argumentar em defesa de uma
arquitetura de processamento da co-referência, em que o
processador tem acesso rápido a informações de natureza
lexical, vale dizer, à informação sobre propriedades de
controle, bem como a informações de natureza morfológica
(modo verbal), ao contrário do previsto por FRAZIER, CLIFTON
& RANDALL, que prevêem, como parte da Teoria do Garden
Path, uma estratégia de natureza puramente sintática, a
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Estratégia do Preenchedor Mais Recente – MRFS. Como
demonstrado nos experimentos 1 e 2, a estratégia de recência
estrutural é sobrepujada pelo acesso à informação sobre as
propriedades de controle dos verbos AC e OC, no primeiro
caso, e sobre aspectos de caráter morfológico (modo verbal,
IND e SUBJ), no segundo.
Assim, ambos os experimentos nos ‘autorizam’ a concluir
que os tempos mais rápidos obtidos na compreensão demonstram que a informação lexical foi acessada, não a posição
estrutural do SN mais recente. É preciso destacar que, no
conjunto de frases analisado, o SN mais recente não é atuante,
em se tratando do processamento da co-referência, justamente porque essa informação estrutural é sobrepujada pela
informação de cunho lexical, seja no que se refere ao controle
(experimento 1), seja no que se refere à morfologia do modo
verbal (experimento 2). Cumpre, no entanto, ressaltar o fato
de que a Most Recent Filler Strategy (MRFS), tal como é
formulada, aplica-se a estruturas de movimento, o que não é
o caso das estruturas frasais utilizadas neste estudo. Conforme
ressaltamos nas discussões dos resultados, tomamos da MRFS
a idéia de recência, que é forte na literatura da área de
processamento. No Experimento 1, obtivemos efeitos
relacionados à informação de natureza semântica associados
ao item lexical, desprezando a informação do SN mais recente
(o efeito de facilitação no processamento da co-referência
segue as propriedades de controle e não a proximidade do
SN, embora haja um sintagma interveniente); no Experimento 2, também obtivemos uma facilitação decorrente de
características morfológicas do item lexical, relacionadas à
categoria modo verbal, que também sobrepujaram a resolução da co-referência baseada no antecedente mais próximo.
Os resultados dos experimentos, em que utilizamos as
técnicas de reativação e de leitura auto-monitorada, são
Lingüística, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 177-201, dezembro de 2005
200 • O
PROCESSAMENTO DA CO-REFERÊNCIA DO SUJEITO PRONOMINAL
compatíveis com a idéia da realidade psicológica dos
pronomes visíveis (plenos) e das categorias vazias: ambos os
elementos têm a propriedade de reativar rapidamente seus
antecedentes na frase, exercendo um papel importante no
estabelecimento das relações de co-referência apropriadas
Este efeito de reativação mostrou-se mais rápido, em se
tratando da categoria vazia /antecedente, do que entre o
pronome visível ou pleno (ele/ela)/antecedente.
Em suma, esses experimentos possibilitaram testar o
acesso no processamento a informações de natureza semântica (controle verbal) e morfológica (modo verbal), um
estudo até então inédito sobre a compreensão de frases,
especificamente sobre o processamento da co-referência, por
falantes do português do Brasil.
Nota
1
Este artigo resume a dissertação de doutorado de Maria de Fátima Benício
de Melo, defendida no programa de pós-graduação em Lingüística da
UFRJ em 2003.
The processing of anaphoric relations in the
comprehension of sentences with subject and
object control verbs in Brazilian Portuguese
Abstract – This study focus on the processing of anaphoric relations
in the comprehension of sentences in which there is a coreference
between a pronominal subject in a complement clause and the
subject or the object antecedents in the matrix clause which contains
either a subject control verb, an object control verb or a subject and
object control verb. The goal of the research is to assess the nature
of the information which is rapidly used by the processor in the
establishment of coreferential relations.
Key Words – Processing. Coreference. Pronominal Subject. Verbal
Control.
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MELO • MARCUS ANTONIO MAIA • 201
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Cognition, v. 13, p. 187-222, 1983.
Apresentado para publicação em outubro de 2005.
Aprovado para publicação em outubro de 2005.
Lingüística, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 177-201, dezembro de 2005
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