Modelagem molecular e avaliação da relação estrutura

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
UIARAN DE OLIVEIRA MAGALHÃES
MODELAGEM MOLECULAR E AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ESTRUTURAATIVIDADE ACOPLADOS A ESTUDOS FÍSICO-QUÍMICOS,
FARMACOCINÉTICOS E TOXICOLÓGICOS IN SILICO DE DERIVADOS
HETEROCÍCLICOS COM ATIVIDADE LEISHMANICIDA
Rio de Janeiro
2009
UIARAN DE OLIVEIRA MAGALHÃES
MODELAGEM MOLECULAR E AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ESTRUTURAATIVIDADE ACOPLADOS A ESTUDOS FÍSICO-QUÍMICOS,
FARMACOCINÉTICOS E TOXICOLÓGICOS IN SILICO DE DERIVADOS
HETEROCÍCLICOS COM ATIVIDADE LEISHMANICIDA
Dissertação
de
Mestrado
apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciências
Farmacêuticas, Faculdade de
Farmácia, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte
dos requisitos necessários para a
obtenção do título de Mestre em
Ciências Farmacêuticas.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Rangel Rodrigues
Rio de Janeiro
2009
UIARAN DE OLIVEIRA MAGALHÃES
MODELAGEM MOLECULAR E AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ESTRUTURAATIVIDADE ACOPLADOS A ESTUDOS FÍSICO-QUÍMICOS,
FARMACOCINÉTICOS E TOXICOLÓGICOS IN SILICO DE DERIVADOS
HETEROCÍCLICOS COM ATIVIDADE LEISHMANICIDA
Dissertação
de
Mestrado
apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciências
Farmacêuticas, Faculdade de
Farmácia, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte
dos requisitos necessários para a
obtenção do título de Mestre em
Ciências Farmacêuticas.
Aprovada em ______ de ________________de 2009
_______________________________________
Prof. Dr. Carlos Rangel Rodrigues
Faculdade de Farmácia – UFRJ
_______________________________________
Profa. Dra. Magaly Girão Albuquerque
Instituto de Química – UFRJ
________________________________________
Profa. Dra. Alice Maria Rolim Bernardino
Instituto de Química – UFF
________________________________________
Prof. Dr. Lúcio Mendes Cabral
Faculdade de Farmácia – UFRJ
Rio de Janeiro
2009
Ficha Catalográfica
Magalhães, Uiaran de Oliveira
Modelagem Molecular e Avaliação da Relação Estrutura-Atividade
Acoplados a Estudos Físico-Químicos, Farmacocinéticos e Toxicológicos In Silico de
Derivados Heterocíclicos com Atividade Leishmanicida – 2009.
XX, 86f.:il.
Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) – Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Faculdade de Farmácia, Rio de Janeiro, 2009.
Orientador: Carlos Rangel Rodrigues
1. Leishmanicidas 2. Leishmania braziliensis. 3. Leishmania amazonensis. 4.
Modelagem Molecular. 5. SAR. 6. ADMET. 7. Regra de Lipinski. I. Rodrigues, Carlos
Rangel (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de Farmácia. III.
Título.
Aos meus pais com amor e cuidado.
Dedico-lhes esta obra com infinita gratidão.
Agradecimentos
Ao meu Senhor e Salvador Jesus Cristo, por ter aberto todas as portas possíveis para
que eu alcançasse essa importante etapa da minha vida. Toda honra, toda a glória seja dada a
Ele.
Ao meu orientador, por toda atenção, cuidado e créditos concedidos a mim, fazendome mergulhar em um novo mundo de conhecimentos e descobertas. Foi uma pessoa essencial
para que esse trabalho pudesse ser realizado.
Ao meu pai, Ubiratan de Souza Magalhães, que por muitas e muitas vezes foi o meu
braço forte, encorajando-me a prosseguir e a continuar com meus sonhos.
Às minhas “mães”, Jaíra Gomes de Oliveira e Jacira Oliveira da Silva, pessoas
essenciais na formação do meu caráter e da minha dignidade, sem às quais poderia ter me
perdido nas dificuldades da vida.
A mais nova, e não menos importante companheira, Ana Paula Torres, pelos
momentos de conversa e de orações que foram muito úteis quando minhas forças pareciam ir
embora.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, sempre
dispostos a ajudar e orientar os alunos em suas dúvidas e problemas.
Ao grande amigo e considerado irmão, Ilidio F. Afonso, que em muitos momentos
soube me orientar com inteligência e clareza nas minhas dúvidas e dificuldades.
A grande amiga e orientadora nos momentos vagos, Profa. Dra. Monique Araújo de
Brito, que com sua disposição e vontade de ajudar, auxiliou-me a dar passos importantes
nesse trabalho.
Aos amigos de turma, Michele Villardi e Alex Moura que sempre estenderam a mão
amiga nos momentos de dificuldade.
Aos queridos Thiago e Marilene da Secretaria de Pós-Graduação que sempre me
recebiam com disposição e um sorriso no rosto.
A todos aqueles que de certa forma contribuíram para a confecção deste trabalho e de
mais uma etapa importante da minha vida.
“Pois quando a sabedoria entrar no teu coração,
e o conhecimento for agradável à tua alma,
o bom siso te guardará e a inteligência te conservará.”
Provérbios 2:10-11
Bíblia Sagrada
RESUMO
MAGALHÃES, Uiaran de Oliveira. Modelagem molecular e avaliação da relação estruturaatividade acoplados a estudos físico-químicos, farmacocinéticos e toxicológicos in silico de
derivados heterocíclicos com atividade leishmanicida. Rio de Janeiro, 2009. Dissertação
(Mestrado em Ciências Farmacêuticas) – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
Neste trabalho, uma série de derivados da 4-metóxi-chalcona (3) e 4-metóxi-chalcona
sulfonamida (3a-i) foi avaliada biologicamente e mostrou que esses derivados possuem uma
atividade inibitória contra formas promastigotas e amastigotas de Leishmania braziliensis e L.
amazonensis. O estudo de relação estrutura-atividade revelou que o melhor perfil inibitório,
frente a L. braziliensis, da série 4-metóxi-chalcona ocorre com a inserção de um átomo de
carbono presente na estrutura de 3i, comparativamente com o composto 3e que não apresenta
este átomo espaçador. A análise dos orbitais de fronteira revelou que a intensidade da
densidade de HOMO dos compostos mais ativos contra a espécie de L. braziliensis está
concentrada na região da ligação ceto insaturada da molécula, sugerindo uma
importância desta região para a atividade. O composto menos ativo da série 3e reorienta a
densidade HOMO para o anel anilina substituído, reforçando a importância deste descritor
para SAR. Neste estudo estes compostos também foram testados contra as formas
promastigotas e amastigotasas de L. amazonensis a fim de identificar o seu perfil
antileishmanial contra esta espécie, em comparação com L. braziliensis. Curiosamente, todos
os compostos testados foram capazes de afetar a forma promastigota de L. amazonensis de
maneira dependente da concentração e com baixa citotoxicidade, exceto para derivado 3g. No
entanto, nossos resultados mostraram que o composto 3f apresenta o melhor perfil contra
ambas as formas (promastigota e amastigota) de L. amazonensis, diferentemente ao que foi
observado para L. braziliensis, quando o composto 3i foi o mais ativo. O estudo de Relação
estrutura-atividade (SAR) desses derivados apontou o volume molecular, densidade de
HOMO e os aspectos conformacionais como características importantes para o perfil
parasitário. Comparativamente, os resultados de atividade para a espécie de L. amazonensis
revelaram que o aumento do volume dos substituintes para os derivados 3a-i influenciou no
aumento da atividade contra as formas promastigotas de L. amazonensis, mas não para a
espécie de L. braziliensis. A análise dos parâmetros eletrônicos dos derivados menos ativos de
4-metóxi-chalcona sulfonamida indicou uma maior densidade de HOMO localizada na região
da função cetona  insaturada da chalcona, diferente do composto mais ativo 3i que
apresentou a densidade de HOMO localizada no anel anilina substituído. Foi também
realizado estudos com uma nova e promissora série de derivados Tieno[2,3-b]-piridinas com
atividade leishmanicida contra formas promastigotas de parasitas da espécie Leishmania
amazonensis (4, 4a-j). O resultado apontou que os derivados 4f (p-CH3) e 4g (p-OCH3) são os
mais ativos do que o controle positivo. Aparentemente, a posição do substituinte no anel
fenila substituído influencia na atividade dos derivados, já que os compostos para
substituídos revelaram melhor perfil de atividade do que os meta substituídos, exceto pelos
derivados 4e e 4j. Os ensaios de citotoxicidade realizados para 4f e 4g mostraram ausência de
citotoxicidade na concentração testada. A avaliação do perfil eletrônico dos derivados revelou
um aumento do potencial eletrostático molecular no anel fenilamina dos compostos mais
ativos. Os estudos dos perfis físico-químico, farmacocinético e toxicológico dos derivados
mais ativos das séries (3, 3a-3i; 4, 4a-j) revelaram um perfil semelhante ou melhores do que
os compostos em uso para o tratamento da leishmaniose..
Palavras-chave: Modelagem Molecular. SAR. Leishmaniose.
ABSTRACT
MAGALHÃES, Uiaran de Oliveira. Molecular modeling and structure-activity relationship
coupled to studies in silico of physico-chemical, pharmacokinetic and toxicological profile of
the heterocyclic derivatives with leishmanicidal activity. Rio de Janeiro, 2009. Dissertação
(Mestrado em Ciências Farmacêuticas) – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
In this work, a series of derivatives of 4-methoxy-chalcone (3) and 4-methoxychalcone sulfonamide (3a-i) was evaluated biologically and showed that these derivatives
have an inhibitory activity against promastigotes and amastigotes forms of Leishmania
braziliensis and L. amazonensis. The study of structure-activity relationship revealed that the
better inhibitory profile of the series 4-methoxy-chalcone against Leishmania braziliensis
occurs with the addition of a carbon atom spacer in the structure of 3i, compared with the
compound 3e which does not present this atom spacer. The analysis of the frontier orbital,
through molecular modeling studies revealed that the intensity of the HOMO density of the
most active compounds are concentrated in the center of the molecule, suggesting an
importance of this region for activity. The less active compound 3e redirecting the HOMO
density for the substituted phenyl ring, reinforcing the importance of this descriptor for SAR.
Herein, we also tested these compounds against L. amazonensis promastigote and amastigote
forms to identify its antileishmanial profile against this species compared to L. braziliensis.
Interestingly, all tested compounds were able to affect L. amazonensis promastigote form in a
concentration-dependent manner and with low citotoxicity, except for derivative 3g.
However, our results showed that compound 3f presents the best profile against both L.
amazonensis forms (promastigote and amastigote), differently from that observed for L.
braziliensis, when compound 3i was the most active. Structure-activity relationship (SAR)
analysis of these derivatives pointed molecular volume, HOMO density, and conformational
aspects as important characteristics for parasitic profile. The analysis of the electronic
parameters of the sulphonamide 4-methoxy-chalcone less active derivatives, indicated a
higher HOMO density located in the function - keto unsaturated of chalcone, otherwise
than the most active compound 3i which showed the HOMO density located in the aniline
ring replaced. The ability to study with accuracy and speed using techniques of molecular
modeling, allowed us to achieve yet a second study with a promising new series of derivatives
Thieno[2,3-b]-pyridines with leishmanicidal activity. This study was conducted against
promastigotes forms of Leishmania amazonensis parasites of the species resulting in a
significant activity of the compounds including the compound without substituent. The result
of this study indicated derivatives 4f (p-CH3) and 4g (p-OCH3) the most active of the series
being more active than the positive control (Glucantime ®). Apparently, the position of
substituent in the substituted phenyl ring influences the activity of the derivatives, since the
compounds showed better replaced to profile activity of the target replaced, except for
derivatives 4e and 4j. Tests of cytotoxicity towards the most active derivatives (4f and 4g)
showed no cytotoxicity at the concentration tested. The evaluation of electronic products
showed an increase in the molecular electrostatic potential in the ring phenylamine
compounds more active. Studies of physico-chemical profile, pharmacokinetic and
toxicological derivatives most active of the series (3, 3a-3i; 4, 4a-j), showed a profile similar
or better than drugs currently in use to treat leishmaniasis.
Keywords: Molecular Modeling. SAR. Leishmaniasis.
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Distribuição mundial das duas formas de Leishmaniose.
22
Figura 2 - Ciclo de vida do parasita Leishmania
23
Figura 3 - Estrutura molecular proposta dos antimoniais pentavalentes. Antimoniato de
meglumina (Glucantime®) e Estibogluconato de sódio (Pentostam®)
25
Figura 4 - Estrutura molecular da Anfotericina B
27
Figura 5 - Estrutura molecular da Sitamaquina e Miltefosina, respectivamente
28
Figura 6 - Estrutura molecular da Paromomicina
28
Figura 7 - Estrutura molecular da Pentamidina
29
Figura 8 - Estrutura molecular do Cetoconazol
30
Figura 9 - Figura 9. Representação de compostos com atividade leishmanicida chalcona (1) e
o derivado do herbicida Oryzalin, GB-II-5 (2)
31
Figura 10 - Estrutura dos derivados Tieno-piridinas (I), pirazolo-piridina (II) e amodiaquina
(III)
31
Figura 11- Representação de uma molécula por Mecânica Molecular
37
Figura 12 - Etapas no processo de construção do Mapa de Potencial Eletrostático da molécula
de Benzeno
43
Figura 13 - Principais razões do fracasso no desenvolvimento de fármacos
45
Figura 14 - Distribuição do perfil Drug-Likeness dos fármacos comerciais (verde) e das
substâncias do catálogo Fluka® (vermelho)
47
Figura 15 - Imagem do programa Osiris® com os respectivos perfis toxicológicos,
propriedades físico-químicas, Drug-Likeness e Drug-Score
47
Figura 16 - Escala do perfil Drug-Score de um potencial candidato a fármaco
48
Figura 17 - Fluxograma da metodologia utilizada nas etapas de modelagem molecular, perfis
físico-químicos e toxicológicos teóricos
52
Figura 18 - Avaliação Biológica dos derivados 4-metóxi-chalcona (3) e 4-metóxi-chalcona
sulfonamida (3a-3i). Efeito inibitório na proliferação in vitro de parasitas da espécie
Leishmania braziliensis (A), perfil citotóxico em macrófagos de ratos (B), índice de
seletividade (IS) calculado (C) e inibição da infecção por formas amastigotas de Leishmania
braziliensis em macrófagos utilizando o composto mais ativo (3i) (D)
55
Figura 19 - Conformações de mínimo de energia (A) e o Mapa de Potencial Eletrostático (B)
dos derivados 4-metóxi-chalcona (3) e 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3a–i)
57
Figura 20 - Densidade de HOMO dos derivados 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3a-i). A
Densidade absoluta de HOMO é codificada em uma superfície de van der Walls (isodensity
0.002 e/au3) mapeada da região mais vermelha (0,00) a região mais azul (0,02)
58
Figura 21 - Sobreposição dos derivados mais ativo (3i) (verde) e menos ativo (3e) (roxo) da
série 4-metóxi-chalcona sulfonamida
59
Figura 22 - Resultados dos parâmetros Drug-Likeness e Drug-Score (A) e riscos toxicológicos
teóricos (B) dos derivados 4-metóxi-chalcona (3), 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3c, 3d, 3f
e 3i) e Glucantime®
60
Figura 23 - Comparação do efeito leishmanicida (A) e o Ínice de Seletividade (IS), entre
formas promastigotas de L. amazonensis e L. braziliensis
65
Figura 24 - Comparação do efeito leishmanicida (A) e o Índice de Seletividade (B) dos
derivados 4-metóxi-chalcona (3) e 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3a-i) contra formas
promastigotas e amastigotas de L. amazonensis
66
Figura 25 - Efeito dos derivados tieno-piridina [50M] na proliferação de parasitas na forma
promastigota da espécie Leishmania amazonensis após 24 horas de incubação. A = Controle;
B = DMSO; C = Glucantime ; 4 = H; 4a = m-CH3; 4b = m-OCH3; 4c = m-NO2 ; 4d = m-F ; 4e
= m-Br; 4f = p-CH3; 4g = p-OCH3; 4h = p-NO2; 4i = p-F, e 4j = p-Br
67
Figura 26 - Efeito das diluições seriadas (6,25 - 50 M) do derivado 4f (p-CH3) e 4g (pOCH3) sobre a proliferação in vitro de parasitas da espécie Leishmania amazonensis depois de
24 horas. Glucantime® = EC50=163,7μM
68
Figura 27 - Efeito citotóxico dos derivados Tieno-piridinas (50 M) sobre células
mononucleadas após 24 horas de incubação. A = Controle; B = DMSO ; C = Glucantime ; 4 =
p-CH3, 5 = p-OCH3, 6 = p-NO2 , 7 = m-Br e 8 = p-Br
69
Figura 28 - (A) Mapa de Potencial Eletorstático (MEP) dos derivados Tieno-piridina (4, 4a-j)
sobre uma superfície de 0,002 e/ua3 com uma faixa de energia de –25,0 (regiões vermelhas) a
+30,0 (regiões azuis) kcal/mol. (B) Densidade de HOMO sobre uma superfície de densidade
eletrônica constante de (0.002 e/au3)
71
Figura 29 - Drug-Likeness dos derivados mais ativos (4, 4e, 4f, 4g, 4h e 4j) comparados com
o Glucantime® um fármaco comercial
72
Figura 30 - Drug-Score dos derivados mais ativos (4, 4e, 4f, 4g, 4h e 4j) comparado com o
Glucantime®, um fármaco disponível comercialmente
73
Figura 31 - Comparação da toxicologia in silico para os derivados 4, 4e, 4f, 4g, 4h e 4j com o
Glucantime® obtida através do Osiris® Property Explorer
74
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Atividade leishmanicida (IC50) dos derivados 4-metóxi-chalcona (3) e 4-metóxichalcona sulfonamida (3a-i) com suas respectivas propriedades eletrônicas teóricas (Dipolo,
EHOMO, ELUMO) e a “Regra-dos-Cinco” de Lipinski (número de doadores e aceptores de
ligação hidrogênio (HBD e HBA respectivamente), cLogP e Peso molecular (PM)
56
Tabela 2 - Resultados da avaliação da Regra-dos-Cinco de Lipinski
62
Tabela 3 - Comparação da atividade leishmanicida (%) dos derivados Tieno-Piridina (4, 4a-j)
com suas respectivas propriedades eletrônicas teóricas (Dipolo, EHOMO, ELUMO) e a “Regrados-Cinco” de Lipinski incluindo número de aceptores e doadores de ligação hidrogênio
(HBA e HBD respectivamente), cLogP e Peso molecular (PM)
70
Tabela 4 - Resultados da avaliação da Regra-dos-Cinco de Lipinski para os derivados tienopiridina
75
LISTA DE ABREVIATURAS
ADMET
Absorção, Distribuição, Metabolização, Excreção e Toxicidade
AM1
Modelo Austin 1 (Austin Model 1)
AMBER
Modelo de Construção Assistida e Refinamento Energético (Assisted Model
Building and Energy Refinament)
cLogP
Log do Coeficiente de Partição Calculado
CNDO
Negligência Completa da Diferencial de Sobreposição (Complete Neglect of
Differential Overlap)
DFT
Teoria do Funcional de Densidade (Density Functional Theory)
DMSO
Dimetilsulfóxido
DNA
Ácido Desoxirribonucleico (Deoxyribonucleic acid)
eV
elétron Volt
HIV
Vírus da Imunodeficiência Humana (Human Immunodeficiency Virus)
HOMO
Orbital Molecular de Mais Alta Energia Ocupado (Highest Occupied
Molecular Orbital)
INDO
Negligência Intermediária da Diferencial de Sobreposição (Intermediate
Neglect of Differencial Overlap)
LUMO
Orbital Molecular de Mais Baixa Energia Desocupado (Lowest
Unoccupied
Molecular Orbital)
MEP
Potencial Eletrostático Molecular (Molecular Electrostatic Potential
Map)
MM1 Campo de Força Mecânica Molecular 1
MM2
Campo de Força Mecânica Molecular 2
NDDO
Negligência da Sobreposição Diferencial Diatômica (Neglect of Diatomic
Differential Overlap)
PM
Peso Molecular
PM3
Método Paramétrico 3 (Parametric Method 3)
RM1
Modelo Recife 1 (Recife Model 1)
RTECS
Registro de Efeitos Tóxicos de Substâncias Químicas (Registry of Toxic
Effects of Chemical Substances)
SAR
Relação Estrutura-Atividade (Structure Activity Relationship)
STO
Orbitais Tipo Slater (Slater-Type-Orbitals)
MARCAS E PROPRIEDADES
Foram realizados esforços para mencionar todas as marcas comerciais que porventura
apareçam neste trabalho. Entretanto, a não menção caracteriza apenas uma falha não
intencional. As seguintes marcas comerciais são propriedade de seus respectivos detentores:
Fluka®
Fluka Chemie AG.
Glucantime ®
Sanofi – Aventis, Inc.
Osiris®
Actelion Pharmaceuticals, Ltd.
Pentostam ®
GlaxoSmithkline, Inc.
Spartan®
Wavefunction, Inc.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
21
1.1 ASPECTOS GERAIS DA LEISHMANIOSE
21
1.2 CICLO DE INFECÇÃO NO HOMEM
22
1.3 DIAGNÓSTICO DA LEISHMANIOSE
23
1.4 TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE
24
1.5 NOVOS DERIVADOS COM POTENCIAL ATIVIDADE LEISHMANICIDA
30
1.5.1 Derivados da Chalcona
30
1.5.2 Derivados da Tieno-piridina
31
1.6 MODELAGEM MOLECULAR
32
1.6.1 Panorama geral
32
2 JUSTIFICATIVA
34
3 OBJETIVOS
36
3.1 GERAL
36
3.2 ESPECÍFICOS
36
4 METODOLOGIA
37
4.1 METODOLOGIA – FUNDAMENTOS TEÓRICOS
37
4.1.1 Métodos de Cálculos da Estrutura molecular
37
4.1.1.1 Mecânica Molecular
37
4.1.1.2 Mecânica Quântica
38
4.1.1.3 Teoria do Funcional de Densidade – DFT
39
4.1.1.4 Cálculos ab initio
40
4.1.1.5 Cálculos Semi-Empíricos
41
4.1.2 Descritores moleculares
42
4.1.2.1 Mapa de Potencial Eletrostático
42
4.1.2.2 Energia dos Orbitais Moleculares
43
4.1.2.3 Densidade dos Orbitais de Fronteira
44
4.1.2.4 Momento Dipolo
44
4.1.3 Parâmetros farmacocinéticos in silico
44
4.1.3.1 Perfil Drug-Likeness
46
4.1.3.2 Perfil Drug-Score
48
4.1.3.3 Regra-dos-Cinco (Lipinski)
48
4.1.4 Ensaios antiparasitários e de citotoxicidade das 4-metóxi-chalconas (3, 3a-i)
e
tieno-piridinas (4, 4a-j)
49
4.2 METODOLOGIA COMPUTACIOAL
50
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
53
5.1 ATIVIDADE LEISHMANICIDA DOS DERIVADOS 4-METÓXI-CHALCONA (3) E 4METÓXI-CHALCONA SULFONAMIDAS (3a-i) CONTRA Leishmania braziliensis 53
5.2 ESTUDOS DE MODELAGEM MOLECULAR DOS DERIVADOS 4-METÓXICHALCONA (3) E 4-METÓXI-CHALCONA SULFONAMIDA (3a-i)
56
5.3 ESTUDO DO PERFIL FISICO-QUÍMICO, FARMACOCINÉTICO E TOXICOLÓGICO
TEÓRICO (IN SILICO)
59
5.3.1 Drug-Likeness e Drug-Score
59
5.3.2 Regra-dos-Cinco (Lipinski)
61
5.4 AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DO PERFIL LEISHMANICIDA DAS 4-METÓXICHALCONA SULFONAMIDAS CONTRA Leishmania amazonensis
62
5.4.1 Avaliação dos derivados 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3a-i) contra as formas
promastigotas de L. amazonensis
63
5.4.2 Avaliação das 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3a-i) contra as formas amastigotas
de L. amazonensis
64
5.5 ESTUDOS DE RELAÇÃO ESTRUTURA-ATIVIDADE DOS DERIVADOS 4METÓXI-CHALCONA CONTRA Leishmania amazonensis
66
5.6 AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE DERIVADOS TIENO-PIRIDINA COM ATIVIDADE
LEISHMANICIDA
67
5.7 ESTUDOS DE MODELAGEM MOLECULAR DOS DERIVADOS TIENO-PIRIDINAS
(4, 4a-j)
69
5.8 ANÁLISE DAS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS E TOXICOLÓGICAS IN
SILICO
72
5.8.1 Perfil Drug-Likeness
72
5.8.2 Perfil Drug-Score
73
5.8.3 Perfil Toxicológico Teórico
74
5.8.4 Regra-dos-Cinco (Lipinski)
75
6 CONCLUSÕES
76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
78
ANEXOS
87
21
1 INTRODUÇÃO
1.1 ASPECTOS GERAIS DA LEISHMANIOSE
A Leishmaniose é uma doença infecciosa causada por diferentes espécies do parasita
Leishmania e um dos maiores problemas de saúde pública de países em desenvolvimento. De
fato, 2 milhões de casos acontecem anualmente e estima-se que 12 milhões de pessoas estão
infectadas em todo o mundo (http://www.who.int/leishmaniasis). Atualmente, essa doença
causa significante morbidade e mortalidade, principalmente em países em desenvolvimento
(Figura 1) (SANTOS et al., 2008).
Apesar dos progressos importantes e dos conhecimentos fundamentais sobre
Leishmania, a terapia atual para o combate à Leishmaniose ainda é insatisfatória, devido à
limitada eficácia, ao longo período de tratamento, alto custo e efeitos secundários indesejáveis
(CHEN et al., 2001; CROFT & COOMBS, 2003; SINGH & SIVAKUMAR, 2004).
Existem cerca de 20 espécies e subespécies do parasita que são responsáveis pelas
diferentes manifestações clínicas da doença, que vão desde uma úlcera de pele, denominada
Leishmaniose cutânea, até uma doença com risco de morte, como a Leishmaniose visceral
(NEUBER, 2008).
O parasita existe em duas formas: promastigota, forma flagelada que se encontra na
fêmea do inseto flebotomíneo (vetor), e amastigota, presente nos hospedeiros mamíferos (de
SOUZA et al., 2007). As formas amastigotas são parasitas intracelulares obrigatórios de
macrófagos e, raramente, são encontradas em outros tipos de células. Nos macrófagos, as
formas amastigotas localizam-se no fagolisossomo, onde se multiplicam (de SOUZA et al.,
2007). O desenvolvimento de resistência aos medicamentos pelos agentes patogênicos,
especialmente em pacientes HIV-Leishmania co-infectados, também tem agravado este
problema de saúde (ALI, 2002). Assim, há uma necessidade urgente para o desenvolvimento
de novos fármacos que sejam eficientes e seguros para o tratamento da Leishmaniose.
22
Figura 1. Distribuição mundial das duas formas de Leishmaniose (Adaptado de WHO, 2003).
1.2 CICLO DE INFECÇÃO NO HOMEM
A transmissão do parasita ocorre pela picada da fêmea do inseto do gênero
Phlebotomus na Eurafrásia e do gênero Lutzomyia nas Américas. O ciclo de infecção do
parasita no hospedeiro humano começa quando o vetor, infectado por uma das espécies de
Leishmania proveniente de hospedeiros mamíferos (e.g. roedores, cachorros, marsupiais e em
alguns casos, o homem) (HERWALDT, 1999; MANUAL DA LEISHMANIOSE, 2007;
NEUBER, 2008), se alimenta de sangue humano através de seu probóscide, permitindo que a
forma promastigota do protozário entre na circulação sanguínea do homem. Na circulação
sanguínea, as formas promastigotas do parasita são fagocitadas pelos macrófagos e, dentro
desta célula, mais especificamente no fagolisossomo, as formas promastigotas do parasita se
diferenciam em forma amastigota, as quais se reproduzem por fissão binária. Esses parasitas
multiplicam-se até lisarem a célula e ficarem livres para infectar outras células fagocitárias,
continuando, assim, o ciclo de infecção (Figura 2).
23
Figura 2. Ciclo de vida do parasita Leishmania (Reproduzido de http://www.who.int/leishmaniasis).
1.3 DIAGNÓSTICO DA LEISHMANIOSE
O diagnóstico da Leishmaniose ocorre de acordo com o padrão de manifestação
clínica da doença, podendo ocorrer dois tipos de Leishmaniose: cutânea, mucocutânea
(variação da Leishmaniose cutânea) e visceral. Esses padrões dependem da espécie de
Leishmania e das isoenzimas expressas nessas espécies identificadas por eletroforese
(zimodema). Dessa maneira, um padrão de isoenzima de uma espécie pode causar
Leishmaniose visceral, enquanto que um outro padrão de izoenzima da mesma espécie pode
causar Leishmaniose cutânea (PISCOPO & AZZOPARDI, 2007).
A Leishmaniose visceral é geralmente diagnosticada baseada na detecção
microscópica das formas amastigotas em esfregaços de tecido aspirado ou em amostras de
linfonodo. Nestes casos, uma amostra de medula óssea é, em geral, o tecido de escolha.
(PISCOPO & AZZOPARDI, 2007; CHAPPUIS et al., 2007). O diagnóstico também pode
ocorrer por pesquisa de anticorpos, mas é um método que apresenta algumas limitações como
o alto custo e resultados falso positivos para indivíduos sem histórico de Leishmaniose
visceral que vivem em áreas endêmicas (CHAPPUIS et al., 2007)
O diagnóstico também pode ser feito por outros métodos, como cultura do parasita, a
partir do sangue, ou métodos moleculares como o Reação em Cadeia da Polimerase – PCR
24
(Polymerase Chain Reaction), que são mais sensíveis do que o método de microscopia óptica,
porém requerem maior infra-estrutura para a realização do exame (CHAPPUIS et al., 2007).
O teste de aglutinação direta para detecção do anticorpo da Leishmania também é bastante
empregado, mas apresenta algumas reações cruzadas para Hanseníase, Malária, Doença de
Chagas e Esquistossomose. Em pacientes HIV positivos, os anticorpos podem se tornar
indetectáveis (PISCOPO & AZZOPARDI, 2007). As técnicas mais atuais de diagnóstico para
Leishmaniose, com maior acurácia e especificidade, são a pesquisa de anticorpos e antígenos
de Leishmania em urina (ISLAM et al. 2004; SUNDAR et al. 2005).
Os métodos de diagnóstico para Leishmaniose cutânea são praticamente os mesmos
citados para a Leishmaniose visceral. O diagnóstico é feito por exames de microscopia óptica
a partir de amostras de lesões da pele ou biópsia retirada, especificamente, das bordas das
lesões. Este método é rápido e de baixo custo, porém, com sensibilidade limitada,
principalmente em lesões crônicas. O método de detecção de anticorpos, neste caso, não é
muito eficaz, devido à falta de produção de anticorpos na leishmaniose cutânea (PISCOPO &
AZZOPARDI, 2007).
Outros métodos de diagnóstico para Leishmaniose cutânea estão disponíveis, como
por exemplo, o Teste de Montenegro, que consiste em um teste de hipersensibilidade cutânea.
O procedimento consiste na injeção intradérmica de antígenos de L. mexicana na região do
antebraço e posterior monitoramento da área para verificar alguma reação local (LUGO,
1997). Este método, no entanto, apresenta algumas limitações como a incapacidade de
distinguir se a infecção é antiga ou recente, além de apresentar resultados falsos positivos para
outras infecções de pele (DE LIMA BARROS et al., 2005).
1.4 TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE
O tratamento da Leishmaniose visceral é baseado na terapia com antimoniais
pentavalentes (Figura 3). Os antimoniais pentavalentes estão disponíveis nas formas de
Estibogluconato de sódio (Pentostam®) e Antimoniato de meglumina (Glucantime®) (Figura
3), que podem ser administrados por via intravenosa ou intramuscular com igual eficácia.
Estes medicamentos são administrados na concentração de 20mg/kg durante 28 dias,
dependendo da espécie do parasita e das manifestações clínicas do paciente (PISCOPO &
AZZOPARDI, 2007). O mecanismo de ação desses fármacos passou muitos anos sem ser
25
conhecido e, atualmente, aceita-se que os antimoniais pentavalentes são pró-fármacos, que
são reduzidos à forma trivalente ativa. Não se sabe muito sobre como acontecem os danos,
mas sabe-se que eles inibem a biossíntese de macromoléculas nas formas amastigotas do
parasita, interferindo na glicólise e na -oxidação dos ácidos graxos, além de apresentarem
diversos efeitos sobre o metabolismo da Tripanotiona (BERMAN et al., 1987).
OH
OH
HO
HN
O
O
Sb
O
O
NH
OH
HO
Glucantime®
HO
OH
OH
OH
HO
OH NaO
O
O
O
O
Sb
O
Sb
O
O
O
O
ONa
Pentostam®
NaO
Figura 3. Estrutura molecular proposta dos antimoniais pentavalentes. Antimoniato de meglumina
(Glucantime®) e Estibogluconato de sódio (Pentostam®) (Frézard et al., 2008).
26
O grande problema dessa terapia é a resistência adquirida a esses fármacos que, em
algumas áreas, chega a ser maior do que 50%. Acredita-se que alguns mecanismos
moleculares de resistência ocorram por interferência na etapa de redução do fármaco da forma
pentavalente para a forma trivalente, por alteração da expressão da aquaglicoporina
(GOURBAL et al., 2004), responsável pela entrada do fármaco na forma trivalente no
parasita, e por um aumento dos níveis de Tripanotiona. Outro problema é a toxicidade dos
fármacos que têm efeitos colaterais severos e, em alguns casos, causam pancreatite aguda,
problemas cardíacos como arritmias, além de oferecerem risco de vida para pacientes com
idade abaixo de dois anos e acima de 45 anos e que apresentam sinais avançados da doença,
desnutrição e complicações da Leishmaniose visceral (SEAMAN et al., 1996; MURRAY et
al., 2005).
Outro medicamento utilizado no tratamento da Leishmaniose visceral, principalmente
em pacientes que apresentam resistência aos antimoniais, é a Anfotericina B (Figura 4), um
antibiótico macrolídeo, muito utilizado como antifúngico, que, no entanto, vem sendo
utilizado há mais de quatro décadas contra a Leishmaniose (PÉREZ-VICTORIA et al. 2006).
O mecanismo de ação da Anfotericina B baseia-se na sua afinidade aos esteróis,
principalmente ergosterol (esterol encontrado nos microrganismos em geral), formando poros
aquosos na membrana celular, através dos quais a célula perde íons, levando a sua morte
(BRAJTBURG et al., 1996).
Apesar de ter uma boa atividade leishmanicida, apresenta um alto grau de toxicidade e
efeitos colaterais como hipocalemia, febre, nefrotoxicidade e reações anafiláticas. Além disso,
essa droga é cara e requer um regime de infusão lento em dias alternados (CHAPPUIS et al.,
2007). Uma forma farmacêutica alternativa da Anfotericina B é a forma lipossomal, que é
mais eficaz e menos tóxica, mas por outro lado torna o tratamento bem mais caro.
27
OH
OH
H3 C
O
HO
OH
O
OH
OH
OH
OH
O
O
CH3
OH
H3C
O
O
HO
CH3
OH
NH2
Figura 4. Estrutura molecular da Anfotericina B.
Um medicamento que revolucionou o tratamento da Leishmaniose foi a Miltefosina
(Figura 5), uma vez que foi o primeiro medicamento a ser administrado oralmente, com
estudos comprovando uma alta taxa de cura. Neste aspecto, podemos compará-la à
Anfotericina B, que também tem uma alta taxa de cura (SUNDAR et al., 2002). O seu
mecanismo de ação ainda não é bem conhecido, mas alguns autores citam que deve ocorrer
alguma interferência no metabolismo de alquil-lipídios, mas apenas em concentrações muito
maiores do que aquelas necessárias para produzir a morte do parasita. Também se tem
descrito danos na membrana flagelar e defeitos na síntese de fosfolipídios (PÉREZVICTORIA et al., 2006).
Apesar de apresentar essas duas formas de ação, sabe-se que a Miltefosina induz a
morte celular por apoptose, com a condensação e fracionamento do DNA, exposição da
fosfatidil-serina e compactação celular (PARIS et al., 2004). Para que estas ações aconteçam,
é necessário que a Miltefosina seja internalizada no parasita. Infelizmente, essa é a principal
etapa para o desenvolvimento de resistência à droga. A Sitamaquina (Figura 5), um análogo
da Primaquina, é um novo fármaco administrado por via oral que está em estudo de fase
clínica II e que apresenta atividade para Leishmaniose visceral. A Sitamaquina é uma base
lipofílica fraca que rapidamente se acumula em compartimentos ácidos das espécies de
Leishmania, principalmente nos acidocalcisomas, acarretando em uma alcalinização dessa
organela e consequente morte do parasita. Apesar dessa teoria, o mecanismo de ação ainda é
desconhecido (LÓPEZ-MARTÍN et al., 2008).
28
N
O
C
H2 14
O
P
N
HN
N
O
O
Miltef osina
Sitamaquina
O
Figura 5. Estrutura molecular da Miltefosina e Sitamaquina.
A paromomicina (Aminosidina) (Figura 6) um antibiótico aminoglicosídeo produzido
por Streptomyces spp., é utilizada para o tratamento da Leishmaniose visceral em formulações
parenterais e da Leishmaniose cutânea em formulações parenterais e tópicas. Na década de
1960 foi desenvolvido como um agente antibacteriano, mas já se conhecia sua ação
leishmanicida.
O mecanismo de ação da Paromomicina baseia-se na alteração da síntese de proteínas,
além de interferir na atividade mitocondrial e dificultar a captação de precursores de
macromoléculas, dificultando, assim, o crescimento do parasita. O aumento da proporção de
lipídios polares na membrana provoca uma diminuição da fluidez que altera a permeabilidade
da membrana (MAAROUF et al., 1997).
Os casos de resistência aos aminoglicosídeos em bactérias são bem conhecidos e isso
se aplica ao tratamento da Leishmaniose, acarretando em muitos casos de resistência,
justificando porque não é usado como fármaco de primeira escolha no tratamento dessa
doença.
H 2N
HO
OH
O
NH2
HO
O
OH
O
O
O
OH
HO
OH
O
H2 N
HO
NH2
Figura 6. Estrutura molecular da Paromomicina.
NH2
29
Fármacos como a Pentamidina (Figura 7), uma diarilamina, têm sido utilizados como
fármacos de segunda linha para o tratamento da Leishmaniose há mais de quatro décadas. Seu
uso não é muito difundido devido aos efeitos adversos severos como hipoglicemia, diabetes,
nefrotoxicidade, taquicardia e dor no local da injeção (PÉREZ-VICTORIA et al., 2006).
O mecanismo de ação da Pentamidina é devido ao maior acúmulo deste fármaco na
célula parasitária do que nas células humanas e, possivelmente, à inibição do transporte de
arginina,( putrescina e espermidina) (alquilaminas que inibem a formação de óxido nítrico), e
à ligação ao DNA do cinetoplasto, provocando sua desintegração e o colapso do potencial de
membrana mitocondrial (BRAY et al., 2003).
O
O
H2N
NH2
NH
NH
Figura 7. Estrutura molecular da Pentamidina (SANTOS et al., 2008).
Outra classe de fármacos utilizada no tratamento de infecções fúngicas como os azóis,
e.g. cetoconazol (Figura 8), itraconazol, fluconazol, também é utilizada no tratamento da
Leishmaniose, porém apresenta uma eficácia diminuída em relação a outras drogas
leishmanicidas, já que seu metabolismo e excreção são rápidos, não sendo possível alcançar
níveis plasmáticos suficientes para produzir um efeito leishmanicida desejado (PÉREZVICTORIA et al., 2006).
Os azóis causam danos na rota biossintética do ergosterol (o esterol presente na
membrana plasmática de Leishmania spp.) e, com isso, impedem a formação da membrana
celular, além de outras funções metabólicas que acarretam na morte do parasita (PÉREZVICTORIA et al., 2006).
A resistência a essa classe de fármacos ainda não foi muito estudada in vitro em
Leishmania, porém, em Trypanosoma cruzi essa resistência já foi verificada. Em fungos,
existem casos de resistência na clínica, provavelmente devido a um aumento no efluxo da
droga mediada por transportadores ABC (ATP-binding cassete) (CROFT et al., 2006).
30
N
N
O
O
N
N
Cl
O
O
H3C
H
Cl
Figura 8. Estrutura molecular do Cetoconazol.
1.5 NOVOS COMPOSTOS COM POTENCIAL ATIVIDADE LEISHMANICIDA
1.5.1 Derivados da Chalcona
Chalconas naturais e sintéticas são descritas na literatura com uma vasta gama de
perfis farmacológicos, tais como atividades antiinflamatória (HSIEH et al., 1998),
tripanomicida (LUNARDI et al., 2003), antibacteriana (NIELSEN et al., 2004), antiviral
(UCHIUMI et al., 2003; WU et al. 2003), antitumoral (CABRERA et al., 2007), antimalarial
(GO et al., 2004) e leishmanicida (NI et al., 2004; BOECK et al., 2006; PIÑERO et al., 2006;
SALEM & WERBOVETZ, 2006). Esse perfil leishmanicida da chalcona (1) foi importante
para o desenvolvimento de novos derivados com potencial atividade leishmanicida como os
compostos descritos por Lunardi e colaboradores (LUNARDI et al., 2003) e derivados como a
DMC (dimetil-hidróxi chalcona) (TORRES-SANTOS et al., 2009). Outros compostos como
derivados do herbicida Oryzalin (2) mostraram-se ativos contra parasitas da espécie de
Leishmania donovani interferindo na montagem da tubilina do parasita (BHATTACHARYA
et al., 2002) (Figura 9).
31
O2 N
O
O
O
S
N
H
N
GB-II-5
(1)
O2 N
(2)
Figura 9. Representação de compostos com atividade leishmanicida chalcona (1) e o derivado do herbicida
Oryzalin, GB-II-5 (2).
1.5.2 Derivados da Tieno-piridinas
Derivados com o sistema Tieno-piridina internalizados foram descritos com atividade
antiviral
(PINHEIRO
et
al.,
2004),
anti-inflamatória
(MOLONEY,
2001),
antimicrobiana(SHRAIDEH, Z. & SALLAL, A-K., 1996; LOHRAY et al., 2004; LEAL et
al., 2008) e antiparasitátia(BERNARDINO et al., 2006). Os derivados de Tieno-piridina (I)
são análogos às aminoquinolinas, como os derivados pirazolo-piridina(II), e amodiaquine (III)
(Figura 10) (MELLO et al., 2004). Aminoquinolinas exibem um bom perfil contra malária, e
o seu uso como agente antiprotozoário é bem estabelecido. Essa classe de substâncias têm
sido relatada por possuir atividade tripanossomicida e leishmanicida (da SILVA et al., 2007).
Figura 10. Estrutura dos derivados Tieno-piridinas (I), pirazolo-piridinas (II) e amodiaquina (III).
32
1.6 MODELAGEM MOLECULAR
1.6.1 Panorama geral
Os altos custos de tempo e dinheiro são fatores preocupantes para o crescimento da
Indústria Farmacêutica, que necessita de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) para a descoberta de novos fármacos com maior eficácia e seletividade. Estima-se um
gasto entre 800 milhões a 1,4 bilhões de dólares e cerca de 15-25 anos para o
desenvolvimento de um novo fármaco (GELDENHUYS et al, 2006). Assim, para otimizar
tempo e custo, a utilização de inovações científicas e tecnológicas, como ferramenta de
pesquisa, combinando conhecimentos multidisciplinares de informática, biotecnologia,
química e biologia, refletem no planejamento de novos fármacos (DREWS, 2000; DREWS,
2003).
Planejamento de fármacos auxiliado por computador (Computer-Aided Drug Design,
CADD) é uma dessas evoluções tecnológicas promissoras no desenvolvimento de novos
candidatos a fármacos (TANG et al., 2006), podendo reduzir em até 50% os gastos na
pesquisa de uma novo agente terapêutico (GELDENHUYS et al., 2006). Há muitas técnicas
de CADD que auxiliam na descoberta de novas moléculas candidatas a fármacos e suas
estratégias de utilização dependem das informações estruturais disponíveis do alvo
(enzima/receptor) e do ligante (MEEK et al, 2006).
A concepção de novos fármacos por CADD baseia-se em duas estratégias principais:
planejamento “direto” e “indireto”. A primeira estratégia considera as características
tridimensionais de um alvo conhecido, e.g. enzima ou receptor, analisando-se o complexo
formado entre o ligante e a macromolécula-alvo, identificando-se possíveis sítios
preferenciais de ligação e principais modos de interação. Estes dados permitem propor
modificações específicas na estrutura do ligante, com o objetivo de aumentar a afinidade e
especificidade ao alvo (VAN GUNSTEREN et al., 1994; AJAY & MURCKO, 1995).
A segunda estratégia é usada quando a estrutura da macromolécula-alvo não é
conhecida. Assim, informações sobre a atividade e características estruturais e estéreoeletrônicas dos compostos ativos e inativos podem ser utilizadas para determinar propriedades
específicas de uma molécula que podem influenciar na interação com o alvo, tais como calor
de formação, potencial eletrostático molecular (Molecular Eletrostatic Potential - MEP),
densidade eletrônica, energia e coeficiente dos orbitais de fronteira HOMO (Highest
33
Occupied Molecular Orbital) e do LUMO (Lowest Unoccupied Molecular Orbital), energia
de ionização, ordem de ligação e momento de dipolo (BARREIRO et al., 1997), grupos
hidrofóbicos, grupos aceptores e doadores de ligação hidrogênio. A partir dessas informações,
gera-se um modelo que pode ser utilizado para a seleção de compostos de bancos de dados ou
orientar o processo de planejamento (COHEN, 1990).
A modelagem molecular reúne um conjunto de técnicas computacionais que
possibilitam a construção, a visualização, a manipulação e a estocagem de modelos
moleculares tridimensionais. A modelagem molecular permite a análise conformacional, o
cálculo de propriedades estéreo-eletrônicas e a análise de variações estruturais que auxiliam
na interpretação das correlações entre as estruturas químicas de uma série de compostos com
a variação da atividade farmacológica, sendo de grande importância no planejamento de
fármacos.
Diante disso, os estudos envolvendo a relação estrutura-atividade (Structure-Activity
Relationship - SAR) de uma série de compostos são essenciais na avaliação da atividade e na
seletividade, além de guiar a síntese de novas moléculas, minimizando o universo de
compostos a serem testados. No entanto, para as etapas seguintes da P&D de um novo
fármaco, parâmetros farmacocinéticos como ADME (absorção, distribuição, metabolismo,
excreção) e Toxicológicos devem ser considerados para eliminar candidatos inadequados,
reduzindo os custos da P&D.
34
2 JUSTIFICATIVA
Observando alguns problemas que a atual terapia para o tratamento da Leishmaniose
vem sofrendo, tais como severos efeitos adversos, alto grau de toxicidade, falta de adesão do
paciente ao tratamento, resistência adquirida às atuais terapias empregadas, além de um alto
custo e longo tempo de tratamento, este estudo poderá gerar informações estruturais e
eletrônicas importantes para o desenvolvimento de novos fármacos leishmanicidas, os quais
poderão apresentar melhor eficácia, um menor tempo de tratamento, baixo custo e efeitos
adversos diminuídos em relação às terapias existentes.
Neste sentido, o grupo do Prof. Dr. Ricardo José Nunes (Universidade Federal de
Santa Catarina - UFSC) propôs a síntese de uma série de derivados por hibridação molecular
da chalcona (1) com o herbicida Oryzalin (2), ambos descritos como leishmanicidas
(LUNARDI et al., 2003; BHATTACHARYA et al., 2002). A nova série de derivados
mantém o grupamento cetona -insaturado presente na estrutura das chalconas, e incorpora
os grupos 4-metoxila e 3-sulfonamida no anel B da chalcona, resultando nos derivados 4metóxi-chalcona sulfonamida (3a-i) (Esquema 1). O grupo da Profa. Dra. Alice Bernardino
(Universidade Federal Fluminense - UFF) desenvolveu uma série de derivados tieno-piridina
e avaliou o perfil inibitório contra parasitas da espécie de Leishmania amazonensis visto que
esse núcleo heterocíclico apresentava um grupamento isostérico da função  ceto
insaturada internalizada (Esquema 1).
35
Esquema 1. Planejamento de novos derivados 3, 3a-i e 4, 4a-j candidatos a novos compostos com atividade
leishmanicida.
36
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Este trabalho tem por objetivo principal a avaliação da relação estrutura-atividade
(SAR) e estudos dos perfis físico-químico e toxicológico in silico de uma série de derivados
da chalcona (3, 3a-i) com atividade contra as formas amastigotas e promastigotas de
Leishmania braziliensis e L. amazonensis, e de uma série de derivados tieno-piridina (4, 4a4j) com atividade contra as formas promastigotas de L. amazonensis baseadas em de
metodologias de simulação computacional. O objetivo desses estudos teóricos é buscar
determinar as propriedades estéreo-eletrônicas correlacionadas com a atividade biológica,
bem como traçar o potencial desses derivados como candidatos a fármacos leishmanicidas.
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
A primeira parte deste estudo consiste no emprego de técnicas de modelagem
molecular, visando identificar propriedades estruturais e eletrônicas, tais como mapas de
potencial eletrostático molecular, coeficientes e energias de HOMO e LUMO, cLogP,
momento de dipolo molecular, dos derivados 4-metóxi-chalcona (3, 3a-i) e tieno-piridina (4,
4a-4j) (Esquema 2) que possam estar relacionados com a atividade leishmanicida. Estes
estudos serão realizados utilizando o programa Spartan’08 (Wavefunction Inc, Irvine, CA,
2008).
A segunda parte deste estudo consiste em calcular parâmetros físico-químicos e
toxicológicos teóricos, visando avaliar a tumorogenicidade, efeitos na reprodução e efeitos
irritantes. Também serão calculados parâmetros como Drug-Score e Drug-Likeness que são
importantes na seleção de novas substâncias candidatos a fármacos. Estes estudos foram
realizados com o programa Osiris® da Acetilion Pharmaceuticals Ltd., disponível no sítio
http://www.organic-chemistry.org/prog/peo/. Os derivados também foram avaliados quanto
aos requisitos da “Regra-dos-Cinco” de Lipinski, que avalia a probabilidade de uma
substância ser um bom candidato a fármaco por via oral.
37
4 METODOLOGIA
4.1 METODOLOGIA – FUNDAMENTOS TEÓRICOS
4.1.1 Métodos de Cálculos da Estrutura Molecular
4.1.1.1 Mecânica Molecular
A mecânica molecular, também conhecida como método de campo de força, trata as
moléculas como uma coleção de massas interagindo entre si através de forças harmônicas,
utilizando as leis clássicas da física para predizer as estruturas e as propriedades das
moléculas. A mecânica molecular utiliza uma expressão de energia potencial em função
apenas das posições dos núcleos, negligenciando a movimentação dos elétrons, simplificação
que a torna um método computacional relativamente rápido, aplicável a moléculas pequenas e
grandes e até mesmo sistemas oligomoleculares (LEACH, 2001; RODRIGUES, 2001)
(Figura 11).
Figura 11. Representação de uma molécula por Mecânica Molecular (Reproduzido de RODRIGUES,
2001).
Um campo de força de mecânica molecular contém parâmetros referentes às interações
ligantes (comprimento de ligação, ângulo de ligação e ângulo diedro) e não-ligantes
(eletrostáticas e de van de Waals) que são usados para calcular a energia e a geometria de uma
molécula (FORESMAN, 1993).
Os parâmetros associados ao conjunto de átomos de um sistema molecular podem ser
usados em estruturas diferentes, desde que o tipo e a hibridação dos átomos envolvidos sejam
38
iguais. No entanto, qualquer desvio dos valores “ideais” resulta em penalidades de energia em
função de constantes características do parâmetro em questão.
Assim, a energia total (ET) de um sistema molecular (Equação 1), pode ser dividida em
vários termos denominados forças potenciais ou equações de energia potencial, que são
calculados separadamente e somados para obter a energia total da molécula, como as energias
associadas a deformação do comprimento de ligação (Es), a deformação do ângulo de ligação
(Ea), ângulo de torsão (Et), interações de van der Waals (EvdW) e eletrostáticas
(Eeletct)(COHEN, 1996).
ET = ΣEs + ΣEa + ΣEt + ΣEvdW + ΣEelect
(Eq.1)
A escolha do campo de força é de grande importância, visto que a confiabilidade dos
dados obtidos é dependente das funções de energia gerado por esses campos. Alguns campos
de força são utilizados em programas computacionais profissionais, como exemplo, temos o
campo de força “MM1” (Molecular Mechanics 1) desenvolvido por Norman Allinger em
1976. Esse campo de força mostrava problemas quando se deparava com hidrocarbonetos
cíclicos, como por exemplo, o ciclobutano (HINCHLIFFE, 2006).
Em 1977, Allinger, realiza algumas mudanças e introduz o “MM2” (Molecular
Mechanics 2) que possibilitou a realização de maior acurácia nos cálculos. Outro campo de
força utilizado é o “AMBER” (Assisted Model Building and Energy Refinement) é utilizado
para simulação de aminoácidos e proteínas.
4.1.1.2 Mecânica Quântica
Diferente dos métodos de mecânica molecular, os métodos de mecânica quântica
consideram os núcleos e os elétrons que compõe o sistema molecular. Os modelos quânticos
são fundamentados em soluções aproximadas para a equação de Schrödinger (Eq. 2), onde é
considerado o comportamento ondulatório dos elétrons no cálculo de energia do sistema.
H = E
(Eq. 2)
39
Na Eq. 2, H é o operador Hamiltoniano que representa a energia da molécula,
incorporando a energia cinética dos elétrons e a energia potencial das interações elétronelétron e elétron-núcleo e é a função de onda descrita em termos de coordenadas espaciais
dos elétrons que constituem o sistema em um determinado estado. Dois tipos principais de
tratamento quanto-mecânico tem aplicação em química computacional: métodos ab initio e
semi-empíricos. A mecânica quântica é útil para o cálculo de valores de afinidade eletrônica,
calor de formação, potencial de ionização e momentos de dipolo de átomos e moléculas.
Também pode ser utilizado para o cálculo da probabilidade relativa de se encontrar elétrons
(densidade eletrônica) numa estrutura, tornando possível a determinação dos locais mais
prováveis para reações com eletrófilos e nucleófilos.
Cálculos de mecânica quântica podem evidenciar detalhadamente a natureza eletrônica
das estruturas moleculares e os estudos teóricos fornecem resultados de grande valia, devido
às propriedades físico-químicas de moléculas farmacologicamente ativas ou inativas, como
potencial de ionização, afinidade eletrônica, calor de formação, momento de dipolo
molecular. Estes cálculos podem ser utilizados também para determinar a probabilidade
relativa de encontrar elétrons (densidade eletrônica) numa estrutura, tornando possível a
determinação dos locais mais prováveis para reações com eletrófilos e nucleófilos. O
conhecimento da forma e da densidade eletrônica de uma molécula também pode ser utilizado
para caracterizar a natureza de um possível fármaco para um alvo específico (THOMAS,
2003).
4.1.1.3 Teoria do Funcional de Densidade – DFT
A Teoria do Funcional de Densidade (Density Functional Theory – DFT) é um
formalismo muito bem sucedido, onde o principal objetivo é substituir a função de onda,
usada para escrever os elétrons em métodos como o Hartree-Fock, pela densidade eletrônica.
Os cálculos HF consideram uma densidade eletrônica média, já os cálculos DFT consideram
as interações instantâneas de pares de elétrons com spins opostos (LEACH, 1996). Trata-se de
uma aproximação baseada na teoria de Hohenberg e Kohn que afirma que todas as
propriedades de um sistema são funções da densidade de cargas.
40
Assim, o teorema de Hohenberg-Kohn permite escrever a energia eletrônica total
como uma função da densidade eletrônica ρ:
E(ρ)= EKE(ρ)+ EC(ρ)+ EH(ρ)+ Exc(ρ)
(Eq. 3)
onde EKE(ρ) é a energia cinética, EC(ρ) é o termo de interação núcleo-elétron, EH(ρ) é a
energia de Coulomb e Exc(ρ) contém as contribuições de troca e correlação.
Os orbitais moleculares nos cálculos de funcional de densidade são geralmente escritos
como uma expansão linear dos orbitais atômicos (i.e. funções de base) que pode ser
representado usando funções do tipo Gaussiana, orbitais de Slater ou orbitais numéricos
(LEACH, 1996). Os modelos de Funcional de densidade, assim como os modelos HartreeFock, são aplicáveis em moléculas de 50-100 átomos (HEHRE, 2003). O funcional exato não
é conhecido, logo, existe um variado conjunto de funcionais diferentes que podem fornecer
resultados diferentes para o mesmo problema. O método B3LYP (Becke, Lee, Yang e Parr) é
um método híbrido amplamente aplicado, onde parte do funcional é obtido por mecânicaquântica (combina energia de troca HF com o termo de troca DFT) e parte é parametrizado
(adiciona funcionais de correlação) (FORESMAN, 1993).
4.1.1.4 Métodos ab initio
O termo em Latim ab initio significa “a partir do início” ou “a partir dos princípios
fundamentais”, ou seja, são cálculos realizados a partir de constantes físicas fundamentais,
usando equações exatas, que envolvem uma população eletrônica total da molécula sem o uso
de parâmetros experimentais e sem aproximações adicionais. O primeiro método de cálculo
da estrutura eletrônica foi o método de Hartree-Fock (HF) que emprega a equação de
Schrödinger completa para tratar todos os elétrons de um sistema químico (SANT’ANNA,
2002).
Esse modelo emprega conjuntos de funções de base (basis set) nos cálculos tais como
as funções do tipo Slater (STO) e as funções Gaussianas (GTO e.g. 3-21G, 6-31G). Essas
bases mínimas apresentam diversas deficiências e para aprimorá-las faz-se a inclusão de
função de polarização (i.e., orbitais p representado por *) (LEACH, 2001).
41
Assim, 6-31G* refere-se ao conjunto de base 6-31G com função de polarização para
átomos pesados (i. e., átomos diferentes de hidrogênio), 6-31G** refere-se a inclusão de
função de polarização para os átomos de hidrogênio e hélio. A base 6-31G** é
particularmente útil onde ocorrem ligações hidrogênio. Funções de base com polarização
parcial também foram desenvolvidas, por exemplo, 3-21G* que é a mesma base mínima 321G com funções de polarização parcial (LEACH, 2001).
Apesar dos métodos ab initio darem uma predição quantitativa de alta qualidade para
uma grande variedade de sistemas, eles são demorados e de alto custo computacional. Um
recurso comumente empregado é otimizar a geometria com um conjunto de base mais simples
e em seguida executar cálculos de “ponto único” (Single Point) com um conjunto de base
mais completo permitindo determinar a energia e outras propriedades de um sistema
molecular, usando uma base de cálculo mais sofisticada (LEACH, 2001).
4.1.1.5 Métodos Semi-Empíricos
Os métodos semi-empíricos utilizam o mesmo formalismo quanto-mecânico como que
empregam conjuntos de base incluindo apenas os elétrons da camada de valência do sistema.
A razão por trás desta aproximação é que os elétrons envolvidos numa reação química e em
outros fenômenos intermoleculares são os elétrons da camada de valência (LEACH, 2001).
Assim, a grande vantagem dos métodos semi-empíricos em relação aos métodos ab
initio é a maior velocidade de processamento, uma vez que os cálculos são simplificados,
reduzindo os custos de memória e tempo computacional. Diferente dos métodos ab initio, nos
métodos semi-empíricos emprega-se parâmetros empíricos, i.e., derivados de dados
experimentais tais como geometrias de equilíbrio, calor de formação, momento de dipolo
molecular e potenciais de ionização, ou previamente calculados pela equação de Schrödinger,
que permitem algumas integrais presentes no método ab initio não sejam calculadas
simplificando os cálculos computacionais (SANT’ANNA, 2002; HENRE, 2003).
O primeiro método a utilizar essa aproximação é o CNDO (Complete Neglect of
Differential Overlap) Negligência Completa da Diferencial de Sobreposição, no qual os
orbitais atômicos são considerados esfericamente simétricos na avaliação das integrais de
repulsão eletrônica. Outros métodos também utilizam essas aproximações tais como, INDO
(Intermediate Neglect of Differencial Overlap), Negligência Intermediária da Diferencial de
42
Sobreposição e NDDO (Neglect of Diatomic Differential Overlap), Negligência da
Diferencial de Sobreposição Diatômica (LEACH, 2001).
Os métodos semi-empíricos mais comumente utilizados são AM1 (Austin Model 1)
(DEWAR, 1985) e PM3 (Parametric Method 3) (STEWART , 1989), ambos os métodos
incorporam aproximações muito semelhantes, mas diferem na parametrização.
Recentemente, o método AM1 foi objeto de uma re-parametrização para os átomos de
H, C, N, O, P, S, F, Cl, Br e I, resultando no método RM1 (Recife Model 1), com menores
erros de cálculos do que os gerados pelos métodos AM1 e PM3 (ROCHA et al., 2006).
4.1.2 Descritores Moleculares
Para se obter relações entre as estruturas químicas e a atividade biológica, utilizandose abordagens computacionais, é necessário encontrar representações apropriadas da estrutura
molecular dos compostos. A modelagem molecular permite a identificação e uma maior
compreensão de propriedades físico-químicas, estruturais e estereo-eletrônicas das moléculas,
verdadeiras “impressões digitais”, que nos informa o grau de diversidade estrutural num
conjunto de compostos.
Sabendo que moléculas bioativas formam complexos com os receptores/enzimas
através de um mecanismo de reconhecimento molecular diretamente ligada à estrutura
química das moléculas envolvidas (COHEN et al., 1990; BARREIRO et al, 1997), obter esses
parâmetros, também chamados de descritores moleculares é de suma importância no estudo
da relação estrutura química e atividade biológica.
Um descritor molecular pode ser considerado como sendo o resultado obtido de
procedimento lógico e matemático, aplicado às informações químicas codificadas através de
uma representação de uma molécula (CONSONNI et al, 2002).
4.1.2.1 Mapa de Potencial Eletrostático Molecular
Os parâmetros eletrônicos são um dos principais fatores que governam a interação
fármaco-receptor, neste sentido, o mapa de potencial eletrostático molecular (MEP) pode ser
43
uma abordagem alternativa com o intuito de compreender a contribuição eletrostática destes
derivados para a atividade.
O MEP é um dos descritores mais utilizados nos estudos e pretende revelar o tamanho
molecular total e a localização dos potenciais eletrostáticos na molécula. As superfícies
tridimensionais dos mapas de potenciais eletrostáticos moleculares (MEPs) são geradas após a
sobreposição na molécula de uma partícula carregada positivamente que sob a superfície de
contato de van der Waals da molécula revela uma região de repulsão, representando o
potencial positivo, de coloração azulada e a região na molécula de potencial negativo,
representado pela coloração vermelha.
Para a construção do MEP são necessárias três etapas: a construção da superfície de
densidade eletrônica da molécula, a construção da superfície de potencial eletrostático e a
aplicação de cores a superfície obtida para designar valores de potencial (Figura 12).
Figura 12. Etapas no processo de construção do Mapa de Potencial Eletrostático da molécula de Benzeno.
4.1.2.2 Energias dos Orbitais Moleculares
As energias do Orbital Molecular de Maior Energia Ocupado (HOMO) e do Orbital
Molecular de Menor Energia Desocupado (LUMO) são descritores químico-quânticos
bastante utilizados que desempenham um papel importante nas reações químicas e na
formação de diversos complexos de transferência de cargas.
A energia de HOMO está diretamente relacionada ao potencial de ionização do
composto e caracteriza a capacidade da molécula em realizar ataques nucleofílicos. A energia
de LUMO está diretamente relacionada à afinidade eletrônica, caracterizada pela
susceptibilidade do composto em relação a ataques por nucleófilos (GRANT, 1996).
44
A diferença entre as energias dos orbitais HOMO-LUMO identificada como gap, é um
importante indicador de estabilidade molecular. Moléculas com baixo valor de gap são
geralmente reativas, enquanto moléculas com alto valor de gap indicam alta estabilidade da
molécula, no sentido de baixa reatividade nas reações químicas (ZHANG, 2007).
4.1.2.3 Densidade dos Orbitais de Fronteira
A densidade eletrônica dos orbitais de fronteira nos átomos fornece uma forma útil
para a caracterização detalhada das interações doador-aceptor. A maioria das reações
químicas ocorre no local de maior densidade eletrônica nos orbitais de fronteira, que são
definidos de acordo com o tipo de reação: numa reação eletrofílica, a densidade de HOMO é
essencial para a transferência de elétrons, enquanto a densidade de LUMO representa as áreas
mais suscetíveis a ataques nucleofílicos (GRANT, 1996).
4.1.2.4 Momento de Dipolo
A polaridade de uma molécula é importante para várias propriedades físico-químicas,
sendo assim, considerando que a interação de fármaco e receptor ocorre em função das
diferenças de cargas com valores opostos, diversos descritores têm sido propostos para
quantificar os efeitos de polaridade, dentre os quais, o momento dipolo da molécula (que
reflete apenas a polaridade global da mesma) é o mais utilizado.
4.1.3 Parâmetros farmacocinéticos in silico
A farmacocinética teórica in silico é uma abordagem atualmente muito utilizada no
estudo inicial das propriedades ADMET (Absorção, Distribuição, Metabolização, Excreção e
Toxicicidade – também chamada de ADME/Tox) que tem como objetivo diminuir o gasto
45
desnecessário em ensaios biológicos de compostos com alta probabilidade de problemas
farmacocinéticos e tóxicos futuros, economizando tempo e investimento (KADAN, 2007).
Durante o processo de P&D de um fármaco, um estudo de ADMET eficiente é
essencial para que se tenham compostos promissores, com maiores probabilidades de não
serem descartados na fase clínica. Na avaliação das principais razões para o fracasso no
desenvolvimento de novos fármacos, metade foi atribuída principalmente às propriedades
farmacocinéticas e à toxicidade (Figura 13). Assim, atualmente, estudos ADMET vêm sendo
aplicados em etapas anteriores no desenvolvimento de fármacos, a fim de se economizar
tempo e delinear melhor o estudo de novos compostos (DAVIS & RILEY, 2004).
Farmacocinética
30%
39%
Toxicidade animal
Outros
5%
10%
Efeitos adversos
5%
11%
Razões comerciais
Perda de eficácia
Figura 13. Principais razões do fracasso no desenvolvimento de fármacos (Adaptado de WATERBEEMD
& GIFFORD, 2003)
Para uma análise precisa do perfil farmacocinético de um protótipo métodos de
screening in vitro são realizados, como ensaios de solubilidade, absorção, permeabilidade e
metabólitos formados (YAMASHITA & HASHIDA, 2004). Sabendo-se que os efeitos
adversos e a toxicidade dos compostos estão diretamente relacionados à sua estrutura química,
esses dados são lançados em modelos computacionais, no qual se racionalizam um grande
número de observações experimentais correlacionando as características estruturais e as
propriedades físico-quimicas com o efeito observado, realizando um screening virtual.
A confiabilidade nestes modelos teóricos é dependente de informações de banco de
dados e que estão sendo gradualmente liberados pelas indústrias farmacêuticas. Estes modelos
também são submetidos à testes de desafio, onde o objetivo é determinar o grau de confiança
46
no mesmo. Um dos principais desafios do desenvolvimento de fármacos é a avaliação precisa
da toxicidade dos fármacos em seres humanos.
Os efeitos tóxicos podem ser classificados como farmacológicos, patológicos ou
genotóxicos (que causam alterações no DNA). Os efeitos farmacológicos geralmente
desaparecem com a diminuição da concentração do fármaco no organismo, através do
metabolismo e eliminação do mesmo. Os efeitos patológicos e genotóxico podem ser
revertidos, porém se um dano maior no DNA não for reparado, pode surgir câncer em animais
de laboratório em poucos meses, ou anos, em seres humanos (GOODMAN E GILMAN,
2007).
4.1.3.1 Perfil Drug-Likeness
O conceito de Drug-Likeness pode ser entendido como compostos que possuem
grupos funcionais e/ou têm propriedades físicas parecidas com a maioria dos fármacos
conhecidos. Essas propriedades, principalmente lipofilicidade, distribuição eletrônica,
características de ligação hidrogênio, tamanho e flexibilidade molecular e a presença de
características farmacofóricas influenciam o comportamento da molécula em um organismo
vivo, incluindo fatores envolvidos nas regras de ADME/Tox (BISWAS et al., 2006).
No presente trabalho foi empregado o programa Osiris® da Acetilion Pharmaceutical
Ltd. que se utiliza da freqüência de ocorrência de cada fragmento e determina essa freqüência
através de uma lista de fragmentos criada a partir de um banco de dados de 3300 fármacos
comerciais (fragmentos Drug-Like) assim como 15000 substâncias químicas comercialmente
disponíveis no catálogo Fluka® (fragmentos não Drug-Like) formando uma lista completa
com todos os fragmentos disponíveis (Figura 14).
47
Figura 14. Distribuição do perfil Drug-Likeness dos fármacos comerciais (verde) e das substâncias do
catálogo Fluka® (vermelho).
O processo de cálculo de Drug-Likeness se inicia a partir do desenho da estrutura
química no programa Osiris® (Figura 15). Em seguida o programa calcula os valores do perfil
toxicológico, as propriedades físico-químicas, Drug-Likeness e Drug-Score (o somatório das
propriedades calculadas).
Figura 15. Imagem do programa Osiris® com os respectivos perfis toxicológico, propriedades físicoquímicas, Drug-Likeness e Drug-Score.
48
4.1.3.2 Perfil Drug-Score
O Drug-Score combina os valores obtidos de Drug-Likeness, cLogP (lipofilicidade),
logS (solubilidade), peso molecular e riscos toxicológicos em um único valor de modo a
avaliar se o composto tem potencial para se tornar um fármaco, valores mais próximos de 1
(um) indicam um bom perfil Drug-Score (Figura 16).
Figura 16. Escala do perfil Drug-Score de um potencial candidato a fármaco.
4.1.3.3 Regra-dos-Cinco (Lipinski)
A lipofilicidade e a solubilidade são as principais propriedades moleculares que
influenciam a absorção. A abordagem teórica dos parâmetros farmacocinéticos foi iniciada
em 1997, quando Lipinski e colaboradores da Pfizer desenvolveram a “Regra-dos-Cinco” (do
inglês, Rule of Five), a partir do estudo das propriedades de 2245 fármacos do banco de dados
do World Drug Index (WDI) aprovados para a Fase II dos ensaios clínicos (LIPINSKI, 1997).
Com a finalidade de prever a biodisponibilidade oral de fármacos, essa regra é baseada em
características físico-químicas dos compostos analisados, entre eles:

Existência de menos do que 5 doadores de ligação hidrogênio (expresso
pela soma de OH e NH na molécula);

Peso molecular for menor do que 500 Da;

cLogP for menor do que 5;
49

Menos do que 10 aceptores de ligação hidrogênio (expresso pela soma
de átomos de N e O).
As classes terapêuticas biodisponíveis oralmente que constituem exceção a “Regrados-Cinco” são: antibióticos, antifúngicos, vitaminas e glicosídeos cardiotônicos. Uma
possível explicação para estas substâncias que “violam” a “Regra-dos-Cinco” seria que
membros destas classes terapêuticas apresentam características estruturais que permitem ao
fármaco atuar como substrato para transportadores que ocorrem naturalmente (LIPINSKI,
2004).
4.1.4 Ensaios antiparasitários e de citotoxicidade das 4-metóxi-chalconas (3, 3a-i) e tienopiridinas (4, 4a-j)
Os ensaios antiparasitários foram realizados para as formas promastigotas e
amastigotas das espécies de Leishmania braziliensis e Leishmania amazonensis. Para o ensaio
de inibição do crescimento parasitário pelos derivados 4-metóxichalconas (3, 3a-i), as formas
promastigotas de Leishmania foram colhidas na fase de crescimento exponencial e a
concentração ajustada para 10x106 parasitas/mL em um meio de Schneider plus a 5% de soro
de feto bovino (FBS). Os compostos foram adicionados em diferentes concentrações com os
parasitas e incubados por 72 horas a 28ºC. Para o controle positivo foi usado Anfotericina B,
e como controle negativo foi usado 1% de DMSO. Os experimentos foram realizados em
triplicata e o número de parasitas vivos foi determinado através da contagem na câmara de
Neubauer. As concentrações que inibem 50% do crescimento celular (IC50) foram
determinadas através de análise de regressão linear, e representa o valor ± erro padrão.
Para os ensaios de inibição do crescimento parasitários pelos derivados tieno-piridina
(4, 4a-j) foram utilizados formas promastigotas de L. amazonensis mantidas em um meio de
cultura de caldo de infusão cérebro-coração (Brain Heart Infusion - BHI) suplementado com
10% soro de feto bovino (FBS) a 26 ºC. O potencial de infecção dos parasitas foi mantido
através de inoculações contínuas em patas de hamster. As formas promastigotas de L.
amazonensis foram incubadas na presença ou ausência dos derivados tieno-piridinas a 50 µM.
Foi usado o Glucantime® como controle positivo e DMSO como controle negativo. O perfil
50
inibitório foi determinado através da contagem de parasitas na câmara de Neubauer utilizando
microscopia ótica.
As diluições seriadas dos derivados tieno-piridinas foram realizados com a finalidade
de determinar o valor de EC50, onde as formas promastigotas de L. amazonensis foram
expostas a diluições (6,25, 12,5, 25 e 50 M) dos derivados por 24 horas.
Os ensaios de citotoxicidade foram realizados com macrófagos de peritônio de ratos
saudáveis, cultivados por 72 horas a uma temperatura de 37 ºC e adicionados diferentes
concentrações dos compostos. O efeito citotóxico da chalcona foi realizado de acordo com os
ensaios de MTT (Sieuwerts, et al., 1995) e a concentração citotóxica a 50% (CC50) foi
determinada por análise de regressão linear e representa o valor ± erro padrão de três
experimentos independentes.
4.2 METODOLOGIA COMPUTACIONAL
Estudos de relação estrutura-atividade dos derivados 4-metoxichalcona sulfonamida
(3a-3i) foram realizados empregando descritores obtidos pelo método semi-empírico AM1,
disponível no programa Spartan’08. As conformações mais estáveis (conformação de menor
energia) foram submetidas a estudos DFT (Density Functional Theory), em nível 6-31G*,
com o intuito de gerar cargas atômicas parciais com maior acurácia. Em seguida, foram
gerados os contornos isoenergéticos dos mapas de potencial eletrostático molecular (MEP),
numa faixa de energia entre -65 (coloração vermelha) a +23 (coloração azul) kcal/mol.
As superfícies tridimensionais dos mapas de potenciais eletrostáticos representam os
potenciais eletrostáticos sobrepostos na superfície de densidade de elétrons constante
(0,002e/au³), sob a superfície de contato de van der Waals, e indicam o tamanho molecular
total e a localização global dos potenciais eletrostáticos negativos e positivos.
Outros
parâmetros eletrônicos que também foram avaliados são: momento de dipolo molecular (µ),
valores de energia e coeficientes de distribuição dos orbitais de fronteira HOMO (orbital
molecular de maior energia ocupado) e LUMO (orbital molecular de menor energia
desocupado).
51
Os compostos também passaram por um estudo seguindo os requisitos da “Regra-dosCinco” de Lipinski que avalia a probabilidade de uma substância ser um bom candidato a
fármaco por via oral. Neste estudo, são avaliados parâmetros como cLogP, HBA (Hydrogen
Bond Acceptos), HBD (Hydrogen Bond Donnors) e Peso molecular (PM).
Também foi utilizado o programa Osiris®, que permite desenhar estruturas químicas
bidimensionais e calcular várias propriedades relevantes no planejamento de novos fármacos.
O processo se baseia na comparação da molécula em estudo com um banco de dados de
fragmentos estrutural presentes em fármacos de uso clínico. Os resultados gerados sinalizam a
possibilidade de mutagenicidade, tumorogenicidade, toxicidade, solubilidade e lipofilicidade
de um candidato a fármaco. As predições são registradas por código de cores que indicam o
grau dos efeitos.
As propriedades com alto risco de efeitos colaterais ou indesejáveis, como
mutagenicidade, são demonstradas na cor vermelha, enquanto que a cor verde registra uma
propriedade desejável para um fármaco.
O valor de Drug-Score, obtido a partir do programa Osiris®, é resultante da
combinação dos valores de Drug-Likeness (semelhança a fármaco), lipofilicidade,
solubilidade, peso molecular e riscos toxicológicos em um único valor que pode ser usado
para avaliar o potencial total de um composto a fim de qualificá-lo como um possível fármaco
(MITEVA et al., 2006).
52
O fluxograma abaixo (Figura 17) descreve resumidamente a metodologia aplicada neste
estudo.
Figura 17. Fluxograma da metodologia utilizada nas etapas de modelagem molecular, perfis físicoquímicos e toxicológicos teóricos.
53
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 ATIVIDADE LEISHMANICIDA DOS DERIVADOS 4-METÓXI-CHALCONA (3) E 4METÓXI-CHALCONA SULFONAMIDAS (3a-i) CONTRA Leishmania braziliensis
A avaliação do perfil inibitório dos derivados 4-metóxi-chalcona (3) e 4-metóxichalcona sulfonamidas (3a-i) foi realizada por ensaios in vitro contra formas promastigotas de
L. braziliensis e mostrou que o efeito inibitório desses derivados é dependente da
concentração (Figura 18A). A adição do grupo sulfonamida gerou derivados com melhor
perfil inibitório do que a 4-metóxi-chalcona (3), exceto pelo derivado anilina-substituído (3e)
(Figura 18A e Tabela 1) que revelou uma piora do perfil inibitório. Isso pode ser observado
pelos resultados obtidos em que a maioria dos derivados 4-metóxi-chalcona sulfonamidas
possui um potencial inibitório maior (IC50= 3,5 ± 0,6 a 8,6 ± 0,4 µM) do que o derivado 4metóxi-chalcona (IC50= 16,6 ± 1,6 µM) e outros derivados de chalconas tais como aqueles
descritos por Lunardi e colaboradores (Lunardi et al., 2003) (13,7 - 182,3 µM). Embora os
compostos sintetizados pelo nosso grupo tenham sido menos ativos do que anfotericina B
(IC50= 0,3 ± 0,02 µM), eles foram mais ativos do que a pentamidina (IC 50= 19,6 µM), um
medicamento de uso corrente no tratamento da leishmaniose.
A adição da anilina substituída na posição R do grupo sulfonamida, representado pelo
composto 3e, foi o único que afetou negativamente a atividade inibitória do crescimento da
forma promastigota de L. braziliensis (IC50 = 69 ± 3,7 μM) comparado ao composto 3.
Observa-se também que todas as substituições (substituintes doadores ou retiradores de
elétrons) na sub-unidade sulfonamida ou na posição para do anel aromático da anilina
mantiveram o perfil leishmanicida (derivados 3a-3d e 3f-3h) sugerindo a possibilidade de
novas interações dessas posições com regiões específicas do receptor (Figura 18 e Tabela 1).
O composto 3i demonstrou o melhor perfil contra a forma promastigota de L.
braziliensis (IC50 = 3,5 ± 0,6 μM). O grupo benzilamino parece contribuir significativamente
para esta atividade uma vez que este composto foi cerca de 20 vezes mais ativo do que o
composto 3e (IC50 = 69 ± 3,7 μM) (Tabela 1). Assim, observa-se que a inserção de um átomo
de carbono (3i) foi suficiente para evitar os efeitos deletérios da anilina (3e), provavelmente
permitindo interações hidrofóbicas com o sítio receptor do parasita. Os ensaios in vitro,
54
realizados com a forma amastigota de Leishmania braziliensis, demonstraram que o composto
mais ativo (3i) foi capaz de reduzir significativamente o número de formas intracelulares
(Figura 18D), indicando a possibilidade deste composto ser um candidato a agente
leishmanicida.
Foi também avaliado experimentalmente a atividade citotóxica dos derivados 3 e 3a-i
contra macrófagos de peritônio de ratos. Os resultados mostram que os valores de CC 50
variam de 57,8 ± 4,8 a 105,7 ± 6,5 μM (Figura 18B). De fato, a presença dos substituintes do
grupo sulfonamida parece desempenhar um papel mais importante para a atividade
leishmanicida do que para o perfil citotóxico (Figura 18B, Tabela 1).
Os valores de CC50 foram utilizados para calcular o índice de seletividade (IS) para
estes derivados, os quais foram mais altos do que 4-metóxi-chalcona não substituído, exceto
3c e 3e. Este resultado mostra uma melhora no índice de seletividade comparado ao protótipo
3 (Figura 18C). Os derivados 4-metóxi-chalcona sulfonamidas também foram avaliados
contras a forma epimastigota de T. cruzi. Entretanto, diferentemente da chalcona descrita por
Lunardi e colaboradores, que foi ativa contra L. braziliensis (13,7-182,3 μM) e cepas de T.
cruzi (24,8-126,4 μM), esta nova série não apresentou atividade em concentrações superiores
de 500 μM. Este dado sugere que a série 4-metóxi-chalcona sulfonamidas atua em um alvo
terapêutico diferente ao daquele descrito para a série de Lunardi e colaboradores (Lunardi et
al., 2003), devido sua especificidade para Leishmania. Estudos anteriores demonstraram que
derivados de chalconas podem atuar na mitocôndria do parasita em função de inibir a
atividade de fumarato redutase, succinato desidrogenase, NADH desidrogenase, ou succinato
e NADH-citocromo c redutase (ZHAI et al., 1995; ZHAI et al., 1999). Entretanto, como estas
enzimas podem estar presentes em T. cruzi e os novos derivados descritos aqui não afetam
este parasita, investigações sobre o mecanismo de ação devem ser realizadas.
55
Figura 18. Avaliação Biológica dos derivados 4-metóxi-chalcona (3) e 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3ai). Efeito inibitório na proliferação in vitro de parasitas da espécie Leishmania braziliensis (A), perfil
citotóxico em macrófagos de ratos (B), índice de seletividade (IS) calculado (C) e inibição da infecção por
formas amastigotas de Leishmania braziliensis em macrófagos utilizando o composto mais ativo (3i) (D).
56
Tabela 1. Atividade leishmanicida (IC50) dos derivados 4-metóxi-chalcona (3) e 4-metóxi-chalcona
sulfonamida (3a-i) com suas respectivas propriedades eletrônicas teóricas (Dipolo, EHOMO, ELUMO) e a
“Regra-dos-Cinco” de Lipinski (número de doadores e aceptores de ligação hidrogênio (HBD e HBA
respectivamente), cLogP e Peso molecular (PM).
O
O
O
O
S
R
(3)
OCH3
(3a-3i)
OCH3
5.2 ESTUDOS DE MODELAGEM MOLECULAR DOS DERIVADOS 4-METÓXICHALCONA (3) E 4-METÓXI-CHALCONA SULFONAMIDA (3a-i)
Os estudos computacionais dos derivados foram realizados e as propriedades
estruturais e eletrônicas foram avaliadas com o intuito de obter informações importantes que
possam ser correlacionadas com a respectiva atividade leishmanicida.
Uma análise do perfil de atividade mostrou que a presença do grupo sulfonamida
aumentou a atividade dos derivados 3a-i em comparação ao composto 3. Observou-se que o
aumento do volume, peso molecular e momento dipolo desses derivados parecem aumentar a
atividade comparado com 3, exceto para 3e (Tabela 1). O estudo conformacional dos
compostos 3 e 3a-i sugere que o aumento da atividade biológica é devido provavelmente a
novas interações com o sítio receptor em virtude de um novo plano molecular criado em
57
função da inserção do grupo sulfonamida (Figura 19). Uma análise geral das propriedades
eletrônicas calculadas para os derivados 4-metóxi-chalcona (3, 3a-i), tais como os valores de
energia de HOMO e LUMO e de momento dipolo não demonstraram uma correlação direta
com a atividade leishmanicida.
Através da análise dos mapas de potencial eletrostático também não foi possível
estabelecer nenhuma relação com a atividade (Figura 19). Entretanto a densidade de HOMO
dos compostos mais ativos está concentrada no centro da sub-unidade chalcona (função
cetona  insaturada) que une os anéis A e B (Figura 20) sugerindo que essa região pode
desempenhar um papel importante para a atividade leishmanicida.
Figura 19. Conformações de mínimo de energia (A) e o Mapa de Potencial Eletrostático (B) dos derivados
4-metóxi-chalcona (3) e 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3a–i).
58
Figura 20. Densidade de HOMO dos derivados 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3a-i). A Densidade
absoluta de HOMO é codificada em uma superfície de van der Walls (isodensity 0.002 e/au3) mapeada da
região mais vermelha (0,00) a região mais azul (0,02).
A anilina, presente em 3e, comprometeu significantemente a atividade biológica.
Pode-se observar que o derivado 3e, que reorientou a densidade de HOMO para o anel
anilina, acarretou uma perda de atividade quando comparado ao composto 3. É importante
observar que a adição de um átomo de cloro (3f), que possui um perfil elétron-atrator,
restaurou a atividade.
Contudo, o volume e as características estereoeletrônicas são
provavelmente importantes para o perfil leishmanicida dessa série, visto que a adição de dois
átomos de cloro (3g) ou um grupo metóxi (3h), aos quais possuem maiores volumes e
características eletrostáticas diferenciadas, diminui em mais de duas vezes a atividade quando
comparado ao composto 3f. Entretanto estes substituintes ainda contribuem para a atividade
considerando que estes derivados são mais ativos do que 3e. Analisando a estrutura do
composto mais ativo (3i) e do menos ativo (3e), observa-se que a adição de um átomo de
carbono como espaçador em 3i foi importante para a formação de uma interação tipo “π–π
stacking” entre o anel anilina substituído e o anel B do derivado 4-metóxi-chalcona
59
sulfonamida (Figura 21), ao qual pode ser importante para a interação com o sítio receptor,
considerando que esta orientação pode evitar regiões estericamente proibidas no alvo
terapêutico.
Figura 21. Sobreposição dos derivados mais ativo (3i) (verde) e menos ativo (3e) (roxo) da série 4-metóxichalcona sulfonamida.
5.3 ESTUDO DO PERFIL FÍSICO-QUÍMICO, FARMACOCINÉTICO E TOXICOLÓGICO
TEÓRICO (IN SILICO)
5.3.1 Drug-Likeness e Drug-Score
A fim de determinar alguns parâmetros toxicológicos in silico importantes para a
avaliação de um candidato a fármaco, foi utilizado o programa Osiris® (http://www.organicchemistry.org/prog/peo). Este programa também foi utilizado para realizar os cálculos de
Drug-Likeness e Drug-Score dos compostos mais ativos da série de derivados (3, 3b, 3d, 3f e
3i). Os dados obtidos revelaram que os derivados mais ativos da série 4-metóxi-chalcona
60
sulfonamida apresentaram um índice de Drug-Likeness superior a fármacos utilizados
atualmente no tratamento da leishmaniose, como Pentamidina e Glucantime® (Figura 22A).
Neste estudo, foi avaliado também, o Drug-Score, que combina os dados de DrugLikeness, cLogP, LogS, peso molecular e riscos tóxicos teóricos em uma única escala e que
pode ser usado para classificar o composto como um possível fármaco (Figura 22 A). Os
resultados mostraram que o composto mais ativo (3i) apresentou um valor muito bom de
Drug-Score e muito próximo ao da Pentamidina.
Na avaliação do perfil toxicológico in silico, observou-se que os derivados da série 4metóxi-chalcona sulfonamida apresentaram um baixo perfil toxicológico tais como
tumorogenicidade, efeitos irritativos e efeitos no sistema reprodutor, sendo semelhantes ao
Glucantime®, um fármaco atualmente em uso para a terapia da leishmaniose (Figura 22 B).
Figura 22. Resultados dos parâmetros Drug-Likeness e Drug-Score (A) e riscos toxicológicos teóricos (B)
dos derivados 4-metóxi-chalcona (3), 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3c, 3d, 3f e 3i) e Glucantime®
61
Deve-se ter em mente que o baixo efeito tóxico teórico atribuído aos demais derivados
não significa ausência de possíveis efeitos tóxicos graves, mas uma probabilidade de um bom
desempenho no aspecto avaliado. A avaliação “in silico” da toxicidade, não elimina a
necessidade dos testes toxicológicos tradicionais.
5.3.2. Regra-dos-Cinco (Lipinski)
Com o objetivo de reforçar o estudo do perfil físico-químico teórico dos derivados,
foram realizados alguns cálculos de parâmetros relacionados com a biodisponibilidade oral de
acordo com a Regra dos Cinco de Lipinski (LIPINSKI et al., 2001). Os resultados revelaram
que a lipofilicidade dos derivados 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3, 3a-i) não foram
superiores a 5,0 (2,21> cLogP <4,60) que, de acordo com Lipinski, é uma característica
importante para uma boa absorção e permeação de um fármaco (LIPINSKI, 2001; TETKO,
2006) (Tabela 2). Além disso, o peso molecular dos derivados (345,42> PM <462,35) é
semelhante a mais de 80% dos medicamentos disponíveis comercialmente (PM <450 Da) e
determinado pela Regra-dos-Cinco de Lipinski (WATERBEEMD & GIFFORD, 2003). Os
resultados obtidos mostraram que não houve nenhuma violação das regras de Lipinski (2,21 >
cLogP < 4,60; 345,42 Da > PM < 423,49 Da; HBA = 2–5 e HBD = 0–1) sugerindo a
importância destes derivados como candidatos a fármacos e com boa biodisponibilidade por
via oral.
62
Tabela 2. Resultados da avaliação da Regra-dos-Cinco de Lipinski.
Regra dos Cinco de Lipinski
Composto
HBD
HBA
cLogP
PM (Da)
3
0
2
3,63
238,29
3a
0
5
2,61
345,42
3b
0
5
3,29
373,47
3c
0
5
2,93
371,46
3d
0
6
2,21
387,46
3e
1
5
4,04
393,46
3f
1
5
4,60
427,91
3g
1
5
5,16
462,35
3h
1
6
3,91
423,49
3i
1
5
4,11
407,49
5.4 AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DO PERFIL LEISHMANICIDA DAS 4-METÓXICHALCONA SULFONAMIDAS CONTRA Leishmania amazonensis
Resultados anteriores demonstraram que uma série de derivados 4-metóxi-chalcona
sulfonamida (3a-i) apresentaram um significante perfil leishmanicida contra as formas
promastigotas de L. braziliensis, incluindo o derivado 3 que não contém os substituintes
sulfonamidas. Essa informação reforça os dados contidos na literatura quanto ao perfil
leishmanicida das chalconas. No presente trabalho, a série das 4-metóxi-chalcona sulfonamida
(3a-i) também foi testada contra as formas promastigotas e amastigotas de parasitas da
espécie Leishmania amazonensis com a finalidade de identificar algum perfil leishmanicida
para essa espécie. Observou-se que a presença da sulfonamida é essencial para exibir um bom
perfil contra essa espécie (Figura 23) em contraste com os resultados dos ensaios para a forma
promastigota de L. braziliensis. O interessante é que a combinação dos dois grupos
farmacofóricos, chalcona e sulfonamida, melhorou
significativamente
a atividade
63
leishmanicida para as formas promastigotas do que para as formas amastigotas de L.
amazonensis (Figura 24).
Aparentemente, o aumento do volume dos substituintes nesses derivados também
contribuiu para o aumento da atividade leishmanicida contra as formas promastigotas de L.
amazonensis, mas não para L. braziliensis (Figura 23). Por outro lado, esta adição
comprometeu a atividade desses derivados conta as formas amastigotas de L. amazonensis
(Figura 24).
5.4.1 Avaliação dos derivados 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3a-i) contra as formas
promastigotas de L. amazonensis
Todos os derivados de chalcona (3a-3i) mostraram um efeito inibitório dependente da
concentração, exceto o composto 3e, semelhante ao observado contra as formas promastigotas
de L. braziliensis. A maioria dos derivados de 4-metóxi-chalcona sulfonamida apresentou
uma atividade inibitória contra L. amazonensis maior do que o derivado 4-metóxi-chalcona
(3) (Figura 23), tendo como mais ativos os derivados 3f, 3g e 3h com as anilinas parasubstituídas (IC50= 4,3 M; 5,6 M e 5,5 M, respectivamente) em contraste com o resultado
com L. braziliensis onde os derivados mais ativos foram 3i, 3b e 3d (Figura 23).
A única exceção foi o derivado 3f que apresentou uma atividade similar para as duas
espécies de parasita na mesma faixa de concentração (IC50 = 4,3 e 4,6 M). Apesar desses
aspectos, os derivados foram menos ativos que a Anfotericina B (IC50=0,3 ± 0,02M), mas
foram mais ativos que a Pentamidina (IC50=19,6M) e Glucantime® (163,7 M),
medicamentos utilizados no tratamento da leishmaniose.
64
5.4.2 Avaliação das 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3a-i) contra as formas amastigotas
de L. amazonensis
Quando avaliados contra as formas amastigotas de L. amazonensis, os derivados 3a-3i
mostraram-se menos ativos se comparados com a atividade contra formas promastigotas,
exceto pelo composto 3f (Figura 24). É interessante ressaltar, que este derivado mostrou ser
mais ativo contra as formas amastigotas (IC50 = 2,0 ± 0,3 µM) do que contra as formas
promastigotas de L. amazonensis (Figure 24). Aparentemente, a atividade da maioria desses
derivados contra as formas amastigotas de L. amazonensis é comprometida por qualquer
grupo ou átomo que resulta em um derivado mais polar ou que altere o seu volume, o que
pode resultar em problemas estéricos. Desta forma, os resultados indicam que o derivado mais
promissor como protótipo para o tratamento da leishmaniose seria o 3f e não o 3i, já que ele
atuaria em ambas as formas (promastigota e amastigota) e espécies (L. amazonensis e L.
braziliensis). Entretanto, esses compostos, incluindo o 3i, poderiam ser úteis como
ferramentas experimentais para se estudar e tentar compreender os mecanismos que levam a
uma especificidade para uma determinada espécie.
A L. braziliensis pode causar infecções viscerais ou lesões cutâneas disseminadas em
pacientes HIV, enquanto a L. amazonensis dependendo da distribuição geográfica pode causar
ulcerações na pele simples ou difusa, principalmente na face, levando à mutilação e
desfiguração. Total compreensão destes sistemas parasitários, ainda é essencial para a
obtenção de um tratamento apropriado para cada tipo de leishmaniose. Com este objetivo
novas ferramentas experimentais que diferenciem esses parasitas devem ser pesquisadas.
65
Figura 23. Comparação do efeito leishmanicida (A) e o Ínice de Seletividade (IS), entre formas
promastigotas de L. amazonensis e L. braziliensis
Os cálculos de Índice de Seletividade (IS) e os dados de citotoxicidade (CC50) foram
realizados utilizando a mesma metodologia empregada para as espécies de L. braziliensis. O
índice de seletividade de alguns derivados (3c, 3f, 3g e 3h) apresentou melhores resultados
quando calculados para as formas promastigotas de L. amazonensis do que para L. braziliensis
(Figura 23). É interessante ressaltar que o derivado mais ativo 3f apresentou maior
seletividade quando testada contra formas amastigotas de L. amazonensis, do que o Pentostam
(Figura 24B). De acordo com o estudo toxicológico in silico (efeitos mutagênicos, irritantes e
efeitos no sistema reprodutor) esses derivados mostraram-se livres de riscos tóxicos,
reforçando o derivado 3f como um candidato promissor para posteriores estudos de novos
fármacos leishmanicidas.
66
Figura 24. Comparação do efeito leishmanicida (A) e o Índice de Seletividade (B) dos derivados 4-metóxichalcona (3) e 4-metóxi-chalcona sulfonamida (3a-i) contra formas promastigotas e amastigotas de L.
amazonensis
5.5 ESTUDOS DE RELAÇÃO ESTRUTURA-ATIVIDADE DOS DERIVADOS 4METÓXI-CHALCONA CONTRA Leishmania amazonensis
Os estudos de relação estrutura-atividade revelaram que a presença das aminas
aromáticas foram essenciais para a melhora da atividade dos compostos. Um fator importante
que deve ser de se ressaltado é a melhor atividade dos derivados com aminas secundárias (3f,
3g e 3h), podendo estar relacionado, provavelmente, a interações do tipo ligação hidrogênio
com o sítio receptor. A análise da densidade de HOMO dessa série de compostos revelou que
o composto mais ativo (3f) apresenta certo nível da densidade localizada no anel anilina
substituído, enquanto os derivados menos ativos apresentam essa densidade concentrada na
67
região da função cetona - insaturada (Figura 20). Esses resultados indicam uma possível
suscetibilidade dessa região para sofrer ataques eletrofílicos que sejam necessários para
ocorrer uma interação com o sítio receptor. Esses dados reforçam o perfil promissor dos
derivados 4-metóxi-chalcona sulfonamida na busca por novos candidatos a fármacos para o
tratamento da leishmaniose.
5.6 AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE DERIVADOS TIENO-PIRIDINA COM ATIVIDADE
LEISHMANICIDA
Neste trabalho essa nova série de derivados tieno-piridinas (4, 4a-j) foi avaliado contra
formas promastigotas de parasitas da espécie Leishmania amazonensis usando como controle
positivo o Glucantime®. Um resultado interessante é que todos os compostos apresentaram
uma atividade inibitória significante (> 50%) após 24 horas, mesmo os derivados sem
substituinte no anel fenila (Figura 25).
Figura 25. Efeito dos derivados tieno-piridina [50M] na proliferação de parasitas na forma promastigota
da espécie Leishmania amazonensis após 24 horas de incubação. A = Controle; B = DMSO; C =
Glucantime ; 4 = H; 4a = m-CH3; 4b = m-OCH3; 4c = m-NO2 ; 4d = m-F ; 4e = m-Br; 4f = p-CH3; 4g = pOCH3; 4h = p-NO2; 4i = p-F, e 4j = p-Br.
68
Os resultados apontaram os derivados 4d (m-F), 4f (p-CH3), 4g (p-OCH3) e 4h (pNO2) com uma atividade considerável sendo os derivados 4f e 4g com o maior perfil
leishmanicida (IC50 = 29,49 μM e 32,23 μM, respectivamente) sendo melhores até mesmo que
o composto de referência Glucantime® (IC50 = 163,7 μM) (Figura 26).
Figura 26. Efeito das diluições seriadas (6,25 - 50 M) do derivado 4f (p-CH3) e 4g (p-OCH3) sobre a
proliferação in vitro de parasitas da espécie Leishmania amazonensis depois de 24 horas. Glucantime® =
EC50=163,7μM.
Aparentemente, a posição do substituinte no anel fenila substituído influencia na
atividade, sendo os para-substituídos os que apresentaram melhor perfil inibitório (i.e., p-CH3
= 88,30% e p-OCH3 = 95,45%) exceto pelos derivados 4j (p-Br) e 4e (m-Br) que exibiram o
menor perfil inibitório (> 63%) comparativamente com o derivado não substituído.
Os derivados mais ativos da série foram submetidos a um estudo do perfil citotóxico
em células mononucleadas periféricas que demonstraram não haver citotoxicidade dos
compostos mais ativos (4f e 4g) na concentração utilizada (Figura 27). Esses dados serão
comparados com os resultados de estudos toxicológicos teóricos.
69
Figura 27. Efeito citotóxico dos derivados Tieno-piridinas (50 M) sobre células mononucleadas após 24
horas de incubação. A = Controle; B = DMSO ; C = Glucantime ; 4 = p-CH3, 5 = p-OCH3, 6 = p-NO2 , 7 =
m-Br e 8 = p-Br.
5.7 ESTUDOS DE MODELAGEM MOLECULAR DOS DERIVADOS TIENO-PIRIDINAS
(4, 4a-j)
Os estudos de modelagem molecular foram realizados no programa Spartan 08 a fim
de gerar informações sobre propriedades estruturais e eletrônicas dos derivados Tienopiridinas que pudessem ser correlacionadas com a atividade leishmanicida. Numa primeira
abordagem, utilizou-se a análise conformacional através de métodos semi-empíricos AM1
para avaliar a geometria dos derivados. Os derivados para-substituídos mais estáveis foram
utilizados nesse estudo. Essa informação se torna importante já que os derivados parasubstituidos revelaram melhor perfil inibitório do que os derivados meta-substituidos,
revelando um possível impedimento estérico nessa região, exceto pelo derivado 4e (Tabela 3).
70
Tabela 3. Comparação da atividade leishmanicida (%) dos derivados Tieno-Piridina (4, 4a-j) com suas
respectivas propriedades eletrônicas teóricas (Dipolo, EHOMO, ELUMO) e a “Regra-dos-Cinco” de Lipinski
incluindo número de aceptores e doadores de ligação hidrogênio (HBA e HBD respectivamente) , cLogP e
Peso molecular (PM).
R
NH
N
N
H
S
Perfil
Compostos
R
Inibitório
(%)
N
Energia (Ev)
HOMO
LUMO
(4, 4a-j)
Dipolo
(debye)
Lipinski “Regra-dos-Cinco”
cLogP (HBA) (HBD)
PM
4
H
59,6
-5,40
-1,28
2,98
2,57
4,0
1,0
294,38
4a
m-CH3
71,7
-5,35
-1,26
3,12
3,05
4,0
1,0
308,41
4b
m-OCH3
66,8
-5,29
-1,28
3,09
2,44
5,0
1,0
324,41
4c
m-NO2
69,8
-5,94
-2,37
4,77
2,60
7,0
1,0
339,38
4d
m-F
88,1
-5,57
-1,39
2,63
2,73
4,0
1,0
312,37
4e
m-Br
51,9
-5,66
-1,45
2,74
3,40
4,0
1,0
373,28
4f
p-CH3
88,3
-5,26
-1,25
3,14
3,05
4,0
1,0
308,41
4g
p-OCH3
95,4
-5,02
-1,20
3,81
2,44
5,0
1,0
324,41
4h
p-NO2
80,7
-6,06
-2,18
5,48
2,60
7,0
1,0
339,38
4i
p-F
69,4
-5,40
-1,35
2,63
2,73
4,0
1,0
312,37
4j
p-Br
36,4
-5,54
-1,45
2,79
3,40
4,0
1,0
373,28
Glucantime
-
73,9
-
-
-
-
-
-
-
Outro estudo que se mostra de grande importância para o entendimento da
contribuição eletrônica desses derivados para a atividade, são os mapas de potencial
eletrostáticos (MEP) que foram gerados através de cálculos pelo método da Teoria do
Funcional de Densidade (DFT = Density Functional Theory) em uma base de 6-31G*.
Observa-se através da análise do mapa de potencial eletrostático dos derivados Tienopiridinas, que os compostos mais ativos (4f e 4g) apresentam uma região com maior
densidade eletrônica sobre o anel fenila substituído (Figura 28 A). O derivado 4h (p-NO2)
apresentou um perfil eletrônico completamente diferente dos outros derivados. O grupo nitro
é um forte grupo retirador de elétrons (4c e 4h) e reduziu drasticamente a densidade eletrônica
no anel fenila e do sistema tieno-piridina, o que poderia explicar a reduzida atividade
71
biológica do derivado 4h. A análise da densidade de HOMO revelou uma maior concentração
sobre o anel fenila substituído, sugerindo que essa região pode ser susceptível a uma interação
importante com o sítio receptor (Figura 28 B).
Figura 28. (A) Mapa de Potencial Eletorstático (MEP) dos derivados Tieno-piridina (4, 4a-j) sobre uma
superfície de 0,002 e/ua3 com uma faixa de energia de –25,0 (regiões vermelhas) a +30,0 (regiões azuis)
kcal/mol. (B) Densidade de HOMO sobre uma superfície de densidade eletrônica constante de (0.002
e/au3).
72
5.8 ANÁLISE DAS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS E TOXICOLÓGICAS IN
SILICO
5.8.1 Perfil Drug-Likeness
O índice de Drug-Likeness indica se um composto apresenta determinadas
características essenciais observadas na maioria dos fármacos disponíveis no mercado. Assim,
este índice mostra a capacidade de um determinado composto em ser um candidato potencial
a se tornar um fármaco. O potencial Drug-Likeness dos compostos mais ativos (4, 4d, 4f, 4g,
4h, 4j) e do Glucantime® foram calculados, sendo esse último utilizado como controle
positivo por ser um fármaco amplamente utilizado no tratamento da leishmaniose. Apenas o
composto (4h) não apresentou um bom potencial Drug-Likeness, enquanto os compostos 4f e
4g apresentaram o melhor potencial Drug-Likeness entre todos, inclusive o Glucantime®
(Figura 29).
Figura 29. Drug-Likeness dos derivados mais ativos (4, 4d, 4f, 4g, 4h e 4j) comparados com o
Glucantime® um fármaco comercial
73
5.8.2 Perfil Drug-Score
O índice Drug-Score é a soma de todas as características do composto (cLogP,
solubilidade, toxicidade teórica, Drug-Likeness e peso molecular) calculadas pelo sistema
Osiris© que permite avaliar quanto um determinado composto pode vir a ser candidato como
um futuro fármaco. Segundo os critérios estabelecidos, quanto mais próximo de 1 (um),
maiores são as probabilidades (Figura 30).
Figura 30. Drug-Score dos derivados mais ativos (4, 4d, 4f, 4g, 4h e 4j) comparado com o Glucantime®,
um fármaco disponível comercialmente
Os derivados mais ativos da série tieno-piridinas apresentaram um bom perfil de DrugScore sendo comparável com o Glucantime® um fármaco disponível comercialmente. Dentre
os derivados mais ativos, o composto 4 apresentou melhor perfil de todos, inclusive
comparando com o fármaco Glucantime®. Esse resultado pode ser reforçado também pelo
bom perfil Drug-Likeness desse derivado.
74
5.8.3 Perfil toxicológico teórico
Também foi realizada a predição dos riscos toxicológicos (tumorogênico, irritativos e
risco tóxico na reprodução) desses compostos (Figura 31). Apenas o composto 4g apresentou
algum tipo de risco, sendo esse, tumorogênico, o que pode explicar seu baixo potencial DrugScore. Os baixos riscos teóricos de tumorogenicidade, efeitos irritativos e efeitos na
reprodução dos demais compostos avaliados (4, 4d, 4f, 4h e 4j) indicaram um perfil de baixo
risco, similar ao Glucantime®. Comparando com os dados de citotoxicidade in vivo, pode-se
observar que a avaliação teórica também sugere a segurança desses compostos quanto aos
riscos toxicológicos. É importante ressaltar que a toxicidade predita não é totalmente
confiável nem garante que esses compostos são completamente isentos de efeitos tóxicos.
Contudo, ressalta o perfil promissor desses compostos para estudos experimentais mais
aprofundados.
Figura 31. Comparação da toxicologia in silico para os derivados 4, 4d, 4f, 4g, 4h e 4j com o Glucantime®
obtida através do Osiris® Property Explorer.
75
5.8.4 Regra-dos-Cinco (Lipinski)
Uma análise mais detalhada dos compostos mais ativos da série tieno-piridinas (4, 4d, 4f,
4g, 4h e 4j) mostrou que todos os satisfazem a “Regra-dos-Cinco” de Lipinski (294,38> PM
<373,28; 2,44> cLogP <3,40; HBA = 4-5; HBD = 1) e são semelhantes a fármacos comerciais e
com boa biodisponibilidade oral teórica (Tabela 4).
Tabela 4. Resultados da avaliação da Regra-dos-Cinco de Lipinski para os derivados tieno-piridina.
Regra-dos-Cinco de Lipinski
Composto HBA
HBD
cLogP
PM (Da)
4
4,0
1,0
2,57
294,38
4a
4,0
1,0
3,05
308,41
4b
5,0
1,0
2,44
324,41
4c
7,0
1,0
2,60
339,38
4d
4,0
1,0
2,73
312,37
4e
4,0
1,0
3,40
373,28
4f
4,0
1,0
3,05
308,41
4g
5,0
1,0
2,44
324,41
4h
7,0
1,0
2,60
339,38
4i
4,0
1,0
2,73
312,37
4j
4,0
1,0
3,40
373,28
76
6 CONCLUSÕES
Um série de derivados da chalcona (3, 3a-3i) e tieno-piridinas (4, 4a-j) foram
sintetizadas e avaliadas quanto ao potencial leishmanicida. A série de derivados da chalcona
(3, 3a-i) foi ensaiada contra as formas amastigotas e promastigotas de parasitas da espécie
Leishmania braziliensis e Leishmania amazonensis, enquanto a série de derivados tienopiridinas (4, 4a-j) foi ensaiada contra as formas promastigotas de L. amazonensis.
A avaliação biológica dos derivados de chalcona (3, 3a-i) revelou que a adição do
grupo sulfonamida melhorou a atividade leishmanicida para ambas as espécies de L.
braziliensis e L. amazonensis, sendo entretanto, crucial para a atividade contra L. amazonensis
em contraste com os resultados da atividade contra L. braziliensis.
O estudo de SAR revelou que o melhor perfil de atividade, contra L. braziliensis, da
série das chalconas ocorreu com a adição de um átomo de carbono como pode ser observado
no composto 3i, comparado ao composto 3e que não apresenta este átomo como espaçador.
Entretanto, para a espécie L. amazonensis, esse espaçador parece não ser importante pois o
composto mais ativo foi o derivado 3f cujo substituinte R da sulfonamida está diretamente
ligado ao átomo de nitrogênio da anilina. Em termos estereoeletrônicos, uma análise dos
derivados chalconas com a presença do grupamento sulfonamida (3a-i) revelou que os mapas
de densidade de HOMO apresentaram uma densidade mais concentrada na região da ligação
 ceto insaturada da chalcona dos compostos mais ativos contra espécies de L. braziliensis,
em especial 3i. Essa região se mostra importante já que o derivado 3e (menos ativo) reorienta
essa densidade de HOMO para o anel anilina substituído. De maneira diferente, a densidade
de HOMO para o derivado mais ativo (3f) contra espécies de L. amazonensis apresentou-se
concentrado no anel anilina substituído, sugerindo um alvo diferente para cada espécie do
parasita. Os derivados 4-metóxi-sulfonamidas apontam não apenas como novos candidatos
para combater leishmaniose (3f) (ativo para ambas as espécies), mas também para permitir
novos estudos que tentem entender a especificidade de ação para uma determinada espécie
(3i).
Para os derivados 4, 4a-4j foi possível evidenciar que os substituintes na posição para
favorecem uma melhor geometria de interação com o sítio receptor, diferente dos derivados
77
meta substituídos que possivelmente direcionam tais substituintes para regiões restritivas
(proibitivas) impedindo um perfeito encaixe com o sítio de ligação.
A análise dos parâmetros eletrônicos do mapa de potencial eletrostático dos derivados
tieno-piridinas (4, 4a-j), revelou que os compostos mais ativos (4f e 4g) apresentam uma
região mais densa eletronicamente sobre o anel fenila substituído, sugerindo uma importância
dessa região para interações eletrostáticas com o sítio receptor.
Os dados dos parâmetros físico-químicos e farmacocinéticos in silico mostraram que
os compostos mais ativos da série 4-metóxi-chalcona (3, 3a-j) e da série tieno-piridinas (4,
4a-j) foram melhores ou semelhantes a fármacos utilizados atualmente, como Pentamidina e
Glucantime®.
O perfil toxicológico teórico das duas séries de derivados foi avaliado e observou-se
um baixo perfil toxicológico de acordo com a tumorogenicidade, efeitos irritativos e efeitos
no sistema reprodutor, reforçando os dados experimentais de citotoxicidade que apontam estes
compostos como candidatos a futuros protótipos com baixa citotoxicidade.
78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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