A Teoria das Vali:ncias, que surgiu na Fran~a com 0 lingUista

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ABSTRACT: In this paper some questions related to the verbal level structure are
discussed, within the framework of the Valency Grammar, such as reduction. variation
and widening of the "actants" number; the reason why "actants" can be compulsory or
and,Jinally, some differences between 'actants" and "circumstants".
A Teoria das Vali:ncias, que surgiu na Fran~a com 0 lingUista Lucien
Tesniere(1959), tern como base as conexoes estabelecidas entre as palavras de uma
frase. Esta teoria considera 0 verbo como ponto preclpuo da frase, baseando-se no
princCpioda superioridade hierarquica do verbo no enunciado, princCpioeste que se
opoe a Gramatica Tradicional, que divide a ora~aoem sujeito e predicado.
Assim Tesniere nega 0 carater binarlo da ora~ao em frase nominaUfrase
verbal(sujeito/predicado), colocando como elemento superior da frase - 0 verbo, do
qual todos os demais elementos dependem. ConseqUentemente,0 sujeito que ate entao
tinha urn papel de destaque passa a ser considerado como urn complemento igual aos
outros, ou seja, subordinado ao verbo. 0 verbo, como elemento mais importante da
ora~ao, desempenha a fun~ao nodal, denominada assim por Tesniere, pelo fato de 0
verbo ser 0 nucleo central da frase, isto e, 0 no central.
Nesta teoria os complementos verbais sao considerados como actantes, e os
adjuntos adverbiais - circunstantes. 0 numero de actantes necessarlos em uma frase e
definido pelo verbo que apresenta lugares vazios a serem preenchidos. Esta exigi:ncia
verbal foi denominada de valencia pelo autor, atraves de uma compara~ao com a
qUlmica,de onde foi tirada essa no~ao. Os verbos varlam quanto ao numero de actantes
que eles admitem(vali:ncia), pois dependem do numero de espa~os vazios por eles
apresentados. Deste modo, ti:m-se verbos avalentes, monovalentes, bivalentes e
trivalentes. Tesniere s6 admite a existi:ncia de verbos com 0 maximo de tri:s actantes;
porem, com estudos posterioresl, pode-se dizer que ha verbos tetravalentes.
Na Gramatica de Vali:ncias, 0 predicado e constitufdo, fundamentalmente, por
urn verbo, que oferece os dados necessarios para que se construa uma frase
estruturalmente correta e de sentido completo. Deste modo, 0 predicado possui duas
fun~oesblisicas:uma estrutural e outra semantica.
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Para Busse e Vilela(1986), sao os verbos que apresentam as estruturas
relacionais de tipo valencial e chamam valencia 0 numero de lugares vazios previstos e
implicados pelo(significado) lexema.
U. Engel, citado por Liberato Martfnez(1981, p.24-25), afirma sobre 0 plano de
constru~ao verbal que a valencia do verbo determina de maneira decisiva a estrutura da
ora~ao, contudo a qualidade dos complementos em questao e tao importante quanta 0
seu numero. Portanto, uma breve visao das possibilidades dos complementos deve levar
em conta 0 numero e a qualidade destes.
o plano de constru~ao verbal(para os lingUistas alemaes) e constitufdo pelo
numero total de actantes admitidos no plano de urn verbo, quer sejam obrigat6rios, quer
sejam facultativos, isto e 0 que constitui a valencia total de urn verbo.
o verba entregar. por exemplo. apresenta a valencia total tres, isto e,
trivalente, pois os espa~os vazios se referem ao entregador, aquilo que e
entregue(objeto) e ao recebedor.
o carteiro
entregou uma caixa amos-a.
entregador
objeto entregue recebedor
AI
A2
A)
No entanto, nem sempre 0 verba se apresenta com todos os seus lugares vazios
preenchidos. Considerando 0 verbo utilizado, este pode apresentar apenas dois actantes
(AI e A2) sem que 0 seu sentido basico seja prejudicado, ou que a ora~ao se tome
agramatical.
o carteiro
AI
entregou uma caixa.
A2
A partir disso, conclui-se que a valencia total corresponde a soma da valencia
obrigat6ria com a valencia facultativa, neste caso dois actantes obrigat6rios e urn actante
facultativo. A valencia obrigat6ria e assim chamada porque se urn destes dois
complementos fosse retirado, a frase se tomaria agramatical, como em:
Portanto, a soma da valencia obrigat6ria mais a valencia facultativa inclui todos
os actantes previstos lexicalmente pelo verbo. Em contraposi~ao, os circunstantes, que
tambem sao facultativos, nao pertencem a valencia e, por isso, nao sao previstos no
plano verbal. podendo aparecer, ou nao,livremente na ora~ao. como se ve abaixo:
Apanhou os cigarros na mesa.
Circunstante
o actante facultativo pode ser acrescentado ou omitido sem que a ora~ao se
tome agramatical. Sua ocorrencia depende de razoes contextuais e de exigencias
comunicativas. Este tipo de actante nao aparece, geralmente, quando sua presen~a nao e
necessaria para que 0 sentido da frase seja completo, sendo facilmente recuperado, pois
esta no plano verbal. Desta forma, SaDperfeitamente normais e aceitliveis as ora~oes nas
quais nao aparecem 0 complemento A2.
Esta no plano do verbo comer 0 fato de ele ser bivalente, pois "alguem" come
"alguma coisa", mas nao e necessario especificar 0 que se come. Sempre que 0 verbo,
apresentar urn lugar vazio nao realizado, este espa~o corresponde ao actante facultativo,
sem que 0 significado seja afetado basicamente. Ocorre, entao, uma Redu~io de
Valencia. Em outros enunciados esses lugares podem ser especificados lexicalmente, ou
ainda estar elfpticos devido ao contexto.
Neste caso tambem acontece a redu~ao de valencia, pois embora nao haja a
presen~a do A2 ele e previsto no plano verbal e pode ser recuperado pelo contexto,
portanto 0 verbo nao e monovalente. Ressalta-se ainda que 0 verba nao SOfre altera~oes
no plano de seu significado, ele continua admitindo dois actantes, mesmo quando s6 urn
lugar vazio(dos dois) e preenchido.
Deve-se enfatizar tamb6m que muitas vezes a valencia total coincide com a
valencia obrigat6ria, como no caso do verba acabar, cuja valencia total(monovalente)
coincide com a valencia obrigat6ria.
E preciso notar ainda que a classifica~ao do sujeito em indeterminado nao
implica na inexistencia de urn espa~o vazio, portanto neste caso ocorre uma redu~ao de
valencia.
Pode haver, tamb6m, urn outro fen6meno denominado de Varla~io de
Valencia. BIa ocorre quando ha, de uma frase para a outra, altera~ao no plano do
significado verbal, ou seja, uma mesma forma lexical apresenta estruturas relacionais
distintas,
quais correspondem a diferentes mlmeros de lugares vazios.
as
As folhas secaram. (deixar de ser umido/murchar/evaporar)
A empregada secou a lou~a.(tirar a umidade/enxugar)
No ultimo exempl0 0 verba sees,. apresenta uma estrutu£ll bivlllente, enquanto
no primeiro aparece como monovalente, aqui, 0 verbo nao pode ser interpretado como'
se tivesse urn lugar vazio niio realizado, apenas apresenta em sua estrutura 0 AI. Nota-se
que a vari~ao de valencia depende do significado do verbo.
Nas frases abaixo ocorrem tres situa~oes distintas:
Ele saiu.
Ele saiu de casa.
Ele saiu de casa para urn pensionato.
o plano verbal de sair e bivalente, pois "alguem"(AI) sai "de algum
lugar"(As). Entretanto, no primeiro exemplo, ha uma redu~ao de valencia, pois 0 verbo
aparece apenas com 0 Al e possui urn espa~ vazio nao realizado. No segundo exemplo,
o plano verbal esta completo com a presen~a dos actantes Al e As . E no terceiro
exemplo, ocorre uma Amplia~io de Valencia, pois 0 verba passa a ser trivalente,
porque admite que "alguem" sai "de urn lugar" "para outro lugar", ou seja, 0 verbo
exige os complementos Ah As, e Ati. A amplia~ao da valencia torna a frase mais
explfcita e completa.
A distin~ao existente entre complementos obrigat6rios e complementos
facultativos deve-se ao fato de aqueles serem imprescindfveis para a compreensao,
enquanto estes podem ser suprimidos sem que tragam conseqUencias para 0 sentido da
frase.
A diferen~a entre actantes facultativos e circunstantes e mais diffcil, pois ambos
podem ser suprimidos da frase. Antes, porem, de apresentar alguns criterios utilizados
na identifica~ao e distin~ao destes elementos, faz-se necessario definir com mais clareza
os circunstantes.
Estes compreendem os elementos Iivres da frase, que servem para expressar as
circunstancias nas quais ocorre 0 processo. Seus representantes sao, basicamente, os
adverbios, podendo ser classificados em: de modo, de tempo, de causa, de lugar, etc.
Os actantes, mesmo os facultativos, sao elementos previstos por verbos
especfficos. Os actantes facultativos, portanto, podem ser omitidos ou nao, sem causar
danos gramaticais a frase. Os circunstantes, que tambem podem ser exclufdos sem
danificar 0 sentido da frase, ao contrario daqueles, podem depender de qualquer verbo,
agregando-se livremente a toda estrutura, desde que respeitem as restri~oes impostas
pelo significado da frase.
Uma primeira prova que se pode citar e a da comuta~ao, que, segundo Liberato
MartInez, consiste em trocar 0 verba: os actantes, por terem uma rela~ao estreita com 0
verbo, podem apresentar conseqU8ncias significativas na ora~ao com a mudan~a do
verba; enquanto que os circunstantes, por serem livres e poderem ser acrescidos a
qualquer estrutura verbal, nao determinam nenhuma mudan~a sintatica na frase com a
comuta~ao do verbo.
Ha outros
processos
apresentados,
tais como:
a elimina~ao,
a
pronominaliza~ao, a reformula~ao por urn pro-verbo, a interroga~ao.
Contudo, vale ressaltar que esses processos nao sao total mente eficazes, pois
no caso do verbo morar, a frase se toma incompleta se nao houver urn complemento
locativo, isto e, este verbo e bivalente, pois esta implicada, no seu sentido, a exigencia
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de dois complementos(AI e As), Em ultima analise, a melhor soluyao e 0 conhecimento
lingtifstico do falante que pode decidir se urn elemento e, ou niio, imprescindfvel ao
significado do verbo.
Ele mora em Sao Paulo.
AI
As
Ele corre em Sao Paulo.
Al
Circunstante
Percebe-se atraves das breves considerayoes aqui apresentadas que 0 estudo do
plano verbal e urn aspecto primordial na orayao, pois ele determina todas as ocorrBncias
da mesma, analisando-as sob a perspectiva da Teoria das ValBncias, que tern como base
o princlpio de Tesniere - 0 verba como elemento fulcral da orayao. Podendo, assim,
admitir fatos como a reduyao, a variayao e a ampliayao da valencia.
Esta teoria apresenta, na Lingua Portuguesa, uma classificayao plausfvel para
os verbos, pois analisa-os em todas as suas possibilidades, apresentado em cada situayiio
uma explicayao coerente.
A contribuiyao de Vilela para a aplicayao desta teoria a lfngua portuguesa e
incontestavel, pois permite que a frase seja analisada sob criterios sintaticos e
sem~nticos.
Sabe-se que a analise da gramatica tradicional e imprecisa e nao responde a
todos os questionamentos da lfngua, enquanto a Teoria das ValBncias anula muitas
dessas deficiencias.
Faz-se necessano, entao, repensar a estrutura sintatica na qual a Gramatica
Tradicional esta aliceryada, e admitir a possibilidade de outras teorias explicarem
melhor os aspectos sintaticos da nossa lfngua.
*
Este trabalho faz parte de uma Sessao de Comunicayoes Coordenadas, Teoria das
Valencias; foi elaborado para 0 XLV Seminano do Gel.
I A Teoria das ValBncias foi desenvolvida, posteriormente e com grande Bxito, pelos
lingtiistas da escola alema. Na lfngua Portuguesa, destaca-se 0 estudo realizado por
Busse e Vilela.
RESUMO: Este trabalho aborda questoes acerca da estrutura do plano verbal, sob 0
prisma da Teoria das Valencias, como a reduriio, a variariio e a ampliariio da
valencia, apresenta tambem as poss(veis explicaroes para os actantes, que podem ser
obrigatorios oufacultativos, e, ainda, as diferenras entre actantes e circunstantes.
BUSSE, W. & VILELA, M.(1986) Gramdtica de Valencias. Coimbra: Almedina.
FERREIRA, A.B.H.(1986) Novo Diciondrio da Ungua Portuguesa. 21 ed. revista e
aumentada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
LIBERATO MARTfNEZ, M.(1981) Los complementos preposicionales segun la
gramdtica dependencial del verbo - Estudio Contrastivo alemdn-espanol (Tesis
Profesional). Mexico: Facultad de Filosoffa y Letras - Universidad Nacional
Aut6noma de Mexico, 1981.
TESNIERE, L.(1959) Elements de Syntaxe Structurale. 2"ed. Paris:Klincksieck.
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