Capa, 4-7 - Rio Bravo Investimentos

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Tijolo com tijolo
Personagem da semana
Em2013, crédito imobiliário crescerá
entre15% e 20% sobre ovolume de
R$ 85 bilhões de 2012, prevê Abecip. ➥ P33
Christian Lohbauer, presidente da Citrus BR,
associação da indústria da laranja, foi o mais
votado em enquete do BRASIL ECONÔMICO. ➥ P26
Murillo Constantino
PUBLISHER RICARDO GALUPPO
DIRETOR JOAQUIM CASTANHEIRA
DIRETOR ADJUNTO OCTÁVIO COSTA
SEGUNDA-FEIRA, 17 DE DEZEMBRO, 2012
O
ANO 4 | N 831 | R$ 3,00
Bradesco e Itaú preparam-se para
abrir frente no mercado mexicano
Com juros em queda e rentabilidade menor, os grandes bancos brasileiros são atraídos pela expectativa de forte crescimento
de países da América Latina. Segundo Rogério Calderón, diretor do Itaú, o México é a bola da vez do crédito ao consumo. ➥ P30
Rodrigo Capote
Veto à nova lei de
royalties está nas
mãos de Luiz Fux
Gustavo Franco:
“O governo
perdeu a noção
do valor adicionado
dos produtos”
Rio e ES acreditam que o ministro
do STF concederá a liminar que
adia votação de amanhã. ➥ P10
Brado, da ALL,
planeja investir
R$ 1,2 bi no Brasil
Nos próximos 4 anos, subsidiária
espera passar de 2% para 11% de
participação no mercado. ➥ P18
Europa fortalece
BCE e acelera
a união bancária
Líderes europeus avaliam que
supervisão bancária única garante
a “irreversibilidade do euro”. ➥ P36
Executivos entram
em campo com
o time preferido
Na condição de torcedores, alguns
fanáticos, mas organizados,
eles não perdem jogos e viajam
para acompanhar as equipes,
até no Japão. ➥ P35
INDICADORES
TAXAS DE CÂMBIO
Dólar comercial (R$/US$)
Euro (R$/€)
JUROS
Selic (ao ano)
BOLSAS
Bovespa — São Paulo
Dow Jones — Nova York
FTSE 100 — Londres
14.12.2012
COMPRA
VENDA
2,0830
2,7265
2,0850
2,7275
META
EFETIVA
VAR. %
ÍNDICES
7,25%
0,49
-0,27
-0,13
7,12%
59.604,92
13.135,01
5.921,76
“Pouco caso com o setor de
serviços retarda crescimento”
Em entrevista ao BRASIL ECONÔMICO, o ex-presidente do BC, Gustavo Franco, diz que o governo dá ênfase
excessiva à política industrial e deixa de lado os serviços que respondem por 75% dos empregos do país. ➥ P4
Suecos vêm brigar DilemadasPMEsno
com Hypermarcas mercadoexterno
Depois de anos atuando com apenas um produto,
a SCA, gigante de US$ 9 bilhões, prepara ofensiva
no país com lançamento de novos itens. ➥ P19
Embora representem 99% das companhias no Brasil,
pequenas e médias respondem por apenas 25% do
PIB e têm presença quase nula nas exportações. ➥ P11
4 Brasil Econômico Segunda-feira, 17 de dezembro, 2012
IDEIAS EM DESTAQUE
Editado por: Ivone Portes [email protected]
ENTREVISTA GUSTAVO FRANCO Sócio da Rio Bravo Investimentos
“Pouco caso do governo
com o setor de serviços
retarda avanço do país”
Para o ex-presidente do Banco Central, o país carece de uma política de fomento voltada à atividade que gera
75% dos empregos. Ele diz que o atual governo só pensa na indústria e perdeu a noção do valor adicionado
Talvez Gustavo Franco não tenha sido o criador da expressão “saco de maldades”, mas com certeza foi quem
melhor utilizou o termo para descrever a austeridade do
Banco Central quando esteve à frente da instituição.
Quinze anos depois, ele continua o mesmo, rígido e severo com as políticas econômicas brasileiras e estrangeiras. Fundador e diretor da Rio Bravo Investimentos, o expresidente do BC não poupa críticas às atuações do governo, que, segundo ele, vêm provocando o enfraquecimento da economia do país. Como resultado, diz o economista, a percepção do Brasil no exterior piorou.
Em entrevista ao BRASIL ECONÔMICO, Franco argumenta que reformas estruturais foram deixadas de lado, e
que os frutos colhidos nos últimos anos ainda são reflexos da estabilização monetária que o país viveu durante
os anos 1990. Para voltar a crescer mais forte será preciso um choque de capitalismo, afirma. Privatizações, concessões, liberalismo comercial. Tudo para se enquadrar
no grande “jogo de xadrez internacional”, entende.
Gustavo Machado
[email protected]
Nos últimos dias tivemos um
indicativo de que a economia
não está se recuperando
no ritmo que se imaginava.
Qual a sua perspectiva para
2013 com estes novos dados?
Acho que o dado foi chocante,
mas não surpreendente. Foi revelador. Não trouxe nada desconhecido de quem acompanha
outros indicadores. São vários
semestres seguidos de queda
nos investimentos. Há uma recessão nesta área. A despeito do
consumo, o PIB foi fraco. Os setor de serviços, que foi para muitos uma surpresa, traz um aviso
de como este segmento é importante. É onde estão 75% dos empregos no país. De tanto fazermos políticas industriais a economia está rateando.
O senhor acha que o governo
faz políticas industriais,
mas os industriais reclamam
que o governo não faz.
Onde está o erro?
Acho que é patético um empre-
Talvez por nostalgia, ou por afeição, dos tempos de
Banco Central, Franco vai de encontro com economistas
que argumentam que o tripé macroeconômico — metas de
inflação, fiscais e câmbio flutuante — foi jogado fora. Segundo ele, o BC continua fazendo seu trabalho de maneira
exemplar.
Atualmente, o Banco Central, talvez, seja o único músico
que toca corretamente na orquestra que Franco chama de
Brasil. Mas dá um recado aos otimistas que esperam uma
menor taxa de juros anual: “Ela é alta porque a dívida pública continua alta”. Sem redução da dívida bruta, explica, o
governo precisa manter juros elevados para rolar a dívida.
Isso porque, segundo ele, aqui também não há almoço grátis — adaptando a célebre frase “There is no such thing as a
free lunch”, do economista americano Milton Friedman.
Por falar em dívida, Franco também comentou a crise
europeia. Para muitos, o ano de 2013 pode ser de definições. Mas para Franco, será apenas mais um — de outros
que estão por vir — de ajustamento fiscal. Ele diz que o sa-
sário reclamar de política industrial no Brasil. O BNDES não faz
outra coisa. A quantidade de incentivos discricionários é imensa. O país é protecionista e escolhe setores beneficiados. Políticas industriais têm, assim mesmo assistimos à redução do tamanho da indústria no PIB, em
linha com o que acontece no
mundo inteiro. Nenhuma política de fomento é feita expressamente para o setor de serviços.
Quando se trata de competitividade, sempre se pensa na indústria e não nos serviços. Quando
se fala em educação, também se
fala em indústria. Agricultura
não é menos produtiva e geradora de tecnologia que a indústria.
Um produto como o iPhone e o
iPad, ou qualquer outro produto global, é fácil verificar que a
parte menos interessante é o
processo industrial. As outras
partes são muito mais relevantes. Algumas noções sobre onde
está o valor adicionado o governo deixou para trás.
Indústrias que competem
com itens padronizados estão
“
A ideia de deter
no Brasil produtos
competitivos com
integração vertical
completa é um erro.
As manufaturas
brasileiras
competitivas têm
conteúdo importado
fadadas a morrer no Brasil?
Não é acabar. É acomodar-se a
um cenário global diferente.
Uma empresa que produz calçados tem um segmento de design, que cria a identidade do
produto. Depois há a manufatura, a distribuição, o relacionamento e a marca. Muitas dessas
empresas mudaram suas plantas de produção para a China.
São companhias fortes, resistentes e multinacionais. Esse é
o destino de muitas empresas
brasileiras.
co de maldades está agora nas mãos dos alemães. “Tenho
um entendimento semelhante ao da chanceler Angela
Merkel”, resume.
Se irrita sobre as possibilidades aventadas, mais uma
vez, de perdão de parte da dívida dos países em crise. Franco — que sentiu na pele as dificuldades de um país em descrédito em renegociar suas dívidas — diz que o processo será dolorido, mas que os europeus, principalmente os gregos, irão sobreviver. “Falando a partir de um país que fez
todos os ajustes necessários, inclusive negociando com
países credores, que foram duros conosco e que hoje são
devedores, porque deveria pensar que eles podem ter um
almoço grátis?”, argumenta. Franco, que também é um
grande criador de metáforas, compara a União Europeia
com um clube. Segundo ele, a integração fiscal da região
pode ser uma solução para a crise, como sugere a experiência brasileira. “As federações precisam criar mecanismos
para evitar vantagens de entes sobre outros. São as regras
de convivência do clube para o uso da piscina”, conclui.
E o que sobra por aqui?
A parte melhor. A concepção, o
design, a criação, desenvolvimento. Aqui terá a estrutura de
logística, o trabalho decorrente
da marca, os royalties. Isso fica
sob controle local. O mundo inteiro trabalha neste sistema
offshore. Nenhuma empresa
global funciona diferente disso.
A ideia de deter no Brasil produtos competitivos com integração vertical completa é um erro. As manufaturas brasileiras
competitivas têm grande conteúdo de importação. Estão embrenhadas no jogo global de produção. É um mundo diferente e
ainda se aplica políticas dos
anos 1950. O país devia estar
preocupado em ocupar espaço
nas partes mais importantes
nas cadeias de geração de valor
das empresas. Espaços que estão no setor de serviços.
Existe uma contaminação
no pensamento econômico
de quem dirige o país a partir
da fórmula de crescimento
dos países asiáticos?
No Brasil, nunca houve ênfase
nas exportações. Sempre a ênfase se deu sobre a integração vertical. Na Ásia, historicamente, a
ênfase é na exportação. Podese importar o quanto quiser desde que se exporte. Aqui se estabelece conteúdo nacional sobre
a produção, e se tiver competitividade, exporta. Com o tempo,
a Ásia teve muito mais sucesso
que o Brasil. Países que tinham
renda per capita parecida, como a Coreia do Sul e Taiwan,
nos deixaram para trás há tempos. Nosso modelo de substituição de importações se esgotou.
Esgotou ou fracassou?
Prestou bons serviços ao país e
depois se esgotou. Não dá para
dizer que fracassou porque nos
levou a algum lugar. Nos levou
a implantar algumas indústrias,
que já não existem mais. As noções de autossuficiência, as
grandes bandeiras da década de
1980, perderam sentido. Hoje,
há a interdependência entre os
países. É tentar produzir enquadrado no xadrez internacional
da globalização. Ser parte da rede e não se isolar da rede.
Segunda-feira, 17 de dezembro, 2012 Brasil Econômico 5
Rodrigo Capote
próximo de outros países?
Acho que a taxa de juros é estruturalmente elevada em razão do
nosso passado hiperinflacionário e devido à dívida pública,
que é muito grande. A dívida
bruta, sem as deduções e outros
truques, está perto de 70% do
PIB. Entre os emergentes, imagino que seja a maior. É muita dívida. A rolagem da dívida implica que, a cada ano, o tesouro role de 15% a 16% do PIB. Isso é o
que a Grécia renova todo ano. Isso se faz pela venda de LFTs (Letras Financeiras do Tesouro,
atreladas à taxa Selic) para a indústria de fundos. Quando os juros eram maiores, todos gostavam deste produto e o viam como poupança. Agora, com os juros onde estão, o rendimento líquido destes fundos é muito pequeno, de 2% a 3% ao ano. Há o
desinteresse. O dinheiro vai para outras aplicações que não são
títulos públicos e há dificuldade
em rolar a dívida. Os juros são
altos porque a dívida é alta. Não
há almoço grátis aqui. Nosso
passado fiscal é tão importante
quanto o presente. O acúmulo
de déficits no passado produziu
uma dívida alta. Temos hoje um
superávit primário, mas um déficit nominal. Temos uma situação fiscal que ainda não é ideal
para sustentar juros a 4%, como um país desenvolvido.
Franco: O empresário “quer reformas liberais, menos carga tributária, legislação trabalhista flexível. Reformas que foram abandonadas”
O PIB potencial do país
diminuiu? Temos menos
condição de crescer hoje
do que há cinco anos?
Acredito que sim. Acho que o
desempenho do crescimento
brasileiro, posteriormente ao
real, para muita gente foi uma
revelação. Não sabíamos como
seria o crescimento sem a inflação como um elemento importante. O que temos hoje, é que
de lá para cá, o crescimento
tem estado em 4% e olhe lá.
Mais recentemente, são muitos
a dizer que este número modesto está ficando mais modesto.
País que investe 18% do PIB todo ano não pode aspirar em crescer mais do que 3% ou 4% ao
ano. Se é 3% ou 4% não sabemos cientificamente. Mas o fato
é que 18% é muito pouco. A China investe 45%. A Coreia do
Sul, 34%. Investimos a metade
disto. Não temos feito muito para elevar este indicador, que depende quase exclusivamente do
setor privado. Quem elevará este valor para 28% é o setor privado, não o público. O governo
não consegue elevar em 10 pon-
tos percentuais os investimentos porque, para isso, teria de
elevar a carga tributária na mesma proporção. Não vimos nos
últimos anos o governo perguntar ao setor privado o que ele deseja para elevar os investimentos.
E o que ele responderia?
Quer reformas privatizantes, liberais, menos carga tributária,
menos complexidade, legislação trabalhista mais flexível.
“
De lá para cá, o PIB
tem crescido 4%
e olhe lá. País que
investe apenas 18%
do PIB todo ano
não pode aspirar em
crescer mais do que
3% ou 4% ao ano.
A China investe 45%.
A Coreia do Sul, 34%
Coisas que foram abandonadas
nos últimos tempos. No Índice
de facilidade de fazer negócios,
do Banco Mundial, o Brasil está
em uma posição péssima. Em
127º no ranking formado por
180 países. Com essas estatísticas, como o país quer chegar a
algum lugar, em matéria de investimentos privados? Isso é
fruto na inação do governo frente às demandas do setor privado. O governo não é o protagonista, é quem cria as condições.
A redução dos juros
poderia ser encarada como
uma destas reformas?
Sim. Mas está longe de ser a única coisa. Quando o plano real
terminou com a hiperinflação,
ouvi de gente do Partido dos Trabalhadores que o plano fracassou porque o PIB estava crescendo pouco. Como se o fim da inflação resolveria o país. Os juros também não resolverão. O
Brasil não se tornará uma China
por causa disso. O crescimento
tem de ser pensado como uma
orquestra. São vários músicos
tocando em harmonia. Vários
fatores funcionando ao mesmo
tempo. Não há mágica. Na ausência da melodia certa, é cada
um por si.
Desde a sua época à frente
do Banco Central, os juros
caíram para algo próximo
de um quarto do que era. Mas
entre os países que possuem
metas de inflação, ainda temos
a inflação mais alta e os juros
mais altos. Porque é tão
difícil haver equilíbrio
“
Os juros são altos
porque a dívida é
alta. Não há almoço
grátis aqui. Nosso
passado fiscal é tão
importante quanto o
presente. O acúmulo
de déficits no passado
produziu uma
dívida muito alta
De qualquer forma, os cortes
nos juros têm ajudado na
situação fiscal. O governo
economizou muito com a
diminuição da Selic. O senhor
vê melhora nas contas fiscais?
Ultimamente não está melhorando. A economia de juros ajuda. Mas, cada vez mais coisas
que não possuem relação com a
meta primária são colocadas como ajustes. Nossa contabilidade
ficou opaca. Na prática, a dificuldade de rolar a dívida se vê
no estágio de operações compromissadas que o Banco Central
faz. Isso já chegou na faixa de
meio trilhão de reais. É uma indicação poderosa da dificuldade que o governo tem em rolar
a dívida. Não tivemos os problemas que a Grécia teve porque o
Banco Central consegue absorver o dinheiro que foi amortizado, usando dinheiro de seu caixa. O resumo da ópera é que
não temos problemas porque os
juros são altos. Prevalece a noção de que o número da meta de
superávit primário, fixada lá
atrás, está escrito na pedra. Está
na hora de revisar este número.
Para menos ou para mais?
Para mais. O superávit precisa
ser maior para que os juros
caiam em um ritmo mais acelerado. É como o tripé, que foi es-
6 Brasil Econômico Segunda-feira, 17 de dezembro, 2012
IDEIAS EM DESTAQUE
ENTREVISTA GUSTAVO FRANCO Sócio da Rio Bravo Investimentos
Eric Vidal/Reuters
tabelecido lá atrás e ninguém
lembra bem como. O governo
precisa ser mais ambicioso. Se
houvesse uma meta mais ambiciosa, poderiam ter juros menores, que incendiariam o setor
privado, e retirariam o governo da posição de tomador de dinheiro.
O ministro Fernando Pimentel
disse, BRASIL ECONÔMICO, que o
Banco Central evoluiu. Como
vê a atuação atual do BC?
O Banco Central sempre evolui.
O BC cumpre perfeitamente sua
missão em manter a inflação
sob controle. Talvez um pouquinho maior que a meta, ou o paradigma internacional, mas não
me incomoda essencialmente.
O que me incomoda é que o país
cresce menos do que poderia.
Mas não é o BC quem promoverá o crescimento. Ele promove
a estabilidade monetária, a inflação baixa, um elemento essencial, mas não suficiente para o
crescimento. Outras coisas construirão esta orquestra. O BC tem
tocado muito bem. Talvez devêssemos perguntar ao ministro
Fernando Pimentel quem é que
não está tocando certo.
Mudou nosso tripé
macroeconômico?
Não mudou nada. Apenas as
condições externas estão melhores. Quando isso acontece, pode esticar um pouquinho alguma perna do tripé sem maiores
consequências. A desvalorização cambial, por exemplo, é espontânea. Isso acontece porque
a percepção externa azedou.
O que piorou?
Bastante coisa. O Brasil cresce
“
O Brasil viveu além
de seus próprios
meios por muitos
anos e depois teve
de arrumar a casa.
Demorou 10 anos.
Por que a Grécia
não pode fazer esse
esforço? Nesse
aspecto, meu
pensamento se
assemelha o da
chanceler Angela
Merkel. As contas
precisam estar
equilibradas
menos, o que é importante. Os
resultados das empresas no segundo trimestre foram ruins,
com isso a relação entre o preço
das ações e lucro aumentou brutalmente por causa de lucros
menores. Essa razão está em 20,
enquanto que nos Estados Unidos está em 14. A medida sobre
o setor elétrico e o massacre da
Eletrobrás também contribuiu
para azedar o clima. O governo
conseguiu desvalorizar o câmbio, mas do pior jeito possível.
O tripé não foi desafiado, flutuou alguma coisa.
Há imprudência da Presidente
Dilma com as reformas
forçadas, como a do setor
elétrico e a dos bancos?
Reformas à força nunca funcionam. As reformas no Brasil, a
começar pela estabilização,
nunca foram executadas à força. Reformas são complexas
porque envolvem benefícios
dispersos e custos concentrados. Há a oposição de uma minoria privilegiada e, muitas vezes, nem são percebidas, porque a quantidade de pessoas beneficiadas é muito grande. As
reformas precisam de legitimidade política ampla. Claro que
em algum momento é preciso
pressionar essa minoria, mas
que a pressão precisa ser a menor possível. Não foi essa a sensação quanto à medida do setor
elétrico. Sem entrar no mérito
da reforma, houve uma destruição de valor muito grande.
2013 pode ser um ano
de soluções para a crise
internacional?
Na Europa temos um ciclo de
ajustamento fiscal. Vários países estão passando por um ciclo
semelhante ao que o Brasil passou de 1980 a 1999. O esforço fiscal feito pelo Brasil foi muito
grande. Passamos de um déficit
primário de quase 4% do PIB para um superávit acima de 3%. A
Europa passa por um processo
semelhante. Foi doloroso, mas
conseguimos. É inevitável que
excessos sejam cortados. Se pas-
Fabio Rodrigues-Pozzebom/ABr
“
O BC promove
a estabilidade
monetária, o que
não é suficiente para
o crescimento.
Outras coisas
construirão esta
orquestra. O Banco
Central tem
tocado muito bem.
Talvez devêssemos
perguntar ao
ministro Fernando
Pimentel quem
é que não está
tocando certo
samos por isso, porque eles não
passariam? Nos Estados Unidos
já não vejo a crise como um problema. O abismo fiscal é um problema democrático.
Quando ouve a presidente
Dilma Rousseff dizendo
que a austeridade fiscal
não é a saída para a crise,
o que você pensa?
No plano político diplomático a
retórica é diferente da prática.
A presidente recentemente foi à
Argentina e foi gentil com os argentinos. Quase elogiou o que
estava acontecendo por lá. Essas coisas não são para ser tomadas ao pé da letra.
Os líderes europeus estão
tomando os caminhos corretos
para solucionar a crise?
É um jogo muito difícil. Os países da periferia da zona do euro
tentam reduzir os ajustes e os
credores tentam receber. É
uma queda de braço que terá
um pouco de perdão de dívida,
e bastante austeridade. Falando
a partir de um país que fez todos os ajustes necessários, inclusive negociando com países credores, que foram duros conosco
e que hoje são devedores, porque deveria pensar que eles podem ter almoço grátis?
É necessário alguém com um
saco de maldades por lá?
Os alemães estão com ele. O Brasil viveu além de seus próprios
meios por muitos anos e depois
teve de arrumar a casa. Demorou 10 anos para conseguirmos
colocar as coisas em ordem. Porque a Grécia não vai fazer esse
esforço? O que eles têm de espe-
Segunda-feira, 17 de dezembro, 2012 Brasil Econômico 7
cial que nós não temos? Nesse
aspecto, meu pensamento se assemelha a da chanceler alemã
Angela Merkel. As contas precisam estar equilibradas.
O presidente espanhol Mariano
Rajoy entende que uma das
saídas é a integração fiscal na
zona do euro. Concorda?
Isso é interessante, inclusive à
luz da experiência brasileira
com os problemas dos estados.
Um fator muito importante na
capacidade da União em lidar
com o calote dos estados, reestruturar todas as dívidas, e forçar o equilíbrio fiscal, é a integração fiscal por meio da partilha da arrecadação. Quanto
mais integrado, mais fácil montar os esquemas de endividamento na União Europeia. A
partilha de todo o imposto adicionado dos países com a União
Europeia, e depois a devolução
do dinheiro, pode parecer neu-
tro, mas seria suficiente para a
criação de um fundo de participação para emprestar dinheiro
para quem precisa.
Seria possível controlar as
repercussões políticas?
A integração entre países sempre será um processo de profundas implicações políticas. Não
creio que haja dúvida sobre a integração europeia. A dúvida se
dá sobre a partilha de problemas. São como problemas de incentivos que existem em uma federação, como a brasileira.
Quando um membro se comporta mal, prejudica toda a Federação. No Brasil e nos Estados Unidos o tempo se encarregou de
criar mecanismos para evitar
que alguns entes tivessem vantagens sobre os outros. São regras de convivência do clube para o uso da piscina. Tem de haver regras e certas coisas não podem ser feitas. ■
“
No plano político
diplomático a
retórica é diferente
da prática.
A presidente
recentemente foi à
Argentina e foi
gentil com a Cristina
Kirchner. Quase
elogiou o que estava
acontecendo por lá.
Essas coisas não
devem ser tomadas
ao pé da letra
Marcos Brindicci/Reuters
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