Educação Continuada em Odontologia

Propaganda
Educação Continuada
em Odontologia
Reabsorção Condilar
Idiopática
Caso Clínico
COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIA E
TRAUMATOLOGIA BUCO-MAXILO-FACIAL
CAPÍTULO VIII
1
Apoio
Caros Colegas
Com alegria iniciamos o ano de 2011, dando continuidade ao trabalho de
Educação Continuada do nosso Capítulo e Colégio Brasileiro, para nossa
satisfação conseguimos renovar o apoio do Laboratório Aché, desta forma
permitindo o desenvolvimento de nosso programa. Outra novidade importante
é que a partir deste ano passaremos a contar com o ISSN (número internacional
para publicações), que sem dúvida engrandece o material e valoriza os autores.
A importância da educação continuada na reciclagem do conhecimento tem se
tornado cada dia mais essencial no nosso desenvolvimento científico. Estamos
trabalhando no sentido de valorizar nossos currículos através de atualização
constante para nossas atividades.
Assim, haverá a possibilidade de participar de programas de treinamento e
desenvolvimento científico de forma ininterrupta.
Aproveitamos para agradecer aos colegas que continuam a colaborar na elaboração
do material, sem a participação de vocês não seria possível.
Um grande abraço, participem...
Prof. Dr. Ricardo Holanda
Presidente do Colégio Brasileiro
Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial
Prof. Dr. Tarley Pessoa de Barros
Coordenador do Capitulo VIII - São Paulo
Colégio Brasileiro de CTBMF
E xpediente : Educação Continuada em Odontologia é uma publicação do Colégio Brasileiro de Cirurgia e
Tr a u m a t o l o g i a B u c o - M a x i l o - F a c i a l - C a p í t u l o V I I I .
T ir ag em : 4.500 exemplares. Periodicidade : bimestral. A responsabilidade sobre os ar tigos assinados é exclusivamente de seus autores,
e as opiniões apresentadas não refletem necessariamente a opinião desta publicação.
E d i t o r C i e n t í f i c o : P r o f. D r. Tar l e y P e s s o a d e B ar r o s - C o o r d e n a ç ã o E d i t o r i a l :
Atha Comunicação e Editora, 1atha @ uol.com.br
Educação Continuada em Odontologia
Reabsorção Condilar Idiopática
Dr. Belini Freire-Maia
Reabsorção condilar idiopática (RCI), também conhecida como condilose
idiopática, atrofia condilar ou reabsorção condilar progressiva (RCP) é uma
desordem adquirida, de etiologia controversa, caracterizada pela diminuição
progressiva do volume do côndilo mandibular e na alteração de sua morfologia.
A RCP parece ser um termo generalizado onde podem ser incluídas diversas
entidades que cursam com a perda da altura condilar tais como: artrite reumatóide juvenil, lúpus eritematoso, trauma e uso de esteróides. A RCI é uma
doença bem documentada embora pouco se saiba sobre sua verdadeira essência.
É freqüentemente encontrada bilateralmente e parece apresentar predileção pelo
sexo feminino, principalmente entre os 15 e 35 anos de idade. A reabsorção
pode evoluir de forma agressiva levando a perda de todo o côndilo, deixando
apenas um remanescente ósseo na parte inferior da incisura sigmóide. O ramo
mandibular, abaixo da incisura sigmóide, não é, comumente, afetado.
O processo de reabsorção pode permanecer inativo por anos mas a qualquer
momento pode se tornar um processo reativo. Após os 40 anos de idade raramente
os pacientes sofrerão novos processos de reabsorção.
RCI pode evoluir para instabilidade oclusal e esquelética, deformidade dentofacial, disfunção têmporo-mandibular (DTM), e dor. Alguns trabalhos tem relacionado RCI a tratamentos ortodônticos e cirurgia ortognática.
Diversos tratamentos já foram propostos para RCI incluindo as seguintes
opções: (1) Uso de placas acrílicas inter-oclusais para minimizar carga funcional,
(2) Restrição de carga funcional por um período de 6 a 12 meses após tratamento ortodôntico ou cirurgia ortognática, (3) adiamento de qualquer tratamento
clinico até que ocorra remissão da RCI, (4) debridamento através de astroscopia,
(5) restauração da anatomia condilar através de enxerto costo-condral nos casos
refratários, (6) cirurgia ortognática associada a artroplastia com ancoragem do
disco. Embora controverso, o tratamento que parece apresentar os melhores
resultados foca o restabelecimento de uma melhor relação oclusal e uma cirurgia
articular associada. Este trabalho irá abordar os aspectos etiológicos e as diversas
opções de tratamento para a RCI.
(fonte: Arquivo pessoal)
Figura 1. Mordida aberta decorrente de RCI do lado direito
(fonte: Arquivo pessoal)
Figura 2. TC em cortes coronal e axial demonstra RCI lado direito
em tecidos humanos da ATM relacionados a disfunções têmporo-mandibulares
e em osteoartrites encontradas nas articulações dos joelhos. O estrógeno é, sabidamente, um hormônio mediador do metabolismo ósseo e cartilaginoso nas
ATMs de pacientes do gênero feminino. Um aumento destes hormônios podem
ocorrer diante de uma sobrecarga localizada nestas estruturas, principalmente
após traumas, tratamento ortodôntico ou cirurgia ortognática.
Posnick e Fantuzzo também sustentam a teoria de que a etiologia da RCI
esteja relacionada a fatores hormonais. Diversos hormônios sexuais parecem
estar relacionados a alterações bioquímicas da ATM, causando hiperplasia do
tecido sinovial e conseqüente reabsorção condilar.
Arnett e Tamorello, baseados nesta teoria, preconizam a remoção cirúrgica da
membrana sinovial articular, teoricamente afetada, para prevenir a progressão
da RCI.
Em contrapartida alguns autores desaconselham este procedimento cirúrgico
para tratamento da RCI. Para estes autores, muitas vezes não se consegue estabelecer uma relação obvia entre o côndilo reabsorvido e uma superfície articular
supostamente intacta, livre de processos inflamatórios.
Diversos autores suportam a tese de que o aparecimento da RCI possa decorrer do deslocamento anterior crônico do disco articular, sem redução, ou em
casos de más-oclusões. Outra explicação para o aparecimento da RCI, segundo
estes autores, poderia estar relacionada a ideia de necrose avascular do côndilo
decorrente de forças compressivas envolvendo os ligamentos retrodiscais.
Predisposições para a RCI
Segundo Wolford e Cardenas pacientes com as seguintes características parecem apresentar maiores predisposições para RCI: (1) gênero feminino (aproximadamente numa proporção 9:1 em relação ao gênero masculino); (2) idade
média variando entre 10 a 40 anos, com forte predominância em adolescentes;
(3) planos mandibulares e oclusais elevados; e (4) predominância pela classe II,
com ou sem a presença de mordida aberta anterior. A RCI raramente acomete
pacientes portadores de deformidades dento-faciais do tipo classe III, assim como
pacientes que apresentam planos oclusais e/ou mandibulares baixos.
De acordo com Posnick e Fantuzzo a RCI apresenta-se comumente de forma
bilateral e simétrica. Segundo os autores, o processo muitas vezes assume um
caráter agressivo, onde todo o côndilo pode ser reabsorvido, permanecendo somente um coto residual ao nível da incisura sigmóide. Alguns episódios de RCI
podem ocorrer durante ou após procedimentos restauradores dentais, tratamento ortodôntico, ou intervenções cirúrgicas. Durante a fase ativa da reabsorção,
algum desconforto na ATM e hiperatividade muscular são esperados. Ruídos
articulares são freqüentes embora um disco articular hígido possa ser encontrado
na ressonância nuclear magnética (RNM).
As alterações relacionadas às estruturas maxilo-faciais incluem: má-oclusão
do tipo Classe II de Angle e mordida aberta anterior (Figura1); diminuição da
altura e mudança no formato do côndilo (aplainamento) (Figura 2); perda da
dimensão vertical posterior.
Ortodontia e reabsorção condilar
Etiopatogenia para a RCI
O tratamento ortodôntico por si só pode causar RCI. Kato et al trataram uma
paciente de 12 anos de idade que apresentava os caninos superiores impactados
e uma leve doença degenerativa da ATM. Dois anos após a conclusão do tratamento ortodôntico, aos 17 anos de idade, a paciente apresentava intensificação
dos sintomas articulares. Aos 21 anos de idade a paciente apresentava uma
A causa específica para o desenvolvimento da RCI não está claramente definida. Uma forte predileção para adolescentes do gênero feminino parece remeter
o processo a fatores hormonais. Esta hipótese parece ser reforçada pela identificação de receptores de estrógeno em espécies primatas do gênero feminino,
3
Educação Continuada em Odontologia
Tratamento
mordida aberta anterior e uma face alongada. A análise cefalométrica revelou
encurtamento dos ramos mandibulares e reabsorção grave dos côndilos mandibulares. Se a reabsorção condilar foi estimulada pelo tratamento ortodôntico,
entretanto, não se pode afirmar.
Peltola et al encontraram 9% de achatamento condilar após tratamento ortodôntico em uma série de 625 pacientes.
O tratamento da RCI é controversa. Intervenção através de cirurgia ortognática
tem sido realizada com a intenção de estabilizar a RCI. A taxa de recidiva, entretanto, apresenta-se elevada nos casos onde o processo de reabsorção apresenta-se
ativo no momento da cirurgia. A solicitação de exames de cintilografia óssea das
ATMs pode ser útil para auxiliar o diagnóstico nesta fase.
Segundo Hoppenreijs et al a cirurgia ortognática pode, inclusive, ser responsável
por reativar uma RCI que se encontrava inativa.
Arnett e Tamborello trataram seis pacientes que apresentavam RCI através de
cirurgia ortognática. Cinco pacientes, entretanto, apresentaram novo processo de
reabsorção após o procedimento cirúrgico.
Crawford et al relataram o desenvolvimento de RCI após osteotomia sagital dos
ramos mandibulares, para avanço, em cinco de uma série de sete pacientes
Uma vez realizado o diagnóstico de RCI, uma terapia através do uso de placas
acrílicas inter-oclusais, para desprogramação condilar, poderá ser útil na prevenção
da progressão da reabsorção condilar ou, pelo menos, trazer alívio para o desconforto e hiperatividade muscular. Na impossibilidade de um diagnóstico preciso,
diante de um quadro agudo, o melhor seria o adiamento de qualquer tratamento
definitivo (tratamento ortodôntico, cirurgia ortognática, ou odontologia restauradora) até que o quadro de reabsorção condilar se apresentasse estabilizado.
Nos casos onde ocorra a suspeita de necrose avascular do côndilo, decorrente de
forças compressivas envolvendo os ligamentos retrodiscais, Schellhas et al recomendam uma revascularização cirúrgica do côndilo.
Wolford e Cardenas sugerem uma modalidade cirúrgica alternativa baseada na
hipótese de que mediadores que promovem a RCI estejam presentes na região
da zona bilaminar hipertrófica do disco articular. Eles propõem a remoção deste
tecido sinovial hiperplásico, reposicionando e estabilizando o disco articular através
de suturas ligadas a uma mini-âncora previamente fixada à superfície posterior
do côndilo mandibular (Figura 5). Este procedimento seria seguido da realização
da cirurgia ortognática que visaria a correção da deformidade dento-facial associada. Os autores reportam bons resultados com esta modalidade cirúrgica. Doze
pacientes com diagnóstico de RCI foram tratados desta forma, onde avanços
mandibulares foram realizados em conjunto com a cirurgia articular. Os resultados
apresentados foram considerados satisfatórios sendo observadas, inclusive, remodelações condilares. Segundo os autores, o tratamento da RCI através de cirurgia
ortognática isolada seria um forte indutor para novos episódios de reabsorção e
resultariam no risco de recorrência da deformidade estética e funcional, além da
piora dos sintomas de dor e disfunção da ATM.
Imaginologia
Papadaki et al relataram aumento significativo do marcador technetium no exame de cintilografia óssea em pacientes portadores de RCI, numa proporção duas
vezes maior do que encontrada em pacientes normais. Em exames de imagens de
rotina frequentemente são observados côndilos com tamanho reduzido, aplainados
ou em forma de “espiga” (Figura 2). Observa-se perda do contorno cortical do
côndilo mandibular, na fase ativa da RCI, que tende a retornar ao normal apos
um ano da interrupção do processo agudo.
Segundo Wolford e Cardenas os achados encontrados no exame de ressonância nuclear magnética (RNM) normalmente incluem um côndilo mandibular
diminuído, um deslocamento anterior do disco e frequentemente a presença de
um tecido amorfo espesso (hiperplasia sinovial) ocupando o espaço entre a fossa
e o côndilo (Figura 3).
Cevidanes et al demonstram, através de estudo em tomografias computadorizadas tridimensionais, os diversos formatos que os côndilos mandibulares podem
assumir mediante processos de reabsorção (Figura 4). Este estudo foi o primeiro
que, com precisão, correlacionou a intensidade e duração da dor articular com a
extensão e a localização da reabsorção condilar.
sh
c
d
(fonte: Wolford e Cardenas, AJO, 1999)
Figura 3.RNM revela, numa vista sagital, um disco articular deslocado anteriormente (d), uma hiperplasia sinovial (sh) acima de um côndilo diminuído em seu volume (c).
Remodelação
degenerativa
Normal
leve
moderado
grave
Achatamento
(fonte: Wolford e Cardenas; AJO, 1999)
Figura 5. Mini-ancora posicionada na parte posterior do côndilo.
Conclusões
Erosões
RCI é uma desordem adquirida, de etiologia controversa, que acomete principalmente pacientes do gênero feminino, entre 15 e 40 anos de idade. Clinicamente evolui com a reabsorção dos côndilos mandibulares concorrendo para
o aparecimento de mordida aberta anterior e uma má-oclusão do tipo classe
II de Angle. O tratamento, embora controverso, parece apresentar os melhores
resultados quando foca a recuperação da melhor relação oclusal (seja através de
tratamento ortodôntico ou de cirurgia ortognática). Quando a cirurgia ortognática
for a modalidade terapêutica escolhida, parece estar bem indicada a sua associação
com o reposicionamento do disco articular, através da utilização da mini-âncoras,
visando minimizar a recorrência da RCI.
Osteófitos
(fonte: Cevidanes et al, 2010).
Figura 4. Reconstrução 3D revela diversos aspectos morfológicos associados a reabsorções condilares
4
Educação Continuada em Odontologia
Caso Clínico
Dr. Caio Cesar de Souza Loureiro
Dr. Luiz Fernando Lobo Leandro
Levando em consideração as características clinicas, a história médica e as
imagens dos exames complementares, fechou-se o diagnóstico de reabsorção
condilar idiopática.
Como opção terapêutica para este caso, optou-se pela cirurgia ortognata e
paciente foi, então, encaminhada para tratamento ortodôntico para realização de
alinhamento e nivelamento dentário. O planejamento do procedimento cirúrgico consistiu de intrusão de maxila, com giro anti-horário e avanço mandibular.
Deste modo foi possível corrigir, não apenas a oclusão, como melhorar a angulação gonial e do plano oclusal, tornando o perfil facial mais harmônico.
Durante o período pós-operatório, a paciente permaneceu com contenção
semi-rígida através da instalação de elásticos de classe II por 30 dias, período
pela qual foi submetida a tratamento fisioterápico e fonoaudiológico.
Após um período de 1 ano de acompanhamento pós operatório não houveram sinais de recidiva. A paciente apresenta relação oclusal estável, sem queixas
álgicas e nem indícios de novo processo de reabsorção condilar.
Paciente de 29 anos, leucoderma, gênero feminino, procurou o serviço de
Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial do Hospital Santa Paula (São
Paulo - SP) com queixa de alteração oclusal e dificuldade mastigatória.
Ao exame clínico, pode-se observar que a paciente apresentava perfil facial
Classe II associado a mordida aberta severa, com contato oclusal apenas em
região de segundos molares, e ausência de velamento labial (Figuras 1, 2 e 3).
Discussão
Figura 1. Foto da paciente em norma frontal.
Tomando como base os princípios de homeostase, as estruturas da articulação
temporomandibular - ATM - (matriz celular e extracelular) estão em um estado
constante de remodelação, uma resposta biológica essencial para as demandas
funcionais normais, visando manter as relações funcional e mecânica entre as
superfícies articulares, além das relações oclusais.
Entretanto, alguns fatores podem provocar efeitos adversos na função mecânica da articulação e oclusão, levando à alteração morfológica da articulação
temporomandibular (menor volume da cabeça do côndilo), altura do ramo
diminuída, retrusão mandibular progressiva (adulto), ou taxa reduzida de crescimento (juvenil). Este fatores podem ser divididos em dois grupos:
Fator Hospedeiro: Fatores relacionados com as características intrínsecas do
paciente, seja do ponto de vista fisiológico, seja do ponto de vista patológico.
Dentro deste grupo, deve-se chamar atenção para:
• Idade: Inumeros estudos demonstram que os casos de RCI ocorrem, na
sua grande maioria, em pacientes jovens, sendo dificilmente relatados em pacientes com idade superior a 20 anos. De acordo com Wolford, este processo se
desenvolve em jovens com idade inferior a 18 anos, apresentando uma relação
de gênero (feminino/masculino) da ordem de 9:1. Ainda que rara, a RCI pode
ser diagnosticada em pacientes com idade superior a 20 anos (geralmente entre
Figura 2. Foto da paciente em norma lateral.
Questionada sobre seu histórico médico, a paciente negou qualquer episódio
de trauma facial prévio ou ser portadora de quaisquer patologias articulares ou
auto-imunes. No que diz respeito ao seu quadro odontológico, relatou estar em
tratamento de ortopedia facial há 4 anos visando a correção oclusal, não tendo,
entretanto, obtido melhoras significativas.
Nestas condições, a paciente foi encaminhada para a realização de nova documentação ortodôntica para reavaliação e posterior planejamento de tratamento.
Na análise da telerradiografia de perfil, foi observada inclinação acentuada do
plano oclusal, ângulo gonial elevado e diminuição de dimensão vertical posterior (Figura 4). A radiografia panorâmica apresentou imagem de alteração
da morfologia dos côndilos em ambas as articulações temporomandibulares
sugerindo um processo de reabsorção condilar (Figura 5) que foi confirmada através da realização de tomografia computadorizada com reconstrução
tridimensional(Figura 6).
Figura 3. Fotos intra-orais direita (A), frontal (B) e esquerda (C). Observar contatos dentários apenas em região de segundos molares
5
Educação Continuada em Odontologia
estruturas articulares. Mais do que isto, pacientes portadores de disfunção da
ATM com deslocamento discal apresentam, em aproximadamente 75% dos
casos, colônias bacterianas, principalmente de várias espécies de chlamydia e
mycoplasma que podem contribuir para os processos álgicos e degenerativos
das ATMs.
Hormônios: Diversos estudos já demonstraram que a incidência de RCI é
significativamente maior em pacientes do sexo feminino e em idade puberal.
Tendo em vista as inúmeras alterações fisiológicas que ocorrem neste período em
função da ação de hormônios, estes passaram a ser alvo de estudos sobre sua atividade sobre as estruturas articulares. Ainda que diversos hormônios façam parte
desta fase de desenvolvimento, o estrógeno tem recebido maior atenção. Isto
porque se sabe que o estrógeno é responsável por mediar o metabolismo ósseo e
cartilaginoso em mulheres. Entretanto, seu papel exato nesta patogênese ainda
não está claro. Acredita-se que os hormônios são capazes de mediar alterações
bioquímicas nas ATMs, causando hiperplasia dos tecidos sinoviais, estimulando
a produção de substratos capazes de iniciar o processo de degeneração das estruturas ligamentares que normalmente dão suporte e estabilizam o disco articular
em posição, levando a um deslocamento anterior do mesmo. Outra hipótese
recai sobre o fato de o estrógeno aumentar a produção de citocinas específicas
que tem sido implicadas em doenças inflamatórias da articulação, podendo estimular a síntese de enzimas de degradação da matriz nas populações de células
locais e que provavelmente estão envolvidas com a remodelação condilar.
Fatores mecânicos: podemos entender como fator mecânico aquele cuja
ação altera os vetores de força que incidem sobre a ATM ocasionando uma
distribuição inadequada das cargas sobre as estruturas articulares excedendo sua
capacidade adaptativa normal. Dentre estes fatores, os principais são:
• Terapia oclusal: A terapia oclusal pode produzir a compressão da articulação
através da alteração da posição condilar durante ou após o tratamento.Quanto
maior a magnitude e duração da tensão mecânica, mais provável e maiores as
alterações da estrutura da ATM.
• Parafunção: A parafunção pode produzir compressão que é capaz de iniciar
a reabsorção condilar ou aumentar a reabsorção causada por outros fatores que
iniciam este processo. Acredita-se que isto ocorra graças à tensão biomecânica
direta que pode romper a integridade do tecido articular e inibir funções de
síntese importantes de populações de células afetadas. Outra hipótese é de que
o dano no tecido resultante de carga excessiva da ATM seja secundário a uma
lesão de reperfusão isquêmica. As pressões intracapsulares que ocorrem , por
exemplo nos casos de apertamento dentário, excedem a pressão de perfusão
capilar estimada e podem portanto prejudicar o fluxo sangüíneo para os tecidos
intracapsulares levando à isquemia. Quando o fluxo sangüíneo é restabelecido
na articulação, a tensão do oxigênio rapidamente sobe em tecidos afetados e
as células com vias metabólicas alteradas geram radicais livres associados ao
processo de reabsorção.
• Macrotrauma: O macrotrauma consiste de um acontecimento (compressão
ou estiramento) de uma força com grande magnitude que é transmitida para
as estruturas articulares da ATM. A força é geralmente de magnitude suficiente
bem prejudicial aos tecidos articulares afetados. Reabsorções desta natureza estão
associadas com a remoção dos terceiros molares,8 trauma na mandíbula sem
fratura, cirurgia ortognática, cirurgia articular, trauma na cabeça e pescoço e
tratamento com splint protrusivo. O mecanismo de reabsorção condilar secundária subseqüente ao macrotrauma, não é compreendido ainda, podendo ser o
resultado de dano físico ou funções celulares prejudicadas.
O tratamento para a reabsorção condilar idiopática vai depender, basicamente,
da causa e da severidade do processo. Em pacientes jovens cuja patologia esteja
associada a fatores hormonais, assim como em alguns casos patológicos cuja
reabsorção não seja severa, a discopexia (reposicionamento e ancoragem do
disco articular) associada à remoção do tecido bilaminar hiperplásico (quando
presente) tem sido o tratamento de escolha. Grandes reabsorções, que tenham
levado a uma diminuição da altura vertical posterior excessiva requerem um
tratamento mais agressivo. Nestes casos a cirurgia ortognata ou até mesmo
a reconstrução protética da articulação temporomandibular promoverão um
melhor resultado pós-operatório final.
Figura 4. Telerradiografia em perfil, demonstrando acentuada inclinação do plano oclusal, ângulo
gonial excessivamente aberto e perda de altura vertical posterior.
Figura 5. Radiografia Panorâmica (A) apresentando alteração da morfologia dos côndilosem ambos
os lados. No detalhe, reabsorção do côndilo direito (B) e esquerdo (C).
Figura 6. Tomografia Computadorizada em janela tridimensional da mandíbula. É possível avaliar
com detalhes a reabsorção condilar bilateral.
a quinta e sexta décadas de vida) quando se associa o quadro a patologias
locais ou sistêmicas de caráter degenerativo e que estão relacionadas a capacidade adaptativa reduzida do hospedeiro e densidade celular diminuída das
cartilagens articulares.
• Patologias: As doenças, dentre as quais podemos citar as desordens autoimunes, desordens endócrinas, nutricionais (por exemplo, anorexia nervosa),
doenças metabólicas, infecciosas, cardiovasculares, discrasias sanguíneas e tensão psicológica excessiva podem influenciar o metabolismo da fibrocartilagem
e, consequentemente poderiam afetar a capacidade adaptativa da articulação
temporomandibular. A RCI vem sendo, particularmente, associada as doenças
autoimunes já que a resposta autoimune pode ser direcionada contra moléculas
específicas encontradas nas matrizes extracelulares de tecidos articulares, gerando moléculas de radicais livres de tecidos lesados, bem como a síntese e ativação
de enzimas de degradação da matriz. Além disto, um suprimento sanguíneo
reduzido no côndilo mandibular associado com o processo autoimune pode
explicar a reabsorção condilar. Do ponto de vista local, as alterações internas
da ATM, representadas principalmente pelo deslocamento anterior do disco, é
a disfunção que apresenta maior relação com a reabsorção condilar progressiva,
devido à constante pressão na superfície articular, quando do movimento de
rotação do côndilo, favorecendo a diminuição da capacidade de adaptação da
6
Educação Continuada em Odontologia
Referências
1.
a case report. Int Adult Orthodon Orthognath Surg 1999;14(3):243-50.
Arnett, G. W.; Milan S. B.; Gottesman, L. Progressive mandibular retrusion: idiopathic condylar
resorption. Part I . Am J Orthod Dentofacial Orthop, v.110, p. 8-15, 1996.
16.
Larheim TA, Westesson PL, Hicks D, et al: Osteonecrosis of the temporomandibular joint: Correlation
of magnetic resonance imaging and histology. J Oral Maxillofac Surg 1999;57:888.
17.
Liporaci Junior, J.L.J.; Stoppa, P.; Ribeiro, H.T.; Borin Neto, A.J., Sverzut, C.E. Reabsorção condilar
progressiva da articulação temporomandibular após cirurgia ortognática R Dental Press Ortodon Ortop
Facial Maringá, v. 12, p. 38-48, mar./abr. 2007.
2.
Arnett, G. W.; Milan S. B.; Gottesman, L. Progressive mandibular retrusion: idiopathic condylar
resorption. Part II. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 110, p. 117-127, 1996
3.
Arnett, G. W.; Tamborello, J. A. Progressive class II development female idiopathic condylar resorption.
In : WEST R. A. (Ed.). Oral maxillofacial clinics of North America. Philadelphia : WB Saunders.
p. 699-716, 1990.
4.
Cevidanes LHS, Hajati, AK, Paniagua B, Lim PF et al. Quantification of condylar resorption in temporomandibular joint osteoarthritis. Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2010;110:110-117.
18.
Papadaki Me, Tayebaty F, Kaban LB, Troulis MJ. Condylar Resorption. Oral Maxillofacial Surg Clin
N Am 2007(19)223–234.
5.
rawford, J. G. et al. A. Stability after reoperation for progressive condylar resorption after orthognathic
C
surgery: report of seven cases. J Oral Maxillofac Surg, Philadelphia, v. 52, p. 460-466, 1994.
19.
Peltola JS, Nystrom M, Kononen M, et al. Radiographic structural findings in the mandibular condyles
of young individuals receiving orthodontic treatment. Acta Odontol Scand 1995;53(2):85–91
6.
Cutolo, M. A. et al. Macrophages, synovial tissue and rheumatoidarthritis [Review]. Clin. Esper.
Rheum., v. 11, p. 331-9,1993.
20.
7.
De M.; Stanford, T. R.; Wood, G. W. Interlukin-1, interleukin-6, and tumor necrosis factor alpha are
produced in the mouse uterus during the estrous cycle and are induced by estrogen and progesterone.
Dev. Biol., v. 151, p. 297-305, 1992.
Posnick JC, Fantuzzo JJ. Idiopathic Condylar Resorption: Current Clinical Perspectives. J Oral Maxillofac Surg 2007; 65:1617-1623.
21.
Rabey, G. P. Bilateral mandibular condylysis : a morphanalytic diagnosis. Br. J. Oral Surg., v. 78, p.
121-34, 1997.
8.
Henry CH, Hudson AP, Gerard HC, Franco PF, Wolford LM. Identification of Chlamydia trachomatis
in the human temporomandibular joint. J Oral Maxillofac Surg v.57, p.683–688, 1999.
22.
Schellhas KP, Piper MA, Omlie MR: Facial skeletal remodeling due to temporomandibular joint
degeneration: An imaging study of 100 patients. Am J Neurolradiol 1990;11:373-83.
9.
Henry CH, Hughes CV, Gerard HC, Hudson AP, Wolford LM. Reactive arthritis: preliminary microbiologic analysis of the human temporomandibular joint. J Oral Maxillofac Surg, v.58, p1137–1142, 2000.
23.
10.
Herotin, Y. et al. Active oxygen species, articular inflamation and cartilage damage. EXS., v. 62, p.
308-22, 1992.
Schellhas KP, Wilkes CH, Fritts HM, et al: MR of osteochondritis dissecans and avascular necrosis of
the mandibular condyle. Am J Neuroradiol 1989;10:3.
24.
11.
Hoppenreijs TJ, Freihofer HP, Stoelinga PJ, et al. Condylar remodeling and resorption after Le Fort I
and bimaxillary osteotomies in patients with anterior open bite: a clinical and radiological study. Int
J Oral Maxillofac Surg 1998;27(2):81-91.
Van sickels, J. E.; Richardson, D. A. Stability of ortognathic surgery: a review of rigid fixation. Br J
Oral Maxillofac Surg, Edinburgh, v. 34, p. 279-285, 1996.
25.
Wolford, L. M.; Cardenas, L. Idiopathic condylar resorption: diagnostic, treatment protocol and outcomes. Am J Orthod Dentofacial Orthop, v. 116, p. 667-677, 1999.
12.
Hoppenreijs, T. J. M. et al. Long term evaluation of patients with progressive condylar resorption
following orthognathic surgery. Int J Oral Maxillofac Surg, Copenhagen, v. 28, p. 411-418, 1999.
26.
13.
Huang CS, Ross BR. Surgical advancement of the retrognathic mandible in growing children. Am J
Orthod 1982;82:89-103.
Wolford, L.M. Guest Editorial: TMJ Surgery Revisited. Cranio The Journal of Craniomandibular
Practice Volume 23 Issue 4 October 2005.
27.
14.
Jacobs JS: Discussion of Osteonecrosis of the temporomandibular joint: Correlation of magnetic resonance imaging and histology, by Larheim TA et al. J Oral Maxillofac Surg 1999;57:899.
Wolford, L.M. Idiopathic condylar resorption of the temporomandibular joint in teenage girls (cheerleaders syndrome). Bumc Proceedings, v.14, p.246–252, 2001
28.
15.
Kato Y, Hiyama S, Kuroda T, et al. Condylar resorption 2 years following active orthodontic treatment:
Worms FW, Speidel Tm, Bevis RR, et al. Post treatment stability of esthetics of orthognathic surgery.
Angle Orthod 1980;50:251-73.
Questões:
São características da RCI, exceto:
a) É freqüentemente bilateral.
b) É mais comum no gênero masculino.
c) Ocorre freqüentemente em adolescentes.
d) Pode reabsorver todo o côndilo ate se tornar somente um coto ósseo residual.
e) Pode gerar mordida aberta anterior.
São exames úteis para diagnostico da RCI, exceto?
a) Ressonância Nuclear Magnética.
b) Tomografias computadorizadas.
c) Cintilografia óssea.
d) Dosagem de fosfatasse alcalina.
e) Radiografias panorâmicas e cefalometricas.
4. Quai tratamento parece apresentar os melhores resultados para RCI?
a) Cirurgia ortognática isolada.
b) Cirurgia ortognática associada a ancoragem do disco.
c) Uso de placas acrílicas inter-oclusais.
d) Enxerto costo-condral.
e) Tratamento ortodontico.
5. Qual é a estrutura óssea do côndilo que freqüentemente desaparece ao observar uma TC durante a fase aguda da RCI?
a) Contorno cortical.
b) Medular.
c) Polo medial.
d) Polo lateral.
e) Colo.
7
Respostas Artigo: 1b, 2d, 3a, 4b, 5a.
3. Qual é o hormônio freqüentemente relacionado a RCI?
a) Estrogeno.
b)Testosterona.
c) Prolactina.
d) Progesterona.
e) DGH (hormônio do crescimento).
Anúncio / Bula
Download