CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DA TEMPERATURA DO SOLO SOB DIFERENTES TIPOS DE COBERTURA NO NOROESTE DO PARANÁ Pedro de Faria Sampaio1, Heverly Morais2, Paulo H. Caramori2 e Wilian da Silva Ricce3 1. Bolsista ITI CNPq, IAPAR, Londrina, PR. Email: [email protected] 2. Pesquisador do IAPAR, Dr., Agrometeorologia. Email: [email protected], [email protected] 3. Agroconsult Ltda., atualmente no IAPAR. Email: [email protected] ABSTRACT: The aim of this study was to analyze a climatic series of soil temperature under grass and mulching, compared to bare soil in the municipality of Paranavaí, northwest of Paraná state, Brazil. Data were collected at the weather station of IAPAR in the period 1986 to 2009 at 15 h local time, with mercury thermometers at 2 cm depth. It was observed that bare soil was more vulnerable to extremes of temperature, a condition that causes damage to the soil and environment, while under covers the soil temperatures were more stable. This shows the negative impact of land use change with the removal of native vegetation and establishment of crops and livestock that started in the decade of 1930 in the north of Paraná. It is evident the importance of using practices of soil cover, such as tillage, silvopastoral and agroforestry systems to preserve the environment, mitigating the effects of climate change and global warming and ensuring sustainability of the systems. KEY WORDS: Climatic changes, soil coverage, extreme temperatures, climatological analysis. 1. INTRODUÇÃO As mudanças climáticas globais podem representar um problema grave e complexo e por isso cada vez mais são objetos de estudos e discussões. O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2007) mostrou que houve um aumento da temperatura média global de 0,74ºC nos últimos 100 anos e que a tendência de aquecimento vem se acelerando nos últimos 50 anos. As melhores estimativas dos modelos de simulação projetam cenários para o Século XXI em que a temperatura média do planeta será, no mínimo, 1,8ºC e no máximo cerca de 4ºC superior aos valores atuais. Também são previstas a redução das chuvas em áreas subtropicais em até 20% e o agravamento das secas, podendo advir grandes problemas sociais e econômicos. Dentre as causas apontadas como responsáveis pelo aquecimento global destacam-se a emissão de gases (CO2, metano, óxido nitroso) decorrentes de fatores antrópicos e a mudança no uso do solo (IPCC, 2007). As mudanças no uso da terra, sobretudo quando florestas nativas são transformadas em áreas agrícolas ou de pastagens, alteram o balanço de energia e causam mudança no conteúdo de carbono nos solos. Essa alteração depende do clima, tipo de uso e das práticas de manejo utilizadas (BRASIL, 2004). Com a retirada da vegetação, além do impacto inicial da queima do estoque de carbono e a liberação de CO2 para a atmosfera (FARIA, 1997; CERRI, 2002), ocorre significativa alteração nos balanços energético e hídrico do ambiente. A brusca mudança na retirada da cobertura vegetal altera o balanço energético, uma vez que o componente evaporativo será maior, bem como as frações de energia líquida destinadas ao aquecimento do ar e do solo. Sobre solo exposto, em condições de baixa umidade superficial, a temperatura da superfície pode atingir valores superiores a 50°C enquanto que sob cobertura vegetal permanece em torno de 30°C (COSTA et al., 2007; RICCE et al., 2007). A fração da radiação líquida transformada em calor sensível, que vai aquecer o ar, pode atingir de 30 a 50% enquanto que em ambiente florestado raramente ultrapassa 10% (BLANKEN et al., 1997). Da mesma forma ocorrem drásticas alterações no balanço hídrico em ambiente descoberto havendo menor infiltração da água e maior porcentagem de escorrimento superficial, provocando a erosão do solo, poluição de mananciais e degradação do ambiente de produção. O plantio direto é uma tentativa de reduzir esses impactos por meio da cobertura da superfície do solo com resíduos das próprias culturas ou de espécies produtoras de biomassa (SCHAFFRATH et al., 2008; ASSIS & LANÇAS, 2005). Diante da drástica mudança na paisagem ocorrida no Norte do Paraná entre 1930 e 1980, existe uma grande preocupação acerca do futuro da agricultura na região sob cenários de mudanças climáticas. Portanto, a caracterização dos ambientes de produção poderá contribuir para quantificar as alterações ocorridas e propor soluções para mitigar os problemas de degradação ambiental e aquecimento global. O objetivo desse trabalho foi caracterizar climaticamente as temperaturas do solo sob diferentes coberturas na região Noroeste do Paraná. 2. MATERIAL E MÉTODOS Os dados de temperatura do solo foram obtidos na estação meteorológica convencional do IAPAR em Paranavaí, Noroeste do Paraná (23º 5'S, 52º 26'W; altitude 480 m). O solo é um Argissolo Vermelho distrófico latossólico, com 80 g kg-1 de argila, 10 g kg-1 de silte e 910 g kg-1 de areia na camada de 0 - 25 cm. Os dados de temperatura do solo medidos com geotermômetro na profundidade de 2 cm foram coletados às 18 TMG (15h), horário determinado pela OMM (Organização Meteorológica Mundial), por ser o horário de maior temperatura. Utilizou-se a série climática de dados coletados no período de 01/01/1986 a 30/10/2009 em solo sem cobertura (solo exposto), coberto com grama e com cobertura morta. Foi calculada a freqüência de ocorrência de temperaturas do solo acima de 25, 30, 35, 40, 45 e 50ºC em cada tipo de cobertura. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observa-se na Figura 1 as temperaturas do solo (trimestrais) na camada superficial e no horário mais quente do dia (15 h). Não foi possível observar tendências de alterações nas temperaturas do solo nos três sistemas, no decorrer do periodo avaliado (1986-2009). O curto periodo de registros climáticos foi um fator limitante para esta análise. O solo exposto apresentou as maiores temperaturas em todos os anos e trimestres avaliados. Em todos os trimestres, a amplitude témica da temperatura do solo exposto foi maior que as demais coberturas, chegando aproximandamente a 11ºC. Isso mostra que o solo exposto é mais vulnerável às temperaturas extremas, pois o solo exposto absorve maior parcela da radiação incidente do que os sistemas com cobertura, resultando em maior aquecimento diurno. Entre as coberturas avaliadas, o gramado apresentou temperatura ligeiramente superior à cobertura morta. Ambas as coberturas apresentaram uma menor oscilação durante o ano e no decorrer do periodo avaliado, devido ao bloqueio da radiação solar durante o dia. No solo gramado a maior amplitude foi de 6ºC, aproximadamente, ocorrida no segundo trimestre. Sob cobertura morta a temperatura do solo oscilou 5ºC durante todo o periodo avaliado. Jan/Fev/Mar Abr/Mai/Jun 45 45 40 40 Temperatura (ºC) Temperatura (ºC) Gramado 35 30 25 Gramado Solo Nu 35 30 25 20 15 15 1989 1992 1995 1998 2001 2004 1986 2007 1989 Jul/Ago/Set Gramado Solo Nu 1995 1998 2001 2004 2007 45 Cobertura Morta 40 40 Temperatura (ºC) Temperatura (ºC) 1992 Out/Nov/Dez 45 35 30 25 35 30 25 20 20 15 15 Gramado 1986 Cobertura Morta Cobertura Morta 20 1986 Solo Nu 1989 1992 1995 1998 2001 2004 2007 1986 1989 1992 Solo Nu 1995 1998 Cobertura Morta 2001 2004 2007 Figura 1. Média trimestral das temperaturas do solo a 2 cm de profundidade, às 15:00h sob diferentes tipos de cobertura . Paranavaí, PR, jan/1986 a out/2009. Na Figura 2, observa-se que temperaturas extremas maiores que 40ºC ocorreram somente no solo exposto, com ocorrências de temperaturas maiores que 50ºC (150 eventos), durante todo o período avaliado. O solo gramado teve maior frequência de eventos com temperaturas elevadas (>35ºC) do que o solo sob cobertura morta. Isso indica que o solo exposto está sujeito a eventos extremos de temperatura do solo, podendo interferir no manejo de culturas, influindo na germinação de sementes, desenvolvimento do sistema radicular, absorção de água e nutrientes e decomposição de matéria orgânica. Número de eventos 8000 7500 7000 6500 6000 5500 5000 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 7580 Solo Nú Gramado Cobertura Morta 6017 5358 4305 4036 2361 2224 934 150 0 >50 0 0 >45 0 0 0 >40 Temperatura (ºC) 55 >35 1 239 >30 >25 Figura 2. Número de ocorrências de temperaturas do solo acima dos limites especificados às 15:00h, a 2 cm de profundidade, sob diferentes tipos de cobertura. Paranavaí, PR, jan/1986 a out/2009. As tendências de aumento de temperatura do ar, com destaque para a temperatura mínima, que vêm ocorrendo no estado do Paraná nos últimos 30 anos (RICCE et al., 2009), certamente estão relacionadas com a brusca mudança ocorrida no uso do solo, com substituição de floresta por agricultura. 4. CONCLUSÃO As alterações nas temperaturas extremas decorrentes de mudança na cobertura do solo têm potencial de alterar significativamente o balanço energético local, alterando o fluxo de calor para o solo, com potencial de alterar a temperatura do ar e contribuir para o aquecimento global. Sob solo descoberto, no horário das 15 horas, quando ocorre o máximo aquecimento, as diferenças nas médias trimestrais de temperatura entre os sistemas com cobertura e solo exposto a 2cm de profundidade atingem 10 a 15oC no horário de maior aquecimento, podendo causar estresses às culturas de verão e prejudicar a produtividade. 5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, R. 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