HISTÓRIA AMBIENTAL URBANA DE FEIRA DE SANTANA – 1959-2001: UMA ANÁLISE BASEADA EM GEOTECNOLOGIAS Jocimara Souza Britto Lobão – Geógrafa [email protected] Marjorie Csekö Nolasco – [email protected] Professora Titular UEFS-BA Washington de Jesus Sant’Anna da Franca Rocha Professor Adjunto UEFS-BA ([email protected]) Departamento de Exatas, Área de Geociências – Grupo de Pesquisa Geociências e Recursos Naturais BR 116 - Km 3 – UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana-BA, Brasil Palavras-Chave: Evolução Urbana, Feira de Santana, História Ambiental Um processo histórico ocorre motivado por fatores locais, regionais e globais, que podem ser perceptíveis no espaço. Avaliar a história urbana do município de Feira de Santana-BA é o objetivo deste trabalho que reconstitui um mapa de evolução urbana e o analisa com base em dados bibliográficos e trabalhos de campo. O mapa de evolução urbana de Feira de Santana, equivalente ao período de 1959 à 1991, foi digitalizado e georreferenciado, propiciando sua integração com novos dados obtidos por Processamento de imagem Landsat7, 2001, possibilitando analisar seus vetores de crescimento e direções. Os trabalhos de campo realizados ajudaram no tratamento da imagem e na coleta de informações sobre a história do espaço urbano do município. Calculando segundo os dados obtidos, Feira de Santana cresceu anualmente: 17,7% de 59 até 73; 5,9% de 73 até 83; 12,5% de 83 até 1991. E segundo a área resultante do processamento da imagem Landsat 8% de 91 até 2001. Na década de 70, há um incremento mais incisivo por parte das esferas estaduais e federais, no município de Feira de Santana, com a política habitacional, favorecendo um maior espraiamento da área urbana do município. Já no período de 1991 –2001 o crescimento populacional não acompanha o crescimento da área urbana. Isso indica que dois fatos podem ser verificados: i) a cidade está se verticalizando; ii) a cidade está ocupando os vazios urbanos. Especificamente no município de Feira de Santana, vários são os fatores que propiciam o crescimento urbano: A industrialização, com a implantação do Centro Industrial Subaé; a tradição comercial da cidade; a construção de vários conjuntos populares que antecedem e precedem a implantação do CIS, impulsionada por uma política habitacional do Estado e município; a implantação do campus universitário da UEFS, ao norte do município. Considerando os dados analisados, foi possível identificar as áreas que sofrem maior pressão de crescimento urbano, logo, que merecem atenção especiais dos órgão governamentais. 1- Introdução Para compreender a história do espaço urbano de um município é de fundamental importância que se estabeleçam períodos que continuamente se somam e se complementam. Assim, entendendo a história enquanto processo não se torna fundamental estabelecer marcos e sim realçar épocas (Santos, 2001). Historiadores, sociólogos e economistas criam periodizações ricas e complexas. No entanto, é no espaço que se revelam às marcas de cada época. Identificar essas marcas e analisá-las para compreender o processo atual é um caminho para que se possa planejar o futuro. 1 O processo de evolução urbana ocorre motivado por fatores locais, regionais e globais, que podem ser perceptíveis através do espaço urbano, onde materializa-se formas, cria-se funções que promovem processos diferenciados (Santos, 1997). Avaliar o crescimento urbano do município de Feira de Santana-BA é o objetivo deste trabalho que atualiza, utilizando geotecnologias, um mapa histórico de evolução urbana para este município (1959-2001) e o analisa com base em sua conjuntura global e local. Observando os elementos definidores do espaço urbano, compatibilizando objetivos e metodologias empregadas por autores diferentes, realizou-se a integração de dados históricos e demográficos que possibilitaram análises dos fatores e vetores condicionantes desse crescimento. Essa análise favorece uma melhor compreensão do processo de evolução urbana para o município e fornece instrumentos para o planejamento municipal. A área de estudo localiza-se na zona limítrofe entre o semi-árido e o setor mais úmido de controle costeiro (antiga zona de Mata Atlântica), a cerca de 100 km da capital entre as coordenadas 515631 E e 8678475 N e 466424 E – 8625780 N, correspondente ao município de Feira de Santana que é o maior do interior do estado da Bahia, com população estimada em 480.000 mil habitantes (IBGE, 2002). (Figura 1) Figura 1 – Localização da área de estudo 2- Materiais e Procedimentos Para a realização deste trabalho utilizou-se, como fontes principais, dados bibliográficos, o mapa de limites dos bairros da cidade de Feira de Santana (Prefeitura Municipal de Feira de Santana-BA, 2000); o mapa de Evolução urbana de Feira de Santana 1959-1991 (Almeida, 1992); Mapa de delimitação das áreas urbanas de Feira de Santana (Lobão, et al, 2003). O trabalho foi realizado em quatro etapas distintas: 1. Levantamento bibliográfico, visando o georreferenciamento teórico, e o resgate de informações históricas sobre a ocupação do município. 2. Etapa de campo, para reconhecimento, coleta de pontos com GPS para o geo-referenciamento da imagem, coleta de informações sobre alvos e informações históricas, sócio-econômicas, registros fotográficos da área de estudo, diálogos informais com moradores do município. 3. Etapa de laboratório, para tratamento, organização, digitalização de mapas com o programa CartaLinx; correção e geo-referenciamento dos dados utilizando-se o ArcView 3.2 e o ENVI 3.5, no processamento da imagem e finalmente as análises dos dados. O mapa de evolução urbana de Feira de Santana, equivalente ao período de 1959 a 1991 (Almeida, 1992), foi digitalizado e georreferenciado, propiciando sua integração com novos dados obtidos por processamento de imagem Landsat ETM+, 2001 (Lobão et al, 2003), possibilitando analisar a direção dos seus vetores de crescimento. 4- Análise conjunta dos dados históricos e daqueles gerados pelo processamento da imagem de satélite. 2 As duas primeiras etapas permearam todas as demais, para a consolidação dos resultados. O fluxograma abaixo resume a metodologia empregada (Figura 2): Dados bibliográficos Campo Mapas Geoprocessados Dados Históricos Integração Mapas Históricos Análise Histórica Ambiental Vetores de crescimento Conclusões Figura 2 – Fluxograma metodológico 3 – O conceito de urbano – uma análise para compatibilização O levantamento bibliográfico realizado visou fundamentar teórico conceitualmente a pesquisa e nortear a delimitação das áreas urbanas. Embora haja diversos conceitos e definições para o espaço urbano, (Clark, 1991; George,1983; Scarlato, 2001; Carlos, 1994; Santos, 1996) aqui utilizaremos a compreensão de Lobão (2003) para a caracterização do urbano, que é a concentração das construções, única variável que está contida em todas as definições de urbano e que é capaz de ser detectada por sensores remotos. Entretanto os conceitos de espaço urbano utilizados por Almeida(1991) e Lobão (2003) em seus trabalhos foram diferentes e, para que se possa comparar os resultados faz-se necessário discutir interfaces e compatibilizalos.Almeida (1991), utiliza o conceito de geossistema para delimitar o espaço urbano, tendo por base a ocupação do solo e mais especificamente, a interferência das ações humanas no processo de infiltração no solo. Lobão et al (2003), utiliza para a caracterização do urbano a concentração das construções, pois esta é a variável capaz de ser detectado por sensores remotos. Este último conceito absorve os parâmetros utilizados por todos os autores estudados visto que o espaço urbano, de forma isolada ou conjugada, é o espaço adensado em construções: indiscutivelmente o conjunto de edifícios, atividades e população conjuntamente reunidos no espaço, colocado por Clark (1991); possuindo todas as características descritas por George (1983); é o espaço que Scarlato (2001) caracteriza e o “espaço construído”, discutido por Carlos (1994) como palco principal das relações, sociais econômicos e políticos, “imobilizado pelas construções” logo, urbano. Nesta perspectiva todos os elementos possíveis de se identificar no urbano estão presentes quando há o adensamento de construções e todas as características e definições utilizadas pelos diferentes autores se enquadram nesse padrão. (Figura 3). Isto não ocorre com o critério adotado por Almeida( 1991), pois este autor tem como objetivo avaliar a interferência antrópica no escoamento superficial das águas em áreas urbanas. 3 Uso do solo e redes Clark,1991 População, ritmo de crescimento, etc. George, 1983 Atividades terciárias Scarlato, 2001 Espaço construído, modo de vida Carlos, 1994 Adensamento de construções Lobão et al, 2003 Uso do solo, Almeida, 1991 Figura 3 – Relações conceituais utilizadas para o espaço urbano, neste estudo. Logo, os critérios adotados por Lobão et al, 2003 estão contidos no de Almeida, 1991 e nos demais conceitos utilizados. Isto implica delimitações mais amplas, gerando a necessidade de adequação entre os mapas para posterior comparação. Feitas estas adequações são admissíveis às divergências metodológicas, que não invalidam os resultados, já que elas estão sendo consideradas nesta análise de evolução. 4- Resultados e discussão A vetorização e georreferenciamento do mapa de evolução urbana de Feira de Santana (Almeida, 1992), (Figura 4) possibilitou a sobreposição com o limite urbano de Feira de Santana (Lobão et al, 2003) (Figura 5). Observando-se os dados digitalizados com base no mapa de evolução urbana (Almeida, 1992) verifica-se que estes possuem formas bastante retilíneas, indicando que ele segue preferencialmente os limites de vias de acesso e/ou limites dos bairros estabelecidos pela Prefeitura Municipal (Figura 4). Já no mapa dos limites urbanos de Feira de Santana obtidos com base em Processamento digitais de Imagens de Satélite (Lobão et al, 2003), essas formas são mais irregulares e se delimitam pela reflectância dos alvos, que traduz em imagens de satélite, o adensamento das construções (Figura 5). Figura 4 Mapa da área urbana de Feira de Santana digitalizado a partir de Lobão et all, 2001 Figura 5 Mapa de Evolução do Sítio Urbano de Feira de Santana, digitalizado a partir de Almeida, 1991 4 Além dos dados históricos advindos da vetorização e georreferenciamento do mapa de Almeida, 1991, (Figura 4) e do mapa de delimitação urbana de Feira de Santana, 2003 (Lobão et al) (Figura 5), obteve-se informações sobre aspectos físicos, econômicos, sociais e políticos, referentes aos últimos 10 anos do período estudado, em conversas informais com moradores da região, e consultas bibliográficas (Freitas, 1998; Caldas, 1998; Barreto, 2002; Pinto, 1971; Popino, 1968; Pedreira, 1983) que relatam e analisam a história da evolução urbana do município em questão e fomentam a dimensão histórica na produção do espaço urbano de Feira de Santana. Observando os mapas, especialmente o de Almeida (1991), detecta-se um vetor de expansão no período pós 1970 para leste, e outro para norte. Estes vetores correspondem á atração exercida pela UEFS a Norte mas, não parecem ter ligação direta com os Centros Industriais do Complexo Industrial Subaé – CIS; que correspondem a direção sul/sudeste. Segundo Caldas (1998) é a política habitacional quem desvia esta direção implantando-a fortemente para leste, independente da construção do CIS, com os diversos loteamentos populares implantados. Calculando segundo os dados obtidos, a partir da vetorização dos mapas, a malha urbana de Feira de Santana cresceu: • 276,5% de 59 até 73, (17,7% /ano); • 59,5% de 73 até 83 (5,9% / ano); • 100,2% de 83 até 1991 (12,5% /ano). • 80,4% de 91 até 2001 (8% /ano). Andrade (1997), apresenta um estudo indicando que: “... em 1970 detinham 19,1% da população urbana nacional, passaram em 1991 a agrupar quase 1/3 dessa mesma população.”. Isso demonstra que as cidades médias (entre 50 e 500 mil habitantes) cresceram demograficamente de forma intensa, nesta época. Feira de Santana, não foge a regra, em 1970 possuía 134.263 habitantes urbanos, e em 1991, alcança 384.973, um aumento de 187%, ou seja, a população em 20 anos quase triplicou (gráfico 01). Considerando que em 2001 o município possui 431.730 habitantes urbanos (IBGE, 2003) o aumento para o período de 1991 até 2001 é de 25% (tabela 1). Ocorre na década de 90 uma significativa redução no ritmo de crescimento da população, verificado a nível nacional em função também, da redução do crescimento vegetativo do país. Figura 3 - TABELA 1: Dados de população de Feira de Santana, com suas respectivas fontes. Décadas População urbana População total % crescimento pop. urbana 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2001 19660 37277 69844 134263 233905 348973 431730 83268 107205 141757 190078 291504 405848 480949 -----90% 87% 92% 100% 49% 24% No período estudado, algumas obras foram marcantes por apresentarem forte impacto sobre a expansão física da malha urbana, redelimitando-a. Foram elas: a construção das BR-116 e BR-101 entre meados das décadas de 50 60; a construção do CIS (Centro Industrial do Subaé) e da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana) entre o final da década de 60, inicio da 70; a duplicação da BR-324 também na década de 70, junto com a construção da Barragem Pedra do Cavalo e mais recentemente um grande centro de compras e serviços o Shopping Center. As 5 rodovias configuraram o anel de contorno da cidade e consolidaram a característica de entreposto comercial estadual e regional. Compondo os dados de ocupação física e população, contra tempo e ocorrências importantes chega-se ao gráfico 1 onde se verifica um aumento constante da área urbana paralela ao crescimento populacional urbano. 1000 Shoping Iguatemi UEFS - CIS - Duplicação da Br 324 Conjuntos Habitacionais 10000 Conjuntos Habitacionais 100000 Conjuntos Habitacionais 1000000 % Crescimento População urbana 100 até 59 1960 até 73 1970 1980 até 83 1990 até 91 2000 até 2001 Gráfico 01- Crescimento da população e área urbana em Feira de Santana -BA Após 1956 ocorre forte crescimento demográfico na cidade, impulsionado muito provavelmente pela seca de fins da década de 50, início de 60, e pela construção das diversas rodovias que viriam transformar Feira de Santana num anel rodoviário, dentre elas as BR-116 e BR-101. A construção das estradas explica a alta taxa de ampliação do espaço urbano obtida neste período, apesar de construtivamente menos adensadas na imagem abrange estas regiões. Da mesma forma explica, no período seguinte (de 1973 a 1983), as baixas taxas obtidas visto que, o adensamento de áreas já capturadas na avaliação anterior não é levado em conta, na metodologia adotada por Almeida (1991), responsável pela geração deste mapa. No gráfico 01, observa-se que no período de 1991–2001, da mesma forma que em 1973-83 o crescimento populacional não é acompanhado pelo crescimento da área urbana. Isso é explicado por uma ou ambas situações, verificáveis: i) a cidade está se verticalizando; ii) a cidade está ocupando os vazios urbanos. “A ‘febre dos loteamentos’ inicia-se na década de 60 e se intensifica na década de 70”. Caldas (1998). Com a política habitacional sofrendo um incremento mais incisivo por parte das esferas estaduais e federais, no município de Feira de Santana. Esta “febre” irá ocupar espaços urbanos vazios ou pouco adensados, já classificados como urbanos, e só favorecerá espraiamento detectável da área urbana do município no período seguinte, entre 1983 1991. Assim, apesar de segundo Freitas (1998), Caldas (1998) e Barreto (2003), ser na década de 70 que o crescimento econômico do município se acelera, a quantificação do seu reflexo físico neste período, aqui compreendido como a expansão da malha urbana, é mascarado pela ampliação já detectada no período anterior e só voltará a ser perceptível na década seguinte (1983-1991), quando o efeito da construção do CIS, da duplicação da BR -324 e da presença da UEFS, também ocorrências da década de 1970, já se fizerem sentir sobre o espaço físico ocupado. Os elementos que propiciam a evolução urbana normalmente direcionam sua evolução, nesta lógica, a implantação do CIS direcionou a evolução urbana do município na direção sul/sudeste; o campus universitário da UEFS, direcionou para Norte. 6 Feira de Santana surge em função dos aspectos físicos, principalmente do seu relevo plano e sua hidrografia rica em rios, fontes e lagoas, que desde os seus primórdios serviram de pousio para os boiadeiros que transportavam seu gado do interior para o porto de Cachoeira. Tornando-a assim, um entreposto comercial importante para a região. Junto ao gado passaram a ser negociados diversos produtos na sua tradicional feira. Hoje, são exatamente, as áreas das lagoas que favoreceram o surgimento da cidade, e que se localizam na área urbana que estão sofrendo a pressão de crescimento da mesma, constituindo-se como diferenciados”vazios urbanos”, não percebidos como um recurso hídrico fundamental e legalmente protegido. Atualmente Feira de Santana ainda é um centro comercial importante para a região. A localização da cidade favorece seu crescimento por se constituir um entroncamento rodoviário, ligando inúmeras cidades do interior à capital, e as diferentes regiões do país. Este fato contribui com a evolução do município e favorece a expansão urbana, junto com outros fatores citados: a incipiente e sempre possível industrialização, com o Centro Industrial Subaé –CIS, que oportunizou e continua oportunizando a construção de vias de acesso e redes de distribuição; a existência de vários conjuntos populares vazios demandando ocupação; a presença da UEFS, atualmente em processo de expansão de cursos. Algumas áreas se constituem em locais de maior pressão na ocupação do solo. Essas áreas se caracterizam como “vazios urbanos”, ou áreas urbanizadas no seu entorno e que não foram ocupadas por diversos motivos, entre elas destacam-se: • Áreas de lagoas, como na lagoa do Prato Raso, que continua a ser paulatinamente invadida por moradias nas suas bordas e que anteriormente já foi cortava pela Av. José Falcão. • Áreas de especulação imobiliária e de dificuldades impostas pelo meio físico, como a oeste e ao sul da parte urbana, dentro do anel rodoviário, onde essa ocupação ainda não se verifica. As lagoas do Prato Raso, Pindoba, Tabua, Grande, dentre outras, são áreas de proteção ambiental permanente (Lei Complementar Nº 1.612/92 ). Estas lagoas estão sendo aterradas, servindo de escoamento de esgotos, depósito de lixo, dentre outras agressões ambientais. Para ampliar seu espaço, ou para amenizar a invasão de insetos e animais nocivos à saúde como ratos e baratas, muitas vezes a própria população do entorno dessas lagoas, deseja seu aterramento. Assim, o que antes foi um dos fortes atrativos para a ocupação desse espaço, hoje se constitui em áreas de conflito e pressão para a evolução urbana. Outra Tendência, advinda destas avaliações é a continuidade e adensamento da ocupação para Norte, fortemente direcionada pela ação e atividade da UEFS. 5- Conclusão O espaço urbano de Feira de Santana é palco de diversas relações sociais e de poder que registram suas marcas e que podem ser visualizadas neste espaço. A história de Feira de Santana revela como o capitalismo tem se reproduzido e sobrevivido em meio as suas especificidades. Para Lefebvre, 1974, (citado por Cassete, 1991) existem duas naturezas, uma primeira que não sofreu interferência humana e uma segunda, onde se pode perceber a interferência humana. Em Feira de Santana, não consegue-se perceber vestígios dessa primeira natureza, logo, é essa segunda natureza, ou melhor, no espaço urbano de Feira de Santana que a prática social construiu uma natureza onde seus traços primeiros são quase imperceptíveis. Nesta lógica é o “meio ambiente social”, em especial o urbano, onde os elementos físicos interferem na sociedade ao mesmo tempo em que essa sociedade impõe suas lógicas econômicas, políticas, sociais e culturais aos espaços físicos que não possuem passividade. 7 Assim, há necessidade de um planejamento municipal que integre todas as informações possíveis, evitandose a criação de infra-estrutura em áreas que causem impactos ambientais ou que inviabilizam o deslocamento das pessoas para as áreas onde os vetores de crescimento se localizam, seja em função da distância ou do custo de deslocamento, logo, os cenários futuros podem ser harmônicos. Considerando que a implantação do Centro Industrial Subaé –CIS, ocorreu em dezembro de 1970, percebe-se que nos dados de Almeida, 1991 (Figura 4) que não foi a industrialização o fator mais significativo para o crescimento de Feira de Santana, pois a maior área de crescimento é o lado leste e não no sul/sudeste onde se encontra o CIS Tomba e o CIS Br-324. Segundo Freitas (1998), o vetor que mais impulsionou o crescimento de Feira de Santana foi o comércio e a construção dos conjuntos habitacionais. Além disso, é muito significativo o crescimento ao Norte, influenciado pela implantação do campus da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS (1968). A integração de mapas históricos, com novas tecnologias de geoprocessamento, favoreceu um maior conhecimento da dinâmica urbana do município, facilitando o planejamento da cidade e possibilitando o melhor dimensionamento e direcionamento dos investimentos necessários. Essa integração é sempre desejada, e apesar de suas limitações isto foi possível. Vale ressaltar que os cálculos de áreas de crescimento e linearidade neste estudo de evolução do município resguardam as dificuldades encontradas nesta integração, em função dos objetivos e metodologias diferenciadas, mas aponta resultados que possibilitaram análises. Para o caso da História ambiental urbana de Feira de Santana, com essa integração, associada às informações bibliográficas adicionais, foi possível identificar as direções, vetores e fazer um prognóstico da evolução do município. A identificação da área urbana do município através da imagem de satélite, complementa uma série histórica, com intervalos de tempo diferentes e ratifica as informações de Freitas e Caldas, quando possibilita identificar, principalmente as direções para onde a cidade cresceu nesta última década e com isso os agentes que propiciaram esse crescimento. A urbanização é sem dúvida um processo irreversível. Assim, as considerações expostas anteriormente são importantes para a compreensão dessa dinâmica. Os vetores aqui enunciados como facilitadores da evolução urbana no município, sejam eles de ordem física e/ou sócio-econômica e/ou política, certamente continuarão a favorecer o crescimento da área urbana em Feira de Santana. A complexidade das relações de poder local se ampliam com a urbanização gerando conflitos entre classes sociais que se refletem no espaço urbano e geram pressões pela ocupação desse espaço. Isto se verifica em Feira de Santana nas áreas consideradas como “vazios urbanos”; em áreas de especulação imobiliária; nas zonas de periferia no entorno do anel rodoviário; mais particularmente na parte Norte, influenciada pelo campus da UEFS, principalmente a partir da implantação de novos cursos e sob a influencia do CIS, desde que se ampliem os incentivos às indústrias se instalarem e na verticalização que ocorre paulatinamente, principalmente nos bairros próximos ao centro da cidade. Outro aspecto a ser considerado, é o caráter volátil das empresas que se instalam localmente em função dos diversos incentivos e que transferem para outros espaços em função da chamada “guerra fiscal”. Analisando sob esse aspecto, ao mesmo tempo em que essas indústrias aumentam a dinâmica local podem também desacelerar seu ritmo em função de conjunturas políticas administrativas, a níveis locais, regionais, nacionais ou mesmo globais. Relativisa-se assim a indústria como vetor de crescimento futuro para a cidade de Feira de Santana. Os períodos trabalhados, não estão delimitados por marcos históricos e nem houve essa pretensão, pois aqui a história foi entendida enquanto processo , dentro de uma ótica permitiram recuperar a história ambiental de Feira de Santana perceptível no seu espaço urbano. 8 Referências ALMEIDA, J. A. P. de. Estudo morfodinâmico do sítio urbano de Feira de Santana. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal da Bahia. Salvador : [s. n.], 1992. ANDRADE, T. A. & SERRA, R. V., Fluxos migratórios nas cidades médias e Regiões Metropolitanas brasileiras: a experiência do período 1980/96.Texto para discussão nº 747. Rio de Janeiro: IPEA, 2000 CASSETE, V. Geografia e apropriação do relevo. São Paulo: Goiânia: Contexto, UGG Centro editorial e Gráfico, 1991 CALDAS, Gessiene Oliveira. 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