UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO RONALDO LOPES PREVALÊNCIA DE INDIVÍDUOS COM NÍVEIS CONTROLADOS DE GLICEMIA E PRESSÃO ARTERIAL NA POPULAÇÃO NIPO-BRASILEIRA DE BAURU COM DIABETES MELLITUS E HIPERTENSÃO ARTERIAL BAURU 2007 UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO RONALDO LOPES PREVALÊNCIA DE INDIVÍDUOS COM NÍVEIS CONTROLADOS DE GLICEMIA E PRESSÃO ARTERIAL NA POPULAÇÃO NIPO-BRASILEIRA DE BAURU COM DIABETES MELLITUS E HIPERTENSÃO ARTERIAL Dissertação apresentada à Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Odontologia, Área de Concentração: Saúde Coletiva, sob orientação da Profa. Dra. Maria Helena Borgato Cappo Bianco. BAURU 2007 Lopes, Ronaldo L8641p Prevalência de indivíduos com níveis controlados para glicemia, pressão arterial e lipedemia na população nipobrasileira de Bauru com Diabetes mellitus e Hipertensão Arterial / Ronaldo Lopes – 2007. 92f Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Helena Borgato Cappo Bianco Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) Universidade do Sagrado Coração – Bauru - São Paulo. 1. Migração - saúde 2. Migração japonesa 3. Síndrome metabólica I. Bianco, Maria Helena Borgato Cappo. II.Título. RONALDO LOPES PREVALÊNCIA DE INDIVÍDUOS COM NÍVEIS CONTROLADOS DE GLICEMIA E PRESSÃO ARTERIAL NA POPULAÇÃO NIPO-BRASILEIRA DE BAURU COM DIABETES MELLITUS E HIPERTENSÃO ARTERIAL Dissertação apresentada à Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Odontologia, Área de Concentração: Saúde Coletiva, sob orientação da Profa. Dra. Maria Helena Borgato Cappo Bianco. Banca examinadora: Prof. Dr. Marcos da Cunha Lopes Virmond Profa. Dra. Nilce Emy Tomita Profa. Dra. Maria Helena Borgato Cappo Bianco Bauru, 29 de junho de 1997. Dedico este trabalho aos meus pais, irmã e amigos. AGRADECIMENTOS Este trabalho é fruto do trabalho e apoio conjunto de muitas pessoas, sem as quais não poderia nem ao menos ser começado. Agradeço a todos com muito carinho, especialmente: A Universidade do Sagrado Coração, pelas oportunidades oferecidas. Meus Pais e Irmã Vanessa, por surpreenderem sempre. Vocês são sempre mais, e mais, e mais. Minha orientadora querida, Profa. Dra. Maria Helena Borgato Cappo Bianco, pela sabedoria, compreensão, apoio e carinho. As professoras Dra. Leila Maria Vieira e Ms. Evete Polidoro Alquati, por serem minhas “líderes com o coração”. O Grupo de Estudos do Diabetes na Comunidade Nipo-brasileira, na pessoa da Dra. Sandra Roberta G. Ferreira, pela gentileza e ajuda desde os primeiros passos do trabalho. O Dr. Eymar Sampaio Lopes, pela paciência e socorro. Sem o senhor o tudo teria sido mais difícil. Os Professores e Funcionários do Departamento de Enfermagem da Universidade do Sagrado Coração, porque sempre me ajudaram de forma tão espontânea. O amigo Luiz Pari, pela ajuda na caminhada. Este trabalho também é teu. A amiga Ms. Solange Nardo Cardoso, pelo ombro amigo, pela paciência no escutar e sabedoria no aconselhar. O amigo João Matias, pela ajuda providencial. “Ser homem é ser responsável. É sentir que colabora na construção do mundo”. Antoine de Saint-Exupéry RESUMO Este é um estudo descritivo-quantitativo, que teve o objetivo determinar a prevalência de indivíduos controlados para glicemia de jejum e pressão arterial na população nipo-brasileira de Bauru com diabetes e hipertensão arterial, e relacionar o uso de medicamentos com os níveis de glicemias de jejum e pressão arterial. Participaram deste estudo 1331 nipo-brasileiros de 1.ª e 2.ª gerações, com idade entre 30 e 79 anos. Os resultados demonstraram que o uso de medicações para controlar suas patologias foi insuficiente para manter em níveis adequados as glicemias de jejum e os níveis pressóricos (pressão sistólica e diastólica) Palavras-chave: Diabetes mellitus, Hipertensão Arterial, Nipo-brasileiros. ABSTRACT This is a descriptive-quantitative study, that had as objective to determine the prevalence of the controlleds individuals of blood glucose and arterial pressure in diabetic and hypertensive nipo-brazilian population of Bauru, and to relate the use of medications with the levels of blood glucose and arterial pressure. The sample consisted of 1331 nipo-brazilians (1.th and 2.th generations), with aged 30-79 years. The results demonstrated that the use of medications to control its pathologies was insufficient to maintain in ideal levels the blood glucose and blood pressure (SAP and DAP). Keywords: Diabetes, Hypertension, nipo-brazilians, prevalence. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – COMPONENTES DA SÍNDROME METABÓLICA – NCEP-ATP III. ......................... 25 FIGURA 2 – VALORES DE GLICOSE PLASMÁTICA (EM MG/DL) PARA DIAGNÓSTICO DE DM TIPO 2 E SEUS ESTÁGIOS PRÉ-CLÍNICOS. .............................................................................. 38 FIGURA 3 – METAS PARA O CONTROLE GLICÊMICO DE DIABÉTICO. ....................................... 41 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 – CLASSIFICAÇÃO DOS GRAUS DE ALTERAÇÕES GLICÊMICAS EM INDIVÍDUOS QUE NÃO CITARAM TER DIABETES MELLITUS. BAURU – SP, 2002. .................................... 69 GRÁFICO 2 – PROPORÇÃO DE CITAÇÕES EM RELAÇÃO À HIPERTENSÃO ARTERIAL PELA POPULAÇÃO NIPO-BRASILEIRA DE BAURU – SP. 2002. ............................................. 70 GRÁFICO 3 – RELAÇÃO ENTRE A CITAÇÃO DE SER HIPERTENSO E NÍVEIS CONTROLADOS DE PA (PAS E PAD). ................................................................................................ 71 GRÁFICO 4 – RELAÇÃO ENTRE A CITAÇÃO DE SER HIPERTENSO E NÍVEIS NÃO CONTROLADOS DE PA (PAS E PAD)............................................................................................. 72 GRÁFICO 5 – DISTRIBUIÇÃO DAS AFERIÇÕES DE PAS(T3) E PAD(T3) EM INDIVÍDUOS QUE CITAM TER HIPERTENSÃO ARTERIAL MAS NÃO USAM ANTI-HIPERTENSIVO. BAURU – SP, 2002. .................................................................................................................. 72 GRÁFICO 6 – DISTRIBUIÇÃO DAS AFERIÇÕES DA PAS(T3) E PAD(T3) EM INDIVÍDUOS QUE CITARAM TER HIPERTENSÃO ARTERIAL E FAZEM USO DE ANTI-HIPERTENSIVO. BAURU – SP, 2002............................................................................................................. 73 GRÁFICO 7 – DISTRIBUIÇÃO DAS AFERIÇÕES DA PAS(T3) E PAD(T3) EM INDIVÍDUOS QUE NÃO CITARAM TEREM HIPERTENSÃO ARTERIAL E NÃO FAZEREM USO DE ANTIHIPERTENSIVO. BAURU - SP. 2002......................................................................... 73 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – PERCENTUAL DE RESPOSTAS DA POPULAÇÃO NIPO-BRASILEIRA COM CITAÇÃO OU NÃO DE TEREM DIABETES MELLITUS. BAURU – SP, 2002. ........................................ 67 TABELA 2 – NÚMERO DE INDIVÍDUOS QUE CITARAM TEREM DM, DE ACORDO COM O USO OU NÃO MEDICAMENTOS PARA O CONTROLE DO DM – SP EM 2002. ............................... 68 TABELA 3 – DISTRIBUIÇÃO DAS CITAÇÕES DE INDIVÍDUOS QUE DIZEM TER HIPERTENSÃO ARTERIAL E O USO DE MEDICAMENTOS. POPULAÇÃO NIPO-BRASILEIRA. BAURU – SP, 2002. .................................................................................................................. 70 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15 2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 18 2.1 MIGRAÇÃO E SAÚDE ................................................................................ 18 2.2 MIGRAÇÃO JAPONESA PARA O BRASIL ................................................. 19 2.3 O PROCESSO DE ACULTURAÇÃO DOS NIPO-BRASILEIROS ................ 21 2.4 GRUPO DE ESTUDOS DO DIABETES NA COMUNIDADE NIPO- BRASILEIRA .......................................................................................................... 22 2.5 SÍNDROME METABÓLICA ......................................................................... 23 2.6 DIABETES MELLITUS ................................................................................ 30 2.7 HIPERTENSÃO ARTERIAL ........................................................................ 49 2.8 ADESÃO AO TRATAMENTO EM DOENÇAS CRÔNICAS.......................... 55 2.9 DIABETES, HIPERTENSÃO ARTERIAL DE DISLIPIDEMIA EM IMIGRANTES JAPONESES DE 1.ª E 2.ª GERAÇÕES ........................................... 57 3 4 OBJETIVOS ....................................................................................................... 60 3.1 GERAL ........................................................................................................ 60 3.2 ESPECÍFICOS ............................................................................................ 60 METODOLOGIA ................................................................................................ 61 4.1 CARACTERÍSTICA DO ESTUDO ............................................................... 61 4.2 LOCAL ........................................................................................................ 61 4.3 PERÍODO ................................................................................................... 61 4.4 AMOSTRA .................................................................................................. 62 4.5 INSTRUMENTOS ....................................................................................... 62 4.6 VARIÁVEIS ................................................................................................. 63 4.7 ESTRATIFICAÇÃO DOS RESULTADOS ................................................... 65 4.8 ASPECTOS ÉTICOS .................................................................................. 66 5 RESULTADOS................................................................................................... 67 6 DISCUSSÃO ...................................................................................................... 74 6.1 VALORES GLICÊMICOS DE JEJUM .......................................................... 74 6.2 7 VALORES PRESSÓRICOS – PAS(T3) E PAD(T3) ..................................... 77 CONCLUSÃO .................................................................................................... 81 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 82 ANEXO A – CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO ............................................ 88 ANEXO B – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ............................ 89 15 1 INTRODUÇÃO Doenças cardiovasculares constituem um tema bastante expressivo quando relacionadas à alta taxa de mortalidade da população, bem como aos danos causados à saúde. Em meados do século 20, houve um grande aumento da morbidade e mortalidade por estas doenças, associado ao decréscimo do número de mortes por doenças infecto-parasitárias, que até então eram responsáveis pelo maior números de mortes na população brasileiros e mundiais. O risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares está intimamente relacionado com muitas variáveis; algumas delas inevitáveis, como por exemplo, o avanço em idade e as determinantes genéticas; porém, outras podem ser prevenidas e tratadas, reduzindo significativamente os números de morbidade e mortalidade. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) alerta sobre a existência de um conjunto de transtornos cardiovasculares, usualmente relacionados à disposição central de gorduras e à resistência de insulina chamado Síndrome Metabólica (SM), que tem grande valor epidemiológico, pois é responsável pelo aumento em até 2,5 vezes da mortalidade por doenças cardiovasculares. Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento da SM podemos citar o Diabetes Mellitus (DM), a Hipertensão Arterial (HA), a Dislipidemia e a Obesidade, principalmente quando relacionada ao aumento da relação entre as circunferências abdominal e do quadril. A grande mudança do estilo de vida causada pela urbanização após a década de 1950 deixou a população mais vulnerável ao desenvolvimento desta síndrome e, conseqüentemente, houve aumento da morbidade e mortalidade a ela relacionadas. 16 O estilo de vida estressante, o sedentarismo, a diminuição das atividades físicas regulares, a alimentação inadequada, a diminuição dos momentos de lazer e ao aumento do tabagismo propiciaram o crescimento expressivo do número de diabéticos e hipertensos. Paralelamente às mudanças geradas pela urbanização, observou-se que algumas populações em especial tiveram seus hábitos de vida radicalmente alterados e passaram a compor uma população com maior risco para o desenvolvimento desta SM. É o caso dos imigrantes japoneses que vieram para o Brasil entre 1908 e 1960 e seus descendentes. Estes vêm sofrendo um grande processo de aculturação, influenciados de forma expressiva pelo estilo de vida brasileiro. Esta população vem sendo particularmente estudada pelo grupo denominado Japanese-Brazilian Diabetes Study Group (JBDSG), composto por pesquisadores da Escola Paulista de Medicina, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo; da Faculdade de Odontologia da USP-Bauru; da Universidade do Sagrado Coração-Bauru e do Centro de Estudos Nipo-Brasileiros. Os resultados dos seus estudos apontam para alta incidência dos fatores de risco para doença cardiovascular na população nipo-brasileira, com grande prevalência de DM e HA. Os números encontrados no Brasil são significativamente maiores quando comparados aos da população residente no Japão, fato este que tem sido explicado como resultante da interação entre fatores genéticos e ambientais; este último claramente observado e decorrente do processo migratório. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2002), a proposta de estudos específicos nesta população é relevante porque o Brasil tem a maior população japonesa fora do Japão. 17 É importante que se conheça a prevalência de níveis aceitáveis de glicemia e pressão arterial nos indivíduos que compõem esta população, especialmente nos indivíduos com DM e HA já diagnosticados, pois assim medidas podem ser planejadas e implementadas a fim de retardar ou reduzir o aparecimento das complicações crônicas decorrentes destes problemas, garantindo a melhoria das condições de saúde e de vida, além de diminuir a morbimortalidade da população em estudo. Para tanto, contamos neste trabalho com uma base de dados coletados entre 1999 e 2000, agora disponibilizados pelo JBDSG, e cujas variáveis serão descritas e analisadas. 18 2 2.1 REVISÃO DE LITERATURA MIGRAÇÃO E SAÚDE De acordo com Almeida et al. (2005), são inúmeros os estudos das causas e dos fatores desencadeantes de doenças em populações específicas, como a formada pelas populações imigrantes, que sofreram alterações do estilo e hábitos de vida e, conseqüentemente, da prevalência de várias doenças. A prevalência de hipertensão arterial varia bastante em relação a fatores sociais e culturais; as pesquisas iniciais sobre aculturação, status sócioeconômico e pressão arterial documentam essa variação, que não pode ser explicada totalmente por fatores convencionais (DRESSLER; SANTOS, 2000, p.303). Segundo Hirai et al. (2004), o conhecimento das mudanças do padrão alimentar e das atividades físicas pode ajudar na prevenção e erradicação de certas doenças crônicas, cardiovasculares, como o DM, a HA, e as doenças isquêmicas do coração e cérebro. 19 2.2 MIGRAÇÃO JAPONESA PARA O BRASIL Aoki (1987) relata que, mesmo em publicações científicas sobre o DM não tão recentes, são encontrados relatos de que as características étnicas peculiares e as diferenças culturais dos imigrantes japoneses despertam interesse na realização de estudos epidemiológicos, até porque apenas a causa genética, como a mutação genética do DM, não explica as diferenças encontradas na prevalência destas doenças nos japoneses que vivem no Japão e a população japonesa e seus descendentes espalhados por todo mundo. Fujimoto et al. (1987) explicam que as mudanças ambientais há muito tempo são apontadas como importante fator associado à prevalência destas doenças, e dados coletados nos Estados Unidos, ainda na década de 1980, sobre sua população nikkei (japoneses que migraram para outros países), evidenciavam prevalência do DM de três a quatro vezes maior do que a observada no Japão. Daí o fato de a população nipo-brasileira constituir um interessante modelo de investigação, tanto do DM, como das doenças a ele associadas. De acordo com o Hirai et al. (2004), “o movimento migratório estendeu-se de 1908 até o início da década de 1960, com um período de interrupção entre 1941 e 1952”. Segue-se o relato do Brasil (2006) de como aconteceu o processo de imigração dos japoneses para o Brasil. Na segunda metade do século 19, o Japão passou por mudanças econômicas e políticas influenciadas pela vida ocidental, e que inseriram o país no mundo moderno. A migração japonesa para vários países foi resultado desta modernização e marcou uma nova etapa da história Japão. 20 Em 18 de junho de 1908, desembarcaram no Brasil os primeiros imigrantes japoneses, o que selaria uma aventura sem precedentes para aqueles que migraram e também para a sociedade que os adotou. O relato faz ainda referência à existência no Brasil da necessidade de mãode-obra para substituir o trabalho escravo, e que uma política imigratória mais definida só viria a ganhar importância com o fim do tráfico de escravos. O fluxo migratório de japoneses para o Brasil se intensificou a partir da primeira década do século 20, quando o governo norte-americano vetou a imigração japonesa para aquele país, que era o destino preferencial destes imigrantes. Muitos fatores eram apontados como limitantes do fluxo de japoneses ao Brasil e eram causados pelas diferenças étnicas, físicas e culturais. Governantes brasileiros julgavam-nos serem “um povo de trabalhadores não-assimiláveis”, que necessitava de vigilância permanente. Estas diferenças os tornavam impossibilitados em se adaptarem à cultura local. Apesar da preocupação com a escassez de mão-de-obra, o Governo brasileiro não incentivou a imigração dos trabalhadores japoneses senão mais tardiamente, pois, no Brasil, a idéia de que o “branqueamento da população” tornaria o país “mais civilizado”, o que pode ser observado no decreto de 28/6/1890 que ficou em vigor até o início do século 20, restringia a entrada desses imigrantes asiáticos no país. Houve momentos de tensão nas relações entre a comunidade nipo-brasileira e o poder público, que julgava os nikkeis (descendentes japoneses) egoístas, pessoas de má-fé, com padrão de vida desprezível, e representavam concorrência brutal com o trabalhador do país, considerando-os ainda “um enorme quisto étnico e cultural”. A 2.ª Guerra Mundial acentuou a desconfiança para com os japoneses e seus descendentes, dentre outras razões, pelo fato de serem rotulados de “inimigos do país que habitavam”. 21 Após a chegada dos primeiros imigrantes japoneses desencadeou-se uma dolorosa relação com o sentimento de desilusão. Os imigrantes eram fixados na terra e afastados do projeto de conseguir renda para voltarem ao Japão. O Estado japonês não tinha intenção de incentivar a volta de seus emigrantes ao país natal. Segundo Brasil (2006) da década de 1930 até a 2.ª Guerra Mundial foi o período de maior fluxo migratório de toda a história da imigração japonesa no Brasil, e a região que mais recebeu imigrantes japoneses foi o Sudeste, tendo São Paulo o maior número – 108.912 do total absoluto de 129.192 –, sendo que muitos dos imigrantes encontraram no comércio urbano sua fonte de renda, porém a maioria foi direcionada para a produção agrícola, e outros foram trabalhar como colonos as lavouras de café paulistas. 2.3 O PROCESSO DE ACULTURAÇÃO DOS NIPO-BRASILEIROS Ainda em consulta a Brasil (2006) sobre o processo de aculturação que os nipo-brasileiros passaram a sofrer, verifica-se que a realidade encontrada no Brasil era completamente desconhecida dos imigrantes. O modo de vida no Brasil era, em todos os sentidos, diferente do modo de vida japonês: a estrutura da casa, o peso da tradição familiar, os costumes ligados ao dia-a-dia, o preparo e o consumo de alimentos, a economia doméstica, além do idioma. Na tentativa de manterem suas tradições algumas iniciativas foram tomadas, como a utilização do uso do idioma japonês nas escolas, em pleno interior do Brasil, e o ensino de Geografia e História do Japão, em detrimento do estudo da “nova pátria”. A alimentação foi adaptada, incorporando os alimentos disponíveis, além de haver a necessidade de se acostumarem com novos os paladares e a tradição religiosa foi mantida. 22 Contudo, estas medidas não resistiram às trocas culturais e sociais com a sociedade que os acolheu, e as gerações sucessivas de descendentes dos primeiros imigrantes, os sanseis (terceira geração) e yonseis (quarta geração), mais do que os nisseis (segunda geração), menos imersos nas tradições mantidas pelas colônias, mostraram-se mais integrados à cultura brasileira do que seus pais e avós. Grande parte das novas gerações não fala o japonês, porém encontra-se nelas forte presença de alguns valores tradicionais, como o “espírito do bushidô” – o guerreiro que possui sobre si o autocontrole – e que, de certa forma, contribuíram para criar a imagem dos descendentes de japoneses como "estudiosos, inteligentes e disciplinados”. 2.4 GRUPO DE ESTUDOS DO DIABETES NA COMUNIDADE NIPO- BRASILEIRA O Grupo de Estudos do Diabetes na Comunidade Nipo-brasileira, também denominado Japonese-Brazilian Diabetes Study Group (JBDSG), é formado por pesquisadores de várias instituições: Universidade Federal de São Paulo, Universidade de São Paulo, Universidade Sagrado Coração de Bauru-SP, Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP (“Centrinho” – Bauru) e Faculdade de Odontologia da USP-Bauru, que dá continuidade aos estudos iniciados junto à população nipo-brasileira pelo Dr. Magid Iunes, médico da Escola Paulista de Medicina que fez história na docência e nas pesquisas sobre a saúde desta população, principalmente no que se refere ao Diabetes mellitus e às doenças a ela associadas. A história do grupo começa em 1987, quando foi realizado um censo para estimar o tamanho da população de origem japonesa no Brasil, que a partir de então vem realizando pesquisas que permitem o dimensionamento e a análise dos 23 problemas de saúde nos da comunidade nipo-brasileira, com vários tipos de trabalhos, incluindo um grande Estudo Multicêntrico de Diabetes no Brasil, citado por Franco e Malerbi (1992). Em 2002, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) possibilitou ao grupo realizar, com grande êxito, a primeira fase da pesquisa “Diabetes e doenças associadas em nipo-brasileiros”, em Bauru-SP. Os frutos desta pesquisa foram teses de mestrados, doutorados, de livre-docência, publicações em periódicos, além de um grande número de apresentações em Congressos no Brasil e exterior. A segunda fase da pesquisa, semelhante, porém mais abrangente, já foi realizada e os dados obtidos ainda continuam oferecendo rico material para novos estudos. 2.5 SÍNDROME METABÓLICA Segundo Saad, Zanella e Ferreira (2006), esta entidade, inicialmente denominada “Síndrome X” ou “síndrome de resistência à insulina”, é agora conhecida como síndrome metabólica, e aumenta o risco de desenvolver DM do tipo 2, doença cardiovascular aterosclerótica e morte cardiovascular. O rápido crescimento da ocorrência dessa condição nas últimas décadas, bem como de diversas doenças crônicas, tem sido atribuído principalmente às mudanças da composição demográfica, com ênfase para a urbanização e o envelhecimento das populações, bem como às alterações do estilo de vida, sobretudo hábitos alimentares menos adequados e o sedentarismo (LIMA et al., 2006, p.457). 24 Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006), a SM é um transtorno complexo representado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular, usualmente relacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina, devendo ser destacada a sua importância do ponto de vista epidemiológico, responsável pelo aumento da mortalidade cardiovascular estimada em 2,5 vezes. É uma síndrome que ainda se encontra em fase de caracterização e estabelecimento dos pontos de corte para as alterações que a compõem. A World Health Organization (1999) descreveu como ponto de partida para o diagnóstico da SM a avaliação da resistência à insulina ou do distúrbio do metabolismo da glicose, o que dificulta a sua utilização. Porém foi desenvolvida uma definição pelo ATPIII (2001) para uso clínico que não exige a comprovação de resistência à insulina, facilitando a sua utilização e, por sua praticidade, a entidade sugere que o aparecimento de ao menos três dos componentes da Figura 1 confirmam o diagnóstico de SM. Saad, Zanella e Ferreira (2006) admitem que o aparecimento de apenas um dos componentes da SM já aumenta o risco para o aparecimento de doenças cardiovasculares. Obisi e Rossetti (2003) relatam que outros pesquisadores consideram outros componentes importantes da SM, como a inflamação com dano endotelial e a adiposidade visceral, independentemente de o indivíduo ter ou não resistência à insulina, isto porque a insulina tem, dentre outras ações fisiológicas, a modulação da resposta antiinflamatória, mantendo a proteção do endotélio vascular e a regulação do controle da deposição de gordura visceral através de sua ação no hipotálamo. 25 Circunferência Abdominal Homem > 102cm Triglicerídeos HDL-Colesterol ≥ 150mg/dL < 40mg/dL Pressão Glicemia de Arterial Jejum ≥ 130 ou ≥ 110mg/dL ≥ 85mmHg Mulher > 88cm ≥ 150mg/dL ≥ 130 ou < 50mg/dL ≥ 85mmHg ≥ 110mg/dL A presença de Diabetes mellitus não exclui o diagnóstico de SM. Figura 1 – Componentes da Síndrome Metabólica – NCEP-ATP III. Fonte: ARQ. BRAS. CARDIOL., 2006. De acordo com Bahia et al. (2006), independentemente do mecanismo que inicia a lesão endotelial, as alterações características da aterosclerose causam um processo inflamatório crônico nas artérias, aumentando a formação de placas ateroscleróticas participantes da etiopatogenia das doenças cardiovasculares que levam ao aumento da mortalidade a elas relacionada. Mesmo a hiperinsulinemia, que acompanha os quadros de resistência insulínica do DM tipo 2, causa danos endoteliais. Ainda expõem que, além da hiperglicemia e da hiperinsulinemia, a lesão endotelial está associada a muitos outros fatores, dentre eles: − Estresse oxidativo causado pelos complexos enzimáticos NADPHoxidases e NO-sintases desacopladas; − Ação de substâncias pró-inflamatórias como o fator de necrose tumoral e algumas interleucinas pela oxidação da lipoproteína de baixa densidade (LDL); − A ação dos ácidos graxos livre e da endotelina, que tem potente ação vasoconstritora, e é secretada em resposta à secreção de insulina e outras substâncias agonistas. 26 Seguem explicando que a atividade do sistema renina-angiotensina está aumentada nos estados de resistência insulínica, de HA e no curso da aterosclerose. Os componentes deste sistema exercem seus efeitos no endotélio através de inúmeros mecanismos e, por isso, a inibição desse sistema traz benefícios nos estados de resistência insulínica, melhorando a função endotelial e a sensibilidade insulínica. Diagnóstico da Síndrome Metabólica Para a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006), o diagnóstico da SM deve ser feito através da história clínica, exame físico e avaliações laboratoriais como se segue: História clínica: − Idade, tabagismo, prática de atividade física, história pregressa de hipertensão, diabetes, diabetes gestacional, doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, síndrome de ovários policísticos (SOP), doença hepática gordurosa não-alcoólica, hiperuricemia, história familiar de hipertensão, diabetes e doença cardiovascular, uso de medicamentos hiperglicemiantes (corticosteróides, betabloqueadores, diuréticos). Exame físico: − Níveis de pressão arterial aferidos no mínimo com duas medidas da pressão por consulta, na posição sentada, após cinco minutos de repouso; − Medida da circunferência abdominal tomada na metade da distância entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior; − Peso e estatura. Que devem ser utilizados para o cálculo do índice de massa corporal através da fórmula: IMC = Peso/Altura; − Exame da pele para pesquisa de acantose nigricans; − Exame cardiovascular. 27 Exames laboratoriais: − Glicemia de jejum, definida pelos critérios do ATPIII (2001), recomenda para o diagnóstico das alterações da tolerância à glicose apenas a avaliação laboratorial de jejum, não exigindo teste de tolerância oral à glicose (TOTG) nem métodos acurados de avaliação da insulinoresistência; − HDL-colesterol; − Triglicerídeos; − Outros exames laboratoriais adicionais podem ser realizados para melhor avaliação do risco cardiovascular global, tais como: colesterol total, LDLcolesterol, creatinina, ácido úrico, microalbuminúria, proteína C reativa, TOTG (glicemia de jejum e após duas horas da ingestão de 75g de dextrosol), eletrocardiograma. A presença de LDL aumentado não faz parte dos critérios diagnósticos da síndrome metabólica, porém, freqüentemente, os pacientes portadores de resistência à insulina e síndrome metabólica apresentam aumento da fração pequena e densa do LDL-colesterol que tem um potencial aterosclerótico maior. Prevenção primária da Síndrome Metabólica A Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006), em conformidade com a World Health Organization (2006), afirma que os fatores de risco mais importantes para a morbimortalidade relacionada às doenças crônicas não-transmissíveis são: hipertensão arterial sistêmica, hipercolesterolemia, ingestão insuficiente de frutas, hortaliças e leguminosas, sobrepeso ou obesidade, inatividade física e tabagismo. Cinco desses fatores de risco estão relacionados à alimentação e à atividade física, e três deles têm grande impacto no aparecimento da SM. Relata também que a predisposição genética, a alimentação inadequada e a inatividade física estão entre os principais fatores que contribuem para o surgimento 28 da síndrome, cuja prevenção primária é um desafio mundial contemporâneo, com importante repercussão para a saúde, sendo que a adoção precoce de estilos de vida relacionados à manutenção da saúde por toda a população, como dieta adequada e prática regular de atividade física, preferencialmente desde a infância, é componente básico da prevenção da síndrome. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006) sugere que a alimentação adequada deve permitir a manutenção do balanço energético e do peso saudável, como redução da ingestão de calorias sob a forma de gorduras, mudança do consumo de gorduras saturadas para gorduras insaturadas redução do consumo de gorduras trans (hidrogenada), aumentar a ingestão de frutas, hortaliças, leguminosas e cereais integrais, reduzir a ingestão de açúcar livre, reduzir a ingestão de sal (Sódio) sob todas as formas. Recomenda também a realização de atividades físicas, pois é importante para o gasto de calorias e fundamental para o balanço energético e controle do peso. A atividade física regular ou o exercício físico ainda diminuem o risco relacionado a cada componente da síndrome, e trazem benefícios substanciais também para outras doenças. Ao contrário, o baixo condicionamento cardiorrespiratório, a pouca força muscular e o sedentarismo aumentam sua prevalência em três a quatro vezes. O exercício físico reduz a pressão arterial, eleva o HDL-colesterol e melhora o controle glicêmico. Adverte que os exercícios devem ser precedidos de avaliação clínica, ter duração mínima de 30min, de três a cinco vezes por semana, preferencialmente diários, incluindo exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular moderados, devem ser apropriados à faixa etária e associados à redução do tempo do lazer passivo, como televisão, jogos eletrônicos e atividades em computadores. Dá ainda outras recomendações, que incluem a eliminação do tabagismo, através de programas educativos preventivos na comunidade, pois pode contribuir para a prevenção da SM, e a moderação do consumo de bebidas alcoólicas, que podem aumentar os níveis pressóricos, da glicemia e dos triglicerídeos. 29 Tratamento não medicamentoso da Síndrome Metabólica Utilizando-se ainda as recomendações da Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006), o tratamento não medicamentoso deve ser acompanhado pelos membros de uma equipe multiprofissional da saúde e deve incluir: educação alimentar, redução de peso e exercícios físicos. Quando realizados em conjunto, diminuem a circunferência abdominal, com redução da gordura visceral, melhora da sensibilidade à insulina e redução da glicemia, retardo do aparecimento do DM tipo 2 e redução dos níveis pressóricos e dos de triglicérides séricos, com aumento do HDL-colesterol. Tratamento medicamentoso da Síndrome Metabólica A posição dos especialistas brasileiros quanto ao tratamento da SM também foi incluída na I Diretriz de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2005), que é recomendado visando à manutenção de níveis adequados da pressão arterial, de normoglicemia e à sua manutenção em longo prazo, com hemoglobinas glicosiladas em níveis aceitáveis, redução dos níveis séricos dos triglicerídeos e aumento dos níveis de HDLcolesterol. A redução do LDL-colesterol também é desejável, uma vez que contribui para a aterogênese. Ainda segundo essa, estão disponibilizadas diversas drogas com mecanismos de ação diferentes, anti-hipertensivos, antidiabéticos orais e hipolipemiantes, sendo escolhidas pelo médico segundo os quadros apresentados, de acordo com as respostas individuais aos medicamentos, levando em conta benefícios para doenças coexistentes. Os indivíduos que não respondem ao tratamento do DM com antidiabéticos orais devem ser tratados com insulinoterapia, que deverá ser individualizada segundo o grau de alteração glicêmica e a resposta ao tratamento. 30 Alerta ainda que o tratamento medicamentoso da obesidade pode ser utilizado na existência de co-morbidades e quando a diminuição de peso não é alcançada segundo o desejado, sendo desejável a escolha de drogas de boa tolerabilidade e segurança, e que apresente menor incidência de efeitos colaterais. Além do tratamento medicamentoso, alguns pacientes selecionados podem se beneficiar dos tratamentos cirúrgicos. A SM pode também levar a um estado prótrombótico e, para indivíduos com síndrome metabólica de médio e alto risco, deve ser recomendado o uso contínuo de Ácido Acetil-Salicílico (AAS) em baixas doses. Estudar o comportamento dos problemas que compõe a SM é de fundamental importância para sua prevenção, diagnóstico e tratamento. Neste trabalho serão abordados dois elementos da síndrome: as alterações glicêmicas e os níveis de pressão arterial. 2.6 DIABETES MELLITUS O Diabetes mellitus é a principal ameaça à saúde pública global, que está se piorando rapidamente, e o impacto maior aflige adultos em idade produtiva de países em desenvolvimento. Pelo menos 171 milhões de pessoas em todo mundo tem Diabetes. É provável que este número mais que dobre até 2030, alcançando 366 milhões de pessoas (World Health Organization, 2006). A World Health Organization (2006) vem desenvolvendo o Diabetes Program, que tem como missão a prevenção do DM sempre que possível, e, quando não for possível, minimizar suas complicações e maximizar a qualidade de vida. Brasil (2002) relata que as doenças dos vasos – infarto agudo do miocárdio (IAM), morte súbita, Acidente Vascular Encefálico (AVE), edema agudo de pulmão e 31 insuficiência renal crônica – são responsáveis pela primeira causa de mortes, representando 27% do total dos casos. Estas doenças têm sido, desde a década de 1960, mais comuns que as doenças infecciosas e parasitárias (tuberculose, diarréias agudas, broncopneumonias, etc.). Entre as doenças cardiovasculares, as mais prevalentes são o AVE e IAM, que vêm acometendo cada vez mais indivíduos em idades precoces. Para a World Health Organization (2006) o DM, associado às outras condições de risco para a doença cardiovascular, principalmente com a HA, contribui para este aumento da morbidade e mortalidade. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (2002) considera a HA e a dislipidemia, com aumento dos níveis de LDL-Colesterol, aumento dos triglicerídeos e a diminuição do HDL-Colesterol, fatores que aumentam a mortalidade em diabéticos, e recomenda que sejam estabelecidas medidas terapêuticas para controle destas co-morbidades, a fim de não apenas reduzir a mortalidade, mas também diminuir e ou retardar as alterações macro e microvasculares que causam retinopatia, nefropatia, doenças cardiovasculares isquêmicas, além da neuropatia que se instalam insidiosamente no decorrer dos anos. Adverte também que estas alterações podem comprometer a qualidade de vida, diminuir a sobrevida, aumentar os custos para o controle metabólico das doenças, assim como para o tratamento de suas complicações. Segundo Costa e Neto (2004), a prevalência do DM no mundo é variável, e que nos Estados Unidos atinge 5% da população, com incidência anual crescente e atingindo 6% ao ano e que, portanto, a cada 15 anos dobra o número de diabéticos naquele país; no Brasil, a prevalência registrada em estudo multicêntrico realizado entre 1987 e 1989 era de 7,6% e, mais recentemente, 12% na população entre 30 e 69 anos, acometendo nas mesmas proporções homens e mulheres, e tendo a população com mais de 50 anos as maiores porcentagens do total de diabéticos: 32 12% entre 50 e 60 anos, 17% entre 60 e 69 anos e 26% na população próxima aos 85 anos. O Brasil (2002) estima que entre os brasileiros existam de cinco a oito milhões de casos de DM diagnosticados e admite que este número é bem maior, uma vez que em outro estudo multicêntrico foi relatado que 46,5% dos casos diagnosticados não conheciam o fato de serem portadores da doença, fazendo-se necessária a implementação, nos diferentes níveis de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), de medidas para diagnóstico e controle da doença e seus fatores de risco. Estes números, projetados para 2025, deverão atingir 11 milhões e causarão sobrecarga na assistência à saúde da população. O HIPERDIA (Brasil, 2006), um sistema desenvolvido pelo MS para o cadastramento e acompanhamento de hipertensos e diabéticos, demonstra que, em 2000, as causa de morte por doenças cardiovasculares corresponderam a mais de 27% do total de óbitos, ou seja, naquele ano, 255.585 pessoas morreram em conseqüência de doenças do aparelho cardiovascular. Constam na base de dados do HIPERDIA de outubro de 2006 o total de 4.690.079.180 doentes cadastrados, dentre eles 180.179 diabéticos, 44.366 indivíduos com DM Tipo 1 e 135.813 com DM Tipo 2. Dados obtidos no Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do MS indicam um número alto de internações em todo Brasil em decorrência do DM, em 2002. Em Bauru-SP, local de realização desta pesquisa, do total geral de 28.102, houve 315 internações motivadas pelo DM (1,12%), que custaram cada uma delas em média R$430,00, totalizando R$135.450,00 de despesas aos cofres públicos, além de 233 internações por causas circulatórias (0,83%). Para a Associação Brasileira de Diabetes (2003), apesar dos avanços alcançados nos últimos anos referentes ao critério de diagnóstico do DM e das descobertas de novas estratégias de tratamento, estas informações ainda não estão consolidadas para o médico que cuida de pacientes diabéticos, que tem dificuldades de tomar decisões fundamentadas nos preceitos modernos da terapêutica. 33 Definição de Diabetes mellitus Várias são as definições encontradas na literatura para o Diabetes mellitus, porém, fazem freqüentemente referência comum à hiperglicemia associada a outros distúrbios metabólicos e aos distúrbios metabólicos e crônicos por ela causados, um exemplo é a da citação de Gross (2002), que define o DM como um grupo de doenças metabólicas onde ocorre hiperglicemia por problemas na secreção e ação da insulina; esta condição leva à poliúria, emagrecimento, excesso de fome e visão turva, ocasinonando ainda risco de morte por poder levar à Cetoacidose Diabética e Síndrome Hiperosmolar Hiperglicêmica Não Cetótica. A persistência deste quadro por anos leva a problemas em vários órgãos e tecidos, como por exemplo rins, olhos, vasos sanguíneos e coração. A mesma autora segue em seu relato, discorrendo sobre as vantagens das intervenções para o controle metabólico do DM, como o retardo do aparecimento das complicações crônicas. No entanto estas intervenções não têm efeito significativo sobre a redução da mortalidade por doenças cardiovasculares. A autora faz também referência ao Diabetes Gestacional, que aflige 0,3% das gestantes e que as alterações da tolerância à glicose incidem em 7% das grávidas. O MS lançou o “Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão e ao Diabetes mellitus”, que contém a definição elaborada pela entidade. É uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e ou da incapacidade da insulina exercer seus efeitos. Caracteriza-se por hiperglicemia crônica, com distúrbios do metabolismo dos carboidratos, lipídeos e proteínas (MS, 2002. p.14). 34 Classificação do Diabetes mellitus Diabetes mellitus tipo 1 O DM tipo 1 é conseqüente à destruição das células β pancreáticas, e os portadores deste tipo têm propensão à cetoacidose. Ocorre em cerca de 5 a 10% do total de diabéticos. A causa pode ser identificável, como sendo de origem autoimune, ou ainda pode ser idiopática (Sociedade Brasileira de Diabetes, 2002). Bare e Smeltzer (2002) complementam esta definição esclarecendo que, além dos fatores etiopatogênicos genéticos e imunológicos, a interação com fatores ambientais também deve ser considerada. As pessoas não herdam o tipo 1 em si, em vez disso, herdam uma predisposição genética que foi demonstrada em pessoas com determinados tipos de antígenos leucocitários humanos (HLA). A pesquisa da presença de anticorpos contra as células β e contra a insulina endógena é positiva no momento do diagnóstico e nos anos que se seguem. Com a deficiência extrema ou até mesmo total de insulina, os pacientes têm a glicogenólise inibida e ficam propensos à neoglicogênese para obtenção de energia a partir dos aminoácidos e outros substratos. Apresentam-se, em geral, magros no momento do diagnóstico e com cetoacidose (cetoacidose diabética). Este quadro é agravado pela poliúria resultante da diurese osmótica causada pela perda de glicose na urina, podendo levar o indivíduo à desidratação, coma e morte. O tratamento com insulina exógena é imperativo para preservação da vida. Este tipo de DM pode acometer indivíduos em qualquer idade, mas usualmente o faz até os 30 anos. 35 Diabetes mellitus tipo 2 Segundo a Associação Brasileira de Diabetes (2006), em conformidade com os critérios adotados pela World Health Organization (2006), o DM tipo 2 “resulta, em geral, de graus variáveis de resistência à insulina e deficiência relativa da secreção de insulina”; é hoje considerado parte da SM ou resistência à insulina e ocorre em 90% dos pacientes diabéticos. Fujimoto (2000) descreve a resistência insulínica como um estado de redução da sensibilidade à insulina; ocorrendo uma inabilidade da insulina em baixar os níveis de glicemia, uma vez que não consegue impedir a produção hepática de glicose e nem propiciar a utilização da glicose pelos músculos esqueléticos e tecidos adiposos. O DM tipo 2 tem início insidioso, com hiperglicemia de jejum pouco alterada e apresenta baixa prevalência de complicações crônicas, pode ser tratada sem insulina por períodos variáveis de tempo. A maioria das pessoas com este tipo de DM pode herdar de seus familiares uma alteração nos receptores de insulina nas células dos músculos, tecido gorduroso, fígado, o que propicia o aumento da glicemia (COSTA e ALMEIDA NETO, 2004. p.). Estes autores explicam que esta deficiência na ação da insulina provoca um aumento compensatório de sua produção pancreática, conseguindo manter níveis adequados de glicemia de jejum e pós-prandial por longos períodos. Este aumento compensatório pode não persistir e, associado à falta de exercícios físicos, aumento do peso e alimentação inadequada – fatores ambientais –, faz com que ocorram os aumentos das glicemias. Segundo Taboada et al. (2003), alguns autores definem a resistência insulínica pela quantidade absoluta de insulina utilizada pelo paciente diariamente, >200U/dia, mas credita ser mais razoável defini-la pela quantidade relativa ao peso do indivíduo, >2,5U/kg/dia, tomando-se um adulto de 75kg com dose >200U/dia. 36 De acordo com Bare e Smeltzer (2002), ainda que os níveis de insulina estejam diminuídos neste tipo de DM, ela é suficiente para bloquear a clivagem dos lipídeos e concomitante produção de corpos cetônicos; isso evita a Cetoacidose Diabética, complicação aguda do DM tipo 1, mas leva a um quadro grave chamado Síndrome Hiperglicêmica Hiperosmolar Não-Cetótica (SHHNC), que pode culminar em coma e morte. Referem também que este tipo ocorre mais freqüentemente em pessoas com mais de 30 anos e que são obesas, causando fadiga, irritabilidade, poliúria, polidpsia, lesões cutâneas de difícil cicatrização, infecções vaginais e turvação visual se a glicemia estiver muito alta. A maioria é obesa ao diagnóstico e têm a doença detectada por acaso, durante exames de rotina ou quando já apresentam complicações crônicas. Diferente do tipo 1, os pacientes do tipo 2 não fabricam anticorpos contra as células β e insulina, e não necessitam de insulina exógena para a preservação da vida,. Podem ser controlados com alimentação adequada, exercícios físicos e antidiabéticos orais. Sobre a terapia com insulina no tipo 2, explicam que esta pode ser utilizada em combinação com outras modalidades de tratamento, ou em situações especiais, como gestação, estresse fisiológico e emocional, como doença e cirurgia, e também nas gestações, uma vez que os antidiabéticos orais são podem ser utilizados. Diabetes mellitus tipo MODY Costa e Almeida Neto (2004) descrevem o tipo MODY (Maturity Onset Diabetes of the Young) – Diabetes tipo adulto no jovem – como um tipo recentemente descrito, que aparece mais no jovem caucasiano com menos de 25 anos e com história familiar de DM em três gerações. Tem início insidioso, como no DM tipo 2, cursa com diminuição da secreção de insulina e com glicemia de jejum 37 pouco alterada, além da baixa prevalência de complicações crônicas. Ainda que apareça em jovens, que mais freqüentemente sofrem de DM tipo 1, não necessita de insulinoterapia por longos períodos e tem defeitos mínimos na ação insulínica, assim como não fabricam anticorpos contra as células β e insulina. Diabetes gestacional A Sociedade Brasileira de Diabetes (2003) define como “a diminuição da tolerância à glicose, de magnitude variável, diagnosticada pela primeira vez na gestação, podendo ou não persistir após o parto”. Aproximadamente 7,6% das gestantes têm intolerância à glicose ou Diabetes. Outros tipos de diabetes Além dos tipos já descritos, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006) esclarece que o DM pode aparecer secundário a outros problemas de saúde, como no aumento da função das glândulas endócrinas, a exemplo do que acontece no hipertireoidismo, na Síndrome de Cushing, no gigantismo. Pode advir também de doença ou ressecção cirúrgica pancreática e pelo uso de alguns medicamentos hiperglicemiantes, como as cortisonas. 38 Avaliação e estratificação do Diabetes mellitus A classificação das alterações glicêmicas vem sendo alvo de discussão nos últimos anos e tem sido baseada nos critérios da World Health Organization (1999), porém a American Diabetes Association (2003) fez novas recomendações para ao diagnóstico e estratificação das alterações glicêmicas e rebaixou o limite normal de glicemia de jejum para 100 mg/dl (Figura 2). Categoria Glicose em jejum Glicemia normal 2h após sobrecarga oral de 75g de glicose < 100mg/dL < 140 mg/dL 100-125 mg/dL < 140 mg/dL Tolerância à glicose diminuída < 126 mg/dL 140-199 mg/dL DM tipo 2* ≥ 126 mg/dL ≥ 200 mg/dL Glicemia de jejum alterada *ou uso de medicação de controle do DM Figura 2 – Valores de glicose plasmática (em mg/dl) para diagnóstico de DM tipo 2 e seus estágios pré-clínicos. Fonte: American Diabetes Association, 2003. Como observa-se na Figura 2, os pontos de corte para as glicemias de jejum e após 2h de sobrecarga oral de 75g de glicose são utilizados não apenas para definirem os níveis normais de glicemia ou o DM tipo 2, mas inclui também outras duas classes de alterações glicêmicas que refletem a incapacidade do organismo em manter níveis adequados de glicemia, a glicemia de jejum alterada (GJA) e a 39 tolerância à glicose diminuída (TGD), estados intermediários entre a normalidade e o DM. O corte para glicemia preconizado pela World Health Organization (1999) ainda continua sendo utilizado no Brasil, sendo 110mg/dl. Para Kuzuya et al. (2002), o objeto dos estudos epidemiológicos da doença é preferencialmente a população e não os indivíduos e, para a determinação do número de casos do DM e dos graus de resistência à insulina, pode ser aceita a realização de apenas uma dosagem das glicemias de jejum e pós-prandial. Segundo suas recomendações e de Brasil (2002), a avaliação do diabético deve ser realizada através de: − Anamnese, com histórico de saúde e identificação dos fatores dos riscos para DM e doenças cardiovasculares; − exame físico; − avaliação clínico-laboratorial: exame de urina (bioquímica e sedimento), creatinina sérica, potássio sérico, glicemia sérica, colesterol total, e ainda a realização de um eletrocardiograma. Esta avaliação deverá propiciar a identificação de co-morbidades. Prevenção do Diabetes mellitus As estratégias recomendadas por Brasil (2002) para a prevenção do DM e de outras doenças crônicas não transmissíveis, como a HA, estão relacionadas às mudanças dos hábitos e estilos de vida da população e têm como alvos a alimentação, o exercício físico e redução de peso. Para tanto, sugere o incentivo de hábitos alimentares saudáveis, com conhecimento da população sobre alimentação equilibrada, manutenção de peso adequado e benefícios da atividade física. 40 Brasil (2002) relata que o sedentarismo, aliado à alimentação inadequada e ao tabagismo, acarreta não apenas sofrimentos pessoais, mas também custo econômico significativo para a sociedade, uma vez que leva às seqüelas relacionadas às morbidades que causam. Quando associado à alimentação adequada e à redução do consumo de álcool, o exercício físico leva à redução de peso, com diminuição da obesidade andróide, e traz benefícios adicionais na prevenção do DM. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006) sugere a adoção de políticas de prevenção primária, com medidas para o rastreamento do estado pré-diabético (GJA e TGD) e educação da população. Tratamento do Diabetes mellitus Segundo Costa e Almeida Neto (2002), o tratamento do DM deve ser feito com medidas farmacológicas e não farmacológicas. As medidas não farmacológicas são compostas pelas mudanças nos hábitos e estilos de vida, como alimentação adequada, realização de atividades físicas e educação do paciente. A Sociedade Brasileira de Diabetes (2006a) teceu recomendações para que a equipe de saúde estabeleça metas para o tratamento de diabéticos. Estas metas podem ser observadas na Figura 3. 41 Valores Glicêmicos 110 ou 100mg/dl Jejum (ADA,2004) Após as refeições (2h) Glicoemoglobina (%) 140 – 180mg/dL 1% acima do limite superior do método Figura 3 – Metas para o controle glicêmico de diabético. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2006a. Educação Relatos de Grossi (2001) informam que, na literatura, há muitas referências à importância da educação para o manejo do DM e citam existir em frente da Clínica Joslin, nos Estados Unidos, uma pedra esculpida em 1955 com a seguinte frase: "A educação não é somente parte do tratamento do diabetes é o próprio tratamento". Estes autores informam que a importância da educação só foi oficializada em alguns países a partir da década de 1970, e apenas após 1980 a equipe de saúde passou a acreditar na educação como forma de obtenção de controle metabólico da doença. Os mesmos autores definem os objetivos da educação: − Aumentar os conhecimentos sobre diabetes; − Desenvolver habilidades para o autocuidado; − Estimular a mudança de comportamento; 42 − Oferecer suporte para o manejo dos problemas diários decorrentes da doença; − Prevenir as complicações agudas e crônicas da doença. A educação de pacientes com doenças crônicas será abordada mais adiante, visto ser um tema importante para não somente o controle do DM como para demais problemas de saúde abordados neste trabalho. Alimentação Segundo Franz et al. (2002), a dieta a ser recomendada ao diabético deve levar em conta sua individualidade, preferências, cultura, etnia, com o paciente sendo envolvido no processo de elaboração do plano alimentar, cuja meta deve ser melhorar o tratamento da doença através de alimentação adequada. Estes autores advertem que o acompanhamento nutricional deve ser realizado por nutricionista qualificado para o manejo e educação do DM, porém, todos membros da equipe de saúde devem estar educados sobre a terapia nutricional, auxiliando no encorajamento da mudança dos hábitos nutricionais. Para Costa e Almeida Neto (2004), a dieta deve ser constituída dos mesmos elementos de uma nutrição equilibrada normal, com calorias suficientes para reposição do gasto diário e nutrientes básicos e indispensáveis para a manutenção da vida. Recomendam o consumo de fibras alimentares para o auxílio no controle de níveis glicêmicos pós-prandiais, uma vez que retardam a absorção da glicose e da hidrólise do amido, provocando também a redução da hemoglobina glicosilada, cujos níveis baixos refletem o bom controle metabólico da doença. 43 Explicam que as fibras são encontradas em frutas, legumes, hortaliças, trigo e grãos. Outros benefícios são a redução dos níveis séricos de lipídeos, o bom funcionamento intestinal, a diminuição da incidência de câncer de intestino grosso. Brasil (2002) faz outras recomendações, como: − Fracionar as refeições: seis refeições diárias, sendo três grandes e três pequenas para o DM tipo 1, e de quatro a seis refeições ao dia para o tipo 2; − Distribuir harmonicamente os alimentos, evitando grandes concentrações de carboidratos em cada refeição; − Diminuir do consumo de gorduras saturadas e colesterol; − Reduzir da ingestão de frituras em geral; − Reduzir do consumo de carboidratos simples, como o açúcar, o mel, o caldo de cana, o melado, a rapadura e os doces em geral; − Diminuir do consumo de bebidas alcoólicas; − Trocar o açúcar comum por edulcorantes artificiais; − Incluir com cautela alimentos light e diet para diabéticos na alimentação diária, que têm calorias totais reduzidas, em substituição aos alimentos comumente usados e ricos em calorias; − Reduzir do consumo de sal. Exercícios físicos Segundo a World Health Oraganization (2003), os exercícios físicos com duração mínima de 30min ao dia devem ser recomendados sempre que não haja contra-indicações em serem realizados. Este tempo mínimo já permite a redução de risco de doenças crônicas não transmissíveis, dentre elas o DM e a HA. 44 Ramalho (2006) explica que, desde o século 18, o exercício vem sendo defendido como instrumento benéfico no tratamento de pacientes com DM, pois favorece o aumento da captação da glicose pelos tecidos periféricos por aumentarlhes a sensibilidade à insulina, sendo que este efeito pode persistir por 12h ou mais após o término do exercício. Outros efeitos positivos são: − Melhora do desempenho cardiovascular; − Melhora do perfil lipídico, aumentando HDL-colesterol e reduzindo triglicerídeos; − Redução da morbidade e mortalidade em doentes com DM tipo 1 e 2. Ressalta que a cetoacidose, glicemias acima de 250mg/dl, retinopatia diabética e neuropatia em membros inferiores são condições que contra-indicam a realização dos exercícios, e que o controle das glicemias capilares antes e após fazse necessário. Brasil (2002) recomenda atividades físicas moderadas e regulares na maioria dos dias da semana, fracionadas ou não ao longo do dia. Devem ser introduzidas de forma gradativa e sendo respeitadas as condições físicas e os limites do corpo de cada diabético. O paciente deve ser orientado a ingerir líquidos antes, durante e após os exercícios para evitar desidratação, além de ter acesso a carboidratos de fácil absorção caso ocorra hipoglicemia (tabletes de glicose, sucos com açúcar, etc.). Relata também outros benefícios, como: − Redução do peso; − Redução da pressão arterial, importante para pacientes também hipertensos; − Diminuição do estresse; − Retardo em até 58% do aparecimento de complicações crônicas da doença quando praticado regularmente; − Possibilita a redução da dose de insulina diária em pacientes que fazem uso de insulinoterapia. 45 Tratamento medicamentoso Segundo Bare e Smeltzer (2002), os antidiabéticos orais podem ser usados para o tratamento do DM tipo 2, combinados ou não à insulinoterapia. Antidiabéticos orais Segundo Costa e Almeida Neto (2004), os antidiabéticos orais devem ser utilizados em complemento com os exercícios físicos e a alimentação adequada, e podem ser combinados ou não ao tratamento com insulina exógena. São utilizados em monoterapia ou combinados entre si. Estas drogas podem ser as sulfaniluréias e seus derivados, as biguanidas, os inibidores das α-glicosidases, as glitazonas e, recentemente, as metiglinidas, cujos mecanismos de ação diferem de droga para droga, e que em geral são: − Sulfaniluréias: estimulam a secreção de insulina endógena, aumentam o número dos seus receptores celulares no tecido muscular e adiposo e reduzem a produção hepática de glicose; − Biguanidas: potencializam a ação da insulina, aumentam o número de seus receptores celulares, diminuem a produção hepática de sua absorção intestinal; − Glitazonas: potencializam a ação da insulina por aumento do número de seus receptores celulares no tecido muscular e adiposo e diminuem a produção hepática de glicose. Têm como outros benefícios a redução de quantidade diária e número de aplicações de insulina, diminuição modesta da pressão arterial, redução da produção endógena de insulina, retorno da ovulação em mulheres com ovários policísticos que recebem insulina em 46 altas doses e melhora do perfil dos lípides séricos, como a diminuição da trigliceridemia e aumento do HDL-Colesterol. − Inibidores da α-glicosidases: retardam a absorção do amido e glicose; − Metiglinidas: atuam na liberação de insulina pelo pâncreas. Tem como benefícios adicionais a redução do risco de complicações cardiovasculares. De acordo com Brasil (2002), os antidiabéticos orais têm tempos de ação variáveis e podem causar efeitos colaterais indesejáveis segundo a droga utilizada. Relata alguns exemplos de efeitos colaterais indesejáveis, como a hipoglicemia, o aumento de peso, a intolerância digestiva, as reações cutâneas, a leucopenia, a trombocitopenia, a anemia hemolítica, a colestase e a anorexia. Algumas drogas podem ter seus efeitos indesejáveis minimizados, com alguns cuidados, por exemplo, ingerindo os comprimidos às refeições e com aumento gradual das doses. Insulinoterapia Conforme relato de Bare e Smeltzer (2002), os diabéticos do tipo 1 devem receber insulina exógena para manutenção imediata de suas vidas, porém os do tipo 2 apenas receberão insulina exógena caso a terapia não farmacológica e os antidiabéticos orais não estiverem reduzindo satisfatoriamente os níveis glicêmicos, ou então em alguns casos especiais, como doença, infecção, gestação, cirurgia ou outro evento estressante. Também utilizam-se de outra classificação: quanto ao período de tempo, espécie (fonte) e fabricante: 47 − Período de tempo: divididas em insulinas de ação rápida, ação curta, ação intermediária e ação longa, de acordo com o tempo de início de ação, pico máximo de ação e duração da ação; − A forma com que foram obtidas: de origem animal (bovina, suína ou mista), e “insulinas humanas”, que são obtidas por tecnologia de DNA recombinante; − Fabricante: de acordo com o laboratório que a fabricou, sendo que independentemente deste, estas são intercambiáveis, ou seja, podem ser misturadas, desde que sejam do mesmo tipo (ex.: humana, NPH, etc.). Grossi (2001) e Brasil (2002) incluem uma outra classificação: o grau de purificação. As preparações de insulina são altamente purificadas, em particular as humanas; já as de origem animal podem ou não ser monocomponentes (grau máximo de purificação). Relata que para a administração das insulinas podem ser realizadas com seringas e agulhas ou canetas aplicadoras. Costa e Almeida Neto (2004) classificam as insulinas segundo o tempo de ação em: ultra-rápida (Lispro, Aspart), de aparência cristalina; regular (também chamada de Rápida ou Cristalina), de aparência cristalina; lenta (L), de aparência leitosa; NPH (Neutral Protamine-Zinco), de aparência leitosa; e ultra-lenta (U), de aparência também leitosa. Existem ainda as preparações compostas pela associação de mais de um tipo de insulina (ex.: NPH misturada com regular). A estocagem e conservação dos frascos de insulina, a técnica de preparo da dose a ser administrada, a aplicação e possíveis complicações da insulinoterapia devem ser, sempre que possível, ensinadas aos pacientes, sendo estimulada a autoaplicação e o autocuidado. 48 Complicações do Diabetes mellitus Segundo Lima (2006a), as complicações agudas metabólicas do DM são a cetoacidose diabética (CAD), síndrome hiperosmolar hiperglicêmica (SHH) e hipoglicemia, que podem levar à morte devido à gravidade destes quadros. Tanto a CAD como a SHH são resultantes da diminuição ou falta de secreção de insulina associada à liberação dos hormônios contra-reguladores do estresse (cortisol, glucagon, catecolaminas e hormônio do crescimento). A CAD é mais freqüente no DM tipo 1 e a SHH no DM tipo 2, porém ambas podem acontecer nos dois tipos. A hipoglicemia decorre do excesso absoluto ou relativo de insulina, levando à diminuição da glicemia para níveis abaixo de 40 a 50mg/dl associada a sintomas neuroglicopênicos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (2006b), as complicações crônicas do DM são as principais responsáveis pela morbidade e mortalidade dos pacientes diabéticos. As doenças cardiovasculares representam a principal causa de morte (52%) em pacientes diabéticos do tipo 2. As complicações mais freqüentes são a HA e a nefropatia diabética (ND), que acomete 40% dos diabéticos; é a principal causa de insuficiência renal crônica (IRC). A retinopatia diabética (RD) acomete cerca de 40% dos pacientes diabéticos e é a principal causa de cegueira no Brasil (90%). Informa que as amputações de membros inferiores ocorrem cem vezes mais freqüentemente em pacientes com diabetes, e pacientes diabéticos com úlceras nos pés representam a maioria dos pacientes internados em enfermarias dos Serviços de Endocrinologia nos Hospitais Universitários. Embora não haja dados populacionais sobre a prevalência das complicações crônicas do diabetes no Brasil, estima-se que o número seja elevado. 49 2.7 HIPERTENSÃO ARTERIAL A HA foi definida por Brasil (2003) como PAS ≥140mmHg e PAD ≥90mmHg, valores válidos para o adulto que não faz uso de anti-hipertensivo. Admite que níveis ideais de PA seriam: PAS <120mmHG e PAD <80mmHg, e que em um adulto que não faz uso de anti-hipertensivos e sem co-morbidades associadas é considerada normal quando PAS <130mmHg e PAD <85mmHg. Níveis de PAS entre 130 e 139mmHg e PAD entre 85 e 89mmHg são considerados limítrofes. A World Health Organization (2003) relacionou níveis de pressão arterial (PA) elevados com alto risco de desenvolvimento de doença cardiovascular; em 1999 recomendou que a PA sistólica (PAS) fosse mantida abaixo de 160mmHg e a pressão arterial diastólica (PAD) abaixo de 90mmHg, pois havia evidência que assim haveria a redução destes riscos. Este benefício era especialmente importante para mulheres hipertensas e pacientes idosos. Observou que pacientes com nefropatias eram beneficiados quando utilizavam bloqueadores dos receptores de Angiotensina II para tratamento da HA. A World Health Organization (2006) admite que a PAS deve ser controlada e mantida em nível abaixo de 140mmHG, e não mais 160mmHg. Refere que há uma relação direta entre aumentos dos níveis pressóricos e a gravidade dos riscos de doença cardiovascular. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006a) relata que os manguitos dos aparelhos utilizados para medição devem estar de acordo com a circunferência do braço para evitar erros diagnósticos. Recomendou em 2005 que fossem realizadas a Medida Residencial da Pressão Arterial (MRPA) e a Medida Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA), que são importantes ferramentas para o diagnóstico e seguimento do paciente, pois evitam o diagnóstico equivocado de HA que acontece com a medida casual da PA, uma vez que pode ocorrer a chamada “hipertensão do avental branco”, que 50 acontece quando o paciente tem sua PA medida por um profissional e a leitura demonstra níveis aumentados da PA relacionados à tensão emocional. A MRPA é realizada na casa ou no local de trabalho do paciente, por ele próprio ou por pessoa treinada, com três medições matinais e três medições noturnas da PA, durante três dias. “São consideradas anormais as médias de pressão arterial acima de 135/85mmHg”. A MAPA é o registro intermitente da PA através de um aparelho acoplado continuamente ao braço do paciente por 24 horas e que faz leituras em tempos programados. “São consideradas anormais as médias de pressão arterial acima de 24h, vigília e sono acima de 130/80mmHg, 135/85mmHg e 120/70mmHg, respectivamente”. As indicações e as condições para realização da MRPA e MAPA foram estabelecidas através de um consenso entre especialistas da Sociedade Brasileira de Cardiologia (2005) que as redigiram em forma de diretrizes. Segundo a SBC (2006), no ano de 2002, mais de 27,4% do total de mortes no Brasil foram decorrentes das doenças cardiovasculares . Relata que alguns estudos feitos em cidades brasileiras identificaram a prevalência da HA entre 22,3% a 43,9%. O Brasil se encontra entre os países com maior mortalidade para estas doenças. Em 2005 ocorreram 1.1180.184 internações por doenças cardiovasculares, com custo global de R$1.323.775.008,28. Daí a inferência de que o diagnóstico e tratamento precoces da HA diminuiriam as mortes em nosso país, assim como as hospitalizações e gastos com tratamento. Para a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006b), são fatores de risco para HA: a obesidade, o fumo, a idade avançada, o consumo elevado de álcool, o sedentarismo, o excesso de consumo de sal, a etnia – afro-descendentes são mais predispostos a terem hipertensão, principalmente as mulheres, o gênero – homens têm maior risco após os 50 anos e as mulheres após os 60 anos, nível socioeconômico – populações menos favorecidas têm maior risco, e também a predisposição genética. 51 Como a PA retrata as condições funcionais do sistema circulatório, a precisão na sua medida vem-se apresentando como um grande desafio, caracterizado pelas tentativas de diminuir os erros introduzidos pelo observador (pessoa que registra a PA, geralmente enfermeiro e médico), pelo próprio cliente, que pode apresentar aumento dos níveis da pressão arterial devido ao procedimento da medida e a presença do profissional médico, e pelo instrumental utilizado, geralmente escolhido e mantido pelo enfermeiro (ARAUJO; ACURI, 1998. p.21). A Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006a) adverte que as medidas da pressão arterial devem ser feitas por médico e demais profissionais da saúde, devidamente treinados, que utilizem técnica padronizada, a fim de evitarem erros na aferição. O paciente deve ser adequadamente preparado e o equipamento calibrado e apropriado ao paciente. Causas da Hipertensão Arterial De acordo com o US Departament of Health and Human Services (2004), a HA pode ter como causas as doenças crônicas dos rins, a coarctação da aorta, a Síndrome de Cushing, o efeito do uso de drogas, o feocromocitoma, o aldosteronismo primário, as doenças renovasculares, a apnéia do sono, o hipertireoidismo e o paratireoidismo. Segundo Bare e Smeltzer (2002), quando as causas podem ser identificadas, a HA é chamada de Hipertensão Primária, designada de essencial por diversos autores, e representa mais de 95% dos casos; referem-se ainda a ela como “o assassino silencioso”, porque, apesar de muitas vezes não gerar sintomas, provoca agressões crônicas importantes no organismo. 52 Diagnóstico da Hipertensão Arterial Para o diagnóstico da HA, na diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006b), há a recomendações para a avaliação do paciente, com utilização da história clínica, do exame físico, da investigação laboratorial e, se houver suspeita de que a hipertensão se deve a um outro problema de saúde – o que ocorre em menos de 5% dos casos e é denominada Hipertensão Secundária –, uma avaliação mais ampla deve ser indicada. O médico deve avaliar o paciente e tentar identificar estes problemas, que, uma vez tratados, podem induzir a redução dos níveis pressóricos. As co-morbidades também devem ser identificadas. A European Society of Hypertension / European Society of Cardiology (2003) recomendam também a avaliação da história familiar de saúde, uma vez que a HA está muitas vezes está relacionada à predisposição familiar para a doença. Terapêuticas da Hipertensão Arterial Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006b), as informações obtidas na avaliação conduzirão à estratégia individualizada da terapêutica, que deve ser implementada por uma equipe multiprofissional, deve ser formada por médico, enfermeiro, nutricionista, psicólogo, assistente social, professor de educação física, farmacêutico, fisioterapeuta. A equipe deve atuar com ações comuns aos profissionais, como promoção da saúde, treinamento dos profissionais, pesquisa e reuniões com os pacientes e com a equipe. Por ser uma doença multifatorial, a HA é um excelente modelo para o trabalho em equipe. Ações específicas de cada profissão também serão realizadas de acordo com o protocolo sugerido pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006a). Para a European Society of Hypertension / European Society of Cardiology (2003), o objetivo principal do tratamento é reduzir o risco cardiovascular, com a 53 manutenção da PA em níveis pressóricos adequados e controle dos fatores de risco para lesões orgânicas que se instalam ao longo do tempo. Após determinar o grau de risco cardiovascular, o médico deve optar por uma terapêutica individualizada, que deve conter necessariamente a modificação do estilo de vida, segundo o quadro do paciente. Pacientes com risco baixo a intermediário receberão apenas recomendações para esta modificação. Caso não sejam atingidos níveis pressóricos adequados entre seis meses e um ano, deverão receber tratamento farmacológico. Tratamento não farmacológico Segundo Brasil (2002), o tratamento não farmacológico tem como objetivo auxiliar o indivíduo a fazer mudanças em seus hábitos diários, favorecendo o controle da pressão arterial. Incluem alimentação adequada, a prática regular de exercícios físicos regulares apropriados a cada pessoa, emagrecimento e abolição do tabagismo. O plano alimentar é semelhante ao usado no DM, com alimentação equilibrada, e deve incorporar a redução do consumo de sal e bebidas alcoólicas. A ingestão de alimentos ricos em potássio deve ser aumentada, pois previne aumentos da PA e preserva a circulação cerebral. Sobre o plano de exercícios, explica que deve ser individualizado, e propicia, dentre outro benefícios, a redução dos níveis pressóricos, em sinergia ao controle nutricional favorece o emagrecimento. O tabagismo deve ser desestimulado e tratado como uma dependência física. E, por fim, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006b) relata que o estresse provoca reatividade cardiovascular e aumento da PA, e a utilização de técnicas para sua diminuição favorece a queda dos níveis pressóricos. 54 Tratamento farmacológico Para a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006b), os objetivos do uso de drogas para no tratamento da HA vão além do controle dos níveis de PA. Deve favorecer também a redução da morbidade e mortalidade a ela associadas. Brasil (2002) recomenda que a escolha do anti-hipertensivo seja feita levando-se em conta os níveis pressóricos e as co-morbidades existentes; iniciando a farmacoterapia com doses menores do que as preconizadas, com combinações de drogas, que favorece a utilização de doses mais baixas de cada uma delas e também a redução dos efeitos colaterais. Deve-se levar em conta que os melhores efeitos das drogas não são imediatos, e demoram de quatro a seis semanas para ser atingido; avaliar a adesão do paciente ao tratamento antes de mudar a droga prescrita, uma vez que muitos pacientes fazem uso descontinuado das medicações. Segundo Bare e Smeltzer (2002), o médico pode escolher as drogas dentro de um enorme arsenal disponível e usá-las em monoterapia ou combinação. Os medicamentos devem ser individualizados, próprios para cada caso, levando-se em conta, por exemplo, efeitos colaterais, custo, co-morbidades, alcance de níveis desejados de PA. Os mais utilizados são da classe dos diuréticos e substâncias correlatas, inibidores adrenérgicos (agentes periféricos, α-agonistas centrais, α- bloqueadores, β-bloqueadores), bloqueadores α e β combinados, vasodilatadores diretos, inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), bloqueadores do receptor de angiotensina II e os antagonistas do cálcio. A World Health Organization (2002) informa que “estudos para a redução da morbi-mortalidade somente foram demonstrados como o uso de diuréticos e βbloqueadores”. 55 A Sociedade Brasileira de Diabetes (2006a) recomendou que a equipe de saúde estabelecesse metas ao tratamento de indivíduos com HA, devendo manter a PAS < 130mmHg e a PAD < 80mmHg. 2.8 ADESÃO AO TRATAMENTO EM DOENÇAS CRÔNICAS Krakauer (2004) faz considerações importantes em relação à educação do paciente, descrevendo que o processo de educação é lento, gradativo e contínuo, cujo objetivo é tornar o diabético e seus familiares membros ativos de uma grande equipe, fazendo-os assumir mudanças de atitude para o melhor controle glicêmico, e com isso prevenir ou retardar a as complicações agudas e crônicas do DM. Para isso, os profissionais da saúde envolvidos devem saber educar, tendo uniformidade nas informações dadas aos pacientes e familiares, e sabendo a função de cada membro da equipe neste processo. Chieza e Veríssimo (2001) advertem que o modelo de educação em saúde adotado no Brasil é centrado no modelo biomédico, de assistência curativa, com prescrições de conduta, em que o educador, de forma coercitiva, determina aos indivíduos os comportamentos desejáveis relacionados à vivência das doenças e à sua prevenção ao invés de dar conselhos argumentados. A interação comunicativa entre os profissionais e a população é prejudicada em decorrência das diferenças social e cultural entre os profissionais e a população. Mesmo quando propostas atividades chamadas “participativas”, as ações são realizadas através de palestras e aulas, com simples passagem de informações, em que a manifestação e participação do educando se dá apenas através de perguntas sobre o conteúdo exposto, a fim de que lhe sejam tiradas as dúvidas. Os mesmos autores referem que todas as pessoas têm o direito de escolher, de acordo com suas experiência de vida, valores, crenças e emoções, a forma de 56 conduzir a promoção, manutenção e recuperação de sua saúde, e isto entra em desacordo com o desejo de controle sobre as situações dos profissionais. A adesão ao tratamento é definida por Gomes e Oliveira (2004) como “uma colaboração entre o paciente e seu médico, num trabalho cooperativo, para alcançar sucesso terapêutico”. Estimam que o comprometimento adequado ou suficiente com o tratamento de doenças crônicas é de apenas 50%, e esta porcentagem poderia ser maior se houvesse comunicação qualificada por parte do terapeuta. Segundo Semighini (2006), a questão da adesão ao tratamento é discutida mundialmente, uma vez que representa riscos à saúde e implica gastos adicionais com consultas, exames, medicamentos e internações hospitalares; pesquisas demonstram que cerca de 20% das prescrições médicas não são seguidas corretamente, pois o paciente deixa de tomar o medicamento quando sente alívio dos sintomas, não respeita os horários estabelecidos, tem medo de criar dependência ou, ainda, que o medicamento lhe faça mal. O autor adverte que freqüentemente o paciente se automedica ou toma medicações indicadas por um parente, um amigo ou pelo balconista de farmácia; ingere medicações similares porque passou por médicos diferentes e não relatou o que estava tomando. Algumas vezes opta por terapias alternativas e abandona o tratamento. A educação é parte essencial do tratamento e deve constituir um dos deveres dos profissionais da saúde. 57 2.9 DIABETES, HIPERTENSÃO ARTERIAL DE DISLIPIDEMIA EM IMIGRANTES JAPONESES DE 1.ª E 2.ª GERAÇÕES Segundo Fernandes (2001), as tentativas de relacionar o aparecimento do DM a um fator genético simples falharam, dando lugar ao conceito de que a doença é originada pela combinação de fatores genéticos complexos e fatores ambientais. Relata que as mudanças ambientais a que foram e continuam sendo expostos os imigrantes japoneses e seus descendentes mudaram a prevalência da doença nestes indivíduos, das doenças a ele associadas e dos diferentes graus de tolerância à glicose, fato que vem já algum tempo encorajando a realização de pesquisas sobre o assunto. De acordo com Akuma (1996), antes da década de 1980, a prevalência do DM no Japão entre pessoas com mais de 40 anos era de 2-5%, porém pesquisas realizadas na década de 1990, e que utilizavam os critérios da OMS para o diagnóstico, detectaram prevalências maiores que 10% nesta mesma população. Fujimoto et al. (1987) estudaram a população nipo-americana composta de nisseis de idade entre 48 a 79 anos e detectaram que 56% da população estudada tinha alterações glicêmicas – 20% com DM e aproximadamente 36% com TGD. Outro dado observado no estudo é que 13% dos indivíduos não referiram ter DM nas entrevistas e, no entanto, 11,1% tiveram o diagnóstico da doença confirmado durante o estudo, além de 39,2% que tiveram diagnóstico de TGD. Segundo Franco et al. (1994), estudos no Brasil sobre mortalidade demonstraram que o número de mortes relacionadas ao DM em japoneses de primeira geração da população nipo-brasileira é maior do que a encontrada no Japão, sendo 3,4 vezes maior para homens e 7,2 vezes maior para mulheres. 58 Almeida et al. (2005) relatam que estudos epidemiológicos em populações de origem japonesa nas Américas têm demonstrado indivíduos de alto risco para desenvolvimento de doenças como DM, HA e dislipidemia, e, no Brasil, os imigrantes japoneses apresentam uma das maiores prevalências registradas no mundo, que aumentaram de 18%, em 1993, para 36%, em 2002. Este aumento está diretamente relacionado às mudanças dos hábitos e do estilo de vida impostos pela migração. Segundo estudo de Ferreira et al. (1997) junto à comunidade nipo-brasileira com idade entre 53,6 (±8,4) a 65,6 (±9,2) anos, os nisseis apresentavam maior peso corporal do que isseis, com prevalência global de HA de 29,2%, e esta porcentagem não diferia em relação às gerações estudadas. Ferreira et al. (1996) compararam a prevalência de DM tipo 2 em nipobrasileiros com as registradas no Japão. Este estudo foi realizado em Bauru, cidade do interior do Estado de São Paulo. Os pesquisadores concluíram que a prevalência de DM tipo 2 no interior de São Paulo eram maiores que suas prevalências no Japão, e o mesmo foi observado em relação à HA e à dislipidemia. Lerário et al. (2002) avaliou a prevalência de excesso de peso numa amostra representativa da comunidade nipo-brasileira, composta por 530 nipo-brasileiros, com idade entre 40 e 79 anos, de primeira e segunda gerações, que possuíam um perfil de alto risco cardiovascular. Os dados obtidos demonstraram que, apesar de os indivíduos estudados não apresentarem alta prevalência de obesidade, os nisseis apresentaram maior índice de massa corpórea (IMC) quando comparados aos isseis. No entanto, este índice não era expressivamente elevado. Quando foram realizados estudos por tomografia computadorizada da região abdominal, verificouse a existência de deposição visceral de gordura, justificando o perfil cardiovascular desfavorável. 59 Concluíram que a obesidade visceral está diretamente relacionada aos números expressivos de alterações glicêmicas, HA e dislipidemia, principalmente entre os nisseis, muito embora o fenótipo da obesidade não ser característica marcante dos migrantes japoneses residentes nas Américas. Bertolino et al. (2006) estudaram a influência do consumo de ácidos graxos trans no perfil lipidêmico em nipo-brasileiros de 1.ª e 2.ª gerações de Bauru em 1999, cuja população de estudo era constituída de 165 mulheres e 150 homens, com idade entre 40 e 79 anos. Detectaram o consumo de quantidades adequadas de calorias e gorduras saturadas, porém observaram que o consumo de ácidos graxos trans estava muito acima do recomendado e a prevalência de dislipidemia era de 85% nas mulheres e 90% nos homens. Amato et al. (2003) estudaram as manifestações clínicas de doença coronariana e fatores de risco em nipo-brasileiros, 82 homens e 46 mulheres, e observaram que, dentre outros fatores de risco cardiovascular, os dos níveis de pressão diastólica e sistólica. 60 3 OBJETIVOS 3.1 GERAL Determinar a prevalência de indivíduos controlados para glicemia de jejum e pressão arterial na população nipo-brasileira de Bauru com Diabetes mellitus e Hipertensão Arterial. 3.2 ESPECÍFICOS − Quantificar os indivíduos que fazem uso de medicamentos antihipertensivos e medicações para diabetes; − Relacionar os níveis de glicemias de jejum com o uso de medicamentos para controle da glicemia entre indivíduos com DM auto-referida; − Relacionar os níveis de pressões arteriais sistólicas e diastólicas com o uso de medicações anti-hipertensivas entre os indivíduos com HA autoreferida. − Quantificar entre os indivíduos que negaram ter DM, os indivíduos com glicemias de jejum normais e alteradas; − Quantificar entre os indivíduos que negaram ter HA, os indivíduos com níveis pressóricos normais e alterados. 61 4 METODOLOGIA 4.1 CARACTERÍSTICA DO ESTUDO Este é um estudo descritivo e quantitativo de dados selecionados e então cedidos pelo JBDSG, obtidos a partir do estudo "Diabetes mellitus e Doenças Associadas na Comunidade Nipo-Brasileira de Bauru: Segunda Fase”, e que foram digitados em planilhas do software Excel, da Microsoft. 4.2 LOCAL O local de realização das entrevistas, exames clínicos, obtenção dos dados antropométricos e realização de exames laboratoriais foram nas dependências da Faculdade de Odontologia de Bauru-USP; Universidade Sagrado Coração-Bauru e no Centro de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais de Bauru (“Centrinho”). 4.3 PERÍODO Os dados foram coletados no período entre 20 de outubro de 1999 e 2 de dezembro de 2000 e o estudo foi realizado durante o período de novembro de 2006 a junho de 2007. 62 4.4 AMOSTRA Participaram deste trabalho 1.331 nipo-brasileiros que fizeram parte do estudo "Diabetes mellitus e Doenças Associadas na Comunidade Nipo-Brasileira de Bauru: Segunda Fase”, da JBDSG. Para a obtenção do número total de nipo-brasileiros de 1.ª e 2.ª gerações, com idade entre 30 e 79 anos, que se enquadravam no objetivo do estudo, foi realizado um censo durante o primeiro semestre de 1997 que teve como estratégias: 1) contato com os participantes da primeira fase do estudo; 2) contatos telefônicos realizados a partir da seleção de nomes sugestivos de descendência japonesa da lista telefônica local; 3) contatos com líderes da comunidade nipo-brasileira, como o Clube Cultural Nipobrasileiro de Bauru e 4) contato com associações de cultura japonesa. Algumas perdas ocorreram na amostra total por recusa na participação no projeto, viagens, dificuldades para contatar indivíduos e por óbitos ocorridos entre os contatos e a execução do trabalho. 4.5 INSTRUMENTOS Em linhas gerais, os procedimentos adotados para coleta dos dados utilizados neste estudo foram: − Entrevista domiciliar: entrevistadores treinados aplicaram questionários padronizados e previamente testados, visando a obter informações relativas aos aspectos de identificação, sociodemográficos, culturais, de saúde, atividade física e de hábitos alimentares, por meio dos assim 63 denominados: “Questionário de Saúde”, “Questionário Sociodemográfico” e “Questionário Alimentar”; − Entrevista, exame clínico e físico, e coleta de sangue venoso para exames: realizados por equipe de profissionais especializados, em uma única visita do participante ao Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais de Bauru HRAC (“Centrinho”); − Análises laboratoriais (realizadas HRAC): Glicemias de jejum. Os 1.331 indivíduos compareceram em jejum (mínimo de dez horas) ao Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais de Bauru, onde foram submetidos à entrevista e ao exame físico pela equipe médica, além da coleta de sangue venoso para avaliação bioquímica. Durante o exame físico foi feita a antropometria e medidas de pressão arterial, e as avaliações antropométricas foram realizadas pela equipe de nutrição. Foram utilizados formulários elaborados pelo JBDSG para orientarem os pesquisadores na coleta dos dados, que permitiu a obtenção de inúmeras informações sobre a população estudada. No entanto, para este trabalho, foi utilizado um resumo destes formulários, com os itens pertinentes aos objetivos agora traçados (Apêndice 1). 4.6 VARIÁVEIS As variáveis a serem descritas e analisadas neste estudo foram: 64 − Geração: 1.ª (issei), 2.ª (nissei); pressão arterial; uso de medicamentos anti-hipertensivos; uso de antidiabético oral; glicemia de jejum; citação de ter Diabetes mellitus; citação de ter Hipertensão Arterial; citação de ter dislipidemia; citação de fazer tratamento para Diabetes mellitus; citação de fazer tratamento para Hipertensão Arterial; citação de fazer tratamento para dislipidemia; grau do distúrbio dos carboidratos: glicemia de jejum alterada, tolerância à glicose diminuída, Diabetes mellitus. Pressão arterial As aferições da pressão arterial foram realizadas através de aparelho automático (Omron model HEM-712C, Omron Health Care, Inc., USA), aceito pela American Heart Association para fins de estudos epidemiológicos. Três medidas de pressão arterial foram realizadas com adequação do manguito à circunferência braquial. Após cinco minutos de repouso na posição sentada, com o braço direito apoiado na altura do átrio esquerdo, o manguito foi automaticamente insuflado além do valor de oclusão do pulso braquial, e a primeira medida foi efetuada (T1). Outras duas medições ocorreram após cinco (T2) e dez (T3) minutos da primeira. A desinsuflação ocorreu a uma velocidade pré-determinada pelo equipamento. Os valores finais de pressão sistólica e diastólica considerados serão foram aqueles apresentados na terceira aferição (T3), em mmHg, no intuito de evitar a leitura de níveis pressóricos falsamente aumentados (“hipertensão do avental branco”). 65 Variáveis bioquímicas Por ocasião do exame físico, os participantes foram submetidos à coleta de amostras de sangue. A primeira amostra (jejum) de sangue venoso foi obtida para determinação de glicose. A glicose plasmática foi dosada pelo método da glicoxidase e as lipoproteínas por kits enzimáticos. As dosagens foram processadas após o término das coletas e as amostras dos soros foram estocadas para eventuais repetições. 4.7 ESTRATIFICAÇÃO DOS RESULTADOS Neste estudo optou-se por classificar as glicemias de jejum com base nas recomendações da World Health Organization, ainda do ano de 1999 (World Health Organization. 1999), uma vez que os referenciais da época da coleta dos dados desde trabalho estavam de acordo com essas. O indivíduos que não citaram ter DM foram classificados segundo os níveis de glicemia de jejum em: 1) <110mg/dl, 2) nível de 110 a 125mg/dl e 3) ≥126mg/dl. Os indivíduos que citaram ser diabéticos tiveram suas glicemias classificadas em: 1) nível controlado, quando <110mg/dl, e em 2) nível não-controlado, quando ≥110mg/dl. Indivíduos com ou sem diagnóstico de HA foram considerados controlados quando as pressões artérias sistólicas das terceiras aferições – PAS(T3) – apresentaram-se menores que 140mmHg, e as pressões arteriais diastólicas das 66 terceiras aferições – PAD(T3) – menores que 90mmHg, segundo recomendações do ATPIII Panel - Executive Summary of the Third Report of the National Cholesterol Education Program (2001), também vigentes na época da coleta dos dados. 4.8 ASPECTOS ÉTICOS Após a realização da primeira fase do estudo, os indivíduos encontravam-se altamente motivados para participarem da segunda fase. Desse modo, não houve maiores dificuldades em obter a concordância para participação, que foi confirmada através de consentimento por escrito, sendo mantido o caráter confidencial das informações. O estudo do JBDSG que permitiu a obtenção dos dados que serão estudados neste trabalho – “Diabetes Mellitus e Doenças Associadas na Comunidade Nipo-Brasileira de Bauru: Segunda Fase” – e que foram gentilmente cedidos pelo grupo, teve seu projeto encaminhado e aprovado pela Comissão de Ética da UNIFESP. O deferimento da comissão de Ética está anexado a este estudo (Anexo B). Todos os indivíduos receberam os resultados dos exames laboratoriais e aqueles em que foram detectadas alterações que exigiam acompanhamento médico foram encaminhados para serviços de saúde locais. 67 5 RESULTADOS As informações que foram cedidas pelo JBDSG já digitadas em planilha do sotware Excel, da Microsoft, foram trabalhadas no programa estatístico Pacotico (propriedade intelectual do Dr. Eymar Sampaio Lopes). Os resultados foram apresentados em forma de tabelas e gráficos. Alguns campos da planilha do Excel recebida estavam em branco, o que explica algumas diferenças entre o total das mesmas variáveis quando apresentadas em diferentes tabelas. Glicemias Do total de 1.317 indivíduos que tiveram seus níveis de glicemia analisados, 1.169 (89%) referiram não terem a doença, enquanto 144 (11%) admitiram ter a doença (Tabela 1). Tabela 1 – Percentual de respostas da população nipo-brasileira com citação ou não de terem Diabetes mellitus. Bauru – SP, 2002. Total CITAÇÃO DE DIABETES Não cita DM Cita DM Total Fonte: Hirai, 2004 n.° % 1.169 89,0 144 11,0 1.317 100,0 68 Níveis controlados de glicemia de jejum (<110mg/dl) foram observados em 3 (2,1%) dos 144 (11%) indivíduos que relataram terem DM, e todos eles (100%) faziam uso de medicamentos. O número de indivíduos com glicemias maiores que 110mg/dl, e que indicavam o não-controle da doença, foi de 141 (97,9%), sendo que, destes, 30 (20,8%) não tomavam medicamentos e 111 (77,1%) tomavam (Tabela 2). Tabela 2 – Número de indivíduos que citaram terem DM, de acordo com o uso ou não medicamentos para o controle do DM – SP em 2002. Tratamento Controlado (<110mg/dl) Não-controlado (≥110 mg/dl) Nenhum medicamento 0 (0%) 30 (20,8%) Uso de medicamentos 3 (2,1) 111 (77,1%) 3 (2,1%) 141 (97,9%) Total de indivíduos Fonte: Hirai, 2004 Como observado no Gráfico 1, dos 1169 indivíduos que citaram não terem DM, 399 (34,1%) tinham glicemias de jejum inferiores a 110mg/dl; 505 (43,2%) apresentavam glicemias de jejum entre 110 e 125mg/dl (glicemia de jejum alterada), e 263 (22,7%) apresentavam glicemias de jejum maiores que 125mg/dl que pode sugerir o diagnóstico de DM. Portanto 65,9% tinham glicemias acima dos níveis desejados, ou seja, ≥ 110mg/dl. 69 Gráfico 1 – Classificação dos graus de alterações glicêmicas em indivíduos que não citaram ter Diabetes mellitus. Bauru – SP, 2002. 600 505 500 399 400 263 300 200 100 0 at é 109mg/dl 110-125mg/ dl = ou > 126mg/dl Fonte: Hirai, 2004 Dentre os 1169 indivíduos que referiram não terem a doença, apenas 2 (0,2%) faziam uso de medicamentos. Pressão arterial Dos 1331 indivíduos que responderam à indagação de sobre serem ou não hipertensos, 309 (27,3%) citaram não serem portadores desta patologia, enquanto 1021 (76,7%) afirmaram serem hipertensos (Gráfico 2). 70 Gráfico 2 – Proporção de citações em relação à Hipertensão Arterial pela população nipobrasileira de Bauru – SP. 2002. 30 9 (2 7,3%) 10 21 (76 ,7%) Não tenho HA Tenho HA Fonte: Hirai, 2004. Dos 309 indivíduos que citaram ter HA, 53 (17,2%) não faziam uso de medicamentos anti-hipertensivos (AH), e 256 (82,8%) relataram fazer uso de AH. Dentre os 1021 que disseram não ter HA, 1019 (99,8%) referiram não usar medicamentos AH, e 2 (0,2%) referiram fazer uso de AH (Tabela 3). Tabela 3 – Distribuição das citações de indivíduos que dizem ter Hipertensão Arterial e o uso de medicamentos. População nipo-brasileira. Bauru – SP, 2002. Cita não ter HA Cita ter HA Anti-Hipertensivo Não faz uso de medicamentos AH Faz uso de medicamentos AH Total Fonte: Hirai, 2004 n % n % 1019 99,8 53 17,2 2 0,2 256 82,8 1021 100,00 309 100,00 71 Dentre os 1331 indivíduos, 826 (62,0%) apresentaram níveis controlados para PAS (< 140 mmHg) combinados a níveis controlados para PAD (< 90 mmHg). Enquanto isto, 147 (11,0%) apresentaram alterações nestas duas pressões (PAS e PAD). Já 358 (26,9%) apresentaram níveis aumentados em uma das pressões. O número total de indivíduos com alterações pressóricas, seja em uma das pressões (PAS ou PAD), ou ainda das duas combinadas, foi de 505 (37,9%). Dentre os indivíduos controlados, 82 (9,9%) citaram ter HA e usavam medicamentos; 17 (2,0%) citaram ter HA e não usavam medicamentos; 1 (0,1%) negou ter HA e usava medicamentos; e 726 (87,9%) negaram ter HA e não usavam medicamento (Gráfico 3). Gráfico 3 – Relação entre a citação de ser ou não hipertenso e níveis controlados de PA (PAS e PAD). Não tenho HA 800 Tenho HA 726 700 600 500 400 300 200 100 82 1 17 0 Usa AH Não usa AH Fonte: Hirai, 2004 Dentre os indivíduos não-controlados para ambas pressões (PAS e PAD), 9 (6,1%) citaram terem HA e usavam medicamentos AH; 20 (13,6%) citaram HA e não usavam medicamentos HA; 1 (0,7%) negou ter HA porém usava medicamentos; e 117 (79,6%) negaram terem HA e não usavam medicamento (Gráfico 4). 72 Gráfico 4 – Relação entre a citação de ser hipertenso e níveis não-controlados de PA (PAS e PAD). Não tenho HA Tenho HA 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 155 35 20 9 Uso AH N ão Us o AH Fonte: Hirai, 2004 Dentre os 53 indivíduos que citaram ter HA e que não usavam medicamentos AH, as PAS(T3) apresentaram-se controladas em 17 (32,1%), e não controlada em 36 (67,9%). Nestes, as PAD(T3) apresentaram-se controladas em 32 (60,4%), e em 21 (39,6% ) não controladas (Gráfico 5). Gráfico 5 – Distribuição das aferições de PAS(T3) e PAD(T3) em indivíduos que citam ter Hipertensão Arterial mas não usam anti-hipertensivo. Bauru – SP, 2002. 36 40 35 30 controlada não controlada 25 20 17 32 21 15 10 5 0 PAS(T3) Fonte: Hirai, 2004 PAD(T3) 73 Dentre os 256 indivíduos que citaram ter HA e que referiram fazer uso de medicamentos AH, as PAS(T3) apresentaram-se controladas em 91 (35,5%), e nãocontroladas em 164 (64,0%). Nestes, as PAD(T3) estavam controladas em 157 (61,3%), e não controladas em 99 (38,7%) (Gráfico 6). Gráfico 6 – Distribuição das aferições da PAS(T3) e PAD(T3) em indivíduos que citaram ter Hipertensão Arterial e fazem uso de anti-hipertensivo. Bauru – SP, 2002. 180 160 164 157 140 120 100 controlada não controlada 99 91 80 60 40 20 0 PAS(T3) PAD(T3) Fonte: Hirai, 2004 Referiram não terem HA e não usarem anti-hipertensivos 1019 indivíduos. Deste total, 757 (74,3%) apresentaram PAS(T3) controladas e 262 (25,7%) não controladas. As PAD (T3) apresentaram-se controladas em 871 (85,5%) e não controladas em 147 (14,4%) (Gráfico 7). Apenas 2 (0,2%) dos indivíduos que citaram não terem HA fizeram referência ao uso de medicamentos anti-hipertensivos. Gráfico 7 – Distribuição das aferições da PAS(T3) e PAD(T3) em indivíduos que referiram não ter Hipertensão Arterial e não faz uso de anti-hipertensivo. Bauru - SP. 2002. cont rolada não controlada 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 871 757 262 147 PAS(T3) Fonte: Hirai, 2004 PAD(T3) 74 6 DISCUSSÃO 6.1 VALORES GLICÊMICOS DE JEJUM Ao observar os dados das tabelas referentes às glicemias de jejum, verificouse que 89% da população estudada não informaram ter DM, enquanto 11% afirmaram que sim. Porcentagens semelhantes foram descritas por Torquato et al. (2003) que, em estudo para determinar a prevalência de diabetes e intolerância a glicose na população urbana, de 30 a 69 anos, do município de Ribeirão Preto-SP, constataram que a prevalência de diabetes foi de 12,1%, utilizando o ponto de corte de 100mg/dl. Neste trabalho, dentre aqueles que não afirmavam terem DM, apenas 34,1% tinham glicemias de jejum abaixo de 110mg/dl. Percebeu-se que o número de pessoas que desconheciam seu estado de disglicemia é importante, haja posto os riscos que são expostos o indivíduo que não controla este seu estado. Isto também pôde ser observado em estudo de Sakata et al. (2002), que encontraram, dentre 2.006 pacientes, 42,72% sabiam da sua doença e 57,28% que desconheciam o diagnóstico, sendo que o ponto de corte utilizado de glicemia de jejum foi de 126mg/dl. Goldemberg, Schenkman e Franco (2003), em estudo para investigar a prevalência do DM em 2.007 indivíduos de São Paulo, constataram a prevalência 3 a 10%; porém, quando compararam o número de indivíduos com DM auto-referido com número glicemias de jejum com valores aumentados (acima de 100mg/dl – já com novo corte para glicemia de jejum), verificaram que a prevalência dos recém- 75 diagnosticados era da ordem de 50%, e isto indicou proporção de desconhecimento semelhante aos resultados obtidos nos EUA e na Europa. A diferença entre o número de diabetes auto-referido e o número real nestas populações entra em confronto com as recomendações para controle e minimização das complicações do DM sugeridas pelo UK Prospective Diabetes Study Group (1998), que dá ênfase à mudança da qualidade e do estilo de vida, pois o desconhecimento da doença leva ao seu não-tratamento e não-controle. Em estudo de Oliveira (2004), realizado em Ribeirão Preto-SP, o período de latência assintomático do DM tipo 2 variou de 0 a 43 anos e, com isso, sem diagnóstico precoce da doença, os pacientes quando são diagnosticados já sofrem das complicações crônicas, tornando também o tratamento ainda mais difícil. Na população aqui estudada, entre aqueles com DM auto-referido, ou seja, que conheciam seu estado de doença, 65,9% apresentava níveis não-controlados de glicemias de jejum. Portanto, o fato de usarem medicações não levou a normalização das glicemias para níveis ideais de controle. No presente estudo, percebeu-se que a investigação quanto ao tipo de tratamento para o diabetes foi centrada na terapia medicamentosa e não do processo de mudança dos hábitos e estilo de vida, e isto vem na “contramão” das tendências atuais do tratamento do DM. Assunção, Santos e Gigante (2001), em estudo para descrever o cuidar, em nível primário, dos pacientes diabéticos de Pelotas-RS, verificou que houve a inclusão de aspectos educativos, dietéticos e nutricionais ao tratamento, ainda que a maior parte dos pacientes recebessem o tratamento com medicamentos. Os pacientes que faziam acompanhamento da doença em um posto de saúde da cidade recebiam o seguinte atendimento: 28,5% educação dietética e medicamentos; 26,4% apenas medicamentos; 12,7% medicamentos e orientações sobre dieta e exercícios; 10,2% nenhum tratamento; 8,4% apenas dieta; 8,1% medicamentos e orientações sobre exercícios físicos; 3,9% educação sobre dieta e exercícios e 1,8% 76 somente orientações sobre exercícios. Ressalta-se que a maioria tinha o tratamento focado na utilização de medicamentos. Gallego (2005) refere que os diabéticos do tipo 2, com o passar do tempo, necessitam da terapia combinada de ADO para manterem níveis controlados de glicemia e, além disso, podem também necessitar de terapia adjuvante ou substitutiva com insulina, podendo ser utilizada em combinação ou não aos ADO, dependendo do caso clínico de cada paciente. Em estudo de Rodrigues, Lima e Nozawa (2006), 47,5% dos indivíduos se tratavam com ADO; 23,7% se tratavam com insulina e 11,3% com orientações e educação quanto ao tratamento. Assunção, Santos e Gigante (2001) fizeram estudo em 32 Unidades Básicas de Saúde do Sul do Brasil e verificaram 85% dos médicos prescreviam dieta e 72% exercício físico, indicando perfil bastante distinto na conduta terapêutica instituída. A respeito da importância da educação como parte fundamental do tratamento do DM, Cazarini et al. (2002) fizeram um estudo com 66 pacientes diabéticos em Ribeirão Preto-SP, no ano de 2000, para investigarem as dificuldades dos pacientes diabéticos em participarem de um programa de educação para a doença. Justificaram o estudo pelo fato de que o tratamento da doença não deve ser baseado apenas na prescrição dos cuidados, mas sim num processo de educação contínuo e gradual associado às outras terapêuticas. O Projeto "Diabetes Weekend” (2002) afirma que quanto melhor o nível de conhecimento sobre a doença e de suas complicações, melhor a qualidade de vida, menor o número de crises de hipoglicemia, menor o número de internações hospitalares, melhor controle metabólico e maior aceitação da doença. Na pesquisa que deu origem a este trabalho, os níveis da hemoglobina glicada não foram estudados e por isso não fizeram parte das variáveis analisadas neste estudo. Seria desejável ter os níveis de hemoglobina analisados, pois, segundo o UK Prospective Diabetes Study Group (1998), a análise laboratorial da hemoglobina sérica glicada é fundamental no acompanhamento dos diabéticos, 77 porque pode ajudar a equipe a traçar o plano de tratamento da doença, porque reflete seu controle metabólico, e ainda seus níveis aumentados têm relação direta com o aparecimento de complicações crônica do DM. 6.2 VALORES PRESSÓRICOS – PAS(T3) E PAD(T3) O total de indivíduos que afirmaram não serem hipertensos foi de 76,7%, enquanto 27,3% afirmaram não serem. Encontrou-se 62,1% da população com níveis pressóricos acima do desejado. Em estudo realizado em Campo Grande-MS, por Goldenberg (1996), com 892 indivíduos, a prevalência de HA foi de 41,4%, sendo que apenas 69,18% não tinham conhecimento da doença; a hipertensão auto-referida ocorreu em 30,8% da amostra estudada; ainda assim foi um número expressivamente maior do encontrado neste estudo. Este número está no limite inferior da prevalência referida pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006b), que informa ser a prevalência da hipertensão arterial sistêmica no Brasil entre 22,3% a 44%, isto de acordo com a área estudada, havendo predominância das maiores taxas principalmente nos trabalhos mais recentes. Ao revisarmos os estudos da década de 1990 encontramos o estudo Fuchs et al. (1995), que fez referência a outros estudos até então realizados sobre HA no Brasil que estimavam a prevalência da HA entre 20% a 30%. No trabalho destes autores, realizado em Porto Alegre-RS, ao avaliarem a prevalência de HA, encontraram a prevalência de 19,2% pelo critério de corte 160/95mmHg, e 29,8% pelo critério de 140/90mmHg. 78 Em estudo de Lima et al. (1994), realizado em meados da mesma década, a prevalência de HA foi de 24,9% pelo critério de corte 160/95 mmHg. Na população que foi estudada neste trabalho, dentre 1019 indivíduos que referiram não ter HA e que não utilizavam drogas anti-hipertensivas, 262 (25,7%) tinham níveis não-controlados de PAS(T3) e 147(14,4) % de níveis não-controlados de PAD(T3). Portanto, 40,1% demonstraram aumentos na PAS ou PAD, o que leva a conclusão de que o fato de referirem não ser hipertensos não significou que tinham níveis pressóricos controlados, normais, mas pelo contrário, demonstrou que havia uma grande quantidade indivíduos com níveis pressóricos aumentados que desconhecia seu estado de hipertensão. Em estudo mais recente de Sakata et al. (2002), realizado com 625, com corte em 140/90mmHg, a prevalência encontrada em indivíduos com hipertensão auto-referida foi de 60,64% e 39,36% nos que desconheciam serem hipertensos. Souza et al. (2007), em estudo com 882 pessoas adultas da cidade de Campo Grande-MS, com pontos de cortes para HA de 140/90 mmHg, encontraram a prevalência 41,4%, sendo que encontraram aumentos dos níveis pressóricos com o avanço em idade dos indivíduos. No presente trabalho, do total de hipertensos auto-referidos que não faziam uso de anti-hipertensivos, 32,1% tinham as PAS(T3) controladas, porém 67,9% apresentava PAS(T3) aumentadas. As PAD(T3) apresentaram-se, em sua maior parte (60,4%), controladas; porém, a PAD(T3) apresentaram-se elevadas em 39,6%. Com isso podemos inferir que número expressivo de indivíduos necessita de condutas da equipe de saúde para tratamento e normalização dos níveis pressóricos. Quando observadas as porcentagens de indivíduos com HA auto-referida e que faziam uso de drogas anti-hipertensivas, esperava-se que a proporção de indivíduos não-controlados fosse expressivamente menor, posto estarem em tratamento, o que a princípio deveria controlar todos os casos, e, no entanto, 79 encontrou-se 60,4% das PAS(T3) e 39,6% de PAD(T3) não controladas, o que demonstra que o fato de utilizaram drogas não trouxe os benefícios esperados. Apresentaram níveis controlados de PAS(T3) apenas 35,5% dos indivíduos que sabiam ser hipertensos e que se tratavam com medicamentos. Destes, 64,5% não tinham a PAS(T3) controladas. Já os níveis das PAD(T3) estavam com níveis pressóricos menos alterados, com 61,3% dos indivíduos com PAD controladas, e apenas 38,7% não controladas. Conclui-se que, nestes pacientes, os medicamentos não estão diminuindo os níveis pressóricos como desejado, em especial os níveis de PAS. Sobre o fato de terem sido encontrados indivíduos com altos níveis pressóricos sem o conhecimento de seu estado de hipertensão, o trabalho de Souza et al (2007) mostra fato semelhante, onde foram encontrados 30,8% de indivíduos com níveis pressóricos aumentados (>140/90mmHg, segundo a SBHA, 2006) e que desconheciam o fato de serem hipertensos. Os autores relatam também que das pessoas que apresentavam HA, 57,3% faziam tratamento e apenas 39,5% dos hipertensos analisados que faziam tratamento diário com anti-hipertensivos mostraram-se com níveis pressóricos normais. As Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006b) orientam para que haja uma detalhada avaliação clínico-laboratorial do paciente hipertenso, exame físico, com instituição de tratamento individualizado, adequado a cada caso, utilizando-se recursos farmacológicos, com uma ou mais drogas, e não farmacológicos, de forma contínua e monitorada. Não deve haver a instituição de apenas uma modalidade de tratamento, mas uma combinação de recursos para a obtenção da melhora dos níveis pressóricos e diminuição do risco cardiovascular. Lima, Bucher e Lima (2004) descreveram que, para o tratamento da HA, além do uso das drogas prescritas, é necessária a adoção de práticas que possam minimizar os fatores de risco para HA, devendo haver atitudes para mudar antigos comportamentos e adotar novos hábitos. 80 Ainda que o foco deste trabalho esteja centrado no uso de medicação para o controle da PA, para uma melhor compreensão dos efeitos do tratamento sobre os níveis pressóricos na população deste trabalho, seria importante e altamente recomendável se estudar outras variáveis que expressem outras formas de tratamento que não somente o medicamentoso. 81 7 CONCLUSÃO Em linhas gerais, a prevalência de níveis controlados, tanto das glicemias de jejum, quanto dos níveis pressóricos, seguiram os comportamentos das prevalências de estudos semelhantes já realizados. A expectativa de encontrar, se não a totalidade, mas ao menos a maioria dos indivíduos da população estudada com níveis satisfatórios de glicemias e pressões arteriais, sucumbiu às altas prevalências do não-controle. Verificou-se neste estudo uma grande porcentagem de indivíduos que desconheciam o fato de terem glicemias de jejum e pressões arteriais anormalmente aumentadas, e até mesmo aqueles que sabiam ser hipertensos e diabéticos, mantinham, com ou sem tratamento medicamentoso, um mau controle de suas doenças. Apesar dos grandes avanços obtidos nos últimos anos com a farmacoterapia do Diabetes mellitus e da Hipertensão Arterial, viu-se que focar o tratamento nesta modalidade terapêutica poderá não mudar o perfil destas doenças em nosso meio. A população nipo-brasileira é especialmente suscetível a Diabetes Mellitus e à hipertensão, o que a torna alvo das altas prevalências destas doenças e das complicações a elas doenças associadas. Há necessidade, grande e urgente, de aprofundamento dos estudos sobre tratamentos não farmacológicos nesta população, associado à efetivação de ações multiprofissionais, de trabalho em equipe, que levem os doentes e a população de risco às mudanças do estilo de vida e aquisição de hábitos de saúde. 82 REFERÊNCIAS AKUMA, Y. Non-insulin-dependent diabetes mellitus (NIDDM) in Japan. Diabetic Med., v. 13, sup 6, p. 11-12, 1996. ALMEIDA, B. et al. Intervenções na prevenção do Diabetes Mellitus Tipo 2: é viável um programa populacional em nosso meio?. Arq. Bras. Endocrinol., v. 49, p. 479484, ago. 2005. AMATO, R. V. et al. Coronary heart disease clinical manifestation and risk factors in Japanese immigrants and their descendents in the city of São Paulo. Arq. Bras. Cardiol., v. 81, n. 3, p. 234-238, set. 2003. AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Standards of medical care for patients with diabetes mellitus. Diabetes Care. v. 23, sup. 1, p. 32-42, 2000. AOKI, S. et al. 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Part 1: diagnosis and classification of diabetes mellitus, 1999. 88 ANEXO A – CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO “DIABETES MELLITUS E DOENÇAS ASSOCIADAS NA COMUNIDADE NIPO-BRASILEIRA DE BAURU: SEGUNDA FASE” Nome: ________________________________________________________RG:________________ RESPONSÁVEL LEGAL: _____________________________________________RG: _______________ PESQUISADOR: ________________________________CRM: __________I NSTITUIÇÃO:____________ Eu, ___________________________, abaixo assinado ou sob a responsabilidade de meu parente próximo, declaro ter conhecimento do que segue: - dos objetivos desta pesquisa (propósito, duração e condições do estudo); - dos procedimentos necessários para sua realização (visita a um centro médico para exames clínicos e subsidiários); - dos desconfortos ou riscos esperados (coleta de exames subsidiários); - dos benefícios que serão obtidos; - que receberei respostas ou esclarecimentos a qualquer dúvida acerca dos procedimentos, riscos, benefícios e outros assuntos relacionados com a pesquisa e meu trabalho individual; - da liberdade de retirar meu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo, sem que isto me traga qualquer prejuízo; - que não serei identificado e que se manterá o caráter confidencial das informações relativas a minha privacidade; - que obterei informações atualizadas sobre o estudo, ainda que isto possa afetar minha vontade em continuar participando; - da disponibilidade apenas de encaminhamento mas não de tratamento médico, caso haja esta indicação diante dos resultados dos exames a serem realizados. - que os procedimentos da pesquisa não implicarão em gastos pessoais. 89 ANEXO B – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA 90 APÊNDICE A – FORMULÁRIO Formulário que contém os itens selecionados dos formulários da JBDSG segundo objetivos deste trabalho. Data ___ / ___ / ___ Nome: Sexo Masculino Feminino (1) (2) ( ) DN ___ / ___ / ___ Local de Nascimento Caso seja brasileiro (a) de origem japonesa, ele (a) é: Está doente agora, ou está fazendo algum tratamento de saúde? Idade ________anos 1. Japão ( ) 2. Brasil ( ) 3. Outros ( ) 1. Nissei ( ) 2. Sansei ( ) 3. Yonsei ( ) 4. Mestiço ( ) 1. Não sei ( ) 2. Não ( ) 3. Sim ( ) Especificar: Toma algum remédio regularmente? 1. Não ( ) 2. Sim ( ) 91 Especificar: Alguma vez já lhe disseram que tem pressão alta? Atualmente está tomando algum remédio para pressão alta? Algum médico já disse que tem diabetes? Que remédio para diabetes está tomando agora? Atualmente usa insulina para tratamento de diabetes? Atualmente toma algum tipo de comprimido para diabetes? 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3.Não sabe ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 1. Comprimidos ( ) 2. Insulina ( ) 3. Ambos ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) Medicamentos que trouxe ou relata tomar atualmente: 92 Sistólica Aferição 1 PRESSÃO ARTERIAL (mmHg) Aferição 2 Aferição 3 GLICEMIA DE JEJUM ________ mg/dL Diastólica