entomofauna associada às áreas reflorestadas após exploração

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ENTOMOFAUNA ASSOCIADA ÀS ÁREAS REFLORESTADAS APÓS
EXPLORAÇÃO PETROLÍFERA E DE GÁS NATURAL EM URUCU-AM
Telma Fátima Coelho Batista1; Ufra – [email protected]
Benedito Gomes dos Santos Filho2; [email protected]
Ana Emília Tavares Barbosa3; [email protected]
Introdução
Mais de um milhão de espécies de insetos já
foram descritas 10% delas são consideradas
pragas, as quais podem prejudicar as plantas,
animais e o homem (Domingos Gallo, et al.,
2002).
Os danos causados pelos insetos as plantas
são variáveis, e podem ser provocados em
diferentes locais da planta, dependem da
adaptação do inseto a parte da planta a qual
possui maior preferência ou obteve
coevolução.
Esses danos são produzidos de acordo com
a espécie e a densidade populacional da praga,
do estádio de desenvolvimento e estrutura
vegetal atacada e da duração do ataque, isso
favorecerá maior ou menor intensidade. Tais
danos podem ser varáveis de ecossistema para
ecossistema.
Os insetos úteis (predadores e parasitóides)
também são importantes porque favorece a
diminuição do nível populacional do inseto
praga, controlando naturalmente sem a
interferência do homem.
Levantamentos periódicos em áreas
reflorestadas, agrícolas, florestas comerciais,
florestas naturais, campos, entre outros
ecossistemas, são importantes para o
monitoramento das espécies presentes, tanto
de insetos quanto de patógenos causadores de
doenças em plantas. Esse procedimento
possibilita identificar e facilitar a implantação
de manejos integrados para o controle dos que
são pragas de modo que favoreça a
conservação e a permanência dos insetos úteis
que estão na área sem afetar o meio ambiente,
principalmente em se tratando de Floresta
Amazônica.
O presente trabalho objetivou identificar a
entomofauna associada às áreas alteradas que
foi reflorestada pela empresa Petrobras S\A na
Base de Urucu-AM, oriundas das explorações
de petróleo e gás natural, de modo que essa
pesquisa possa subsidiar futuramente métodos
de controle que possam ser realizados de maneira
racional sem que afete a estabilidade do
ecossistema de floresta natural a qual representa a
Floresta Amazônica para mundo.
Material e métodos
As áreas alteradas em estudo ficam localizadas
na unidade da PETROBRAS chamada de UNBSOL, localizada às margens do rio Urucu-AM,
no município de Coari, e distante cerca de 650
Km de Manaus. As áreas são designadas como:
Clareira 02 (Área total: 0,24 ha – Data de
implantação: Dezembro/2002 – Total de mudas:
1.220 - N° de espécies implantadas: 13 –
Localização: S 4º 52’ 43’’e W 65º 20’ 09’’);
Clareira 12 (Área total: 0,58 ha – Data de
implantação: Maio/2001 – Total de mudas: 3.500
- N° de espécies: 22 implantadas – Localização:
S 4º 53’ 13’’e W 65º 09’ 31’’ e os poços de
exploração petrolífera e gás natural LUC 18/22
(Área total: 0,58 ha – Data de implantação das
espécies vegetais: Maio/2001 – Total de mudas:
3.500 - N° de espécies: 22 implantadas –
Localização: S 4º 53’ 13’’e W 65º 09’ 31’’ e o
RUC 7/14/17/18 (Área total: 6,68 ha – Data de
implantação: Outubro/2001 – Total de mudas:
12.015 - N° de espécies vegetais: 26 implantadas
– Localização: S 4º 54’ 16’’e W 65º 19’ 37’). A
média de idade das áreas é de 5 anos.
As espécies vegetais presentes nas áreas
destacam-se: Ingá (Inga edulis), tento (Abarema
jupumba), angico (Anadenanthera peregrina),
palheteira
(Clitoria
fairchildiana),
araçá
(Psidium cattleianum), açaí (Euterpe precatoria),
goiaba de anta (Bellucia grossularoides), angelim
(Dinizia excelsa), jatobá (Hymenaea coubaril),
bacaba (Oenocarpus bacaba), cumaru (Dipteryx
alata), uxi (Eudopleura uchi), lacre (Vismia
brasiliensis), embaúba (Cecropia peltata), matapasto (Acácia sp.), ameixa (Myrcia fallax),
abiurana (Pouteria torta), pau d’arco (Tabebuia
serratifolia), visgueiro (Parkia pendula), buriti
(Mauritia flexuosa), acapurana (Campsiandra
comosa), sucupira (Pterogyne nitens), faveira
orelha de macaco (Enterolobium schomburgkii),
andiroba (Carapa guianensis), mari-mari
(Cassia leiandra), leucena (Leucaena sp.),
pacotê (Cochlosperma orinocens), tachibranco (Sclerolobium paniculatum), ucuúba
(Virola surinamensis) e mungubarana
(Bombacopsis nervosa) (Lorenzi, 1998 e
Lorenzi et al., 2004).
A metodologia utilizada para a coleta da
entomofauna foi através de redes de
varredura. Consiste em uma rede de aro de
metal (30 a 50 cm de diâmetro) preso a um
cabo de madeira (aproximadamente 1 m de
comprimento) que sustenta um saco de pano
resistente em forma de coador com fundo
arredondado. O comprimento desse saco foi
de 1,5 a 2 vezes o diâmetro do aro. Essas
redes foram utilizadas para capturar insetos
em vôo como também os que habitam a
vegetação. A biocoleta constou de 4
amostradores\área.
A
vegetação
foi
preferencialmente varrida pela rede. Após a
coleta os insetos foram acomodados e
transportados em recipientes de plásticos de
boca larga contendo álcool a 80%.
No Laboratório de Microorganismos da
Universidade Federal Rural da Amazônia, foi
realizada a quantificação e a identificação se
deu pelas características morfológicas e
coloração dos insetos seguindo chaves
taxonômicas. Espécies desconhecidas foram
enviadas a especialistas.
Resultados e Discussão
Nas áreas em que foi feito o levantamento
foi observado a presença de entomofauna
bastante diversificada. Foram coletados 431
insetos. Formigas e saúvas não foram
quantificadas, apesar de estarem presentes na
maioria das bioamostras. As espécies e os
gêneros
dos
insetos
identificados
considerados como insetos pragas foram os
seguintes: gafanhotos (Rhammatocerus sp. e
Schistocerca sp.); cigarrinhas (Empoasca sp.,
Deois flavopicta e Deois sp.); besouros
(Cerotoma arcuatus, Diabrotica speciosa,
Lagria vilosa, Paraulaca dives , Sitophilus
sp., e Costalimaita ferruginea); soldadinhos
(Membracis sp.); abelha cachorro (Trigona
spinispes); percevejos (Pachylis pharaonis
Euchistos heros, Pachicoris torridus, Edessa
meditabunda, Thyanta perdictor, e Oebalus
poecilus);
Esperanças
(Microcentrum
rhombifolium e Oxyprora flavicornis) e insetos
da ordem Thysanoptera (Trips sp.).
As espécies de insetos predadores foram:
dermaptero (Doru luteipes); vespa (Polistes sp.),
percevejos (Nabis sp. e outros percevejos
reduvíideos não identificados). Foi observada a
presença de inúmeras aranhas.
Conforme a Fig. 1, nota-se que apesar da
Clareira 02 ser a menor área em tamanho, isso
não interferiu na quantidade de insetos existentes
em relação às áreas de poços que possuem
maiores áreas, ou seja, não houve nenhuma
relação entre tamanho de área x número de
insetos. Observou-se que os números de insetos
presentes nas áreas foram bem equivalentes, a
Clareira 02, por exemplo, e os poços petrolíferos
LUC 18/22 e o RUC 7/14/17/18, apresentaram
104, 151 e 125 insetos, respectivamente, exceto a
Clareira 12 que obteve menor índice, apenas 51
insetos coletados.
Em relação ao total geral dos insetos
encontrados, os poços petrolíferos obtiveram as
maiores porcentagens LUC 18/22 e o RUC
7/14/17/18 com 35% e 29% dos insetos,
respectivamente, enquanto, que as clareiras 02 e
12 tiveram 24% e 12%. Sendo que o poço LUC
18/22, apesar de não ter sido a maior área
avaliada obteve cerca de 300% a mais insetos do
que em relação a clareira 12, que possui 0,58 ha e
obteve apenas51 insetos coletados (Fig. 1). Isso
indica que as espécies vegetais presentes no poço
LUC 18/22 são mais suscetíveis aos insetos, por
isso os atraem mais, ou produzem habitat
favorável e os insetos as preferem somente para
abrigo. Essa hipótese está sendo avaliada porque
índices de desfolhamento estão sendo analisados
para cada área
A maioria dos insetos identificados são insetos
pragas, ou seja, herbívoros, porque se alimentam
de hervas ou plantas, tanto por desfolhamento,
como os besouros, gafanhotos e esperanças que
são mastigadores, como por sucção como os
percevejos, trips e cigarrinhas. Destes 97% dos
insetos coletados provocam danos às plantas,
enquanto que somente 3% foram considerados
insetos benéficos predadores de outros insetos.
Esse resultado é preocupante, porque indica que
atualmente, há a necessidade da implementação e
implantação de ações de controle nas áreas
alteradas em Urucu, porque o índice populacional
de insetos para o controle biológico natural no
ecossistema dessas se encontra muito baixo,
daí a população de insetos pragas está mais
elevada.
A presença da maioria de insetos herbívoros
nessas áreas também pode ser explicada
porque são áreas muito novas, apenas cinco
anos. Essas áreas foram alteradas totalmente
quanto a forma física estrutural e
quimicamente. Isso demanda algum tempo
para as espécies vegetais implantadas
entrarem em equilíbrio novamente, logo, a
ocorrência de insetos pragas e os danos, após
o fechamento da área se tornarão menores,
principalmente devido a presença da
biodiversidade de plantas nas áreas.
Levantamento feito por Risch et al., (1983)
com 150 estudos procurando explicar relações
entre populações de pragas e diversidade de
espécies vegetais, concluiu que em sistemas
diversificados, como é o caso das áreas em
Urucu, houve redução de 53% da ocorrência
de insetos pragas, e em 18% houve
incremento populacional e 20% das espécies
estudadas as respostas foram variáveis.
Segundo Root (1973), pesquisadores que
procuram técnicas ecológicas para o controle
de pragas prevêem a restauração da
biodiversidade, e esperam que a introdução de
uma diversidade selecionada aos ecossistemas
implantados promova a integração de algumas
propriedades das comunidades naturais do
local alterado.
O besouro Cerotoma arcuata, apresentou-se
em altas populações, foi observado cerca de
150 insetos dessa espécie, é um inseto
responsável por grandes desfolhamentos, e
causa um sintoma chamado de rendilhamento
foliar, ou seja, provoca inúmeros furos nas
folhas devido a sua voracidade e reprodução
muito intensa. Sua população apresentou-se
com 62% do total dos insetos coletados. Esse
inseto é considerado praga importante em
várias culturas agrícolas e florestais,
principalmente para as leguminosas.
Foram observados também em várias
espécies de plantas, grandes desfolhamentos
causados por formigas cortadeiras cujo gênero
é o Atta sp. (saúvas).
Dentre as ordens dos insetos identificados
destacam-se a Coleoptera (besouros), pois 241
insetos foram pertencentes a essa ordem, cerca de
56% do total do levantamento; Hemiptera
(percevejos) apresentou-se com 106 insetos e
correspondeu a 25% dos insetos e assim
sucessivamente para Hymenoptera (vespas,
abelhas) 35 insetos e 8%, Orthoptera (esperanças,
gafanhotos) 32 insetos e 7%, Thysanoptera (trips)
14 insetos 3% e Dermaptera (tesourinhas) 3
insetos
representando
apenas
1%
,
respectivamente (Fig. 2).
Dentre as ordens de insetos observadas
Coleptera, Orthoptera e Hemíptera são as que
apresentaram maiores números de insetos que
podem causar danos às plantas, apesar de que
foram encontrados alguns percevejos da Família
Reduviidae (ainda não identificados), que são
predadores porque possuíam o rostro curto e se
alimentam sugando a hemolinfa de outros
insetos, daí terem sido contabilizados como
insetos úteis.
Agradecimentos
Aos órgãos fomentadores como a empresa
Petrobras através da Rede Ctpetro, FINEP e Ufra.
Bibliografia citada
Domingos Gallo; Nakano, O.; Silveira Neto, S.;
Carvalho, R. P. L.; Baptista, G. C.; Berti Filho,
E.; Parra, j. r. P.; Zucchi, R. A., Alves, S. B.;
Vendramim, J. D.; Marchini, L. C.; Lopes, J. R.
S.; Omoto C. 2002. Entomologia agrícola.
Piracicaba: FEALQ. 920 p.
Lorenzi, H. 1998. Árvores brasileiras: manual
de identificação e cultivos de plantas arbóreas
nativas do Brasil. vol. 2. 2 ed. Nova: Odessa, SP:
Instituto Plantarum. 352 p.
Lorenzi, H.; Souza, H. M. de.; Medeiros Costa, J.
T. de.; Cerqueira, L. S. C. de.; Ferreira, E. 2004.
Palmeiras brasileiras e exóticas cultivadas.
Nova: Odessa, SP: Instituto Plantarum. 416 p.
Risch, S. J.; Andow, D.; Altieri, M. A. 1983.
Agroecosystem diversity and pest control: data,
tentative conclusions, and new research
directions. Enviromental Entomology. v.12. p.
625 – 29.
Root, R. B. 1973. Organization of a plant
artropod association in sample na diverse
habitats: the fauna os collards (Brassica
oleracea). Ecological Monografie. v. 43. p. 95124.
151
Nº de insetos (unidade)
160
140
125
120
100
104
80
51
60
40
20
0
LUC 18/22
(2,23 ha)
RUC
Cl. 02 (0,24 Cl. 12 (0,58
7/14/17/18
ha)
ha)
(6,68 ha)
Áreas
Figura 1 – Número de insetos presentes em diferentes áreas alteradas na base petrolífera de Urucu-AM
Nº de insetos (unid.)
300
250
241
200
150
106
100
35
50
32
14
D
er
m
ap
te
ra
Th
ys
an
op
te
ra
O
rth
op
te
ra
H
ym
en
op
te
ra
a
H
em
ip
te
r
C
ol
eo
pt
er
a
0
Ordens
Figura 2 – Ordens e número de insetos fitófagos em áreas alteradas na base petrolífera de Urucu-AM
3
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