PRINCIPAIS PRAGAS DA BANANEIRA E MÉTODOS DE CONTROLE Adalton Raga Engº Agrônomo, Pesquisador Científico. Instituto Biológico, CP 70, 13001-970, Campinas, SP. [email protected] Introdução Bananeiras são plantas monocotiledôneas herbáceas de crescimento vigoroso. A maioria das cultivares e híbridos de bananeira pertencem à Musa acuminata e Musa balbisiana. As cultivares de banana variam grandemente em termos de aspecto da planta e do fruto e também em relação à resistência à doenças e pragas (CRANE & BALERDI, 1998). Em nível mundial, as doenças são consideradas de maior importância econômica para a bananicultura, seguida de nematóides e posteriormente por insetos e ácaros (GOLD et al., 2002). Broca-da-bananeira Cosmopolites sordidus Germar, 1824 (Coleoptera: Curculionidae) A broca-da-bananeira, denominada de Calandra sordida por Germar em 1824, foi enquadrada como Cosmopolites sordidus em 1885. Amplamente distribuída nas regiões produtoras de banana do mundo, sua incidência está mais concentrada entre o trópico de Câncer e o paralelo 38º (SUPLICY FILHO & SAMPAIO, 1982). No Brasil, essa praga foi observada no Rio de Janeiro em 1915 (LIMA, 1956) e está disseminada em todos os estados brasileiros (SILVA et al., 1968). O adulto é um besouro pardo-escuro, quase preto, com tromba, medindo 11 x 4 mm; apresenta élitros estriados e o corpo com pequenos pontos. Tem hábito noturno e durante o dia se abriga próximo ao solo, junto à bainha das folhas, rizoma ou restos vegetais. A longevidade varia de alguns meses até dois anos. Possui hábitos noturnos e permanece escondido durante o dia entre as bainhas das folhas e restos vegetais. As fêmeas, através das mandíbulas, abrem cavidades no rizoma ou na parte basal do pseudocaule, colocando isoladamente entre 10 e 50 ovos, podendo chegar a 100 (Simmonds, 1966). O período de incubação é variável, ocorrendo com maior freqüência entre 5 e 8 dias. As larvas são ápodas enrugadas, com cabeça marrom-avermelhada e o resto do corpo esbranquiçado; medem 12 x 5mm e possuem abdome intumescido e curvado com extremidade anterior do corpo afilada (larva curculioniforme). O período larval oscila geralmente entre 12 22 dias (SUPLICY FILHO & SAMPAIO, 1982; GALLO et al., 2002), podendo chegar a 120 dias. Segundo MESQUITA & ALVES (1983) esta amplitude é influenciada pelas condições climáticas e espécies/cultivares hospedeiras. O pupamento ocorre em galerias próximas à superfície externa do rizoma. 9 A pupa é de coloração branca e livre, medindo 12 x 6 mm. Decorrida aproximadamente uma semana, emerge o adulto. O ciclo evolutivo completo oscila entre 27 a 40 dias (GALLO et al., 2002). A broca-da-bananeira causa prejuízos diretos no bananal, através de galerias que realiza no rizoma e na base do pseudocaule. Em altas populações isto causa um declínio nas plantas e diminuição da produção, perda de peso dos cachos, seca de folhas, podendo chegar a morte. Indiretamente propicia maior susceptibilidade do bananal à ação dos ventos e ainda colabora para a incidência de agentes patogênicos (SUPLICY FILHO & SAMPAIO, 1982; GALLO et al ., 2002). No Vale do Ribeira, o pico populacional ocorre geralmente em abril/maio e com menor intensidade em setembro. As variedades ‘Nanica’ e ‘Nanicão’ são as mais resistentes ao ataque de C. sordidus. Como medidas de controle, devem ser observados os seguintes cuidados: Na implantação - Mudas isentas da praga ou limpeza de mudas através e facão - Mergulhio de mudas em solução de carbofuran 350 SC, na base de 0,4% de produto comercial, durante cinco minutos. Bananal em condução - Limpeza e desbaste - Para o monitoramento, mensalmente, devem ser preparadas de 20 a 30 iscas por hectare. As iscas empregadas podem ser do tipo “telha” ou “queijo”. A isca tipo “telha” consta de pedaços de pseudocaule de 50 cm, cortados ao meio longitudinalmente, sendo colocada a parte cortada voltada para o solo e próxima à touceira. A isca “queijo” é preparada através da secção transversal do pseudocaule, na base, de onde retira-se uma fatia de 5 a 10 cm de altura; em seguida o pedaço é recolocado sobre o pseudocaule original que se manteve junto à touceira. Para ambas as iscas, o pico de atratividade vai até os 15 dias. No período de excesso de chuva e altas temperaturas a vida útil da isca é menor. Estabelecer um nível de controle de 5 adultos/isca/mês. Outra opção para o monitoramento é o emprego de armadilha tipo alçapão (4 armadilhas/ha), contendo o feromônio de agregação denominado cosmolure. O feromônio deverá ser substituído a cada 30 dias. -Para captura massal da broca-da-bananeira deve-se empregar 100 iscas por hectare. Ainda nessas iscas pode-se utilizar inseticidas biológico ou químico (Tabela 1). A eficiência de inseticidas químicos aplicadas em iscas do tipo “telha” e “queijo” foi comprovada por RAGA & OLIVEIRA (1996). A aplicação com a “lurdinha modificada” deve ser feita após a colheita do cacho. O controle biológico é alcançado com a utilização de fungos entomopatogênicos, como Beauveria bassiana, desenvolvido pelo Instituto Biológico. Tripes da banana 10 Palleucothrips musae Hood, 1956 (Thysanoptera: Thripidae) P. musae é a mais importante espécie de tripes, dentre outras que atacam a bananeira, sendo listada como praga quarentenária pela Argentina. Essa espécie de tripes tem tamanho reduzido, asas franjadas e vive nas inflorescências, entre as brácteas do coração e os frutos. Os ovos são colocados sob a cutícula da planta e recobertos por uma secreção que se torna escura. As formas jovens têm movimentos lentos e são de coloração amarela clara. Os adultos são de coloração escura (GALLO et al., 2002). Os prejuízos são causados pela alimentação de ninfas e adultos, causando manchas avermelhadas nos frutos, com superfície áspera e rachaduras. Este aspecto deprecia os frutos e os inutiliza para a exportação (SUPLICY FILHO & SAMPAIO, 1982). Pode-se diminuir a infestação de tripes através da eliminação do coração, após formação do cacho. Associada à esta prática cultural, deve-se proceder o ensacamento e a pulverização dos frutos com inseticidas químicos (Tabela 1). Recomendável ainda a utilização de sacos impregnados com inseticida e o controle de plantas daninhas. Traça-da-banana Opogona sacchari (Bojer, 1856) (Lepidoptera, Lyonetiidae) A traça-da-banana é conhecida em várias regiões úmidas das regiões tropicais e subtropicais. Relatadas anteriormente em ilhas do Oceano Índico e ilhas próximas ao continente africano, foi constatada na década de 70 na Europa e América do Sul. Já foi relatada a sua ocorrência nas Ilha Maurício, Ilhas Canárias, Madagascar, Itália, Bélgica, Holanda, Grã Bretanha, Peru, Barbados e estados Unidos (GOLD et al., 2002), Grécia e Portugal. No Brasil, foi constatada em julho de 1973, no município de Guarujá, sendo que em 1974, levantamentos acusavam a sua presença no litoral sul de São Paulo e Vale do Ribeira (CINTRA, 1975). A incidência dessa praga em partidas de banana restringe a sua exportação para a Argentina. O. sacchari é altamente polífaga e ataca pelo menos 42 espécies de plantas em todo o mundo, incluindo várias espécies de Musa (DAVIS & PEÑA, 1990; GOLD et al. 2002). BERGMANN et al. (1993) constataram pela primeira vez o ataque de O. sacchari em plantas ornamentais no Brasil, infestando dracenas (Dracena fragans) no município de Juquiá (SP). Os ovos da traça-da-banana são diminutos e depositados individualmente em inflorescências frescas e frutos jovens, sendo nestes, de preferência na região estilar. Pode ocorrer a infestação de duas ou três por fruto. À 25ºC, o estágio de ovo dura 7 dias; período larval de 24 dias; período pupal de 11 dias; longevidade dos machos 11 dias e das fêmeas, 12 dias; fecundidade média de 91 ovos (BERGMANN et al., 1995). A larva tem sete instares, com duração total de 50-90 dias. O estágio pupal dura 21 dias. A sua presença é indicada pelo acúmulo de excrementos nas brácteas e no engaço e frutos com maturação antecipada (CINTRA, 1975; GOLD et al. 2002; MOREIRA, 1979). A traça-da-banana também pode se criar no engaço e no pseudocaule, onde é 11 12 Furacarb 100 GR Furadan 100 G Furadan 350 SC Furadan 350 TS Furadan 50 G Ralzer 50 GR Carbaryl Fersol Pó 75 Carbaryl Fersol 480 SC Sevin 480 PM Dipterex Diafuran 50 40 mL/100 L água 1 saco 2a4g 13 a 20 g 2g 40 a 60 g 5g 50 a 80 g 3a5g 1,5 a 2,5 g 1,5 a 2,5 g 400mL/ 100 L água 400mL/ 100 L água 3a5g 3a5g 10 a 15 Kg/ha 1,8 a 2,3 L 130 g/ 100 L água 300 mL/100 L água Dose (P.C.) Cacho Cacho Isca Cova (formação) Isca (condução) Cova (formação) Isca (condução) Cova Isca Isca Isca Muda Muda Isca Isca Cobertura 1000 cachos Cachos Cachos Modo de Aplicação *Fonte: Agrofit/MAPA (wwww.agricultura.gov.br). Consulta em 05/11/20055. Triclorfom Carbaril Carbofuran Calypso Piritilen Cierto 100 GR Counter 150 G Tiacloprid Clorpirifós Fostiazato Terbufós Counter 50 G Produto Comercial (P.C.) Ingrediente Ativo Tabela 1 - Inseticidas registrados para o controle de pragas da bananeira no Brasil* Traça-da-banana Traça-da-banana Broca-da-bananeira Broca-da-bananeira Tripes Tripes Broca-da-bananeira Broca-da-bananeira Praga 30 dias 30 dias 90 dias 90 dias 30 dias 30 dias 14 dias 14 dias 14 dias 7 dias 90 dias 3 dias 7 dias 7 dias 60 dias 3 dias Carência comum o pupamento. Segundo resultados de POTENZA et al. (2000), os inseticidas malatiom, carbaril, diazinom, clorpirifós, acefato, diclorvós e triclorfom apresentaram altos níveis de mortalidade de lagartas de O. sacchari alimentadas com superfícies, em laboratório. Os inseticidas autorizados para o controle da traça-da-banana encontram-se listados na Tabela 1. Referências Bibliográficas BERGMANN, E.C., IMENES, S.D.L., CECCARELLO, V.A. Ocorrência da traça Opogona sacchari (Bojer, 1856) em cultura de dracena. Arq.Inst.Biol. v. 61, n. 1/ 2, p. 60-62, 1993. BERGMANN, E.C., ROMANHOLI, R.C., POTENZA, M.R., IMENES, S.D.L., ZORZENON, F.J., RODRIGUES NETTO, S.M. Aspectos biológicos e comportamentais de Opogona sacchari (Bojer, 1856) (Lepidoptera: Tineidae), em condições de laboratório. Rev. Agric. v. 70, n. 1, p. 41-52, 1995. CINTRA, A.F. Opogona sp. nova praga da bananicultura em São Paulo. Biológico. v. 41, n. 8, p. 223-231, 1975. CRANE, J.H., BALERDI, C.F. The banana in Florida. 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