139 Internacional Journal of Cardiovascular Sciences. 2015;28(2):139-147 ARTIGO ORIGINAL Identificação dos Preditores de Readmissão de Idosos com Síndrome Coronariana Aguda Identification of Readmission Predictors in Elderly Patients with Acute Coronary Syndrome Jaqueline Nagatani Belitardo1,2, Andrea Cotait Ayoub3 Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia - Serviço de Educação Continuada - São Paulo, SP - Brasil Universidade de São Paulo - Programa de Residência em Enfermagem Cardiovascular - São Paulo, SP - Brasil 3 Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia - Divisão de Enfermagem - São Paulo, SP - Brasil 1 2 Resumo Fundamentos: Readmissão em pacientes idosos com síndrome coronariana aguda (SCA) é frequentemente associada à diminuição na capacidade funcional, na qualidade de vida, além de ser indicador de qualidade da assistência hospitalar. Objetivos: Identificar o perfil sociodemográfico e clínico de pacientes idosos com SCA, os preditores de readmissão hospitalar e o tempo que pode influenciar a curva de sobrevida livre de readmissão; descrever os diagnósticos de enfermagem mais prevalentes. Métodos: Estudo retrospectivo, longitudinal, com amostra intencional de pacientes idosos com SCA, baseado em análise retrospectiva dos prontuários no ano de 2012, considerando as variáveis: data de internação, causa, intervalo de tempo entre as reinternações e tempo de internação. Os dados foram expressos em frequências e médias±desvio-padrão. A curva de Kaplan-Meier avaliou a sobrevida livre de readmissão (p<0,05). Resultados: Estudados 75 pacientes idosos com SCA: média de 72,0±8,3 anos, 61,3% masculinos, 89% com hipertensão arterial. Os preditores de readmissão foram: SCA e procedimentos percutâneos. O período entre as readmissões variou de 7-60 dias, sendo 53,5% entre 31-60 dias após a alta hospitalar. Os DE: integridade tissular prejudicada apresentou média de readmissão de 25 dias (p=0,04); mobilidade física prejudicada de 77 dias (p=0,01) e risco de constipação de 86 dias (p=0,02). Conclusões: Características sociodemográficas e clínicas dos idosos com SCA estudados: sexo masculino, média de idade 72 anos, baixa escolaridade, com múltiplas comorbidades. SCA e procedimentos percutâneos foram os mais frequentes preditores de readmissão. Os DE que indicaram possibilidade para readmissão foram: integridade tissular prejudicada, risco de constipação e mobilidade física prejudicada. Palavras-chave: Readmissão do paciente; Indicadores de qualidade em assistência à saúde; Idoso; Síndrome coronariana aguda; Cuidados de enfermagem Abstract (Full texts in English - www.onlineijcs.org) Background: Readmission in elderly patients with acute coronary syndrome (ACS) is often associated with decreased functional capacity and quality of life, besides being an indicator of hospital care quality. Objectives: To identify clinical and sociodemographic profile of elderly patients with ACS, the hospital readmission predictors and the time that may influence the readmission-free survival curve; to describe the most prevalent nursing diagnoses. Methods: Retrospective longitudinal study with purposive sample of elderly patients with ACS based on retrospective analysis of 2012 medical records, considering the following variables: date of admission, cause, time interval between readmissions and hospital length of stay. Data were expressed in frequencies and means ± standard deviation. The readmission-free survival (p <0.05) was evaluated by the Kaplan-Meier curve. Results: Seventy-five elderly patients with ACS were studied: average of 72.0±8.3 years old, 61.3% male, 89,0% with hypertension. The readmission predictors were: ACS and percutaneous procedures. The period between readmissions ranged from 7 to 60 days, where 53.5% ranged from 31 to 60 days after hospital discharge. Nursing Diagnoses (NDs): impaired tissue integrity presented 25-day readmission average (p=0.04); 77 days (p=0.01) for impaired physical mobility, and 86 days (p=0.02) for risk for constipation. Conclusions: Clinical and sociodemographic characteristics of elderly patients with ACS under study: male, mean age of 72 years, low level of education, with multiple comorbidities. ACS and percutaneous procedures were the most frequent readmission predictors. NDs indicating possibility for readmission: impaired tissue integrity, risk for constipation and impaired physical mobility. Keywords: Patient readmission; Quality indicators in health care; Elderly Patients; Acute coronary syndrome; Nursing care Correspondência: Jaqueline Nagatani Belitardo Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 7º andar - Vila Mariana - 04012-180 - São Paulo, SP - Brasil E-mail: [email protected] DOI: 10.5935/2359-4802.20150016 Artigo recebido em 13/10/2014, aceito em 28/01/2015, revisado em 13/02/2015. 140 Belitardo e Ayoub Identificação dos Preditores de Readmissão Introdução Com o aumento da expectativa de vida, a população idosa vem crescendo de forma acelerada. Segundo o DATASUS1, a projeção populacional do idoso com mais de 60 anos, para o ano de 2010 foi de 19 milhões de habitantes, e estima-se que no ano de 2060 esse número aumente, podendo chegar a 73 milhões de idosos. Essa transição demográfica acarretou mudanças no perfil epidemiológico, principalmente de morbidade e mortalidade dessa população, com o declínio progressivo das mortes por doenças infecciosas e a elevação do número de óbitos por doenças crônicas, implicando grandes desafios para os sistemas de saúde2. Atualmente a causa mais comum de morte em indivíduos acima de 65 anos são as doenças crônicas não transmissíveis, destacando-se entre elas, ABREVIATURAS E ACRÔNIMOS as doenças cardiovasculares3. • SCA – síndrome coronariana aguda As doenças do aparelho circulatório são consideradas hoje a terceira causa de •DE – diagnóstico de internação hospitalar. Em 2010, as enfermagem doenças isquêmicas do coração foram responsáveis por 210 046 internações no 4 Brasil , sendo a doença coronariana a causa mais comum da síndrome coronariana aguda (SCA)5. A síndrome coronariana aguda se caracteriza por um grupo de sintomas clínicos compatíveis com isquemia miocárdica aguda. O espectro clínico abrange: angina instável, infarto agudo do miocárdio com elevação do segmento ST e infarto agudo do miocárdio sem elevação do segmento ST6. Estudo internacional7 realizado com 1 271 pacientes com diagnóstico para infarto do miocárdio com elevação ST, durante o período 2006-2011, considerou fatores de risco aumentado para readmissão em 30 dias pós-alta: idade ≥80 anos, diabetes mellitus, dor no peito, parada cardíaca e (o acometimento) de três vasos coronarianos: a artéria coronária direita, a artéria descendente anterior e a artéria circunflexa esquerda encontrados na angiografia inicial7. Além disso, outros estudos sugerem que a readmissão hospitalar pode estar associada a idosos frágeis, com declínio funcional, perda de independência, baixa instrução cognitiva no momento da alta hospitalar, presença de doença cardíaca, principalmente SCA8,9. Nesse contexto, o enfermeiro deve atuar de forma consistente, assegurando a identificação de problemas que orientem o planejamento de intervenções, a prática segura e a resolutividade da assistência. Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(2):139-147 Artigo Original O conhecimento dos diagnósticos de enfermagem, enquanto preditores de reinternação hospitalar, contribui para a implementação de ações precoces que previnem complicações potenciais 10. Observa-se escassez de investigações em âmbito nacional sobre os preditores para a readmissão hospitalar em idosos com SCA. Nesse sentido, torna-se necessário identificar os principais preditores de modo a contribuir para o desenvolvimento de estratégias que a médio e longo prazo, reduzam o número de readmissões. Este estudo tem por objetivos: identificar o perfil sociodemográfico e clínico de pacientes idosos com SCA; identificar os principais preditores de readmissão de idosos com SCA segundo o tempo de readmissão que podem influenciar na curva de sobrevida livre de readmissão; e descrever os diagnósticos de enfermagem mais prevalentes. Métodos Trata-se de estudo retrospectivo, longitudinal, parte do projeto: Readmissão de paciente em hospital cardiológico: ocorrência e assistência de enfermagem. O estudo foi desenvolvido em uma instituição pública hospitalar da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, referência na área cardiovascular. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição sob o nº 4351/2013. Para a identificação dos pacientes readmitidos no ano de 2012, realizada análise retrospectiva dos prontuários no banco de dados do Serviço de Arquivo Médico e Estatístico, considerando as seguintes variáveis: data de internação, causa, intervalo de tempo entre as reinternações e tempo de internação. Adotados os seguintes critérios de inclusão: pacientes >60 anos de idade, internados em qualquer setor do hospital, com diagnóstico médico de SCA na primeira admissão. A amostra foi constituída por 75 pacientes, tendo sido excluídos pacientes cujos prontuários não estavam disponíveis no momento da coleta. As seguintes variáveis foram analisadas: idade, sexo, estado civil, escolaridade, situação trabalhista, comorbidades, diagnóstico médico de SCA, intervalo de tempo entre as readmissões, tempo de permanência hospitalar, número de readmissões, diagnóstico de enfermagem e evolução de enfermagem na alta do paciente. Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(2):139-147 Artigo Original Belitardo e Ayoub Identificação dos Preditores de Readmissão Os diagnósticos de enfermagem da Taxonomia da NANDA11 foram implantados e adaptados para essa instituição desde 1990, progressivamente em todas as unidades, sendo registrados diariamente no prontuário do paciente, possibilitando a evolução ao longo da internação. Consideraram-se 25 diagnósticos de enfermagem diferentes, da taxonomia II da NANDA-I (2009-2011), adaptados para a realidade da instituição, apenas no período da admissão e da alta hospitalar do paciente. Os dados coletados foram analisados pelo programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). As variáveis qualitativas foram expressas em frequências absolutas e relativas; as variáveis quantitativas foram expressas em médias e desvios-padrão. Foi utilizada a curva de KaplanMeier para avaliar as curvas de sobrevida livre de readmissão; para verificar a diferença das curvas foi utilizado o teste de log-rank. O nível de significância adotado foi p<0,05. Resultados No ano de 2012 foram identificados 75 pacientes idosos readmitidos por SCA. A média de idade foi 72,0±8,3 anos, variando de 60-100 anos. Predominaram: sexo masculino (n=46; 61,3%), casados (n=50; 66,7%) e aposentados (n=54; 72,0%). Quanto à escolaridade, 16 (21,3%) tinham ensino fundamental completo e 30 pacientes (40,0%) tinham o ensino fundamental incompleto. Em relação às comorbidades, destacaram-se: hipertensão arterial sistêmica em 67 (89,3%) pacientes, sedentarismo em 47 (62,7%), dislipidemia em 46 (61,3%), diabetes mellitus em 28 (37,3%), estresse em 21(28,0%), tabagismo em 18 (24,0%) e obesidade em 11 (14,7%) pacientes (Tabela 1). Tabela 1 Características sociodemográficas e comorbidades da população estudada Variáveis Idade (média±DP) Sexo Estado civil Escolaridade Situação trabalhista Comorbidades n=75 % Masculino 46 61,3 Feminino 29 38,7 Casado 50 66,7 Viúvo 13 17,3 Separado/Divorciado 8 10,7 Solteiro 4 5,3 Analfabeto 6 8,0 Ensino fundamental incompleto 30 40,0 Ensino fundamental completo 16 21,3 Ensino médio incompleto 1 1,3 Ensino médio completo 12 16,0 Ensino superior incompleto 2 2,6 Ensino superior completo 8 10,7 Aposentado 54 72,0 Do lar 11 15,0 Atividade remunerada 10 13,0 Hipertensão arterial sistêmica 67 89,3 Sedentarismo 47 62,7 Dislipidemia 46 61,3 Diabetes mellitus 28 37,3 Estresse 21 28,0 Tabagismo 18 24,0 Obesidade 11 14,7 72±8,30 141 142 Belitardo e Ayoub Identificação dos Preditores de Readmissão Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(2):139-147 Artigo Original Após a primeira admissão por SCA, as causas de readmissões mais frequentes foram 41,6% por SCA e 25,0% por procedimentos percutâneos. O período entre as readmissões variou de 7-60 dias, sendo que 12,7% em até 7 dias, 22,5% entre 8-15 dias, 38,0% entre 16-30 dias e 53,5% entre 31-60 dias após a alta hospitalar. O tempo de permanência hospitalar na primeira readmissão variou de 1-81 dias, sendo que 66,1% dos pacientes readmitidos permaneceram no hospital no período de até 7 dias, 22,0% de 8-15 dias e 8,5% de 16-30 dias. Dois pacientes ficaram internados de 31-90 dias. Na Tabela 2 são apontados os 25 DE identificados, os quais estão distribuídos de acordo com os domínios. Tabela 2 Distribuição da frequência dos diagnósticos de enfermagem distribuídos por domínio, segundo a admissão e a alta hospitalar dos pacientes estudados Domínios Diagnósticos de enfermagem Admissão n=75 Alta n=75 n % n % Risco de glicemia instável 47 62,7 36 48,0 Volume de líquidos excessivo 8 10,7 8 10,7 Risco de constipação 63 84,0 46 61,3 (Risco) de diarreia 1 1,3 1 1,3 Troca de gases prejudicadas 1 1,3 1 1,3 Déficit no autocuidado para banho 70 93,3 48 64,0 (Risco) para débito cardíaco diminuído 69 92,0 56 74,7 (Risco) de privação de sono 64 85,3 49 65,3 Mobilidade física prejudicada 63 84,0 44 58,7 Privação do sono 4 5,3 3 4,0 Risco de perfusão renal ineficaz 3 4,0 6 8,0 Perfusão tissular periférica ineficaz 2 2,7 2 2,7 Déficit no autocuidado para alimentação 2 2,7 7 9,3 Ventilação espontânea prejudicada 1 1,3 2 2,7 Intolerância à atividade 1 1,3 3 4,0 Percepção / cognição Conhecimento deficiente 4 5,3 15 20,0 Papéis e relacionamentos Processos familiares interrompidos 2 2,7 7 9,3 Risco de infecção 69 92,0 56 74,7 Risco de queda 67 89,3 51 68,0 Risco de integridade da pele prejudicada 53 70,7 36 48,0 Proteção ineficaz 46 61,3 25 33,3 Integridade tissular prejudicada 3 4,0 16 21,3 Integridade da pele prejudicada 1 1,3 3 4,0 Dor aguda 51 68 16 21,3 Dor crônica 1 1,3 2 2,7 Nutrição Eliminação e troca Atividade e repouso Segurança / proteção Conforto Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(2):139-147 Artigo Original No período de admissão, os DE mais prevalentes foram: déficit no autocuidado para banho (93,3%), risco para débito cardíaco diminuído e risco de infecção (ambos com 92,0%), risco de queda (89,3%), risco de privação de sono (85,3%), mobilidade física prejudicada e risco de constipação (84,0%), risco de integridade da pele prejudicada (70,7%), risco de glicemia instável (62,7%) e proteção ineficaz (61,3%). De maneira semelhante, na alta hospitalar, os principais DE identificados foram: risco para débito cardíaco diminuído e risco de infecção (ambos com 74,7%), risco de queda (68,0%), risco de privação do sono (65,3%), déficit no autocuidado para banho (64,0%) e risco de constipação (61,3%), mobilidade física prejudicada (58,7%). Belitardo e Ayoub Identificação dos Preditores de Readmissão Ao analisar a curva de Kaplan-Meier quanto ao tempo de readmissão e a relação com o DE do período de admissão hospitalar, observou-se que pacientes admitidos com o DE: integridade tissular prejudicada podem predizer uma média para readmissão de 25 dias (p=0,04), quando comparados àqueles que não apresentaram esse diagnóstico (Figura 1). Quanto ao período de alta hospitalar foram identificados na análise de log rank dois DE: mobilidade física prejudicada (p=0,01) e risco de constipação (p=0,02). Nesta análise, observou-se uma curva aumentada entre o tempo para ocorrer uma readmissão, cuja média foi 77 dias e 86 dias, respectivamente, demonstrando readmissão tardia para pacientes com esses diagnósticos. Entretanto os pacientes não estão livres de readmissão, conforme apresentado nas Figuras 2 e 3. Figura 1 Curva de sobrevida livre de readmissão dos pacientes admitidos com síndrome coronariana, segundo o DE: integridade tissular prejudicada. Figura 2 Curva de sobrevida livre de readmissão dos pacientes que receberam alta hospitalar, segundo o DE: risco de constipação. 143 144 Belitardo e Ayoub Identificação dos Preditores de Readmissão Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(2):139-147 Artigo Original Figura 3 Curva de sobrevida livre de readmissão dos pacientes que receberam alta hospitalar, segundo o DE: mobilidade física prejudicada. Discussão As características sociodemográficas e clínicas encontradas: idade avançada, sexo masculino, baixa escolaridade e múltiplas comorbidades dos pacientes readmitidos neste estudo estão de acordo com descrições anteriores da literatura12-18. Em relação à taxa de readmissão, observou-se neste estudo uma superioridade quando comparada a outras evidências científicas19,20. Este fato ocorreu por terem sido consideradas readmissões até um ano após a alta hospitalar, não se limitando o tempo para readmissão, como muitas pesquisas internacionais baseadas em taxas de readmissão de até 30 dias12,13,15,21. Segundo o estudo de coorte realizado com 62 394 pacientes com infarto agudo do miocárdio, apenas 19,1% foram readmitidos em 30 dias 12. Entretanto, outro estudo evidenciou que quanto maior o tempo entre uma readmissão e outra, maior será a taxa de readmissão, observando-se uma taxa de 58,6% no período de dois a seis meses22. Quase a metade dos pacientes readmitidos apresentaram SCA (41,6%) como principal causa de readmissão. Estudo semelhante, realizado com 1 271 pacientes, num serviço de emergência nos Estados Unidos, constatou que 43,0% apresentaram como causa principal de readmissão a doença isquêmica do coração7. Outro estudo retrospectivo observacional, realizado na cidade de Nova York com 503 pacientes com diagnóstico de angina instável e/ou infarto agudo do miocárdio, demonstrou que 51,0% dos pacientes foram readmitidos por problemas cardíacos (dor no peito, falta de ar, diminuição da tolerância ao exercício)16. Neste estudo o tempo de permanência hospitalar foi elevado, semelhante ao estudo retrospectivo realizado no hospital público de Hong Kong, com 603 readmissões não planejadas, cuja média de tempo de permanência hospitalar foi nove dias 17. Essa longa permanência hospitalar gera, na maioria das vezes, falta de leitos nos hospitais, influenciando negativamente na resolutividade dos atendimentos, consumindo mais recursos humanos e materiais, tornando-se um desafio para o Sistema Único de Saúde. Os DE observados neste estudo, tanto no período de admissão quanto no período de alta hospitalar, estão de acordo com descrições anteriores da literatura23-25. No entanto, observou-se que em ambos os períodos, admissão ou alta, a maioria desses diagnósticos se repete, fato que deve ser destacado, pois talvez a falta de resolutividade dos mesmos possa ocasionar uma readmissão evitável. A readmissão evitável é aquela que poderia ser evitada se houvesse um melhor gerenciamento no quadro clínico do paciente, acompanhamento domiciliar após a alta hospitalar, planejamento da alta e provisão de recursos que atendam as necessidades do paciente em domicílio26. Pode-se ainda inferir que por ser uma população idosa, comprometida com diferentes comorbidades, os DE possam ser repetidos por essa condição crônico-degenerativa, que Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(2):139-147 Artigo Original implicará intervenção de enfermagem para minimizar as possíveis repercussões. Um estudo realizado com o objetivo de identificar DE relacionados a síndromes geriátricas em idosos hospitalizados selecionou 394 diagnósticos e calculou duas síndromes em média por idoso. Esse dado corrobora o processo de fragilidade do idoso diante da hospitalização, aumentando as chances de complicações e reinternações27. A atenção integral e o estabelecimento de um plano de cuidados exequível e que englobe as esferas de promoção da saúde, prevenção de agravos e manutenção da saúde devem estar presentes nas intervenções de enfermagem a essa população. Pela análise das curvas de Kaplan-Meier e do teste de log-rank observou-se que o aparecimento do DE: integridade tissular prejudicada no período da admissão hospitalar pode predizer uma readmissão do paciente em menos de 30 dias. De acordo com a definição da NANDA11, integridade tissular prejudicada significa dano a membranas mucosas (oral, nasal, ocular, anal, uretral ou vagina), córnea ocular, tecidos subcutâneos (hipoderme), fáscia muscular, músculo, tendão e osso11. A pele é o órgão que mais demonstra sinais de envelhecimento. Nela ocorre a perda do tecido de sustentação, gordura subcutânea e glândulas. Os pacientes idosos com SCA desenvolvem limitação das suas atividades físicas, além de apresentarem a pele mais ressecada e frágil, tornando-se mais vulneráveis ao aparecimento de lesões. Uma revisão integrativa da literatura identificou 22 diagnósticos de enfermagem, 36 intervenções relacionadas a 15 alterações de pele, próprias do processo de envelhecimento 28 . Os DE: integridade da pele prejudicada, integridade tissular prejudicada, mobilidade física prejudicada, risco de infecção, alterações sensoriais/ percepção, perfusão tissular periférica diminuída, incontinência urinária, nutrição desequilibrada, menos do que as necessidades corporais e incontinência urinária, relacionaram-se às alterações de pele próprias do processo de envelhecimento28. Belitardo e Ayoub Identificação dos Preditores de Readmissão significa risco para uma diminuição da frequência normal de evacuar, acrescida da dificuldade decorrente da passagem de fezes duras e secas. Durante o processo de envelhecimento, modificações nas funções sensoriais e na capacidade de mastigação podem interferir no consumo alimentar. A redução da ingesta de carnes, hortaliças e frutas e a preferência por consistências mais pastosas e/ou líquidas podem comprometer o consumo de fibras alimentares, minerais e vitaminas29. Consequentemente, alterações no hábito intestinal podem ser comumente encontradas. Com base em outro estudo, autores corroboram que a intervenção educacional na mudança dos hábitos alimentares, por meio do aumento da ingestão de fibras, como frutas e legumes auxilia na diminuição da gravidade dos sintomas da constipação30. Possivelmente, neste estudo, os pacientes com SCA foram submetidos a procedimentos invasivos (cateterismo cardíaco e angioplastia coronariana), cirurgias cardíacas (revascularização do miocárdio), acrescidos ainda às características clínicas e fisiológicas como perda de independência, atividade física insuficiente, aumento do tempo de permanência no leito durante a internação, motilidade diminuída no trato gastrintestinal ocasionado por jejum prolongado e/ou medicamentos constipantes, mudanças nos padrões habituais de alimentação e o próprio processo do envelhecimento. A promoção da saúde dessa população surge à medida que o enfermeiro utiliza a educação em saúde com ênfase na reeducação alimentar ainda durante o processo de hospitalização, e a atuação conjunta com a equipe da nutrição proporcionará melhor adequação da dieta, melhorando o hábito intestinal29. Neste estudo as intervenções de enfermagem como inspecionar a pele, observar sinais de infecção, estimular a movimentação e deambulação, manutenção da higiene corporal e promoção do aporte nutricional e hídrico, podem evitar o surgimento do DE: integridade tissular prejudicada, visto ser um preditor de readmissão precoce. Quanto às condições clínicas associadas aos idosos, verificou-se a presença de hipertensão arterial sistêmica, sedentarismo, dislipidemia, diabetes mellitus, estresse, tabagismo e obesidade. Esses fatores de risco para SCA podem ter desencadeado a necessidade de cirurgias de revascularização do miocárdio, procedimentos de intervenção percutânea coronariana, além de vários outros exames diagnósticos invasivos e não invasivos que podem ter favorecido menor mobilidade do paciente durante o período de internação. Vale ressaltar que o DE: mobilidade física prejudicada, de acordo com a definição do NANDA11 significa limitação no movimento físico independente e voluntário do corpo ou de uma ou mais extremidades. Ainda na readmissão, outro DE encontrado foi o risco de constipação. De acordo com a definição da NANDA11, Outros fatores que podem estar relacionados à presença desse diagnóstico é o aparecimento de desconforto 145 146 Belitardo e Ayoub Identificação dos Preditores de Readmissão Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(2):139-147 Artigo Original torácico durante o esforço físico, limitando a atividade do paciente devido ao mal-estar físico e o medo do infarto de miocárdio; também podem estar presentes a fadiga, resistência cardiovascular limitada, perda de integridade de estruturas ósseas e força muscular diminuída, resultando no prejuízo da mobilidade. A identificação desses preditores de readmissão hospitalar em idosos com SCA sinalizam áreas de priorização das ações de enfermagem, as quais auxiliam na redução da taxa e frequência das readmissões, impactam na qualidade de vida e capacidade funcional e nos custos do sistema de saúde. Em situações de restrição ao movimento, quando é indicado ao paciente o repouso relativo para diminuir consumo de oxigênio pelo miocárdio, a equipe de enfermagem pode realizar exercícios passivos no leito evitando o desuso e a fadiga muscular. Além do mais, a elaboração do planejamento de alta junto à família e/ou cuidador deve oferecer informações relacionadas às limitações da mobilidade imposta pela própria doença. Ressalta-se que medidas terapêuticas devem ser direcionadas a todos os pacientes com DE identificados na admissão hospitalar. Tais ações possibilitarão possíveis resoluções ou a melhora dos diagnósticos durante o período de internação e inclusive, aqueles identificados durante o processo de alta, reduzindo os riscos de readmissão. Conclusões As principais características sociodemográficas e comorbidades dos idosos com SCA encontradas foram: sexo masculino, média de idade 72 anos, casados, aposentados, baixa escolaridade, com múltiplas comorbidades (hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, sedentarismo, dislipidemias, estresse, tabagismo, obesidade). Os diagnósticos de enfermagem que indicaram uma possibilidade para readmissão, por meio da curva de sobrevida livre de readmissão foram: integridade tissular prejudicada, risco de constipação e mobilidade física prejudicada. O presente estudo apresenta como limitações uma amostra limitada, de período de um ano, com avaliação de registro em prontuário. Recomenda-se que outros estudos sejam realizados, com acompanhamento longitudinal incluindo a assistência domiciliar. Potencial Conflito de Interesses Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes. Fontes de Financiamento O presente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação Acadêmica O presente estudo está vinculado ao Programa de Residência em Enfermagem Cardiovascular da EEUSP/IDPC. Referências 1. 2. 3. 4. Ministério da Saúde [Internet]. Datasus. Indicadores demográficos 2010. [acesso em 2014 dez. 14]. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br> Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes e recomendações para o cuidado integral de doenças crônicas não transmissíveis: promoção da saúde, vigilância, prevenção e assistência. Brasília: Ministério da Saúde; 2008. (Série B. Textos Básicos de Atenção à Saúde) (Série Pactos pela Saúde 2006; v.8). Silva ST, Ribeiro RCHM. Principais causas de internação por doenças cardiovasculares dos idosos na UCOR. Arq Cienc Saúde. 2012;19(3):65-70. Piegas LS, Avezum A, Guimarães HP, Muniz AJ, Reis HJL, Santos ES, et al. Comportamento da síndrome coronariana aguda. Resultados de um registro brasileiro. Arq Bras Cardiol. 2013;100(6):502-10. 5. 6. 7. 8. 9. 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