Apresentação de Jesus no Templo

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Apresentação do Senhor no Templo - Ano C
Hoje, celebramos uma grande festividade, A apresentação de Jesus no templo,
cumprimento da Lei de consagrar o primogênito ao Senhor, é marcada pela exultação do
velho Simeão que ao ver o Menino diz: Meus olhos viram tua salvação, que preparaste em
face de todos os povos, luz para iluminar as nações... (Lc 2,31-32). Trata-se do canto da
iluminação dos povos, através da pessoa e da obra salvífico-universal de Jesus. A luz
simboliza a manifestação de Cristo a revelar seu mistério a todos, sem distinção. O cântico
de Simeão acentua, em contraposição ao templo, lugar tradicional da glória de Deus, que
esta se torna visível agora no Menino, trazido por Maria e José.
Deste modo, Cristo é apresentado por Simeão ao mundo como sacramento do encontro
com Deus. Logo, tal encontro passa necessariamente pela mediação da humanidade de
Jesus. A aceitação deste mistério dá nova dimensão à fé. Constitui-se na absoluta
necessidade de se encontrar Deus, único autor da Salvação, na pessoa divina de Jesus.
A festa de hoje é também identificada com os títulos de Nossa Senhora da Luz, das
Candeias, Lampadosa ou Candelária. Deste modo, Maria é reconhecida como a portadora
daquele que disse: Eu sou a luz do mundo (Jo 9,5b). A mulher vestida de sol (Apc 12,1) dá a
luz á LUZ que as trevas rejeitam (Jo 1,5). Torna-se mãe dos viventes, recriada por seu Filho,
pois a vida era a luz dos homens (Jo 1,4). Não passou despercebida pelo próprio Simeão a
relação Mãe e Filho, na missão que os uniria até no sofrimento: Jesus, sinal de contradição;
Maria com a alma transpassada pelo gládio (Lc 2,34-35).
Livro de Malaquias 3,1-4.
“Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha
frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor, que vós procurais, e o
mensageiro da aliança, que vós desejais. Ei-lo que chega! –, diz o Senhor do universo.
Quem suportará o dia da sua chegada? Quem poderá resistir, quando ele aparecer?
Porque ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras.
Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará,
como se refinam o ouro e a prata. E assim eles serão para o Senhor os que apresentam a
oferta legítima.
Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor como nos dias
antigos, como nos anos de outrora.”
O profeta Miquéia anuncia o Dia de Iahweh que purificará os sacerdotes, denominados
por Filhos de Levi (v.3) e todos os membros do povo (v.4). A purificação se assemelha ao
fogo do fundidor e ao sabão cáustico dos lavadeiros (v.2). É purificação cúltica e ritual. Daí
a alusão ao templo (v.1), aos sacerdotes (v.3) e à oferenda conforme a justiça (vv.3-4). Mas
é também purificação social mais abrangente, em consonância com a Aliança e a Lei, pois a
justiça será feita contra os adivinhos, os adúlteros, os perjuros, os que oprimem o
assalariado, a viúva, o órfão e os que violam o direito do estrangeiro, sem nenhum temor a
Iahweh (v.5).
Carta aos Hebreus 2,14-18.
“Pois, tal como os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Ele partilhou a
condição deles, a fim de destruir, pela sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é,
o diabo, e libertar aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela
escravidão.
Ele, de facto, não veio em auxílio dos anjos, mas veio em auxílio da descendência de
Abraão.
Por isso, Ele teve de assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, para se tornar um Sumo
Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus, a fim de expiar os pecados do povo.
É precisamente porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova, que pode socorrer os que
são postos à prova.”
A Carta aos Hebreus, apresenta a solidariedade salvífica de Cristo para com os homens
pela sua inserção na condição humana (Hb 2,14-18). Tendo por pano de fundo a convicção
de que a redenção foi realizada por Cristo e não pelos anjos (v.5), Ele participou na condição
dos filhos, tendo em comum carne e sangue, a fim de destruir pela morte o Diabo, e libertar
os homens da servidão do temor da morte (v.14-15). Tornou-se em tudo semelhante aos
irmãos para ser, em relação a Deus, um sumo sacerdote misericordioso e fiel, a fim de
expiar o pecado do povo (v.17).
Evangelho segundo S. Lucas 2,22-40.
22
Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a
lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor.
23
Conforme está escrito na lei do Senhor: "Todo primogênito do sexo masculino deve ser
consagrado ao Senhor".
24
Foram também oferecer o sacrifício — um par de rolas ou dois pombinhos — como
está ordenado na Lei do Senhor. 25Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual
era justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com
ele 26e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor.
27
Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino
Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, 28Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a
Deus: 29"Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz;
30
porque meus olhos viram a tua salvação, 31que preparaste diante de todos os povos: 32luz
para iluminar as nações e glória do teu povo Israel".
33
O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele.
34
Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: "Este menino vai ser causa tanto de
queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição.
35
Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te
traspassará a alma".
36
Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de
idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido.
37
Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia
e noite servindo a Deus com jejuns e orações. 38Ana chegou nesse momento e pôs-se a
louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.
39
Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galiléia, para
Nazaré, sua cidade. 40O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de
Deus estava com ele.
Era prescrito que a mãe, quarenta dias depois do nascimento de um filho do sex
masculino, se apresentasse no templo para a purificação. Essa era imposta à mãe, não era
necessario a presença do filho, porém fosse possível, porque todo primogênito pertencia a
iahweh (Mn 18,15), o que era cumprido pelas pessoas piedosas (1Sam 24,28). Portanto
Maria e José, completados os dias da purificação materna, apresenta o Menino, eles visam
cumprir todos as prescrições legais (v.22; Lv 12,2-4), manifestando a abertura do seu lar à
vontade de Deus, mas também à cultura do seu povo. A apresentação da criança equivale a
um ato de consagração ao Senhor (v.23; Ex 13,2, 12,11-12), acompanhada da oferta
sacrifical de um par de rolas ou dois pombinho, que era a oferta dos pobres (v.24; Lv 5,7;
12,8). Lucas, deste modo centraliza a narrativa do primeiro ato cultual de Jesus, através do
rito da consagração do primogênito, na Cidade Santa (v28), à qual da grande importância,
como lugares do acontecimento pascal e ponto de partida da missão cristã (2,38; At 1,4).
Um outro ponto focal do texto é o encontro de Simeão com Jesus. Simeão é uma bela figura
na galeria lucana dos anawim (dos pobres), mencionados junto ao presépio. O velho acolhe
o Menino nos braços. Ele representa o Israel fiel, que esperava com fé ardente a vinda do
Messias para consolar Israle (v.25). Neste encontro a religiosidade sincera do AT si
consolida estreitamente com a do NT . A chegada do Menino no templo, o Espírito Santo do
qual o velho Simeão possuia como diz o texro: “O Espirito Santo estava nele” (v.25), lhe
revela a identidade messiânica da criança. É interessante que nos versos 25-27, Lc sublinha
a ação do Espírito Santo em Simeão, identificando-o quase protótipo dos profetas cristãos. O
canto Nunc Dimittis, siblinha uma profunda piedade, nutrida de um ideal messiânico de
salvação universal. Simeão espera como sentinela a vinda do Salvador, agora o seu serviço
termina em paz com a chegada do Messias (v.29). O velho profetiza a contradição e a dor,
seja para a criança que para a mãe (vv.30-32). Junto à presença masculina, Lc apresenta a
figura de Ana, mulher forte na fé e na piedade cristã. Viveu toda a sua vida no templo,
“servindo Deus dia e noite” vv.36-38), é o tipo de mulher fiel a Deus, que continua a
esperar com jejum e orações, com a dor e o desejo. Também ela espera a redenção de Israel,
entra no templo próprio no momento em que Simeão apresenta o Menino a toda a
humanidade. Tem portanto a graça de ver e reconhecer o rosto de deus na pessoa de Jesus
Cristo.
Apêndice
Dos Padres da Igreja
Acolhamos a luz clara e sempiterna
Ao encontro deste mistério, que celebramos com tanta piedade e veneração, corramos
todos, vamos sem demora. Ninguém deixe de participar deste encontro, ninguém que não
queira trazer esta luz.
Acrescemos também algo ao esplendor dos círios, tanto por mostrar o fulgor divino do
apresentado, por quem tudo rifulge e, afastadas as trevas, tudo se ilumina pela abundância
da luz eterna; quanto mais ainda por manifestar o brilho interior necessario ao nosso
encontro com Cristo.
Do mesmo modo que a Mãe de Deus, Virgem imaculada, trouxe nos braços a verdadeira
luz e se fez presente aos que jaziam nas trevas, igualmente nós, à luz de sua presença, que a
todos ilumina, apresentamo-nos por nos encontrar com aquele que é a verdadeira luz.
Realmente, “a luz veio ao mundo” e espancou as trevas que o cobriam; “e visitou-nos o
Oriente vindo do alto” e resplandeceu para aqueles que se sentavam na escuridão. É nosso
este mistério; por isto, caminhamos com lâmpadas nas mãos; por isto, portadores de luz,
acorramos, simbolizando assim a luz que para nos brilhou; e também como sinal do
esplendor que dele nos virá no futuro. Por este motivo, corramos juntamente, vamos todos
ao encontro de Deus.
Chegou a verdadeira luz, “que ilumina todo homem que vem a este mundo”.
Por isso, irmãos, sejamos todos iluminados, todos refulgentes.
Ninguém deixe de ser iniciado neste esplendor, ninguém continue mergulhado na noite.
Mas adiantemo-nos todos a brilhar, esplêndidos; vamos cheios de luz todos juntos,
acolhamos com o velho Simeão aquela luz clara e eterna; com ele exultantes, cantemos
hinos de ação de graças ao Criador, Pai da luz, que enviou a luz verdadeira, expulsou a
escuridão e nos tornou a todos resplandecentes.
A salvação de Deus, preparada diante da face de todos os povos e manifestada para
nossa glória de novo Israel, também fez com que nós víssemos, a nós que estavamos no
antigo crime; como Simeão, que, tendo visto a Cristo, imediatamente foi liberto dos laços da
vida presente.
Nós também, abraçando pela fé o Cristo de Belém, que veio até nós, de pagãos nos
tornamos povo de Deus (ele é, de fato, a salvação de Deus Pai) e conteplamos com os olhos
de Deus feito carne; e vendo a presença de Deus e tomando-o nos braços da mente,
recebamos o nome de novo Israel e celebramos suas festas anuais, para que nunca nos
esqueçamos daquele que virá.
(Dos sermões de Santo Sifrônio, bispo, Orat.3, de Hypapante, 6.7:PG 87,3)
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