Investimento e Percepção do Empresário

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PESQUISA FECOMÉRCIO DE TURISMO
Investimento e Percepção do Empresário
PESQUISA FECOMÉRCIO DE TURISMO
Investimento e Percepção do Empresário
Investimento e Percepção do Empresário
de Florianópolis e Balneário Camboriú em relação
à infraestrutura turística da temporada de verão 2014
2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO4
BALNEÁRIO CAMBORIÚ5
Perfil dos entrevistados5
Problemas da temporada5
Avaliação da infraestrutura turística10
DEPOIMENTOS DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ 11
FLORIANÓPOLIS14
Perfil dos entrevistados14
Problemas da temporada14
Avaliação da infraestrutura turística19
DEPOIMENTOS DE FLORIANÓPOLIS20
CONSIDERAÇÕES FINAIS23
ANEXO I - CRUZAMENTOS BALNEÁRIO CAMBORIÚ24
Setores24
Tamanho da empresa25
ANEXO II - CRUZAMENTOS FLORIANÓPOLIS26
Setores26
Tamanho da empresa27
3
INTRODUÇÃO
O verão é a estação em que o Litoral de Santa Catarina demonstra na sua plenitude
toda a sua vocação para a atividade turística. Local de belas praias, o Estado se consolidou, na
última década, como um dos principais destinos de turistas, tanto do Brasil como do exterior.
No entanto, a temporada de verão de 2014 registrou sérios problemas na infraestrutura dos
principais destinos turísticos do Estado: Florianópolis e Balneário Camboriú. Com o forte
aumento do número de visitantes, os dois municípios não foram capazes de absorver este
incremento sem o registro de reclamações. Falta de luz e água foram comuns, trazendo um forte
debate em torno da infraestrutura turística do litoral catarinense. Por este motivo, a Federação
do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina (Fecomércio SC), com o intuito
de identificar a dimensão destes problemas e o impacto trazido para a atividade empresarial,
realizou uma pesquisa com os empresários de Balneário Camboriú e Florianópolis.
A investigação ocorreu entre os dias 14 e 17 de janeiro de 2014. Foram entrevistados
340 empresários dos setores de hotéis, bares e restaurantes, com estabelecimentos localizados
nas praias do Norte da ilha de Florianópolis e na Praia Central em Balneário Camboriú. Neste
contexto foi selecionada uma amostra probabilística e estratificada por setor pesquisado que
apresenta margem de erro de 5% e nível de confiança de 95%.
Foram realizadas entrevistas telefônicas assistidas por computador - CATI (Computer
Assisted Telephone Interviews), com pesquisadores treinados e questionários estruturados
desenvolvidos pelo Núcleo de Economia e Pesquisa da Fecomércio SC. Foram aplicadas 33
perguntas, sendo 27 fechadas (respostas múltiplas e únicas) e seis abertas. Os dados foram
processados eletronicamente e receberam tratamento estatístico.
4
BALNEÁRIO CAMBORIÚ
Perfil dos entrevistados
Tipo de estabelecimento
%
Hotel
11,90%
Pousada
1,50%
Restaurante
48,50%
Bar
38,10%
Tempo de existência
%
Menos de 1 ano
3,90%
De 1 a 5 anos
18,70%
De 6 anos a 10 anos
21,70%
Acima de 10 anos
55,70%
Considera que o tamanho do estabelecimento é:
%
Pequeno Porte
38,40%
Médio Porte
47,80%
Grande Porte
13,80%
Número de funcionários
%
Até 10 funcionários
37,44%
De 10 a 30 funcionários
43,84%
De 30 a 50 funcionários
13,30%
Acima de 50 funcionários
5,42%
Problemas da temporada
Como foi recorrentemente noticiado, Balneário Camboriú sofreu com problemas
ligados à infraestrutura pública durante a temporada. Para identificar quais foram os problemas,
perguntou-se ao empresário se o seu estabelecimento enfrentou dificuldades ou sofreu prejuízos
decorrentes de infraestrutura pública.
5
Como mostra o gráfico abaixo, o maior problema observado em Balneário Camboriú foi
com a distribuição de água no munícipio: 52,2% dos empresários deram essa resposta. Depois,
vieram os problemas decorrentes da falta de energia elétrica, com 44,3% das respostas; 19,7%
responderam que não tiveram nenhum problema. Na sequência, 11,8% tiveram outros problemas
diversos, 4,9% problemas com os acessos a seu estabelecimento, entre eles problemas com
estacionamento e grandes congestionamentos, e, por fim, 3% responderam que tiveram problemas
relacionados à segurança. Iluminação pública e acesso a deficientes físicos não tiveram respostas.
Problemas enfrentados nesta temporada
44,3%
19,7%
11,8%
Não teve
nenhum problema
0,0%
Sim, com
iluminação pública
4,9%
Sim, nas vias
de acesso ao
estabelecimento
0,0%
Sim, com falta
de acessibilidade
à deficientes
Sim, com assaltos
e/ou violência urbana
Sim, com falta
de energia
Sim, com
distribuição de água
3,0%
Teve outros
problemas
52,2%
Para saber se os problemas relacionados aos serviços públicos são recentes ou
recorrentes, foi perguntado aos estabelecimentos comerciais os tipos de problemas enfrentados
em anos anteriores. Desta vez, a maioria dos empresários não teve problemas (52,7%),
mostrando que esta temporada foi realmente mais complicada do que as anteriores. Entretanto,
para uma parcela significativa dos empresários, ocorreram problemas em anos anteriores com
a distribuição de água (35%), falta de energia (15,3%) e outros problemas diversos (8,4%).
Problemas enfrentados em anos anteriores
52,7%
35,0%
0,5%
Sim, nas vias de
acesso ao
estabelecimento
Sim, com
iluminação pública
Teve outros
problemas
0,5%
Não teve
nenhum problema
0,0%
Sim, com falta de
acessibilidade
à deficientes
8,4%
1,0%
Sim, com assaltos
e/ou violência
urbana
Sim, com falta
de energia
Sim, com
distribuição
de água
15,3%
Uma vez identificados os principais problemas enfrentados pelos empresários de
Balneário Camboriú, foi perguntado se eles realizaram investimentos na estrutura de seu
estabelecimento a fim de resolver, por conta própria, os problemas observados acima. A
maioria deles disse que sim (56,2%), já realizou investimentos em estrutura. Ou seja, arcou
individualmente com fatores que, em razão do pagamento de impostos, deveriam funcionar.
6
Realizou investimentos em infraestrutura
Sim, realizou
investimentos
43,80%
56,20%
Não realizou
investimentos
Foi perguntando, também, há quanto tempo esses investimentos foram realizados, a
fim de diagnosticar indiretamente quando os problemas começaram a despertar a preocupação
do empresário. A maior parte das melhorias (65,7%) se concentrou no período de um ano atrás.
Na sequência, os investimentos feitos há mais de 2 anos (19%), seguido dos com mais de 5
anos (5,7%) e dos de 3 e de 4 anos atrás, ambos com 4,8% das respostas.
Ou seja, a grande maioria dos investimentos é recente, associados principalmente ao aumento
dos turistas que não foi acompanhado por aumentos paralelos da infraestrutura. A última temporada
foi a que o problema se agravou, e a atual é apenas o reflexo do aprofundamento do problema.
Quando foram realizados os investimentos?
5,70%
4,80%
4,80%
No ano anterior
Há 2 anos
Há 3 anos
19,00%
65,70%
Há 4 anos
Há 5 anos
7
Já em relação ao direcionamento e ao montante investido, os gráficos abaixo ajudam
a elucidar tal questão:
Armazenamento de água
Não
51,10%
Geração de energia elétrica
Sim
48,90%
Não
27,40%
Sim
72,60%
Valor médio do investimento por empresa: R$ 9.990,35
Valor médio do investimento por empresa: R$ 35.292,59
Melhorias no acesso
Acessibilidade para deficientes físicos
Não
16.30%
Sim
83,70%
Não
33,80%
Sim
66,20%
Valor médio do investimento por empresa: R$ 36.638,46
Valor médio do investimento por empresa R$ 14.994,59
Tratamento de esgoto privado
Segurança Privada
Não
27,00%
Sim
73,00%
Valor médio do investimento por empresa: R$ 9.343,33
Não
64,60%
Sim
35,40%
Valor médio do investimento por empresa: R$ 20.793,44
Pelos gráficos acima, pode-se observar que o setor que mais preocupa os empresários
é o de segurança – relacionado principalmente à instalação de alarmes e ao pagamento de
“segurança de bairro” privada. A maioria dos empresários de Balneário Camboriú (64,6%)
realizou investimentos neste sentido, com uma média de mais de R$ 20 mil por empresa. Como
destaque, também é possível registrar os 51,1% dos empresários que realizaram investimentos
em armazenamento de água, com uma média de quase R$ 10 mil por empresa.
8
Entretanto, tais dispêndios
nos estabelecimentos
comerciais não resolveram o
problema para todos. Como
pode ser visualizado no
gráfico ao lado, 49,67% dos
entrevistados responderam que
os investimentos resolveram
apenas parcialmente o problema.
Ou seja, a temporada de
2014 poderia ser ainda mais
problemática caso o empresário
não tivesse buscado a solução
privada do problema público.
Sim, resolveram
o problema
44,37%
Não, o investimento
resolveu parcialmente
o problema
49,67%
NS/NR
Investimentos ainda necessários
42,0%
28,2%
16,1%
0,0%
São necessários outros
0,0%
Não são necessários
outros investimentos
1,1%
Sim, em
iluminação pública
Sim, em segurança
3,4%
Sim, em
saneamento básico
Sim, em acessibilidade
para deficientes físicos
Sim, melhorias viárias
de acesso ao local
Sim, em geração de
energia elétrica
Sim, em
armazenamento
de água
0,6%
Sim, em ampliação de
vagas de estacionamento
11,5%
2,9%
Prejuízos sofridos nesta temporada
37,27%
32,92%
0,62%
Outros
1,86%
Inutilização de elevador
por falta de energia
Fechamento antecipado
do estabelecimento
Queima de
equipamentos
4,97%
3,73%
Perda de informações
dos clientes
10,56%
Perda de
estoques/alimentos
8,07%
Check-out antecipado
Alguns desses problemas
resultaram em prejuízos
para os empresários.
Para a maioria, depois da
resposta genérica “outros”,
os principais problemas
decorrentes da precariedade
da infraestrutura urbana foram
o fechamento antecipado dos
estabelecimentos (com 32,9%),
a perda de estoques e alimentos
(com 10,5%) e a compra de
água (com 8%).
5,96%
Compra de água
Com base nisso, foi perguntado
quais investimentos ainda são
necessários para que seja
possível sanar definitivamente os
problemas. A resposta que mais
apareceu foi mais investimentos
em armazenamento de água.
Este quesito obteve 42% das
respostas. Logo em seguida,
28,2% dos empresários disseram
que não são necessários
mais investimentos, 16,1%
disseram que são necessários
investimentos em energia elétrica
e 11,5% em segurança.
Os investimentos realizados
resolveram o problema?
9
Avaliação da infraestrutura turística
Observando os principais problemas que os empresários de Balneário Camboriú
apontaram devido à infraestrutura da cidade, seus prejuízos e seus gastos para minimizar os
problemas, verifica-se que, em linhas gerais, a percepção dos empresários em relação aos serviços
públicos ligados ao turismo é regular, oscilando bastante de um tipo de serviço para outro.
Como pontos positivos aparecem a iluminação pública (melhor item avaliado), as vias
de acesso e a distribuição de luz. Na contramão, os mais mal avaliados foram a ausência de
estacionamento, problema que só se aprofunda nos últimos anos, e a distribuição de água.
Abaixo é possível observar os resultados completos:
Percepção dos serviços públicos
Não sabe
Péssimo
Limpeza pública
26,1%
Sinalização turística
18,2%
Segurança
Acessibilidade
deficientes físicos
Vias de acesso
5,4% 6,4%
14,8%
Distribuição de água
23,2%
16,7%
22,9%
11,0%
31,3%
13,3%
4,4%
15,8%
58,6%
30,0%
18,3%
17,7%
7,4%
35,5%
16,7%
15,3%
20,8%
Ótimo
29,1%
21,7%
19,2%
12,5%
Bom
24,1%
50,2%
Tratamento de esgoto
Distribuição de luz
Regular
13,3%
Estacionamento
Iluminação Pública
Ruim
5,9%
36,9%
29,9%
6,4%
27,4%
32,5%
20,4%
2,0%
34,2%
22,2%
11,4%
7,4%
33,0%
19,8%
36,0%
28,9%
2,5%
3,0%
6,5%
15,4%
2,5%
10
DEPOIMENTOS DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ
Elenilson Ramos - gerente geral do Hotel Marambaia
“Tivemos uma queda de luz no dia 30 de dezembro, por causa do estouro de um transformador, ficamos uma hora sem luz. Água felizmente não é problema porque temos um poço
artesiano que abastece todo o hotel, e raramente precisamos pegar água da rua, da Emasa (Empresa Municipal de Água e Saneamento). Foi um investimento antigo, no tempo da construção
do hotel. Colocamos um gerador de energia de prontidão no Réveillon. Usamos nos dois anos
anteriores, mas nesse ano não foi preciso. Temos 90% de ocupação desde o dia 1º de janeiro.
O hotel investiu R$ 1 milhão nos últimos anos em conforto e segurança dos turistas. Agora, falando como um morador de Balneário Camboriú, a gente percebe que a limpeza da praia não
está acontecendo como deveria. Também faltou recolhimento de lixo, já que a prefeitura, recentemente, cancelou o contrato com a empresa terceirizada que realizava o serviço. Mas vem
faltando água no meu prédio e na minha região. Há três meses isso está acontecendo. Também
percebo que a Emasa não está dando conta do esgoto. No final da tarde, o rio que passa atrás
do hotel fica o maior fedor, a gente sente o cheiro. As elevatórias estão todas cheias, e como a
Celesc está com problemas, acaba travando o sistema da Emasa, que não estava funcionando.
Creio que o turismo tem que ser benéfico para o morador da cidade. Tem que ser muito bem
planejado, para que não se crie uma espécie de xenofobia, uma aversão ao turista na cidade”.
Hamilton de Oliveira - gerente comercial do Hotel D’Sintra
“Qualquer problema na cidade nos afeta. Faltou luz duas vezes no hotel, na virada
do ano. Instalamos um gerador, que supre um dos elevadores e as áreas sociais. Água não
foi problema por que instalamos duas cisternas bem grandes. Mas a cidade está um pouco
suja. Não é hora de se fazer obra na orla. Para não termos mais problemas de luz, teríamos
que investir cinco vezes o que já investimos. O problema é que o investimento tem que ser
feito por quem já paga imposto, e não por quem deveria ser responsável. Para resolvermos os
problemas de água, gastamos R$ 100 mil reais, um dinheiro que podia ser investido em mais
conforto para o hóspede. As obras de infraestrutura de esgoto, o asfalto e as ciclovias foram
importantes para a cidade. Mas nossos funcionários não têm médicos nos postos de saúde e
não têm creche nos finais de semana para os filhos, em uma cidade que vive para o turismo.
Para os turistas, também, o ônibus no final de semana é complicado. A Emasa precisa fazer
um investimento monstruoso para não repetir os problemas de falta de água. Se houver um
crescimento de 5% no número de visitantes, no ano que vem, e se considerarmos que Balneário Camboriú teve 1 milhão de pessoas no Réveillon, serão 50 mil pessoas a mais na cidade.
E a cada ano, quantos novos prédios são entregues na cidade? E isso significa mais pessoas,
mais banhos, mais consumo. O investimento em segurança também precisa ser maior. Falta
efetivo na Polícia Militar; a Guarda Municipal ajuda um pouco. A temporada está igual ao ano
passado. O movimento está bom”.
11
Claudia Tavares – gerente do restaurante Mangiare Felice
“A falta de água foi o que mais atrapalhou. Ficamos oito dias sem abastecimento, coisa que nunca havia acontecido antes. Até agora não se sabe por quê? Não deram justificativa.
Disseram que foi por causa do alto consumo, mas estamos com o mesmo movimento do ano
passado. Temos um reservatório de 40 mil litros - são quatro caixas d’água de 10 mil litros, compradas há cinco anos - e, mesmo assim, ele secou a ponto de não termos água para fazer um
suco. Isso com a casa lotada, com reserva para três horários. Pagamos um ágio enorme para
chamar o caminhão pipa. Chamamos três de 15 mil litros, a R$ 1,5 mil cada um, e duas carretas
de 20 mil litros, a R$ 2 mil cada. Gastamos R$ 8,5 mil só com água. E para atender a turma que
fez reserva para o dia 31 de dezembro, precisamos buscar mais 22 bombonas de 18 litros cada.
Os problemas começaram uma semana antes do Réveillon. Fomos pegos de surpresa. Não vinha mais água na madrugada como antes. Entrou ar nos canos, ar na bomba d’água. O prejuízo
passou dos R$ 10 mil. Estamos pensando em botar mais uma caixa d’água. Tem falta de água
todo ano, mas não com essa intensidade. A cidade precisa investir em um reservatório maior.
Também faltou luz por duas horas no dia 30. A Celesc precisa ter plantão e mais técnicos preparados para esses casos urgentes. Eu faço parte do Convention & Visitors Bureau de Balneário
Camboriú. Todo empenho do setor da gastronomia, todo o investimento feito em propaganda
para atrair o turista, de nada adiantará se eles saírem insatisfeitos e com uma imagem negativa
da cidade. Outra coisa que precisa ser vista com urgência é o acesso a Balneário Camboriú pela
BR-101. Teve gente que levou oito horas para chegar de Curitiba. Soube que muitas pessoas
deram meia volta e retornaram para o Paraná”.
Claudio Mantovani – proprietário da Cantina Famiglia Mantovani
“No dia 31 de dezembro, deixamos de atender cerca de 60 pessoas por causa da
falta de água, o que para nós foi um grande prejuízo. Contamos com essa noite do dia 31 e
não pudemos trabalhar. Também não abrimos ao meio-dia, no dia 1º de janeiro, pelo mesmo
problema. Conseguimos trabalhar à noite com que o tinha na caixa, usando a água filtrada. Nos
limitamos ao que tinha. Usamos água de galão para cozinhar. No dia 2 de janeiro, faltou água e
luz. Ficamos seis dias sem poder trabalhar, no ápice da temporada. Tínhamos muita coisa estocada que se perdeu por causa de uma falta de luz que durou 5 horas e meia. A nossa massa
é feita artesanalmente e congelada. A nossa casa é antiga, tem 80 anos. Viemos para cá em
1991 e investimos um monte na casa, que é alugada. O nosso atendimento é diferenciado. O
restaurante é pequeno, são apenas 17 lugares. Somos só eu, a mulher e uma sobrinha. Nosso
filho ajuda também, mas ele trabalha no comércio o dia inteiro. Tudo é feito na hora. E sempre
lidamos com a falta de água e de luz. Só que esse ano é que foi pior. Tive que comprar 12 galões
de água e pegar água da chuva para usar nos banheiros. É um problema, porque a imagem do
restaurante fica prejudicada. Se eu abro a porta, o restaurante lota. E como vou explicar que não
tem água? Disseram que não iria faltar água, e faltou. O prédio aqui da frente precisou chamar
12
quatro caminhões. Agora, de onde vem a água desses caminhões. Acredito que o problema
da Emasa é falta de investimento e falta de vontade política. Fazem propaganda, e quem veio
para ficar uma semana ficou um dia. Mas a Casan era pior que a Emasa. A Casan só ganhava
dinheiro aqui em Balneário Camboriú. Nos últimos cinco anos, melhorou bem, mas talvez a capacidade de captação seja pequena”.
Ricardo Fernandes – proprietário do Madero Grill
“Só não faltou água porque temos uma situação específica. Estamos instalados num
prédio que possui uma cisterna muito grande. Mas, mesmo assim, tivemos que parar tudo por
causa da falta de luz. Se faltou 15 ou 20 minutos, isso significa uma hora da nossa operação. A
maior incidência de falta de luz foi entre os dias 3 e 6 de janeiro, no período de maior movimento. Mas a falta da água na cidade foi um absurdo. Nós não passamos por isso, mas teve prédio
residencial que contratou mais de 20 caminhões. Há cinco anos que não acontecia algo desse
tipo. Sobre a falta de luz, não adiantava ligar para a Celesc, porque não se conseguia nem falar
com eles. Acho que o problema é que a demanda é muito maior que a oferta de energia. E essas
quedas frequentes de luz impactam muito o nosso trabalho. O cliente pede um prato e a gente
não consegue servir por causa da falta da luz. Numa noite, eram mais ou menos 23h, tivemos
que deixar várias pessoas saírem sem pagar por causa do transtorno. Devo ter perdido, nesses
dias todos, algo em torno de R$ 20 mil. Mas colegas meus, donos de sorveterias e de casas
de sushi, tiveram prejuízo ainda maior. Não tenho conhecimento das causas, nem posso dizer
muito bem o que acredito que precisa ser feito. Os técnicos é que deveriam saber disso. Mas,
com tudo que se vem investindo em propaganda, em divulgação da cidade, acho um absurdo
faltar coisas tão básicas como água e luz. Aqui na Avenida Atlântica vendem apartamentos que
valem milhões. Como é que podem ficar sem água e luz?”
13
FLORIANÓPOLIS
Perfil dos entrevistados
Tipo de estabelecimento
%
Hotel
15,30%
Pousada
21,20%
Restaurante
38,00%
Bar
25,50%
Tempo de existência
%
Menos de 1 ano
2,20%
De 1 a 5 anos
8,80%
De 6 anos a 10 anos
13,10%
Acima de 10 anos
75,90%
Considera que o tamanho do estabelecimento é:
%
Pequeno Porte
34,30%
Médio Porte
53,30%
Grande Porte
12,40%
Número de funcionários
%
Até 10 funcionários
46,70%
De 10 a 30 funcionários
31,40%
De 30 a 50 funcionários
14,60%
Acima de 50 funcionários
7,30%
Problemas da temporada
Florianópolis também sofreu com problemas ligados à infraestrutura pública durante
esta temporada. Desta maneira, todas as informações levantadas sobre Balneário Camboriú
também foram buscadas na capital do Estado, majoritariamente no Norte da ilha. Em primeiro
lugar, perguntou-se ao empresário se o estabelecimento enfrentou dificuldades ou sofreu
14
prejuízos decorrentes de infraestrutura pública. Como mostra o gráfico abaixo, para aqueles
que tiveram problemas (mais da metade dos empresários), eles se concentraram na distribuição
de energia elétrica (52,6%) e de água (47,4%). Expressivo percentual de empresários registrou
estes problemas, confirmando aquilo que foi noticiado na mídia.
Problemas enfrentados nesta temporada
52,60%
42,30%
Teve outros
problemas
5,10%
0,00%
Não teve
nenhum problema
6,60%
Sim, com
iluminação pública
0,70%
Sim, nas vias
de acesso ao
estabelecimento
Sim, com assaltos
e/ou violência urbana
Sim, com falta
de energia
Sim, com
distribuição de água
6,60%
Sim, com falta
de acessibilidade
à deficientes
47,40%
Já em anos anteriores, os problemas mantiveram praticamente a mesma frequência,
demonstrando a maneira como a situação se repete. Novamente, a concentração ficou com
os problemas com água (43,8%) e com energia elétrica (29,9%), esta última com grande
crescimento na ocorrência de problemas nessa temporada em relação às anteriores.
Problemas enfrentados em anos anteriores
45,52%
43,80%
Sim, com falta de
acessibilidade
à deficientes
Sim, nas vias de
acesso ao
estabelecimento
2,24%
0,00%
Teve outros
problemas
2,90%
Não teve
nenhum problema
1,50%
Sim, com
iluminação pública
2,20%
Sim, com assaltos
e/ou violência
urbana
Sim, com falta
de energia
Sim, com
distribuição
de água
29,90%
Uma vez identificados os principais problemas, foi perguntado se os empresários
realizaram investimentos na estrutura de seus estabelecimentos, a fim de resolver, por conta
própria, as situações observadas acima. A maioria deles disse que sim (56,1%), que já realizou
investimentos em estrutura. Ou seja, arcou individualmente com fatores que, em razão do
pagamento de impostos, deveriam funcionar.
15
Realizou investimentos em infraestrutura
Sim, realizou
investimentos
43,90%
56,10%
Não realizou
investimentos
Foi perguntando, também, há quanto tempo esses investimentos foram realizados?
Metade das melhorias (50%) é recente, de apenas um ano atrás. Entretanto, como os problemas
são recorrentes, também existem investimento realizados há mais de 2 anos (25,8%), há mais
de 3 anos (11,3%) e acima de 5 anos (12,9%).
Quando foram realizados os investimentos?
12,90%
No ano anterior
11,30%
Há 2 anos
50,00%
Há 3 anos
Há 4 anos
25,80%
Há 5 anos
16
Já em relação ao direcionamento e ao montante investido, os gráficos abaixo abordam
a questão:
Armazenamento de água
Não
69,30%
Geração de energia elétrica
Sim
30,70%
Não
35,60%
Sim
64,40%
Valor médio do investimento por empresa: R$ 10.524,44
Valor médio do investimento por empresa: R$ 21.434,78
Melhorias no acesso
Acessibilidade para deficientes físicos
Não
13,90%
Sim
86,10%
Não
23,30%
Sim
76,70%
Valor médio do investimento por empresa: R$ 28.000,00
Valor médio do investimento por empresa R$ 14.642,86
Tratamento de esgoto privado
Segurança Privada
Não
39,20%
Sim
60,80%
Valor médio do investimento por empresa: R$ 20.958,33
Não
68,80%
Sim
31,20%
Valor médio do investimento por empresa: R$ 13.220,00
Pelos gráficos acima pode-se observar que o setor que mais preocupa os empresários
é o armazenamento de água, sendo que 69,3% dos empresários realizaram investimentos
nesse item, com uma média de mais de R$ 10 mil por empresa. Também é fonte de atenção
a questão da segurança, com a maioria dos entrevistados (68,8%) realizando investimentos
na instalação de sistemas de alarme ou na contratação de “seguranças de bairro”, com uma
média de mais de R$ 20 mil por empresa.
17
Entretanto, tais dispêndios nos
estabelecimentos comerciais
não resolveram o problema
para a maioria dos empresários
de Florianópolis. Como pode
ser visualizado no gráfico ao
lado, 50,6% dos entrevistados
responderam que os investimentos
resolveram apenas parcialmente
o problema. Ou seja, a temporada
de 2014 poderia ser ainda mais
problemática caso o empresário
não buscasse a solução privada
do problema público.
50,60%
49,40%
Não, o investimento
resolveu parcialmente
o problema
Investimentos ainda necessários
49,6%
30,8%
23,3%
17,3%
São necessários outros
3,0%
Não são necessários
outros investimentos
Sim, em
iluminação pública
Sim, em ampliação de
vagas de estacionamento
3,0% 0,8%
Sim, em segurança
Sim, em
saneamento básico
Sim, em acessibilidade
para deficientes físicos
Sim, melhorias viárias
de acesso ao local
Sim, em geração de
energia elétrica
Sim, em
armazenamento
de água
3,0% 0,8% 3,8%
Prejuízos sofridos nesta temporada
32,50%
20,00%
0,00%
Outros
1,25%
Inutilização de elevador
por falta de energia
10,00%
Perda de informações
dos clientes
11,25%
Queima de
equipamentos
Perda de
estoques/alimentos
10,00%
Fechamento antecipado
do estabelecimento
15,00%
Check-out antecipado
Sobre os prejuízos que os
empresários sofreram na
temporada, destaque para
a compra de água (20%), os
check-out antecipados (15%) e
o fechamento antecipado dos
estabelecimentos (11,25%).
Sim, resolveram
o problema
Compra de água
Desse modo, perguntou-se
quais investimentos ainda
são necessários para que se
possam sanar definitivamente
os problemas. Aqueles que
tiveram o problema solucionado,
apresentados na questão anterior,
não veem necessidade de novos
investimentos (49,6%). Entretanto,
para 30,8% dos empresários
da cidade são necessários
investimentos em armazenamento
de água, para 23,3% são
necessárias melhorias na geração
de energia elétrica e para 17,3%
mais investimentos em segurança.
Os investimentos realizados
resolveram o problema?
18
Avaliação da infraestrutura turística
Observando os principais problemas que os empresários de Florianópolis apontaram devido
à infraestrutura da cidade, seus prejuízos e seus gastos para minimizar os problemas, verifica-se que
a percepção dos empresários em relação aos serviços públicos ligados ao turismo variou bastante
de um tipo de serviço para outro, com itens bem avaliados e outros bastante mal avaliados.
Como pontos positivos aparecem a iluminação pública (melhor item avaliado), a limpeza
pública e a distribuição de luz. Na contramão, os mais mal avaliados foram o tratamento de
esgoto, a ausência de estacionamentos e a distribuição de água. Abaixo é possível observar os
resultados completos:
Percepção dos serviços públicos
Não sabe
Limpeza pública
Péssimo
13,9%
Sinalização turística
6,6%
5,1% 8,8%
Segurança
21,3%
16,8%
15,3%
1,5%
22,6%
20,4%
16,8%
14,6%
21,2%
5,1%
12,4% 1,5%
35,8%
15,3%
28,5%
5,1%
19,0%
40,1%
25,5%
2,2%
2,9%
27,9%
23,4%
44,5%
31,4%
27,7%
21,3%
22,6%
11,7%
2,9%
57,7%
38,0%
Tratamento de esgoto
Distribuição de água
16,1%
24,3%
19,7%
Ótimo
27,7%
23,4%
Acessibilidade
deficientes físicos
14,6%
Bom
49,6%
43,1%
Iluminação Pública
Distribuição de luz
Regular
25,5%
21,2%
Estacionamento
Vias de acesso
Ruim
1,5%
5,1%
19,7%
2,2%
19
DEPOIMENTOS DE FLORIANÓPOLIS
Rubens Régis - gerente operacional do Resort Costão do Santinho
“Água e saneamento não são problemas porque temos abastecimento próprio e uma
estação de tratamento. A luz é que era um problema, até adquirirmos uma central de geração
de energia. Agora geramos energia para abastecer todo o empreendimento. No que sentimos
que faltou energia, ligamos o gerador. Todo o sistema de geração custou em torno de R$ 3
milhões. Precisa ser desse porte, porque somos uma cidade de 1,7 mil habitantes. Temos 695
apartamentos, com cerca de mil quartos. Para a cidade, o que aconteceu na virada do ano foi
um horror. A forma com que a crise foi tratada também foi terrível. Mas já era esperado que isso
iria acontecer. Para o turista que investiu nas suas férias, que está pagando para se hospedar
em um apartamento na Praia Brava, numa pousada ou num pequeno hotel, pouco importam as
desculpas dos órgãos públicos. Ele quer água e luz, se não tem, ele vai embora. E essa situação
vai acontecer de novo no ano que vem, se não forem tomadas providências. O que precisa ser
feito é um plano de contingência para a temporada 2014/2015 e, depois, um plano de longo
prazo, talvez trazer água do Rio Tijucas, se só com a do Rio Cubatão não estão dando conta.
Estamos com uma média de ocupação de 85%. Nos finais de semana, sexta, sábado e domingo, tivemos lotação máxima. Esse ano está melhor que o ano passado. Em 2013, trabalhamos
com 75% de ocupação. Agora, em 2014, temos 85%. Os argentinos estão vindo normalmente,
o que para nós foi uma surpresa.”
Paulo Correa – gerente de Infraestrutura do Hotel Il Campanario (Jurerê Internacional)
“A nossa água vem de uma empresa do Grupo Habitasul, que é dono do empreendimento. Durante a temporada, sempre se faz um planejamento de 50% a mais. No pico da
temporada, o fornecimento dobra. Mas o nosso empreendimento tem uma reserva bastante
calculada. Nos seis anos de operação, nunca tivemos problemas. Com relação à energia,
temos um grupo de quatro geradores que supre 100% do empreendimento. Nós o utilizamos principalmente no horário de ponta da Celesc, entre 18h30min e 20h30min, quando o
kilowatt pula de 37 centavos para R$ 1,47. O problema da Celesc é a baixa qualidade da
energia fornecida, com uma oscilação de tensão que nos causa alguns problemas. Temos
um equipamento de climatização de ponta e, quando há essa oscilação, ele se autodesliga.
Toda a nossa operação é automatizada: energia, abastecimento de água, nível de reservatórios, esgoto, etc. Gastamos, num projeto com essa estrutura, R$ 5 milhões só na automação.
O empreendimento custou em torno de R$ 100 milhões, no total. Para não dependermos do
fornecimento dos órgãos público, tudo foi superdimensionado. Sobre a infraestrutura da cidade, dificilmente ela vai se preparar para atender a essa demanda extra que se verifica em
um período tão curto. Creio que os empreendimentos terão que prever e suprir essa demanda
por conta própria. No que toca ao setor turístico, a solução terá que vir da iniciativa privada.
As empresas públicas não vão fazer isso.”
20
Maria Helena Petry Makowiecky – proprietária da Pousada dos Chás (Jurerê)
“Tivemos problemas com falta de água e de luz. Tenho uma cisterna de 27 mil litros
e mais duas caixas de 3 mil litros cada. Mesmo assim, tive que pagar R$ 1,5 mil por um caminhão pipa de 15 mil litros, no dia 30 de dezembro. Isso que eu tenho captação de água da
chuva e tratamento com filtro, para uso nos banheiros. E toda a água da cozinha vem de bombonas. Também tive falta de luz na noite do dia 29. Mas no ano passado foi pior. Fiquei sem
água, entrou ar nos canos, nas bombas, e tive que gastar R$ 450 para rebobinar as bombas
de água. O esgoto também não está funcionando, mesmo depois de a Casan quebrar várias
ruas para colocar os canos. Quando vi que iria faltar água na pousada, chamei o carro pipa.
Mas na minha casa, aqui ao lado, já fiquei este ano sete dias sem abastecimento. A situação
continua crítica. A água chega de noite e não tem nem força para chegar nas caixas. Se você
for lá na minha casa vai encontrar bacia, balde, panelão, tudo espalhado. Eu também tenho
dois apartamentos no prédio ao lado, que eu também alugo. Uma família de São Paulo veio
aqui e, como não havia água, foi embora. Perdi R$ 5 mil. E isso é muito ruim para a imagem
da Ilha. As pessoas estão falando mal e não sei se irão voltar. Você pode ir perguntar nas imobiliárias, metade teve que devolver o dinheiro que recebeu antecipadamente pelos aluguéis.
No ano passado fiz uma reforma de R$ 420 mil na pousada, para melhorar o atendimento e o
conforto dos hóspedes. Gastei R$ 50 mil só na cisterna e, se não fosse ela, não teria sobrevivido. O prejuízo seria total. Agora preciso comprar um gerador, pelo menos para as luzes da
área social e dos apartamentos. Uma cidade que se diz turística, cujo turismo absorve uma
grande parcela da mão de obra local, não pode ser tratada com tanto descaso. Acredito que
os problemas são decorrentes da falta de planejamento. Se sabe que vai faltar, que a demanda é maior, tem que se programar.”
Mauro Bauer – gerente do Restaurante Pitangueiras (Sambaqui)
“Água tá faltando direto, mas, como já tivemos problemas no passado, há uns
cinco anos, providenciamos uma reserva de 40 mil litros. São quatro caixas de 10 mil litros
que permitem o funcionamento. O problema do Sambaqui é que final de rede. Quanto à
luz, tivemos duas ocorrências em janeiro, devido às trovoadas. Na primeira ficamos seis
horas sem luz, na segunda, três horas. Mas foram situações pontuais. O problema é quando fica só meia fase, daí muitos aparelhos não funcionam direito. O caso mais crítico foi
no dia 2 ou 3, quando fechamos por duas ou três horas porque não tínhamos mais o No
Break. Não estávamos conseguindo atender aos pedidos, por que tudo agora é no computador, não temos mais comanda no papel. Esses problemas de infraestrutura queimam o
filme de Florianópolis. Não há Réveillon sem esses problemas. Todo ano é a mesma coisa.
Antes da instalação das caixas, tínhamos que fechar o restaurante. Na época, gastamos
uns R$ 10 mil com a reforma. Mas esse foi o primeiro ano em que não precisamos chamar
um caminhão pipa.”
21
Luzia Almeida Vaz – proprietária do Freguesia Bar e Restaurante (Santo Antônio de Lisboa)
“Não tivemos problemas de água, mas de luz, sim. Tive que fechar o restaurante um
dia, na virada do ano, por que o meu gerador não suportava mais. Não consigo manter ligados
todos os equipamentos. Compramos o gerador no ano passado, gastamos R$ 6 mil. Tenho
três fritadeiras e, com o gerador, só uma consegue ficar ligada. Em outubro, também teve
uma falta de luz grande, quando estávamos com toda a produção da Fenaostra. Mas água
não é problema por que nós adotamos o racionamento, procuramos economizar ao máximo.
Eu tenho quatro caixas de 5 mil litros. A questão é saber como usar. Não temos a cultura de
poupar água. Aqui em Floripa, se lava calçada com água tratada da Casan, um desperdício.
No meu edifício, tem seis apartamentos, cada um com a sua caixa. O meu foi o único em que
não faltou água. O problema da água não é a entrada, é a saída. As pessoas não têm consciência de que é preciso poupar esse recurso. É fácil cobrar da Casan, o difícil é as pessoas
fazerem a sua parte. As pessoas têm piscina em casa com tanta praia perto. Mas a falta de
luz é geral. A Celesc até procura arrumar rápido, assim que é acionada. Os problemas são
localizados aqui na rua da praia.”
Fábio Queiroz – presidente da Abrasel-SC e proprietário da Alameda Casa Rosa (Itacorubi)
“A falta de água, em um estabelecimento de pequeno porte, pode ser um problema até
maior que a falta de energia. Num restaurante menor, que não tem um reservatório e depende do
fornecimento da Casan, não se consegue nem lavar a louça e usar o banheiro. A falta de energia,
dependendo do estabelecimento, pode até resolver com algumas velas, até voltar a luz. Tivemos
relatos de problemas no Norte da Ilha e na Lagoa, principalmente. Nos estabelecimentos mais
estruturados, que já sentiram esses problemas em anos anteriores, a solução foi investir em infraestrutura própria: cisternas para garantir o abastecimento d’água e geradores para não ficar
sem energia. Já ficamos sem energia aqui na Alameda. E há alguns anos compramos um gerador
potente, que custou R$ 150 mil, e que supre 100% das nossas necessidades. Quanto à água,
temos uma reserva de 300 mil litros, incluindo a piscina, cuja água até pode ser usada em caso
extremo. Muitos empresários já tomaram esse tipo de providências. Mas fizemos uma pesquisa,
e o principal problema apontado pelos clientes foi o trânsito. Depois vieram falta de água e falta
de luz. Acho que os estabelecimentos precisam usar água, que é um produto caro, de forma mais
consciente. É preciso poupar e reaproveitar. Isso ajuda, mas não resolve o problema. O poder
público precisa investir mais em infraestrutura, mas também a iniciativa privada, as entidades que
trabalham no setor, precisam também fazer o seu trabalho. Dimensionar mais adequadamente
as suas necessidades nos horários de pico e nos dias de maior movimento. Ter uma projeção
de consumo máximo e, se for o caso, serem taxados se esse consumo exceder o que havia sido
projetado. Mas isso tem que ser feito juntamente com os órgãos públicos.”
22
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A temporada de verão deste ano foi destaque em função dos sérios problemas apresentados pela infraestrutura pública do litoral catarinense. Duas cidades que são destaques no
nosso turismo, importantes destinos nacionais e internacionais, como Balneário Camboriú e
Florianópolis, sofreram prejuízos evidentes em função da debilidade apresentada por algumas
atividades do Estado. Os principais problemas e prejuízos foram registrados pelas falhas no
abastecimento de água e luz em ambas as cidade. Aliás, estes problemas são recorrentes. A
pesquisa demonstra como há vários anos as falhas se repetem.
Tendo em vista as debilidades defrontadas e baseados em seu caráter empreendedor, muitos comerciantes catarinenses recorreram ao investimento privado em melhorias na
capacidade individual para contornar as falhas na prestação dos serviços públicos. Compra
de geradores para compensar as oscilações na energia elétrica, gasto com cisternas para
minimizar a falta de água, instalação de alarmes e pagamento de “seguranças de bairro”
privados para compensar o aumento da violência e instalação de sistemas privados de tratamento de esgoto foram as principais medidas adotadas pelos empresários. Mesmo que
os investimentos na melhoria do estabelecimento sejam salutares, este tipo de gasto é uma
espécie de “bitributação”, já que o empresário paga seus impostos e tarifas públicas, na expectativa de ter um retorno condizente com o alto valor empreendido, mas recebe em troca
um serviço ruim e insuficiente, que lhe obriga a arcar individualmente com aquilo que não lhe
é atendido. O orçamento acaba ficando comprometido com estes investimentos, que muitas
vezes resolvem apenas parcialmente o problema, minimizando o espaço para investimentos
naquilo que é essencialmente da esfera privada, como a melhoria na qualidade do atendimento prestado ao turista. O problema é grave e compõe mais um aspecto do débil ambiente
de negócios brasileiro e catarinense.
Para o micro e pequeno empreendedor o problema é ainda mais grave. Por não ter
capacidade financeira de arcar com um gerador, por exemplo, o empresário de pequeno porte
fica totalmente vulnerável à qualidade do serviço público que lhe é prestado. É necessário ter
em vista que o turismo de verão é uma atividade volátil, sendo que o turista que hoje visita o
nosso litoral em busca das belezas naturais e da hospitalidade do catarinense, ao se defrontar
com falta de infraestrutura básica, no próximo ano pode ficar interessado em conhecer o restante da gigantesca costa brasileira. Apesar de propaganda e belezas naturais serem um impulso
indispensável para o crescimento de um destino turístico, a sua consolidação durante os anos é
garantida pela experiência vivenciada pelo turista, pela qualidade de tudo aquilo que envolve a
atividade, tendo a infraestrutura pública um papel central neste quesito. Capacidade de lidar, de
maneira adequada, com o aumento exponencial da população destas cidades durante o verão
é nada mais que o básico no que tange ao turismo litorâneo.
É absolutamente necessária a ampla divulgação de um plano de investimento do poder
público, além da criação de mecanismos de participação e fiscalização por parte das entidades de
representação e dos moradores das cidades. O tema não diz respeito apenas ao turismo, mas sim a
todo o planejamento urbano e às mais diversas áreas da atividade econômica que perpassam a vida
das cidades. Apenas uma boa cidade para seus habitantes pode se consolidar como uma cidade
capaz de atender bem o turista, trazendo renda e dinamizando ainda mais a economia regional.
23
ANEXO I - CRUZAMENTOS BALNEÁRIO CAMBORIÚ
Setores
Problemas enfrentados
nesta temporada
Bares
Pousadas
Restaurantes
Hotéis
Sim, com distribuição de água
45,5%
0,0%
57,1%
54,2%
Sim, com falta de energia
39,0%
66,7%
45,9%
29,2%
Sim, com assaltos e/ou
violência urbana
3,9%
0,0%
2,0%
4,2%
Sim, nas vias de acesso ao
estabelecimento
3,9%
0,0%
2,0%
4,2%
Sim, com falta de
acessibilidade a deficientes
0,0%
0,0%
0,0%
0,0%
Não teve nenhum problema
23,4%
33,3%
15,3%
20,8%
Teve outros problemas
13,0%
0,0%
5,1%
12,5%
Investimentos realizados
Bares
Pousadas
Restaurantes
Hotéis
Armazenamento de água
33,3%
33,3%
72,7%
45,8%
Geração de energia
29,2%
66,7%
21,8%
37,5%
Melhorias no acesso
16,7%
0,0%
7,3%
37,5%
Acessibilidade para
deficientes físicos
27,1%
0,0%
36,4%
50,0%
Tratamento de esgoto
18,8%
33,3%
36,4%
25,0%
Segurança
60,4%
33,3%
80,0%
75,0%
Outros
10,4%
0,0%
9,1%
8,3%
Prejuízos
Bares
Pousadas
Restaurantes
Hotéis
Fechamento antecipado
do estabelecimento
34,5%
0,0%
42,4%
0,0%
Perda de estoques/alimentos
14,5%
50,0%
9,4%
0,0%
Perda de informações
de clientes
0,0%
0,0%
3,5%
0,0%
Queima de equipamentos
7,3%
0,0%
3,5%
5,6%
Check-out antecipado
0,0%
0,0%
0,0%
38,9%
Compra de água
12,7%
0,0%
10,6%
16,7%
Inutilização do elevador
por falta de energia
0,00%
0,00%
0,00%
5,60%
Outros
74,5%
100,0%
47,1%
50,0%
24
Tamanho da empresa
Problemas enfrentados
nesta temporada
Pequeno porte
Médio porte
Grande porte
Sim, com distribuição de água
50,0%
50,5%
71,4%
Sim, com falta de energia
37,2%
46,4%
50,0%
Sim, com assaltos e/ou
violência urbana
3,8%
2,1%
3,6%
Sim, nas vias de acesso ao
estabelecimento
26,9%
18,6%
7,1%
Sim, com falta de
acessibilidade a deficientes
0,0%
0,0%
0,0%
Não teve nenhum problema
1,3%
2,1%
7,1%
Teve outros problemas
14,1%
13,4%
7,1%
Investimentos Realizados
Pequeno Porte
Médio Porte
Grande Porte
Armazenamento de água
51,1%
47,8%
54,2%
Geração de energia
27,7%
25,4%
29,2%
Melhorias no acesso
12,8%
17,9%
12,5%
Acessibilidade para
deficientes físicos
36,2%
26,9%
41,7%
Tratamento de esgoto
25,5%
31,3%
16,7%
Segurança
61,7%
68,7%
75,0%
Outros
2,1%
9,0%
20,8%
Pequeno Porte
Médio Porte
Grande Porte
Fechamento antecipado
do estabelecimento
37,0%
31,3%
33,3%
Perda de estoques/alimentos
16,7%
8,8%
18,5%
Perda de informações
de clientes
3,7%
1,3%
0,0%
Queima de equipamentos
3,7%
8,8%
0,0%
Check-out antecipado
0,0%
5,0%
14,8%
Compra de água
9,3%
12,5%
14,8%
Inutilização do elevador
por falta de energia
0,0%
1,3%
0,0%
Outros
66,7%
63,8%
74,1%
Prejuízos
25
ANEXO II - CRUZAMENTOS FLORIANÓPOLIS
Setores
Problemas enfrentados
nesta temporada
Bares
Pousadas
Restaurantes
Hotéis
Sim, com distribuição de água
30,6%
48,3%
34,5%
9,4%
Sim, com falta de energia
25,8%
34,5%
35,7%
40,6%
Sim, com assaltos e/ou
violência urbana
6,5%
3,4%
6,0%
0,0%
Sim, nas vias de acesso
ao estabelecimento
43,5%
3,4%
6,0%
0,0%
Sim, com falta de
acessibilidade a deficientes
1,6%
0,0%
0,0%
0,0%
Não teve nenhum problema
3,2%
41,4%
36,9%
56,3%
Teve outros problemas
8,1%
10,3%
2,4%
3,1%
Investimentos Realizados
Bares
Pousadas
Restaurantes
Hotéis
Armazenamento de água
48,5%
64,0%
46,9%
60,0%
Geração de energia
24,2%
32,0%
22,4%
60,0%
Melhorias no acesso
6,1%
20,0%
12,2%
6,7%
Acessibilidade para
deficientes físicos
27,3%
20,0%
16,3%
33,3%
Tratamento de esgoto
15,2%
44,0%
44,9%
33,3%
Segurança
72,7%
60,0%
73,5%
86,7%
Outros
18,2%
8,0%
2,0%
20,0%
Prejuízos
Bares
Pousadas
Restaurantes
Hotéis
Fechamento antecipado do
estabelecimento
21,9%
0,0%
19,6%
0,0%
Perda de estoques/alimentos
15,6%
0,0%
8,7%
9,1%
Perda de informações
de clientes
0,0%
0,0%
6,5%
0,0%
Queima de equipamentos
15,6%
27,3%
17,4%
9,1%
Check-out antecipado
0,0%
72,7%
0,0%
27,3%
Compra de água
9,4%
27,3%
23,9%
0,0%
Inutilização do elevador
por falta de energia
0,0%
0,0%
0,0%
0,0%
Outros
78,1%
90,9%
58,7%
81,8%
26
Tamanho da empresa
Problemas enfrentados
nesta temporada
Pequeno porte
Médio porte
Grande porte
Sim, com distribuição de água
29,9%
33,7%
30,8%
Sim, com falta de energia
35,1%
35,6%
23,1%
Sim, com assaltos e/ou
violência urbana
5,2%
1,9%
11,5%
Sim, nas vias de acesso
ao estabelecimento
2,6%
2,9%
7,7%
Sim, com falta de
acessibilidade a deficientes
1,3%
0,0%
0,0%
Não teve nenhum problema
37,7%
42,3%
50,0%
Teve outros problemas
11,7%
3,8%
3,8%
Investimentos realizados
Pequeno porte
Médio porte
Grande porte
Armazenamento de água
51,3%
60,0%
44,4%
Geração de energia
17,9%
36,7%
38,9%
Melhorias no acesso
12,8%
15,0%
0,0%
Acessibilidade para
deficientes físicos
25,6%
21,7%
22,2%
Tratamento de esgoto
35,9%
35,0%
44,4%
Segurança
69,2%
80,0%
72,2%
Outros
15,4%
6,7%
11,1%
Médio porte
Grande porte
Prejuízos
Pequeno porte
Fechamento antecipado do
estabelecimento
15,0%
15,6%
10,0%
Perda de estoques/alimentos
7,5%
9,4%
0,0%
Perda de informações
de clientes
0,0%
5,1%
0,0%
Queima de equipamentos
17,5%
9,4%
10,0%
Check-out antecipado
12,5%
12,5%
20,0%
Compra de água
15,0%
12,5%
10,0%
Inutilização do elevador
por falta de energia
0,0%
0,0%
0,0%
Outros
60,0%
81,3%
90,0%
27
Rua Felipe Schmidt 785/5º andar - Centro - CEP 88010.002 - Florianópolis - SC
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