PESQUISA FECOMÉRCIO DE TURISMO Investimento e Percepção do Empresário PESQUISA FECOMÉRCIO DE TURISMO Investimento e Percepção do Empresário Investimento e Percepção do Empresário de Florianópolis e Balneário Camboriú em relação à infraestrutura turística da temporada de verão 2014 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO4 BALNEÁRIO CAMBORIÚ5 Perfil dos entrevistados5 Problemas da temporada5 Avaliação da infraestrutura turística10 DEPOIMENTOS DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ 11 FLORIANÓPOLIS14 Perfil dos entrevistados14 Problemas da temporada14 Avaliação da infraestrutura turística19 DEPOIMENTOS DE FLORIANÓPOLIS20 CONSIDERAÇÕES FINAIS23 ANEXO I - CRUZAMENTOS BALNEÁRIO CAMBORIÚ24 Setores24 Tamanho da empresa25 ANEXO II - CRUZAMENTOS FLORIANÓPOLIS26 Setores26 Tamanho da empresa27 3 INTRODUÇÃO O verão é a estação em que o Litoral de Santa Catarina demonstra na sua plenitude toda a sua vocação para a atividade turística. Local de belas praias, o Estado se consolidou, na última década, como um dos principais destinos de turistas, tanto do Brasil como do exterior. No entanto, a temporada de verão de 2014 registrou sérios problemas na infraestrutura dos principais destinos turísticos do Estado: Florianópolis e Balneário Camboriú. Com o forte aumento do número de visitantes, os dois municípios não foram capazes de absorver este incremento sem o registro de reclamações. Falta de luz e água foram comuns, trazendo um forte debate em torno da infraestrutura turística do litoral catarinense. Por este motivo, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina (Fecomércio SC), com o intuito de identificar a dimensão destes problemas e o impacto trazido para a atividade empresarial, realizou uma pesquisa com os empresários de Balneário Camboriú e Florianópolis. A investigação ocorreu entre os dias 14 e 17 de janeiro de 2014. Foram entrevistados 340 empresários dos setores de hotéis, bares e restaurantes, com estabelecimentos localizados nas praias do Norte da ilha de Florianópolis e na Praia Central em Balneário Camboriú. Neste contexto foi selecionada uma amostra probabilística e estratificada por setor pesquisado que apresenta margem de erro de 5% e nível de confiança de 95%. Foram realizadas entrevistas telefônicas assistidas por computador - CATI (Computer Assisted Telephone Interviews), com pesquisadores treinados e questionários estruturados desenvolvidos pelo Núcleo de Economia e Pesquisa da Fecomércio SC. Foram aplicadas 33 perguntas, sendo 27 fechadas (respostas múltiplas e únicas) e seis abertas. Os dados foram processados eletronicamente e receberam tratamento estatístico. 4 BALNEÁRIO CAMBORIÚ Perfil dos entrevistados Tipo de estabelecimento % Hotel 11,90% Pousada 1,50% Restaurante 48,50% Bar 38,10% Tempo de existência % Menos de 1 ano 3,90% De 1 a 5 anos 18,70% De 6 anos a 10 anos 21,70% Acima de 10 anos 55,70% Considera que o tamanho do estabelecimento é: % Pequeno Porte 38,40% Médio Porte 47,80% Grande Porte 13,80% Número de funcionários % Até 10 funcionários 37,44% De 10 a 30 funcionários 43,84% De 30 a 50 funcionários 13,30% Acima de 50 funcionários 5,42% Problemas da temporada Como foi recorrentemente noticiado, Balneário Camboriú sofreu com problemas ligados à infraestrutura pública durante a temporada. Para identificar quais foram os problemas, perguntou-se ao empresário se o seu estabelecimento enfrentou dificuldades ou sofreu prejuízos decorrentes de infraestrutura pública. 5 Como mostra o gráfico abaixo, o maior problema observado em Balneário Camboriú foi com a distribuição de água no munícipio: 52,2% dos empresários deram essa resposta. Depois, vieram os problemas decorrentes da falta de energia elétrica, com 44,3% das respostas; 19,7% responderam que não tiveram nenhum problema. Na sequência, 11,8% tiveram outros problemas diversos, 4,9% problemas com os acessos a seu estabelecimento, entre eles problemas com estacionamento e grandes congestionamentos, e, por fim, 3% responderam que tiveram problemas relacionados à segurança. Iluminação pública e acesso a deficientes físicos não tiveram respostas. Problemas enfrentados nesta temporada 44,3% 19,7% 11,8% Não teve nenhum problema 0,0% Sim, com iluminação pública 4,9% Sim, nas vias de acesso ao estabelecimento 0,0% Sim, com falta de acessibilidade à deficientes Sim, com assaltos e/ou violência urbana Sim, com falta de energia Sim, com distribuição de água 3,0% Teve outros problemas 52,2% Para saber se os problemas relacionados aos serviços públicos são recentes ou recorrentes, foi perguntado aos estabelecimentos comerciais os tipos de problemas enfrentados em anos anteriores. Desta vez, a maioria dos empresários não teve problemas (52,7%), mostrando que esta temporada foi realmente mais complicada do que as anteriores. Entretanto, para uma parcela significativa dos empresários, ocorreram problemas em anos anteriores com a distribuição de água (35%), falta de energia (15,3%) e outros problemas diversos (8,4%). Problemas enfrentados em anos anteriores 52,7% 35,0% 0,5% Sim, nas vias de acesso ao estabelecimento Sim, com iluminação pública Teve outros problemas 0,5% Não teve nenhum problema 0,0% Sim, com falta de acessibilidade à deficientes 8,4% 1,0% Sim, com assaltos e/ou violência urbana Sim, com falta de energia Sim, com distribuição de água 15,3% Uma vez identificados os principais problemas enfrentados pelos empresários de Balneário Camboriú, foi perguntado se eles realizaram investimentos na estrutura de seu estabelecimento a fim de resolver, por conta própria, os problemas observados acima. A maioria deles disse que sim (56,2%), já realizou investimentos em estrutura. Ou seja, arcou individualmente com fatores que, em razão do pagamento de impostos, deveriam funcionar. 6 Realizou investimentos em infraestrutura Sim, realizou investimentos 43,80% 56,20% Não realizou investimentos Foi perguntando, também, há quanto tempo esses investimentos foram realizados, a fim de diagnosticar indiretamente quando os problemas começaram a despertar a preocupação do empresário. A maior parte das melhorias (65,7%) se concentrou no período de um ano atrás. Na sequência, os investimentos feitos há mais de 2 anos (19%), seguido dos com mais de 5 anos (5,7%) e dos de 3 e de 4 anos atrás, ambos com 4,8% das respostas. Ou seja, a grande maioria dos investimentos é recente, associados principalmente ao aumento dos turistas que não foi acompanhado por aumentos paralelos da infraestrutura. A última temporada foi a que o problema se agravou, e a atual é apenas o reflexo do aprofundamento do problema. Quando foram realizados os investimentos? 5,70% 4,80% 4,80% No ano anterior Há 2 anos Há 3 anos 19,00% 65,70% Há 4 anos Há 5 anos 7 Já em relação ao direcionamento e ao montante investido, os gráficos abaixo ajudam a elucidar tal questão: Armazenamento de água Não 51,10% Geração de energia elétrica Sim 48,90% Não 27,40% Sim 72,60% Valor médio do investimento por empresa: R$ 9.990,35 Valor médio do investimento por empresa: R$ 35.292,59 Melhorias no acesso Acessibilidade para deficientes físicos Não 16.30% Sim 83,70% Não 33,80% Sim 66,20% Valor médio do investimento por empresa: R$ 36.638,46 Valor médio do investimento por empresa R$ 14.994,59 Tratamento de esgoto privado Segurança Privada Não 27,00% Sim 73,00% Valor médio do investimento por empresa: R$ 9.343,33 Não 64,60% Sim 35,40% Valor médio do investimento por empresa: R$ 20.793,44 Pelos gráficos acima, pode-se observar que o setor que mais preocupa os empresários é o de segurança – relacionado principalmente à instalação de alarmes e ao pagamento de “segurança de bairro” privada. A maioria dos empresários de Balneário Camboriú (64,6%) realizou investimentos neste sentido, com uma média de mais de R$ 20 mil por empresa. Como destaque, também é possível registrar os 51,1% dos empresários que realizaram investimentos em armazenamento de água, com uma média de quase R$ 10 mil por empresa. 8 Entretanto, tais dispêndios nos estabelecimentos comerciais não resolveram o problema para todos. Como pode ser visualizado no gráfico ao lado, 49,67% dos entrevistados responderam que os investimentos resolveram apenas parcialmente o problema. Ou seja, a temporada de 2014 poderia ser ainda mais problemática caso o empresário não tivesse buscado a solução privada do problema público. Sim, resolveram o problema 44,37% Não, o investimento resolveu parcialmente o problema 49,67% NS/NR Investimentos ainda necessários 42,0% 28,2% 16,1% 0,0% São necessários outros 0,0% Não são necessários outros investimentos 1,1% Sim, em iluminação pública Sim, em segurança 3,4% Sim, em saneamento básico Sim, em acessibilidade para deficientes físicos Sim, melhorias viárias de acesso ao local Sim, em geração de energia elétrica Sim, em armazenamento de água 0,6% Sim, em ampliação de vagas de estacionamento 11,5% 2,9% Prejuízos sofridos nesta temporada 37,27% 32,92% 0,62% Outros 1,86% Inutilização de elevador por falta de energia Fechamento antecipado do estabelecimento Queima de equipamentos 4,97% 3,73% Perda de informações dos clientes 10,56% Perda de estoques/alimentos 8,07% Check-out antecipado Alguns desses problemas resultaram em prejuízos para os empresários. Para a maioria, depois da resposta genérica “outros”, os principais problemas decorrentes da precariedade da infraestrutura urbana foram o fechamento antecipado dos estabelecimentos (com 32,9%), a perda de estoques e alimentos (com 10,5%) e a compra de água (com 8%). 5,96% Compra de água Com base nisso, foi perguntado quais investimentos ainda são necessários para que seja possível sanar definitivamente os problemas. A resposta que mais apareceu foi mais investimentos em armazenamento de água. Este quesito obteve 42% das respostas. Logo em seguida, 28,2% dos empresários disseram que não são necessários mais investimentos, 16,1% disseram que são necessários investimentos em energia elétrica e 11,5% em segurança. Os investimentos realizados resolveram o problema? 9 Avaliação da infraestrutura turística Observando os principais problemas que os empresários de Balneário Camboriú apontaram devido à infraestrutura da cidade, seus prejuízos e seus gastos para minimizar os problemas, verifica-se que, em linhas gerais, a percepção dos empresários em relação aos serviços públicos ligados ao turismo é regular, oscilando bastante de um tipo de serviço para outro. Como pontos positivos aparecem a iluminação pública (melhor item avaliado), as vias de acesso e a distribuição de luz. Na contramão, os mais mal avaliados foram a ausência de estacionamento, problema que só se aprofunda nos últimos anos, e a distribuição de água. Abaixo é possível observar os resultados completos: Percepção dos serviços públicos Não sabe Péssimo Limpeza pública 26,1% Sinalização turística 18,2% Segurança Acessibilidade deficientes físicos Vias de acesso 5,4% 6,4% 14,8% Distribuição de água 23,2% 16,7% 22,9% 11,0% 31,3% 13,3% 4,4% 15,8% 58,6% 30,0% 18,3% 17,7% 7,4% 35,5% 16,7% 15,3% 20,8% Ótimo 29,1% 21,7% 19,2% 12,5% Bom 24,1% 50,2% Tratamento de esgoto Distribuição de luz Regular 13,3% Estacionamento Iluminação Pública Ruim 5,9% 36,9% 29,9% 6,4% 27,4% 32,5% 20,4% 2,0% 34,2% 22,2% 11,4% 7,4% 33,0% 19,8% 36,0% 28,9% 2,5% 3,0% 6,5% 15,4% 2,5% 10 DEPOIMENTOS DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ Elenilson Ramos - gerente geral do Hotel Marambaia “Tivemos uma queda de luz no dia 30 de dezembro, por causa do estouro de um transformador, ficamos uma hora sem luz. Água felizmente não é problema porque temos um poço artesiano que abastece todo o hotel, e raramente precisamos pegar água da rua, da Emasa (Empresa Municipal de Água e Saneamento). Foi um investimento antigo, no tempo da construção do hotel. Colocamos um gerador de energia de prontidão no Réveillon. Usamos nos dois anos anteriores, mas nesse ano não foi preciso. Temos 90% de ocupação desde o dia 1º de janeiro. O hotel investiu R$ 1 milhão nos últimos anos em conforto e segurança dos turistas. Agora, falando como um morador de Balneário Camboriú, a gente percebe que a limpeza da praia não está acontecendo como deveria. Também faltou recolhimento de lixo, já que a prefeitura, recentemente, cancelou o contrato com a empresa terceirizada que realizava o serviço. Mas vem faltando água no meu prédio e na minha região. Há três meses isso está acontecendo. Também percebo que a Emasa não está dando conta do esgoto. No final da tarde, o rio que passa atrás do hotel fica o maior fedor, a gente sente o cheiro. As elevatórias estão todas cheias, e como a Celesc está com problemas, acaba travando o sistema da Emasa, que não estava funcionando. Creio que o turismo tem que ser benéfico para o morador da cidade. Tem que ser muito bem planejado, para que não se crie uma espécie de xenofobia, uma aversão ao turista na cidade”. Hamilton de Oliveira - gerente comercial do Hotel D’Sintra “Qualquer problema na cidade nos afeta. Faltou luz duas vezes no hotel, na virada do ano. Instalamos um gerador, que supre um dos elevadores e as áreas sociais. Água não foi problema por que instalamos duas cisternas bem grandes. Mas a cidade está um pouco suja. Não é hora de se fazer obra na orla. Para não termos mais problemas de luz, teríamos que investir cinco vezes o que já investimos. O problema é que o investimento tem que ser feito por quem já paga imposto, e não por quem deveria ser responsável. Para resolvermos os problemas de água, gastamos R$ 100 mil reais, um dinheiro que podia ser investido em mais conforto para o hóspede. As obras de infraestrutura de esgoto, o asfalto e as ciclovias foram importantes para a cidade. Mas nossos funcionários não têm médicos nos postos de saúde e não têm creche nos finais de semana para os filhos, em uma cidade que vive para o turismo. Para os turistas, também, o ônibus no final de semana é complicado. A Emasa precisa fazer um investimento monstruoso para não repetir os problemas de falta de água. Se houver um crescimento de 5% no número de visitantes, no ano que vem, e se considerarmos que Balneário Camboriú teve 1 milhão de pessoas no Réveillon, serão 50 mil pessoas a mais na cidade. E a cada ano, quantos novos prédios são entregues na cidade? E isso significa mais pessoas, mais banhos, mais consumo. O investimento em segurança também precisa ser maior. Falta efetivo na Polícia Militar; a Guarda Municipal ajuda um pouco. A temporada está igual ao ano passado. O movimento está bom”. 11 Claudia Tavares – gerente do restaurante Mangiare Felice “A falta de água foi o que mais atrapalhou. Ficamos oito dias sem abastecimento, coisa que nunca havia acontecido antes. Até agora não se sabe por quê? Não deram justificativa. Disseram que foi por causa do alto consumo, mas estamos com o mesmo movimento do ano passado. Temos um reservatório de 40 mil litros - são quatro caixas d’água de 10 mil litros, compradas há cinco anos - e, mesmo assim, ele secou a ponto de não termos água para fazer um suco. Isso com a casa lotada, com reserva para três horários. Pagamos um ágio enorme para chamar o caminhão pipa. Chamamos três de 15 mil litros, a R$ 1,5 mil cada um, e duas carretas de 20 mil litros, a R$ 2 mil cada. Gastamos R$ 8,5 mil só com água. E para atender a turma que fez reserva para o dia 31 de dezembro, precisamos buscar mais 22 bombonas de 18 litros cada. Os problemas começaram uma semana antes do Réveillon. Fomos pegos de surpresa. Não vinha mais água na madrugada como antes. Entrou ar nos canos, ar na bomba d’água. O prejuízo passou dos R$ 10 mil. Estamos pensando em botar mais uma caixa d’água. Tem falta de água todo ano, mas não com essa intensidade. A cidade precisa investir em um reservatório maior. Também faltou luz por duas horas no dia 30. A Celesc precisa ter plantão e mais técnicos preparados para esses casos urgentes. Eu faço parte do Convention & Visitors Bureau de Balneário Camboriú. Todo empenho do setor da gastronomia, todo o investimento feito em propaganda para atrair o turista, de nada adiantará se eles saírem insatisfeitos e com uma imagem negativa da cidade. Outra coisa que precisa ser vista com urgência é o acesso a Balneário Camboriú pela BR-101. Teve gente que levou oito horas para chegar de Curitiba. Soube que muitas pessoas deram meia volta e retornaram para o Paraná”. Claudio Mantovani – proprietário da Cantina Famiglia Mantovani “No dia 31 de dezembro, deixamos de atender cerca de 60 pessoas por causa da falta de água, o que para nós foi um grande prejuízo. Contamos com essa noite do dia 31 e não pudemos trabalhar. Também não abrimos ao meio-dia, no dia 1º de janeiro, pelo mesmo problema. Conseguimos trabalhar à noite com que o tinha na caixa, usando a água filtrada. Nos limitamos ao que tinha. Usamos água de galão para cozinhar. No dia 2 de janeiro, faltou água e luz. Ficamos seis dias sem poder trabalhar, no ápice da temporada. Tínhamos muita coisa estocada que se perdeu por causa de uma falta de luz que durou 5 horas e meia. A nossa massa é feita artesanalmente e congelada. A nossa casa é antiga, tem 80 anos. Viemos para cá em 1991 e investimos um monte na casa, que é alugada. O nosso atendimento é diferenciado. O restaurante é pequeno, são apenas 17 lugares. Somos só eu, a mulher e uma sobrinha. Nosso filho ajuda também, mas ele trabalha no comércio o dia inteiro. Tudo é feito na hora. E sempre lidamos com a falta de água e de luz. Só que esse ano é que foi pior. Tive que comprar 12 galões de água e pegar água da chuva para usar nos banheiros. É um problema, porque a imagem do restaurante fica prejudicada. Se eu abro a porta, o restaurante lota. E como vou explicar que não tem água? Disseram que não iria faltar água, e faltou. O prédio aqui da frente precisou chamar 12 quatro caminhões. Agora, de onde vem a água desses caminhões. Acredito que o problema da Emasa é falta de investimento e falta de vontade política. Fazem propaganda, e quem veio para ficar uma semana ficou um dia. Mas a Casan era pior que a Emasa. A Casan só ganhava dinheiro aqui em Balneário Camboriú. Nos últimos cinco anos, melhorou bem, mas talvez a capacidade de captação seja pequena”. Ricardo Fernandes – proprietário do Madero Grill “Só não faltou água porque temos uma situação específica. Estamos instalados num prédio que possui uma cisterna muito grande. Mas, mesmo assim, tivemos que parar tudo por causa da falta de luz. Se faltou 15 ou 20 minutos, isso significa uma hora da nossa operação. A maior incidência de falta de luz foi entre os dias 3 e 6 de janeiro, no período de maior movimento. Mas a falta da água na cidade foi um absurdo. Nós não passamos por isso, mas teve prédio residencial que contratou mais de 20 caminhões. Há cinco anos que não acontecia algo desse tipo. Sobre a falta de luz, não adiantava ligar para a Celesc, porque não se conseguia nem falar com eles. Acho que o problema é que a demanda é muito maior que a oferta de energia. E essas quedas frequentes de luz impactam muito o nosso trabalho. O cliente pede um prato e a gente não consegue servir por causa da falta da luz. Numa noite, eram mais ou menos 23h, tivemos que deixar várias pessoas saírem sem pagar por causa do transtorno. Devo ter perdido, nesses dias todos, algo em torno de R$ 20 mil. Mas colegas meus, donos de sorveterias e de casas de sushi, tiveram prejuízo ainda maior. Não tenho conhecimento das causas, nem posso dizer muito bem o que acredito que precisa ser feito. Os técnicos é que deveriam saber disso. Mas, com tudo que se vem investindo em propaganda, em divulgação da cidade, acho um absurdo faltar coisas tão básicas como água e luz. Aqui na Avenida Atlântica vendem apartamentos que valem milhões. Como é que podem ficar sem água e luz?” 13 FLORIANÓPOLIS Perfil dos entrevistados Tipo de estabelecimento % Hotel 15,30% Pousada 21,20% Restaurante 38,00% Bar 25,50% Tempo de existência % Menos de 1 ano 2,20% De 1 a 5 anos 8,80% De 6 anos a 10 anos 13,10% Acima de 10 anos 75,90% Considera que o tamanho do estabelecimento é: % Pequeno Porte 34,30% Médio Porte 53,30% Grande Porte 12,40% Número de funcionários % Até 10 funcionários 46,70% De 10 a 30 funcionários 31,40% De 30 a 50 funcionários 14,60% Acima de 50 funcionários 7,30% Problemas da temporada Florianópolis também sofreu com problemas ligados à infraestrutura pública durante esta temporada. Desta maneira, todas as informações levantadas sobre Balneário Camboriú também foram buscadas na capital do Estado, majoritariamente no Norte da ilha. Em primeiro lugar, perguntou-se ao empresário se o estabelecimento enfrentou dificuldades ou sofreu 14 prejuízos decorrentes de infraestrutura pública. Como mostra o gráfico abaixo, para aqueles que tiveram problemas (mais da metade dos empresários), eles se concentraram na distribuição de energia elétrica (52,6%) e de água (47,4%). Expressivo percentual de empresários registrou estes problemas, confirmando aquilo que foi noticiado na mídia. Problemas enfrentados nesta temporada 52,60% 42,30% Teve outros problemas 5,10% 0,00% Não teve nenhum problema 6,60% Sim, com iluminação pública 0,70% Sim, nas vias de acesso ao estabelecimento Sim, com assaltos e/ou violência urbana Sim, com falta de energia Sim, com distribuição de água 6,60% Sim, com falta de acessibilidade à deficientes 47,40% Já em anos anteriores, os problemas mantiveram praticamente a mesma frequência, demonstrando a maneira como a situação se repete. Novamente, a concentração ficou com os problemas com água (43,8%) e com energia elétrica (29,9%), esta última com grande crescimento na ocorrência de problemas nessa temporada em relação às anteriores. Problemas enfrentados em anos anteriores 45,52% 43,80% Sim, com falta de acessibilidade à deficientes Sim, nas vias de acesso ao estabelecimento 2,24% 0,00% Teve outros problemas 2,90% Não teve nenhum problema 1,50% Sim, com iluminação pública 2,20% Sim, com assaltos e/ou violência urbana Sim, com falta de energia Sim, com distribuição de água 29,90% Uma vez identificados os principais problemas, foi perguntado se os empresários realizaram investimentos na estrutura de seus estabelecimentos, a fim de resolver, por conta própria, as situações observadas acima. A maioria deles disse que sim (56,1%), que já realizou investimentos em estrutura. Ou seja, arcou individualmente com fatores que, em razão do pagamento de impostos, deveriam funcionar. 15 Realizou investimentos em infraestrutura Sim, realizou investimentos 43,90% 56,10% Não realizou investimentos Foi perguntando, também, há quanto tempo esses investimentos foram realizados? Metade das melhorias (50%) é recente, de apenas um ano atrás. Entretanto, como os problemas são recorrentes, também existem investimento realizados há mais de 2 anos (25,8%), há mais de 3 anos (11,3%) e acima de 5 anos (12,9%). Quando foram realizados os investimentos? 12,90% No ano anterior 11,30% Há 2 anos 50,00% Há 3 anos Há 4 anos 25,80% Há 5 anos 16 Já em relação ao direcionamento e ao montante investido, os gráficos abaixo abordam a questão: Armazenamento de água Não 69,30% Geração de energia elétrica Sim 30,70% Não 35,60% Sim 64,40% Valor médio do investimento por empresa: R$ 10.524,44 Valor médio do investimento por empresa: R$ 21.434,78 Melhorias no acesso Acessibilidade para deficientes físicos Não 13,90% Sim 86,10% Não 23,30% Sim 76,70% Valor médio do investimento por empresa: R$ 28.000,00 Valor médio do investimento por empresa R$ 14.642,86 Tratamento de esgoto privado Segurança Privada Não 39,20% Sim 60,80% Valor médio do investimento por empresa: R$ 20.958,33 Não 68,80% Sim 31,20% Valor médio do investimento por empresa: R$ 13.220,00 Pelos gráficos acima pode-se observar que o setor que mais preocupa os empresários é o armazenamento de água, sendo que 69,3% dos empresários realizaram investimentos nesse item, com uma média de mais de R$ 10 mil por empresa. Também é fonte de atenção a questão da segurança, com a maioria dos entrevistados (68,8%) realizando investimentos na instalação de sistemas de alarme ou na contratação de “seguranças de bairro”, com uma média de mais de R$ 20 mil por empresa. 17 Entretanto, tais dispêndios nos estabelecimentos comerciais não resolveram o problema para a maioria dos empresários de Florianópolis. Como pode ser visualizado no gráfico ao lado, 50,6% dos entrevistados responderam que os investimentos resolveram apenas parcialmente o problema. Ou seja, a temporada de 2014 poderia ser ainda mais problemática caso o empresário não buscasse a solução privada do problema público. 50,60% 49,40% Não, o investimento resolveu parcialmente o problema Investimentos ainda necessários 49,6% 30,8% 23,3% 17,3% São necessários outros 3,0% Não são necessários outros investimentos Sim, em iluminação pública Sim, em ampliação de vagas de estacionamento 3,0% 0,8% Sim, em segurança Sim, em saneamento básico Sim, em acessibilidade para deficientes físicos Sim, melhorias viárias de acesso ao local Sim, em geração de energia elétrica Sim, em armazenamento de água 3,0% 0,8% 3,8% Prejuízos sofridos nesta temporada 32,50% 20,00% 0,00% Outros 1,25% Inutilização de elevador por falta de energia 10,00% Perda de informações dos clientes 11,25% Queima de equipamentos Perda de estoques/alimentos 10,00% Fechamento antecipado do estabelecimento 15,00% Check-out antecipado Sobre os prejuízos que os empresários sofreram na temporada, destaque para a compra de água (20%), os check-out antecipados (15%) e o fechamento antecipado dos estabelecimentos (11,25%). Sim, resolveram o problema Compra de água Desse modo, perguntou-se quais investimentos ainda são necessários para que se possam sanar definitivamente os problemas. Aqueles que tiveram o problema solucionado, apresentados na questão anterior, não veem necessidade de novos investimentos (49,6%). Entretanto, para 30,8% dos empresários da cidade são necessários investimentos em armazenamento de água, para 23,3% são necessárias melhorias na geração de energia elétrica e para 17,3% mais investimentos em segurança. Os investimentos realizados resolveram o problema? 18 Avaliação da infraestrutura turística Observando os principais problemas que os empresários de Florianópolis apontaram devido à infraestrutura da cidade, seus prejuízos e seus gastos para minimizar os problemas, verifica-se que a percepção dos empresários em relação aos serviços públicos ligados ao turismo variou bastante de um tipo de serviço para outro, com itens bem avaliados e outros bastante mal avaliados. Como pontos positivos aparecem a iluminação pública (melhor item avaliado), a limpeza pública e a distribuição de luz. Na contramão, os mais mal avaliados foram o tratamento de esgoto, a ausência de estacionamentos e a distribuição de água. Abaixo é possível observar os resultados completos: Percepção dos serviços públicos Não sabe Limpeza pública Péssimo 13,9% Sinalização turística 6,6% 5,1% 8,8% Segurança 21,3% 16,8% 15,3% 1,5% 22,6% 20,4% 16,8% 14,6% 21,2% 5,1% 12,4% 1,5% 35,8% 15,3% 28,5% 5,1% 19,0% 40,1% 25,5% 2,2% 2,9% 27,9% 23,4% 44,5% 31,4% 27,7% 21,3% 22,6% 11,7% 2,9% 57,7% 38,0% Tratamento de esgoto Distribuição de água 16,1% 24,3% 19,7% Ótimo 27,7% 23,4% Acessibilidade deficientes físicos 14,6% Bom 49,6% 43,1% Iluminação Pública Distribuição de luz Regular 25,5% 21,2% Estacionamento Vias de acesso Ruim 1,5% 5,1% 19,7% 2,2% 19 DEPOIMENTOS DE FLORIANÓPOLIS Rubens Régis - gerente operacional do Resort Costão do Santinho “Água e saneamento não são problemas porque temos abastecimento próprio e uma estação de tratamento. A luz é que era um problema, até adquirirmos uma central de geração de energia. Agora geramos energia para abastecer todo o empreendimento. No que sentimos que faltou energia, ligamos o gerador. Todo o sistema de geração custou em torno de R$ 3 milhões. Precisa ser desse porte, porque somos uma cidade de 1,7 mil habitantes. Temos 695 apartamentos, com cerca de mil quartos. Para a cidade, o que aconteceu na virada do ano foi um horror. A forma com que a crise foi tratada também foi terrível. Mas já era esperado que isso iria acontecer. Para o turista que investiu nas suas férias, que está pagando para se hospedar em um apartamento na Praia Brava, numa pousada ou num pequeno hotel, pouco importam as desculpas dos órgãos públicos. Ele quer água e luz, se não tem, ele vai embora. E essa situação vai acontecer de novo no ano que vem, se não forem tomadas providências. O que precisa ser feito é um plano de contingência para a temporada 2014/2015 e, depois, um plano de longo prazo, talvez trazer água do Rio Tijucas, se só com a do Rio Cubatão não estão dando conta. Estamos com uma média de ocupação de 85%. Nos finais de semana, sexta, sábado e domingo, tivemos lotação máxima. Esse ano está melhor que o ano passado. Em 2013, trabalhamos com 75% de ocupação. Agora, em 2014, temos 85%. Os argentinos estão vindo normalmente, o que para nós foi uma surpresa.” Paulo Correa – gerente de Infraestrutura do Hotel Il Campanario (Jurerê Internacional) “A nossa água vem de uma empresa do Grupo Habitasul, que é dono do empreendimento. Durante a temporada, sempre se faz um planejamento de 50% a mais. No pico da temporada, o fornecimento dobra. Mas o nosso empreendimento tem uma reserva bastante calculada. Nos seis anos de operação, nunca tivemos problemas. Com relação à energia, temos um grupo de quatro geradores que supre 100% do empreendimento. Nós o utilizamos principalmente no horário de ponta da Celesc, entre 18h30min e 20h30min, quando o kilowatt pula de 37 centavos para R$ 1,47. O problema da Celesc é a baixa qualidade da energia fornecida, com uma oscilação de tensão que nos causa alguns problemas. Temos um equipamento de climatização de ponta e, quando há essa oscilação, ele se autodesliga. Toda a nossa operação é automatizada: energia, abastecimento de água, nível de reservatórios, esgoto, etc. Gastamos, num projeto com essa estrutura, R$ 5 milhões só na automação. O empreendimento custou em torno de R$ 100 milhões, no total. Para não dependermos do fornecimento dos órgãos público, tudo foi superdimensionado. Sobre a infraestrutura da cidade, dificilmente ela vai se preparar para atender a essa demanda extra que se verifica em um período tão curto. Creio que os empreendimentos terão que prever e suprir essa demanda por conta própria. No que toca ao setor turístico, a solução terá que vir da iniciativa privada. As empresas públicas não vão fazer isso.” 20 Maria Helena Petry Makowiecky – proprietária da Pousada dos Chás (Jurerê) “Tivemos problemas com falta de água e de luz. Tenho uma cisterna de 27 mil litros e mais duas caixas de 3 mil litros cada. Mesmo assim, tive que pagar R$ 1,5 mil por um caminhão pipa de 15 mil litros, no dia 30 de dezembro. Isso que eu tenho captação de água da chuva e tratamento com filtro, para uso nos banheiros. E toda a água da cozinha vem de bombonas. Também tive falta de luz na noite do dia 29. Mas no ano passado foi pior. Fiquei sem água, entrou ar nos canos, nas bombas, e tive que gastar R$ 450 para rebobinar as bombas de água. O esgoto também não está funcionando, mesmo depois de a Casan quebrar várias ruas para colocar os canos. Quando vi que iria faltar água na pousada, chamei o carro pipa. Mas na minha casa, aqui ao lado, já fiquei este ano sete dias sem abastecimento. A situação continua crítica. A água chega de noite e não tem nem força para chegar nas caixas. Se você for lá na minha casa vai encontrar bacia, balde, panelão, tudo espalhado. Eu também tenho dois apartamentos no prédio ao lado, que eu também alugo. Uma família de São Paulo veio aqui e, como não havia água, foi embora. Perdi R$ 5 mil. E isso é muito ruim para a imagem da Ilha. As pessoas estão falando mal e não sei se irão voltar. Você pode ir perguntar nas imobiliárias, metade teve que devolver o dinheiro que recebeu antecipadamente pelos aluguéis. No ano passado fiz uma reforma de R$ 420 mil na pousada, para melhorar o atendimento e o conforto dos hóspedes. Gastei R$ 50 mil só na cisterna e, se não fosse ela, não teria sobrevivido. O prejuízo seria total. Agora preciso comprar um gerador, pelo menos para as luzes da área social e dos apartamentos. Uma cidade que se diz turística, cujo turismo absorve uma grande parcela da mão de obra local, não pode ser tratada com tanto descaso. Acredito que os problemas são decorrentes da falta de planejamento. Se sabe que vai faltar, que a demanda é maior, tem que se programar.” Mauro Bauer – gerente do Restaurante Pitangueiras (Sambaqui) “Água tá faltando direto, mas, como já tivemos problemas no passado, há uns cinco anos, providenciamos uma reserva de 40 mil litros. São quatro caixas de 10 mil litros que permitem o funcionamento. O problema do Sambaqui é que final de rede. Quanto à luz, tivemos duas ocorrências em janeiro, devido às trovoadas. Na primeira ficamos seis horas sem luz, na segunda, três horas. Mas foram situações pontuais. O problema é quando fica só meia fase, daí muitos aparelhos não funcionam direito. O caso mais crítico foi no dia 2 ou 3, quando fechamos por duas ou três horas porque não tínhamos mais o No Break. Não estávamos conseguindo atender aos pedidos, por que tudo agora é no computador, não temos mais comanda no papel. Esses problemas de infraestrutura queimam o filme de Florianópolis. Não há Réveillon sem esses problemas. Todo ano é a mesma coisa. Antes da instalação das caixas, tínhamos que fechar o restaurante. Na época, gastamos uns R$ 10 mil com a reforma. Mas esse foi o primeiro ano em que não precisamos chamar um caminhão pipa.” 21 Luzia Almeida Vaz – proprietária do Freguesia Bar e Restaurante (Santo Antônio de Lisboa) “Não tivemos problemas de água, mas de luz, sim. Tive que fechar o restaurante um dia, na virada do ano, por que o meu gerador não suportava mais. Não consigo manter ligados todos os equipamentos. Compramos o gerador no ano passado, gastamos R$ 6 mil. Tenho três fritadeiras e, com o gerador, só uma consegue ficar ligada. Em outubro, também teve uma falta de luz grande, quando estávamos com toda a produção da Fenaostra. Mas água não é problema por que nós adotamos o racionamento, procuramos economizar ao máximo. Eu tenho quatro caixas de 5 mil litros. A questão é saber como usar. Não temos a cultura de poupar água. Aqui em Floripa, se lava calçada com água tratada da Casan, um desperdício. No meu edifício, tem seis apartamentos, cada um com a sua caixa. O meu foi o único em que não faltou água. O problema da água não é a entrada, é a saída. As pessoas não têm consciência de que é preciso poupar esse recurso. É fácil cobrar da Casan, o difícil é as pessoas fazerem a sua parte. As pessoas têm piscina em casa com tanta praia perto. Mas a falta de luz é geral. A Celesc até procura arrumar rápido, assim que é acionada. Os problemas são localizados aqui na rua da praia.” Fábio Queiroz – presidente da Abrasel-SC e proprietário da Alameda Casa Rosa (Itacorubi) “A falta de água, em um estabelecimento de pequeno porte, pode ser um problema até maior que a falta de energia. Num restaurante menor, que não tem um reservatório e depende do fornecimento da Casan, não se consegue nem lavar a louça e usar o banheiro. A falta de energia, dependendo do estabelecimento, pode até resolver com algumas velas, até voltar a luz. Tivemos relatos de problemas no Norte da Ilha e na Lagoa, principalmente. Nos estabelecimentos mais estruturados, que já sentiram esses problemas em anos anteriores, a solução foi investir em infraestrutura própria: cisternas para garantir o abastecimento d’água e geradores para não ficar sem energia. Já ficamos sem energia aqui na Alameda. E há alguns anos compramos um gerador potente, que custou R$ 150 mil, e que supre 100% das nossas necessidades. Quanto à água, temos uma reserva de 300 mil litros, incluindo a piscina, cuja água até pode ser usada em caso extremo. Muitos empresários já tomaram esse tipo de providências. Mas fizemos uma pesquisa, e o principal problema apontado pelos clientes foi o trânsito. Depois vieram falta de água e falta de luz. Acho que os estabelecimentos precisam usar água, que é um produto caro, de forma mais consciente. É preciso poupar e reaproveitar. Isso ajuda, mas não resolve o problema. O poder público precisa investir mais em infraestrutura, mas também a iniciativa privada, as entidades que trabalham no setor, precisam também fazer o seu trabalho. Dimensionar mais adequadamente as suas necessidades nos horários de pico e nos dias de maior movimento. Ter uma projeção de consumo máximo e, se for o caso, serem taxados se esse consumo exceder o que havia sido projetado. Mas isso tem que ser feito juntamente com os órgãos públicos.” 22 CONSIDERAÇÕES FINAIS A temporada de verão deste ano foi destaque em função dos sérios problemas apresentados pela infraestrutura pública do litoral catarinense. Duas cidades que são destaques no nosso turismo, importantes destinos nacionais e internacionais, como Balneário Camboriú e Florianópolis, sofreram prejuízos evidentes em função da debilidade apresentada por algumas atividades do Estado. Os principais problemas e prejuízos foram registrados pelas falhas no abastecimento de água e luz em ambas as cidade. Aliás, estes problemas são recorrentes. A pesquisa demonstra como há vários anos as falhas se repetem. Tendo em vista as debilidades defrontadas e baseados em seu caráter empreendedor, muitos comerciantes catarinenses recorreram ao investimento privado em melhorias na capacidade individual para contornar as falhas na prestação dos serviços públicos. Compra de geradores para compensar as oscilações na energia elétrica, gasto com cisternas para minimizar a falta de água, instalação de alarmes e pagamento de “seguranças de bairro” privados para compensar o aumento da violência e instalação de sistemas privados de tratamento de esgoto foram as principais medidas adotadas pelos empresários. Mesmo que os investimentos na melhoria do estabelecimento sejam salutares, este tipo de gasto é uma espécie de “bitributação”, já que o empresário paga seus impostos e tarifas públicas, na expectativa de ter um retorno condizente com o alto valor empreendido, mas recebe em troca um serviço ruim e insuficiente, que lhe obriga a arcar individualmente com aquilo que não lhe é atendido. O orçamento acaba ficando comprometido com estes investimentos, que muitas vezes resolvem apenas parcialmente o problema, minimizando o espaço para investimentos naquilo que é essencialmente da esfera privada, como a melhoria na qualidade do atendimento prestado ao turista. O problema é grave e compõe mais um aspecto do débil ambiente de negócios brasileiro e catarinense. Para o micro e pequeno empreendedor o problema é ainda mais grave. Por não ter capacidade financeira de arcar com um gerador, por exemplo, o empresário de pequeno porte fica totalmente vulnerável à qualidade do serviço público que lhe é prestado. É necessário ter em vista que o turismo de verão é uma atividade volátil, sendo que o turista que hoje visita o nosso litoral em busca das belezas naturais e da hospitalidade do catarinense, ao se defrontar com falta de infraestrutura básica, no próximo ano pode ficar interessado em conhecer o restante da gigantesca costa brasileira. Apesar de propaganda e belezas naturais serem um impulso indispensável para o crescimento de um destino turístico, a sua consolidação durante os anos é garantida pela experiência vivenciada pelo turista, pela qualidade de tudo aquilo que envolve a atividade, tendo a infraestrutura pública um papel central neste quesito. Capacidade de lidar, de maneira adequada, com o aumento exponencial da população destas cidades durante o verão é nada mais que o básico no que tange ao turismo litorâneo. É absolutamente necessária a ampla divulgação de um plano de investimento do poder público, além da criação de mecanismos de participação e fiscalização por parte das entidades de representação e dos moradores das cidades. O tema não diz respeito apenas ao turismo, mas sim a todo o planejamento urbano e às mais diversas áreas da atividade econômica que perpassam a vida das cidades. Apenas uma boa cidade para seus habitantes pode se consolidar como uma cidade capaz de atender bem o turista, trazendo renda e dinamizando ainda mais a economia regional. 23 ANEXO I - CRUZAMENTOS BALNEÁRIO CAMBORIÚ Setores Problemas enfrentados nesta temporada Bares Pousadas Restaurantes Hotéis Sim, com distribuição de água 45,5% 0,0% 57,1% 54,2% Sim, com falta de energia 39,0% 66,7% 45,9% 29,2% Sim, com assaltos e/ou violência urbana 3,9% 0,0% 2,0% 4,2% Sim, nas vias de acesso ao estabelecimento 3,9% 0,0% 2,0% 4,2% Sim, com falta de acessibilidade a deficientes 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Não teve nenhum problema 23,4% 33,3% 15,3% 20,8% Teve outros problemas 13,0% 0,0% 5,1% 12,5% Investimentos realizados Bares Pousadas Restaurantes Hotéis Armazenamento de água 33,3% 33,3% 72,7% 45,8% Geração de energia 29,2% 66,7% 21,8% 37,5% Melhorias no acesso 16,7% 0,0% 7,3% 37,5% Acessibilidade para deficientes físicos 27,1% 0,0% 36,4% 50,0% Tratamento de esgoto 18,8% 33,3% 36,4% 25,0% Segurança 60,4% 33,3% 80,0% 75,0% Outros 10,4% 0,0% 9,1% 8,3% Prejuízos Bares Pousadas Restaurantes Hotéis Fechamento antecipado do estabelecimento 34,5% 0,0% 42,4% 0,0% Perda de estoques/alimentos 14,5% 50,0% 9,4% 0,0% Perda de informações de clientes 0,0% 0,0% 3,5% 0,0% Queima de equipamentos 7,3% 0,0% 3,5% 5,6% Check-out antecipado 0,0% 0,0% 0,0% 38,9% Compra de água 12,7% 0,0% 10,6% 16,7% Inutilização do elevador por falta de energia 0,00% 0,00% 0,00% 5,60% Outros 74,5% 100,0% 47,1% 50,0% 24 Tamanho da empresa Problemas enfrentados nesta temporada Pequeno porte Médio porte Grande porte Sim, com distribuição de água 50,0% 50,5% 71,4% Sim, com falta de energia 37,2% 46,4% 50,0% Sim, com assaltos e/ou violência urbana 3,8% 2,1% 3,6% Sim, nas vias de acesso ao estabelecimento 26,9% 18,6% 7,1% Sim, com falta de acessibilidade a deficientes 0,0% 0,0% 0,0% Não teve nenhum problema 1,3% 2,1% 7,1% Teve outros problemas 14,1% 13,4% 7,1% Investimentos Realizados Pequeno Porte Médio Porte Grande Porte Armazenamento de água 51,1% 47,8% 54,2% Geração de energia 27,7% 25,4% 29,2% Melhorias no acesso 12,8% 17,9% 12,5% Acessibilidade para deficientes físicos 36,2% 26,9% 41,7% Tratamento de esgoto 25,5% 31,3% 16,7% Segurança 61,7% 68,7% 75,0% Outros 2,1% 9,0% 20,8% Pequeno Porte Médio Porte Grande Porte Fechamento antecipado do estabelecimento 37,0% 31,3% 33,3% Perda de estoques/alimentos 16,7% 8,8% 18,5% Perda de informações de clientes 3,7% 1,3% 0,0% Queima de equipamentos 3,7% 8,8% 0,0% Check-out antecipado 0,0% 5,0% 14,8% Compra de água 9,3% 12,5% 14,8% Inutilização do elevador por falta de energia 0,0% 1,3% 0,0% Outros 66,7% 63,8% 74,1% Prejuízos 25 ANEXO II - CRUZAMENTOS FLORIANÓPOLIS Setores Problemas enfrentados nesta temporada Bares Pousadas Restaurantes Hotéis Sim, com distribuição de água 30,6% 48,3% 34,5% 9,4% Sim, com falta de energia 25,8% 34,5% 35,7% 40,6% Sim, com assaltos e/ou violência urbana 6,5% 3,4% 6,0% 0,0% Sim, nas vias de acesso ao estabelecimento 43,5% 3,4% 6,0% 0,0% Sim, com falta de acessibilidade a deficientes 1,6% 0,0% 0,0% 0,0% Não teve nenhum problema 3,2% 41,4% 36,9% 56,3% Teve outros problemas 8,1% 10,3% 2,4% 3,1% Investimentos Realizados Bares Pousadas Restaurantes Hotéis Armazenamento de água 48,5% 64,0% 46,9% 60,0% Geração de energia 24,2% 32,0% 22,4% 60,0% Melhorias no acesso 6,1% 20,0% 12,2% 6,7% Acessibilidade para deficientes físicos 27,3% 20,0% 16,3% 33,3% Tratamento de esgoto 15,2% 44,0% 44,9% 33,3% Segurança 72,7% 60,0% 73,5% 86,7% Outros 18,2% 8,0% 2,0% 20,0% Prejuízos Bares Pousadas Restaurantes Hotéis Fechamento antecipado do estabelecimento 21,9% 0,0% 19,6% 0,0% Perda de estoques/alimentos 15,6% 0,0% 8,7% 9,1% Perda de informações de clientes 0,0% 0,0% 6,5% 0,0% Queima de equipamentos 15,6% 27,3% 17,4% 9,1% Check-out antecipado 0,0% 72,7% 0,0% 27,3% Compra de água 9,4% 27,3% 23,9% 0,0% Inutilização do elevador por falta de energia 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Outros 78,1% 90,9% 58,7% 81,8% 26 Tamanho da empresa Problemas enfrentados nesta temporada Pequeno porte Médio porte Grande porte Sim, com distribuição de água 29,9% 33,7% 30,8% Sim, com falta de energia 35,1% 35,6% 23,1% Sim, com assaltos e/ou violência urbana 5,2% 1,9% 11,5% Sim, nas vias de acesso ao estabelecimento 2,6% 2,9% 7,7% Sim, com falta de acessibilidade a deficientes 1,3% 0,0% 0,0% Não teve nenhum problema 37,7% 42,3% 50,0% Teve outros problemas 11,7% 3,8% 3,8% Investimentos realizados Pequeno porte Médio porte Grande porte Armazenamento de água 51,3% 60,0% 44,4% Geração de energia 17,9% 36,7% 38,9% Melhorias no acesso 12,8% 15,0% 0,0% Acessibilidade para deficientes físicos 25,6% 21,7% 22,2% Tratamento de esgoto 35,9% 35,0% 44,4% Segurança 69,2% 80,0% 72,2% Outros 15,4% 6,7% 11,1% Médio porte Grande porte Prejuízos Pequeno porte Fechamento antecipado do estabelecimento 15,0% 15,6% 10,0% Perda de estoques/alimentos 7,5% 9,4% 0,0% Perda de informações de clientes 0,0% 5,1% 0,0% Queima de equipamentos 17,5% 9,4% 10,0% Check-out antecipado 12,5% 12,5% 20,0% Compra de água 15,0% 12,5% 10,0% Inutilização do elevador por falta de energia 0,0% 0,0% 0,0% Outros 60,0% 81,3% 90,0% 27 Rua Felipe Schmidt 785/5º andar - Centro - CEP 88010.002 - Florianópolis - SC 48 3229 1000 - www.fecomercio-sc.com.br