UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE EDUCAÇÃO SEMANA DE PEDAGOGIA 2013 “GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS” SUGESTÃO METODOLÓGICA PARA O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO Elizabete Amorim de Almeida Melo Professora do Centro de Educação/ UFAL [email protected] [...] quem sabe faz a hora, não espera acontecer... (Geraldo Vandré) RESUMO Este artigo apresenta uma sugestão metodológica específica para o ensino de filosofia no ensino médio, tendo, por um lado, como referencial teórico, alguns autores como Favaretto (2011), Gallo (2008), Lorieri (2002), Pimenta e Lima (2011), Pimenta e Anastasiou (2011) e Rodrigo (2007; 2009), entre outros; e, por outro, como fonte de inspiração e desafio, o convívio com alunos da educação básica e do ensino superior, ou seja, a experiência acumulada em salas de aula de várias séries e níveis diferentes. Os procedimentos metodológicos propostos se constituem na utilização de recurso não filosófico, textos variados (didáticos, filosóficos e complementares), atividades reflexivas e a prática do debate em sala de aula. Ressaltamos, porém, que esses procedimentos são apenas sugestões que podem ser utilizadas parcialmente ou integralmente, reelaboradas ou descartadas, pois cada professor também deve se sentir sujeito histórico e ativo, no direito de ousar e, assim, buscar também outros caminhos dentre os vários possíveis. Contra as fórmulas mágicas, é preciso pensar o ensino e aprendizagem como processo. Portanto, o professor deve buscar o seu próprio jeito de se fazer docente em sala de aula, tendo consciência de que esse processo é histórico. Palavras-chave: Metodologia. Ensino de filosofia. Formação de professores. Conteúdos filosóficos. Estágio Supervisionado. 1 INTRODUÇÃO A filosofia passou a ser disciplina obrigatória no currículo do ensino médio desde 2008, com a Lei nº 11.684, de 02/06/2008. Embora essa disciplina já tenha feito parte do currículo na educação brasileira, desde o século XIX, nos cursos de Direito, por exemplo, ela não tem uma sistematicidade na história da educação e do currículo, ou seja, pouco se tem organizado sobre essa disciplina em relação aos métodos, conteúdos e até mesmo experiências em sala de aula. Assim, ela é uma disciplina escolar com pouca tradição no currículo do UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE EDUCAÇÃO SEMANA DE PEDAGOGIA 2013 “GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS” ensino médio brasileiro, currículo aqui concebido como território de disputa (SILVA, 2005; SILVA, 2003). Com essa lei, entretanto, não se tem, ainda, de forma objetiva e clara, uma pesquisa e um conhecimento sobre os alunos – jovens ou não – acerca desse nível de ensino e os seus interesses em relação a essa área do conhecimento e o que estão achando sobre a filosofia como disciplina obrigatória, gerando uma demanda por pesquisa sobre essas questões. Apesar disso, com a aprovação da referida lei, faz-se necessário pensar numa didática específica para o ensino de filosofia nesse nível de ensino. Como afirma Rodrigo (2009; 2007), já se tem uma considerável lista de produções sobre a importância do ensino de filosofia no ensino médio e sobre a sua relevância para a formação dos jovens e da cidadania. No entanto, há uma carência de material sobre procedimentos metodológicos adequados para o ensino de filosofia dos jovens alunos do ensino médio. Dessa forma, no presente artigo, apresentamos uma sugestão metodológica específica para o ensino de filosofia no ensino médio, tendo, por um lado, como referencial teórico, alguns autores que tratam sobre a importância de conteúdos e metodologias específicas para o ensino de filosofia no ensino médio, como Favaretto (2011), Gallo (2008), Lorieri (2002), Pimenta e Lima (2011), Pimenta e Anastasiou (2011) e Rodrigo (2007; 2009), entre outros; e, por outro, como fonte de inspiração e desafio, o convívio com alunos da educação básica e do ensino superior, ou seja, baseados e fundamentados na experiência vivenciada no processo de ensino e no desenvolvimento de pesquisa na educação básica e no ensino superior é que apresentamos a presente proposta para o ensino de filosofia. 2 SALA DE AULA: lugar de ensinar, aprender e pesquisar A experiência vivenciada na sala de aula deveria proporcionar ao docente um processo de reflexão sobre a teoria e a prática (PIMENTA e ANASTASIOU, 2011; FREIRE, 1996). Nesse sentido, a sala de aula se constitui como lugar de ensinar, aprender e pesquisar. Seria de extrema relevância para a educação, de uma forma geral, no ensino básico ou no ensino superior, que todo/a aquele/a que se propõe a seguir os caminhos da docência pudesse experienciar o que é ser professor de crianças e jovens, principalmente os professores que lecionam em cursos de licenciaturas, pois essa experiência enriquece o processo da UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE EDUCAÇÃO SEMANA DE PEDAGOGIA 2013 “GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS” ensinagem (PIMENTA; ANASTASIOU, 2011), fazendo com que o que se ensina, seja de forma significativa e, assim, o professor se preocupe também com o processo de aprendizagem dos alunos. Como afirma Paulo Freire (1996, p. 23): “[...] Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender [...]”. É dessa forma que consideramos que se pode realizar o compromisso político, didático e filosófico da docência em filosofia (CERLETTI, 2004). Nesse contexto, o planejamento de qualquer aula se torna em um momento de pensar, refletir e decidir o que e como fazer, a priori, em uma determinada aula, sem se ter garantias, no entanto, sobre o sucesso da mesma. É o momento, também, de imaginar como será a aula e a reação dos alunos, suas possíveis perguntas e questionamentos, seus gestos e reações sobre o conteúdo e o material estudado. Certamente, o convívio com alunos (crianças, jovens e adultos) na sala de aula deve fazer com que o professor reflita sobre o processo de ensino-aprendizagem, buscando formas de atrair a atenção desses sujeitos ativos, inquietos e imprecisos, próprios do século XXI (MORIN, 2002). Assim, deveria ser, mas não é o que acontece na maioria dos casos. Hoje, vivenciamos uma desvalorização da docência em todos os níveis e uma falta de prestígio social dessa profissão, que é resultado de causas histórias, sociais, econômicas e políticas (PIMENTA; ANASTASIOU, 2011). Nesse sentido, essas autoras afirmam que o paradigma tradicional já faz parte do senso comum, ou seja, é o praticado como a verdade absoluta e única, sem questionamento pela maioria dos professores, como algo natural e comum na prática docente. É assim. Mas, indagamos: será que tem que continuar assim? A docência, além da competência técnica, também envolve uma postura política (SAVIANI, 1989). Atualmente, há um sucateamento da escola pública e os alunos trazem para a escola os problemas sociais, familiares e econômicas que vivem no seio do seu meio social, inclusive a violência, o uso e o tráfico de drogas etc. Assim, não dá para fazer tudo como se fosse super-herói ou através de uma vontade individual. É necessário buscar soluções de forma coletiva. Os professores precisam se unir em sindicatos e associações em busca de melhores condições de trabalho e uma remuneração adequada, para que, assim, o seu trabalho se torne gratificante e valorizado. Precisamos melhorar a imagem que o próprio professor tem de si UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE EDUCAÇÃO SEMANA DE PEDAGOGIA 2013 “GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS” mesmo, fazendo-o se sentir valorizado, ativo e consciente dos seus direitos e deveres, lutando por melhores condições de trabalho e de salários. Nesse contexto, é necessário conceber o trabalho docente de forma digna, ou seja, temos que trabalhar para viver e não viver para trabalhar de forma estressante e contínua, numa prática que vai contra o processo educacional como possibilidade de humanização (MORIN, 2002). Em outras palavras, se o professor não é respeitado profissionalmente, como esperar que ele tenha competência técnica e comprometimento político? Esta é uma questão para reflexão de todos os sujeitos sociais. Mas, não se pode deixar de cuidar daquilo que é específico da escola, ou seja, fazer com que o aluno aprenda (SAVIANI, 1993), de forma adequada e comprometida. Alunos que não aprendem são também da responsabilidade do professor, pois é necessária uma prática docente enquanto processo constante de ação-reflexão-ação (FREIRE, 1996), pois ensino e pesquisa podem caminhar juntos na sala de aula. 3 ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA: desafios e descobertas As disciplinas de Estágio Supervisionado nos cursos de licenciaturas passaram por uma reformulação na legislação a partir de 2002, com a Resolução CNE/CP nº 2, de 19 de fevereiro de 2002, que estabeleceu 400 horas de aula destinadas a esses componentes curriculares (PIMENTA; LIMA, 2011), divididos em quatro (4) momentos durante a graduação (Estágio 1, Estágio 2, Estágio 3 e Estágio 4), no caso específico da licenciatura em Filosofia da UFAL. Em relação ao curso de licenciatura em filosofia, houve uma problemática inicial, pois a maioria das escolas ainda não tinha a disciplina de filosofia no ensino médio, fato que só ocorreu com a aprovação da Lei em 2008, como já afirmamos anteriormente. Diante dessa problemática, os cursos de filosofia encaminhavam os alunos-estagiários para assistir e ministrar aulas em outras disciplinas, como história; ou o estágio se constituía em microaulas nas salas de aula da graduação, entre os outros alunos colegas de classe, ou seja, o estágio não ultrapassava os limites territoriais da própria universidade. Apesar de ainda não ser disciplina obrigatória em algumas cidades brasileiras, enquanto disciplina escolar a filosofia já existia em escolas particulares e em escolas da rede UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE EDUCAÇÃO SEMANA DE PEDAGOGIA 2013 “GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS” municipal, como é o caso da cidade de Campina Grande, na Paraíba, que tem no currículo do Ensino Fundamental II a disciplina filosofia, porém, ministrada por professores com formação em Sociologia, em sua maioria. Além dessas questões, uma problemática logo se destacou: o que ensinar nas aulas de filosofia? Como ensinar? Como tornar o conteúdo filosófico erudito um conteúdo didático acessível ao aluno sem, no entanto, banalizá-lo? (RODRIGO, 2009; RODRIGO, 2007). Assim, foi a partir da experiência como professora que refletimos sobre essas questões e buscamos caminhos para a solução desses problemas. Primeiramente, como professora de 1ª série (atualmente denominado de 2º ano) do primário, durante cinco anos, dos quais dois em Fortaleza e três em Campina Grande, ambas as experiências em escolas particulares. Em um segundo momento, como professora de Prática de Ensino em Filosofia (entre outras disciplinas) durante três anos na Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e de outra faculdade particular (durante um ano), ambas na cidade de Campina Grande. Depois, como professora de filosofia no Ensino Fundamental II (da 5ª a 8ª séries), na rede municipal dessa cidade, durante dois anos; e quase dois anos como professora de filosofia na rede estadual, no nível médio (Paraíba). Em outras palavras, passamos de professora de 1ª série (hoje 2º ano) do Ensino Fundamental I para a experiência como professora do ensino superior. Depois do ensino superior, lecionamos no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio a disciplina filosofia. Atualmente, atuamos como professora de Estágio Supervisionado em Filosofia 1, 2, 3 e 4, na UFAL, disciplinas ofertadas a partir do quinto período do curso de Filosofia. Essas experiências com o ensino de filosofia na educação básica e no ensino médio nos proporcionaram uma visão mais ampla do processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos de filosofia e sobre a metodologia mais adequada para uso em sala de aula. Estudando e pesquisando sobre o assunto, buscando analisar livros didáticos de filosofia, testando experiências com os alunos-estagiários, num processo de planejar, executar, avaliar, entre acertos e erros, ministrando minicursos sobre o assunto, chegamos a uma forma possível de proceder no ensino de filosofia, buscando torná-lo em um processo de ensino-aprendizagem significativo para os sujeitos envolvidos: professores e alunos. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE EDUCAÇÃO SEMANA DE PEDAGOGIA 2013 “GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS” Assim, a partir dessa experiência docente e dos referenciais teóricos já assinalados, a sugestão de procedimentos metodológicos para as aulas de filosofia no ensino médio consiste nas seguintes etapas: a) utilização de recurso não filosófico (músicas, poesias, imagens etc.), com o objetivo de sensibilizar o aluno do ensino médio para o tema trabalhado na aula e, assim, buscar construir uma ponte entre o saber erudito e o cotidiano do aluno; b) utilização de textos diversos: textos didáticos, trechos de textos filosóficos e textos complementares (como dados biográficos, explicitação de verbetes em dicionários filosóficos ou da língua portuguesa etc.), visando a apropriação do aluno do saber didático-filosófico sobre o tema em questão; c) elaboração e aplicação de atividades avaliativas com questões reflexivas, objetivando a elaboração do pensamento crítico e reflexivo dos alunos; d) o debate argumentado e o levantamento de questões em todo o processo de ensinoaprendizagem. É importante frisar que essas etapas não precisam seguir, necessariamente, a ordem explicitada anteriormente. Como elas serão utilizadas, dependem unicamente do docente. Outro aspecto que merece ser ressaltado é que esses procedimentos não se constituem em novidades na educação escolar, de uma forma geral, pois são utilizados em outras disciplinas do currículo da educação básica, com a especificidade de cada área. A novidade está em utilizar os referidos procedimentos para o ensino de filosofia de forma organizada e consciente do processo de ensino-aprendizagem que se quer objetivar. Dessa forma, frisamos: não inventamos a “roda”, mas tivemos a ousadia de testar e propor um conjunto de procedimentos metodológicos para o ensino de filosofia, de uma forma diferente que ele está sendo ministrado, com base em dados obtidos como professora da educação básica na disciplina filosofia e outros na disciplina de Estágio Supervisionado, através dos relatos dos estagiários nos relatórios, nos artigos sobre observações realizadas nas salas de aula das escolas que serviram como campo de estágio ou, mesmo, através do contato direto com colegas que ministram essa disciplina e de seus relatos de como fazem e procedem em sala de aula. Nesse sentido, é importante descrever como se dá a utilização dessas etapas de ensino e os respectivos objetivos. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE EDUCAÇÃO SEMANA DE PEDAGOGIA 2013 “GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS” A utilização do recurso não filosófico (música, vídeo, trechos de filmes, imagens e etc.) tem a finalidade de afetar (atingir e incomodar) o aluno, ou seja, de chamar a atenção do mesmo para o conteúdo ou tema a ser trabalhado. Dessa forma, o recurso não filosófico (LORIERI, 2002) tem o objetivo de aproximar o aluno do tema, de aproveitar a sua experiência de mundo e mostrar que a filosofia pode ser uma área do conhecimento acessível a todos. Embora, historicamente, a filosofia tenha sido oferecida a um grupo restrito da população, hoje ela pode ser objeto de estudo de todos, até porque a mesma se encontra como disciplina obrigatória no currículo do ensino médio em todo o país. Já a utilização de diferentes tipos de textos visa proporcionar ao aluno um acesso ao conhecimento elaborado historicamente, seja ele filosófico, didático ou de ordem complementar. Dessa forma, o aluno terá acesso a vários textos, mas o professor de filosofia dará destaque ao estudo do texto filosófico (CORTELLA, 2009; MARTINS, 2008) como deve ser: através de uma leitura aprofundada, tentando fazer o aluno entender os conceitos, as categorias e os temas trabalhados por cada filósofo, em cada época e lugar, de forma contextualizada. Certamente, não estamos aqui defendendo o uso de texto filosófico integral nas salas de aula do ensino médio, pois sabemos a dificuldade que os alunos, principalmente das escolas públicas, têm na leitura e interpretação de textos – basta ver os resultados das avaliações nacionais promovidas pelo MEC em todo o país, como por exemplo, a Prova Brasil. No entanto, acreditamos e constatamos na prática em sala de aula que é possível o uso de trechos de textos filosóficos com os alunos de ensino médio, desde que sejam bem trabalhados. Para isso, é imprescindível um professor bem formado (GALLO, 2008; FAVARETO, 2011), ou seja, que tenha licenciatura em filosofia e realmente tenha optado por seguir a docência com responsabilidade técnica e compromisso político. Ressaltamos, ainda, a importância do professor de filosofia não ser um refém do livro didático. É sabido que o Plano Nacional do Livro Didático/MEC, a partir de 2012, autorizou a compra de livros didáticos de filosofia para o ensino médio em todas as escolas do país (ORLANDI, 2012). Os livros, pela primeira vez na história, podem ser escolhidos por cada professor, de cada escola, de acordo com o interesse de cada um. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE EDUCAÇÃO SEMANA DE PEDAGOGIA 2013 “GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS” No entanto, ao analisarmos os livros didáticos aprovados pelo PNLD/2012 – CHAUÍ, 2012; ARANHA e MARTINS, 2012; COTRIM e FERNANDES, 2012 (ORLANDI, 2012) –, nas turmas de Estágio Supervisionado em Filosofia 1, percebemos, em seus conteúdos, a carência de textos filosóficos diversificados. Mesmo quando trazem trechos de textos filosóficos, consideramos que são poucos ou insuficientes para o trabalho com os conteúdos de filosofia. Porém, diante do sucateamento da educação pública no nosso país, especialmente no estado de Alagoas, reconhecemos as dificuldades para o exercício da prática de levar e trabalhar com os alunos do ensino médio diferentes tipos de textos, incluindo o filosófico, pois, na maioria das escolas, não há equipamentos de reprodução de textos, não há bibliotecas (e quando têm, ficam fechadas por falta de profissionais com qualificação na área). Mas, no caso em que a escola não tenha disponibilidade para a reprodução dos textos, sugerimos a utilização de data show, no qual o professor pode levar os textos digitados ou digitalizados para trabalhar na sala de aula. Outro meio para compartilhar os textos são as redes sociais virtuais, pois muitos alunos estão conectados à internet, seja via celular, tablet ou computador. É importante frisar que, durante a leitura dos textos, o professor deve sugerir uma leitura silenciosa, visando uma primeira aproximação com o texto; depois, proporcionar uma leitura oral dos alunos, de forma conjunta e significativa, sublinhando partes importantes dos textos e dando ênfase às partes para as quais deseja chamar a atenção do aluno. Mas, também, permitir que o aluno faça a sua leitura, seja um sujeito ativo no processo de entendimento e significação dos textos. A utilização de atividades avaliativas com questões reflexivas (RODRIGO, 2009) é importante para proporcionar ao aluno uma experiência reflexiva sobre o recurso não filosófico, os textos, principalmente o trecho de texto filosófico e a sua própria experiência enquanto ser humano neste mundo cheio de complexidade. Se tivermos como pressuposto que a meta do ensino de filosofia, seja em que nível for, deve ser a experiência filosófica (CERLETTI, 2004), o debate, por sua vez, é um procedimento metodológico imprescindível nas aulas de filosofia. Para isso, é importante que o professor proporcione e incentive o debate argumentando em sala de aula, fazendo com que os alunos se apropriem de uma forma de organização do pensamento e atinjam a experiência filosófica de forma paulatina, permanente e contínua. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE EDUCAÇÃO SEMANA DE PEDAGOGIA 2013 “GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS” É importante destacar que a sugestão metodológica aqui apresentada já está sendo aplicada por alunos-estagiários em seus respectivos estágios de regência desde 2011 e alguns deles apresentando trabalhos em eventos acadêmicos (FERREIRA, 2011; HERMES, 2011). Outros alunos, na condição de professores-monitores da rede estadual de ensino em Alagoas, também estão tentando colocar em prática tal proposta, apesar das dificuldades das condições materiais. Alguns alunos-bolsistas do subprojeto do PIBID/FILOSOFIA/UFAL também levaram a referida proposta para as escolas nas quais desenvolvem suas atividades, apresentando os relatos em eventos acadêmicos (ROCHA, 2013; SANTOS, 2013). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Indagamos: será que os alunos do ensino médio devem ter acesso ao conhecimento filosófico? Será que eles desejam isso ou isso é a defesa de um grupo determinado que acredita nisso? Bem, o fato é que a filosofia se encontra como disciplina obrigatória no currículo do ensino médio brasileiro. Embora não consigamos responder as questões colocadas (e este artigo não se propõe a isso), podemos, no entanto, pensar sobre uma forma de tornar o ensino de filosofia (enquanto o mesmo permanecer no currículo do ensino médio) um processo de ensino e aprendizagem significativos Pensando no significado político do Mito da caverna (PLATÃO. A República), podemos refletir sobre a possibilidade daqueles que produzem e/ou têm acesso ao saber erudito, realizar um caminho “de volta para a caverna”, colocando-se no lugar do aluno e do seu conhecimento inicial, para assim poder ajudá-lo na ultrapassagem do senso comum à consciência filosófica (SAVIANI, 1989). O que não podemos deixar de levar em consideração, nesse processo, é que estamos lidando com alunos reais, em contextos reais de salas de aula e de escolas. Esse deve ser o foco da ação e do planejamento do professor de filosofia. Assim, o planejamento das aulas de filosofia no ensino médio deve se preocupar com uma metodologia adequada aos objetivos que se propõem, aos conteúdos de ensino e aos alunos. O professor deve se questionar: o que pretendo com a escolha e seleção de tais conteúdos filosóficos (e não outros)? O que quero com eles? Esse é um bom ponto de partida UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE EDUCAÇÃO SEMANA DE PEDAGOGIA 2013 “GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS” para o início de um planejamento reflexivo sobre as situações reais vivenciadas pelos sujeitos nos dias atuais. Certamente, o professor não tem controle sobre as questões burocráticas e as condições materiais que envolvem o ensino de filosofia no ensino médio (MELO, 2012), tais como: uma hora de aula semanal; disciplina desprivilegiada pelos alunos e alguns professores; alunos sem querer assistir aula porque o sistema educacional não reprova; falta de material na escola; falta de estrutura e recursos; baixos salários; vários alunos por sala de aula com deficiências cognitivas que foram construídas ao longo da vida escolar, ou seja, têm alunos que frequentaram a escola por vários anos, mas não aprenderam o que lhes foram ensinado, não se apropriaram do conhecimento escolar historicamente construído por homens e mulheres. Por certo, são muitas as dificuldades a serem enfrentadas. Segundo a epígrafe deste artigo, que é parte da letra de uma música de Geraldo Vandré, que se tornou hino de uma juventude em um dado momento histórico brasileiro, “[...] quem sabe faz a hora, não espera acontecer [...]”. Em outras palavras, podemos dizer que nós, profissionais da educação, precisamos nos unir e começar a lutar hoje, agora, por melhores condições de salário e trabalho, mas também por um processo de ensino-aprendizagem adequado às novas demandas sociais, buscando superar o paradigma tradicional. Portanto, no século XXI, defendemos que ensinar filosofia pressupõe ensinar a filosofar (CERLETTI, 2004), concomitantemente. Nesse sentido, o debate em sala de aula deve ser incentivado em todos os momentos, para que, assim, o aluno possa aprender efetivamente a importância da argumentação no processo de discussão de ideias. Se a meta do ensino de filosofia é a experiência filosófica, o texto filosófico do próprio filósofo se faz imprescindível. O aluno deve ter acesso ao texto do filósofo como condição para a sua autonomia reflexiva e crítica. Não podemos terminar este artigo sem ressaltar duas coisas. Primeiro, que a minha experiência em sala de aula na educação básica e no ensino superior foi fundamental para a formação da minha identidade profissional que pensa a pesquisa sobre a sala de aula de forma motivada, porém, com rigor científico (FREIRE, 1996), buscando refletir e propor formas para melhorar o processo de ensino-aprendizagem, principalmente na disciplina filosofia. Segundo, que sem o convívio com os alunos desses níveis de ensino, provavelmente não UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE EDUCAÇÃO SEMANA DE PEDAGOGIA 2013 “GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS” teríamos nos sentido desafiadas a propor uma forma (das várias possíveis) de como se deve ensinar filosofia. É importante frisar, ainda, que a sugestão metodológica aqui proposta é fruto do processo histórico em que nos tornamos professores/educadores/docentes, processo este que não seria possível sem o convívio e a experiência com os alunos, de séries diferentes, de lugares diferentes, de gestos e personalidades múltiplas. Nesse processo dialético entre ensinar, aprender, refletir e buscar novos caminhos, descobrimos a importância da pesquisa em sala de aula, seja na prática docente, seja na academia como professora ou como aprendiz nos cursos de pós-graduação. Assim, a todos os meus alunos e alunas, o meu agradecimento por nos desafiar cotidianamente, incentivando-nos, dessa forma, a buscar por respostas, mesmo que provisórias (MORIN, 2002). Por fim, ressaltamos ainda que os procedimentos metodológicos propostos aqui são apenas sugestões que podem ser utilizadas parcialmente ou integralmente, reelaboradas ou descartadas, pois cada professor também deve se sentir sujeito histórico e ativo, no direito de ousar e, assim, buscar também outros caminhos dentre os vários possíveis. Contra as fórmulas mágicas, é preciso pensar o ensino e aprendizagem como processo. Portanto, o professor de filosofia deve buscar o seu próprio jeito de se fazer docente em sala de aula, tendo consciência de que esse processo é histórico. REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando – Introdução à Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna, 2012. (Livro didático). CERLETTI, Alejandro A. Ensinar filosofia: da pergunta filosófica à proposta metodológica. In: KOHAN, Walter O. (Org.). Filosofia: caminhos para seu ensino. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2004. CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2012. 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