sugestão metodológica para o ensino de filosofia no ensino médio

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
SUGESTÃO METODOLÓGICA PARA O ENSINO DE FILOSOFIA
NO ENSINO MÉDIO
Elizabete Amorim de Almeida Melo
Professora do Centro de Educação/ UFAL
[email protected]
[...] quem sabe faz a hora,
não espera acontecer...
(Geraldo Vandré)
RESUMO
Este artigo apresenta uma sugestão metodológica específica para o ensino de filosofia no ensino médio, tendo,
por um lado, como referencial teórico, alguns autores como Favaretto (2011), Gallo (2008), Lorieri (2002),
Pimenta e Lima (2011), Pimenta e Anastasiou (2011) e Rodrigo (2007; 2009), entre outros; e, por outro, como
fonte de inspiração e desafio, o convívio com alunos da educação básica e do ensino superior, ou seja, a
experiência acumulada em salas de aula de várias séries e níveis diferentes. Os procedimentos metodológicos
propostos se constituem na utilização de recurso não filosófico, textos variados (didáticos, filosóficos e
complementares), atividades reflexivas e a prática do debate em sala de aula. Ressaltamos, porém, que esses
procedimentos são apenas sugestões que podem ser utilizadas parcialmente ou integralmente, reelaboradas ou
descartadas, pois cada professor também deve se sentir sujeito histórico e ativo, no direito de ousar e, assim,
buscar também outros caminhos dentre os vários possíveis. Contra as fórmulas mágicas, é preciso pensar o
ensino e aprendizagem como processo. Portanto, o professor deve buscar o seu próprio jeito de se fazer docente
em sala de aula, tendo consciência de que esse processo é histórico.
Palavras-chave: Metodologia. Ensino de filosofia. Formação de professores. Conteúdos
filosóficos. Estágio Supervisionado.
1 INTRODUÇÃO
A filosofia passou a ser disciplina obrigatória no currículo do ensino médio desde
2008, com a Lei nº 11.684, de 02/06/2008. Embora essa disciplina já tenha feito parte do
currículo na educação brasileira, desde o século XIX, nos cursos de Direito, por exemplo, ela
não tem uma sistematicidade na história da educação e do currículo, ou seja, pouco se tem
organizado sobre essa disciplina em relação aos métodos, conteúdos e até mesmo experiências
em sala de aula. Assim, ela é uma disciplina escolar com pouca tradição no currículo do
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ensino médio brasileiro, currículo aqui concebido como território de disputa (SILVA, 2005;
SILVA, 2003).
Com essa lei, entretanto, não se tem, ainda, de forma objetiva e clara, uma pesquisa e
um conhecimento sobre os alunos – jovens ou não – acerca desse nível de ensino e os seus
interesses em relação a essa área do conhecimento e o que estão achando sobre a filosofia
como disciplina obrigatória, gerando uma demanda por pesquisa sobre essas questões.
Apesar disso, com a aprovação da referida lei, faz-se necessário pensar numa didática
específica para o ensino de filosofia nesse nível de ensino. Como afirma Rodrigo (2009;
2007), já se tem uma considerável lista de produções sobre a importância do ensino de
filosofia no ensino médio e sobre a sua relevância para a formação dos jovens e da cidadania.
No entanto, há uma carência de material sobre procedimentos metodológicos adequados para
o ensino de filosofia dos jovens alunos do ensino médio.
Dessa forma, no presente artigo, apresentamos uma sugestão metodológica específica
para o ensino de filosofia no ensino médio, tendo, por um lado, como referencial teórico,
alguns autores que tratam sobre a importância de conteúdos e metodologias específicas para o
ensino de filosofia no ensino médio, como Favaretto (2011), Gallo (2008), Lorieri (2002),
Pimenta e Lima (2011), Pimenta e Anastasiou (2011) e Rodrigo (2007; 2009), entre outros; e,
por outro, como fonte de inspiração e desafio, o convívio com alunos da educação básica e do
ensino superior, ou seja, baseados e fundamentados na experiência vivenciada no processo de
ensino e no desenvolvimento de pesquisa na educação básica e no ensino superior é que
apresentamos a presente proposta para o ensino de filosofia.
2 SALA DE AULA: lugar de ensinar, aprender e pesquisar
A experiência vivenciada na sala de aula deveria proporcionar ao docente um processo
de reflexão sobre a teoria e a prática (PIMENTA e ANASTASIOU, 2011; FREIRE, 1996).
Nesse sentido, a sala de aula se constitui como lugar de ensinar, aprender e pesquisar.
Seria de extrema relevância para a educação, de uma forma geral, no ensino básico ou
no ensino superior, que todo/a aquele/a que se propõe a seguir os caminhos da docência
pudesse experienciar o que é ser professor de crianças e jovens, principalmente os professores
que lecionam em cursos de licenciaturas, pois essa experiência enriquece o processo da
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ensinagem (PIMENTA; ANASTASIOU, 2011), fazendo com que o que se ensina, seja de
forma significativa e, assim, o professor se preocupe também com o processo de
aprendizagem dos alunos.
Como afirma Paulo Freire (1996, p. 23): “[...] Quem ensina aprende ao ensinar e quem
aprende ensina ao aprender [...]”. É dessa forma que consideramos que se pode realizar o
compromisso político, didático e filosófico da docência em filosofia (CERLETTI, 2004).
Nesse contexto, o planejamento de qualquer aula se torna em um momento de pensar,
refletir e decidir o que e como fazer, a priori, em uma determinada aula, sem se ter garantias,
no entanto, sobre o sucesso da mesma. É o momento, também, de imaginar como será a aula e
a reação dos alunos, suas possíveis perguntas e questionamentos, seus gestos e reações sobre
o conteúdo e o material estudado.
Certamente, o convívio com alunos (crianças, jovens e adultos) na sala de aula deve
fazer com que o professor reflita sobre o processo de ensino-aprendizagem, buscando formas
de atrair a atenção desses sujeitos ativos, inquietos e imprecisos, próprios do século XXI
(MORIN, 2002).
Assim, deveria ser, mas não é o que acontece na maioria dos casos. Hoje, vivenciamos
uma desvalorização da docência em todos os níveis e uma falta de prestígio social dessa
profissão, que é resultado de causas histórias, sociais, econômicas e políticas (PIMENTA;
ANASTASIOU, 2011). Nesse sentido, essas autoras afirmam que o paradigma tradicional já
faz parte do senso comum, ou seja, é o praticado como a verdade absoluta e única, sem
questionamento pela maioria dos professores, como algo natural e comum na prática docente.
É assim. Mas, indagamos: será que tem que continuar assim?
A docência, além da competência técnica, também envolve uma postura política
(SAVIANI, 1989). Atualmente, há um sucateamento da escola pública e os alunos trazem
para a escola os problemas sociais, familiares e econômicas que vivem no seio do seu meio
social, inclusive a violência, o uso e o tráfico de drogas etc. Assim, não dá para fazer tudo
como se fosse super-herói ou através de uma vontade individual. É necessário buscar soluções
de forma coletiva.
Os professores precisam se unir em sindicatos e associações em busca de melhores
condições de trabalho e uma remuneração adequada, para que, assim, o seu trabalho se torne
gratificante e valorizado. Precisamos melhorar a imagem que o próprio professor tem de si
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mesmo, fazendo-o se sentir valorizado, ativo e consciente dos seus direitos e deveres, lutando
por melhores condições de trabalho e de salários. Nesse contexto, é necessário conceber o
trabalho docente de forma digna, ou seja, temos que trabalhar para viver e não viver para
trabalhar de forma estressante e contínua, numa prática que vai contra o processo educacional
como possibilidade de humanização (MORIN, 2002).
Em outras palavras, se o professor não é respeitado profissionalmente, como esperar
que ele tenha competência técnica e comprometimento político? Esta é uma questão para
reflexão de todos os sujeitos sociais.
Mas, não se pode deixar de cuidar daquilo que é específico da escola, ou seja, fazer
com que o aluno aprenda (SAVIANI, 1993), de forma adequada e comprometida. Alunos que
não aprendem são também da responsabilidade do professor, pois é necessária uma prática
docente enquanto processo constante de ação-reflexão-ação (FREIRE, 1996), pois ensino e
pesquisa podem caminhar juntos na sala de aula.
3 ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA: desafios e descobertas
As disciplinas de Estágio Supervisionado nos cursos de licenciaturas passaram por
uma reformulação na legislação a partir de 2002, com a Resolução CNE/CP nº 2, de 19 de
fevereiro de 2002, que estabeleceu 400 horas de aula destinadas a esses componentes
curriculares (PIMENTA; LIMA, 2011), divididos em quatro (4) momentos durante a
graduação (Estágio 1, Estágio 2, Estágio 3 e Estágio 4), no caso específico da licenciatura em
Filosofia da UFAL.
Em relação ao curso de licenciatura em filosofia, houve uma problemática inicial, pois
a maioria das escolas ainda não tinha a disciplina de filosofia no ensino médio, fato que só
ocorreu com a aprovação da Lei em 2008, como já afirmamos anteriormente.
Diante dessa problemática, os cursos de filosofia encaminhavam os alunos-estagiários
para assistir e ministrar aulas em outras disciplinas, como história; ou o estágio se constituía
em microaulas nas salas de aula da graduação, entre os outros alunos colegas de classe, ou
seja, o estágio não ultrapassava os limites territoriais da própria universidade.
Apesar de ainda não ser disciplina obrigatória em algumas cidades brasileiras,
enquanto disciplina escolar a filosofia já existia em escolas particulares e em escolas da rede
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municipal, como é o caso da cidade de Campina Grande, na Paraíba, que tem no currículo do
Ensino Fundamental II a disciplina filosofia, porém, ministrada por professores com formação
em Sociologia, em sua maioria.
Além dessas questões, uma problemática logo se destacou: o que ensinar nas aulas de
filosofia? Como ensinar? Como tornar o conteúdo filosófico erudito um conteúdo didático
acessível ao aluno sem, no entanto, banalizá-lo? (RODRIGO, 2009; RODRIGO, 2007).
Assim, foi a partir da experiência como professora que refletimos sobre essas questões
e buscamos caminhos para a solução desses problemas. Primeiramente, como professora de 1ª
série (atualmente denominado de 2º ano) do primário, durante cinco anos, dos quais dois em
Fortaleza e três em Campina Grande, ambas as experiências em escolas particulares. Em um
segundo momento, como professora de Prática de Ensino em Filosofia (entre outras
disciplinas) durante três anos na Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e de outra
faculdade particular (durante um ano), ambas na cidade de Campina Grande. Depois, como
professora de filosofia no Ensino Fundamental II (da 5ª a 8ª séries), na rede municipal dessa
cidade, durante dois anos; e quase dois anos como professora de filosofia na rede estadual, no
nível médio (Paraíba).
Em outras palavras, passamos de professora de 1ª série (hoje 2º ano) do Ensino
Fundamental I para a experiência como professora do ensino superior. Depois do ensino
superior, lecionamos no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio a disciplina filosofia.
Atualmente, atuamos como professora de Estágio Supervisionado em Filosofia 1, 2, 3 e 4, na
UFAL, disciplinas ofertadas a partir do quinto período do curso de Filosofia.
Essas experiências com o ensino de filosofia na educação básica e no ensino médio
nos proporcionaram uma visão mais ampla do processo de ensino-aprendizagem dos
conteúdos de filosofia e sobre a metodologia mais adequada para uso em sala de aula.
Estudando e pesquisando sobre o assunto, buscando analisar livros didáticos de
filosofia, testando experiências com os alunos-estagiários, num processo de planejar,
executar, avaliar, entre acertos e erros, ministrando minicursos sobre o assunto, chegamos a
uma forma possível de proceder no ensino de filosofia, buscando torná-lo em um processo de
ensino-aprendizagem significativo para os sujeitos envolvidos: professores e alunos.
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Assim, a partir dessa experiência docente e dos referenciais teóricos já assinalados, a
sugestão de procedimentos metodológicos para as aulas de filosofia no ensino médio consiste
nas seguintes etapas:
a) utilização de recurso não filosófico (músicas, poesias, imagens etc.), com o objetivo
de sensibilizar o aluno do ensino médio para o tema trabalhado na aula e, assim,
buscar construir uma ponte entre o saber erudito e o cotidiano do aluno;
b) utilização de textos diversos: textos didáticos, trechos de textos filosóficos e textos
complementares (como dados biográficos, explicitação de verbetes em dicionários
filosóficos ou da língua portuguesa etc.), visando a apropriação do aluno do saber
didático-filosófico sobre o tema em questão;
c) elaboração e aplicação de atividades avaliativas com questões reflexivas,
objetivando a elaboração do pensamento crítico e reflexivo dos alunos;
d) o debate argumentado e o levantamento de questões em todo o processo de ensinoaprendizagem.
É importante frisar que essas etapas não precisam seguir, necessariamente, a ordem
explicitada anteriormente. Como elas serão utilizadas, dependem unicamente do docente.
Outro aspecto que merece ser ressaltado é que esses procedimentos não se constituem
em novidades na educação escolar, de uma forma geral, pois são utilizados em outras
disciplinas do currículo da educação básica, com a especificidade de cada área.
A novidade está em utilizar os referidos procedimentos para o ensino de filosofia de
forma organizada e consciente do processo de ensino-aprendizagem que se quer objetivar.
Dessa forma, frisamos: não inventamos a “roda”, mas tivemos a ousadia de testar e propor um
conjunto de procedimentos metodológicos para o ensino de filosofia, de uma forma diferente
que ele está sendo ministrado, com base em dados obtidos como professora da educação
básica na disciplina filosofia e outros na disciplina de Estágio Supervisionado, através dos
relatos dos estagiários nos relatórios, nos artigos sobre observações realizadas nas salas de
aula das escolas que serviram como campo de estágio ou, mesmo, através do contato direto
com colegas que ministram essa disciplina e de seus relatos de como fazem e procedem em
sala de aula.
Nesse sentido, é importante descrever como se dá a utilização dessas etapas de ensino
e os respectivos objetivos.
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A utilização do recurso não filosófico (música, vídeo, trechos de filmes, imagens e
etc.) tem a finalidade de afetar (atingir e incomodar) o aluno, ou seja, de chamar a atenção do
mesmo para o conteúdo ou tema a ser trabalhado. Dessa forma, o recurso não filosófico
(LORIERI, 2002) tem o objetivo de aproximar o aluno do tema, de aproveitar a sua
experiência de mundo e mostrar que a filosofia pode ser uma área do conhecimento acessível
a todos. Embora, historicamente, a filosofia tenha sido oferecida a um grupo restrito da
população, hoje ela pode ser objeto de estudo de todos, até porque a mesma se encontra como
disciplina obrigatória no currículo do ensino médio em todo o país.
Já a utilização de diferentes tipos de textos visa proporcionar ao aluno um acesso ao
conhecimento elaborado historicamente, seja ele filosófico, didático ou de ordem
complementar. Dessa forma, o aluno terá acesso a vários textos, mas o professor de filosofia
dará destaque ao estudo do texto filosófico (CORTELLA, 2009; MARTINS, 2008) como
deve ser: através de uma leitura aprofundada, tentando fazer o aluno entender os conceitos, as
categorias e os temas trabalhados por cada filósofo, em cada época e lugar, de forma
contextualizada.
Certamente, não estamos aqui defendendo o uso de texto filosófico integral nas salas
de aula do ensino médio, pois sabemos a dificuldade que os alunos, principalmente das
escolas públicas, têm na leitura e interpretação de textos – basta ver os resultados das
avaliações nacionais promovidas pelo MEC em todo o país, como por exemplo, a Prova
Brasil.
No entanto, acreditamos e constatamos na prática em sala de aula que é possível o uso
de trechos de textos filosóficos com os alunos de ensino médio, desde que sejam bem
trabalhados. Para isso, é imprescindível um professor bem formado (GALLO, 2008;
FAVARETO, 2011), ou seja, que tenha licenciatura em filosofia e realmente tenha optado por
seguir a docência com responsabilidade técnica e compromisso político.
Ressaltamos, ainda, a importância do professor de filosofia não ser um refém do livro
didático. É sabido que o Plano Nacional do Livro Didático/MEC, a partir de 2012, autorizou a
compra de livros didáticos de filosofia para o ensino médio em todas as escolas do país
(ORLANDI, 2012). Os livros, pela primeira vez na história, podem ser escolhidos por cada
professor, de cada escola, de acordo com o interesse de cada um.
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No entanto, ao analisarmos os livros didáticos aprovados pelo PNLD/2012 – CHAUÍ,
2012; ARANHA e MARTINS, 2012; COTRIM e FERNANDES, 2012 (ORLANDI, 2012) –,
nas turmas de Estágio Supervisionado em Filosofia 1, percebemos, em seus conteúdos, a
carência de textos filosóficos diversificados. Mesmo quando trazem trechos de textos
filosóficos, consideramos que são poucos ou insuficientes para o trabalho com os conteúdos
de filosofia.
Porém, diante do sucateamento da educação pública no nosso país, especialmente no
estado de Alagoas, reconhecemos as dificuldades para o exercício da prática de levar e
trabalhar com os alunos do ensino médio diferentes tipos de textos, incluindo o filosófico,
pois, na maioria das escolas, não há equipamentos de reprodução de textos, não há bibliotecas
(e quando têm, ficam fechadas por falta de profissionais com qualificação na área). Mas, no
caso em que a escola não tenha disponibilidade para a reprodução dos textos, sugerimos a
utilização de data show, no qual o professor pode levar os textos digitados ou digitalizados
para trabalhar na sala de aula. Outro meio para compartilhar os textos são as redes sociais
virtuais, pois muitos alunos estão conectados à internet, seja via celular, tablet ou computador.
É importante frisar que, durante a leitura dos textos, o professor deve sugerir uma
leitura silenciosa, visando uma primeira aproximação com o texto; depois, proporcionar uma
leitura oral dos alunos, de forma conjunta e significativa, sublinhando partes importantes dos
textos e dando ênfase às partes para as quais deseja chamar a atenção do aluno. Mas, também,
permitir que o aluno faça a sua leitura, seja um sujeito ativo no processo de entendimento e
significação dos textos.
A utilização de atividades avaliativas com questões reflexivas (RODRIGO, 2009) é
importante para proporcionar ao aluno uma experiência reflexiva sobre o recurso não
filosófico, os textos, principalmente o trecho de texto filosófico e a sua própria experiência
enquanto ser humano neste mundo cheio de complexidade.
Se tivermos como pressuposto que a meta do ensino de filosofia, seja em que nível for,
deve ser a experiência filosófica (CERLETTI, 2004), o debate, por sua vez, é um
procedimento metodológico imprescindível nas aulas de filosofia. Para isso, é importante que
o professor proporcione e incentive o debate argumentando em sala de aula, fazendo com que
os alunos se apropriem de uma forma de organização do pensamento e atinjam a experiência
filosófica de forma paulatina, permanente e contínua.
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É importante destacar que a sugestão metodológica aqui apresentada já está sendo
aplicada por alunos-estagiários em seus respectivos estágios de regência desde 2011 e alguns
deles apresentando trabalhos em eventos acadêmicos (FERREIRA, 2011; HERMES, 2011).
Outros alunos, na condição de professores-monitores da rede estadual de ensino em Alagoas,
também estão tentando colocar em prática tal proposta, apesar das dificuldades das condições
materiais. Alguns alunos-bolsistas do subprojeto do PIBID/FILOSOFIA/UFAL também
levaram a referida proposta para as escolas nas quais desenvolvem suas atividades,
apresentando os relatos em eventos acadêmicos (ROCHA, 2013; SANTOS, 2013).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Indagamos: será que os alunos do ensino médio devem ter acesso ao conhecimento
filosófico? Será que eles desejam isso ou isso é a defesa de um grupo determinado que
acredita nisso?
Bem, o fato é que a filosofia se encontra como disciplina obrigatória no currículo do
ensino médio brasileiro. Embora não consigamos responder as questões colocadas (e este
artigo não se propõe a isso), podemos, no entanto, pensar sobre uma forma de tornar o ensino
de filosofia (enquanto o mesmo permanecer no currículo do ensino médio) um processo de
ensino e aprendizagem significativos
Pensando no significado político do Mito da caverna (PLATÃO. A República),
podemos refletir sobre a possibilidade daqueles que produzem e/ou têm acesso ao saber
erudito, realizar um caminho “de volta para a caverna”, colocando-se no lugar do aluno e do
seu conhecimento inicial, para assim poder ajudá-lo na ultrapassagem do senso comum à
consciência filosófica (SAVIANI, 1989).
O que não podemos deixar de levar em consideração, nesse processo, é que estamos
lidando com alunos reais, em contextos reais de salas de aula e de escolas. Esse deve ser o
foco da ação e do planejamento do professor de filosofia.
Assim, o planejamento das aulas de filosofia no ensino médio deve se preocupar com
uma metodologia adequada aos objetivos que se propõem, aos conteúdos de ensino e aos
alunos. O professor deve se questionar: o que pretendo com a escolha e seleção de tais
conteúdos filosóficos (e não outros)? O que quero com eles? Esse é um bom ponto de partida
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para o início de um planejamento reflexivo sobre as situações reais vivenciadas pelos sujeitos
nos dias atuais.
Certamente, o professor não tem controle sobre as questões burocráticas e as
condições materiais que envolvem o ensino de filosofia no ensino médio (MELO, 2012), tais
como: uma hora de aula semanal; disciplina desprivilegiada pelos alunos e alguns professores;
alunos sem querer assistir aula porque o sistema educacional não reprova; falta de material na
escola; falta de estrutura e recursos; baixos salários; vários alunos por sala de aula com
deficiências cognitivas que foram construídas ao longo da vida escolar, ou seja, têm alunos
que frequentaram a escola por vários anos, mas não aprenderam o que lhes foram ensinado,
não se apropriaram do conhecimento escolar historicamente construído por homens e
mulheres. Por certo, são muitas as dificuldades a serem enfrentadas.
Segundo a epígrafe deste artigo, que é parte da letra de uma música de Geraldo
Vandré, que se tornou hino de uma juventude em um dado momento histórico brasileiro, “[...]
quem sabe faz a hora, não espera acontecer [...]”. Em outras palavras, podemos dizer que nós,
profissionais da educação, precisamos nos unir e começar a lutar hoje, agora, por melhores
condições de salário e trabalho, mas também por um processo de ensino-aprendizagem
adequado às novas demandas sociais, buscando superar o paradigma tradicional.
Portanto, no século XXI, defendemos que ensinar filosofia pressupõe ensinar a
filosofar (CERLETTI, 2004), concomitantemente. Nesse sentido, o debate em sala de aula
deve ser incentivado em todos os momentos, para que, assim, o aluno possa aprender
efetivamente a importância da argumentação no processo de discussão de ideias.
Se a meta do ensino de filosofia é a experiência filosófica, o texto filosófico do próprio
filósofo se faz imprescindível. O aluno deve ter acesso ao texto do filósofo como condição
para a sua autonomia reflexiva e crítica.
Não podemos terminar este artigo sem ressaltar duas coisas. Primeiro, que a minha
experiência em sala de aula na educação básica e no ensino superior foi fundamental para a
formação da minha identidade profissional que pensa a pesquisa sobre a sala de aula de forma
motivada, porém, com rigor científico (FREIRE, 1996), buscando refletir e propor formas
para melhorar o processo de ensino-aprendizagem, principalmente na disciplina filosofia.
Segundo, que sem o convívio com os alunos desses níveis de ensino, provavelmente não
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teríamos nos sentido desafiadas a propor uma forma (das várias possíveis) de como se deve
ensinar filosofia.
É importante frisar, ainda, que a sugestão metodológica aqui proposta é fruto do
processo histórico em que nos tornamos professores/educadores/docentes, processo este que
não seria possível sem o convívio e a experiência com os alunos, de séries diferentes, de
lugares diferentes, de gestos e personalidades múltiplas. Nesse processo dialético entre
ensinar, aprender, refletir e buscar novos caminhos, descobrimos a importância da pesquisa
em sala de aula, seja na prática docente, seja na academia como professora ou como aprendiz
nos cursos de pós-graduação. Assim, a todos os meus alunos e alunas, o meu agradecimento
por nos desafiar cotidianamente, incentivando-nos, dessa forma, a buscar por respostas,
mesmo que provisórias (MORIN, 2002).
Por fim, ressaltamos ainda que os procedimentos metodológicos propostos aqui são
apenas sugestões que podem ser utilizadas parcialmente ou integralmente, reelaboradas ou
descartadas, pois cada professor também deve se sentir sujeito histórico e ativo, no direito de
ousar e, assim, buscar também outros caminhos dentre os vários possíveis.
Contra as fórmulas mágicas, é preciso pensar o ensino e aprendizagem como processo.
Portanto, o professor de filosofia deve buscar o seu próprio jeito de se fazer docente em sala
de aula, tendo consciência de que esse processo é histórico.
REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando – Introdução à
Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna, 2012. (Livro didático).
CERLETTI, Alejandro A. Ensinar filosofia: da pergunta filosófica à proposta metodológica.
In: KOHAN, Walter O. (Org.). Filosofia: caminhos para seu ensino. Rio de Janeiro: Editora
DP&A, 2004.
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2012. (Livro didático).
CORTELLA, Mario Sergio. Filosofia e Ensino Médio: certos porquês, alguns senões, uma
proposta. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2009.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Ed.
Saraiva, 2012. (Livro didático).
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