Artigo 09

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Relato de Caso
Osteoma de base da língua - relato de caso
Osteoma of the base of the tongue - case report
Resumo
Introdução: O osteoma de base da língua é uma entidade
extremamente rara, menos de 100 casos foram descritos. O
primeiro caso relatado na literatura foi de autoria de Mosserat, em
1913. Objetivo: Descrever um caso de osteoma de base de língua
e realizar uma revisão sobre o tema. Métodos: Relato do caso de
paciente atendido no Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço,
do Real Hospital Português de Beneficência de Pernambuco,
com 34 anos, masculino, portador de tumor na base da língua,
cujo diagnóstico tomográfico e histopatológico foi de osteoma.
Para a revisão bibliográfica, foram realizadas pesquisas nos
periódicos da CAPES, Scielo e Pubmed. Resultados: O paciente
foi submetido a cirurgia transoral e o diagnóstico histopatológico
foi de osteoma de base de língua. Conclusões: O osteoma de
base de língua é uma doença com incidência baixa e a proporção
é maior nas mulheres (4:1) e, até a presente data, foram relatados
menos de vinte casos em homens no mundo.
Descritores: Osteoma; Neoplasias Orofaríngeas; Tomografia.
INTRODUÇÃO
O Coristoma é definido como um tumor constituído
por células ou tecido normal, que se desenvolve em uma
localização ectópica. Esses Coristomas podem surgir na
cavidade oral e orofaringe de diferentes formas, como
osso, cartilagem, mucosa gástrica ou cisto sebáceo.
Entretanto, a forma mais comum de aparecimento é o
Osteoma1,2,3,4. Ocorre uma maior incidência de coristoma
ósseo na região da cabeça e pescoço. O local mais
comum é na língua, em 93% dos casos (sendo o terço
posterior da língua a região mais acometida), seguido
pela mucosa bucal e rebordo alveolar4.
Fatima C. M. Matos 1
Sylvio Vasconcellos 2
Bartolomeu Cavlacanti Melo Jr 3
Silvio Litvin 4
Airton Madureira 5
Tale Rolim 5
Abstract
Background: Osteoma of the tongue base is an extremely
rare entity, less than 100 cases have been reported. The first
case reported in the literature was written by Mosserat, in 1913.
Objective: To describe a case of osteoma of the tongue base
and carry out a review on the subject. Methods: Case report of
patient treated at the Department of Head and Neck Surgery, in
Real Hospital Português de Beneficência of Pernambuco, with 34
year old male patient, with tumor at the base of the tongue, which
diagnosis was osteoma in CT and histopathology. For the literature
review, research was carried out in the CAPES periodics, PubMed
and Scielo. Results: The patient underwent transoral surgery and
the histopathological diagnosis was osteoma of the tongue base.
Conclusions: Osteoma of the tongue base is a disease with low
incidence and the proportion is higher in women (4:1) and, to date,
been less than twenty cases reported in the world.
Key words: Osteoma; Choristoma; Oropharyngeal Neoplasms;
Tomography.
O osteoma de base da língua é uma entidade
extremamente rara e menos de 100 casos foram
descritos1. O primeiro caso relatado na literatura foi de
autoria de Mosserat, em 19131,3-8.
O presente relato descreve um caso de um paciente
com um osteoma na base da língua, que chegou a nosso
Serviço, sem diagnóstico.
RELATO DO CASO
Paciente masculino, casado, 34 anos, comerciante,
procedente de Petrolina-Pernambuco, atendido pelo
Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, do Real
1)Doutora em Clínica Cirúrgica pela USP. Cirurgiã de Cabeça e Pescoço da Universidade de Pernambuco.
2)Especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Médico Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital Português de Beneficência de Pernambuco.
3)Especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Médico Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital Português de Beneficência de Pernambuco e do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
da Universidade Estadual de Pernambuco.
4)Especialista em Radiologia. Médico radiologista da Multimagem.
5)Aluno do 5º período de Medicina da Universidade Estadual de Pernambuco. Aluno do 5º período de Medicina da Universidade Estadual de Pernambuco.
Instituição: Hospital Português de Beneficência em Pernambuco (REAL CP) e Multimagem.
Recife / PE – Brasil.
Correspondência: Fatima C. M. Matos - Av. Agamenon Magalhães, 4760 - Derby - Recife / PE – Brasil - CEP: 52010-902 - Telefones: (+55 81) 3416-1676 / 3416-1677.
Artigo recebido em 17/03/2012; aceito para publicação em 29/03/2013; publicado online em 31/03/2014.
Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há.
50 R���������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.43, nº 1, p. 50-52, janeiro / fevereiro / março 2014
Osteoma de base da língua - relato de caso..
Hospital Português de Beneficência em Pernambuco
(REAL CP). O mesmo refere que durante o exame
de rotina com o otorrinolaringologista foi identificado
um tumor na base da língua. O paciente relata que
é portador de uma alteração hematológica com
consequente aumento de ferritina no sangue, além de
refluxo gastroesofageano com hérnia de hiato. Nega
tabagismo e etilismo. Nos antecedentes familiares, sua
irmã foi portadora de câncer de mama.
Realizado exame de laringoscopia indireta com
ótica rígida de 70 graus, que identificou a presença
de um tumor de aproximadamente 1,0 cm na base da
língua, logo após o V lingual, em sua linha média, de
consistência endurecida, com superfície lisa e mucosa
íntegra, bem delimitada, sendo o exame da laringe e
hipofaringe normal.
Foram
solicitados
radiografia
de
tórax,
ultrassonografia (USG) cervical e de tireóide, tomografia
computadorizada (TC) com contraste de face e pescoço.
Ao retorno, o paciente queixa-se de “dor de garganta” e
trazia consigo os exames solicitados: USG de tireoide
normal, com linfonodos bilaterais reacionais nos níveis
II, III e IV; radiografia de tórax normal e a TC mostrava
um processo expansivo hiperdenso próximo a base da
língua com 1,0x0,7 cm (Fotos 1, 2, 3, 4 e 5). A hipótese
diagnóstica, após os exames, foi de osteoma lingual
sendo indicada cirurgia para exérese da tumoração.
O paciente foi submetido a cirurgia via transoral,
com colocação de abridor de boca, seguida por
protusão da língua, mantida por, transfixação da ponta
lingual por fio de algodão 2-0. O procedimento ocorreu
sem intercorrências, sendo realizada a ressecção do
tumor com bisturi elétrico, da marca Valleylab, após
delimitação do tumor (sendo dada uma margem de
cerca de 1,0 cm, com síntese primária com Vicryl 2-0,
agulha gastrointestibnal. A congelação transoperatória
evidenciou margens círúrgicas livres, com diagnóstico
provável de osteoma, sendo necessário o envio do
material para descalcificação.
A congelação intra-operatória e a análise
histopatológica
foram
realizadas
pelo
Núcleo
Especializada de Anatomia Patologica (NEAP). O
laudo da histopatologia descreve, macroscopicamente,
a peça de forma irregular, endurecida, de cor pardoacastanhada, com tumoração, em seu interior, medindo
0,7x0,6x0,5cm, concluindo com o diagnóstico de
osteoma, com margens livres.
Matos et al.
Figura 1. Imagem tomográfica do osteoma em base de língua.
Figura 2. Imagem tomográfica do osteoma em base de língua.
DISCUSSÃO
Para a revisão bibliográfica, foram realizadas
pesquisas nos periódicos da CAPES, Scielo e Pubmed,
sendo utilizados os termos: “osteoma”, “osteoma de
lingua”, “osteoma de base de lingua”, “Coristoma ósseo
de lingua” e seus respectivos correspondentes em inglês.
A epidemiologia aponta que cerca de 80% dos
pacientes afetados são mulheres e que estas geralmente
têm menos de 40 anos de idade5. A apresentação mais
Figura 3. Imagem tomográfica do osteoma em base de língua.
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Osteoma de base da língua - relato de caso..
Matos et al.
Figura 4. Imagem tomográfica do osteoma em base de língua.
Figura 5. Imagem tomográfica do osteoma em base de língua (janela
óssea).
comum é a sensação de massa na garganta (25,8%).
Outros sintomas incluem: disfagia (6,9%), ânsia de
vômito (5,1%), náuseas (3,4%) e irritação (3,4%). A
sensação de possuir uma “espinha de peixe” presa à
garganta repetida vezes também é referida. Porém, 40%
dos pacientes apresentam-se assintomáticos1.
Osteomas de língua cursam frequentemente como
uma massa pediculada localizada próximo ao forame
cego, com tamanhos que variam de 0,3 a 2,5 cm5.
Nenhuma relação é relatada entre o tamanho da massa e
a sintomatologia1. Como diagnóstico diferencial, quando
há massa próxima ao forame cego, pode-se citar:
tireoide lingual, hipertrofia tonsilar lingual, condroma
lingual, tumor na glândula salivar e carcinoma de células
escamosas1.
A patogênese do osteoma lingual ainda é controversa.
Existem duas teorias principais para justificar o
desenvolvimento e aparecimento dos Coristomas: a
Teoria da malformação e a Teoria do desenvolvimento
pós-traumático ou reacional4. Monserrat foi o primeiro
autor a defender a teoria da malformação, que atribui a
origem da lesão à ossificação dos remanescentes do arco
branquial, baseado na localização anatômica da lesão na
área do forame cego4. Já a Teoria do desenvolvimento
está associada aos remanescentes de tecido tireoidiano,
que podem sofrer ossificação metaplásica4.
A razão pela qual a incidência em mulheres é
maior, também não está completamente elucidada,
porém acredita-se que fatores hormonais estejam
envolvidos1.
O osteoma lingual é uma neoplasia rara. Existem
poucos estudos sobre a incidência mundial. No Brasil,
a realidade não parece ser diferente. Também são
relatados poucos casos e nenhum estudo epidemiológico
direcionado para esta neoplasia, até mesmo porque
menos de 100 casos foram relatados na literatura1. O
caso descrito torna-se interessante pelo fato do paciente
ser do sexo masculino, o que nos leva a uma casuísta
de menos de 20 casos de osteoma lingual publicados1,5.
REFERÊNCIAS
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report and literature review. ARCH OTOLARYNGOL HEAD NECK
SURG 2009; 135:308-10.
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Otolaryngology-Head and Neck Surgery 2005; 132:146-7.
3. Kaye,WH. Osteoma of tongue. The Journal of Laryngology & Otology
1968;82:269-271.
4. Andressakis DD, Pavlakis AG, Chrysomali E, Rapidis AD. Infected
lingual osseous choristoma. Report of a case and review of the
literature. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2008; 13(10):E627-32.
5. Benamer,MH and Elmangoush,AM. Lingual Osseous Choristoma
Case report and review of literature. Libyan J Med, AOP: 061211.
6. Watson et al. Osteochondroma of the tongue. The Journal of
Laryngology and Otology 1990; 104:138-140.
7. Jahnke V, Daly JF. Osteoma of the tongue. J Laryngol Otol.
1968;82(3):273-275.
8. Busuttil A. An osteoma of the tongue. J Laryngol Otol. 197.
52 R���������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.43, nº 1, p. 50-52, janeiro / fevereiro / março 2014
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