questões clínicas relacionadas ao mergulho

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Texto de apoio ao curso de Especialização
Atividade física adaptada e saúde
Prof. Dr. Luzimar Teixeira
QUESTÕES CLÍNICAS RELACIONADAS AO MERGULHO
ENDOCRINOLOGIA – PROBLEMAS DA TIREÓIDE
A tireóide é uma glândula que secreta um hormônio, a tiroxina, necessária ao nossa
metabolismo normal. O hipertireoidismo ocorre quando há um excesso de produção deste
hormônio pela glândula. O excesso do hormônio da tireóide, produz problemas cardíacos,
alterando o ritmo respiratório e produzindo disfunções no sistema nervoso central,
diminuindo a massa corporal. As alterações nestes sistemas são importantes e
significativos e são aumentadas durante o mergulho. O nível abaixo do normal do hormônio
da tireóide, produz a disfunção chamada hipotireoidismo. A diminuição da tiroxina produz
uma sintomatologia específica.
A tireotoxicose ocorre quando os vários sistemas e seus tecidos são expostos a uma
quantidade excessiva do hormônio da tireóide havendo alterações metabólicas e disfunções
específicas nos vários órgãos afetados. O hipertireoidismo se refere ao aumento da síntese
e liberação do hormônio, enquanto a tireotoxicose se relaciona à síndrome clínica
resultante. Esta distinção é importante quando analisamos as causas de tireotoxicose. Por
exemplo, no caso de haver sido administrado uma dose excessiva do hormônio da tireóide
para tratar um hipotireoidismo, teremos tireotoxicose, mas no entanto a síntese e liberação
do hormônio na glândula de fato está diminuída. Já a doença de Graves caracteriza-se pela
formação e secreção excessivas do hormônio da tireóide, bem como aumento difuso da
glândula no pescoço. Esta doença é, provavelmente, mais um distúrbio auto-imune cuja
explicação fisiopatológica foge dos nossos objetivos no presente texto. Várias outras
causas de tireotoxicose podem ser listadas e são do interesse do profissional médico que
atende este tipo de pacientes no sentido de realizar diagnósticos diferenciais.
O débito hormonal da tireóide pode ser controlado por medicação, irradiação, exposição a
iodo radioativo ou cirurgia. A opção terapêutica dependerá da avaliação clínica laboratorial.
Ela também está vinculada às preferências das equipes de atendimento endocrinológico. O
tratamento acarreta redução da função da glândula e diminuição do hormônio liberado
podendo, inclusive, transformar um estado de hipertireoidismo em hipotireoidismo.
HIPERTIREOIDISMO E O MERGULHO
A prática do mergulho autônomo amador é considerada insegura para mergulhadores com
hipo ou hipertireoidismo ativo não tratado. Durante o mergulho, em pacientes
mergulhadores hipertireoideos não tratados, o hormônio pode ser liberado subitamente em
grandes quantidades produzindo sintomatologia de risco. Algumas condições clínicas
podem produzir sintomas relacionados a crises de ansiedade no mergulho, inclusive
pânico, sendo o hipertireoidismo uma delas.
Após o tratamento, se espera que os níveis hormonais tenham sido reduzidos a níveis
adequados. Isto pode ser acessado através da dosagem do hormônio no sangue.
Clinicamente espera-se que após o tratamento os sinais e sintomas tenham desaparecidos.
Portanto, níveis séricos normais do hormônio e ausência de sintomatologia permitem a
liberação ao mergulho.
No entanto algumas ressalvas devem ser feitas. Pacientes tratados para hipertireoidismo
podem ficar hipotireoideos e passar a requerer suplementação hormonal. Comercialmente
temos disponível a tiroxina. O uso deve ser monitorizado para manter a medicação em nível
terapêutico adequado. Esta medicação não tem interação com as condições ambientais
relacionadas à doença descompressiva e seu desencadeamento.
Em relação ao tratamento medicamentoso do hipertireoidismo com medicações antitireoidanas, acredito que é inseguro o seu uso no mergulho. Não há dados sobre a interação
da medicação com o mergulho e, tratando-se de medicações, devemos considerar a
variabilidade da concentração no sangue em função do metabolismo da droga. Além disso a
doença não é de fácil controle medicamentoso e a medicação não é isenta de efeitos
adversos. Portanto, mesmo estando sem sintomas clínicos e com níveis séricos adequados
do hormônio, se esta foi a forma de tratamento escolhida, o candidato a mergulhador ou o
mergulhador que passou a apresentar o problema não está autorizado a mergulhar. A
menos que mude a opção terapêutica.
A liberação ao mergulho depende também do fato do mergulhador não apresentar outros
problemas de saúde e adequada condição física à prática da atividade. Mergulhadores com
doença da tireóide devem realizar rigorosa avaliação cardiovascular pelo menos três meses
antes do mergulho. Esta criteriosa avaliação deve excluir alterações do ritmo e a presença
de insuficiência cardíaca. O candidato ao mergulho autônomo amador que teve esta doença
somente poderá mergulhar se apresentar adequado condicionamento físico antes do
mergulho.
Resumindo, hipertiroidismo não tratado com sintomas relacionados à doença desqualifica
para a prática do mergulho autônomo amador. Hipertireoidismo, tratado sem sintomatologia
específica relacionada à doença, não.
Renúncia
Nenhuma representação neste texto é feita no sentido de oferecer um diagnóstico,
tratamento ou cura para qualquer condição ou doença relatada. O caráter do texto é
somente informativo e deve ser usado em conjunto com o aconselhamento específico do
médico de medicina do mergulho. O autor não é responsável por qualquer conseqüência
concebível relacionada à leitura deste texto.
FONTE:
1)DIVERS ALERT NETWORK (via WEB).
2)CECIL TEXTBOOK OF MEDICINE.
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