lklklk Curso de Biomedicina Artigo de Revisão DOENÇA HEMOLÍTICA DO RECÉM-NASCIDO CAUSADA PELO ANTÍGENO c HEMOLYTIC DISEASE OF THE NEWBORN CAUSED BY ANTIGEN c 2. Pollyana de Araújo Taveira¹, Adriano Rios 1 Aluna do Curso de Biomedicina 2 Professor Mestre do Curso de Biomedicina Resumo Introdução: a Doença Hemolítica do Recém-Nascido (DHRN) consiste na destruição eritrocitária fetal devido à passagem de anticorpos maternos pela placenta. O sistema Rh é o segundo grupo sanguíneo mais importante apresentando diversos antígenos imunogênicos, dentre eles estão o D, c, C, e, E. O antígeno irregular c apresenta alto grau de imunogenicidade, ficando atrás somente do D, e é um importante antígeno na causa da DHRN. Objetivo: o objetivo do trabalho é evidenciar a etiologia, patogenia, manifestações clínicas da doença em questão, bem como trazer formas de prevenção. Metodologia: o estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, qualitativa, básica, exploratória e analítica que tem como objetivo o aprofundamento do assunto sem intenção de aplicação prática. Conclusão: a doença se dá pela isoimunização materna onde anticorpos atravessam e destroem as células eritrocitárias do feto, ocasionando assim uma série de complicações, tais como icterícia, hepatoesplenomegalia, anemia hemolítica, entre outras. A incidência da DHRN ocasionada pelo antígeno c vem aumentando significativamente e por isso, é preciso ter uma maior atenção frente a essa afecção. Palavras-chave: Doença Hemolítica Perinatal; Isoimunização; Sistema Rh; Antígeno c. Abstract Introduction: Hemolytic Disease of the Newborn (HDN) is the fetal red cell destruction due to the passage of maternal antibodies through the placenta. The Rh system is the second most important blood group presenting several immunogenic antigens, among them are D, c, C, and E. The irregular antigen c has a high degree of immunogenicity, behind the D only, and is an important antigen the cause of HDN. Objective: The objective of this study is to show the etiology, pathogenesis, clinical manifestations of the disease in question and bringing forms of prevention. Methodology: The study deals with a bibliographical research, qualitative, basic, exploratory and analytical which aims the subject of deepening no intention of practical application. Conclusion: The disease occurs where the isoimmunization maternal antibodies cross and destroy fetal erythroid cells, thus causing a lot of complications such as jaundice, hepatosplenomegaly, hemolytic anemia, among others. The incidence of HDN caused by c antigen has increased significantly and so it is necessary to have greater attention against this disease. Keywords: Perinatal Hemolytic Disease; Isoimmunization; Rh system; Antigen c. Contato: [email protected] Introdução O grupo sanguíneo Rh foi descoberto por volta de 1930 com experimentos realizados por Landsteiner e Wiener com hemácias do macaco rhesus, motivo pelo qual recebeu o nome de sistema Rh¹. O sistema Rh é considerado o mais complexo dentre os grupos sanguíneos, pois apresenta alto grau de imunogenicidade e polimorfismo, apresentando cerca de 49 antígenos (Ag- molécula que se liga a um anticorpo)² eritrocitários sendo o D, C, c, e, E (segundo a classificação importantes³. de Fisher-Race) os mais Os antígenos desse grupo são codificados por dois genes homólogos que estão localizados no cromossomo um, o gene RHD, que codifica a proteína Rh-D e o gene RHCE, o qual codifica as 4,5 proteínas E/e e C/c . Há uma importância significativa desse sistema, pois ele é responsável por grande parte das reações transfusionais, doença hemolítica do recém-nascido e anemias 6 hemolíticas . Sendo assim, a Doença Hemolítica do Recém-Nascido (DHRN), também conhecida como Eritroblastose Fetal ou Doença Hemolítica Perinatal (DHPN), consiste em uma enfermidade imunológica ocasionando a destruição dos eritrócitos do neonato ou feto através da passagem, pela placenta, de anticorpos maternos do tipo IgG, dirigidos especificamente contra os antígenos presentes na membrana eritrocitária 1,7 fetal ou do recém-nascido . O antígeno Rh-D é considerado o mais 8 imunogênico e com maior probabilidade de imunização seguido dos antígenos c, E, C, e, 4 chamados de antígenos irregulares . Porém, com as medidas preventivas relacionadas ao fator antiD, isoimunizações referentes a esse antígeno vêm diminuindo, dando espaço para a DHRN causada 9 pelos demais antígenos . Os danos gerados por essa patologia acometem somente o feto ou recém-nascido, dentre eles estão à icterícia, reticulocitose, palidez, 10 hepatoesplenomegalia e edema generalizado . Sendo assim, o referente trabalho traz como principal escopo descrever sobre a etiologia, patogenia, manifestações clínicas da Doença Hemolítica Perinatal, bem como trazer formas de prevenção. Métodos Foram utilizadas para a realização do trabalho referências publicadas em forma de artigos científicos e livros no período de 1939 a 2015. O presente estudo é classificado como uma pesquisa bibliográfica, qualitativa, básica, 11 exploratória e analítica . Sua classificação se dá levando em consideração várias características, são elas: Quanto ao procedimento: classifica-se como pesquisa bibliográfica, pois foi feito utilizando levantamento de referências já publicadas e 11 analisadas . Quanto à abordagem: classifica-se como pesquisa qualitativa, devido ao não interesse em representatividade numérica e sim no estudo 11 teórico minucioso do tema . Revisão Bibliográfica Até meados de 1939, o único grupo sanguíneo descrito era o ABO e pensava-se que este seria a explicação das reações transfusionais. 12 Porém, Levine e Stetson (1939) descreveram uma reação transfusional hemolítica em uma paciente após conceber um neonato morto, precisando assim de transfusão. O doador escolhido foi seu marido que possuía o mesmo grupo sanguíneo da mulher, após a transfusão a receptora apresentou sintomas clássicos de 1 reação transfusional hemolítica aguda . Isolaram um anticorpo presente no soro da mãe e concluíram que o feto e o pai possuíam um fator comum que a mãe não tinha. Escreveram que quando a mulher estava grávida, de alguma forma entrou em contato com esse fator que a fez criar anticorpos e estes reagiram com as hemácias transfundidas do pai, resultando na reação 1 transfusional hemolítica . Um ano mais tarde, Landsteiner e Wiener 13 (1940) apresentaram um anticorpo produzido por cobaias e coelhos quando transfundidos com hemácias do macaco rhesus, este anticorpo foi denominado como Rh e reagiu com 85% das 14 hemácias humanas . Após vários estudos chegou-se a conclusão de que o Rh era a causa primária de Doença Hemolítica do Recém-Nascido (DHRN) e um agente significativo das reações transfusionais hemolíticas. Por volta da década de 1940, cinco antígenos formavam o grupo Rh, hoje 15 já passam de 48 . O sistema Rh recebe várias nomenclaturas, cada uma levando em consideração uma característica específica. A termologia mais 16 adotada é a de Fisher-Race (1948) , dois estudiosos que descreveram que os antígenos pertencentes ao grupo Rh eram produzidos por três grupos de alelos (Figura I). Cada gene era responsável pela produção de um antígeno na 13 superfície do eritrócito . Porém, hoje é aceito que apenas dois genes controlam a expressão do Rh, o gene RHD que codifica o antígeno D, e o gene RHCE que codifica as proteínas C, c, e, E e estão 1 situados no cromossomo um . Quanto à natureza: classifica-se como pesquisa básica, porque não tem previsão de aplicação 11 prática . Quanto aos objetivos: classifica-se como pesquisa exploratória, pois tem como escopo tornar o assunto explícito e com maior 11 familiaridade para os futuros leitores . Quanto à revisão: classifica-se como pesquisa analítica porque há uma avaliação dos conteúdos apresentados no trabalho, a fim de se obter um 11 maior esclarecimento frente ao tema . Figura I- Cada gene produz um antígeno, segundo Fisher-Race Fonte: Harmening (2006) Tais pesquisadores denominaram os antígenos de D, d, c, C, e, E, porém consideram o antígeno d como amorfo (alelo silencioso) ou como a ausência do antígeno D. Sendo assim, o fenótipo (manifestação externa de uma 17 característica genética específica) de uma hemácia é dado como a expressão dos antígenos 1 D, c, C, e, E . 16 O estudo de Fisher e Race (1948) diz que cada indivíduo herda um grupo de genes do pai e um da mãe, assim cada gene herdado é codominante (situação de heterozigose em que apresenta os efeitos fenotípicos de ambos os 17 alelos igualmente) e expressa seu antígeno 1 correspondente no eritrócito . Dentro da classificação de Fisher e Race, o antígeno mais imunogênico (capacidade de gerar 2 uma resposta imune mediada por linfócitos) e com maior probabilidade de imunização é o antígeno D, em seguida apresentam-se o c, E, C, e que são antígenos irregulares, pois não 4 apresentam uma expressividade mundial . Sendo assim, a Doença Hemolítica do Recém-Nascido (DHRN), também conhecida como Eritroblastose Fetal ou Doença Hemolítica Perinatal (DHPN), consiste em uma enfermidade imunológica ocasionando a destruição dos eritrócitos do neonato ou feto através da passagem, pela placenta, de anticorpos maternos do tipo IgG, dirigidos especificamente contra os antígenos presentes na membrana eritrocitário 1,7 fetal ou do recém-nascido (Figura II). a um antígeno. Essa resposta pode ser dividida em fases: o reconhecimento do antígeno, ativação dos linfócitos, eliminação dos antígenos, declínio e memória² (Figura II). A identificação do antígeno acontece tanto na imunidade inata ou natural quanto na adaptativa, porém ocorre de formas diferentes. Na resposta natural há o reconhecimento inicial por intermédio de células especializadas em apresentar esse antígeno para células da imunidade adquirida no baço. Assim, o discernimento da imunidade adquirida se dá pelo contado com o antígeno apresentado pelas células 18 apresentadoras . Após essa fase, há a ativação dos linfócitos, o reconhecimento parte do linfócito TCD4, citocinas (proteínas que servem como mediadores de comunicação entre as células do sistema 2 imune) são liberadas por ele para ativar os 17 linfócitos TDC8 e linfócitos B . Essa fase envolve diversos processos como a expansão clonal (multiplicação das células ativadas), diferenciação (nesse momento células imaturas tornam-se células efetoras que são capazes de eliminar os antígenos). Após a eliminação eficaz, o sistema imunológico entra em homeostase através da apoptose do excesso de células produzidas na expansão clonal e por fim, há a conversão de 2 algumas células em células de memória . A DHRN causada pelo antígeno c acontece quando a mãe não possui esse antígeno e é sensibilizada. A sensibilização pode ocorrer por gravidez anterior, bem como por transfusão de sangue, amniocentese (avaliação do pigmento de 1 bilirrubina presente no líquido amniótico) , abortos Figura II – Fases da resposta imunológica adquirida Fonte: Abbas (2011) A sensibilização, de modo geral, se dá como um reconhecimento do sistema imunológico frente anteriores induzidos ou naturais, ou qualquer outro 6 traumatismo placentar . O processo tem início com a entrada de hemácias, na circulação, com o antígeno c que a mãe não possui. O sistema imunológico materno então começa o processo de sensibilização e assim há a produção de anticorpos do tipo IgM (resposta imune primária), que aos poucos vai sendo substituído por anticorpos da classe IgG (resposta imune secundária), o grau de sensibilização da mãe é edemaciado no tecido subcutâneo com efusão 22 serosas de cavidades, uma ou mais) . A hemólise além de ocasionar anemia, gera um aumento da bilirrubina (gerada a partir da degradação do grupo heme da hemoglobina), levando a icterícia e no caso mais grave, a Kernicterus, doença caracterizada pelo acúmulo de bilirrubina indireta 9, 23,24 no cérebro (Figura III). Figura III- Fisiopatologia da DHRN Fonte: Mesquita et al (2005) diretamente proporcional 19 hemorragia feto-maternal . à quantidade de Somente anticorpos da classe IgG conseguem atravessar a barreira placentária. Após a sensibilização, se a mãe entrar em contato novamente com o mesmo antígeno, anticorpos atravessarão a placenta e se ligarão, de forma específica, aos antígenos eritrocitários do feto, com a ligação, hemácias fetais são destruídas e isso acarreta em várias consequências para o feto 20 que se estende até após o nascimento . A hemólise gerada por esses anticorpos não ocorre no sistema intravascular, pois não ligam o sistema complemento, mas sim no sistema retículo endotelial do feto, através do reconhecimento dos eritrócitos sensibilizados, sendo destruídos no 21 baço . Quando a destruição eritrocitária é estabelecida inicia-se um quadro de anemia que se não tratada de forma adequada gera o lançamento de células imaturas para a circulação, 20 os eritroblastos e reticulócitos . A anemia intensificada leva a um feto anêmico e com baixa na concentração de albumina, condições que explicam a insuficiência congestiva, o edema generalizado e hepatoesplenomegalia, caracterizando a Hidropisia fetal (determinada como o aspecto A Doença Hemolítica Perinatal pode ser classificada como afecção leve, moderada ou grave levando em consideração as suas manifestações clínicas (Tabela I). Classificada como doença leve porque apresenta anemia leve com ou sem icterícia. Na moderada a criança apresenta anemia grave e icterícia podendo apresentar hepatoesplenomegalia, edema e palidez. Já na grave, há morte intra-uterina por 6 disfunção hepática e hidropisia fetal . CLASSIFICAÇÃO Doença leve Doença moderada Doença grave MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Anemia leve com ou sem icterícia Anemia grave + icterícia podendo apresentar edema, palidez e hepatoesplenomegalia Morte por disfunção hepática e hidropisia fetal Tabela I – Classificação da DHRN pelas manifestações clínicas Fonte: Silva (2011) Vale ressaltar que no período antes do nascimento (pré-natal) metabólitos e a bilirrubina indireta ou não-conjugada atravessam a placenta e são eliminados pela mãe. Porém no período neonatal (após o nascimento) o recém-nascido por apresentar imaturidade na função hepática, não consegue metabolizar a bilirrubina de modo eficiente (Figura IV), isso provoca, como mencionado anteriormente, um aumento da bilirrubina, gerando icterícia e pode provocar um 6 quadro de Kernicterus . causas evitáveis, do tipo reduzíveis por adequada 26 atenção à mulher na gestação . Outro ponto que merece atenção é que se trata de uma doença grave, podendo levar a morte e a complicações severas, apresentando formas de prevenção e, infelizmente, as condutas adequadas como prénatal apropriado, investigação do histórico familiar 27 e testes clínicos e sorológicos não estão 6 ocorrendo da forma correta . BAÇO Figura IV- Metabolismo da bilirrubina no recém-nascido e feto Fonte: Harmening (2006) O diagnóstico pode ser realizado tanto no período gestacional como após o nascimento e é concluído através de vários exames como a pesquisa de anticorpos fixados sobre as hemácias (Teste da Antiglobulina Direta – TAD), Eluição que serve para remover os anticorpos presentes na membrana dos eritrócitos para identificá-los posteriormente, pesquisa de anticorpos no soro (Pesquisa de Anticorpos Irregulares – PAI), entre 21 outros . Considerações Finais O estudo de tal afecção é de extrema importância, pois ela é causada pelo grupo sanguíneo de maior complexidade e 3 polimorfismo , além de estar associado ao antígeno que ocupa o segundo lugar em imunogenicidade dentro os cinco mais 25 importantes . O estudo mostra que se deve ter uma preocupação maior para a doença causada por antígenos não comuns, em especial o c, pois este é o segundo mais imunogênico do sistema Rh, principal grupo sanguíneo responsável pela Doença Hemolítica do Recém-Nascido. Enfatiza a etiologia, patogenia, manifestações clínicas, além de abordar que há possibilidade de prevenção, tornando uma doença evitável. Além disso, segundo a lista de causas de mortes evitáveis por intervenções do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil (2010), as doenças hemolíticas do feto ou recém-nascido devidas à isoimunização são classificadas como A DHRN é uma isoimunização de anticorpos maternos da classe IgG, conduzidos contra as hemácias do feto, é uma doença grave que gera diversas consequências para o feto ou recémnascido, podendo levar a morte. A incompatibilidade por Rh D é comum, porém com as medidas preventivas referentes a esse antígeno, a incidência da mesma afecção causada pelo antígeno c tem aumentado. Sendo assim, tendo um acompanhamento correto no pré-natal, atenção para o histórico da família principalmente da mãe, realização de testes clínicos e exames sorológicos corretamente compõem as medidas preventivas e estas são suficientes para evitar o desenvolvimento da Doença Hemolítica do Recém-Nascido (DHRN). Referências: 1 – Harmening DM. Técnicas modernas em banco de sangue e transfusão. 4th ed. Livraria e Editora Revinter Ltda: Rio de Janeiro; 2006. 2 – Abbas AK, Lichtman AH, Pillai S. Imunologia celular e molecular. 7th ed. Elsevier: Rio de Janeiro; 2011. 3 – Pereira PCM. Isoimunização Rh materna. Profilaxia, diagnóstico e tratamento: aspectos gerais [monografia]. Universidade Federal da Bahia: Faculdade de Medicina da Bahia; 2012. 4 – Sabino JS. Determinação da incidência de Rh D fraco e Rh D parcial na população da área da abrangência do Hemocentro de Botucatu [dissertação]. 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