O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

Propaganda
O USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO AUDITIVA NOS TIROS DE FUZIL E DE ARTILHARIA
The use of ear protective devices during rifle and artillery shooting
Eduardo Borba Neves1, Marcia Gomide da Silva Mello2
RESUMO
As atividades de tiro, de fuzil e de artilharia, promovem níveis elevados de ruído, que
podem provocar alterações no sistema auditivo. O objetivo deste estudo foi medir o
nível de ruído a que os militares estão expostos durante o tiro de fuzil e identificar
possíveis motivos para que o militar não utilize a proteção auditiva durante essa
atividade e no tiro de artilharia. O presente estudo caracteriza-se como transversal.
Utilizou-se (a) questionário auto-aplicável, com o objetivo de mapear o perfil dos
informantes e os motivos que os levavam a utilizar ou não a proteção auditiva nas
atividades de tiro; (b) medição do nível de pressão sonora, para dimensionar o risco
ocupacional da atividade de tiro; (c) observação sistemática, para mapear o processo
de trabalho e (d) entrevista semi-estruturada, para verificar outras percepções de risco
relacionados com a atividade de tiro, além da relativa à audição. Durante as atividades
de tiro de fuzil e de artilharia, os militares estão expostos a um nível de pressão sonora
mínimo de 147 dB, com indícios da possibilidade de que esse valor possa atingir 188 dB.
Foi constatado que, no tiro de fuzil, 44 militares (55,7%) não utilizam proteção
auditiva e, no tiro de artilharia, esse número aumentou para 65 militares (82,3%).
Os fatores que contribuem para que os militares negligenciem sua segurança auditiva
nas atividades de tiro são: a falta de informação quanto ao real risco da exposição aos
ruídos dos tiros; a falta da disponibilidade do equipamento de proteção auditiva no
local de trabalho; e a falta de treinamento, orientação e fiscalização no uso de
equipamento de proteção individual por parte dos responsáveis por essas atividades.
PALAVRAS-CHAVE
Saúde do trabalhador, ruído ocupacional, atividades militares, dispositivos de proteção
auditiva
ABSTRACT
Shooting activities, rifle and artillery promote high level of noise that may cause
alterations in the ear system. This study aims at measuring the noise level to which the
militaries are exposed during rifle shooting as well as identifying possible reasons for
not using the ear protective devices in those activities and during artillery shooting.
The present cross-sectional study used different sources of measurement of the variables
1
Mestre em Saúde Coletiva. Professor Adjunto da Seção de Pós-graduação da Escola de Aperfeiçoamento
de Oficiais do Exército. E-mail: [email protected]
2
Doutora em Saúde Pública. Professora Adjunta do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade
de Medicina da Universidade Federal do Ceará.
C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007 –
97
EDUARDO BORBA NEVES, MARCIA GOMIDE
DA
SILVA MELLO
of interest (a) a self-administered questionnaire, with the objective of describe the
profile of the informants and their reasons to use or not the ear protective devices
during shots activities; (b) measurement of the sound pressure level, to verify the
occupational risk of the shooting activities; (c) systematic observation, to describe the
occupational process and (d) a semi-structured interview, to verify other perceptions
of risk related to shooting activities, beside, those related to hearing. During rifle and
artillery shooting, militaries are exposed to a minimal noise pressure level of 147
dB, suggesting the possibility that this value may reach 188 dB. It was evidenced
that, in the rifle shooting, 44 militaries (55.7%) of the informants did not use ear
protective devices and, in the artillery shooting, this number grows up to 65 militaries
(82.3%). The factors that definitely contribute to the negligent attitude towards
the use of ear security devices are: lack of information concerning the real risks of
exposure to the shooting noises; lack of availability of ear protective devices in the
workplace; as well as lack of training, orientation and supervision in the use of ear
protective devices.
KEY WORDS
Occupational health, occupational noise, military activities, ear protective devices
1. INTRODUÇÃO
O ambiente pode, de muitas maneiras, afetar a saúde humana. Isso torna
fundamental o conhecimento das situações de risco de origem no ambiente de
trabalho e suas conseqüências para a saúde (Tambellini & Câmara, 2002). Pelo
fato da maioria dos indivíduos economicamente ativos passarem grande parte do
seu tempo no ambiente de trabalho, este é tomado como elemento medidor ou
como uma via de acesso para analisar a relação causa e efeito nos processos de
saúde e doença que vão se manifestar no trabalhador.
No ambiente militar são comuns extensas jornadas de trabalho, problemas
ergonômicos, exposição a agentes químicos, físicos e biológicos, reconhecidamente
considerados fatores de risco ocupacional para o trabalhador (Silva & Santana,
2004). Apesar das atividades militares serem consideradas freqüentemente mais
perigosas do que o trabalho civil, especialmente em situações de crise, raramente
são analisadas em tempo de paz (Lehtomaki et al., 2005).
Os ruídos de explosão de arma de fogo são uma das primeiras causas de perda
auditiva induzida por ruído nos Estados Unidos. Naquele país, um número cada
vez maior de pessoas vem sofrendo de trauma acústico ou perda auditiva
neurossensorial gradual, secundária a ruídos excessivos de arma de fogo (Stewart
et al., 2002). No Exército Brasileiro, esses ruídos são comuns nos tiros de armas
portáteis e nos tiros de artilharia. A artilharia de campanha é o principal meio de
apoio de fogo do Exército. Suas unidades podem ser dotadas de armas como:
canhões, obuses, foguetes ou mísseis (Exército Brasileiro, s/d). Essas armas produzem
ruídos elevados e os militares que as operam devem estar adequadamente protegidos.
98
– C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007
O
USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO AUDITIVA NOS TIROS DE FUZIL E DE ARTILHARIA
Alguns estudos relatam a ocorrência de perdas auditivas em militares
(Godoy, 1991; Seballos, 1995; Neves-Pinto et al., 1997; Brito, 1998). Estudos
mostram que a maioria dos sujeitos que tiveram perda auditiva não era protegida
adequadamente: como, por exemplo, o trabalho de Silva et al. (2004) mostrou
que 17,71% não usam nenhum tipo de proteção e 46,88% usam apenas algodão
como proteção auditiva. Konopka et al. (2002) estudaram dez soldados de 20
anos de idade expostos a ruído de impacto de arma de fogo automática sem
proteção auditiva e detectaram alterações na audição destes sujeitos. Temmel et al.
(1999) realizaram um estudo sobre o trauma acústico causado por ruídos de
impacto em recrutas militares e encontraram que 80% relataram não estar usando
seus protetores quando o trauma acústico ocorreu.
Dado que as atividades de tiro, de fuzil e de artilharia, promovem níveis
elevados de ruído que podem provocar alterações no sistema auditivo, o objetivo
deste estudo foi medir o nível de ruído a que os militares estão expostos durante
o tiro de fuzil, analisar o uso da proteção auditiva no tiro de fuzil e de artilharia
e identificar possíveis motivos para que o militar não utilize a proteção auditiva
durante essas atividades.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente estudo caracteriza-se como transversal, no qual foram utilizados:
observação sistemática, medição do nível de pressão sonora, questionário autoaplicável e entrevista semi-estruturada.
Os sujeitos deste estudo foram divididos em dois grupos: os que preencheram
os questionários e os entrevistados. O primeiro grupo, que preencheu o questionário
auto-aplicável, foi composto por três oficiais, 10 sargentos e 66 cabos e soldados.
Nesse grupo o objetivo foi identificar os possíveis motivos para que o militar não
utilize a proteção auditiva durante as atividades de tiro. O segundo grupo foi
composto por seis oficiais, seis sargentos e seis soldados, os quais foram entrevistados
em seus quartéis com o objetivo de mapear o processo de trabalho utilizado nos
tiros de fuzil e de artilharia e perceber a visão dos militares a respeito do risco nas
atividades de tiro. Os informantes tinham idade entre 19 e 26 anos, e o tempo de
caserna variava entre um e oito anos de serviço.
A observação sistemática foi realizada durante as atividades de tiro fuzil e de
tiro de artilharia, em três unidades do Exército, durante um período de seis
meses. Essa técnica teve por objetivo conhecer e ambiente e o processo de trabalho
que envolve a atividade em questão.
A medição do nível de pressão sonora foi realizada pelo próprio pesquisador,
supervisionado por um especialista do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), com o objetivo de dimensionar o risco
C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007 –
99
EDUARDO BORBA NEVES, MARCIA GOMIDE
DA
SILVA MELLO
ocupacional da atividade de tiro, e consistiu na medição do ruído produzido por
um fuzil automático leve (FAL) 7,62mm. Foi escolhido o fuzil por ser uma arma
de uso comum para todos os militares do Exército. O resultado da medição
realizada pode ser entendido como o nível mais baixo de pressão sonora das
armas citadas, uma vez que o nível de pressão sonora produzido pelo obuseiro
105mm, arma utilizada pela artilharia, é incontestavelmente superior ao produzido
por um fuzil (Intensidade do ruído em armas de guerra, s/d).
O ruído do tiro de fuzil foi medido em um dos box de um estande de tiro, e
em campo aberto. Essa medida foi realizada com um afastamento mínimo de
15m de qualquer superfície que pudesse influenciar o processo por reflexão da
onda sonora. A medição do ruído de impacto foi realizada no circuito de
compensação C e no circuito de resposta rápida (FAST), indicada para as medidas
de ruídos de impacto, de acordo com a Norma Regulamentadora 15, em seu
anexo nº 2. Foram coletadas três medidas do ruído para se obter uma média,
respeitando o intervalo de trinta segundos entre cada medida (Brasil, 1978). Em
todas as medidas, a função MAX do aparelho foi ativada, fixando-se assim, no visor,
o pico máximo do ruído atingido durante cada tiro realizado. A munição utilizada
foi da Companhia Brasileira de Cartuchos – CBC, do tipo comum, lote 2001.
Os equipamentos utilizados para a medição foram: o medidor de nível sonoro
Brüel & Kjær, tipo 2236, nº de série 2100587, nº do Certificado/ano 0032/2006;
termo-higrômetro Vaisala, tipo HM 34, nº de série X5110004, nº do certificado/
ano 1600/2004; calibrador sonoro Brüel & Kjær, tipo 4231, nº de série 2376729,
nº certificado/ano 1815/2005. Todos os equipamentos utilizados pertenciam ao
Laboratório de Ensaios Acústicos da Divisão de Acústica e Vibrações do Inmetro.
O questionário foi composto por cinco perguntas objetivas e uma de resposta
livre sobre os motivos que levavam os militares a utilizar ou não a proteção
auditiva nas atividades de tiro de fuzil e tiro de artilharia. Duas das questões
objetivas apresentavam respostas em escala tipo Likert e foram usadas para identificar a avaliação individual do risco a respeito da atividade de tiro de fuzil e de
artilharia. Os sujeitos indicavam como eles percebiam o ruído dos disparos das
armas em relação à sua saúde auditiva (1 - inofensivo à sua audição; 2 - um
pequeno risco à sua audição; 3 - médio risco à sua audição; 4 - grande risco à sua
audição; 5 - gravíssimo risco à sua audição). O questionário foi respondido por 79
indivíduos voluntários dentre 122 militares que participaram dos exercícios de
tiro de artilharia e de fuzil durante o período do estudo. Os 43 militares que não
responderam o instrumento não estavam nos quartéis, por motivos diversos, na
oportunidade de aplicação do mesmo (envolvidos em serviços externos, em férias,
em curso ministrado em outra unidade militar e em visita ao médico por problema ortopédico), isto é, as perdas aconteceram ao acaso.
100
– C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007
O
USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO AUDITIVA NOS TIROS DE FUZIL E DE ARTILHARIA
O pré-teste do modelo de questionário utilizado foi realizado com oito
militares de artilharia de uma outra organização militar. Os dados oriundos desse
pré-teste não foram considerados para análise, o que segundo Marconi & Lakatos
(2004) é um procedimento adequado para se evitarem contaminações. Os
problemas identificados geraram alterações em algumas questões, o que contribuiu,
sobremaneira, para o alcance dos objetivos do estudo.
Utilizou-se a técnica de entrevista semi-estruturada para mapear o processo
das atividades de tiro, verificar outras percepções de risco relacionadas com a
atividade de tiro, além da relativa à audição, e entender as rotinas de trabalho
que envolvem estes trabalhadores. A seleção dos sujeitos entrevistados foi balizada
pela participação dos indivíduos nos exercícios de tiro de fuzil e de artilharia e
com representatividade para cada um dos círculos hierárquicos do Exército. Os
círculos hierárquicos estão diretamente relacionados à renda (até R$1.199,99, de
R$1.200,00 a R$2.399,99, e de R$2.400,00 a R$3.600,00) e ao tempo de formação.
Foram entrevistados 18 sujeitos (seis oficiais, seis sargentos e seis soldados), sendo
considerado suficiente, na medida em que os discursos se tornavam recorrentes, o
que é denominado “ponto de redundância” (Lincoln & Guba, 1985). A entrevista
semi-estruturada é um instrumento que possibilita a coleta de informações objetivas,
e, mais do que isto, permite captar valores, atitudes e opiniões (Minayo, 2001).
O teste de Mann-Whitney foi realizado com o objetivo de verificar se havia
diferença estatisticamente significante entre as avaliações individuais do risco dos
informantes que utilizavam proteção auditiva e dos que não a utilizavam. Para
verificar se a condição hierárquica/econômica/tempo de formação influi na
utilização da proteção auditiva pelos militares, realizou-se o teste χ2 para identificação de tendências, no programa EpiInfo versão 6.04b.
O estudo seguiu os aspectos éticos recomendados pela Resolução 196/96
sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos e teve seu protocolo aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP/IESC.
3. RESULTADOS
O processo de trabalho utilizado pelos militares durante os exercícios de tiro
de artilharia foi bem semelhante em todas as observações, pois os procedimentos
são padronizados. Em linhas gerais, utilizam procedimentos táticos e técnicos
durante a ocupação da posição de tiro, cujo esquema está representado na Figura 1.
Pode-se perceber, pela figura, que a maioria dos militares precisa ficar próxima
da fonte do ruído para poder operar o armamento. Em relação à dinâmica do
trabalho, o comandante da linha de fogo (CLF), que é um oficial, emite as ordens,
chamadas de “comandos de tiro”, para os militares que operam os obuseiros,
C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007 –
101
EDUARDO BORBA NEVES, MARCIA GOMIDE
DA
SILVA MELLO
(sargentos, cabos e soldados). Esses militares registram os dados para o tiro e informam
ao CLF quando o armamento está pronto para o tiro. Quando todos os obuseiros
estiverem prontos, o CLF comanda “Fogo!” e os militares disparam o tiro.
Figura 1
Dispositivo de uma linha de fogo de artilharia para o tiro com o obuseiro 105mm.
O aspecto da comunicação interpessoal é de grande importância, pois, segundo
os informantes, uma falha nessa comunicação pode provocar diversas mortes se
algum dos dados para o tiro for registrado errado. Isso pode acontecer inclusive
nos exercícios de tiro, pois os campos de treinamento do Exército são rodeados
por área urbana.
O Tiro de Instrução Básico é um exercício de tiro de fuzil realizado por
todos os soldados do Exército, quando da sua formação, durante o primeiro ano
na instituição. Essa atividade é normatizada pelas Instruções Gerais de Tiro com
o Armamento do Exército – IGTAEx, que descreve de maneira detalhada cada
atividade de tiro realizada durante o ano de instrução (Brasil, 2001a).
Em linhas gerais, o dispositivo adotado nessas atividades foi o mesmo. Ao
chegar ao estande, os instruendos eram divididos por séries de tiro, de acordo
com a capacidade do estande. Para cada box eram designados um atirador e um
municiador, os demais ficavam em torno de dez metros a retaguarda da linha de
tiro, aguardando o término das séries de tiro. Em relação à exposição ao ruído,
todos os soldados, bem como os instrutores, permaneceram no estande até o
término de todas as séries de tiro.
Na medição do ruído de impacto dos tiros disparados por um fuzil automático
leve 7,62mm, cuja média ± desvio padrão dos níveis de pressão sonora (NPS)
produzidos foram: 146,15 ± 0,63 dB (C), no estande; 147,22 ± 0,04 dB (C), em
campo aberto e o maior valor registrado pelo equipamento foi 147,30 dB(C). Os
níveis de pressão sonora produzidos pelo tiro de fuzil, em todas as condições
102
– C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007
O
USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO AUDITIVA NOS TIROS DE FUZIL E DE ARTILHARIA
avaliadas, excederam a capacidade de medição do instrumento, apresentando
resultados com a expressão overload. Isso significa que o nível de pressão sonora
real está acima dos níveis registrados pelo aparelho. Como não há, no Inmetro,
um aparelho com capacidade superior ao utilizado, optou-se por considerarem-se
os valores apresentados pelo aparelho disponível, que já excedem o limite de
segurança (130 dB) previsto na NR 15 (Brasil, 1978).
A partir do resultado tabulado do questionário auto-aplicável foi constatado
que, no tiro de fuzil, 44 militares (55,7%) não utilizam proteção auditiva (PA) e,
no tiro de artilharia, esse número sobe para 65 militares (82,3%). A Tabela 1
apresenta esses números.
Tabela 1
Uso de protetores auditivos segundo percepção de risco, hierarquia e tipo de atividade.
* p < 0,01 (χ2 para tendência); ** p < 0,01 (Mann-Whitney).
Os resultados demonstram que apenas 44,3% dos militares utilizam proteção
auditiva no tiro de fuzil e essa fração ainda diminui para 17,7% quando se trata
do tiro de artilharia. Foi observado, neste estudo, que durante as atividades de
tiro alguns militares, por não possuírem um protetor auditivo manufaturado, se
preocupavam em prover algum tipo de proteção auditiva com algodão e até
mesmo com estojos de munição vazios.
Os informantes do questionário apresentaram a seguinte distribuição com
relação à escolaridade: 3 (3,8%) com nível fundamental incompleto; 38 (48,1%)
com nível médio incompleto; 28 (35,4%) com nível médio completo e 10 (12,7%)
cursando o nível superior ou com o mesmo completo. Essa estratificação por
nível de escolaridade não apresentou associação estaticamente significativa com o
fato do militar utilizar ou não proteção auditiva. O mesmo ocorreu em relação
C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007 –
103
EDUARDO BORBA NEVES, MARCIA GOMIDE
DA
SILVA MELLO
ao tempo de serviço e à idade. A estratificação pela renda coincide com a
estratificação por posto hierárquico (cabos/soldados, sargentos e oficiais), que foi
apresentada na Tabela 1.
Os argumentos apresentados para a utilização ou não da proteção auditiva
foram tabulados em categorias, e quantificados de acordo com o Quadro 1.
Quadro 1
Argumentos mais utilizados pelos informantes para o uso ou não da proteção auditiva.
O teste de Mann-Whitney foi realizado com o objetivo de verificar se havia
diferença estatística entre as avaliações individuais do risco entre os que usam e os
que não usam proteção auditiva. Constatou-se que, no teste unicaudal, para o
tiro de fuzil, obteve-se um z = 2,6647, e, para o tiro de artilharia, um z = 2,3366,
isso significa que houve diferença estatisticamente significativa, com p < 0,01,
entre as avaliações individuais do risco daqueles que usavam proteção auditiva e
dos que não a usavam, nas duas situações.
Figura 2
Uso ou não da proteção auditiva vs. avaliação individual do nível de risco.
104
– C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007
O
USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO AUDITIVA NOS TIROS DE FUZIL E DE ARTILHARIA
Para verificar se a condição hierárquica/econômica/tempo de formação
influi na utilização da proteção auditiva pelos militares, realizou-se o teste χ²
para identificação de tendências, no programa EpiInfo versão 6.04b, obtendo-se,
para o tiro de fuzil, um χ² = 10,216 com p=0,00139, e, para o tiro de artilharia,
um χ² = 18,528 com p=0,00002. Isso aponta para uma tendência crescente para
o uso da proteção auditiva associada à elevação do nível hierárquico ou da renda,
ou ainda do tempo de formação militar.
Pôde-se perceber durante as entrevistas que, quanto maior o nível hierárquico,
mais tempo é destinado à formação do profissional nas escolas militares: oficiais,
4 anos na Academia Militar das Agulhas Negras – AMAN; sargentos, 1 ano na
Escola de Sargentos das Armas __ EsSA, e soldados, de 3 a 6 meses nos quartéis de
tropa. Foi relatado pelos informantes que na AMAN e na EsSA havia uma
exigência da utilização de proteção auditiva nas instruções de tiro de fuzil, o que
não acontece nos quartéis de tropa.
4. DISCUSSÃO
A exposição aos diversos fatores de risco dentro de um processo produtivo
está diretamente relacionada às atitudes, ao nível de cuidados para minimização
de riscos, à própria natureza do processo e ao ambiente, seja este o local de
trabalho ou o ambiente do entorno (Gomide & Serrão, 2004). O olhar do
analista precisa levar em conta que a percepção dos trabalhadores sobre suas
ações tem explicação em contingências da própria atividade, sobretudo nas pressões
originadas do ambiente que explicam a variabilidade do trabalho (Almeida, 2004).
Os protetores auditivos estão, teoricamente, definidos como uma solução
temporária aos problemas de excesso de ruído. Porém, devido ao alto custo de
soluções definitivas, eles são empregados amplamente como a única medida contra
exposição ao ruído (Morata et al., 2001). Sabe-se, porém, que, se os trabalhadores
não usarem continuamente os protetores auditivos, a efetividade desse equipamento de proteção individual (EPI) será muito baixa. Neste sentido, é importante
que os protetores auditivos estejam disponíveis nos ambiente de elevados níveis
sonoros, mas também é essencial que os trabalhadores estejam atentos à necessidade de usá-los (Morata et al., 2001). Por esse motivo, é fundamental que esses
trabalhadores percebam o risco e entendam essa necessidade. Este entendimento
pode lhes garantir o direito à cobrança por equipamentos de proteção individual
apropriados, bem como uma maior atenção em sua rotina de treinamentos.
CONVIVENDO COM O RISCO
Os resultados sugerem um comportamento que chega a ser paradoxal, pois,
na situação onde o risco parece ser maior, esse grupo diminui a utilização de EPI.
C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007 –
105
EDUARDO BORBA NEVES, MARCIA GOMIDE
DA
SILVA MELLO
Segundo Cru e Dejours (1987), comportamentos paradoxais de rejeição a medidas
de segurança podem ser interpretados como verdadeiros desafios lançados ao
perigo pela coletividade, a fim de afastar, por uma operação simbólica, a vivência
de angústia que seria incompatível com o prosseguimento da tarefa, neste caso a
execução dos tiros. Não se trata, segundo os autores, nem de má vontade, nem de
inconsciência, mas de uma conduta que tem uma racionalidade e uma legitimidade
fundada na experiência que a coletividade forjou e transmitiu, de geração em
geração, no curso dessa profissão.
Três dos quatro argumentos mais citados para a não utilização da proteção
auditiva estão diretamente ligados à não identificação do risco: “não vejo
necessidade e o barulho não me incomoda; porque o barulho do tiro é muito
vibrante”; e “não quis usar ou não tive vontade ou ainda, não gosto”. Em geral,
segundo Arezes e Miguel (2005), a natureza de risco é um aspecto importante
que afeta o comportamento dos trabalhadores frente ao próprio risco, como
é o caso de ruídos ou exposição a substâncias químicas. Esses riscos são
“invisíveis” e não provocam, muitas vezes, lesões imediatas, quer dizer, o processo
de dano é crônico e não mostra uma indicação clara de sua magnitude (Weyman
& Kelly, 1999). A menos que níveis de exposição ao ruído sejam tão altos que
eles se tornem fisicamente incômodos ou produzam mudanças temporárias de
limiar de audição, os efeitos em curto prazo de exposição ao ruído não serão
notados facilmente.
Em relação ao argumento “para poder ouvir os comandos do CLF”, apresentado para justificar o não uso da proteção auditiva, constitui-se num problema
técnico do processo empregado durante a tomada das posições para o tiro de
artilharia. Esse problema pode ter influenciado também o aparecimento da
categoria “não fui autorizado”, pois, uma vez que se tenha notado alguma
dificuldade na comunicação, durante a atividade, o responsável pode ter ordenado
a retirada do protetor como uma solução rápida ao problema de comunicação.
Isso é tecnicamente controverso, pois, segundo Fernandes (2003), a utilização da
proteção auditiva poderia até melhorar essa comunicação, quando a voz compete
com o barulho ambiente. Essa informação reforça a idéia de que esses militares
não desenvolveram, ainda, uma cultura de segurança ou uma preocupação
sistemática com sua proteção individual e coletiva.
Os militares que utilizam a proteção auditiva, o fazem basicamente por dois
motivos, como pôde ser observado no Quadro 1: o desconforto e a prevenção.
Esse comportamento de uso do EPI é motivado tanto pelo incômodo momentâneo como pela capacidade associativa de exposição ao risco e futuros efeitos
danosos à saúde. Rabinowitz et al. (1996) e Lusk et al. (1995) referem que o
esforço de conscientização dos trabalhadores tem de ser centrado em variáveis,
106
– C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007
O
USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO AUDITIVA NOS TIROS DE FUZIL E DE ARTILHARIA
como por exemplo, a percepção da suscetibilidade a lesões e o incômodo provocado pelo ruído.
Quanto aos que não usam proteção auditiva, Duarte Filho et al. (apud Mendes,
2005, p. 1807-1808) estudando trabalhadores de diversas empresas, mapearam
alguns “grupos típicos” de trabalhadores segundo seus envolvimentos com
situações de risco.
“[...] pessoas envolvidas com as condições ou fatores de risco não tinham a real percepção
da existência dos mesmos. Não sabiam que aquela situação presente constituía risco
potencial à integridade física e/ou mental dos trabalhadores ou ainda ao patrimônio da
empresa. [...] As pessoas poderiam saber que aquela situação constituía risco potencial, mas
a mantinham e a administravam, simplesmente porque não fazia parte de suas atribuições
corrigi-Ias ou propor sua correção. [...] Mantinham-se as condições de risco, mesmo
sabendo de sua existência e gravidade, porque as chefias hierarquicamente superiores
resolveram assumi-Ias, em vez de implementar ou propor medidas de controle”.
No trecho acima, são facilmente identificáveis três grupos de sujeitos, que
trabalham sob situações de risco, mas as gerenciam de maneiras diferentes. Podese perceber que as situações descritas se aplicam com facilidade à problemática
do tiro, porém, neste estudo, agrupam-se em apenas duas classes: os passivos e os
resolutos. Os passivos utilizam argumentos de obediência, repassando a responsabilidade para uma situação de falta de EPI, e os resolutos assumem o risco e,
portanto, a não-necessidade do uso do EPI. Este último grupo seria o mais difícil
de se trabalhar em uma futura estratégia de motivação para comportamentos
protetores (Rabinowitz et al.,1996). Estes resultados vão ao encontro do que Silva
et al. (2004, p. 344) concluíram em seu estudo sobre a avaliação do perfil auditivo
de militares brasileiros: “A grande ocorrência da perda auditiva entre os militares e a falta de
proteção adequada à exposição ao ruído indica a necessidade de se implantarem, nesta categoria,
medidas de prevenção de perda auditiva.”
Um argumento bastante citado, pelos passivos, foi o de que “O Exército
não forneceu ou não tenho”, o que demonstra a importância das ações do
empregador, nesse caso do Exército, não só no fornecimento do equipamento
de proteção auditiva aos militares, mas também no treinamento, motivação e
fiscalização desse procedimento de segurança. Dentre estas ações, pode-se
destacar a ação relativa à motivação. Sem o desenvolvimento de estratégias de
motivação, tanto as ações de treinamento como as de fiscalização não produzirão
o resultado esperado. De qualquer forma, se faz necessário um maior
aprofundamento nas investigações a respeito do entendimento e das percepções
que envolvem e determinam as atitudes de segurança destes profissionais. Sem
C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007 –
107
EDUARDO BORBA NEVES, MARCIA GOMIDE
DA
SILVA MELLO
uma compreensão mais aprofundada do imaginário simbólico deste grupo a
respeito da própria segurança e sua relação com a atividade-fim que pode
levá-lo à perda da própria vida, não será possível desenvolver estratégias capazes
de conduzirem a uma nova postura.
Lupton (2000) e Rabinow (1984) chamam a atenção para o fato de que um
comportamento nomeado como “insalubre”, como expor-se ao ruído dos tiros
sem proteção auditiva, pode ser visto como parte de uma atitude mais ampla de
resistência a condições de vida muito difíceis de determinados grupos sociais. Ou
seja, é preciso considerar que símbolos de resistência podem forjar identidades
grupais e redes de solidariedade entre indivíduos, porém essa situação pode
aumentar a susceptibilidade a determinados problemas de saúde (Meyer et al.,
2006), neste caso, problemas auditivos.
Oliveira-Silva et al. (2001) observaram em estudo com trabalhadores rurais,
que embora 90% dos trabalhadores considerem importante a utilização de equipamentos de proteção individual, somente 70% destes os utilizavam. Esses estudos
descrevem comportamentos de grupos, em situações de riscos diferentes, mas
com uma reposta comportamental semelhante, o que Cru e Dejours (Op. Cit.)
chamam de “comportamentos paradoxais de rejeição”, negligenciando os cuidados
com a própria saúde. Entretanto, é preciso considerar que tal negligência tem
como finalidade a preservação de uma situação imediata, colocando em questão
não necessariamente este paradoxo, mas, sim, a urgência em se buscar soluções
capazes de interferir neste sistema que se retroalimenta, aumentando a exposição
ao risco na mesma medida que faz crescer a resistência simbólica do grupo.
A PROTEÇÃO AUDITIVA
A Revista Brasileira de Otorrinolaringologia atribui à pistola uma produção
de 168 dB de pressão sonora, ao fuzil automático, 171 dB e ao obuseiro 105mm,
188 dB, porém não descreve o processo de medição utilizado para a obtenção
desses níveis de pressão sonora (Intensidade do ruído em armas de guerra, s/d).
Os resultados deste estudo garantem um NPS superior a 147 dB (C), uma vez
que, em função da limitação técnica dos equipamentos utilizados, sabe-se que o
nível de pressão sonora real excede esse valor, o que é mais do que suficiente para
causar um trauma acústico (Brasil, 1978).
De acordo com a Norma regulamentadora 15 (NR 15), o ruído de impacto
ou de impulso é aquele que apresenta picos de energia acústica de duração
inferior a 1 segundo, a intervalos superiores a 1 segundo (Brasil, 1978). Os ruídos
de impacto podem ser classificados em simples e repetitivos. Os ruídos de impacto
simples são aqueles desencadeados pelo manuseio de materiais, marteladas e também disparos de arma de fogo; já os ruídos de impacto repetitivos são aqueles
108
– C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007
O
USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO AUDITIVA NOS TIROS DE FUZIL E DE ARTILHARIA
produzidos por prensas automáticas, guilhotinas ou ferramentas pneumáticas, disparos
de arma de fogo em rajadas ou mesmos em disparos repetidos (Godoy, 1991).
Na Legislação Brasileira, a Norma Regulamentadora nº 15 (Brasil, 1978),
estabelece limites de tolerância para o ruído contínuo ou intermitente e de
impacto, respectivamente. No anexo II, são estabelecidos limites de tolerância
para ruídos de impacto, onde consta também que: “Oferece risco grave e iminente a
exposição, sem proteção, a níveis de ruído de impacto superiores a 140dB (linear), medidas no
circuito de respostas para impacto, ou superiores a 130 dB (C), medidas no circuito de resposta
rápida (FAST)” (Brasil, 1978). Isso significa que o militar que executa a atividade
de tiro de fuzil ou de artilharia sem usar a proteção auditiva ou com proteção
inadequada está sob grave risco de lesão do sistema auditivo. Esse risco é agravado
pelo fato do problema auditivo se instalar de forma lenta e progressiva e só será
percebido pelo sujeito tardiamente.
Bandeira et al. (1979) realizou um estudo sobre a avaliação auditiva de 54
militares brasileiros que realizavam exercícios de tiros semanais e detectou elevada
incidência de disacusia neurossensorial (63,4%), dos quais 30,7% apresentaram
uma curva típica de trauma acústico. Esse estudo sugere que há uma deficiência
de segurança auditiva nessa atividade, pois mesmo com a repetitividade dessa
exposição não deveriam ser encontrados esses percentuais de perdas auditivas.
Silva et al. (2004) realizaram um estudo com 97 militares brasileiros expostos
a ruído intenso em exercícios de tiros e observaram que 38,1% apresentaram
quadro otológico sugestivo de perda auditiva induzida por ruído. A perda
auditiva encontrada foi mais intensa quanto maior a idade e o tempo de
serviço. Dos militares examinados, 64,59% não utilizaram proteção adequada
nos exercícios de tiro.
A AVALIAÇÃO DO RISCO E OS VÍNCULOS TRABALHISTAS
O modo pelo qual os trabalhadores percebem os riscos a que eles estão
expostos pode ser uma contribuição importante para um melhor gerenciamento
desse risco (Rundmo, 1996; Diaz & Resnick, 2000; Glendon & Mckenna,
1995). Dependendo dessa avaliação individual do risco, o profissional estará
mais ou menos vulnerável a alterações orgânicas e emocionais. Essa maior ou
menor vulnerabilidade pode comprometer a proteção e a manutenção da
saúde, e, conseqüentemente, influenciará na eficiência desse militar em suas
atividades de trabalho.
A Tabela 1 e a Figura 2 apresentam os dados quantitativos das avaliações
pessoais sobre o risco da exposição ao ruído nas atividades de tiro em relação ao
uso de proteção auditiva nessas atividades. A quantificação objetiva do risco, em
termos individuais, representa uma tarefa meticulosa, dado o conjunto de
C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007 –
109
EDUARDO BORBA NEVES, MARCIA GOMIDE
DA
SILVA MELLO
condicionantes associados à probabilidade e à gravidade do risco considerado.
No entanto, para alguns fatores de risco ocupacional, como é o caso do ruído,
essa avaliação torna-se um pouco mais fácil, pois o ruído é uma variável que, em
geral, quanto maior o desconforto auditivo, maior será o risco.
A Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978, regulamentou a Lei nº 6.514,
de 22 de dezembro de 1977, que alterou o Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, instituindo as Normas Regulamentadoras –
NR sobre a atuação do governo, empregadores e empregados na prevenção
de danos à saúde e segurança do trabalho. Dentre as Normas Regulamentadoras,
a NR 1 estabelece as disposições gerais sobre as normas regulamentadoras,
mencionando em seu subitem 1.1 que: as Normas Regulamentadoras relativas
à segurança e medicina do trabalho são de observância obrigatória pelas empresas
privadas e públicas e pelos órgãos públicos de administração direta e indireta,
bem como pelos órgãos dos poderes legislativo e judiciário que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (Brasil, 1978; 1977).
Isso exclui os servidores militares da necessidade de observância das NR, pois
esses têm suas relações trabalhistas regulamentadas pelo Estatuto dos Militares
(Brasil, 1980). Por isso, embora a Norma Regulamentadora 06 determine aos
empregadores a obrigação de fornecer gratuitamente o equipamento de proteção
individual adequado ao risco (Brasil, 2001b), o Exército, por não tê-la como
norma obrigatória, exige a utilização da proteção auditiva (COTER, 2005), mas
não a fornece. Isso, de certa forma, diferencia a atenção à saúde ocupacional dos
militares em relação aos demais trabalhadores.
Essa diferença na atenção à saúde ocupacional é decorrência de um processo
histórico de luta das classes trabalhadoras. Os trabalhadores regidos pela CLT
realizaram uma série de pressões sindicais por melhores condições de trabalho,
culminando nas Normas Regulamentadoras – NR, dentre outros documentos
que regulam a proteção ocupacional desses trabalhadores. Já os militares, regidos
pelo Estatuto dos Militares, não têm meios como greves ou pressões trabalhistas,
por exemplo, para lutarem por melhorias nas condições de trabalho. A área da
saúde do trabalhador no Exército parece ter ficado adormecida desde o período
imperial. Entretanto, frente a todas as atuais discussões e tendências mundiais
acerca de direitos do trabalhador e mesmo de “humanização das relações
profissionais”, não é mais possível que tal assunto ainda se mantenha adormecido.
Os resultados indicam uma tendência de aumento do uso da proteção
auditiva associada ao aumento da renda. Essa associação pode ser o reflexo da
não distribuição do EPI em questão de forma gratuita aos militares, fazendo com
que os menos favorecidos economicamente não destinem recurso à compra desse
material, negligenciando a própria segurança. O fato de não possuir o EPI foi
110
– C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007
O
USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO AUDITIVA NOS TIROS DE FUZIL E DE ARTILHARIA
usado como argumento para a não utilização da proteção auditiva por 20 sujeitos,
como apresentado no Quadro 1 (Brasil, 1978; 1977).
A maior permanência dos militares de patentes mais elevadas nas escolas
de formação militares (AMAN e EsSA) pode ter produzido, de certa forma,
comportamentos mais saudáveis, a partir do treinamento/educação de alguns
militares quanto à utilização da proteção auditiva durante as atividades de tiro.
Porém, nem todos assimilaram esse procedimento. Esse fato, somado a uma
maior disponibilidade de recursos financeiros nos níveis hierárquicos mais elevados,
pode ser uma possível explicação à tendência crescente para o uso da proteção
auditiva associada à elevação do nível hierárquico ou da renda.
Alguns militares, quando perguntados se percebiam risco relacionado às
atividades de tiro, responderam da seguinte forma: “Sim. Porque pode algum militar se
distrair e virar o armamento; aí a gente tem sempre que ficar orientando pra que isso não ocorra.”;
“Envolver risco sim, mas só se praticar sem atenção, tipo um companheiro virar o fuzil pro lado
e atingir um companheiro” e “Não. Porque tem toda uma equipe, o oficial de tiro e o sargento de
tiro, eles são responsáveis pela segurança.”. Aqui aparece novamente a dualidade do
passivo com o contraponto da responsabilização do grupo ou da situação. Podese perceber que o foco de preocupação encontra-se no risco de acidente e
desconhecem ou desconsideram o risco físico do ruído. Dois sujeitos demonstraram
algum nível de preocupação com o ruído, o que pode ser observado na resposta
dada à mesma pergunta: “Só o risco da audição, teve um companheiro que ficou surdo de
um ouvido por causa disso.” e “Não, só os impactos no ouvido, o som é muito forte, ainda
mais o do 7,62mm.”.
Dejours (1999) apresenta uma análise do modo como os funcionários podem
encarar o trabalho, especificamente as medidas de proteção, o que parece acontecer na situação dos militares. Ele afirma a existência da negação do risco pelo
funcionário ciente das agressões do trabalho para que possa continuar empregado.
Da mesma forma, podemos supor que esses militares acabem contribuindo para
agravar sua vulnerabilidade, pois também podem, conforme aponta Dejours
(op. Cit) tentar eliminar as impressões de risco de sua consciência para garantir a
sua permanência na atividade, ou, ainda, não sofrer outros tipos de pressão,
como o preconceito dos companheiros, por não serem “corajosos” a ponto de
realizar a mesma atividade que os demais realizam, sem a proteção adequada.
Esse descaso com a saúde auditiva dos militares foi percebido também por
Silva et al. (2004), num estudo sobre riscos auditivos, no qual os pesquisadores
observaram em entrevistas com militares brasileiros que os sujeitos entrevistados
não tinham informação sobre os riscos auditivos causados pelo ruído de impacto
dos armamentos utilizados, nem sobre maneira para se protegerem e evitarem a
perda auditiva.
C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007 –
111
EDUARDO BORBA NEVES, MARCIA GOMIDE
DA
SILVA MELLO
Os resultados deste estudo vão ao encontro dos resultados de outros estudos
no tocante ao modo como os trabalhadores avaliam o risco da própria exposição
a ruídos, pois essa avaliação poderia ter um papel importante no comportamento
relativo às medidas de segurança ocupacional desses trabalhadores (Brady, 1999;
Arezes & Miguel, 2005).
Ayres et al. (2003) concluem que, quando se considera a vulnerabilidade dos
diferentes grupos de trabalhadores, é possível alcançar uma percepção ampla, de
forma a estruturar programas que levem em conta os aspectos comportamentais,
culturais, econômicos e políticos. A vulnerabilidade do trabalhador, no meio
militar, é função de duas variáveis: a sua própria avaliação das situações de risco,
o que vai afastá-lo das situações de risco ou procurar minimizá-las; e a atenção do
Exército em prover, além de um ambiente de trabalho seguro, equipamentos de
proteção coletivos e individuais, bem como treinamento e instruções sobre o seu
uso. Assim, para minimizar-lhes a vulnerabilidade, interferindo no processo de
“retroalimentação defensiva” é preciso que se inicie uma mudança postural, não
imediatamente naqueles trabalhadores militares, mas, sim, nos empregadores
militares. Ou seja, urge que se repensem as atuais políticas norteadoras da
segurança destes profissionais, dedicados à segurança de todos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se garantir que, durante as atividades de tiro de fuzil e de artilharia, os
militares estão expostos a um nível de pressão sonora de 147 dB (C), com indícios
da possibilidade de que esse valor possa atingir 188 dB, o que representa grave
risco à saúde auditiva dos militares.
O processo de trabalho durante os tiros de artilharia exige comunicação
verbal entre militares que se posicionam a uma distância de 50 metros. Tal fato
cria um paradoxo entre a proteção auditiva e a inteligibilidade da comunicação
verbal, indicando a necessidade de que os militares repensem o processo de
trabalho ou o EPI utilizado. Os fatores que contribuem para que os militares
negligenciem sua segurança auditiva nas atividades de tiro são:
112
•
A falta da disponibilidade do equipamento de proteção auditiva no local
de trabalho;
•
A falta de treinamento, orientação e fiscalização no uso do EPI por parte
dos responsáveis por essas atividades.
•
A falta de informação e entendimento quanto ao real risco da exposição
aos ruídos dos tiros;
– C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007
O
USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO AUDITIVA NOS TIROS DE FUZIL E DE ARTILHARIA
Tais fatores são diretamente associados aos modelos de relações trabalhistas
que são empregados no país. Enquanto os vínculos empregatícios baseados
na CLT possuem diversos documentos que definem responsabilidades sobre
segurança no trabalho, os trabalhadores regidos pelo Estatuto do Militares não
se beneficiam desses documentos, permanecendo com um atraso de meio século
no tocante à segurança ocupacional.
A avaliação individual do risco influencia significativamente a utilização da
proteção auditiva. Em relação à renda ou nível hierárquico, o tipo de análise
empregada permite, apenas, considerar a existência de uma tendência ao uso da
proteção com o aumento da renda, au posto hierárquico, ou ainda, do tempo de
formação do militar.
Para que o Exército tenha um ambiente ocupacional seguro, durante as
atividades de tiro, esses militares devem ser orientados quanto aos riscos dessa
atividade, não apenas como um repasse obrigatório de informação, mas, principalmente, como uma ação imprescindível à manutenção da saúde auditiva
desses profissionais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, I. M. A gestão cognitiva da atividade e a análise de acidentes do
trabalho. Revista Brasileira do Trabalho. Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 275 - 282, 2004.
AREZES, P.; MIGUEL, A. S. Individual perception of noise exposure and hearing
protection in industry. Human Factors: The Journal of the Human Factors and
Ergonomics Society. v. 47, n. 4, p. 683 - 692, 2005.
AYRES, J. R. C. M.; JÚNIOR, I. F.; CALAZANS, G. J.; FILHO, H. C. S. O conceito de
vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In:
CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. (Org.). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências.
Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003, p.117 - 139.
BANDEIRA, F. A. S.; FRÓES, H. C.; HERCOS JR., C. Trauma acústico. Revista
Brasileira de Otorrinolaringologia. São Paulo, v. 45, p. 261 - 266, 1979.
BRADY, J. Training to promote worker’s use of hearing protection: The influence of work
climate factors on training effectiveness. 1999. UMI Dissertation Services (PhD Thesis)
- The University of Michigan. Michigan, USA.
BRASIL. Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Capítulo V do
Título II da Consolidação das leis do trabalho, relativo à Segurança e Medicina
do Trabalho. Diário Oficial da União. Brasília, 23 dez. 1977.
C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007 –
113
EDUARDO BORBA NEVES, MARCIA GOMIDE
DA
SILVA MELLO
_______. Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas
Regulamentadoras – NR – do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis
do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da
União. Brasília, 06 jul. 1978.
_______. Lei n° 6.880 de 9 de dezembro de 1980. Dispõe sobre o Estatuto
dos Militares. Diário Oficial da União. Brasília, 11 dez. 1980.
_______. Estado - Maior do Exército. Instruções gerais de tiro com o armamento do
Exército - IGTAEx. Brasília: EGGCF, 2001a.
_______. Portaria nº 25, de 15 de outubro de 2001. NR 6 - estabelece as
disposições legais relativas aos EPIs. Diário Oficial da União. Brasília, 17 out, 2001b.
BRITO, N. A. L. Limiares auditivos na freqüência de 12.000 Hz em
aeronavegantes. Revista de Medicina Aeronáutica Brasileira. v. 48, n. 1/2,
p. 65 - 67,1998.
COTER. Comando de Operações Terrestres. Caderno de Instrução CI 32/2:
gerenciamento de risco aplicado às atividades militares. 1. ed. Brasília: EGGCF; 2005.
CRU, D.; DEJOURS, C. Saberes de prudência nas profissões da construção civil.
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. v. 15, n. 59, p. 30 - 34, 1987.
DEJOURS, C. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio
Vargas, 1999. Tradução de Luiz Alberto Monjardim.
DIAZ, Y.; RESNICK, M. A model to predict employee compliance with employee
corporate’s safety regulations factoring risk perception. 14th Trienal Congress of
the Internacional Ergonomics Associations San Diego: HFES/IEA, 2000.
Proceedings. v. 4, 2000, p. 323 - 326.
DUARTE FILHO, E.; OLIVEIRA, J. C.; LIMA, D. A. A redução e eliminação da
nocividade do trabalho pela gestão integrada de saúde, meio ambiente e qualidade.
In: MENDES, R. (Org.). Patologia do trabalho. São Paulo: Atheneu, v. 2, 2005.
EXÉRCITO BRASILEIRO. Armas, quadros e serviços, s/d. Disponível em:
<http://www.exercito.gov.br/03Brafor/armas/indice.htm>. Acesso em:
07 mar. 2006.
FERNANDES, J. C. Effects of hearing protector devices on speech intelligibility.
Applied Acoustics. v. 64, n. 6, p. 581 - 590, 2003.
GLENDON, I.; MCKENNA, E. Human safety and risk management. London: Chapman &
Hall, 1995.
114
– C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007
O
USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO AUDITIVA NOS TIROS DE FUZIL E DE ARTILHARIA
GODOY, T. C. M. Perdas auditivas induzidas pelo ruído em militares: um enfoque preventivo.
1991.136p. Dissertação (Mestrado em Fonoaudiologia) – Faculdade de
Fonoaudiologia. PUC, São Paulo.
GOMIDE, M.; SERRÃO, M. A. A Educação ambiental e a promoção da saúde.
Cadernos Saúde Coletiva. Rio de Janeiro. v. 12, n. 1, p. 69 - 86, 2004.
INTENSIDADE do ruído em armas de guerra. s/d. Revista Brasileira de
Otorrinolaringologia. Disponível em: <http://www.rborl.org.br/conteudo/
acervo/acervo.asp?id=942>. Acesso em: 05 out 2006.
KONOPKA, W.; PIETKIEWICZ, P.; ZALEWSKI, P. Otoacoustic emissions examinations
in soldiers before and after shooting. Otolaryngologia Polska. Poland, v. 54, n. 6,
p.745 - 749, 2000.
LEHTOMAKI, K.; PAAKKONEN, R.; KALLIOMAKI, V.; RANTANEN, J. Risk of accidents
and occupational diseases among the Finnish Defence Forces. Military Medecine.
v. 170, n. 9, p. 756 - 756, 2005.
LINCOLN, Y. S.; GUBA, E. G. Naturalistic inquiry. Beverly Hills: Sage, 1985. 235p.
LUPTON, D. Corpos, prazeres e práticas do eu. Educação & Realidade. Porto
Alegre, v. 25, n. 2, p.15 - 48, 2000.
LUSK, S.; RONIS, D. L.; KERR, M. J. Predictors of hearing protection use among
workers: implications for training programs. Human Factors. v. 37, n. 3,
p. 635 - 640, 1995.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia científica. São Paulo: Editora Atlas, 2004.
MEYER, D. E. E.; MELLO, D. F.; VALADÃO, M. M. “Você aprende. A gente
ensina?”: interrogando relações entre educação e saúde desde a perspectiva da
vulnerabilidade. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 22, n. 6,
p. 1335 - 1342, 2006.
MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 19. ed. Petrópolis:
Vozes, 2001. 80p.
MORATA, T. C.; FIORINI, A. C.; FISCHER, F. M.; KRIEG, E. F.; GOZZOLI, L.;
COLACIOPPO, S. Factors affecting the use of hearing protectors in a population
of printing workers. Noise & Health. v. 4, n. 13, p. 25 - 32, 2001.
NEVES-PINTO, R. M. N.; MONTEIRO, A. R. C.; SELIMAM, J. Perda auditiva
induzida pelo ruído: revisão das publicações por brasileiros no período 1938-1970.
In: NUDELMAN, A. A.; COSTA, E. A.; SELIGMAN J.; BAÑEZ, R. N. PAIR – Perda
auditiva induzida pelo ruído. Porto Alegre: Bagaggem Comunicação, 1997. p. 33 - 39.
C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O
DE
J A N E I R O , 15 (1): 97 - 116, 2007 –
115
KENNETH ROCHEL
DE
CAMARGO JR., CLAUDIA MEDINA COELI
OLIVEIRA-SILVA, J. J.; ALVES, S. R.; MEYER, A.; PEREZ, F.; SARCINELLI, P. N.;
MATTOS, R. C. O. C. Influence of social-economic factors on the pesticine
poisoning, Brazil. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 35, n. 2, p. 130 - 135, 2001.
RABINOW, P. The Foucault reader. New York: Pantheon Books, 1984.
RABINOWITZ, S.; MELAMED, S.; FEINER, M.; WEISBERG, E. Hostility and hearing
protection behavior: the mediating role of personal beliefs and low frustration
tolerance. Journal of Occupational Health Psychology. v. 1, n. 4, p. 375 - 381, 1996.
RUNDMO, T. Associations between risk perception and safety. Safety Science. v. 24,
n. 3, p. 197 - 209, 1996.
SEBALLOS, S. L. Condição auditiva de praticantes com arma de fogo. 1995. 64p. Dissertação
(Mestrado em Distúrbios da Comunicação Humana) - Universidade Federal de
Santa Maria, Rio Grande do Sul.
SILVA, A. P.; COSTA, E. A.; RODRIGUES, S. M. M.; SOUZA, H. L. R.; MASSAFERA,
V. G. Avaliação do perfil auditivo de militares de um quartel do Exército
Brasileiro. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. v. 70, n. 3, p. 344 - 350, 2004.
SILVA, M.; SANTANA, V. S. Ocupação e mortalidade na Marinha do Brasil.
Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 38, n. 5, p.709 - 715, 2004..
STEWART, M.; PANKIW, R.; LEHMAN, M. E.; SIMPSON, T. H. Hearing loss and
hearing handicap in users of recreational firearms. Journal of the American Academy
of Audiology. v. 13, n. 3, p. 160 - 168, 2002.
TAMBELLINI, A. T.; CÂMARA, V. M. Vigilância Ambiental em Saúde: conceitos,
caminhos e interfaces com outros tipos de vigilâncias. Cadernos de Saúde Pública.
Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 77 - 93, 2002.
TEMMEL, A. F. P.; KIERNER, A. C.; STEURER, M.; RIEDL, S.; INNITZER, J. Hearing
loss and tinnitus in acute acoustic trauma. Wien Klin Wochenschr. v. 111, n. 21,
p. 891 - 893, 1999.
WEYMAN, A.; KELLY, C. Risk perception and risk communication: a review of the literature,
health and safety executive contract research report. United Kingdom: Health and Safety
Executive, n. 248, 1999.
116
– CADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO
DE
J A N E I R O , 14 (2): 399 - 404, 2006
I NSTRUÇÕES PARA OS COLABORADORES
Os Cadernos Saúde Coletiva publicam trabalhos inéditos considerados
relevantes para a área de Saúde Coletiva.
SERÃO
ACEITOS TRABALHOS PARA AS SEGUINTES SEÇÕES:
Artigos (resultantes de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual,
ou ensaios teóricos e/ou de revisão bibliográfica crítica sobre um tema específico; máximo
de 25 páginas); Debate (a partir de apresentações orais em eventos científicos, transcritos e
sintetizados; máximo de 20 páginas); Notas (relatando resultados preliminares ou parciais
de pesquisas em andamento; máximo de 5 páginas); Opiniões (opiniões sobre temas
ligados à área da Saúde Coletiva, de responsabilidade dos autores, não necessariamente
refletindo a opinião dos editores; máximo 5 páginas); Cartas (curtas, com críticas a artigos
publicados em números anteriores; máximo de 2 páginas); Resenhas (resenhas críticas de
livros ligados à Saúde Coletiva; máximo de 5 páginas); Teses (resumo de trabalho final
de Mestrado, Doutorado ou Livre-Docência, defendidos nos últimos dois anos; com nome
do orientador, instituição, ano de conclusão, palavras-chave, título em inglês, abstract e
key words; máximo 2 páginas).
APRESENTAÇÃO
DOS MANUSCRITOS:
Serão aceitos trabalhos em português, espanhol, inglês ou francês. Os originais
devem ser submetidos em três vias em papel, juntamente com o respectivo disquete
(formato .doc ou .rtf), com as páginas numeradas. Em uma folha de rosto deve constar:
Título em português e em inglês, nome(s) do(s) autor(es) e respectiva qualificação
(vinculação institucional e título mais recente), endereço completo do primeiro autor
(com CEP, telefone e e-mail) e data do encaminhamento. O artigo deve conter título do
trabalho em português, título em inglês, resumo e abstract, com palavras-chave e key
words. As informações constantes na folha de rosto não devem aparecer no artigo.
Sugere-se que o artigo seja dividido em sub-itens. Os artigos serão submetidos a no
mínimo dois pareceristas, membros do Conselho Científico dos Cadernos ou eventualmente ad hoc. O Conselho Editorial dos Cadernos Saúde Coletiva enviará carta resposta
informando da aceitação ou não do trabalho.
A aprovação dos textos implica a cessão imediata e sem ônus dos direitos autorais de
publicação nesta revista, a qual terá exclusividade de publicá-los em primeira mão. O
autor continuará a deter os direitos autorais para publicações posteriores.
Caso a pesquisa que der origem ao artigo encaminhado aos Cadernos tenha sido
realizada em seres humanos, será exigido que esta tenha obtido parecer favorável de um
Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, devendo o artigo conter a referência a
este consentimento, estando citado qual CEP o concedeu, e cabendo a responsabilidade
pela veracidade desta informação exclusivamente ao autor do artigo.
• Formatação: Os trabalhos devem estar formatados em folha A4, espaço duplo,
fonte Arial 12, com margens: esq. 3,0 cm, dir. 2,0 cm, sup. e inf. 2,5 cm. Apenas a
primeira página interna deverá conter o título do trabalho; o título deve vir em negrito e
os subtítulos em versalete (PEQUENAS CAPITAIS) e numerados; palavras estrangeiras e o que
se quiser destacar devem vir em itálico; notas explicativas, caso existam, deverão vir no pé
de página; as citações literais com menos de 3 linhas deverão vir entre aspas dentro do
corpo do texto; as citações literais mais longas deverão vir em outro parágrafo, com recuo
de margem de 3 cm à esquerda e espaço simples. Todas as citações deverão vir seguidas
das respectivas referências.
• Ilustrações: o número de quadros e/ou figuras (gráficos, mapas etc.) deverá ser
mínimo (máximo de 5 por artigo, salvo exceções, que deverão ser justificadas por escrito
em anexo à folha de rosto). As figuras poderão ser apresentadas em nanquim ou produzidas em impressão de alta qualidade, e devem ser enviadas em folhas separadas e em
formato .tif. As legendas deverão vir em separado, obedecendo à numeração das ilustrações. Os gráficos devem ser acompanhados dos parâmetros quantitativos utilizados em
sua elaboração, na forma de tabela. As equações deverão vir centralizadas e numeradas
seqüencialmente, com os números entre parênteses, alinhados à direita.
• Resumo: todos os artigos submetidos em português ou espanhol deverão ter resumo na língua principal (Resumo ou Resumen, de 100 a 200 palavras) e sua tradução em
inglês (Abstract); os artigos em francês deverão ter resumo na língua principal (Résumé) e
em português e inglês. Deverão também trazer um mínimo de 3 e um máximo de 5
palavras-chave, traduzidas em cada língua (key words, palabras clave, mots clés), dando-se
preferência aos Descritores para as Ciências da Saúde, DeCS (a serem obtidos na
página http://decs.bvs.br/).
• Referências: deverão seguir a Norma NBR 6023 AGO 2000 da ABNT. No corpo
do texto, citar apenas o sobrenome do autor e o ano de publicação, seguido da página
no caso de citações (Sobrenome, ano: página). No caso de mais de dois autores, somente
o sobrenome do primeiro deverá aparecer, seguido da expressão latina ‘et al.’. Todas as
referências citadas no texto deverão constar nas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ao final do
artigo, em ordem alfabética, alinhadas somente à esquerda, pulando-se uma linha de
uma referência para outra, constando-se o nome de todos os autores. No caso de mais
de uma obra do mesmo autor, este deve ser substituído nas referências seguintes à
primeira por um traço e ponto. Não devem ser abreviados títulos de periódicos, livros,
locais, editoras e instituições.
Seguem exemplos de, respectivamente, artigo de revista científica impressa e veiculado via internet, livro, tese, capítulo de livro e trabalho publicado em anais de congresso
(em casos omissos ou dúvidas, referir-se ao documento original da Norma adotada):
ESCOSTEGUY, C. C.; MEDRONHO, R. A.; PORTELA, M. C. Avaliação da letalidade hospitalar do
infarto agudo de miocárdio do Estado do Rio de Janeiro através do uso do Sistema de Informações Hospitalares/SUS. Cadernos Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 39-59, jan./jul. 1999.
PINHEIRO, R.; TRAVASSOS, C. Estudo da desigualdade na utilização de serviços de saúde por
idosos em três regiões da cidade do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro,
v.15, n.3, set. 1999. Disponível em: <http://www.scielosp.org/cgi-bin/wxis.exe/iah/>.
Acesso em: 2 jan. 2005.
ROSEN, G. Uma história da Saúde Pública. Rio de Janeiro: Abrasco. 1994. 400p.
TURA, L. F. R. Os jovens e a prevenção da AIDS no Rio de Janeiro. 1997. 183p. Tese (Doutorado
em Medicina) - Faculdade de Medicina. UFRJ, Rio de Janeiro.
BASTOS, F. I. P.; CASTIEL, L. D. Epidemiologia e saúde mental no campo científico contemporâneo: labirintos que se entrecruzam? In: AMARANTE, P. (Org.) Psiquiatria social e
reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1994. p. 97-112.
GARRAFA, V.; OSELKA, G.; DINIZ, D. Saúde Pública, bioética e equidade. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE SAÚDE COLETIVA, 5., 1997, Águas de Lindóia. Anais. Rio de Janeiro:
Abrasco, 1997. p. 59-67.
Download