CADERNO DE IDÉIAS OUT.2007 CI0723 Argentina: Fazendo da Queda um Passo de Dança na Busca pela Competitividade CARLOS ARRUDA VANJA ABALLAH FERREIRA MARINA ARAÚJO Caderno de Idéias Ano 7 – N0 23 – Outubro de 2007 Argentina: Fazendo da Queda um Passo de Dança na Busca pela Competitividade Carlos Arruda Professor e pesquisador de Competitividade e Inovação da FDC Vanja Abdallah Ferreira Pesquisadora sênior da FDC Marina Araújo Assistente de pesquisa da FDC Projeto gráfico Célula de Edição de Documentos Revisão Célula de Edição de Documentos Assessoria editorial Teresa Goulart Supervisão de editoração José Ricardo Ozólio Impressão Fundação Dom Cabral 2007 Este artigo foi elaborado pelo(s) autor(es). Seu conteúdo é de total responsabilidade do(s) autor(es), não tendo a Fundação Dom Cabral qualquer responsabilidade sobre opiniões nele expressas. A publicação deste artigo no Caderno de Idéias FDC foi realizada com autorização do(s) autore(s). 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A pesquisa que dá origem aos relatórios cobre um total de 323 indicadores quantitativos (baseados em estatísticas nacionais e internacionais) e qualitativos (baseados na opinião de lideranças empresariais pesquisadas entre janeiro e março de cada ano). A Argentina, que apareceu pela primeira vez no Relatório de Competitividade Mundial em 1995, chegou, em seu período mais profundo de crise política e econômica - que se seguiu ao governo Menem (1989-1999) -, a ocupar a última posição no ranking, que então incluía 60 economias mundiais. Após esse período de crise, a Argentina passa por um período otimista de sua economia. Com um crescimento real do PIB de 8,5%, em 2006, e de 9,0% em 2005, a nação Argentina tem boas perspectivas, se souber controlar os impulsos nacionalistas de seus governantes e se voltar para fazer investimentos significativos em sua infra-estrutura básica. Em termos de competitividade, segundo o WCY 2007, o país voltou a perder posições significativas no ranking geral, passando a ocupar o 51º lugar entre os 55 países analisados (ver TAB. 1). Em termos macroeconômicos, o país apresenta significativas melhorias. Resultado do aumento considerável do PIB (de US$181,3 bilhões, em 2005, para US$212,9 bilhões, em 2006), da melhoria do saldo em conta corrente (de 2,5%, em 2005, para 3,8%, em 2006) e do ainda pequeno, mas significativo, aumento da entrada de investimentos estrangeiros (2,2% em relação ao PIB, em 2005, e 2,3%, em 2006). Entretanto, variáveis básicas da economia ainda não apresentam um desempenho satisfatório. A inflação ainda é alta (9,6%, em 2005, e 11,0%, em 2006) e as taxas de desemprego ainda são preocupantes (10,1% ,em 2005, e 10,7%, em 2006). Argentina: fazendo da queda um passo de dança na busca pela competitividade 7 Segundo o WCY 2007, a perda de competitividade geral da Argentina deve-se à queda de posições no ranking em todos os fatores analisados: Performance Econômica, Eficiência do Governo, Eficiência dos Negócios e Infra-estrutura . Em Performance Econômica, a queda de quatro posições deve-se ao mau desempenho de subfatores como Preços (41º lugar) e Emprego (39º), associados aos indicadores de inflação, custo de vida e taxas de emprego e desemprego. Como já citado, essas são variáveis básicas do desempenho econômico de uma nação, levando, conseqüentemente, a uma piora nas condições globais de competitividade. Em Eficiência do Governo, a queda de quatro posições (2007: 53º, 2006: 49º) está relacionada às ineficiências do setor público em subfatores como Finanças Públicas (53º lugar), Estrutura Institucional (50º) e Legislação dos Negócios (52º). Esses subfatores estão relacionados ao nível de endividamento do governo (84,04% do PIB, em 2006) e à sua capacidade de gerir essa divida (52º posição entre os 55 países pesquisados). Considerando Eficiência dos Negócios, a perda de competitividade no pilar (perda de três posições, ocupando o 51º lugar - Brasil 40º e Chile 21º) deve-se a fatores como Finanças (55º lugar) e Produtividade e eficiência dos negócios (43º). Segundo indica o relatório, a crise bancária enfrentada pelo país ainda surte efeitos sobre o seu desempenho competitivo. Subfatores como o risco de investimentos, o difícil acesso ao crédito ou, então, os riscos inerentes ao setor são alguns desses indicadores da ainda frágil estrutura do sistema financeiro. Já em termos de infra-estrutura, os argentinos ainda têm muito a melhorar. Ocupando o 44º lugar (com perda de três posições - Brasil 49º e Chile 39º), os subfatores de pior desempenho foram as infra-estruturas científica (52º), tecnológica e básica (ambas ocupando o 47º lugar). Entretanto, os custos relacionados à eletricidade e à Internet foram apontados como um fator de incentivo à produção no país. Além disso, a população argentina foi considerada pelo estudo como bem preparada em termos de línguas (fator fundamental para uma nação que deseja internacionalizar suas empresas e sua economia). TABELA 1 A Argentina no WCY de 2007 2003 2004 2005 2006 2007 Performance Geral 50º 50º 49º 47º 51º Performance Econômica 51º 40º 27º 30º 34º Eficiência do Governo 50º 50º 50º 49º 53º Eficiência dos Negócios 51º 50º 51º 48º 51º Infra-estrutura 40º 41º 40º 41º 44º Fonte: World Competitiveness Yearbook 2007 - IMD 8 Caderno de Idéias CI0723 A Economia Argentina, suas Potencialidades e Desenvolvimento no Pós-crise egundo o relatório Country Assistance Strategy for the Argentine Republic (WORLD S BANK, 2006) o país passa por um processo de rápida reconstrução pós-crise. Entretanto, 1 a agenda de desenvolvimento aplicada ao país acarretou o convívio de duas vertentes. A primeira trata do considerável progresso em determinados setores, como o de serviços públicos (em especial saúde e educação). O segundo trata dos permanentes problemas econômicos e sociais enfrentados pelo país. Entre estes, os mais graves são a pobreza estrutural, a desigualdade e a profunda exclusão social (WORLD BANK, 2006). Ou seja, o atual ambiente argentino tem boas oportunidades, principalmente considerando a sua capacidade ociosa ainda não utilizada, mas também oferece riscos. As boas oportunidades argentinas estão na sua rápida recuperação e atual estabilidade (e credibilidade) política. Considerados como fatores básicos para a sustentabilidade do desenvolvimento econômico e social do país, o estudo ainda apresenta outros desafios urgentes para a nação. Assim, a continuidade de uma gestão macroeconômica prudente requer a continuidade da disciplina fiscal, e igualmente relevante, a implantação de reformas estruturais - entre elas reformas na infra-estrutura ofertada, no clima para investimentos, no fortalecimento institucional e dos serviços públicos. Como já mencionado, o país focou fortemente a sua agenda de reformas em áreas sociais (principalmente saúde e educação) como forma de reduzir a pobreza e promover a inclusão social. Ainda é relevante apontar que, segundo o World Bank (2006), caso o país não atue de forma coerente e vença os desafios apresentados, os riscos de uma nova crise ou de fracassos no processo de reconstrução podem ser altos. Segundo o relatório (IMD, 2007)2, os executivos vêem o país com uma grande capacidade de implementar novas políticas frente aos novos desafios impostos pelas mudanças da economia. Esse é um resultado da atuação eficiente do governo de reestruturar a nação no período pós-crise. Além disso, segundo o estudo do Banco Mundial (2006), a popularidade do atual mandato do presidente Kirchner também está relacionada ao progresso das contas públicas, às políticas domésticas que respeitam os direitos humanos e à recuperação da credibilidade do país com os credores internacionais. Como pode ser observado no GRAF.1, passado o período da crise (em que o governo argentino chegou a negar pagamento de 1 Country Assistance Strategy for the Argentine Republic 2006-2008. International Bank for Reconstruction and Development and International Finance. World Bank. 2006. 2 World Competitiveness Yearbook. Institute of Management of Development. Lausanne: 2007 Argentina: fazendo da queda um passo de dança na busca pela competitividade 9 US$ 9.578 milhões), os pagamentos voltaram a ter determinada regularidade entre os anos de 2002 e 2006. Em 2007, as transferências chegaram a de US$ 11.182 milhões. Segundo esse mesmo estudo, era de grande importância para o governo a recuperação da credibilidade dos cidadãos. Gráfico 1 - Pagamentos a Instituições Internacionais. 1993 a 2006 - em US$ milhões. (Adaptação) Fonte: Ministério da economia e da produção da República Argentina Já em relação ao atual contexto econômico e social argentino, o World Bank (2006) aponta que as políticas macroeconômicas implementadas foram os atores principais da rápida reestruturação observada no país. Assim, políticas voltadas para a promoção de competitividade nacional, exportações, investimentos e consumo foram sustentadas. Como resultado disso, segundo dados do Ministério da Economia Argentina, a confiança dos consumidores aumentou de 34%, em 2002, para 52% no primeiro trimestre de 2007. Além desses fatores, a existência de capacidade produtiva ociosa possibilita à economia chances muito maiores de crescimento. Gráfico 2 - Resultado do setor público argentino, Superávit primário e Resultados Globais. 1993 a 2006. (Adaptação) Fonte: Ministério da economia e da produção da República Argentina 10 Caderno de Idéias CI0723 Considerando um período que começa em 2003, a política macroeconômica foi focada em arrocho fiscal e na recuperação das reservas internacionais. O superávit fiscal do governo federal foi de 2,3% do PIB em 2003; 3,9% em 2004; 3,7% em 2005 e 3,54% em 2006. No GRAF. 2, pode-se perceber que, passado o período de crise de 2002 em que os resultados globais eram constantemente negativos, as finanças públicas conseguiram se reerguer, voltando a não somente apresentar resultados primários positivos, mas, também, os globais. Em 2006, o governo fechou com um superávit primário de $22.879 pesos e com um resultado global de $13.986 pesos. Esses resultados, segundo balanço da CEPAL3, refletem também a aceleração do crescimento na região em geral, e a excepcional elevação dos preços de muitas commodities (como soja, petróleo, gás e cobre) em particular permitiu que a maioria dos países aumentasse rápida e intensamente o superávit primário e, em ritmo ainda mais intenso, reduzissem ou eliminassem o déficit global. Quanto ao câmbio, o país vem fazendo valer as políticas de desvalorização como meio de tornar mais competitiva a produção argentina, mantendo-o, em 2005, a $2,90 pesos por dólar; e, em 2006, a $ 3,05 pesos por dólar (GRAF. 3). A importância da política cambial de desvalorização está nos ganhos de competitividade da produção nacional, na melhoria dos resultados da balança comercial (GRAF. 4) e no aumento dos níveis das reservas internacionais. Em termos da balança comercial, a recuperação econômica já mostra os seus efeitos no aumento dos níveis das importações - mais que nas importações. Essa é uma das características de economias em processo de recuperação e aquecimento. Ou seja, com a recuperação econômica, tanto os consumidores quanto os produtores sentem-se estimulados a produzir, gerando um aumento na absorção total da economia. Dentro dessa absorção estão os produtos importados que sofrem um aumento considerável se os compararmos com o volume de exportações nesse mesmo período. Segundo dados do Ministério da Economia do país, as importações no período da crise chegaram a ser inferiores a US$ 1 milhão. Em 2006, esses chegaram a representam mais de US$ 3 milhões para a economia (GRAF. 4). Gráfico 3 - Taxa de câmbio argentino, médias anuais. IFS/FMI. (Adaptação) Fonte: IpeaData 3 Relatório CEPAL de dezembro de 2006: Balance preliminar de las economías de América Latina y el Caribe 2006 . http://www.eclac.org/cgi-in/getProd.asp?xml=/publicaciones/xml/2/27542/P27542.xml&xsl=/de/tpl p9f.xsl&base=/tpl/top-bottom.xsl Argentina: fazendo da queda um passo de dança na busca pela competitividade 11 COMÉRCIO EXTERIOR Promedios mensuales Gráfico 4 - Balança comercial 2002 a 2007. (Adaptação) Fonte: Ministério da economia e da produção da República Argentina Entretanto, quando os formuladores de políticas e investidores observam o país, há dois indicadores que os preocupam: altos índices inflacionários e de desemprego. A inflação possui hoje uma tendência crescente (GRAF. 5), passando de 147,50, em 2004, para 161,73, em 2005, e 172,38 em 2006 (indicadores com base nas variações inflacionárias no ano base 2000 = 100), o que corresponde a uma taxa de 9,65%, em 2005 , e de 6,59% em 2006. Para 2007, as projeções internacionais4 indicam uma taxa de inflação de 9,3%. Lembramos que a teoria econômica tem como um de seus preceitos que os crescimentos econômico e de produção da nação podem estar vinculados às variações inflacionárias do período. Assim, resta saber se o crescimento do PIB anteriormente discutido está efetivamente relacionado com o crescimento da economia ou possui alguma parcela representada pelo crescimento da inflação. Caso a segunda opção seja verdadeira, o crescimento do país pode não ser sustentável. Gráfico 5 - Índice de preços ao consumidor argentino. Média (2000 = 100). IFS/FMI. (Adaptação) Fonte: IpeaData 4 Estimativa em agosto de 2007 feita pela Economist Intelligence Unit. http://www.eiu.com 12 Caderno de Idéias CI0723 Em termos do mercado de trabalho, as estatísticas não justificam uma maior preocupação. Passada a crise, este mostra considerável recuperação. Em comparação com o ano de 2002, observou-se um crescimento de 40,5% no ano de 2006. Já em relação ao ano de 2005, esse crescimento foi de 9,1%. Como mencionado, a capacidade ociosa da economia possibilita o rápido crescimento dessa variável. Socialmente, esse crescimento dos postos de trabalho significa a recuperação da inserção social dos indivíduos, bem como a saída destes das condições de pobreza, e o aumento da sua capacidade de consumo (que aumenta a demanda nacional e, conseqüentemente, estimula a produção). Gráfico 6 - Postos de trabalho assalariados no setor privado considerando os primeiros noves meses do ano. 2002 a 2006. (Adaptação) Fonte: Ministério da economia e da produção da República Argentina Houve uma melhoria nos indicadores sociais da Argentina. A pobreza caiu de 54%, no pico da crise, para 26,9% atuais, com a extrema pobreza também caindo de 27,7 % para 8,7%. Criaram-se 2,75 milhões de novos empregos de 2003 para 2006. O aumento das oportunidades de emprego resultou em melhoria da distribuição da renda, como mostra o coeficiente de Gini, que passou de 0,537, em 2003, para 0,485 no final de 2006 (IMF, 2007) 5 Com o aumento do emprego e conseqüente aumento do nível de renda da sociedade, há um estímulo ao consumo e à produção. Essa linha de raciocínio é fundamental para economias em processo de recuperação. Em relação aos salários reais pagos pelo país, após a considerável queda sofrida pela crise, há , atualmente, uma tendência de crescimento considerável (que pode ser observada no GRAF. 7). No segundo quadrimestre de 2002, o salário real chegou a 77,5. No ano de 2004, praticamente estabilizou-se em 97,0 e retomou o seu crescimento em 2005. Neste ano, os valores saltaram de 100,8 (2005 I) para 108,0 (2005 IV). Já em 2006, ele atingiu níveis de 117,6 (indicadores com base nas variações reais dos salários no ano base 2001 IV = 100). 5 International Monetary and Financial (IMF)Commitee, Fifteen Meeting - April 14, 2007- Statement by Ms Felisa Miceli - Minister of Economy and Production from Argentina. Argentina: fazendo da queda um passo de dança na busca pela competitividade 13 Gráfico 7: Evolução do salário real no setor privado. Dados quadrimestrais, Base 2001 IV = 100. (Adaptação) Fonte: Ministério da economia e da produção da República Argentina 14 Caderno de Idéias CI0723 A Competitividade Argentina frente a outros Países da América Latina esde 2003, a Argentina ocupa o 7º lugar na América no WCY 2007. Entre os latinoD americanos o país ocupa a 5ª posição, estando atrás de economias como Chile, Brasil, México e Colômbia. Em termos de Performance Econômica, a Argentina é a quarta economia mais competitiva entre os países analisados pelo WCY de 2007. Entre os latino-americanos, o destaque da Argentina se dá apenas no fator Infra-estrutura, segundo lugar no ranking regional, mas apenas a 44º lugar no ranking mundial, sendo este o fator em que o bloco latino americano mostra-se mais fraco (TAB. 2). TABELA 2 WCY 2007 para os países latino-americanos Performance Geral Chile Colômbia México Brasil Argentina Venezuela 26 38 47 49 51 55 Performance Econômica Colômbia Chile México Argentina Brasil Venezuela Eficiência do Governo 26 28 30 34 47 51 Chile Colômbia México Argentina Brasil Venezuela 16 36 44 53 54 55 Eficiência dos Negócios Chile Colômbia Brasil México Argentina Venezuela 21 30 40 49 51 53 Infra-estrutura Chile Argentina Colômbia Brasil Venezuela México 39 44 46 49 52 53 Fonte: WCY 2007, IMD Segundo o Relatório Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Argentina apresentou uma das maiores taxas de crescimento na região; entretanto os seus especialistas não possuem um consenso sobre a sua sustentabilidade (BID, 2006)6. Tal relatório ainda aponta a Argentina como o país que mais cresceu em termos de competitividade da região - juntamente com a Colômbia. Em termos de financiamento, frente a sua melhor imagem internacional, o país conseguiu alguns financiamentos com o BID. A seguir, estão alguns dos projetos financiados. É interessante destacar que, entre os projetos listados, cinco deles estariam ligados ao processo de reestruturação da economia, quatro à formação de infra-estrutura e dois ao âmbito social. 6 Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Relatório Anual 2006. www.iadb.or Argentina: fazendo da queda um passo de dança na busca pela competitividade 15 Argentina Páis Projeto Programa de transmissão elétrica do Norte Grande Setorial de administração financeira pública Programa de modernização tecnológica III Desenvolvimento social da província de Córdoba Programa de desenvolvimento de sistema e aplicações de satélite Programa de crédito para desenvolvimento de produção e emprego na província de San Juan Fundo de investimentos para pequenas e médias empresas TGLT Ventures I Competitividade de clusters na região central da província de Santa Fé Gestão de recursos humanos em um novo quadro de relações de trabalho Consolidação do turismo enológico Fundo Montante CO CO CO CO CO 580,0 500,0 280,0 180,0 50,0 CO 32,6 Fumin Fumin Fumin Fumin 5,1 1,9 1,4 1,0 Quadro 1 - Lista de operações aprovadas - em milhões de dólares Fonte: Relatório anual 2006 - BID Contudo, segundo estudo recente publicado pela McKinsey (2007)7, verificando os sinais vitais da América Latina, "região que possui as maiores disparidades de renda do mundo", "os altos níveis de desigualdade de renda prejudicam a economia ao exacerbar tensões sociais, aumentar a pobreza e minimizar o impacto que o desenvolvimento econômico tem sobre a redução dos níveis de pobreza". A Argentina, segundo esse estudo, está no grupo de países no qual há um aumento das desigualdades de renda, juntamente com outros como Equador, Venezuela e Paraguai. Já entre os países com diminuição das desigualdades estão Brasil, México e Chile. Logo, se a Argentina deseja se livrar das possíveis tensões sociais - vivenciadas fortemente no período da crise de 2001-2002 - o governo deve ater-se a praticar políticas mais eficazes de combate à pobreza. Em termos da educação ofertada no país, o estudo da McKinsey relata os ganhos educacionais dos países latino-americanos nos últimos anos. Na Argentina, espera-se que uma criança estude o mesmo número médio de anos que crianças japonesas (15 anos no total). Os investimentos em educação continuam como prioritários na agenda dos governos pós-crise. Observando o GRAF. 8, em 2003, a Argentina investiu 3,5% de seu PIB em educação. Contudo, esse valor ainda é inferior ao investido por países como Brasil (4,7%) e México (5,8%). Ainda segundo a McKinsey, o montante total de recursos financeiros ajuda, mas não define bem a qualidade da educação ofertada. Resultados dos últimos testes da qualidade da educação realizado pela OCDE (GRAF. 9) indicam que, apesar dos aumentos recentes na fatia dos recursos dedicados à educação, falta aos países latino-americanos, como um todo, utilizar formas mais eficiente de se investir em educação. 7 FANTONI, Roberto. Verificando os sinais vitais da América Latina.The McKinsey Quarterly. Edição Especial: Criando uma nova agenda para a América Latina. 2007 16 Caderno de Idéias CI0723 Gráfico 8 - Gastos públicos totais em educação % PIB 2003. (Adaptação) Fonte: McKinsey Quarterly, 2007. Gráfico 9 - Qualidade da Educação segundo PISA + scores, 2000. (Adaptação) Fonte: OECD, Education at a Glance (2004), and PISA + 2000 Para finalizar, posicionada na 51ª posição no fator "Eficiência dos Negócios", a Argentina paga ainda um alto preço por seus problemas passados que desfiguram seu setor financeiro e desmobilizaram seu ambiente empresarial. No World Competitiveness Yearbook, o país ocupa a última posição no subfator "ambiente financeiro", que analisa a qualidade das instituições e práticas adotadas no país para o acesso a crédito e financiamento das atividades produtivas e de consumo. Por outro lado, o ambiente empresarial da Argentina demonstra estar em pleno processo de recuperação. Empresas nacionais e internacionais que deixaram o país, ou reduziram significativamente sua presença e investimentos até 2002, começam a demonstrar interesse em retomar sua presença no país, principalmente via aquisição de empresas locais em setores promissores associados a commodities e bens de consumo. A Petrobras, que, em 2002, comprou a segunda maior empresa petrolífera argentina, a Perez Copanc, tem investido sistematicamente. A Ambev, que, em 2003, adquiriu a Quilmes, do setor de alimentos e bebidas no país, e a Camargo Corrêa adquiriu, em 2006, a Cimenteira Loma Negra. Argentina: fazendo da queda um passo de dança na busca pela competitividade 17 Em 2006, houve um aumento de 9% nos investimentos diretos, segundo o relatório de investimentos diretos no mundo publicado pela UNCTAD, em 2007. A Argentina está atraindo investimentos de empresas industriais, que, motivadas por taxas de câmbio competitivas, estão expandindo sua capacidade de produzir para distribuir para mercados internacionais. Exemplos citados no relatório da UNCTAD sugerem que a indústria automobilista, entre outras, tem experimentado um alto nível de recuperação com sua produção triplicando, entre 2002 e 2005, para 320.000 unidades8. Em 2006, a produção de automóveis na Argentina foi de 263.120 carros, com destaque para as empresas Citroen, Ford, Chevrolet e Toyota, segundo a Asociácion Argentina de Fábrica de Automotores - ADEFA. Por outro lado, empresas argentinas como Techint (siderurgia) e Arcor (alimentos) têm se destacado pela agressiva estratégia de expansão internacional. A Techint - que, em 2005, adquiriu a siderúrgica Mexicana Hylsamex, a maior aquisição de uma empresa de um país em desenvolvimento em 2005 (UNCTAD 2007) - ocupa hoje a posição de maior empresa argentina, seguida de perto pela Accor e pelo Grupo Macri. No Quadro 2 apresentamos a lista das maiores empresas argentinas segundo relação da Transnationale. Alimentos: Bagley, Molinos Rio de la Plata S.A., Sancor, Arcor Seguros: Galeno Life TIM, La Buenos Aires, La Meridionale, Qualitas Médica, Servicios de Proteccion Médica Bancos: Banco Alianza Rosario Coop Ltdo, Banco Argentino del Atlantico SA, Banco Baires SA, Banco Bansud SA, Banco bi Creditanstalt SA, Banco Bisel, Banco CMF SA, Banco Comafi, Banco Cooperativo del Este Argentino SA, Banco de Entre Rios, Banco de Formosa, Banco de Galicia y Buenos Aires SA, Banco de la Nacion Argentina, Banco de la Pampa, Banco de la Província de Buenos Aires, Banco de la Província de Cordoba, Banco de la Província de Neuquen Construção: Acsa Argentina, Ausol, Dycasa, Loma Negra Varejo: DIA, Disco SA, Libertad, Norte Supermercados, Tia Supermercados Energia e água: Aguas Cordobebas, Aguas Cordobesas, Aguas de Aconquija, Aguas de Misiones, Aguas de Santa Fe, Aguas Provinciales de Santa Fe, Alto Valle, Aseo SA, AUP, Aysa ex-Aguas Argentinas, Capex/Capsa, CBA (Central Buenos Aires) SA, Central Costanera, Central Dock Sud, Central Puerto, Cerros Colorados, Citelec, Costanera, CT Mendosa, Distrocuyo, EASA, EDEER, EDELAP, EDEMSA, EDEN, Edenor, EDES, EDESE, EDESUR, EMDERSA. Estado: Public institution Metais e Mineração: Acindar SA, Siderar, Techint Pessoas Privadas: Eduardo Eurnekian, Fortabat, Amalia, Perez Companc, Gregorio, Rocca, Roberto Saúde: Centro Medico Santa Fe, Omaja, Omat, Sanatorio Santa Isabel Telecomunicação: Movicom, Telecom Argentina STET, Telefonica de Argentina Transportes: Aerolineas Argentinas Serviços Ambientais: Cliba, Ecol, ECS, Manliba Esporte: Aerolineas Argentinas Quadro 2: Principais empresas argentinas em diferentes setores Fonte: www.transnationale.org 8 UNCTAD - World Investment Report 2007. 18 Caderno de Idéias CI0723 Mas fazer negócio na Argentina continua sendo um fator de risco considerável: regulamentações e legislações trabalhistas restritivas e altas cargas tributárias são alguns dos motivos que dificultam o bom funcionamento dos negócios (MCKINSEY QUARTERLY, 2007). A Argentina está atualmente recuperando o fortalecimento de sua economia, como se pode observar pelo aumento da poupança bruta, superávit da balança comercial, fortalecimento do setor financeiro, aumento das exportações, melhoria do mercado de trabalho e dos indicadores sociais. Porém, a analise do comportamento da Argentina no relatório de competitividade, publicado em maio de 2007 pelo IMD - The World Competitiveness Yearbook, confirma a preocupação destacada por muitos analistas nacionais e estrangeiros que sugerem que o país da Bacia do Prata precisa ajustar-se rapidamente para não perder as oportunidades oferecidas pelo crescimento mundial e pela grande demanda e altos preços das commodities. Com taxas de câmbio bastante competitivas e uma massa de mão-de-obra disponível, o país necessita dar prioridade para investimentos em infra-estrutura, principalmente na geração de energia. Segundo recomendações dos especialistas do departamento de economia da Universidade Católica da Argentina, o país precisa, ainda, com urgência, de promover a estabilização dos preços, mantendo e reforçando políticas de prudência monetária e superávits fiscais; reduzir a administração publica e simplificar a infra-estrutura institucional, que regulamenta as atividades produtivas; além de promover a criação de empregos e a redução de pobreza; e completar a reorganização do setor bancário, criando condições para a expansão do crédito para o setor produtivo (WCY 2007). Como diz a famosa canção portenha "Bailar" de Lucero: "bailar suave...bailar cerca.. .al ritmo del mar". Argentina: fazendo da queda um passo de dança na busca pela competitividade 19 Caderno de Idéias FDC CI0701 O Brasil na competitividade mundial. Análise do World Competitiveness Yearbook 2007. Carlos Arruda, Marina Araújo. Julho 2007. CI0702 Classification of growth opportunities for brazilian companies by sector. Haroldo Guimarães Brasil, José Antônio de Sousa Neto, Adelaide Baêta. Julho 2007. CI0703 Competências individuais: um estudo com mestrandos em administração de instituições mineiras de ensino superior. Anderson de Souza Sant'anna, Maria Celeste Vasconcelos Lobo, Lúcio Flávio Renault de Moraes, Vera L. Cançado. Agosto 2007. CI0704 . A América Latina no Relatório 2007 do IMD. Carlos Arruda, Marina Araújo, Vanja Abdallah Ferreira Agosto 2007. CI0705 Adoção de tecnologias e relacionamentos colaborativos no canal. Áurea Helena Puga Ribeiro, Anthony K. Asare, Thomas G. Brashear, Cinthya Brito Carvalho, Plínio Rafael Monteiro, Rodrigo Araújo Alves. Agosto 2007. CI0706 Network learning: a methodological proposal for CEO´s, directors and executives' education. Antonio Batista da Silva Jr., Daniel Jardim Pardini, Priscila de Jesus Papazissis Matuck. Setembro 2007. CI0707 Competências em liderança: Um estudo com gestores do setor bancário. Cleuma Coimbra, Maria Laetetia Corrêa. Setembro 2007. CI0708 Estratégias de valor, capacidades e competências em mercados organizacionais: tendências e desafios. Áurea Helena Puga Ribeiro, Plínio Rafael Monteiro, Cinthya Brito Carvalho, Rodrigo Araújo Alves. Setembro 2007. CI0709 O processo de internacionalização de escolas de negócios: o caso da Fundação Dom Cabral Ricardo Dias Pimenta, Roberto Gonzalez Duarte. Setembro 2007. CI0710 The impact of channel governance forms on the selection of channel performance measures. Áurea Puga Ribeiro, Thomas G. Brashear, Virgínia Izabel de Oliveira, Ieda Lima Pereira. Setembro 2007. CI0711 A análise de dados qualitativos na prática: grounded theory e o software NVivo 7. Samir Lotfi Vaz. Setembro 2007. CI0712 Trends in business-to-business relationships: a comparative study. Áurea Helena Puga Ribeiro, Plínio Rafael Monteiro, Cinthya Brito Carvalho, Rodrigo Araújo Alves. Setembro 2007. 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