v.1 jan - jun. 2011 A TEORIA DA EXPECTÂNCIA NAS EMPRESAS: UM ESTUDO DE CASO 1 Léon Denizard Almeida Maia de Oliveira Concluinte do curso de Administração da FCAP/UPE Prof.ª Derçulina Tavares Novaes Orientadora RESUMO A motivação dos empregados é um fator decisivo para a sobrevivência das empresas competitivas. O grande desafio dos profissionais do setor de Recursos Humanos, ou Gestão de Pessoas, é conseguir controlá-la, mensurá-la e tomar decisões que a influenciem positivamente. Entretanto, sabe-se, através de teóricos advindos da ciência psicologia, como Maslow e Herzberg que a motivação é intrínseca ao indivíduo, ou seja, nasce no interior do funcionário, podendo ser influenciado ou não por fatores externos. Desse modo, pode-se concluir que não é possível para os gestores controlar a motivação. Eles responsabilizam-se apenas por influenciá-la da melhor forma, com as mais diversas e inovadoras recompensas. A pesquisa em questão foi realizada no intuito de ser um aprofundamento teórico, um embasamento necessário a profissionais que visam o mercado competitivo, com o objetivo de explorar a temática fora das teorias tradicionalmente estudadas. O objetivo geral da pesquisa é demonstrar como a teoria da Expectância pode contribuir positivamente para a gestão de pessoas nas empresas em geral e analisar a sua utilização na prática empresarial atual. Subsidiando a pesquisa bibliográfica foi elaborado um questionário, o qual foi aplicado em algumas empresas e com alunos dos cursos de pós-graduação da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP), em um total de 80 questionários, dentre os quais apenas 33 foram devolvidos. Pôde-se concluir, com os dados levantados e com a pesquisa bibliográfica, que a motivação é um estado, que, embora não possa ser controlada, pode ser mensurada, auxiliando os gestores nas tomadas de decisões. PALAVRAS-CHAVE: Motivação, Vroom, Pesquisa de campo. ABSTRACT Motivating employees is a decisive factor for the survival of competitive companies. The great challenge for professionals in the Human Resources department, or People Management, is to control it, measure it and make decisions that influence positively. However, it is known through science coming from the theoretical psychology, as Maslow and Herzberg's that motivation is intrinsic to the individual, that is, it is born within the person and may be influenced by external factors or not. Thus, one can conclude that it is not possible for managers to control motivation. They blame themselves for only influence it in better shape, with the most diverse and innovative rewards. The research project was conducted in order to be a theoretical, a necessary foundation for professionals who seek a competitive market, with the aim of exploring these issues out of the traditionally studied theories The objective of the research is to demonstrate how the theory of expectance can contribute positively to the management of people in business generally and to review its current use in business practice. We conducted a literature search and then a questionnaire 1 Trabalho premiado na 10ª edição do Seminário de Iniciação Científica da FCAP Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 1 was designed to be applied in fieldwork. The questionnaire, in turn, was applied in some companies and distributed to students of the graduate School of Management Science of Pernambuco (FCAP) in a total of 80 questionnaires, among which only 33 were returned. It could be concluded, with the data collected and the literature, motivation is a state which, while not controlled, can be measured so as to help managers in their decision-making. KEYWORDS: Motivation, Vroom, field research. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 2 1 INTRODUÇÃO O estudo e o entendimento do comportamento humano ainda estão nos seus primeiros passos, mesmo diante de tantos avanços ocorridos na ciência psicologia no século passado, com a psicanálise de Freud, Jung e as teorias motivacionais de Maslow e Herzberg. Conforme se refere Bergamini (1993), Tem ficado cada vez mais claro que o homem, na sua maneira natural de ser, não se deixa reger pelas leis das ciências exatas, não se submete a padrões pré-estabelecidos e não pode ser entendido por meio de modelos abstratos. Com foco na motivação, autores mais recentes como Vroom deram um novo rumo à ciência do comportamento, evoluindo e desenvolvendo conceitos. Ainda diante do fato da complexidade do ser humano, Bergamini (1993) salienta que: À medida que estudos feitos pela psicologia sobre o ser humano e sua vida psíquica se aprofundam, a produção científica daí decorrente parece, à primeira vista, desiludir os pelos perseguidores de fórmulas infalíveis na resolução dos problemas motivacionais. Esse é o contexto que se realiza a pesquisa em questão. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 3 2 ASPECTOS GERAIS A motivação é uma questão de importância fundamental nas empresas atuais. Isso, porque a ligação entre motivação e aumento da produtividade está cada vez mais visível, sendo, portanto, objeto de análise contínua dos gestores das organizações. Das empresas de pequeno porte às grandes sociedades anônimas, o estudo da motivação dos empregados e a sua aplicação prática estão sempre reduzindo custos e aumentando o lucro das mesmas. “A conduta humana não é tão simples e a motivação é um dos fenômenos mais complexos” (MUCHINSKY, apud FILHO et al.) e, por isso, uma grande preocupação das organizações atuais é a questão da motivação no trabalho. A partir desta perspectiva, evidencia-se que os estudos motivacionais, somados às melhores práticas de liderança são grandes diferenciais competitivos. Por isso, no mercado atual, todo gerente deve saber lidar com estes fatores, como afirma Chiavenato (1994), “o gerente tem um papel fundamental na motivação das pessoas. Aliás, a motivação é uma das principais responsabilidades gerenciais”. A Teoria da Expectância, defendida por Vroom (apud NOVAES, 2004), foi escolhida dentre as demais teorias motivacionais devido ao foco cognitivo do ser humano, no qual a percepção é destacada na análise situacional orientando o quantum de energia motivacional deve ser aplicada, com base no retorno percebido (instrumentalidade). Um outro aspecto a ser destacado é o seu caráter atual, de fácil aplicação em empresas e na vida pessoal cotidiana. Enquanto isso, o foco da pesquisa incorporou o ambiente da gestão participativa, também bastante atual, que segundo Chiavenato (1994), constitui uma gestão onde as pessoas têm reais possibilidades de participar, inclusive de uma simples proposta e ainda precisa ser concretamente implantada nas empresas. A importância deste projeto reside na comprovação da veracidade da teoria da expectância na prática empresarial, sob o rigor das ciências, e de como os conceitos explanados podem gerar excelentes resultados para as organizações, com foco na participação efetiva dos empregados. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 4 3 O HOMEM NAS ORGANIZAÇÕES As organizações são formadas por pessoas, que podem ser analisadas e avaliadas através de suas personalidades, necessidades, valores e objetivos pessoais, bem como pelas suas habilidades técnicas e competências. Na sua complexa e dinâmica natureza, o ser humano é tão diferente em relação aos demais quanto em relação a si próprio em perspectivas temporais distintas. Um fator que contribui para esta mudança de desejos, necessidades e, consequentemente, do comportamento, a depender do tempo, é a aquisição de experiências e o aprendizado decorrente delas. O homem é também um ser social, caracterizado por uma tendência a viver em grupos e participar de várias organizações, nas quais desempenha diferentes papéis. Algumas das razões para este fato são as necessidades de companheirismo, identificação, compreensão, orientação, apoio e proteção (MINICUCCI, 2001). Este, por sua vez, caracteriza-se como tal pelas interações e pelo sentimento de unicidade dos membros. Com o decorrer da convivência, assim como o homem, o grupo desenvolve uma personalidade, denominada sintalidade, que é formada pela interação entre os indivíduos, a estrutura, a coesão, as normas de conduta e os motivos e metas comuns do grupo (MINICUCCI, 2001). Estas características podem ser verificadas quando os participantes reunem-se por uma razão comum, desenvolvendo papéis, simpatias, apatias ou antipatias, desenvolvendo normas e valores, elaborando componentes normativos que passam a exercer ação uns sobre os outros e/ou formando uma estrutura organizacional. O estudo desta dinâmica de grupo, iniciado por Kurt Lewin (apud MINICUCCI, 2001), detalha os fatores formadores da sintalidade da seguinte forma: Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 5 • Interação: é o complexo de ações e reações entre indivíduos e/ou grupos, que modificam o comportamento deles. Este, por sua vez, pode sofrer ou influenciar de formas positiva, negativa ou neutra. As suas consequências são: o desenvolvimento, a manutenção, o crescimento e a coesão. • Estrutura: à medida que as interações ocorrem, há a formação de uma estrutura social, denominada também de estratificação social. Esta estrutura possui uma hierarquia de valores e papéis a serem assumidos. Cria-se, neste momento, um status, ou seja, um nível de importância que diferencia cada indivíduo. • Coesão: à medida que o grupo cresce, as pessoas sentem atração pelas atividades em conjunto. A partir do momento que aparece a sensação de pertencer ao grupo, a vontade de reforçar os laços de camaradagem, amizade, lealdade com os demais membros, forma-se a coesão do grupo. • Normas de conduta: no decorrer das atividades, o grupo participa de um momento de íntima sintonia, chegando a compartilhar comportamentos e expectativas de interação. Este é o momento de criação das normas de convivência que, vale salientar, não necessariamente são formalizadas. • Motivos e metas comuns: o grupo também sente a necessidade de alcançar objetivo e meta comuns. O último fator formador da personalidade do grupo, assim como as normas, pode ou não ser formalizado, de acordo com a complexidade da organização. É também considerado muito importante para as organizações atuais o conceito de sinergia, derivado da teoria de sistemas, no qual a energia emanada pelo grupo é maior do que a soma das energias de cada indivíduo pertencente ao mesmo. Kurt Lewin (apud CHIAVENATO, 2004), autor de tal conceito, também foi um profundo inspirador de uma escola da administração denominada Escola das Relações Humanas, a qual estudou o homem no ambiente de trabalho. Ele elaborou a teoria do campo, a qual se baseia na premissa básica que o comportamento humano é derivado da totalidade dos fatos coexistentes, os quais constituem um campo dinâmico, cujas partes dependem de uma relação com as demais partes. Foi responsável também pelo conceito de valência, que será mais detalhada a seguir, na teoria de Victor Vroom. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 6 4 MOTIVAÇÃO A quantidade de definições existentes sobre motivação é proporcional à quantidade de trabalhos realizados sobre o tema. Pode-se, porém, chegar a uma linha central de raciocínio baseada em alguns autores: motivação é a energia emanada pelo indivíduo que direciona o seu comportamento à busca de um objetivo. Silva (2001) salienta que ela pode ser intrínseca, quando está relacionada a recompensas psicológicas e extrínsecas, quando relacionadas a recompensas tangíveis ou materiais. Já Novaes (2000) afirma que, para alguns teóricos, existem formas de suscitar uma motivação, enquanto outros consideram que a motivação é intrínseca e como tal provém do próprio individuo. Contudo, os estudiosos concordam que, para haver motivação, tem que surgir uma necessidade ou carência a qual produz um desequilíbrio que interfere na homeostase e move o indivíduo na busca do retorno ao estado satisfatório. O desempenho, por sua vez, baseia-se em dois aspectos: as competências, formada pelo conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes do funcionário e a motivação. As competências são mensuráveis e existem metodologias aplicáveis a sua gestão. A motivação, entretanto, é um pouco mais complexa. A motivação é um fenômeno que atrai muitos estudiosos desde quando foi conceituada pela primeira vez, tanto pelo seu caráter cognitivo quanto pela ilusão de que constitui uma possibilidade de manipulação do comportamento humano, não apenas nas organizações empresariais. A Figura 1 descreve com um pouco mais de clareza o conceito estudado: Fonte: CHIAVENATO, Idalberto Figura 1 – O ciclo motivacional Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 7 No primeiro momento, há um equilíbrio interno, quebrado por um estímulo ou incentivo, que por sua vez desperta uma necessidade ou desejo. Logo, uma tensão é gerada, a qual dirige o comportamento do indivíduo a um objetivo, de satisfazer tal necessidade. Uma vez satisfeita a necessidade, através do objeto desejado ou fator satisfaciente substituto, voltase ao equilíbrio interno anterior. Caso não ocorra a satisfação da necessidade latente, ocorrerá o fenômeno denominado da frustração, desmotivante, pois gera menor empregabilidade de energia na ação em questão. Dentro do histórico de teorias da motivação, duas são as correntes principais. As teorias da corrente comportamentalista consideram que o comportamento humano é sempre uma decorrência do meio, seja consciente ou inconscientemente. Segundo Bergamini (1990), Dentre as teorias comprobatórias da corrente em questão, está a teoria da ligação estímulo-resposta (S-R bond theory), que procura, sobretudo, explicar o comportamento como um encadeamento perfeito entre os estímulos externos (S) e as reações (R) ou respostas comportamentais dos organismos que foram submetidos a tais estimulações. Isto significa que o comportamento só aparecerá mediante uma condição externa específica (BERGAMINI, 1990). Portanto, observada uma reação do organismo, é possível analisar qual a variável extrínseca que jogou o papel de seu estimulador, bem como predizer qual a reação comportamental que decorrerá de um estímulo ao qual se submeteu o indivíduo. Enquanto isso, uma corrente denominada humanista define a motivação como um fator intrínseco que, emanada das necessidades do próprio indivíduo, dirige o comportamento a um objetivo desejado (NOVAES, 2000). Após estudos profundos do tema, baseados, principalmente, na teoria de Herzberg, pode-se afirmar, com certeza, que a motivação é intrínseca, mas pode ser influenciada por estímulos externos. É este o motivo de preocupação dos profissionais de gestão de pessoas, quando elaboram as políticas de remuneração e benefícios dos funcionários, por exemplo. Diante do pensamento voltado à motivação intrínseca, foram elaboradas as teorias, adiante explanadas, de Maslow, Herzberg e Vroom. As primeiras são conhecidas como teorias de conteúdo, pois valorizam a busca por quais benefícios motivam ou não os funcionários. Já a teoria da expectância, foco do estudo em questão, desenvolve o seu raciocínio baseado nos Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 8 processos cognitivos que levam o funcionário à motivação, por sua vez classificada como teoria de processo. Estas serão detalhadas a seguir. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 9 5 A HIERARQUIA DAS NECESSIDADES DE MASLOW A teoria da hierarquia das necessidades de Maslow, proposta por Abraham Maslow, é uma das teorias que consideram a motivação como um fator intrínseco, ou seja, que parte do interior do indivíduo, possuindo origem genética. A hierarquia de necessidades, maior conquista da teoria em questão, é uma divisão hierárquica em que as necessidades de nível mais baixo devem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto (NOVAES, 2000). Maslow define um conjunto de cinco necessidades descritas na pirâmide da Figura 2: Fonte: CHIAVENATO, Idalberto. Figura 2 – A pirâmide de Maslow • Necessidades fisiológicas (básicas), tais como a fome, a sede, o sono, o sexo, a excreção, o abrigo; • Necessidades de segurança, que vão da simples necessidade de sentir-se seguro dentro de uma casa a formas mais elaboradas de segurança como um emprego estável, um plano de saúde ou um seguro de vida; • Necessidades sociais ou de amor, afeto, afeição e sentimentos tais como os de pertencer a um grupo ou fazer parte de um clube; • Necessidades de estima, que passam por duas vertentes, o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e o reconhecimento dos outros face à nossa capacidade de adequação às funções que desempenhamos; Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 10 • Necessidades de auto-realização, em que o indivíduo procura tornar-se aquilo que ele pode ser. É neste último patamar da pirâmide que Maslow considera que a pessoa tem que ser coerente com aquilo que é na realidade. É deste que surge a seguinte frase: "(...) temos de ser tudo o que somos capazes de ser, desenvolver os nossos potenciais". Entretanto, existem várias criticas a sua teoria. A principal delas é que é possível uma pessoa estar auto-realizada, contudo não conseguir uma total satisfação de suas necessidades fisiológicas. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 11 6 A TEORIA DOS DOIS FATORES DE HERZBERG Na teoria dos dois fatores, Herzberg aborda a situação de motivação e satisfação das pessoas. As principais afirmações dele, foram: • A satisfação no cargo é função do conteúdo ou atividades desafiadoras e estimulantes do cargo, são os chamados "fatores motivacionais"; • A insatisfação no cargo é função do ambiente, da supervisão, dos colegas e do contexto geral do cargo, enriquecimento do cargo (ampliar as responsabilidades) são os chamados "fatores higiênicos". Os fatores motivacionais são aqueles intrínsecos ao indivíduo, ligados ao sentimento de satisfação com a função, as responsabilidades, o crescimento, o reconhecimento, entre outros. Já os fatores higiênicos, também conhecidos como fatores de manutenção, são os fatores extrínsecos, provenientes do ambiente organizacional, controláveis pela organização. Estes estão ligados ao conceito de qualidade de vida no trabalho (NOVAES, 2000). A teoria de Herzberg é representada de acordo com a Figura 3. Fonte: CHIAVENATO, Idalberto. Figura 3 – A teoria dos dois fatores de Herzberg A figura reafirma a teoria, mostrando que há fatores que são básicos para a realização do trabalho dos colaboradores, os quais, quando não existem, deixam-no insatisfeito. Como Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 12 exemplo, pode-se observar as condições físicas de trabalho. São os denominados fatores higiênicos. Por outro lado, os fatores motivacionais, quando existem, deixam o funcionário mais satisfeito com o cargo e, caso não existam, trazem o efeito da neutralidade ou a nãosatisfação. É o caso do reconhecimento dos esforços. Este é um fator higiênico. A semelhança entre as teorias de Maslow e Herzberg, por sua vez, é bem representada na Figura 4: Fonte: Wikipedia, 2006. Adaptado de Maximiano Figura 4 - A semelhança entre a teoria de Maslow e a teoria de Herzberg A convergência perfeita entre a teoria de Maslow e a teoria de Herzberg comprovam a eficácia das teorias denominadas de teorias de conteúdo, as quais focam nos fatores externos que motivam as pessoas no ambiente de trabalho. Pessoas são um recurso essencial para uma organização. Não há uma organização que sobreviva sem que elas desempenhem papéis. Além disso, para uma organização ser Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 13 competitiva, ela deve otimizar estes recursos, desenvolvendo-os e aplicando-lhes de forma mais eficaz. Por isso, é fundamental que gestores específicos sejam designados para a alocação, o recrutamento, a seleção, a integração e o controle destes recursos. Estas são algumas funções dos gestores de recursos humanos, também denominados gestores de pessoas nas organizações modernas. Contudo, independente deste gestor específico, qualquer profissional que lidere pessoas precisa trabalhar a motivação de seus subordinados. Isso porque a otimização destes recursos é decorrente, principalmente, da vontade destes em produzir. Esta, por sua vez, depende diretamente dos fatores citados por Vroom. A percepção do empregado sobre a recompensa desejada, a confiança no retorno do seu esforço e o julgamento da relação esforço e benefícios alcançados. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 14 7 VROOM E A TEORIA DA EXPECTÂNCIA A teoria da expectância, proposta por Victor Vroom (apud Chiavenato, 2000) é uma teoria motivacional que é considerada contingencial, pois afirma que a motivação para produzir depende de algumas variáveis e não apenas da escolha das recompensas ou do ambiente correto. Ela trabalha o processo cognitivo, definindo a motivação como um processo que orienta opções de comportamento (resultados intermediários) para alcançar um determinado resultado final (CHIAVENATO, 2000). É, portanto, uma teoria de processo. Na teoria da expectância, Vroom afirma que em todas as situações, os indivíduos são motivados a produzir, especificamente, sob a consideração de três percepções cognitivas: a valência, a expectância e a instrumentalidade. Fonte: CHIAVENATO, Idalberto. Figura 5 – O modelo da Teoria da Expectância. A Valência, anteriormente citada por Kurt Lewin (apud CHIAVENATO, 2000), revela o nível de interesse que um indivíduo possui em relação à recompensa oferecida pela organização (maiores salários, promoções, reconhecimento social). Ela pode ser positiva, quando o indivíduo deseja obter a recompensa, ou negativa, quando se busca repelir as consequências de um determinado comportamento. Além do mais, ela pode ser mais positiva para determinada recompensa do que para outra, sendo a de maior valor aquela que direcionará o comportamento do funcionário. Como exemplo, pode-se analisar uma política Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 15 de recompensas de uma empresa fictícia, baseada nos interesses apenas da alta gestão. Não se deve premiar um funcionário operacional de destaque com uma viagem para dar a volta no planeta esperando que ele se sinta realizado, pois pode ser que este não deseje tal recompensa pelo trabalho realizado. Isto pode, inclusive, gerar uma frustração no funcionário. A Expectância é a percepção do esforço necessário a se obter tal recompensa. Este fator é o mais relacionado com a auto-estima do funcionário, pois se liga a percepção de capacidade do empregado de realizar a tarefa. Basicamente, a motivação para produzir do empregado depende da percepção da quantidade de esforço que este terá de ofertar para realizar a tarefa. No caso de um gerente, pressionado por excesso de atividade e prazos curtos para a obtenção de metas, ocorre a desmotivação devido à percepção de incapacidade de atingir tais objetivos. Finalmente, a instrumentalidade é a percepção de correlação entre o esforço despendido e o recebimento da recompensa desejada. Caso o funcionário julgue que o esforço necessário não equivale à recepção da recompensa, ele fica desmotivado a direcionar o seu comportamento ao objetivo pré-definido. Aprofundando-se mais, o funcionário avaliará, na instrumentalidade, se os meios que se está utilizando para obter a recompensa (alta produtividade, eficiência nas decisões, o ato de chegar mais cedo ao trabalho), levam a um retorno por parte da organização. A instrumentalidade, por sua vez, adquire valores positivos ou negativos, de acordo com o modo que o funcionário a julga. É um exemplo de desmotivação devido à ineficiência da instrumentalidade um funcionário que recebe uma meta irreal, com um retorno financeiro acima do esperado, quando a gerência reconhece a impossibilidade de obtenção de tal meta. É importante afirmar que o colaborador só está motivado a produzir quando estas três percepções estão satisfeitas. A teoria de Vroom baseou-se na teoria de Maslow. Isto fica nítido na perspectiva valência. Contudo, quando Maslow define uma hierarquia das necessidades, Vroom afirma que a recompensa mais motivadora depende em perspectiva temporal, podendo ou não seguir a ordem hierárquica da pirâmide de Maslow. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 16 Vroom ainda insere um conceito novo, o da valência negativa anteriormente citada, quando o funcionário literalmente foge da consequência de um comportamento. Há uma convergência, também, entre as teorias de Herzberg e Vroom no que se refere à percepção do trabalhador. Quando Herzberg insere o conceito de qualidade de vida no trabalho, está considerando a percepção do trabalhador sobre um ambiente favorável ao trabalho. A diferença entre estes teóricos é que Herzberg foca nos fatores os quais são higiênicos ou motivacionais, enquanto Vroom preocupa-se apenas em explicar o processo da motivação. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 17 8 METODOLOGIA A pesquisa em questão é de caráter quali-quantitativo e do tipo descritiva, por analisar os dados na forma como eles se apresentam, sem interferência do pesquisador. A pesquisa bibliográfica permeou todo o trabalho científico, orientando e respaldando a análise final. Por tratar-se de um estudo de caso, a amostra foi limitada pela quantidade de funcionários da empresa: 27. Entretanto, considerou-se como critério de preenchimento o funcionário estar em um cargo administrativo. Foram aplicados sete questionários, abrangendo um total de 25,92% dos funcionários da amostra. Houve aplicação de um teste de validação na FCAP Jr. Consultoria, com a entrevista e 13 respondentes do questionário, dando credibilidade e segurança para a pesquisa de campo. As questões foram elaboradas de acordo com as três proposições teóricas de Victor Vroom: • A valência, a qual verifica se as recompensas estão alinhadas com os interesses individuais, presente nas questões 1, 3, 4 e 6. • A expectância, a qual verifica se a percepção de esforço do funcionário lhe mostra capacidade ou incapacidade em realizar a tarefa, presente nas questões 7, 8, 9. • A instrumentalidade, a qual verifica como o funcionário percebe a correlação entre o desempenho de suas funções e as recompensas oferecidas pela empresa, presente na questão 2 e 5. • As questões 10, 11 e 12 objetivavam obter respostas qualitativas a respeito das recompensas oferecidas pela empresa. A questão 10 visou à obtenção da percepção dos funcionários das recompensas. A questão 11 visou a busca pela maior motivação do funcionário estar na empresa e a questão 12 visou perceber se havia benefícios que não motivavam os funcionários. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 18 Ressalta-se que os resultados interligam-se, não sendo independentes uns dos outros. A compilação dos dados ocorreu de forma a obter dados numéricos sobre a motivação dos funcionários, de acordo com a metodologia utilizada por Luz (2000), para obter dados sobre o clima organizacional: quando a resposta do questionário for positiva, o funcionário será considerado motivado, assim como o clima era considerado favorável na situação vivenciada por Luz. Por outro lado, se a resposta for negativa, o funcionário será considerado desmotivado, enquanto, na situação anterior, o clima seria considerado desfavorável. A maioria das questões desta pesquisa é baseada nos critérios Sempre e Frequentemente para designar respostas positivas, enquanto que os termos Raramente e Nunca foram utilizados para designar respostas negativas. Há apenas duas exceções: na questão 9, na qual a nomenclatura é modificada para Boa e Suficiente, quando designa respostas positivas e Insuficiente e Ruim para respostas negativas; e na questão 8, pois quando se refere a barreiras para a realização de tarefas, quanto menos houver, estas serão encontradas mais raramente. As questões que possuem às vezes ou algumas vezes foram agrupadas no grupo de resultados que expressam desmotivação. Os dados relativos a cada questão quantitativa foram colocados em gráficos do tipo pizza e analisados individualmente. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 19 9 ANÁLISE DOS DADOS • Motivação Geral Fonte: Própria Gráfico 1 – Motivação geral Fonte: Própria Gráfico 2 – Valência Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 20 Fonte: Própria Gráfico 3 – Expectância Fonte: Própria. Gráfico 4 – Instrumentalidade Os gráficos demonstram uma forte propensão ao trabalho por parte da empresa. A empresa possui grande probabilidade de alcançar a plena capacidade humana, pois o sistema de gestão de pessoas da organização está efetivo. Coincidentemente, os percentuais médios de cada fator e a média geral, consequentemente, foram iguais. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 21 • Valência Reconhece-se que a valência é um fator que está satisfeito na empresa. Os funcionários entendem que a empresa é um caminho para que alcancem os seus resultados. Contudo, os dados apresentados, em especial os da última questão, demonstram um descontentamento de parte dos funcionários em relação à percepção da preocupação da empresa em alinhar as recompensas ao interesse profissional de seus funcionários. • Expectância Em relação á expectância, nota-se que é um fator também positivo, mas os dados relativos à existência de barreiras para o desempenho das atividades mostram uma queda na satisfação em relação a este fator, baseado na média das respostas. Foram levantadas, por quase todos, causas de possíveis desmotivações individuais. Instrumentalidade A instrumentalidade é um indicador que está positivo. Os funcionários estão, dessa forma, satisfeitos com o resultado de seus trabalhos. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 22 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nos objetivos propostos, pode-se concluir que o projeto atendeu plenamente o seu escopo. Ele é capaz de demonstrar a importância da teoria da expectância, tratando-a como uma nova metodologia de análise da motivação nas empresas. Em relação aos objetivos específicos, as bases teóricas inquestionáveis foram absorvidas de Maslow, Herzberg e Vroom. A metodologia e os questionários foram montados à luz destas, o que assegurou o sucesso da pesquisa. Avaliou-se também que a empresa selecionada possui o entendimento dos fatores de motivação dos funcionários, haja vista que a entrevista com a gestora revelou coerência com os resultados da pesquisa realizada. Observou-se que ela entende a importância dos benefícios inclusive intangíveis para a gestão dos funcionários, investindo em remuneração pelo alcance de metas, participação nos lucros e benefícios, como plano de saúde. O estudo da política de Recursos humanos à luz da teoria da expectância nos mostra que todas as práticas de Recursos humanos são voltadas a satisfazer as expectativas dos funcionários e, consequentemente, melhorar a valência, como, por exemplo, ampliando o leque de recompensas e todo o sistema busca adequar-se às expectativas dos funcionários (Plano de carreiras, benefícios, programa de Coaching, entre outras ferramentas atuais). As condições de trabalho também são consideradas tendo em vista a melhor estrutura de trabalho, e a expectância. Além disso, com base no resultado obtido com a pesquisa de campo, nota-se que a teoria de Vroom pode ser tratada como uma metodologia de obtenção da necessidade primária de ação para estimular a motivação dos funcionários. Com base no resultado da pesquisa nas empresas, torna-se mais fácil direcionar as ações de motivação, baseada nos conceitos de Valência, Instrumentalidade e Expectância. A metodologia da teoria da expectância como avaliador da motivação dos funcionários funciona como um checklist, no qual são abordados os aspectos que motivam os funcionários, também através do entendimento das expectativas dos mesmos em relação à empresa. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 23 As informações obtidas com a pesquisa com os funcionários da empresas demonstram resultados plenamente gerenciáveis, a partir da auto-avaliação dos pontos de melhoria que surgiram e a exploração dos aspectos positivos levantados. De modo geral, revela o perfil quantitativo da motivação dos funcionários da empresa em relação a cada diretriz da teoria de Vroom. Descobriu-se que todos os aspectos da teoria estão bem estimulados para 85,71% dos funcionários, enquanto 14,29% está insatisfeito com a política de benefícios da empresa, conforme exposto acima. Dentre as diversas justificativas para a questão, estão como fatores de melhoria, a falta de oportunidade de crescimento e de autonomia da empresa, a falta de qualidade de vida no trabalho, que também influencia a instrumentalidade, mesmo estando mais voltada à expectância, a falta de recompensas, entre outros. Além disso, conclui-se que os funcionários, não raro, criam uma expectativa em relação à empresa, tanto em ascensão de carreira quanto em remuneração e reconhecimento mais otimista, gerando insatisfação pela demora no atendimento de tais desejos, principalmente em tal empresa, considerada de pequeno porte, com apenas 27 funcionários. Pode-se entender a funcionalidade da teoria de Vroom pela solução proposta no exemplo acima: mensurado tal resultado em determinada empresa, deve-se trabalhar o porquê de haver uma percepção do funcionário menos satisfatória da correlação entre o esforço para realizar uma atividade e a obtenção das recompensas oferecidas. Exemplos de ações seriam: mapear as recompensas oferecidas, verificar se os funcionários conhecem todas aquelas destinadas a seu cargo e conferir se há barreiras para a realização de tarefas e se estas podem ser superadas ou devem ser trabalhadas. Conclui-se, no geral, que cada funcionário possui a sua individualidade, portanto, cada caso deve ser estudado mais a fundo para que sejam obtidas informações mais precisas. Esta é uma prática que pode ser aliada à gestão das competências dos funcionários e tornar-se uma ferramenta de gestão do desempenho humano da organização. Esta é a contribuição da Teoria de Vroom para a Gestão de Pessoas. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 24 REFERÊNCIAS BERGAMINI, Cecília Whintaker. Motivação. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1990. CHIAVENATO, Idalberto. Gerenciando pessoas: o passo decisivo para a administração participativa. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1994. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. Ed. compacta. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. CHIAVETANO, Idalberto. Recursos Humanos. Ed. compacta. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1992. CHIAVENATO, Idalberto. Recursos Humanos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1995. FILHO, Antônio A.; ARAÚJO, Maria A. Duarte. Um estudo da força motivacional dos funcionários do Banco do Brasil à luz da teoria da expectativa. Disponível em: http://www.ead.fea.usp.br. Acesso em: maio 2008. FREDERICK Herzberg. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Frederick_Herzberg. Acesso em: 21 Set 2008. 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