Universidade Federal do ABC Centro de Ciências Naturais e Humanas CONVERSÃO PARAMÉTRICA DE FREQUÊNCIAS EM ELETRODINÂMICA QUÂNTICA DE CIRCUITOS por Eduardo H. M. Maschio Orientador: Prof. Dr. Roberto M. Serra Santo André, 2013 Universidade Federal do ABC Centro de Ciências Naturais e Humanas CONVERSÃO PARAMÉTRICA DE FREQUÊNCIAS EM ELETRODINÂMICA QUÂNTICA DE CIRCUITOS por Eduardo H. M. Maschio Trabalho apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências, na área de Física, sob orientação do Prof. Dr. Roberto M. Serra Santo André, 2013 Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, de acordo com as observações levantadas pela banca no dia da defesa, sob responsabilidade única do autor e com anuência de seu orientador. Santo André, de Assinatura do autor: Assinatura do orientador: de 20 . Às árvores utilizadas na produção das folhas de papel pelas quais todo o trabalho foi desenvolvido. Agradecimentos Primeiramente, gostaria de agradecer ao Prof. Dr. Roberto M. Serra, ao Dr. Lucas Céleri e a Pedro Guimarães, pois foram as pessoas fundamentais por trás de todo o processo, sem os quais, não haveria este trabalho. Agradeço profundamente a meus pais, Chico e Alba, a minha irmã, Amanda, a meus avós, Manoel e Eurides, a Mariana, a meus tios, Ellen Paula e Fábio, Eduardo e Fernanda, Flávia, Jesus e Silvia, Leonildo e Vanda, a meus primos Gabriela, João Lucas, Gabriel, Renan, Ricardo, Cristiano, Luciene, Elisa e Maeli, pois, graças ao apoio e motivação recebidos no caminhar desta árdua jornada, fui capaz de vencer os obstáculos. Aos grandes amigos e irmãos, Marcelo Fiorin, Artur Sartoreto, Tiago Gimenes, Tiago Fonseca, Marcos Assis, João Ricardo, Marília, Thiago Berti, Daniel Ruiz, Ana Luiza, Mariah, Daniel López, Han Pang, Nina, Sabrina, Yang Lu, Bin Zhao, Hung Do, Jessica, Filipe Cajazeiras, Paulo Sloid, Taunai Segundo, Felipe Ribeiro, Tadeu Aquino, Schebna, Vicente Costa, Bruno Raviolo, Maria Thereza, Bianca Akemi, Khalil Portugal, Jonas Maziero, Kaonan, Felipe Kopel, Bruno e Felipe Bartoloni, Cesar Villegas, Juliana Sato, Laos, Wagner, Ana Mioko, Toshiro, Naira Mattia, Fabiano Yoschitaki, Samyr Abdulack, Athena, Inaiza Dinis, Paula Vendramini e Fabiana Ayumi, através dos quais cultivei todas as virtudes, amizade e admiração, o meu sincero agradecimento. Por fim, agradeço às agências de fomento, CAPES e CNPq, e à Universidade Federal do ABC, pois somente através delas o trabalho intelectual foi desenvolvido e tornou-se realidade. “Não há nada que atrapalhe mais o desenvolvimento científico do que o desejo de que ele aconteça rápido demais. ” Georg Lichtenberg MASCHIO, Eduardo H. M. Conversão Paramétrica de Frequências em Eletrodinâmica Quântica de Circuitos. 2013. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do ABC, Santo André, São Paulo Resumo Conversões paramétricas de frequências são processos não-lineares geralmente realizados no contexto óptico. Tais processos têm sido amplamente estudados, seja para testar fundamentos da Mecânica Quântica, ou seja para aplicações tecnológicas. Recentemente, circuitos supercondutores têm recebido bastante atenção devido a possibilidades de se atingir regimes de acoplamento forte e ultra-forte da radiação com a matéria, além destes sistemas apresentarem configurações robustas a ruídos e um ótimo controle sobre os estados quânticos. Neste trabalho, apresentaremos uma proposta teórica para uma arquitetura de circuito supercondutor capaz de realizar processos de conversão paramétrica de frequências. Uma fundamentação sobre os principais objetos de estudo do trabalho é apresentada em detalhes, partindo da quantização da linha de transmissão supercondutora e avançando para os átomos artificiais, o acoplamento entre a linha de transmissão e o átomo e os processos paramétricos. É discutido a arquitetura do circuito, composto de um átomo artificial acoplado a duas linhas de transmissão, cujo protocolo original possibilita a obtenção tanto da Conversão Paramétrica Descendente quanto da Conversão Paramétrica Ascendente, cada qual obtido através da aplicação de um campo externo que gera uma frequência modulada específica no átomo artificial. Este método versátil é apresentado e desenvolvido levando em conta valores experimentais atuais. As aproximações efetuadas que levam as previsões analíticas do método são confirmadas através de cálculos numéricos. Uma análise para estados coerentes iniciais sob a atuação do processo de conversão é feita, observando-se compressões nas quadraturas para cada um dos modos de ambas as linhas de transmissão. Os resultados obtidos da analise numérica corroboram o método, possibilitando sua implementação experimental com a tecnologia atual. xi Palavras-chave: eletrodinâmica quântica de circuitos, conversão paramétrica ascendente, conversão paramétrica descendente. MASCHIO, Eduardo H. M. Parametric Frequency Conversions in Circuit Quantum Electrodynamics. 2013. Master’s Dissertation. Universidade Federal do ABC, Santo André, São Paulo Abstract Parametric frequency conversion is a non-linear process largely employed in the quantum optics context. Recently superconducting circuits have been received considerable attention due to the possibility to achieve a the so-called ultra-string-coupling regime, besides the robustness against noise and a great control of quantum states. In this work, we introduce a theoretical proposal for a superconducting circuit setup to perform parametric frequency conversion. Initially we present some fundaments about the mains objects in our proposal, i.e., starting form the quantization of a superconducting transmission line, passing through artificial atoms and it’s coupling with the transmission line, and finally reaching the parametric frequency conversion process. We discuss the proposed architecture, composed by an artificial atom coupled to two transmission lines. Parametric up and down conversion processes are obtained by a suitable choice of a pumping magnet filed applied to the artificial atom. The versatile method is presented and analyzed taking into account realistic experimental parameters. The validity of the approximations employed in the analytical derivations is verified by numerical calculations. Considering the coherent state as an example of application of the technic we observe comprehension in the fled quadrature and entanglement in the twin photons generated in the parametric down conversion. The result of our analysis suggests that the proposal can be experimentally implemented with the currently available technology. keyword: circuit quantum electrodynamics, parametric up-conversion, parametric downconversion. Sumário 1 Introdução 1 2 Eletrodinâmica Quântica de Circuitos & Processos Paramétricos 5 2.1 Quantização da Linha de Transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2.2 O qubit . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.3 Átomos Artificiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.4 O Cooper Pair Box . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 2.4.1 Características do CPB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.5 O transmon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.6 Acoplamento do ressonador com o qubit . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 2.7 Ruídos em QED de Circuitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.7.1 Tempo de relaxação T1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 2.7.2 Tempo de defasamento T2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 2.8 Não Classicalidade da Luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 2.8.1 Estado Coerente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.8.2 Estado Comprimido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.8.3 Função de distribuição de quasi-probabilidade W q, p de Wigner . . 32 32 2.8.4 Critério de Inseparabilidade para Variáveis Contínuas . . . . . . . . . . 35 2.9 Processos paramétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 2.9.1 Conversão Paramétrica Descendente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 2.9.2 Conversão Paramétrica Ascendente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 xiv xv 3 Engenharia de Hamiltonianos 41 3.1 O sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 3.2 Conversão Paramétrica Descendente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 3.3 Conversão Paramétrica Ascendente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 4 Resultados e Análises 51 4.1 Conversão Paramétrica Descendente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 4.2 Conversão Paramétrica Ascendente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 5 Conclusão 63 A Teorema da Equivalência Óptica para Operadores na Ordenação Normal 66 Referências Bibliográficas 69 Lista de Figuras 2.1 Representação do circuito LC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2.2 Representação da linha de transmissão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.3 Esquema pictórico de um circuito supercondutor em QED de circuitos. . . . . 10 2.4 Representação esquemática de um Cooper Pair Box. . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.5 Representação de um Cooper Pair Box. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.6 Dispositivo baseado em um SQUID de fluxo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.7 Níveis de energia do Cooper Pair Box. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.8 Esquema do circuito do transmon. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.9 Gráfico qualitativo da razão EJ /EC 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.10 Gráficos comparativos da razão EJ /EC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.11 Gráfico do tempo T2 de decoerência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 2.12 Gráfico do tempo T1 devido ao tunelamento de quasi-partículas versus a temperatura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.13 Esquema do processo de conversão paramétrica de frequências. . . . . . . . . 38 3.1 Esquema da disposição das frequências no sistema e dessintonias. . . . . . . . 45 4.1 Gráfico do comportamento da frequência Ω(t) do qubit. . . . . . . . . . . . . . 52 4.2 Probabilidade de ocupação dos estados do qubit para PDC. . . . . . . . . . . . 54 4.3 Número médio de fótons do ressonador a e b para PDC, com estado coerente com número médio de de 2 fótons. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 4.4 Número médio de fótons do ressonador a e b para PDC, com estado coerente com um número médio de 1 fóton. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xvi 56 xvii 4.5 Gráfico da função de Wigner para estado coerente inicial de um número médio de 1 fóton. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 4.6 Gráfico da função de Wigner para PDC para os modos a e b após evolução do estado para g a t ≈ 53. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 4.7 Gráfico da função de Wigner para PDC para os modos a e b após evolução do estado para g a t ≈ 124. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 4.8 Variância ∆2 u + ∆2 v . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 4.9 Função de Wigner para um estado coerente inicial com um número médio de 1 fóton. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 4.10 Gráfico da função de Wigner para PUC para os modos a e b após evolução do estado para g a t ≈ 106. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 4.11 Gráfico da função de Wigner para PUC para os modos a e b após evolução do estado para g a t ≈ 160. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 Lista de Tabelas 3.1 Valores típicos das frequências e parâmetros do sistema . . . . . . . . . . . . . xviii 44 Capítulo 1 Introdução Com a possibilidade de se resolver eficientemente problemas computacionais difíceis utilizandose algoritmos quânticos, como o algoritmo de Shor [1] introduzido em 1994, a Computação Quântica e Informação Quântica ganharam especial atenção e um grande desenvolvimento foi promovido nestas áreas de pesquisa desde então. Em 1998, DiVincenzo introduz um conjunto de 5 critérios [2] que devem ser seguidos para ser possível a construção de um computador quântico. Tais critérios ficaram conhecidos posteriormente como Critérios de DiVincenzo e são listados como sendo: 1) ter uma forma de representação da informação quântica (por exemplo, um bit quântico, ou qubit); 2) ser possível implementar portas lógicas universais através de transformações unitárias; 3) preparar o estado inicial do sistema com alta fidelidade; 4) medir os resultados de saída; e 5) o sistema deve possuir longos tempos de decoerência. Uma das primeiras propostas para implementação de portas logicas quânticas em sistemas físicos tirou proveito da física bem estabelecida da Eletrodinâmica Quântica de Cavidades, que se utiliza de espelhos supercondutores altamente refletores, esquemas ópticos, lasers e átomos de Rydberg [3] para testar alguns fundamentos da Mecânica Quântica [4, 5], da Informação Quântica, entre outros [6, 7]. Um pouco mais recente (na última década), uma nova física começa a ser explorada, transladando os sistemas ópticos utilizados em Eletrodinâmica Quântica de Cavidades para o domínio de circuitos eletrônicos (supercondutores). Tais circuitos são construídos utilizando a junção Josephson [8], sendo 1 esta, revisitada em alguns trabalhos pioneiros na investigação do comportamento dos pares de Cooper desta junção, como o trabalho de Joyez et al. [9]. Começam, então a serem investigadas as suas propriedades e a física destes circuitos supercondutores é amplamente explorada. Trabalhos sobre a possibilidade de se preparar um estado quântico de dois níveis (qubit), com circuitos supercondutores baseados em estados de carga, tornam-se mais frequentes, tais como os publicados por Bouchiat et al. [10] e Nakamura et al. [11]. O assim chamado Cooper Pair Box passa a ser investigado e trabalhado com a premissa de que no regime de carga haveria menos ruído se comparado com o dispositivo no regime de fluxo, previamente investigado por Leggett [12]. Posteriormente, foram feitas investigações sobre os efeitos dos diferentes tipos de regimes e um estudo sobre os diferentes tipos de ruídos, desencadeando no desenvolvimento de vários dispositivos baseados na junção Josephson, tais como: o quantronium [13], em 2002, o transmon [14], em 2007, e o fluxonium [15], em 2009. Juntamente com a crescente gama de qubits supercondutores, foram desenvolvidas arquiteturas, como a proposta por Girvin et al. [16], em 2009, que tornassem estes circuitos escaláveis, viabilizando, assim, a construção de conjuntos de circuitos mais complexos de modo a possibilitar um processador quântico com vários qubits. Outras arquiteturas interessantes foram desenvolvidas com as mais diversas finalidades, como a proposta por Kubo et al [17] em 2011, sendo esta uma arquitetura híbrida contendo um qubit transmon acoplado com um ressonador e um diamante, que faz o papel de memória quântica, armazenando a informação do qubit. Não obstante, em Junho de 2011, a empresa canadense D-Wave anunciou a primeira venda do seu computador quântico composto por 128-qubits [18], apenas duas semanas após a publicação de um trabalho do mesmo grupo sobre um sistema quântico contendo oito qubits formados por uma cadeia de spins artificiais, estes sendo produzidos através de um qubit de fluxo supercondutor [19]. Apesar de ainda serem alvo de dúvidas e descrenças, o feito notável trouxe um divisor de águas para a computação quântica, mostrando que se está mais próximo da construção de um computador quântico do que era imaginado. Motivados pelo crescente aumento do interesse por circuitos supercondutores, propuse- 2 mos testar alguns dos efeitos bem conhecidos da Óptica Quântica nos circuitos supercondutores, utilizando uma arquitetura em um circuito capaz de realizar processos de conversões paramétricas de frequências descendente e ascendente, apenas pela alternância de uma frequência externa modulada aplicada diretamente no qubit, que se encontra acoplado capacitivamente a duas linhas de transmissão supercondutoras não interagentes entre si. Tais processos de conversão de frequências são importantes para, por exemplo, a geração de fótons gêmeos e para implementação de protocolos de processos como o teleporte [20–22] e de metrologia quântica [23, 24]. No Capítulo 2 apresentaremos a assim chamada Eletrodinâmica Quântica de Circuitos, partindo da quantização do circuito LC e mostrando que uma linha de transmissão supercondutora é descrita por tal circuito quantizado, além de suas propriedades relevantes comportarem-se como um oscilador harmônico, de modo análogo à cavidade em Eletrodinâmica Quântica de Cavidades. Apresentaremos uma descrição de um tipo não linear de circuito LC, a junção Josephson , que é de fundamental importância para a construção de um átomo artificial no contexto de circuitos supercondutores, sendo este último um dispositivo supercondutor macroscópico que possui propriedades análogas a de um átomo de dois níveis. Dois tipos destes átomos artificiais, o Cooper Pair Box e o transmon, será feita, seus limites de operação e uma breve discussão sobre os principais tipos de ruídos presentes no transmon. O acoplamento da linha de transmissão e o átomo artificial é então desenvolvido. Uma rápida revisão dos estados não-clássicos da luz, a função de Wigner, o critério de inseparabilidade para sistemas de variáveis contínuas e processos paramétricos será feita. Tais tópicos são apresentados de maneira a abarcar uma compreensão intuitiva sobre os resultados obtidos da engenharia de Hamiltonianos. No Capítulo 3 apresentaremos o protocolo proposto, constituído de duas linhas de transmissão não interagentes acopladas a um átomo artificial, com parâmetros e frequências definidos via especificações experimentais atuais. Desenvolveremos em detalhes todas as passagens matemáticas importantes, de forma a conter uma intuição dos passos seguidos, até a obtenção dos Hamiltonianos efetivos para ambos os processos paramétricos: descendente e ascendente. A interpretação física em algumas passagens será elucidada de modo a 3 ser mantida a motivação do problema e não ser perdido o significado físico nas aproximações realizadas. No Capíulo 4 discutiremos os resultados obtidos analiticamente e analisaremos os aspectos das aproximações feitas com os resultados obtidos via cálculo numérico, utilizando o Hamiltoniano inteiro sem nenhuma aproximação. Tais resultados numéricos serão apresentados em forma de gráficos das populações dos estados fundamental e excitado e número médio de fótons de ambas as linha de transmissão, para a conversão paramétrica descendente e ascendente, demonstrando o comportamento do estado quântico inicial sob a ação do Hamiltoniano inteiro durante a sua evolução temporal. Discussões são levantadas em cada gráfico, comparando-se o Hamiltoniano efetivo com os gráficos numéricos, mostrando a validade das aproximações. Também são apresentados gráficos da função de Wigner para ambos os modos de oscilação das linhas de transmissão para o estado quântico em diferentes tempos, como forma de mostrar o caráter quântico dos fótons gerados em cada linha de transmissão. Por fim, é mostrado, através do critério de inseparabilidade, que de fato há o emaranhamento entre os mesmos. No Capítulo 5 revisaremos os aspectos importantes de cada capítulo, sumarizando-os em conclusões e apresentaremos a conclusão do trabalho como um todo. Perspectivas futuras e problemas em aberto serão brevemente listados e descritos. 4 Capítulo 2 Eletrodinâmica Quântica de Circuitos & Processos Paramétricos Neste capítulo serão tratados os aspectos básicos e fundamentos para a compreensão do trabalho desenvolvido. Partindo da quantização da linha de transmissão, será mostrado quais as considerações necessárias para se ter um ressonador que possua excitações quantizadas. Também desenvolveremos aqui o tratamento matemático deste sistema físico. Posteriormente, será discutido o átomo artificial, em particular uma classe de átomos artificiais construídos em sistemas de estado-sólido e baseados na junção Josephson, além de suas características e vantagens sobre outros tipos de átomos artificiais. Serão brevemente comentados os tipos de ruídos presentes, a não-classicalidade da luz, os estados coerente e comprimido, funções de quasi-probabilidade e de verificação da presença de emaranhamento. Por último, o processo de conversão paramétrica de frequência em sistemas ópticos será rapidamente descrito. 2.1 Quantização da Linha de Transmissão Uma linha de transmissão em um circuito supercondutor pode ter seus modos normais de vibração quantizados de forma análoga à quantização dos modos da radiação eletromagnética em uma cavidade em Óptica Quântica [25]. Este procedimento de quantização tem 5 o intuito de mostrar que a linha de transmissão pode fazer o papel de uma cavidade para a construção de um sistema análogo a interação da radiação com a matéria (um átomo) em um circuito supercondutor. Para tanto, será considerada uma linha de transmissão que possua um comprimento muito maior do que suas outras dimensões e assim sendo aproximada como um ressonador unidimensional. Este ressonador será descrito basicamente por um circuito LC e, como será mostrado, sua dinâmica pode ser expressa por meio de um conjunto de osciladores harmônicos independentes [26]. Inicialmente será considerado o caso mais simples, onde o circuito LC consiste em apenas um indutor de indutância L e um capacitor de capacitância C, que possuem um fluxo magnético Φ e carga Q associadas respectivamente a cada um dos componentes, como mostrado na Figura (2.1). Figura 2.1: Representação de um circuito LC. C é a capacitância do capacitor, L a indutância do indutor, Φ o fluxo magnético do indutor, +Q e −Q as cargas acumuladas na placa do capacitor e I a corrente que flui no circuito. Uma vez que estamos interessados em descrever uma junção Josephson e este age como um indutor não-linear, torna-se interessante definir então o fluxo magnético Φ como sendo a coordenada generalizada do sistema e Φ̇ = V (t) como sendo sua velocidade, pode-se escrever o Lagrangeano do sistema na forma [27] L= 1 2 C Φ̇2 − 1 2L Φ2 , (2.1) p onde a frequência de oscilação do sistema é dada por Ω = 1/ LC. Pode-se notar que o 6 momento conjugado da coordenada Φ é a carga Q, através da equação Q= ∂L ∂ Φ̇ = C Φ̇ = C V. (2.2) Definido o fluxo magnético como coordenada, é interessante observar que na equação (2.1), a energia cinética associada ao indutor será representada na forma de energia potencial e a energia potencial do capacitor será representada como uma energia cinética [27]. Esta escolha de variáveis ficará mais clara quando tratarmos do átomo artificial. Neste ponto, podemos aplicar a regra canônica de quantização então, promovendo a variável Φ e seu conjugado canônico Q à operadores, que obedecem a relação de comutação [Q̂, Φ̂] = −2iħ h, (2.3) escrevendo o Hamiltoniano, pela transformada de Legendre H = QΦ̇ − L e usando 2.2, obtém-se Ĥ = Q̂2 2C + Φ̂2 2L . (2.4) Podemos notar aqui a semelhança com o Hamiltoniano para um oscilador harmônico. Reescrevendo Φ̂ e Q̂ em termos dos operadores de criação ↠e aniquilação â bosônicos definidos com 1 1 Φ̂ + p Q̂, â ≡ i p 2Cħ hΩ 2Lħ hΩ 1 1 ↠≡ −i p Φ̂ + p Q̂, 2Cħ hΩ 2Lħ hΩ (2.5) (2.6) que obedecem a relação de comutação [â, ↠] = 1, pode-se obter o Hamiltoniano (2.4) na 7 conhecida forma 1 , Ĥ = ħ hΩ â† â + 2 (2.7) de um Hamiltoniano quântico para um oscilador harmônico que oscila em frequência Ω. Uma questão importante a ser levada em consideração, é a natureza deste quanta de excitação. Há duas maneiras equivalentes e sem perda de generalidade para tratá-lo: podemos simplesmente considerar como um fóton em si, uma vez que há uma oscilação do campo elétrico vinda do capacitor e uma oscilação do campo magnético vinda do indutor, produzindo uma excitação do campo na forma de fóton (Figura 2.2); ou podemos considerála como uma excitação da voltagem quantizada, uma vez que os circuitos basicamente são manipulados via voltagem. Para maiores discussões dos aspectos quânticos destes sistemas, ver por exemplo, [26]. Figura 2.2: Representação esquemática da linha de transmissão. A região em cinza representa o ressonador e a região hachurada representa o terra. Devido ao acoplamento capacitivo nas extremidades da linha de transmissão, há o acumulo de cargas nesta região gerando um campo elétrico entre a linha e o terra. O campo magnético por sua vez é produzido a partir da região da linha de transmissão constituída por um indutor. Escrevendo agora os operadores carga e fluxo em termos dos operadores bosônicos de- 8 finidos nas equações (2.5) e (2.6), temos Q̂ = −iQ Z P F â − ↠Φ̂ = Φ Z P F â + ↠, (2.8) (2.9) onde as variáveis Q Z P F e Φ Z P F são QZPF ΦZ P F v t 1 = (2e) , 4πz s z = Φ0 4π (2.10) (2.11) e as variáveis z e Φ0 são z ≡ Φ0 ≡ v t L (2e)2 C h 2e h , , (2.12) (2.13) onde 2e é a carga do par de Cooper, z é uma impedância característica adimensional, Φ0 é o quanta de fluxo supercondutor. Q Z P F e Φ Z P F são a quantidade de carga e fluxo do primeiro modo do circuito, respectivamente. O índice ZPF significa flutuação do ponto zero (do inglês zero point fluctuation), de modo que Q Z P F e Φ Z P F sejam o valor mínimo de carga e fluxo no vácuo, caracterizando propriamente a flutuação dos valores e obedecendo a relação de incerteza mínima de Heisenberg, agora expressa em termos destas variáveis, na forma Q Z P F ΦZ P F = ħ h 2 , (2.14) seja obedecida. Para o desenvolvimento acima, foi considerado um circuito LC de apenas um indutor e um capacitor. Porém, a linha de transmissão é melhor descrita por um conjunto contínuo de indutores e capacitores acoplados, como esquematizado na Figura (2.3). Deste modo, é necessário realizar a quantização da linha de transmissão por uma abordagem contínua. Para 9 Figura 2.3: Esquema pictórico de um circuito supercondutor em eletrodinâmica quântica de circuitos. A região central azul é representada pela linha de transmissão e suas bordas são seu acoplamento capacitivo. As regiões azuis adjacentes são o ’terra’. A região em verde é o qubit supercondutor acoplado à linha de transmissão, como um circuito LC de um indutor não-linear. Em rosa, o primeiro modo de oscilação da linha de transmissão. Abaixo, a representação em forma de circuitos do sistema como um todo. Figura reproduzida da referência [28]. isso, consideremos que um ressonador pode ser representado por um contínuo de circuitos osciladores LC unidimensional, de comprimento L, contendo uma densidade de corrente j(x, t) e densidade de carga q(x, t) e serão desconsiderados os acoplamentos capacitivos nas extremidades bem como o acoplamento com o qubit, neste primeiro momento. Seu Lagrangeano clássico é então escrito na forma L= Z L/2 dx −L/2 l 2 j2 − 1 2c q2 , (2.15) onde l é a indutância por comprimento e c é a condutância por comprimento [28]. Definindo uma variável θ (x, t) como sendo θ (x, t) ≡ Z x d x 0 q(x 0 , t), −L/2 10 (2.16) pode-se reescrever o Lagrangeano (2.15) que assume a forma L= Z L/2 dx −L/2 l 2 θ̇ − 1 2 ∂θ 2 . ∂x 2c (2.17) Da equação de Euler-Lagrange para θ (x, t), resulta-se em uma equação de onda ∂ 2θ ∂ t2 − v2 ∂ 2θ ∂ x2 onde a velocidade de onda é definida por v = = 0, p (2.18) 1/l c. Uma solução geral para este tipo de equação é expressa em termos de uma série de Fourier [29]. Assim, acrescentando as condições de contorno θ (L/2, t) = θ (−L/2, t) = 0, dadas pela ausência de carga nos extremos do ressonador, pode-se inferir a solução como v kimpar,cut o f f k par,cut o f f t2 X X kimpar πx k par πx . θ (x, t) = φkimpar (t) cos + φkpar (t) sin L L L k =1 k =2 impar par (2.19) Para comprimentos L finitos, a linha de transmissão age como um ressonador de frequências múltiplas de k, i.e., ωk = kπv/L. O valor limite de corte das frequências, kimpar,cut o f f e k par,cut o f f , é dado pelo limite das propriedades físicas do circuito, uma vez que sua faixa de frequências deve ser considerada entre energias que estejam abaixo da energia de gap 2∆ do supercondutor [27] (detalhes sobre algumas propriedades do supercondutor e da energia de gap 2∆ são explanadas na seção sobre o átomo artificial). Uma vez que a linha de transmissão é formada por um contínuo de osciladores LC desacoplados, pode-se substituir a solução na equação (2.19) no Lagrangeano em (2.17) e este último toma a forma de um Lagrangeano para um conjunto osciladores harmônicos independentes L= Xl k 2 2 φ˙k − 1 2c kπ L 2 φk2 . (2.20) Promovendo a coordenada canônica φk e seu momento conjugado canônico Πk = l φ˙k 11 a operadores e definindo a relação de comutação [φ̂k0 , Π̂k ] ≡ 2iħ hδk0 ,k , (2.21) obtém-se o Hamiltoniano quântico para o referido circuito Hˆ = X 1 k 2l Π̂2k (t) + 1 2c kπ L φ̂k2 (t). (2.22) que pode ser reescrito em termos dos operadores bosônicos de criação e aniquilação âk† e âk , respectivamente, satisfazendo a relação de comutação [âk , âk†0 ] = δkk0 , em termos dos operadores φ̂k e Π̂k na forma v tħ hωk c L [âk (t) + âk† (t)], 2 kπ v tħ hωk l Π̂k (t) = −i [âk (t) − âk† (t)], 2 φ̂k (t) = (2.23) (2.24) onde, por fim, o Hamiltoniano (2.22) torna-se H = X ħ hωk ak† ak + k 1 2 . (2.25) Devido a utilização de apenas um modo do ressonador, geralmente sendo a frequência mais próxima da frequência de transição do qubit, pode-se construir um ressonador com esta configuração e assim torna-se possível escrever o Hamiltoniano em termos de apenas uma frequência, na forma † H =ħ hω r a a + 1 2 , (2.26) onde ω r é a frequência relevante para o estudo da dinâmica de um sistema tipo átomocavidade [30]. 12 2.2 O qubit Um sistema quântico de dois estados (ou níveis) distinguíveis é denominado qubit (bit quântico) em Ciência da Informação Quântica, devido à sua analogia com sistemas clássicos de Computação e Informação [31]. É importante ressaltar que o qubit possui uma conotação tanto de objeto matemático abstrato (unidade de informação) quanto de um sistema físico (sistema que codifica a informação). Este trabalho será focado no qubit como um sistema físico e representado como uma certa classe de qubits baseados em circuitos supercondutores. De átomos de Rydberg [3] aos átomos artificiais, há uma grande variedade de sistemas físicos utilizados como qubits [32]. Átomo artificial é uma nomenclatura geralmente atribuída a estruturas mesoscópicos cujas propriedades de interesse podem ser aproximadas às propriedades de um único átomo. Dentre eles, há um tipo utilizado como qubit que tem despertado crescente interesse: qubits supercondutores baseados em junção Josephson [33, 34]. Qubits supercondutores são componentes mesoscópicos que apresentam propriedades quânticas necessárias para desempenharem o papel de um sistema quântico de dois níveis. Tais sistemas possuem níveis de energia quantizados e uma certa anarmonicidade intrínseca associada, que é responsável pela diferenciação entre dois níveis de energia vizinhos, dando-lhe o desejado caráter de átomo artificial. Nas próximas seções serão discutidos dois destes sistemas supercondutores capazes de codificar qubits baseados na junção Josephson: o Cooper Pair Box (CPB) [9, 10, 35] e o transmon [28]. 2.3 Átomos Artificiais Nesta seção será discutido brevemente algumas propriedades da supercondutividade, uma descrição sobre a junção Josephson e a relação de ambas com o átomo artificial. A junção Josephson é um componente feito a partir de uma sobreposição entre duas partes de alumínio separadas por uma fina barreira de um óxido [36], de maneira que permita o tunelamento de partículas ou quasipartículas por entre a junção para as partes supercondutoras de alumínio resfriado abaixo da sua temperatura crítica [37]. Com a finalidade de explicar o conceito 13 de funcionamento desta junção, consideremos duas caixas metálicas supercondutoras separadas por uma junção de tunelamento e que cada caixa possua um número par de elétrons ou apenas pares de Cooper. Os pares de Cooper são pares de elétrons ligados via uma troca virtual de fônons [38], efeito explicado pela teoria BCS (Bardeen-Cooper-Schrieffer) de supercondutividade a baixas temperaturas1 . Devido aos efeitos da supercondutividade, em cada caixa há apenas um estado fundamental que se encontra separado de um contínuo de estados excitados por um gap de energia 2∆, tipicamente da ordem de vários Kelvin de temperatura (energia ħ hω em unidade de kB T ), quantidade esta de energia necessária para a quebra do par de Cooper. Se o sistema for resfriado a algumas centenas de mK e a frequência de transição ω para estados excitados é da ordem de uma dezena de GHz, nesta situação não haverá excitações dos elétrons e consequentes quebras de pares de Cooper. Pode-se então reduzir o espaço de Hilbert dos elétrons de modo a obter-se apenas um único estado, |N 〉, definido pelo número total de pares em ambas as caixas. No entanto, apenas este número N não define um estado quântico único. Será necessário, então, escrever o estado como número de pares transferidos de um eletrodo para outro. Assim, tem-se |m〉 = NE − m, ND + m , (2.27) onde NE é o número inicial de pares na caixa à esquerda, ND é o número inicial de pares à direita e m o número de pares que atravessaram a junção da esquerda para a direita. A Figura 2.4 apresenta uma representação pictórica resumindo as considerações apresentadas acima. Pode-se inferir neste sistema que a descrição de um sistema quântico de m estados, uma vez que pode-se transferir m pares de um lado para o outro. Se desconsiderarmos efeitos coulombianos de interação entre os pares e apenas nos atentarmos ao efeito dos pares sendo transferidos de uma caixa para a outra, é notável a semelhança com o modelo de Ising [39] ou de Tight-binding [40]. Podemos então escrever um Hamiltoniano efetivo para este comportamento na forma 1 Para mais detalhes sobre a teoria BCS, veja a referência [38]. Também há livros-textos sobre Supercondutividade úteis para um entendimento mais detalhado, como por exemplo Introduction to Superconductivity, M. Tinkham, 1996, McGraw-Hill. 14 Figura 2.4: Representação pictórica de uma sistema de duas caixas contendo pares de Cooper, NE pares à esquerda e ND pares à direita, inicialmente. O número m é o número de pares que atravessaram a junção de tunelamento da esquerda para à direita. O gap de energia entre o estado fundamental e o contínuo de estados excitados é 2∆, muito maior do que as energias envolvidas entre os pares de elétrons e a energia térmica do sistema (resfriado a mK), mantendo assim, os pares sempre no estado fundamental. Ĥ tunel. = − EJ X {|m〉 〈m + 1| + |m + 1〉 〈m|}, 2 m (2.28) onde a energia EJ é a energia de acoplamento de Josephson, proporcional à densidade de corrente de Josephson, definida por v u 2 ∆ 1 t JS = ∆1 K 1 − 12 , RN ∆2 (2.29) com R N = 2πh/e2 T̄ sendo a resistência de estado normal, ∆1 e ∆2 sendo as energias dos q 1 − ∆21 /∆22 sendo uma função dependente da energia de ambos gaps de cada caixa e K os gaps. Quando ambas as caixas possuem o mesmo gap, K(0) = π/2, a energia EJ torna-se diretamente proporcional a energia do gap [41]. Para um entendimento mais aprofundado e formal sobre o comportamento do tunelamento dos pares de Cooper na junção Josephson, há duas referências que podem ser consultadas [8, 41]. Pode-se escrever as autofunções (não normalizadas) do Hamiltoniano da equação (2.28) 15 em termos da base {|m〉}, na forma de ondas planas, como +∞ X ϕ = e imϕ |m〉. (2.30) m=−∞ Atuando o Hamiltoniano (2.28) nesta autofunção, obtém-se Ĥ tunel. ϕ = −EJ cos ϕ̂ ϕ . (2.31) A energia da junção Josephson nesta base é definida então como E tunel. = −EJ cos ϕ . 2.4 (2.32) O Cooper Pair Box O Cooper Pair Box (CPB) é um átomo artificial que funciona no regime de carga constituído por um eletrodo (ou ilha supercondutora) conectado a um reservatório de portadores de carga (pares de Cooper) via uma junção Josephson [36], como esquematizado na Figura 2.5. A junção Josephson é o componente chave do CPB, permitindo a passagem dos pares de Cooper através do tunelamento, como discutido na seção anterior, tornando o CPB efetivamente em um sistema quântico de dois níveis [11]: define-se este último pela ausência ou presença de um par de Cooper extra na ilha. Existem duas maneiras de se causar a transição de um estado para o outro: i) ao se aplicar uma voltagem do porta no CPB, induzindo o tunelamento de um par de Cooper entre a ilha e o reservatório; e ii) aplicando-se um fluxo magnético externo sobre o qubit de carga, quando o mesmo é constituído por um SQUID (do inglês superconducting quantum interference device) de fluxo no lugar de uma simples junção Josephson [33], como apresentado na Figura 2.6. O Hamiltoniano do CPB é então escrito em termos de uma energia eletrostática gerada pela contribuição das cargas situadas na ilha (devido a voltagem externa aplicada) e uma energia de tunelamento da junção Josephson. Adicionalmente, a energia de carga sofre um incremento gerado devido a presença de um porta acoplado no qubit, que gera o efeito de 16 Figura 2.5: Representação pictórica de um CPB. O CPB possui uma ilha supercondutora (cinza claro, em inglês superconducting island) e um reservatórios de pares de Cooper (cinza claro, em inglês superconducting reservoir) conectados via uma junção Josephson (cinza escuro). A energia potencial de tunelamento EJ , bem como a capacitância da junção CJ , do porta C g e a voltagem da porta Vg são mostrados abaixo, no esquema do circuito. Figura reproduzida da referência [42]. uma carga de deslocamento. Deste modo, o Hamiltoniano pode ser escrito na forma [28] Hˆ = 4EC n̂ − n g 2 − EJ cos ϕ̂ , (2.33) onde EC = e2 /2C é a energia Coulombiana de carga; n = −q/2e é o operador número de excesso de cargas dos pares de Cooper na ilha; n g ≡ C g Vg /2e é a carga de deslocamento efetivo, causada pelo porta acoplado; EJ é a energia Josephson; e ϕ = φ/Φ0 é o operador de fase quantizada que corresponde à diferença de fase entre a junção e a região supercondutora (onde Φ0 é o quanta de fluxo supercondutor). Uma vez que os operadores n̂ e ϕ̂ são conjugados canônicos quânticos, devem obedecer então a relação de comutação [30] 2.4.1 e i ϕ̂ , n̂ = −e−iϕ . (2.34) Características do CPB Como ambos CPB e SQUID são átomos artificiais em que se codifica a informação essencialmente no portador de carga extra na ilha, diz-se que são qubits que operam no regime de 17 Figura 2.6: Esquema de um dispositivo baseado em qubit de carga construído com um SQUID de fluxo. Foram adicionadas duas junções Josephson conectadas via a ilha supercondutora e o reservatório de cargas. Através do SQUID é possível aplicar um fluxo magnético externo de modo a alternar a energia de tunelamento da junção. Figura reproduzida da referência [33]. carga. As características que o mantêm operando neste regime são dadas pela razão entre a energia de carga EJ e a energia de tunelamento EJ ser tal que EJ EC ® 1, (2.35) além de necessariamente se encontrar no regime de degenerescência de carga, também chamado de sweet spot, onde a carga de deslocamento n g deve assumir um valor inteiro [36] (em algumas representações, no entanto, assumindo o valor semi-inteiro [28, 33]). Ambos os regimes estão intrinsecamente correlacionados, uma vez que, operando em EJ /EC ® 1, o gap de energia entre dois estados adjacentes é bem distinguível dos demais estados e a escolha adequada de n g faz com que seja possível alcançar este estado de superposição entre ambos. Assim, é possível excluir outros estados indesejados (Figura 2.7) e, utilizando a definição de estado da equação 2.27 ( com m = 0 e m = 1), transforma-o propriamente em um qubit, cujos estados fundamental g e excitado |e〉 são definidos, como |0〉 + |1〉 g ≡ p ; 2 |e〉 ≡ 18 |0〉 − |1〉 . p 2 (2.36) Figura 2.7: Os níveis de energia do CPB em termos da quantidade de pares extras na ilha. Os estados são definidos por |n〉, onde n é o número de pares de Cooper adicionais na ilha. As linhas pontilhada e tracejada mostram os níveis de energia dos estados |0〉 e |1〉. As linhas cheias coloridas mostram as energias quando EJ = EC . Na região n g = 1, a energia do gap entre dois estados adjacentes (fundamental e primeiro excitado) é distinguível da energia dos demais estados. Figura reproduzida e adaptada da referência [36]. 2.5 O transmon O transmon é essencialmente um qubit de carga constituído por um SQUID e é adicionado em paralelo um capacitor de capacitância CB , tão grande quanto a capacitância C g do porta, como mostrado na Figura 2.8. Diferentemente do CPB, que opera no regime EJ /EC ® 1, o transmon opera num regime EJ /EC > 1 (essencialmente EJ /EC 1). Seu Hamiltoniano é escrito quase como o Hamiltoniano do CPB, na equação (2.33), porém, devido ao SQUID, a energia Josephson sofre uma mudança e o Hamiltoniano é escrito na forma [14] Ĥ = EC n̂ − n g 2 − EJ0 cos Φ cos ϕ̂ , π Φ0 (2.37) onde EJ = EJ0 cos πΦ/Φ0 , com Φ sendo o fluxo magnético externo aplicado e Φ0 sendo o quanta de fluxo magnético, da equação (2.13). O termo do cosseno vem do fato de haver duas junções Josephson, no circuito do SQUID [33]. Pode-se fazer uma analogia entre o transmon e um sistema de um pêndulo simples em pequenas oscilações. A energia EJ seria 19 Figura 2.8: Esquema do circuito do transmon. O SQUID representado no circuito entre os nós a e b com uma energia Josephson EJ e um fluxo externo Φ aplicado. Um capacitor de capacitância adicional CB em série com o SQUID ligados ao capitador do porta de capacitância C g conectados a uma voltagem Vg . Reproduzido da referência [30]. a energia potencial devido à força peso e a energia EC seria a energia cinética. Assim, o termo EJ cos ϕ fica razoavelmente equivalente a um oscilador harmônico para os primeiros estados de energia, como mostrado na Figura 2.9. Figura 2.9: Gráfico qualitativo da consequência da razão EJ /EC 1. Quando EJ EC , pode-se fazer uma aproximação de pequenas oscilações, tornando o termo EJ cos ϕ (azul) equivalente a um oscilador harmônico (roxo) para os primeiros estados de energia. No eixo x está a fase ϕ e eixo y o módulo quadrado da função ψ do oscilador harmônico. São mostrados o estado fundamental (cinza) e o primeiro excitado (verde). As características que fazem do transmon uma boa escolha para codificar o qubit do sistema são o fato do mesmo possuir robustez contra a decoerência e o ruído de carga e ainda assim manter a anarmonicidade necessária, esta última sendo importante para ser 20 tratado como um sistema quântico de dois níveis [14], como observados nas Figuras 2.10 e 2.11. Com o aumento da razão EJ /EC , não se torna mais necessário a utilização do qubit Figura 2.10: Os gráficos mostram os três primeiros níveis de energia do transmon, pela razão entre a energia do m-ésimo nível com o primeiro, i.e. E01 , e n g . Pode-se observar que com o aumento da razão EJ /EC , não é mais necessário operar no ponto de degenerescência de caraga (do inglês, sweet spot), como o CPB. Mesmo assim, ainda é possível observar uma anarmonicidade, diferenciando os gaps de energia dos pares de estados adjacentes. no regime de degenerescência de carga, i.e. n g = 0.5 (para o caso da Figura 2.10 ), e mesmo assim ainda observa-se uma anarmonicidade entre os gaps de energia dos pares de estados adjacentes, necessária para se obter um qubit. Esta anarmonicidade é comentada rapidamente abaixo. Quantitativamente, fazendo a aproximação para pequenas oscilações, pode-se expandir o Hamiltoniano (2.33) que torna-se Ĥ ≈ 4EC n̂2 − EJ + EJ 2 ϕ̂ 2 − EJ 24 ϕ̂ 4 + . . . . (2.38) Será desconsiderado o termo de degenerescência de carga n g do transmon a partir de agora, por este apresentar um valor muito pequeno para o transmon [30]. O primeiro e terceiro 21 termos do Hamiltoniano são exatamente os termos do operador de energia de um oscilador harmônico. Pode-se então reescrevê-los em termos dos operadores bosônicos, tomando a forma 2 4EC n̂ + EJ 2 2 ϕ̂ = p † 8EJ EC â â + 1 2 , (2.39) e considerando ϕ̂ = ϕ Z P F ↠+ â , onde ϕ Z P F = φ Z P F /Φ0 e juntamente com ΩJ = ϕZ P F ≡ 2 EC EJ p (2.40) 8EJ EC /ħ h, de (2.39), obtém-se 1/4 . (2.41) Com isto, substituindo (2.41) no quarto termo de (2.38), tem-se − EJ 24 ϕ̂ 4 = − −EC ↠â − EJ ϕ Z4 P F ↠+ â 24 EC † † EC â â ââ − 2 4 4 EJ EC † â + â ≈ 2 24 EJ EC † 2 EC †4 ↠â3 + â†2 + â2 − â â + ↠− â + â4 , 6 12 (2.42) 4 =− onde os termos são dependentes de EC , de forma a serem suficientemente grandes para não serem desprezados. Tem-se então o Hamiltoniano aproximado na forma EC † † Ĥ ≈ −EJ + ħ hΩJ − EC ↠â − â â ââ + termos não-diagonais, 2 (2.43) cujas auto-energias sofrerão uma mudança devido ao último termo. Tais auto-energias podem ser encontradas calculando-se a aproximação de primeira ordem da teoria de perturbação. Das auto-energias, tira-se que a diferença entre dois pares de gaps de energias vizinhas da forma ∆Em+2,m+1 − ∆Em+1,m é definido como a anarmonicidade absoluta αm+1 , resul- 22 tando então em αm+1 ≡ −EC . (2.44) Quando comparamos a anarmonicidade αm+1 com a diferença de energia entre o estado p fundamental e o primeiro estado excitado ∆E01 ∼ 8EJ EC , a razão entre a anarmonicidade absoluta e ∆E01 torna-se a anarmonicidade relativa, definida como r αm+1 ≡− 8 EJ −1/2 EC . (2.45) Nota-se, portanto, que a anarmonicidade ainda existe, havendo um decréscimo de −EC com relação ao gap de energia anterior e seu descréscimo se dá algebricamente pela razão EJ /EC . Se considerar um transmon contendo a frequência de transição ∆E01 /h = 5 GHz e razão EJ /EC = 80, o valor típico de anarmonicidade será EC /h = 300 MHz. Considerando que o ponto de degenerescência não é essencial para o transmon, pode-se trabalhar com quaisquer valores de n g . Porém, isto acarreta em uma dispersão de carga que precisa ser levada em consideração. Não obstante, é necessário fazer uma correção de primeira ordem nos valores das auto-energias, devido aos ruídos causados por não se operar em sweet spot. Através de alguns cálculos perturbativos e aproximativos2 , encontra-se que a dispersão de carga do m-ésimo nível é dada por [14] m εm = (−1) EC v m+3 EJ 2 4 24m+5 t 2 m! π 2EC e− p 8EJ /EC , (2.46) levando ao resultado de que a dispersão de carga decai exponencialmente com a razão EJ /EC . Como o tempo T2 de decoerência3 é determinado pelo inverso da dispersão de carga, ele aumenta exponencialmente com a razão, chegando teoricamente na ordem de segundos, como observado na Figura 2.11. 2 3 Os cálculos podem ser acompanhados em detalhes na tese de S. Bishop, referência [30]. Detalhes adicionais sobre o tempo T2 de decoerência serão tratados na Seção 2.7. 23 Figura 2.11: A linha preta representa o gráfico do tempo T2 de decoerência em função da razão EJ /EC . Pode-se observar que quanto maior a razão, maior o tempo T2 , que cresce exponencialmente, podendo chegar teoricamente a segundos. Figura reproduzida da referência [14]. 2.6 Acoplamento do ressonador com o qubit Após a quantização da linha de transmissão, demonstrando que um ressonador pode ser tratado analogamente como uma cavidade que aprisionou a radiação eletromagnética e da equivalência entre um sistema macroscópico e um átomo de dois níveis, torna-se necessário uma discussão sobre como é feito o acoplamento de ambos. Consideremos primeiramente que o Hamiltoniano do sistema ressonador + qubit seja dado pela seguinte forma 2 Ĥ = ħ hω r ↠â + EC n̂ − n g − EJ cos ϕ̂ +Ĥacoplamento . | {z } | {z } Ĥressonador (2.47) Ĥqubit Escrevendo o Hamiltoniano do qubit Ĥqubit na base do número de pares de Cooper {|n〉}, tem-se Ĥqubit = X 4EC n − n g 2 |n〉 〈n| − n 24 EJ 2 (|n + 1〉 〈n| + |n〉 〈n + 1|) , (2.48) que pode ser reduzido para os estados com n = 0 e n = 1, devido a aproximação para um qubit. De modo a escrever a equação 2.48 acima como um Hamiltoniano conhecido do tipo pseudo-spin, pode-se efetuar uma mudança de base para que o qubit possa ser representado na mesma forma de um sistema de spin, onde a base {|0〉 , |1〉} é escrita na base de spin {|↑〉 , |↓〉} pela seguinte relação |0〉 = cos κ κ |↑〉 + sin |↓〉 , 2 2 κ κ |1〉 = − sin |↑〉 + cos |↓〉 , 2 2 (2.49) (2.50) onde κ ≡ tan−1 EJ /4EC (1 − 2n g ) . Realizando a troca de base, obtém-se o Hamiltoniano de pseudo-spin na forma Ĥqubit = − Eel 2 ˆz − σ̃ EJ 2 ˆ x, σ̃ (2.51) ˆ z e σ̃ ˆ x são os operadores de Pauli escritos na base de spin onde Eel = 4EC 1 − 2n g , σ̃ {|↑〉 , |↓〉}. Fazendo uma mudança de base novamente, retomando à base {|0〉 , |1〉}, o Hamiltoniano (2.51) toma a forma Ĥqubit = ħ h Ω0 2 σ̂z , (2.52) com Ω0 sendo a frequência de oscilação do sistema. O Hamiltoniano de interação ressonador-qubit Hacoplamento descreve o acoplamento essencialmente capacitivo entre o ressonador e o transmon. Tal acoplamento pode ser escrito na forma [30] Ĥacoplamento = 2β eVr0ms n̂ ↠+ â , (2.53) onde β = CG /CΣ é a razão entre a carga do porta e a carga total do sistema, e a carga do p elétron, n̂ o operador número de pares de Cooper e Vr0ms = ħ hω r /2C r é a voltagem quantizada do ressonador. Basicamente, é definido o acoplamento entre a linha de transmissão e o qubit como um acoplamento entre os pares de Cooper e a voltagem quantizada, onde o qubit 25 notará a presença do ressonador pela voltagem V (0, t) = Vr0ms ↠+ â [28]. Reescrevendo (2.53) na base {|0〉 , |1〉} de forma que Ĥacoplamento = 2 X β eVr0ms 〈i| n̂ j |i〉 j ↠+ â , (2.54) i, j=0,1 pode-se então definir a força de acoplamento ħ h g i, j = 2β eVr0ms 〈i| n̂ j , de modo que o Hamiltoniano (2.48) seja escrito como Ĥ = ħ hω r ↠â + ħ h Ω0 2 σ̂z + ħ h X g i, j |i〉 j ↠+ â . (2.55) i, j=0,1 i6= j A somatória P i, j=0,1 i6= j |i〉 j claramente denota termos não-diagonais |0〉 〈1| e |1〉 〈0|, consti- tuindo da transição entre os estados |0〉 e |1〉. Denotando tais termos como σ̂+ ≡ |1〉 〈0| e σ̂− ≡ |0〉 〈1|, pode-se representar a somatória sobre |i〉 〈 j como o operador de Pauli σ̂ x . Se g i, j = g j,i , o Hamiltoniano total (2.47) então é escrito como o conhecido Hamiltoniano de Rabi, Ĥ = ħ hω r ↠â + ħ h Ω0 2 σ̂z + ħ h g01 σ̂ x ↠+ â . (2.56) O Hamiltoniano de Rabi é um Hamiltoniano bem conhecido que descreve a interação da radiação com a matéria no contexto quântico. Ele contém um termo referente a um modo do campo quantizado, um termo referente ao estado atômico e um termo referente a interação entre ambos. Por ser já bem estudado e conhecido, ganha-se uma vantagem em conseguir descrever o circuito supercondutor em termos deste Hamiltoniano e alguns detalhes desta vantagem serão discutidos no Capítulo 3. 2.7 Ruídos em QED de Circuitos Nesta Seção, apresentaremos um breve comentário sobre os principais ruídos encontrados no qubit transmon, como também os ruídos resultantes de seu acoplamento com a linha de transmissão. 26 Essencialmente, um qubit é caracterizado por dois tempos de decoerência, os chamados tempos T1 e T2 . Tais tempos são essenciais, pois estabelecem o tempo limite de operações que podem ser realizadas no sistema quântico. Em Eletrodinâmica Quântica de circuitos, o tempo de relaxamento T1 é definido como sendo o tempo necessário para o qubit relaxar do primeiro estado excitado para o estado fundamental, enquanto que o tempo de defasamento T2 é o tempo no qual a fase entre dois auto-estados torna-se aleatória [34]. Em especial, o transmon experimentalmente mostrou-se com um tempo T2 = 2T1 , na faixa de 2µs sem a utilização de técnicas de “spin eco ”, sendo superior ao encontrado entre os qubits supercondutores [43]. Em um recente trabalho de Paik et al [44] em 2011, foi construído um transmon acoplado a um ressonador tridimensional, dando-lhe um tempo T2 ∼ 10 a 20µs. Outra notável diferença entre o transmon e os outros tipos de qubit supercondutores é sua imunidade ao ruído 1/ f [14]. Tal robustez ao ruído foi não só verificada experimentalmente, como observou-se também que o transmon não era susceptível a ruídos de fluxo ou de corrente crítica [43]. A seguir, serão listados alguns ruídos identificados no transmon, de acordo com a referência [14], onde encontra-se desenvolvida a sua principal base teórica. 2.7.1 Tempo de relaxação T1 Em razão do qubit estar acoplado a uma linha de transmissão, interagindo através do campo eletromagnético gerado nela, há um canal de decaimento radioativo inevitável, a relaxação por emissão espontânea. Utilizando-se de alguns tratamentos semi-clássicos da radiação, pode-se obter o tempo T1 devido a esse decaimento espontâneo. Através de um modelo realista de transmon, pode-se inferir o tempo T1 como sendo da ordem de 0.3 ms. O efeito Purcell, que está associado a alteração da emissão espontânea de um sistema ao ser colocado dentro de um ressonador, faz com que todos os níveis de transição do transmon sofram alterações em sua taxa de decaimento. Considerando relevante apenas a taxa de decaimento entre o primeiro estado excitado e o fundamental, tem-se um tempo T1 ∼ 16µs. Um importante canal de relaxação a ser verificado é a relaxação devido ao tunelamento das quasi-partículas. Tal perda deve ser considerada uma vez que pode haver um número 27 Figura 2.12: Gráfico do tempo T1 devido ao tunelamento de quasi-partículas versus a temperatura para uma razão EJ /EC = 60. Na barra vertical roxa tem-se a temperatura do transmon. Pode-se observar que para tal temperatura e EJ /EC , o tempo T1 é da ordem de 1s na temperatura típica de operação. Figura adaptada da referência [14]. ímpar de elétrons ou a quebra térmica dos pares de Cooper. Porém, uma vez que o transmon possui a razão EJ /EC 1 e é resfriado a cerca de 20 mK, há pouco efeito das quasi-partículas para este canal de ruído, fazendo com que, para um transmon com EJ /EC = 60, o tempo T1 devido ao tunelamento seja da ordem de 1 s, como é mostrado na Figura 2.12. Uma outra fonte de relaxação que deve ser considerada é a relaxação devido ao acoplamento com um fluxo externo. Como o transmon é essencialmente construído com um SQUID e este é acoplado a um fluxo magnético externo, tal relaxação é inevitável e, para um caso em que uma das junções Josephson possuam um desvio de 10% em relação a outra, o tempo T1 varia entre 20 ms a 1s, onde o tempo máximo (mínimo) é devido ao valor inteiro (semi-inteiro) do quanta de fluxo que passa por dentro do SQUID. Os tempos de relaxamento acima citados são os tipos mais comuns que poderiam ser verificados. No entanto, pelo fato de haver uma divergência entre as predições teóricas com os resultados experimentais, leva-se a acreditar que outras fontes de ruído possam ser tão importantes quanto, porém ainda são desconhecidas ou não muito bem compreendidas. Neste contexto físico, ainda há muito a ser feito para se descrever completamente as situações experimentais. 28 2.7.2 Tempo de defasamento T2 A origem do defasamento do qubit está usualmente associada às flutuações da frequência deste devido ao seu acoplamento com o ambiente. Devido às flutuações que acontecem na carga, fluxo e corrente, lidam-se com três tipos essenciais de ruídos: o ruído de carga, o ruído de fluxo e o ruído de corrente crítica. Como pode ser observado na Figura 2.11, o tempo T2 devido ao ruído de carga chega a ordem de 8s. Já o ruído de fluxo contribui com um tempo T2 ∼ 1µs. Porém, se o transmon for operado no regime de degenerescência de fluxo (operado de modo análogo ao feito para a degenerescência de carga, utilizando o fluxo), o tempo aumenta, chegando a aproximadamente 3.6ms. Para o ruído de corrente crítica, tem-se um tempo T2 ∼ 35µs. Outros tipos de defasamento que podem ser encontrados em qubits supercondutores são devidos ao tunelamento das quasi-partículas e o ruído EC (ruídos devido a flutuações da energia Coulombiana presente no SQUID). O primeiro não possui nenhuma influência no transmon pelo fato deste operar no regime EJ /EC 1, onde a dispersão de carga decai exponencialmente com a razão EJ /EC , fazendo com que uma única carga não tenha efeitos relevantes na frequência de transição. Para o ruído EC também não há nenhum efeito relevante observado no transmon que faça este ser considerado. 2.8 Não Classicalidade da Luz Estados não-clássicos da luz são, de imediato, provas do comportamento quântico da radiação eletromagnética. Em particular, um estado coerente ou um estado comprimido é de grande importância para os mais diversos experimentos: de teste para fundamentos da Mecânica Quântica [45] ao teleporte e metrologia quântica [23, 24]. Nas subseções seguintes serão brevemente descritos alguns dos estados utilizados e gerados nos processos aqui estudados, bem como métodos de análise do comportamento quântico dos estados gerados. São estes: os estados, coerente e o comprimido, a função de distribuição de quasi-probabilidade, a chamada função W q, p de Wigner [25, 46], e um critério de inseparabilidade (emaranhamento) de estados quânticos para variáveis contínuas, o critério de Duan-Giedke-Cirac- 29 Zoller [47]. 2.8.1 Estado Coerente O valor esperado do operador campo elétrico para um estado de número |n〉 genérico será 〈n| Ê x |n〉 = 0, independentemente do valor de n, uma vez que o campo elétrico varia senoidalmente com o tempo [25]. Porém, com o estado de Fock, é possível descrever apropriadamente o valor esperado do campo elétrico. Munidos desta motivação, apresentaremos o estado coerente, um estado quântico que se apresenta como sendo o limite entre os aspectos clássico e quântico do campo. Pode-se definir o operador campo elétrico para um único modo da radiação eletromagnética ao longo do eixo z e linearmente polarizado na direção x, com vetor de onda k pode ser escrito em termos dos operadores de criação e aniquilação na forma Ê x (z, t) = E0 ↠+ â sin(kz), (2.57) e também um estado |α〉 que seja auto-estado de â. Assim, â |α〉 = α |α〉 e pode-se expandir |α〉 como um conjunto completo de estados de Fock, |α〉 = ∞ X Cn |n〉. (2.58) n=0 Aplicando â em (2.58), tem-se â |α〉 = ∞ X ∞ X p Cn |n〉 , Cn n |n − 1〉 = α n=1 (2.59) n=0 e igualando ambos os coeficientes, encontra-se a relação de recorrência p Cn n = αCn−1 α Cn = p Cn−1 = n α2 αn Cn−2 = . . . p C0 . p n! n(n − 1) 30 (2.60) Substituindo (2.60) em (2.58), chega-se a ∞ X αn |α〉 = C0 p |n〉 , n! n=0 (2.61) que pela condição de normalização 〈α | α〉 = 1, determina-se C0 , como ∞ ∞ X ∞ 2 X 2 X |α|2n 2 |α|2 α∗ n αm 〈n | m〉 = C0 〈α | α〉 = C0 = C0 e , p n! n!m! n=0 n=0 m=0 C0 = e−|α| 2 /2 . (2.62) (2.63) Com isto, o estado coerente tem a forma final |α〉 = e−|α| 2 /2 ∞ X αn p |n〉 . n! n=0 (2.64) Pode-se definir a relação de completeza para o estado coerente sendo dada por uma integral sobre o plano α complexo, na forma Z 1 π |α〉 〈α| d 2 α = 1, (2.65) com d 2 α = dRe(α)dIm(α). Uma importante propriedade do estado coerente é apresentar um valor mínimo de incerteza para ambas as quadraturas do campo X̂ 1 e X̂ 2 , que são definidas como X̂ 1 = X̂ 2 = 1 p ↠+ â , 2 i p ↠− â . 2 (2.66) (2.67) Deste modo, se um estado quântico apresenta o valor mínimo de incerteza, considerando a relação de comutação X̂ 1 , X̂ 2 = i/2, a variância das quadraturas será mínima ¬ ∆X̂ 1 2 ¶ α = ¬ ∆X̂ 2 31 2 ¶ α = 1 4 . (2.68) Há uma outra maneira de definir o estado coerente: pela atuação do operador deslocamento no vácuo. O operador Deslocamento é definido como D(α) = exp α↠− α∗ â , (2.69) e este operador tem a propriedade de deslocar um estado localizado no espaço de fase por uma magnitude α, também atuando em um estado de vácuo e fazendo-o deslocar num estado coerente. Desta forma, D(α) |0〉 = |α〉 . (2.70) Diversas propriedades interessantes do estado coerente podem ser consultadas nas referências [25, 48, 49]. 2.8.2 Estado Comprimido Há uma classe de estados especialmente interessante chamada de estados comprimidos (estados de quadratura e número comprimidos). Tal estado é também denominado de estados com estatística sub-Poissoniana e possui a característica de apresentar uma compressão em uma das quadraturas do campo com o preço do alargamento da outra quadratura do campo. Condições estas que surgem da relação de incerteza ¬ ∆X̂ 1 2 ¶ ¬ ∆X̂ 2 2 ¶ ≥ 1 16 , (2.71) e portanto, para um estado ser considerado comprimido este deve satisfazer a condição ¬ 2.8.3 ∆X̂ 1 2 ¶ < 1 4 ¬ ou ∆X̂ 2 2 ¶ < 1 4 . (2.72) Função de distribuição de quasi-probabilidade W q, p de Wigner Uma importante função de distribuição de quasi-probabilidade sobre o espaço de fase é a função W q, p de Wigner, introduzida por Wigner em 1932 [46]. Tal função é definida 32 como sendo [25] ∞ ­ · 1 1 W (q, p) ≡ q + x ρ̂ q − x e i p x/ħh d x, 2πħ h −∞ 2 2 1 Z (2.73) ¶ com q ± 21 x sendo o autoestado do operador posição, p o momento e ρ̂ um operador densidade arbitrário. A função W (q, p) pode ser usada para se calcular médias, desde que a média do operador seja ordenada simetricamente. Como exemplo, para se calcular a média da função clássica qp, deve-se substituí-la por q̂p̂ + p̂q̂ /2, de maneira que a média tome a forma q̂p̂ + p̂q̂ = Z (qp + pq)W (q, p)dqd p. (2.74) Assim, para se obter uma média utilizando a função W (q, p) é necessário escrever o operador na ordenação simétrica, ou também chamada de função ordenada de Weyl. Para uma função genérica G(q̂, p̂), denota-se {G(q̂, p̂)}W para a ordenação simétrica, e então a média é calculada como sendo {G(q̂, p̂)}W = Z {G(q̂, p̂)}W W (q, p)dqd p, (2.75) correspondendo a uma média no espaço de fase. Para podermos entender melhor o papel da função W q, p , consideremos uma variável clássica x e uma densidade de distribuição clássica ρc (x) da variável x, de modo que obedeça a condição de normalização Z ρc (x)d x = 1. (2.76) Desta forma, a média de x do n-ésimo momento é definida como n 〈x 〉 = Z d x x n ρc (x). 33 (2.77) Introduzindo então uma função característica C(k), tal que C(k) = e ik x = Z dxe ik x ρc (x) = ∞ X (ik)n n=0 n! 〈x n 〉 , (2.78) obtemos ρc (x) apenas aplicando a transformada de Fourier, ρc (x) = 1 Z 2π d ke−ik x C(k), (2.79) desde que se conheça a função característica C(k). Introduzindo tal função para a Mecânica Quântica, pode-se definir a função característica de Wigner como sendo † ∗ CW (λ) ≡ Tr ρ̂eλâ −λ â = Tr ρ̂ D̂(λ) , (2.80) onde D̂(λ) é o operador deslocamento. Utilizando a equação (2.80), é possível encontrar a relação entre a função característica e a função de Wigner. Reescrevendo tal equação com ρ̂ em termos da função de Wigner e do estado coerente |α〉, tem-se † ∗ CW (λ) = Tr ρ̂eλâ −λ â Z = W (α) 〈α| e λ↠−λ∗ â 2 |α〉 d α = Z W (α)eλα ∗ −λ∗ α 2 d α, (2.81) e efetuando a transformada de Fourier no plano complexo, obtém-se a função de Wigner em termos da função característica CW (λ) W (α) ≡ 1 2π2 Z eλ ∗ α−λα∗ CW (λ)d 2 λ. (2.82) Apesar de ser possível calcular médias com W (α), ela não é uma função de distribuição de probabilidade propriamente dita, uma vez que pode exibir regiões de valores negativos no espaço de fase. Desta maneira, a função de Wigner é uma função de distribuição de quasiprobabilidades. A ocorrência destes valores negativos pode ser usada para caracterizar a não-classicalidade de alguns estados, exibindo inclusive efeitos de interferência associados ao estado quântico. 34 Como um exemplo, consideremos um estado coerente β que possui uma função de Wigner tal que W (α) = 2 π 2 e−2|α−β | , (2.83) e para o estado de número |n〉 toma a forma W (α) = 2 π 2 (−1)n L n (4 |α|2 )e−2|α| , (2.84) onde L n (ζ) é um polinômio de Laguerre. Para o estado de número, é possível notar que haverá valores negativos da função de Wigner. No Capítulo 4, é possível observar estados apresentando valores negativos através dos gráficos gerados. Mais detalhes sobre representações no espaço de fase quântico podem ser obtidos em [25]. 2.8.4 Critério de Inseparabilidade para Variáveis Contínuas O critério de inseparabilidade para variáveis contínuas, proposto por Duan, Giedke, Cirac e Zoller em 2000 [47], é um critério usado para se verificar o emaranhamento em estados bipartidos de variáveis contínuas. Seja ψ um estado quântico composto por duas partes, de forma que ψ = ψ a ⊗ ψ b . Podemos verificar o operador densidade associado ao estado ψ como sendo ρ̂ = ψ ψ, que é dita separável (não emaranhada e não mista) se e somente se, puder ser escrito na forma ρ̂ = X (a) pi ρ̂i (b) ⊗ ρ̂i , (2.85) i (a) (b) onde pi é o peso probabilístico de se obter ρ̂i ⊗ρ̂i que satisfaz a condição de normalização P i pi = 1. Para o caso em que não é possível escrever ρ̂ como a equação (2.85), é dito que o sistema é inseparável (emaranhado). É possível verificar sua inseparabilidade através do cálculo da soma da variância de operadores atuando em cada um dos dois sub-sistemas. Utilizando-se de um exemplo, a variância do operador posição x̂ i do sub-sistema i = a(b) é 35 dada por 2 ∆2 x̂ i ≡ x̂ i2 − x̂ i , (2.86) onde 〈〉 = Tr ρ̂ . De maneira a analisarmos as correlações entre os sub-sistemas, pode-se definir os operadores posição total e momento relativo, como sendo û = x̂ a + x̂ b p 2 v̂ = e p̂a − p̂ b . p 2 (2.87) Tomando como exemplo um circuito supercondutor e utilizando o operador Φ̂ e seu momento conjugado Q̂, posição e momento, respectivamente. A relação de comutação dos operadores Φ̂i e Q̂ i é tal que Φ̂i , Q̂ i 0 = 2iδii 0 4 . O princípio da incerteza de Heisenberg de 2 fine a relação ∆2 Φ̂i ≥ Φ̂i , Q̂ i 0 /∆2Q̂ i , de modo que a soma da variância dos operadores para uma matriz densidade separável é escrita como [50] ∆2 û + ∆2 v̂ ≥ 2. (2.88) Porém, para uma matriz densidade inseparável, a relação de comutação [û, v̂] = 0 e a soma da variância fica ∆2 û + ∆2 v̂ ≥ 0. (2.89) Assim, ∆2 û + ∆2 v̂ ≤ 2 é uma condição suficiente para se verificar correlação quântica do tipo emaranhamento em um sistema bipartido [47]. 2.9 Processos paramétricos Processos paramétricos têm sido estudados desde o Século XIX por Faraday e Raylegh e foram revisitados no Século XX com a introdução do maser e do laser, utilizando-se uma abordagem quântica. Seu estudo inicial era focado na investigação da amplificação da radi4 Considerando ħ h = 1 e os operadores adimensionais, sem perda de generalidade. 36 ação eletromagnética e, com o desenvolvimento da mecânica quântica, foi possível utilizar os processos paramétricos para um estudo mais detalhado sobre as propriedades estatísticas da radiação. Um dos primeiros trabalhos sobre algumas propriedades quânticas destes processos foi feito por Louisell et al. [51], mostrando que era possível ser feita uma medida simultânea da fase e do número de quanta limitados apenas pela incerteza de Heinsenberg e que a conversão de frequências via tais processos não possuíam flutuações de ponto zero. Em 1970, Burnham e Weinberg investigaram experimentalmente o processo espontâneo de conversão paramétrica descendente em um cristal não-linear de amônio dihidrogenofosfato [52], abrindo tal abordagem para os domínios da Eletrodinâmica Quântica de Cavidades. Desde então, os processos paramétricos são entendidos como processos não-lineares geralmente atribuídos à interação de um laser com um cristal não-linear. Este laser incidente é constituído por fótons de frequência ω0 que, ao interagirem com o cristal, geram fótons de frequências ω1 e ω2 . Deste efeito, são resultados dois tipos de processos: a conversão paramétrica descendente e a conversão paramétrica ascendente. 2.9.1 Conversão Paramétrica Descendente Para o caso em que um fóton incidente de frequência ω0 interagir com um cristal não-linear e resultar em dois fótons de frequências ω1 e ω2 menores, que possuam direção e módulo dos vetores de onda k1 e k2 diferentes, tais que ω0 = ω1 + ω2 , (2.90) k0 = k1 + k2 , (2.91) tem-se o processo de conversão paramétrica descendente [48] (do inglês, parametric downconversion, sigla PDC). Tais considerações feitas acima garantem a conservação de energia (equação (2.90)) e momento (equação (2.91)). A frequência ω0 é então denominada de frequência de bombeio, ω1 e ω2 são as frequências de signal e idler. Na Figura 2.13 tem-se um esquema representativo da conversão paramétrica de frequências. 37 Figura 2.13: Esquema representativo sobre um laser de bombeio de frequência ω0 e vetor de onda k0 incidindo em um cristal não-linear, gerando fótons signal de frequência ω1 e vetor de onda k1 e idler de frequência ω2 e vetor de onda k2 . O Hamiltoniano típico deste sistema é escrito na forma Ĥ = 2 X ħ hωi âi† âi + ħ h g 0 â1† â2† â0 + h.c. , (2.92) i=0 onde g 0 é a força de acoplamento entre os três modos. Considerando que o campo incidente de bombeio de frequência ω0 é constituído de um laser de bombeio intenso, pode-se tratar o modo â0 como um campo clássico de amplitude a0 = v0 e−iω0 t . Movido por este tratamento, o Hamiltoniano na representação de interação, obtém-se a seguinte forma Ĥ = ħ h g â1† â2† e−i (ω0 −ω1 −ω2 ) t + h.c. , (2.93) com g ≡ g 0 v0 . Devido aos limites da consideração feita na equação (2.93), sua validade é 2 dada para o caso em que n̂1 (t) , n̂2 (t) v0 . Uma das propriedades interessantes dos fótons gerados via conversão paramétrica descendente é seu comportamento não-clássico. Utilizando a relação cruzada [48] ¶ ¬ : n̂1 (t)n̂2 (t) : = : n̂2j (t) : + n̂ j (t) ( j = 1, 2), (2.94) e escrevendo-a em termos do Teorema da Equivalência Óptica para Operadores na Ordena38 ção Normal (detalhes no Apêndice A), tem-se ¬ ¶ ¬ ¶ 1/2 ¬ 2 2 ¶ 2 v v v 2 > v1 . 1 2 2 φ φ φ (2.95) A inequação (2.95) viola a Desigualdade de Schwarz [53], uma vez que esta implica na inequação obedecendo o critério ¬ ¶ ¬ ¶ 1/2 ¬ 2 2 ¶ 2 v v v 2 ≤ v1 , 1 2 2 φ φ φ (2.96) que é verificada como verdadeira para experimentos clássicos com a luz. Tal violação da Desigualdade de Schwarz mostra o caráter sem descrição clássica da conversão paramétrica descendente. Esta violação foi observada experimentalmente e discutida no trabalho de Nogueira et al., em 2001 [54]. Detalhes dos cálculos deste trabalho podem ser encontrados no trabalho posterior dos mesmos autores, em 2002 [55]. O resultado obtido na equação (2.95) reflete o fato de que em um experimento de conversão paramétrica de frequências, a taxa de contagem de coincidência em detectores espacialmente separados de dois fótons R12 é maior do que a taxa somada de ocorrência da contagem de coincidência para fótons no mesmo detector, i.e., R11 + R22 , onde R11 é a taxa para a detecção dois fótons signal e R22 é a taxa para a detecção de dois fótons idler. O experimento que demonstra este resultado é descrito no trabalho de Zou et al. [56], em 1991. Outros tipos de correlações não-clássicas, como correlações espaciais [57], e outras violações, como a violação da Desigualdade de Bell [58], são verificadas nas mais diversas montagens experimentais utilizando um cristal não-linear. Na óptica não-linear, é possível observar o avanços recentes, como por exemplo, com o experimento de Langford et al em 2011 [59], utilizando montagens experimentais mais complexas e eficientes. Além da óptica não-linear, algumas arquiteturas foram propostas para se investigar a conversão paramétrica descendente em circuitos supercondutores, como no trabalho de Marquardt em 2007 [60] e de Tian et al em 2008 [61]. 39 2.9.2 Conversão Paramétrica Ascendente Para o caso em que o fóton incidente de frequência ω0 interagir com o cristal não-linear e resultar em dois fótons de frequências ω1 e ω2 , tais que obedeçam a relação ω 0 = ω1 − ω2 , (2.97) e seus vetores de onda k0 , k1 e k2 obedecendo k0 = k1 − k2 (2.98) para ω1 > ω2 , tem-se o processo de conversão paramétrico ascendente (do inglês, parametric up-conversion, sigla PUC). A conservação de energia e momento é obtida considerando a contribuição vinda do cristal não-linear que é aquecido, causando uma adição de energia na equação 2.97 que não é ligada diretamente aos lasers signal ou idler. Uma discussão mais completa pode ser encontrada no trabalho de Armstrong et al. [62]. Uma das mais importantes motivações encontradas para a utilização da conversão paramétrica ascendente é o fato de ser possível converter um modo de frequência infra-vermelha em frequência da luz visível. Trabalhos pioneiros, como o de Midwinter e Warner [63], em 1967, eram capazes de obter a conversão ascendente com uma eficiência de 1%. Trabalhos posteriores mostram um significativo avanço, indo desde experimentos mais sofisticados, como a transferência da informação de uma imagem de infra-vermelho para luz verde [64] à experimentos que possibilitaram uma maior eficiência dos detectores [65]. Os experimentos não só avançaram em relação aos dispositivos de detecção e a qualidade dos lasers e cristais não lineares, mas tais experimentos com conversão ascendente passaram a descrever estados não-clássicos da luz e testes de fundamentos da Mecânica Quântica [66], além de serem usados para comunicação, computação e medidas quânticas através de correlações quânticas entre os vários modos da luz [65], a chamada imagem quântica. 40 Capítulo 3 Engenharia de Hamiltonianos Conversões paramétricas de frequências são processos não-lineares geralmente realizados em Óptica Quântica e têm sido amplamente estudados e aplicados em diversas situações[65, 67–69]. Juntamente a este cenário, a física dos circuitos supercondutores vem obtendo destaque em aplicações em Informação Quântica devido a sua possível escalabilidade relacionada a analogia com circuitos clássicos, uma vez que idealmente é possível construir um circuito com a quantidade desejável de linhas de transmissão e qubits e conectá-los uns aos outros, suas arquiteturas robustas contra ruídos [14] e seus longos tempos de decoerência [44]. Visando a implementação dos processos paramétricos neste afluente horizonte da tecnologia quântica, uma vez que a engenharia dos processos paramétricos já foi estudada em diversas arquiteturas, tanto em QED de cavidades [70, 71] quanto em QED de circuitos [72, 73], propusemos uma única arquitetura original e versátil para realização de processos paramétricos descendentes e ascendentes, apenas pela alteração da modulação temporal de um campo magnético da frequência de bombeio externo sob o qubit. 3.1 O sistema A arquitetura escolhida para o sistema consiste em dois ressonadores não interagentes de frequências ωa e ω b , respectivamente, acoplados a um átomo artificial transmon que será tratado como um qubit. A versatilidade do protocolo se encontra essencialmente na mo- 41 dulação temporal da frequência do qubit, que é realizada através de um fluxo magnético gerado por um indutor externo aplicado ao átomo artificial. A frequência do transmon é então dada por Ω(t) = Ω0 + ε f t , (3.1) onde Ω0 é o termo constante da frequência do qubit, ε é uma amplitude de modulação do campo externo temporalmente oscilante e f t é uma função arbitrária da série de Fourier, como proposto em [74] ∞ X ft = sk sin(kηt) + ck cos(kηt) , (3.2) k=0 onde η é uma frequência de modulação do campo externo. Esta modulação é a peça chave responsável por efetivamente ser obtida a conversão paramétrica descendente (PDC) ou a conversão paramétrica ascendente (PUC) entre os modos dos ressonadores a e b, como será mostrado adiante. O Hamiltoniano do sistema pode então ser escrito como um Hamiltoniano de Rabi, na seguinte forma Ĥ(t) = Ĥ0 (t) + X ħ h gα (α̂ + α̂† )(σ̂+ + σ̂− ), (3.3) α=a,b Ĥ0 (t) = X h ħ hωα α̂† α̂ + ħ α=a,b Ω(t) 2 σ̂z , (3.4) onde σ̂z e σ̂+ +σ̂− ≡ σ̂ x são os operadores usuais de Pauli e gα=a(b) é a força de acoplamento do modo do ressonador a(b) com o qubit, dada por [14] v v 1 uħ t hωα t 1 EJ 4 ħ h gα=a,b = 2β e 2C rα 2 8EC β≡ Cg CΣ (3.5) (CΣ = C g + CB + CJ ), onde C rα é a capacitância do ressonador α, CΣ a capacitância total do sistema, C g é a capacitância do gate, CB é a capacitância adicional do qubit e CJ é a capacitância da junção Joseph42 son. Reescrevendo o Hamiltoniano de cada modo (modo a com qubit e modo b com qubit) separadamente na representação de interação, através da transformação Û0 = exp i Ĥ0 t/ħ h Ĥ I ˙ †, = Û0 Ĥ Û0† − i Û0 Û 0 (3.6) obtém-se α α Ĥ Iα = ħ h gα e iΞ− α̂σ̂+ + e−iΞ− α̂† σ̂− + H.c. , (3.7) com Ξα+ Z ≡ t dτ[Ω(τ) ± ωα ]. (3.8) 0 Nota-se que agora toda a dinâmica do sistema encontra-se nos termos exponenciais. Por este motivo, faz-se uma expansão dos termos gα exp iΞα± que tomam a forma α gα e iΞ± = g̃α e ∞ X 1 i∆α t ± l=0 l! ∞ εX η k=1 l Λk e−ikηt − Λ∗k e ikηt , (3.9) P∞ onde a constante de acoplamento é agora redefinida como g̃α ≡ gα exp i(ε/η) k=1 k−1 sk e os outros parâmetros Λk ≡ − ck + isk , 2k ∆α± ≡ Ω0 + εc0 ± ωα , (3.10) (3.11) sendo a equação (3.11) a dessintonia entre o qubit e o ressonador para cada modo α. Fazendo uma escolha das frequências e alguns parâmetros do sistema baseados em parâmetros típicos dos experimentos neste contexto, obtém-se os valores apresentados na Tabela 3.1 abaixo. 43 Tabela 3.1: Valores típicos de frequências e parâmetros do sistema retirados ou baseados nas referências [14, 28] Expressão analítica Ω0 /2π ε/2π ω b /2π ξ/2π ωa /2π g a /π g b /π EC /h βa βb 3.2 Valor (GHz,*≡adimensional) 5.0 ∼ −0.7 4.8999 4.889 6.0920 ∼ 3.0 · 10−2 ∼ 1.0 · 10−4 0.3 0.3* 0.1* Conversão Paramétrica Descendente Estamos interessados na realização da chamada engenharia de Hamiltonianos para obter efetivamente o processo de conversão paramétrica de frequências em Eletrodinâmica Quântica de circuitos. A escolha adequada da frequência de modulação η determinará o tipo de processo que efetivamente será produzido no sistema. Para o caso da conversão paramétrica descendente, a frequência escolhida é η ≡ η P DC = Ω0 + εc0 + ωa + ω b − ξ, (3.12) onde ξ é uma frequência adicional na modulação do campo magnético aplicada ao qubit, cujo valor encontra-se na Tabela 3.1 e é ξ/2π = 4.889 GHz. Com um valor de η P DC /2π ∼ 11 GHz, encontra-se na faixa de frequências de modulação experimentalmente acessíveis1 [75]. Na Figura 3.1 encontra-se esboçada uma disposição das frequências, de acordo com seus respectivos valores, em comparação com a frequência de transição do qubit. Com os principais parâmetros definidos, pode-se expandir a equação (3.9) até a primeira ordem em k e l, onde termos como (ε/η)2 ou de ordem superior (cujo valor da potência está relacionado ao valor de l) podem ser negligenciados e termos k > 1 oscilam muito mais do que as outras frequências naturais do sistema (detalhes adicionais serão apresentados 1 É possível se verificar na referência [75] tal utilização de frequência modulada. O artigo utiliza-se destas frequências moduladas para se observar o efeito Casimir dinâmico em um circuito supercondutor. 44 adiante). Munidos destas considerações, faz-se propício definir a função f t , da equação Figura 3.1: Esquema pictórico (fora de escala) da disposição das frequências e dessintonias consideradas no sistema. É importante notar que, para fins de comparação das diferentes frequências do sistema, energia e frequência têm a mesma unidade arbitrária (ħ h = 1). São representados: frequência adicional ξ (azul claro), a frequência do ressonador b, ω b (azul), a frequência do ressonador a, ωa (vermelho), a frequência estática do qubit, Ω0 (marrom), sendo esta a frequência de transição entre os estados fundamental g e excitado |e〉 do qubit. A dessintonia entre o ressonador a e o qubit e entre o ressonador b e o qubit também são apresentadas. (3.2), na forma f t ≡ c0 + c1 cos ηt . (3.13) A equação (3.9) então toma a forma gα e iΞα± = gα e i∆α± t 1+ ε η Λ1 e −iηt +e iηt . (3.14) Expandindo os termos do Hamiltoniano (3.7), utilizando a equação (3.14) e adotando a 45 escolha para η = η P DC feita em (3.12), encontramos a b a Ĥ Ia ' ħ h g a e i∆+ t + θ e−iδ− t − e2i (∆+ +ω b ) t ↠σ̂+ + a b b b + ħ h g a e i∆− t + θ e−i (2ωa +δ− ) t − e i (2∆+ −δ+ ) t âσ̂+ + h.c., (3.15) b a b a Ĥ Ib ' ħ h g b e i∆+ t + θ e−iδ− t − e i (2∆+ +δ− ) t b̂† σ̂+ + b a a a + ħ h g b e i∆− t + θ e−i (2ω b +δ− ) t − e i (2∆+ −δ+ ) t b̂σ̂+ + h.c., (3.16) α com θ ≡ Λ1 ε/η P DC e δ∓ ≡ ωα ∓ ξ. Analisando (3.15) é possível notar as seguintes ca a racterísticas: os termos g a θ exp −iδ−b t e g a exp i∆− t possuem a menor frequência de q n̂a (onde n̂a é a média do número oscilação em relação aos outros termos; o termo g a de fótons do modo a) é muito menor do que a menor frequência do sistema (Ω0 e ωa ). Com estas considerações, a média temporal dos termos de maior frequência de oscilação pode ser desprezada e podemos considerar apenas os termos "menos oscilantes "[76]. Esta aproximação é chamada de Aproximação de Onda Girante (em inglês, Rotating-Wave Approximation, sigla RWA) [77], inicialmente proposta por Jaynes e Cummings em [78]. a Apesar do termo exp i∆− t ainda oscilar mais do que exp −iδ−b , este último é multiplicado por θ 1. Na média, ambos os termos podem ter contribuições relevantes para a dinâmica do sistema, assim é necessário mantermos ambos. Após efetuar a aproximação RWA, o Hamiltoniano do ressonador a acoplado ao qubit toma a forma b a Ĥ Ia ' ħ h g a θ e−iδ− t ↠σ̂+ + e i∆− t âσ̂+ + h.c.. (3.17) Uma vez que o ressonador a possui uma frequência fora de ressonância com o qubit e considerando que a razão entre a força de acoplamento vezes a raiz do número médio de fótons q a e a dessintonia entre qubit-ressonador é g a n̂a /∆− 1, faz-se necessária a realização do cálculo do regime dispersivo [28, 77], resultando em um Hamiltoniano da forma apro- 46 ximada b HˆIa ' ħ hζa θ 2 ↠â + 1/2 σ̂z + ħ h g̃ a θ e−iδ− t ↠σ̂+ + h.c. . (3.18) Aplicando a transformação unitária Û1 (t) = exp −iδ−b t/2(↠â + σ̂z ) em (3.18), obtemos o Hamiltoniano no referencial oscilante com frequência δ−b como sendo Hˆeaf f ' ħ h ζa θ 2 + δ−b σ̂z 2 +ħ hζa θ 2 ↠âσ̂z + ħ h g a θ ↠σ̂+ + ħ h g a θ âσ̂− , (3.19) onde ζa é a força de acoplamento no regime dispersivo, dada por [14] ħ hζa ' − β e v 2 ħ hωa t EJ 2C ra EC a ħ a −E 2EC ħ h∆− h∆− C . (3.20) Analisando agora o Hamiltoniano do ressonador b, em (3.16), nota-se que os termos g b θ exp −iδ−a t e g b exp i∆−b t possuem a menor frequência de oscilação com relação aos outros termos. O termo exp −iδ−a t é multiplicado por θ 1 e oscila muito mais do que exp i∆−b t . Desta forma, na média, o termo torna-se desprezível, restando apenas o termo oscilante exp i∆−b t . Após realizara aproximação RWA e tais considerações, o Hamiltoniano do ressonador b com o qubit fica b b Ĥ Ib ' ħ h g b e i∆− t b̂σ̂+ + ħ h g b e−i∆− t b̂† σ̂− . (3.21) Aplicando a transformação unitária Û2 (t) = exp −i∆−b σ̂z t/2 em (3.21), obtemos o Hamiltoniano no referencial oscilante com frequência ∆−b na forma Hˆebf f ' −ħ h ∆−b 2 σ̂z + ħ h g b b̂σ̂+ + ħ h g b b̂† σ̂− . (3.22) Uma vez obtidos os Hamiltonianos efetivos (3.19) e (3.22), analisaremos a dinâmica efetiva do sistema através de uma transformação unitária. Tal transformação unitária U P DC 47 foi escolhida como Û3 = exp ζa θ 2 ↠σ̂+ − âσ− + b̂σ+ − b̂† σ̂− . (3.23) Aplicando a transformação Û3 no Hamiltoniano efetivo total do sistema Hˆe f f = Hˆeaf f + Hˆebf f , obtém-se o Hamiltoniano efetivo para Conversão Paramétrica Descendente Hˆ P DC = Û3† Hˆe f f Û3 na forma Hˆ P DC ∆−b σ̂z + 2ħ hζa θ 2 g b σ̂ee − 2ħ hζa θ 2 g a θ σ̂ g g + 2 + 2ħ hζa θ 2 g a θ ↠â + g b b̂† b̂ σ̂z + + ħ hζa θ 2 g b + g a θ ↠b̂† + â b̂ σ̂z , ' −ħ hζa θ 2 (3.24) cujo parâmetro de acoplamento efetivo da PDC é Λ P DC /2π ≡ −ζθ 2 g b + g a θ /2π ' 200 MHz. As discussões e os detalhes adicionais envolvendo este resultado serão retomados no Capítulo 4 . 3.3 Conversão Paramétrica Ascendente De maneira análoga ao que foi feito com a Engenharia da PDC, desenvolveremos os mesmos passos para esta seção com o intuito de obter a Conversão Paramétrica Ascendente. Para tanto, deve ser escolhida uma frequência de modulação η adequada a efetivamente ser obtido um sistema que produza a conversão paramétrica ascendente. Esta frequência de modulação pode ser escolhida como η ≡ η PU C = ωa − ω b − γε, (3.25) onde γ é uma constante multiplicativa. Partindo do Hamiltoniano de interação (3.7), utilizando a frequência de modulação η PU C e realizando a RWA, obtém-se o Hamiltoniano do 48 modo a como sendo a b Ĥ 0aI ' ħ h g a e i∆− t + Θe i (∆− −γε) t âσ̂+ + h.c., (3.26) a com Θ ≡ Λ1 ε/η PU C . Como há uma dessintonia ∆− longe da ressonância e seu valor é tal q a n̂a /∆− 1, efetua-se o regime dispersivo e o Hamiltoniano toma a forma que g a Hˆ 0aI 'ħ hζa Θ 2 † â â + 1 2 b σ̂z + ħ h g a Θe i (∆− −γε) t âσ̂+ − h.c. , (3.27) que, aplicando a transformação unitária Û4 (t) = exp −i(∆−b − γε)t/2(↠â + σ̂z ) em (3.27), o Hamiltoniano torna-se Hˆ 0ae f f ' ħ h ζa Θ 2 − ∆−b 2 γ h g a Θâσ̂+ + ħ h g a Θ↠σ̂− . + ε σ̂z + ħ hζa Θ2 ↠âσ̂z + ħ 2 (3.28) Traçando o mesmo caminho que percorremos no caso anterior, saindo do Hamiltoniano de interação (3.7), utilizando η PU C e realizando a aproximação RWA, o Hamiltoniano do modo b torna-se b b Ĥ 0 Ib ' ħ h g b e i∆− t b̂σ̂+ + ħ h g b e−i∆− t b̂† σ̂− . (3.29) Aplicando uma transformação unitária Û5 (t) = exp −i∆−b t σ̂z /2 em (3.29), este toma a mesma forma de (3.22), sendo Hˆ 0 ebf f ' −ħ h ∆−b 2 σ̂z + ħ h g b b̂σ̂+ + ħ h g b b̂† σ̂− . (3.30) Realizando a seguinte transformação Û6 = exp Θ âσ̂+ − ↠σ̂− + b̂σ̂+ − b̂† σ̂− . 49 (3.31) Aplicando Û6 no Hamiltoniano total Hˆe0f f = Hˆ 0ae f f + Hˆ 0 ebf f , obtém-se Hˆ 0PU C = Û6† Hˆe0f f Û6 dado por Hˆ 0PU C ∆−b − γε σ̂z + ' −ħ hΘ 2 + 2ħ hΘ g a Θ↠â + g b b̂† b̂ σ̂z + g a Θ + g b σ̂ee + + ħ hλ PU C ↠b̂ + â b̂† σ̂z , (3.32) cujo parâmetro de acoplamento efetivo para PUC é λ PU C /2π ' 100kHz. Os detalhes das aproximações e as discussões em torno deste Hamiltoniano efetivo serão retomadas no Capítulo 4. 50 Capítulo 4 Resultados e Análises Neste capítulo serão discutidos os resultados obtidos, as aproximações feitas e os termos desprezados, bem como a validade do Hamiltoniano efetivo. Primeiramente será apresentado um breve apanhado sobre os pontos importantes do método proposto. O sistema proposto consiste em dois ressonadores independentes de frequências ωa e ω b , respectivamente, acoplados a um qubit transmon que possui uma frequência de transição em torno de Ω0 acrescida de um termo temporalmente dependente com uma amplitude de modulação ε, oscilante com frequência de modulação η. Esta frequência de modulação produz uma oscilação na frequência do qubit que, dependendo de uma escolha adequada, causa efetivamente um acoplamento entre ambos os ressonadores, gerando a emissão de pares de fótons gêmeos (para o caso do η P DC ) ou troca de energia entre os modos (para o caso do η PU C ). Na Figura 4.1 está representado, em forma de gráfico, o comportamento da frequência do qubit na presença da frequência de modulação η. É de suma importância notar que os ressonadores não estão acoplados entre si. Eles encontram-se acoplados somente com o qubit que por sua vez faz o papel de intermediário, não só efetivamente acoplando os ressonadores, como também sendo o responsável por causar correlações entre os fótons produzidos em cada ressonador, como será mostrado adiante. 51 Figura 4.1: Gráfico (fora de escala) que representa o comportamento da frequência do qubit Ω(t) em função do tempo t. A amplitude ε e a oscilação temporal η em termos de cos ηt estão igualmente representadas no gráfico. As constantes c0 e c1 são relativas à função escolhida e podem assumir valores próximos a 1. 4.1 Conversão Paramétrica Descendente Retornando ao Hamiltoniano efetivo para PDC, obtido na seção 3.2, ˆ P DC H ' 4ħ hζa θ 2 ∆−b 8 hζa θ + g b σ̂ee − 4ħ 2 + 2ħ hζa θ 2 g a θ ↠â + g b b̂† b̂ σ̂z + + ħ hζa θ 2 g b + g a θ ↠b̂† + â b̂ σ̂z , − ∆−b 8 + g a θ σ̂ g g + (4.1) onde utilizamos uma aproximação que desconsidera os termos ↠ââσ̂− , ↠↠âσ̂+ , ↠â b̂σ̂− e ↠â b̂† σ̂+ cujas frequências típicas destes são muito menores do que as associadas aos outros termos do Hamiltoniano (4.1). A validade da não inclusão destes termos no Hamiltoniano efetivo está principalmente ligada ao número médio de fótons do modo a e ainda se manterá válida enquanto n̂a < 100 (para os valores típicos listados na Tabela 3.1 e dessintonias da a ordem de ∆− ). A primeira linha do Hamiltoniano efetivo (4.1) representa um shift de energia nos estados do qubit, a segunda linha representa um shift de frequência tanto dos ressonadores quanto do qubit e a terceira linha representa a interação efetiva em si entre os ressonadores. 52 Atentando-se à terceira linha, observa-se que são criados e aniquilados fótons de ambos os ressonadores. Porém, devido à propriedade dos operadores de criação e aniquilação α̂† |n〉 = p n + 1 |n + 1〉 , p α̂ |n〉 = n |n − 1〉 , (4.2) (4.3) haverá sempre um valor líquido maior de fótons criados do que aniquilados, enquanto que o estado do qubit (σ̂z = σ̂ee − σ̂ g g ) mantém-se sem alteração das populações dos estados excitado e fundamental. Pode-se escrever o Hamiltoniano na representação de interação, uma vez que separemos todos os termos diagonais, i.e., os termos σ̂z , σ̂ee , σ̂ g g , ↠âσ̂z , b̂† b̂σ̂z , como sendo o Hamil toniano livre Hˆ0P DC . Definindo também a transformação unitária Û = exp −i Hˆ0P DC t/ħ h e aplicando-se assim esta nos termos restantes não diagonais ↠b̂† σ̂z e â b̂σ̂z . Obtém-se o Hamiltoniano na representação de interação HˆIP DC na forma HˆIP DC ' −ħ hΛ pd c e 4i b ∆− 8 +g b ζa θ 2 t ↠b̂† + e −4i b ∆− +g b 8 ζa θ 2 t â b̂ σ̂z , (4.4) onde Λ P DC /2π ≡ ζθ 2 g b + g a θ /2π ' 200 MHz (para os parâmetros típicos na Tabela 3.1). Este valor de força de acoplamento efetiva é da mesma ordem da força de acoplamento encontrada na literatura para um transmon acoplado a uma linha de transmissão [14]. Classifica-se o sistema em um regime de acoplamento forte, uma vez que a razão Λ P DC /Ω0 ∼ 0.04 encontra-se dentro desta faixa. De modo a testar a validade do Hamiltoniano efetivo e suas aproximações, deve-se utilizar o Hamiltoniano de Rabi (2.56) inteiro, sem qualquer aproximação, e resolvê-lo via cálculo numérico, utilizando os valores de frequências e parâmetros inicialmente definidos. Deve ser escolhido um estado inicial e aplicar o Hamiltoniano de modo que se observe a dinâmica do sistema. Utilizamos um estado ψ descrito por um estado coerente com o número médio de 2 fótons em cada ressonador e com o qubit no estado fundamental. O 53 estado coerente é descrito como na equação (2.64), |α〉 = e −|α|2 /2 ∞ X αn p |n〉 , n! n=0 (4.5) onde |α|2 é o número médio de fótons. O estado inicial do sistema ψ é então dado por ∞ X 2 2 αa β b g a b , ψ = g ⊗ |α〉 ⊗ β = e− |α| +|β | /2 p a!b! a,b=0 (4.6) com g sendo o qubit no estado fundamental, |α|2 sendo o número médio de fótons do 2 modo a e β sendo o número de fótons do modo b. Utilizando um código escrito em MATLAB, aplica-se o Hamiltoniano de Rabi (2.56) no estado ψ da equação (4.6). Como resultado do cálculo numérico, foram obtidos os gráficos da probabilidade de ocupação dos estados do qubit (Figura 4.2), do número médio de fótons para o ressonador a (Figura 4.3), bem como da função de Wigner do modo a para diferentes tempos (Figuras 4.1 e 4.1) e o gráfico da variância do critério de inseparabilidade para diferentes tempos (Figura 4.8). Também foram obtidos gráficos para o número médio de fótons para o ressonador b (Figura 4.3) e da sua função de Wigner (Figuras 4.1 e 4.1). 1 ,0 0 0 0 ,9 9 5 P r o b a b ility o f o c c u p a tio n 0 ,9 9 0 0 ,9 8 5 P e P g 0 ,9 8 0 0 ,0 0 0 1 0 0 2 0 0 3 0 0 g a t ( p a r a m e tr iz e d tim e ) Figura 4.2: Gráfico da probabilidade de ocupação dos estados fundamental g (vermelho) e excitado |e〉 (preto) do qubit versus o tempo parametrizado em função da força de acoplamento g a . 54 2 ,0 1 5 N ú m e r o m é d io d e fó to n s d o m o d o b N ú m e r o m é d io d e fó to n s d o m o d o a 2 ,0 1 5 2 ,0 1 0 2 ,0 0 5 2 ,0 0 0 0 5 0 1 0 0 1 5 0 2 0 0 2 5 0 3 0 0 2 ,0 1 0 2 ,0 0 5 2 ,0 0 0 0 g a t ( te m p o p a r a m e tr iz a d o ) 5 0 1 0 0 1 5 0 2 0 0 2 5 0 3 0 0 g a t ( te m p o p a r a m e tr iz a d o ) Figura 4.3: Número médio de fótons do modo a (a esquerda) e b (a direita) de acordo com a evolução de um estado coerente de um número médio de 2 fótons em cada modo e resolvido numericamente via o Hamiltoniano de Rabi, utilizando os parâmetros da Tabela 3.1. O gráfico da Figura 4.2 mostra a evolução temporal das populações dos estados fundamental e excitado sob a atuação do Hamiltoniano de Rabi (2.56). Observa-se a existência de termos não diagonais no qubit através das pequenas oscilações de inversão de população da ordem de 10−3 , indicando que a razão destes com relação aos termos diagonais do Hamiltoniano efetivo (4.1) torna-se suprimida e pode ser negligenciada para tempos maiores. Os gráficos da Figura 4.3 mostram o número médio de fótons com relação ao tempo de evolução do estado sob a atuação do Hamiltoniano de Rabi, em unidades de tempo parametrizado g a t. É possível notar que efetivamente se obtém um aumento no número médio de fótons do modo a e do modo b durante o tempo de evolução do sistema, como esperado pelo Hamiltoniano efetivo (4.4). Sobrepondo ambos os gráficos, torna-se mais fácil observar algumas relações entre ambos os modos. O gráfico da Figura 4.4 apresenta tal sobreposição para um estado inicial coerente com um número méio de 1 fóton em cada modo, este último sendo escolhido apenas por tornar mais fácil a visualização das oscilações. Neste gráfico, é possível observar as rápidas oscilações de grande amplitude do número médio de fótons do modo a e uma relação entre os oscilações deste número de fótons em forma de batimento formadas pelo modo a com as oscilações do número médio de fótons do modo b. Tais oscilações no modo a podem ser interpretadas como a manifestação dos termos Anti-Jaynes-Cummings, 55 1 ,0 0 2 0 N ú m e r o m é d io d e fó to n s 1 ,0 0 1 5 1 ,0 0 1 0 1 ,0 0 0 5 1 ,0 0 0 0 m o d o a m o d o b 0 ,9 9 9 5 0 ,9 9 9 0 0 2 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 2 0 g a t ( te m p o p a r a m e tr iz a d o ) Figura 4.4: Número médio de fótons dos ressonadores a (vermelho) e b (azul) versus o tempo parametrizado g a t para um estado coerente inicialmente contendo um número médio de 1 fóton em cada ressonador. utilizados para a obtenção do Hamiltoniano efetivo, enquanto que os batimentos no modo a e a oscilação no modo b possuem certa correlação quântica, analisada através de cálculos da função de Wigner [25, 46] para diferentes tempos, como mostrado mais adiante. 56 Figura 4.5: Função de Wigner para um estado coerente com um número médio de 1 fóton antes da evolução do sistema através do Hamiltoniano de Rabi (2.56), utilizando os parâmetros da Tabela 3.1. Efetuamos inicialmente o cálculo da função de Wigner para o estado coerente com um número médio de 1 fóton, cujo resultado é mostrado no gráfico da Figura 4.5. De modo a analisar o comportamento da evolução temporal do estado sob a ação do Hamiltoniano de Rabi, foram gerados dois gráficos da função de Wigner do estado de cada modo em g a t ≈ 53 (Figuras 4.1 e 4.1) e g a t ≈ 124 (Figuras 4.1 e 4.1). Como pode-se observar na Figura 4.1, há a presença de uma deformação de forma triangular no espaço de fase, indicando a tendência do estado para se comprimir na quadratura X̂ 1 e algumas regiões negativas, resultado de correlações não-clássicas. Voltando a atenção para a Figura 4.1, nota-se uma forte compressão na quadratura X̂ 2 . Se comparados com os gráficos para tempos maiores (Figuras 4.1 e 4.1), fica evidente que a compressão do modo a tende para a quadratura X 1 , enquanto que a compressão do modo b se mantém na quadratura X 2 . Tais compressões indicam que os estados do modo a e do modo b encontram-se correlacionados quanticamente entre si. Como comprovação não só das características quânticas dos estados separadamente, mas também da correlação não clássica entre ambos, foi feito o cálculo do critério de inseparabilidade (Seção 2.8.4). É possível observar no gráfico da Figura 4.8 a presença de emaranhamento entre os fótons gerados para diferentes tempos, uma vez que para valores menores que 2, 57 Figura 4.6: Função de Wigner para o modo a (à direita) em um tempo parametrizado g a t ≈ 53. A presença de deformações no inicialmente círculo (Figura 4.5) indica uma tendência para a compressão do estado na quadratura X̂ 1 , relevando o caráter quântico do estado. Função de Wigner para o modo b (à esquerda) em um tempo parametrizado g a t ≈ 53. A presença de uma deformação acentuada em uma das quadraturas mostra a compressão do estado na quadratura X̂ 2 quemostra o comportamento quântico do estado. a variância plotada neste gráfico indica estados não-separáveis [47, 50]. Estes resultados numéricos corroboram a predição do Hamiltoniano efetivo (4.4) para a geração de fótons gêmeos nos ressonadores a e b. 58 Figura 4.7: Função de Wigner para o modo a (à direita) em um tempo parametrizado g a t ≈ 124. Se comparado com a Figura 4.1, nota-se uma acentuação na compressão da função no eixo X 1 e regiões negativas, mostrando o comportamento quântico do estado. Função de Wigner para o modo b (à esquerda) em um tempo parametrizado g a t ≈ 124. A função continua comprimida na quadratura X̂ 2 , apesar de perder um pouco da compressão obtida anteriormente, se comparada com a Figura 4.1. S e p a rá v e l 2 ,0 V a r iâ n c ia E m a ra n h a d o 1 ,8 1 ,6 0 3 0 6 0 9 0 1 2 0 g at Figura 4.8: Variância ∆2 u + ∆2 v versus o tempo parametrizado g a t. O gráfico apresenta o cálculo do critério de inseparabilidade de variáveis contínuas para diferentes tempos, utilizando-se o estado resultante do cálculo numérico. Valores abaixo de 2.0 resultam em um sistema emaranhado, enquanto que para valores superiores, o sistema encontra-se separável. 59 4.2 Conversão Paramétrica Ascendente Retomando o Hamiltoniano efetivo para PUC Hˆ 0PU C ∆−b − γε ' −ħ hΘ σ̂z + 2 + 2ħ hΘ g a Θ↠â + g b b̂† b̂ σ̂z + g a Θ + g b σ̂ee + + ħ hλ PU C ↠b̂ + â b̂† σ̂z , (4.7) onde os termos ↠↠σ̂− , ↠ââσ̂+ , ↠â b̂σ̂+ e ↠â b̂† σ̂− que são proporcionais à n̂a foram desconsiderados desde que n̂a ® 1 se mantenha. Os termos na primeira linha são diagonais e portanto contribuem apenas como um shift na energia do sistema, enquanto que o termo principal e responsável pela conversão paramétrica é o termo da terceira linha, onde ↠b̂ e â b̂† são responsáveis pela troca de energia entre os modos. Escrevendo o Hamiltoniano na representação de interação, obtém-se HˆI0PU C ' ħ hλ PU C e2i ( g a Θ+g b )Θt ↠b̂ + e−2i ( g a Θ+g b )Θt â b̂† Continuando a análise da natureza dessas oscilações, foi calculada a função de Wigner para os dois modos com um estado coerente inicial com um número médio de 1 fóton em cada modo e dois gráficos de cada modo para tempos distintos foram gerados, como apresentam as Figuras 4.8 e 4.10, para g a t ≈ 106, e Figuras 4.8 e 4.11, para g a t ≈ 160. Um gráfico para o estado coerente inicial com número médio de 1 fóton foi gerado (Figura 4.9), de modo a servir de parâmetro para os gráficos em tempos maiores. Analisando os gráficos do modo a para os diferentes tempos (Figuras ?? e 4.8), nota-se uma tendência da função a ser comprimida na quadratura X̂ 1 e uma tendência a acentuar uma região negativa (não-clássica), denotando suas características quânticas devido aos termos ↠↠σ̂− , ↠ââσ̂+ , ↠â b̂σ̂+ e ↠â b̂† σ̂− . Dos gráficos do modo b para os diferentes tempos (Figuras 4.10 e 4.11), torna-se claro que a compressão mantém-se na quadratura X̂ 2 e as regiões negativas são mais evidentes. Dado que o estado do modo a tende à compressão na quadratura X̂ 1 e o estado do modo 60 Figura 4.9: Função de Wigner para um estado coerente inicial com um número médio de 1 fóton. Figura 4.10: Função de Wigner para o modo a (à direita) em um tempo parametrizado g a t ≈ 106. É notável a presença de deformações, fazendo o gráfico se assemelhar a um triângulo, indicando uma tendência para a compressão do estado na quadratura X̂ 1 . Tal compressão demonstra seu caráter quântico. Função de Wigner para o modo b (à esquerda) em um tempo parametrizado g a t ≈ 106. A deformação acentuada da função na quadratura X̂ 2 mostra que o estado possui um caráter quântico e relacionado com o modo a. 61 Figura 4.11: Função de Wigner para o modo a (à direita) em um tempo parametrizado g a t ≈ 160. Se comparado com a Figura 4.8, nota-se uma acentuação na compressão da função e nos valores negativos, confirmando seu caráter quântico. Função de Wigner para o modo b (à esquerda) em um tempo parametrizado g a t ≈ 160. A função continua comprimida na quadratura X̂ 2 , mantendo sua característica quântica. b se encontra comprimido na quadratura X̂ 2 , fica evidente a correlação não-clássica dos fótons gerados em ambos os ressonadores. Obtivemos então o processo de PUC acrescido de fatores de compressão adicionais que são referentes ao número médio de fótons > 1 no modo a. 62 Capítulo 5 Conclusão Nesta dissertação foi apresentado um método original para se obter diferentes processos paramétricos de conversão de frequências em Eletrodinâmica Quântica de circuitos através apenas da escolha adequada de um parâmetro temporalmente dependente adicionado ao sistema. Utilizando-se de uma frequência de modulação temporal no qubit (átomo artificial), foi possível obter tanto a conversão paramétrica descendente (PDC) quanto a conversão paramétrica ascendente (PUC), apenas ajustando adequadamente o valor desta modulação. Apresentamos inicialmente, no Capítulo 2, um estudo sobre a Eletrodinâmica Quântica de circuitos através da quantização da linha de transmissão e de dois tipos de qubit baseados na junção Josephson, o CPB e o transmon, bem como as características de ambos. Foi escolhido o transmon, nesta dissertação, por apresentar uma robustez contra o ruído de carga e o ruído 1/ f , além da não necessidade de se operar no regime de degenerescência de carga, ou sweet spot, e apresentar um incremento no tempo T2 de decoerência, tornando-o um excelente candidato para o sistema proposto. Após a escolha do qubit a ser utilizado, apresentamos como ocorre seu acoplamento com a linha de transmissão e também uma rápida descrição sobre os tipos de ruídos relevantes nele encontrados. Também foram discutidos a não-classicalidade da luz e alguns tipos de estados quânticos da luz, como o estado coerente e o estado comprimido, apresentando suas características relevantes. Apresentamos a função de distribuição de quasi-probabilidade de Wigner, uma importante ferramenta para a análise dos resultados obtidos, bem como o critério de inseparabilidade de variáveis con63 tínuas, utilizado para verificar que há o emaranhamento nos fótons gerados pelo sistema proposto. De forma mais abrangente, foram introduzidos os processos de conversão paramétrica descendente e ascendente no âmbito da óptica não-linear. Em seguida, no Capítulo 3, foi apresentado o sistema em si, constituído de duas linhas de transmissão não interagentes conectados ao transmon capacitivamente. O transmon se encontra sob a ação de uma frequência de modulação externa que tem um papel essencial na obtenção dos processos de conversão de frequências. Com uma escolha adequada do valor da modulação externa, o qubit é capaz de realizar efetivamente o acoplamento entre os dois ressonadores, produzindo os processos desejado. Após definidos os valores dos parâmetros e frequências do sistema, foram efetuadas algumas aproximações no Hamiltonianos de Rabi, como a aproximação de onda girante que desconsidera os termos que temporalmente oscilam muito mais do que a força de acoplamento. Também foram feitas aproximações para se obter o Hamiltoniano no regime dispersivo, uma vez que a diferença entre as frequências do ressonador e do qubit é muito maior do que a força de acoplamento. Algumas transformações unitárias adicionais foram utilizadas para eliminar as dependências temporais, tornando os efeitos desejados mais evidentes para, por fim, serem obtidos os Hamiltonianos efetivos para PDC e PUC. A força de acoplamento efetiva obtida é da ordem de 200 MHz para PDC, classificando-o em um regime de acoplamento forte, e da ordem de 100 kHz para PUC, classificando-o em um regime de acoplamento fraco. No Capítulo 4, foram discutidos todos os aspectos resultantes das aproximações e escolhas feitas no Capítulo 3. Para o Hamiltoniano efetivo PDC, foi observado um crescimento do número de fótons, partindo-se de um cálculo numérico utilizando o Hamiltoniano de Rabi (2.56) sem nenhuma aproximação. Uma análise através de gráficos da função de Wigner para os fótons gerados nos ressonadores a e b, mostrou haver uma compressão de cada um dos modos em quadraturas diferentes durante a evolução do sistema, inferindo uma correlação quântica entre ambos os fótons. Para se apurar a existência de tal correlação, foi feito o cálculo da variância dos operadores escritos em termos das quadraturas do campo que mostrou haver emaranhamento entre os fótons gerados. Para o Hamiltoniano efetivo PUC, observou-se uma troca de fótons entre os dois modos a e b, novamente partindo-se 64 do cálculo numérico utilizando o Hamiltoniano de Rabi. Gráficos da função de Wigner mostraram novamente uma correlação quântica, através da compressão dos modos em quadraturas diferentes do campo devido ao efeito de termos extras no Hamiltoniano de PUC, como discutido na Seção 4.2. Os cálculos numéricos apresentados no Capítulo 4 corroboram as aproximações feitas no Capítulo 3 para a obtenção dos Hamiltonianos efetivos. Como uma perspectiva futura interessante, é a possibilidade de seguir a análise para um sistema aberto e verificar como se dá sua dinâmica na presença de ruído, da troca de energia com o ambiente e da perda de coerência quântica. Devido a uma pequena variação na frequência de modulação ou na amplitude de modulação ser capaz de produzir efeitos não desejados e até mesmo não esperados, é possível investigar o papel crucial de tais escolhas de modulação adicionadas à dinâmica de sistemas quânticos mais complexos, acoplados a mais qubits e ressonadores. Tais possibilidades poderiam levar a esquemas mais efetivos para a produção de fótons gêmeos em Eletrodinâmica Quântica de circuitos. Além disto, a proposta apresentada é altamente viável experimentalmente, uma vez que os valores utilizados condizem com as possibilidades tecnológicas atuais. O protocolo proposto foi apresentado a pesquisadores experimentais do Quantronics Group, do CEA-Saclay, França e sua implementação foi discutida. Detalhes como a modelagem do circuito: como posicionar cada ressonador, o qubit, o modulador de frequências e os canais de leitura; implementação de um modulador de frequências, que pode ser tanto um campo magnético variável quanto um capacitor modulado; as limitações quanto ao fator de qualidade e também a supressão do ruído no canal de carga através de uma geometria adequada. Tais considerações discutidas confirmaram a possibilidade do protocolo ser construído e testado. Uma possível realização experimental pode ser proposta posteriormente para se testar a versatilidade contra o tempo de decoerência. 65 Apêndice A Teorema da Equivalência Óptica para Operadores na Ordenação Normal Este Apêndice segue os passos feitos na referência [48], necessário para se construir uma relação das grandezas que serão usadas para se verificar a desigualdade de Schwarz. Considerando uma função qualquer de ordenação normal g (N ) (â, ↠) do operador de aniquilação â e criação ↠como sendo escrito na forma de uma série de potências na forma g (N ) (â, ↠) = X cnm â†n â m . (A.1) n,m O valor esperado de (A.1) no estado caracterizado pelo operador densidade ρ̂ é dado por g (N ) (â, ↠) = Tr ρ̂ g (N ) (â, ↠) (A.2) Utilizando-se da definição de ρ̂ como ρ̂ = Z φ(v) |v〉 〈v| d 2 v, 66 (A.3) reescrevemos (A.2) na forma g (N ) Z † (â, â ) = Tr φ(v) X cnm |v〉 〈v| â†n â m d 2 v n,m = Z φ(v) X cnm 〈v| â†n â m |v〉 d 2 v. (A.4) n,m Como 〈v| é autoestado de â†n e |v〉 é autoestado de â m , tem-se que 〈v| â†n â m |v〉 = v ∗n v m e, portanto, g (N ) † (â, â ) = Z φ(v) X cnm v ∗n v m d 2 v n,m = Z φ(v)g (N ) (v, v ∗ ) d 2 v, (A.5) pode-se dizer que o valor esperado da função g (N ) (â, ↠) é encontrado pela substituição dos operadores ↠e â pelos seus autovalores v ∗ e v e pelo valor médio da função resultante g (N ) (v, v ∗ ) sob todo o plano-v complexo com φ(v) sendo uma função de ponderação. Uma vez que podemos definir o valor esperado de g (N ) (v, v ∗ ) através da relação Z φ(v)g (N ) (v, v ∗ ) d 2 v ≡ g (N ) (v, v ∗ ) φ , (A.6) onde tem-se o valor médio do ensemble 〈〉φ com respeito a função de ponderação φ(v), notase que o valor esperado quântico é determinado da mesma forma que o valor esperado de uma função c-number correspondente em Óptica Clássica. A equação (A.6) pode ser escrita como g (N ) â, ↠≡ g (N ) (v, v ∗ ) φ . (A.7) O termo à direita significa a média do ensemble com respeito à densidade do espaço de fase φ (v), enquanto que o termo à esquerda denota o valor esperado usual da Mecânica Quântica. (A.7) Como um exemplo de aplicação desta relação, consideremos o número médio de fótons 67 n̂ = ↠â que é escrito como 〈n̂〉 = |v|2 φ , (A.9) que, para um estado coerente caracterizado por um número médio de v 02 , é escrito na forma 〈n̂〉 = Z 2 |v|2 δ2 v − v 0 d 2 v = v 0 . 68 (A.10) Referências Bibliográficas [1] P. W. Shor, “Algorithms for quantum computation: Discrete logarithms and factoring,” SFCS ’94 Proceedings of the 35th Annual Symposium on Foundations of Computer Science (1994), 10.1109/SFCS.1994.365700. [2] D. P. DiVincenzo and D. Loss, “Quantum information is physical,” Superlattices and Microstructures 23, 419 – 432 (1998). [3] J. W. Beams, Rydberg Atoms (Cambridge University Press, Cambridge, UK, 1994). [4] H. Carmichael, R. Brecha, and P. 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