Área: CV ( ) CHSA ( x ) ECET ( ) MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA Coordenadoria de Pesquisa – CPES Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Bloco 06 – Bairro Ininga Cep: 64049-550 – Teresina-PI – Brasil – Fone (86) 215-5564 E-mail: [email protected] O PROJETO DE PROFISSÃO DO PSICÓLOGO BRASILEIRO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS Cybelle Carvalho Lima (aluna de Iniciação Científica Voluntária - UFPI); João Paulo Sales Macedo (orientador, Depto de Psicologia – UFPI - Campus de Parnaíba) Introdução: Os saberes e práticas da Psicologia foram se constituindo ao longo das conjunturas sociais, políticas e econômicas de cada período histórico que se demarcava. Além de que esses referenciais foram importantes para delinear o percurso profissional pelo qual seus profissionais iam construindo a legitimidade de seus fazeres e de seus conhecimentos. A Psicologia, até a data de sua regulamentação fora considerada uma profissão elitizada, das classes burguesas, um profissional liberal, onde sua competência técnica era restrita a psicoterapia individual e a aplicação de testes (YAMAMOTO, 2012). No entanto, a partir da década de 80, época em que a sociedade civil se reorganiza em movimentos populares na busca de novas bases politicas e conquistas de alguns direitos no campo das políticas públicas, a Psicologia se aproximando desses movimentos adentrou o campo da saúde e da assistência (YAMAMOTO, 2010). Onde, segundo esse mesmo autor, na saúde os psicólogos adentraram por meio do movimento da Reforma psiquiátrica, passando a compor uma equipe de saúde mental. Na assistência, passou a integrar as equipes do SUAS, como o CRAS e o CREAS, sendo assim considerado um profissional de referencia para ocupar tal espaço. Isso sinalizou outro importante processo para a Psicologia, que fora o processo de interiorização, uma vez que os cenários de implantação dessas politicas de assistência eram as cidades de pequeno porte com características rurais. Diante esse panorama, a Psicologia se institucionalizou e os profissionais psicólogos se tornaram profissionais assalariados ao lado dos assistentes sociais. Em consequência, esse novo campo fez com que os psicólogos passassem a trabalhar com as questões sociais, com as classes populares, com suas necessidades. Estas se configuram como discussões distantes das práticas dos psicólogos, uma vez que inserida no campo das políticas socais de assistência, suas práticas ainda permanecem ancoradas nas suas bases teóricas tradicionais (DANTAS, 2013; YAMAMOTO, 2010). Mas o que de fato essa inserção provocou na Psicologia? Ambos os autores ressaltam que esse deslocamento nos faz problematizar o que estamos fazendo nessas Políticas Públicas. Diante disso, o presente relatório tem por objetivo descrever e analisar o processo pelo qual a Psicologia enquanto profissão veio sofrendo a partir da conjuntura história, política e social, a fim de problematizar e pensar sua prática para o campo das Políticas Públicas de saúde e assistência; extrair os desafios enfrentados pelos psicólogos nesses espaços, observando as novas alternativas para que se possam superar alguns conservadorismos ainda presentes nas suas intervenções. Assim, pensar num projeto político da profissão, num compromisso social e numa postura política que se comprometa com a transformação da realidade, visualize outro projeto societário, no qual, junto a população, supere as estruturas opressoras da sociedade (YAMAMOTO, 2012). Metodologia: A pesquisa foi realizada com base num estudo exploratório, onde se fez um levantamento bibliográfico e documental sobre o psicólogo brasileiro e os desafios para a formação e o exercício profissional em comparativo com os estudos sobre o trabalho do assistente social, que tem na história da sua profissão aspectos semelhantes ao do psicólogo. Assim, foram feitas leituras de textos do Serviço Social e extraindo marcadores para problematizar a Psicologia no campo das Políticas Públicas. Uma vez identificado o material disponível, procedeu-se na análise tendo como base as dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas da profissão. Posteriormente, foram analisados textos do Conselho Federal de Psicologia no intuito de extrair destes os desafios enfrentados pelos psicólogos tanto no campo da saúde quanto no campo da assistência. Analisando também, referencias de práticas inovadoras da Psicologia e a possibilidade de se construir um projeto ético-politico para a profissão. Resultados e discussões: A partir dos movimentos do Serviço Social ocorridos nesse mesmo processo de redemocratização do país, a categoria vislumbrava, segundo Silva (2011) fazer uma análise de suas bases teóricas e práticas frente à clientela da qual atendia e diante ao Estado. A fim de superar com os conservadorismos presentes na profissão e construir outro projeto profissional de ruptura (SILVA, 2011). Analisando ambas as profissões no campo das políticas sociais, foram encontradas similaridades na intenção de suas práticas e ao modo como operavam em prol dos objetivos da classe dominante. Mas, havia também algumas particularidades, uma vez que a Psicologia agia no sujeito e o Serviço Social nas famílias. Assim, para pensar e refletir a Psicologia, foram encontrados como marcadores do Serviço Social o discurso do compromisso e da responsabilidade social para a profissão. Onde esse compromisso e essa reponsabilidade social significa disponibilizar a Psicologia em prol das classes populares, fazendo-se útil a sua nova clientela e a sociedade (YAMAMOTO, 2010 e DANTAS, 2013). Outra categoria extraída das discussões do Serviço Social, que se faz importante os psicólogos refletirem é o caráter político-ideológico da profissão. De fato, a inserção do psicólogo no campo das Políticas Públicas, em especial o campo da assistência possibilitou um alargamento e ampliação da atuação do psicólogo. Em meio a todas essas complexidades, foi observado ao ler Dantas (2013) e Yamamoto (2010), que as práticas dos profissionais da Psicologia ainda se configuram como tradicionais, e que por conta desse não rompimento efetivo, esta tem sofrido muitas dificuldades de atender não só as diretrizes que a assistência tem lhe exigido, mas o próprio contexto social e as reais necessidades de sua nova clientela. Nas discussões feitas pelo Conselho Federal de Psicologia foram encontrados tantos outros desafios para a Psicologia no campo das Políticas Públicas. Na saúde, CFP (2001), traz que precisa passar pelas discussões dos psicólogos a situação sobre os processos de saúde, e o conceito de saúde. A interdisciplinaridade, onde os psicólogos, deslocados de seu campo de saber precisam dialogar com os profissionais que compõem a equipe e desenvolver novas intervenções. O fato da “Psicologia ter limitadas possibilidades de expressão concreta de suas intervenções”, isto é, a dificuldade que esta tem de mostra-se útil à sociedade (CFP, 2005). A “crise da identidade profissional”, na medida em que, no campo das Políticas Públicas (de saúde e de assistência), os psicólogos pouco sabem ainda que práticas irão desenvolver. A relação do Estado com a categoria; maior competência analítica sobre o contexto, sendo fragilizados na capacidade de “analisar os seus espaços de intervenções” e a partir dessas análises críticas construírem ferramentas cujo lhes possibilitem uma ação política. O campo da formação, cujos dados encontrados acerca dos currículos ressaltam que ainda é uma formação distante da realidade, e pouco pensa a produção de um novo conhecimento e um novo exercício profissional baseado nas determinações e constituintes da questão social (DANTAS, 2013). Pensar num projeto ou projetos éticos-politico para a profissão (YAMAMOTO, 2012). Na assistência, dialogar seus conhecimentos e possivelmente desprender-se de sua “competência técnica” tradicional/conservadora com vulnerabilidade social e determinações da pobreza, matricialidade familiar, territorialização, “superar práticas clientelistas e assistencialistas” (DANTAS, 2013). Conclusões: Visualizamos para Psicologia novos espaços, vínculos com uma nova classe, a necessidade de repensar suas práticas de modo a romper com o seu tradicionalismo, vimos a imersão de discussões como o compromisso, responsabilidade de sua ação profissional, questões advindas das problemáticas sociais oriundas e produzidas pelo contexto histórico que outrora a Psicologia não fazia, ou se fazia, mas com pouca expressividade. O campo da assistência promoveu nos saberes psicológicos uma fissura na identidade profissional, exigindo uma postura mais implicada com as classes populares. De fato, o campo das politicas públicas despiu a Psicologia e a provocou outra postura frente a esses vínculos com a sociedade. A desafiou quando a colocou para pensar suas bases constituintes; e como possibilidades, conseguiu-se produzir algumas experiências inovadoras nesse novo campo e alguns poucos movimentos organizados por parte da categoria, cujo pensasse a construção de um projeto ético-politico da profissão que garantam esse nível de discussões, na qual contemple os marcadores que demarcam as diretrizes das politicas públicas de saúde e especialmente as politicas sociais de assistência. Apoio: UFPI Referências CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. I Seminário Nacional de Psicologia e Políticas Públicas. Políticas Públicas como um desafio para os psicólogos, Salvador, 2001. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. III Seminário Nacional de Psicologia e Políticas Públicas. Identidade Profissional e Políticas Públicas: O diálogo corporativo com o Estado, Salvador, 2005. DANTAS, C. M. B. A ação do Psicólogo na Assistência social: “interiorização da profissão” e combate à pobreza. Natal, RN, 2013. SILVA, M. O. e S. O Serviço Social e o popular: resgate teórico-metodológico do projeto profissional de ruptura. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2001. YAMAMOTO, O. H, OLIVEIRA, I. F. de. Política Social e Psicologia: Uma trajetória de 25 anos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, n. especial, p 9-24, 2010. YAMAMOTO, O. H. 50 anos de profissão: responsabilidade social ou Projeto Ético-Político. Psicologia Ciência e Profissão, v. 32, n. especial, p. 6-17, 2012. Palavras-chave: Políticas Públicas. Compromisso social. Psicologia.