o projeto de profissão do psicólogo brasileiro e as políticas públicas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI
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O PROJETO DE PROFISSÃO DO PSICÓLOGO BRASILEIRO E AS POLÍTICAS
PÚBLICAS
Cybelle Carvalho Lima (aluna de Iniciação Científica Voluntária - UFPI); João Paulo Sales
Macedo (orientador, Depto de Psicologia – UFPI - Campus de Parnaíba)
Introdução: Os saberes e práticas da Psicologia foram se constituindo ao longo das conjunturas
sociais, políticas e econômicas de cada período histórico que se demarcava. Além de que esses
referenciais foram importantes para delinear o percurso profissional pelo qual seus profissionais iam
construindo a legitimidade de seus fazeres e de seus conhecimentos. A Psicologia, até a data de sua
regulamentação fora considerada uma profissão elitizada, das classes burguesas, um profissional
liberal, onde sua competência técnica era restrita a psicoterapia individual e a aplicação de testes
(YAMAMOTO, 2012). No entanto, a partir da década de 80, época em que a sociedade civil se
reorganiza em movimentos populares na busca de novas bases politicas e conquistas de alguns
direitos no campo das políticas públicas, a Psicologia se aproximando desses movimentos adentrou o
campo da saúde e da assistência (YAMAMOTO, 2010). Onde, segundo esse mesmo autor, na saúde
os psicólogos adentraram por meio do movimento da Reforma psiquiátrica, passando a compor uma
equipe de saúde mental. Na assistência, passou a integrar as equipes do SUAS, como o CRAS e o
CREAS, sendo assim considerado um profissional de referencia para ocupar tal espaço. Isso
sinalizou outro importante processo para a Psicologia, que fora o processo de interiorização, uma vez
que os cenários de implantação dessas politicas de assistência eram as cidades de pequeno porte
com características rurais. Diante esse panorama, a Psicologia se institucionalizou e os profissionais
psicólogos se tornaram profissionais assalariados ao lado dos assistentes sociais. Em consequência,
esse novo campo fez com que os psicólogos passassem a trabalhar com as questões sociais, com as
classes populares, com suas necessidades. Estas se configuram como discussões distantes das
práticas dos psicólogos, uma vez que inserida no campo das políticas socais de assistência, suas
práticas ainda permanecem ancoradas nas suas bases teóricas tradicionais (DANTAS, 2013;
YAMAMOTO, 2010). Mas o que de fato essa inserção provocou na Psicologia? Ambos os autores
ressaltam que esse deslocamento nos faz problematizar o que estamos fazendo nessas Políticas
Públicas. Diante disso, o presente relatório tem por objetivo descrever e analisar o processo pelo qual
a Psicologia enquanto profissão veio sofrendo a partir da conjuntura história, política e social, a fim de
problematizar e pensar sua prática para o campo das Políticas Públicas de saúde e assistência;
extrair os desafios enfrentados pelos psicólogos nesses espaços, observando as novas alternativas
para que se possam superar alguns conservadorismos ainda presentes nas suas intervenções.
Assim, pensar num projeto político da profissão, num compromisso social e numa postura política que
se comprometa com a transformação da realidade, visualize outro projeto societário, no qual, junto a
população, supere as estruturas opressoras da sociedade (YAMAMOTO, 2012).
Metodologia: A pesquisa foi realizada com base num estudo exploratório, onde se fez um
levantamento bibliográfico e documental sobre o psicólogo brasileiro e os desafios para a formação e
o exercício profissional em comparativo com os estudos sobre o trabalho do assistente social, que
tem na história da sua profissão aspectos semelhantes ao do psicólogo. Assim, foram feitas leituras
de textos do Serviço Social e extraindo marcadores para problematizar a Psicologia no campo das
Políticas Públicas. Uma vez identificado o material disponível, procedeu-se na análise tendo como
base as dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas da profissão. Posteriormente, foram
analisados textos do Conselho Federal de Psicologia no intuito de extrair destes os desafios
enfrentados pelos psicólogos tanto no campo da saúde quanto no campo da assistência. Analisando
também, referencias de práticas inovadoras da Psicologia e a possibilidade de se construir um projeto
ético-politico para a profissão.
Resultados e discussões: A partir dos movimentos do Serviço Social ocorridos nesse mesmo
processo de redemocratização do país, a categoria vislumbrava, segundo Silva (2011) fazer uma
análise de suas bases teóricas e práticas frente à clientela da qual atendia e diante ao Estado. A fim
de superar com os conservadorismos presentes na profissão e construir outro projeto profissional de
ruptura (SILVA, 2011). Analisando ambas as profissões no campo das políticas sociais, foram
encontradas similaridades na intenção de suas práticas e ao modo como operavam em prol dos
objetivos da classe dominante. Mas, havia também algumas particularidades, uma vez que a
Psicologia agia no sujeito e o Serviço Social nas famílias. Assim, para pensar e refletir a Psicologia,
foram encontrados como marcadores do Serviço Social o discurso do compromisso e da
responsabilidade social para a profissão. Onde esse compromisso e essa reponsabilidade social
significa disponibilizar a Psicologia em prol das classes populares, fazendo-se útil a sua nova clientela
e a sociedade (YAMAMOTO, 2010 e DANTAS, 2013). Outra categoria extraída das discussões do
Serviço Social, que se faz importante os psicólogos refletirem é o caráter político-ideológico da
profissão. De fato, a inserção do psicólogo no campo das Políticas Públicas, em especial o campo da
assistência possibilitou um alargamento e ampliação da atuação do psicólogo. Em meio a todas
essas complexidades, foi observado ao ler Dantas (2013) e Yamamoto (2010), que as práticas dos
profissionais da Psicologia ainda se configuram como tradicionais, e que por conta desse não
rompimento efetivo, esta tem sofrido muitas dificuldades de atender não só as diretrizes que a
assistência tem lhe exigido, mas o próprio contexto social e as reais necessidades de sua nova
clientela. Nas discussões feitas pelo Conselho Federal de Psicologia foram encontrados tantos outros
desafios para a Psicologia no campo das Políticas Públicas. Na saúde, CFP (2001), traz que precisa
passar pelas discussões dos psicólogos a situação sobre os processos de saúde, e o conceito de
saúde. A interdisciplinaridade, onde os psicólogos, deslocados de seu campo de saber precisam
dialogar com os profissionais que compõem a equipe e desenvolver novas intervenções. O fato da
“Psicologia ter limitadas possibilidades de expressão concreta de suas intervenções”, isto é, a
dificuldade que esta tem de mostra-se útil à sociedade (CFP, 2005). A “crise da identidade
profissional”, na medida em que, no campo das Políticas Públicas (de saúde e de assistência), os
psicólogos pouco sabem ainda que práticas irão desenvolver. A relação do Estado com a categoria;
maior competência analítica sobre o contexto, sendo fragilizados na capacidade de “analisar os seus
espaços de intervenções” e a partir dessas análises críticas construírem ferramentas cujo lhes
possibilitem uma ação política. O campo da formação, cujos dados encontrados acerca dos currículos
ressaltam que ainda é uma formação distante da realidade, e pouco pensa a produção de um novo
conhecimento e um novo exercício profissional baseado nas determinações e constituintes da
questão social (DANTAS, 2013). Pensar num projeto ou projetos éticos-politico para a profissão
(YAMAMOTO, 2012). Na assistência, dialogar seus conhecimentos e possivelmente desprender-se
de sua “competência técnica” tradicional/conservadora com vulnerabilidade social e determinações da
pobreza, matricialidade familiar, territorialização, “superar práticas clientelistas e assistencialistas”
(DANTAS, 2013).
Conclusões: Visualizamos para Psicologia novos espaços, vínculos com uma nova classe, a
necessidade de repensar suas práticas de modo a romper com o seu tradicionalismo, vimos a
imersão de discussões como o compromisso, responsabilidade de sua ação profissional, questões
advindas das problemáticas sociais oriundas e produzidas pelo contexto histórico que outrora a
Psicologia não fazia, ou se fazia, mas com pouca expressividade. O campo da assistência promoveu
nos saberes psicológicos uma fissura na identidade profissional, exigindo uma postura mais implicada
com as classes populares. De fato, o campo das politicas públicas despiu a Psicologia e a provocou
outra postura frente a esses vínculos com a sociedade. A desafiou quando a colocou para pensar
suas bases constituintes; e como possibilidades, conseguiu-se produzir algumas experiências
inovadoras nesse novo campo e alguns poucos movimentos organizados por parte da categoria, cujo
pensasse a construção de um projeto ético-politico da profissão que garantam esse nível de
discussões, na qual contemple os marcadores que demarcam as diretrizes das politicas públicas de
saúde e especialmente as politicas sociais de assistência. Apoio: UFPI
Referências
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. I Seminário Nacional de Psicologia e Políticas
Públicas. Políticas Públicas como um desafio para os psicólogos, Salvador, 2001.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. III Seminário Nacional de Psicologia e Políticas
Públicas. Identidade Profissional e Políticas Públicas: O diálogo corporativo com o Estado, Salvador,
2005.
DANTAS, C. M. B. A ação do Psicólogo na Assistência social: “interiorização da profissão” e
combate à pobreza. Natal, RN, 2013.
SILVA, M. O. e S. O Serviço Social e o popular: resgate teórico-metodológico do projeto profissional
de ruptura. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
YAMAMOTO, O. H, OLIVEIRA, I. F. de. Política Social e Psicologia: Uma trajetória de 25 anos.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, n. especial, p 9-24, 2010.
YAMAMOTO, O. H. 50 anos de profissão: responsabilidade social ou Projeto Ético-Político.
Psicologia Ciência e Profissão, v. 32, n. especial, p. 6-17, 2012.
Palavras-chave: Políticas Públicas. Compromisso social. Psicologia.
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