UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE QUÍMICA PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS – GEOQUÍMICA AMBIENTAL LEONARDO REVOREDO FRAZÃO AVALIAÇÃO DE BIOMARCADORES MOLECULARES E HISTOLÓGICOS EM ESPONJA Hymeniacidon heliophila PARA APLICAÇÕES AMBIENTAIS NITERÓI 2013 LEONARDO REVOREDO FRAZÃO AVALIAÇÃO DE BIOMARCADORES MOLECULARES E HISTOLÓGICOS EM ESPONJA Hymeniacidon heliophila PARA APLICAÇÕES AMBIENTAIS Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre. Área de concentração: Geoquímica Ambiental. Orientador: Prof. Dr. Wilson Thadeu Valle Machado Co-orientadores: Prof. Dr. Cristiano Carvalho Coutinho Prof. Dr. Ricardo Erthal Santelli NITERÓI 2013 F848 Frazão, Leonardo Revoredo. Avaliação de biomarcadores moleculares e histológicos em esponja Hymeniacidon heliophila para aplicações ambientais / Leonardo Revoredo Frazão. – Niterói : UFF. Programa de Geoquímica, 2013. 84 f. : il. color. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Geociências - Geoquímica Ambiental) - Universidade Federal Fluminense, 2013. Orientador: Prof. Dr. Wilson Thadeu Valle Machado. Co-orientadores: Prof. Dr. Cristiano Carvalho Coutinho, Prof. Dr. Ricardo Erthal Santelli. 1. Biomarcadores. 2. Biomonitoramento. 3. Proteína. 4. Esponja (Zoologia). 5. Cádmio. 6. Ecossistema marinho. 7. Produção intelectual. I. Título. CDD 593.4 AGRADECIMENTOS Gostaria de eternizar, por meio deste registro, meus agradecimentos às pessoas que tornaram possível, ou pelo menos, menos penoso, a realização deste trabalho. Agradecer à minha família que, além do suporte financeiro, me passaram questões morais não possíveis de se aprender em escolas ou faculdades. Ao Prof. Dr. Wilson Thadeu Valle Machado, que abraçou a ideia e me orientou de forma singular na produção desta dissertação. Ao Prof. Dr. Cristiano Carvalho Coutinho, que através de seus longos anos de estudos e experiência, possibilitou o desenvolvimento das esponjas em aquário e, ainda, no fornecimento dos estudos histológicos, uma proposta que enriqueceu muito este trabalho. Ao Prof. Dr. Ricardo Erthal Santelli, agradeço pela confiança e toda a logística e material que deixou disponíveis a mim, pois sem estes, seria impossível realizar este estudo. Meu agradecimento ao Dr. Rodrigo Cunha Wanick pelos ensinamentos desde a época da graduação e que se perduraram até o mestrado. Apesar das dificuldades enfrentadas (trabalhar com biomarcadores às vezes é espinhoso), sem dúvida os frutos começam a ser recolhidos. Aos professores Dra Elisamara Sabadini Santos e Dr. Renato Campelo Cordeiro pelas contribuições realizadas na pré banca. Aos meus amigos de laboratório, Aline e Bernardo, um especial agradecimento, por toda ajuda na determinação dos metais. Sem vocês, realmente, as coisas ficariam complicadas. Aos meus amigos da turma de mestrado, que juntos, compartilhamos aflições e alegrias durante esta etapa em nossas vidas. Por fim, agradeço à todos os membros do Programa de Pós-Graduação em Geoquímica da UFF e à CAPES pela bolsa concedida. RESUMO O potencial de bioacumulação de metais; capacidade de expressar biomarcadores moleculares (como a indução de proteínas semelhantes a metalotioneínas, MTLPs); e biomarcadores histológicos (quantidade de canais aquíferos, câmaras coanocitárias e fibras de colágeno) foram estudados na esponja Hymeniacidon heliophila. Em aquário, foi realizada exposição da esponja a diferentes concentrações de cádmio (controle; 0,05; 0,4 e 4 mg L -1 de Cd) ao longo de determinados períodos de tempo (tempo zero, 24 horas, 7 dias e 14 dias). Também foi avaliada a ocorrência de MTLPs e as concentrações de metais potencialmente indutores da síntese dessas proteínas (Cd, Ni, Cu e Zn) em H. heliophila proveniente diretamente da praia da Boa Viagem, situada na Baía de Guanabara (RJ). No experimento em aquário, a esponja acumulou uma concentração máxima de 114 mg Cd Kg-1, após 14 dias de exposição a 4 mg L-1 deste metal. Este valor corresponde a 14 vezes o encontrado em esponjas do aquário controle. Por meio da técnica de eletroforese (SDS-Page) aliada a derivatização com monobromobimano, foi possível observar forte indução de MTLPs apenas nas amostras expostas a 0,4 mg L-1 de Cd nos períodos de 24 horas e 7 dias. As técnicas de histologia utilizadas para evidenciar os efeitos morfológicos causados pela exposição ao Cd revelaram que em 24 horas houve diminuição na quantidade das estruturas analisadas. A partir desse período, nas esponjas submetidas a 4 mg L-1 de Cd, houve tendência de diminuição (exceto para fibras colágenas) das estruturas, enquanto em 0,4 mg L-1 de Cd houve tendência de estabilização e, em 0,05 mg L-1 de Cd, recuperação. No estudo na praia da Boa Viagem, em nenhuma das cinco coletas realizadas, foi constatada indução de MTLPs. As médias das concentrações de metais encontradas no tecido das esponjas foram: 0,28 mg Cd kg-1, 46,3 mg Cu kg-1, 2 mg Ni kg-1 e 965 mg Zn kg-1. Estes valores são elevados quando comparados às concentrações reportadas para outros organismos da Baía de Guanabara. Assim, a alta eficiência em acumular metais (observada na praia da Boa Viagem) e a capacidade de induzir MTLPs e respostas histológicas (frente à exposição ao Cd), indicam possibilidades para utilização de H. heliophila em futuros programas de biomonitoramento. Palavras-chave: Biomonitoramento. Biomarcadores. Metalotioneínas. Histologia. Esponja. Hymeniacidon heliophila. Cádmio. ABSTRACT The metal bioaccumulation potential, the expression of molecular biomarkers (induction of metallothionein-like proteins, MTLPs) and histological biomarkers (number of channels, choanocyte chambers and collagen fibers) were studied in the sponge Hymeniacidon heliophila. Exposure experiments to different concentrations of cadmium (<0.01, 0,05, 0,4 and 4 mg L-1 Cd) along different time intervals (t = 24 hours, 7 days and 14 days) were performed under controlled (aquarium) conditions. The occurrence of MTLPs and metal concentrations potentially involved in inducing the synthesis of these proteins (Cd, Ni, Cu and Zn) were also investigated in H. heliophila directly sampled from the Boa Viagem beach, located in Guanabara Bay (RJ). In the aquarium experiment, the sponge accumulated a maximum concentration of 114 mg Cd kg-1 after 14 days of exposure to 4 mg L-1 of this metal. This corresponds to 14 times the concentration found in sponges found in a control aquarium. Electrophoresis (SDS-PAGE) combined with monobromobimano derivatization indicated a strong induction MTLPs only in samples exposed to 0,4 mg L-1 Cd in periods of 24 hours and 7 days. The histological techniques used to reveal the morphological effects caused by exposure to Cd revealed that within 24 hours there was a decrease in the quantity of the analyzed structures. In the study carried out in Boa Viagem beach, there was absence of MTLPs induction along the five sampling periods evaluated. The mean concentrations of metals found in the tissue of the sampled sponges were: 0,28 mg kg-1 Cd, 46,3 mg kg-1 Cu, Ni 2 mg kg-1 and 965 mg kg-1 Zn. These values are higher than concentrations reported for other organisms from Guanabara Bay. Thus, the high efficiency in accumulating metals (found in the Boa Viagem beach) and the ability to induce MTLPs and histological responses (under high Cd exposure) indicate possible uses of H. heliophila in future biomonitoring programs. Keywords: Biomonitoring. Biomarkers. Hymeniacidon heliophila. Cadmium. Metallothioneins. Histology. Sponge. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Representação esquemática dos diferentes níveis de organização biológica frente à exposição a contaminantes. .......................................................... 19 Figura 2- Morfologia geral de uma esponja marinha. As setas representam o fluxo de água através da esponja. ES= espícula; PI= pinacócito; CO= coanócito; CC= câmara coanocitária; AR= arqueócito. ...................................................................... 24 Figura 3- Localização do ponto de coleta de água (ponto vermelho) para cultivo das esponjas em laboratório, próxima a Ilha de Cataguases (23°1'32.71" Sul, 44°17'2.74" Oeste), situada na região sul do estado do Rio de Janeiro. ...................................... 31 Figura 4- Detalhe das esponjas agregadas em placas de Petri em estrutura “varal”.32 Figura 5- Aquário com esponjas Hymeniacidon heliophila dispostas em “varal” para aclimatização e cicatrização dos explantes ............................................................... 32 Figura 6- Representação esquemática do sistema vertical de eletroforese SDSPAGE. ....................................................................................................................... 40 Figura 7- Diagrama esquemático do protocolo de extração ..................................... 42 Figura 8- Localização da praia da Boa Viagem situada na Baía de Guanabara, Niterói. ....................................................................................................................... 43 Figura 9- Localização dos pontos de coleta na praia da Boa Viagem. ..................... 44 Figura 10- Concentração de cádmio em Hymeniacidon heliophila nos tempos zero, 24 horas, 7 e 14 dias à exposição a 0,05, 0,4 e 4 mg L-1 de Cd e controle. .............. 46 Figura 11- Relação entre a concentração de Cd presente na água com o encontrado no tecido de H. heliophila. Cada curva representa a tendência para cada tempo de exposição com seus coeficientes. ............................................................................. 46 Figura 12- Fotografias de géis com proteínas extraídas de amostras de Hymeniacidon heliophila expostas ao Cd por três períodos: 24 horas (gel 1), 7 dias (gel 2) e 14 dias (gel 3). As raias que indicam 0,2, 0,6 e 1,0 µg correspondem aos padrões de MT aplicados em cada gel. As raias indicam as amostras de esponjas submetidas a controle (A), 0,05 (B), 0,4 (C) e 4 mg L -1 de Cd (D). Em destaque nos géis, a faixa onde houve indução de proteínas que não no controle. No gel 2 e 3, tempo zero indica amostras das esponjas provenientes do aquário de cultivo. ........ 49 Figura 13- Verificação da Intensidade da fluorescência das bandas na faixa de 28,5 a 37,6 kDa onde houve indução de proteínas que não na situação controle. Cada ponto indica a média (n=4 e barra de erro é igual ao desvio padrão). ...................... 50 Figura 14- Fotografias de géis com proteínas de amostras de Hymeniacidon heliophila nativas da praia da Boa Viagem. As raias que indicam 0,2; 0,6 e 1,0 µg correspondem aos padrões de MT aplicados em cada gel. O gel 5B é o mesmo que o gel 5, porém corado com comassie blue que apresenta os seguintes marcadores de massa molecular: lisozima (14 kDa), mioglobina (18,4 kDa), anidrase carbônica (28,5 kDa), álcool desidrogenase (37,6 kDa), albumina de soro bovino (66,2 kDa). As chaves indicam a faixa de 28,5 a 37,6 kDa. .............................................................. 51 Figura 15- Imagem de corte histológico de Hymeniacidon heliophila proveniente do aquário-mãe (tempo zero) corada por hematoxilina e eosina. CC= Câmara coanocitária; CA= Canal aquífero. Aumento de 200x. ............................................... 55 Figura 16- Variação da quantidade de câmaras coanocitárias em Hymeniacidon heliophila nos diferentes tempos de exposição e concentração de Cd. Cada ponto indica a quantidade absoluta de câmaras coanocitárias em um corte histológico inteiro pela área deste. .............................................................................................. 56 Figura 17- Variação da quantidade de canais aquíferos em Hymeniacidon heliophila nos diferentes tempos de exposição e concentração de Cd. Cada ponto indica a quantidade absoluta de canais aquíferos em um corte histológico inteiro dividido pela área deste. ................................................................................................................ 57 Figura 18- Relação entre concentração de Cd no tecido com quantidade de câmaras coanocitárias em H. heliophila em cada período de exposição. A curva e o coeficiente representam função logarítmica de redução das câmaras coanocitárias no período de 14 dias de exposição ao Cd, onde ocorreu maior tendência de correlação.................................................................................................................. 57 Figura 19- Relação entre concentração de Cd no tecido com quantidade de canais aquíferos em H. heliophila em cada período de exposição. A curva e o coeficiente representam função logarítmica de redução das câmaras coanocitárias em 14 dias de exposição ao Cd. .................................................................................................. 58 Figura 20- Relação entre Câmaras coanocitárias/pixel*10-3 e quantidade de canal aquífero/pixel*10-3 em H. heliophila. .......................................................................... 58 Figura 21- Imagem de corte histológico de Hymeniacidon heliophila proveniente do aquário de cultivo (A) e de 14 dias de exposição a 4 mg L -1 de Cd (B). As setas indicam as fibras colágenas. Aumento de 400x. ....................................................... 60 Figura 22- Variação das fibras colágenas em Hymeniacidon heliophila medida em % da área total dos corte histológicos em cada situação de tempo e exposição ao Cd. Cada ponto indica a média (n=120 e barra de erro é igual ao desvio padrão) .......... 61 Figura 23- Relação entre concentração de Cd no tecido com quantidade de colágeno em H. heliophila em cada período de exposição. As curvas e os coeficientes representam função logarítmica de redução de colágeno no período de 14 dias. ...................................................................................................................... 61 Figura 24- Relação entre colágeno e quantidade de câmaras coanocitárias em H. heliophila. A curva e o coeficiente representam a função logarítmica do período de 14 dias de exposição ao Cd, onde ocorreu a maior tendência de correlação. .......... 62 Figura 25- Relação entre colágeno (%) e quantidade de canal aquífero/pixel*10 -3 em H. heliophila. ........................................................................................................ 62 Figura 26- Médias das concentrações de Cd, Cu, Zn, Ni no tecido de H. heliophila nas cinco coletas realizadas na praia da Boa Viagem, Niterói (n=6 em cada coleta e barra de erros é igual ao desvio padrão). .................................................................. 64 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Média das concentrações de metais em mg kg -1 em outros estudos na Baía de Guanabara. .................................................................................................. 66 LISTA DE ABREVIATURAS HE - hematoxilina-eosina HPS - heat shock protein ICP MS - espectrometria de massa com fonte de plasma (do inglês: inductively coupled plasma mass spectrometry) ICP OES - inductively coupled plasma optical emission spectrometry kDa - kiloDalton mBBr- monobromobimano PAGE – polyacrylamide gel electrophoresis pH - potencial hidrogeniônico PMSF – fluoreto de fenilmetanosulfonila PSA – persulfato de amônio MTLPs- proteínas semelhantes a metalotioneínas (do inglês: metallothionein-like protein) SDS – sodium dodecyl sulfate SDS PAGE – sodium dodecyl sulfate polyacrilamide gel electrophoresis -SH - grupamento sulfidrila TEMED – N,N`,N,N`-tetrametilenodiamina Tris - hydroxymethyl aminomethane hydrochloride U.V.- ultravioleta SUMÁRIO RESUMO..................................................................................................................... 2 ABSTRACT ................................................................................................................. 4 LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... 5 LISTA DE TABELAS .................................................................................................. 8 LISTA DE ABREVIATURAS ....................................................................................... 9 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16 1.1 BIOMONITORAMENTO E BIOINDICADORES ................................................... 16 1.2 BIOMARCADORES ............................................................................................. 19 1.2.1 Características das MTs e suas funções biológicas ................................... 20 1.3 UTILIZAÇÃO DE ESPONJAS COMO ORGANISMOS BIOINDICADORES E SUA APLICAÇÃO EM ESTUDOS COM BIOMARCADORES ................................... 21 1.3.1 Esponjas marinhas como bioindicadores .................................................... 24 1.3.2 Aplicação das MTLPs em esponjas .............................................................. 26 1.3.3 Aplicação de biomarcadores histológicos em esponjas ............................ 27 1.4 Hymeniacidon heliophila (PARKER, 1910) .......................................................... 28 2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 29 2.1 OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 29 2.1.1 Objetivos específicos ..................................................................................... 29 3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 30 3.1 PREPARO DO AQUÁRIO DE CULTIVO ............................................................. 30 3.1.1 Coleta e cultivo das esponjas........................................................................ 31 3.1.2 Preparo do aquário para o experimento de exposição ao cádmio ............. 33 3.2 DETERMINAÇÃO DE CÁDMIO........................................................................... 33 3.2.1 Preparo das amostras .................................................................................... 33 3.2.2 Determinação do cádmio e níquel pela técnica de espectrometria de massa com fonte de plasma indutivamente acoplado (ICP-MS) ......................... 34 3.2.3 Determinação do cobre e zinco pela técnica de espectrometria de emissão óptica com fonte de plasma indutivamente acoplado (ICP OES) ........ 35 3.3 ANÁLISES HISTOLÓGICAS ............................................................................... 35 3.3.1 Coloração por hematoxilina e eosina (HE) ................................................... 36 3.3.2 Coloração por picro Sirius ............................................................................. 36 3.3.3 Análise de câmaras coanocitárias e canais aquíferos ................................ 37 3.3.4 Presença de matriz extracelular (colágeno) ................................................. 37 3.4 ANÁLISE PROTEICA .......................................................................................... 38 3.4.1 Extração de proteínas semelhantes a metalotioneínas .............................. 38 3.4.2 Preparo de amostras para a separação por eletroforese desnaturante em gel de poliacrilamida ............................................................................................... 38 3.4.3 Dosagem de proteínas totais ......................................................................... 39 3.4.4 Separação de proteínas por eletroforese em gel de poliacrilamida (SDSPAGE) ............................................................................................................... 39 3.4.5 Digitalização das imagens dos géis e análise densitométrica das bandas derivatizadas com monobromobimano ................................................................. 40 3.5 ESTUDO NA PRAIA DA BOA VIAGEM ............................................................... 43 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 45 4.1 EXPERIMENTO DE EXPOSIÇÃO AO CÁDMIO ................................................. 45 4.1.1 Bioacumulação de cádmio na esponja ......................................................... 45 4.1.2 Verificação da indução de MTLPs ................................................................. 48 4.1.3 Análise da quantidade de câmaras coanocitárias e canais aquíferos ....... 55 4.2 ANÁLISE DA MATRIZ EXTRACELULAR (COLÁGENO) .................................... 59 4.3 CONCENTRAÇÃO DE METAIS NAS ESPONJAS DA BOA VIAGEM ................ 63 5 CONCLUSÃO......................................................................................................... 68 6 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 70 16 1 INTRODUÇÃO 1.1 BIOMONITORAMENTO E BIOINDICADORES A poluição por metais no ambiente marinho é uma questão que desperta grande preocupação aos cientistas e governos há várias décadas (ZHANG et al., 2012). Atividades de mineração, petrolífera, fabricação de produtos metálicos comerciais, uso de pigmentos e lixiviação de resíduos sólidos, além de outras, têm gerado o aumento de elementos como chumbo (Pb), cádmio (Cd) e mercúrio (Hg) nos ambientes costeiros e estuarinos, principalmente através do aporte de rios contaminados (FERREIRA-CRAVO et al., 2009). Devido à toxicidade e comportamento acumulativo, estes metais podem causar grandes prejuízos à diversidade de espécies e ecossistemas marinhos (SIVAPERUMAL et al., 2007). O acúmulo destes elementos nos organismos marinhos e a biomagnificação ao longo da cadeia trófica podem ainda gerar riscos à saúde humana via alimentação de pescado (FIRAT et al., 2008). Como exemplo, o histórico caso que ocorreu no ano de 1956, em Minamata, Japão. Cerca de 1200 pessoas morreram e outras milhares desenvolveram deficiências físicas e motoras ao se alimentarem de pescado contaminado com metilmercúrio proveniente de despejos industriais (BASTOS, 1997). A fim de garantir o levantamento do ambiente marinho submetidos à contaminação antrópica, a análise química de matrizes do ambiente, tais como águas e sedimentos, é a abordagem mais comumente utilizada, porém não suficiente, pois a ocorrência de um produto químico em particular no meio ambiente revelada por este tipo de análise não significa necessariamente que ele está biodisponível, bem como não permite qualquer conclusão em relação aos efeitos nocivos sobre a biota (CAJARAVILLE et al., 2000). Estas limitações levaram ao uso de organismos bioindicadores para o monitoramento do ambiente marinho costeiro e o estudo dos efeitos biológicos dos poluentes nesses organismos tornou-se imprescindível para a avaliação da qualidade do meio ambiente (GRAY, 1992; BARHOUMI et al., 2012). 17 Assim, para a melhor compreensão dos efeitos que elevadas quantidades de metais tóxicos, como o cádmio, possam causar em organismos marinhos e o aprimoramento de ferramentas que possam ser utilizadas em programas de biomonitoramento é fundamental o estudo do efeito desses elementos nos organismos. Para este fim, muitos estudos são realizados em laboratório, utilizando organismos-alvo fáceis de manter em condições de laboratório (por exemplo, BROWN; AHSNULLAH, 1971; RAINBOW et al., 1980; RAINBOW; WANG, 2001; LOURENÇO et al., 2011; GENTA-JOUVE et al., 2012). Apesar dos experimentos laboratoriais não levarem em conta uma série de complexas interações que ocorrem no ambiente, condições controladas podem fornecer informações mais precisas e confiáveis das mudanças que ocorrem no organismo, visto que o agente causador dessas alterações são, em geral, de conhecimendo do observador. Assim, essas pesquisas são a base para a aplicação em qualquer estudo que objetive o monitoramento ambiental (CARMAN et al., 1995; CARBALLO; NARANJO, 2002; CEBRIAN et al., 2003). Em relação aos organismos utilizados como bioindicadores, de acordo com Phillips e Rainbow (1993), é ideal ter as seguintes características: ser séssil; ter massa suficiente para fornecer tecido para análises; ser de fácil identificação; ser abundante; ter longevidade; ser cosmopolita ou apresentar ampla distribuição geográfica; ser tolerante às variações físico-químicas do ambiente; ser tolerante a elevados níveis de poluentes; ser capaz de apresentar relação dose-efeito possível de ser obervada. Dentre esses organismos, os bivalves têm sido historicamente os mais utilizados como bioindicadores de contaminação de metais, principalmente devido ao sucesso do programa de biomonitoramento US Mussel Watch Program estabelecido pelos Estados Unidos nos anos 1970 (JERNELEV, 1996). Este programa foi o precursor de um grande número de estudos usando uma seleção de organismos bentônicos (moluscos bivalves predominantemente) para acompanhar a 18 contaminação de metais nos ambientes marinhos costeiros e estuarinos (COSSA, 1989; O’ CONNOR, 1992, 1998; ROBINSON et al., 2005; TAYLOR; MAHER, 2003, 2006; SEO et al., 2012). Porém, segundo Phillips e Rainbow (1993), é importante a utilização de diversos organismos e, se possível, de diferentes níveis tróficos para se estabelecer um eficiente programa de monitoramento de contaminação por metais-traço. Assim, além dos já conceituados moluscos bivalves, muitos outros organismos vêm sendo propostos como bioindicadores, como anfípodas, macroalgas marinhas (RAINBOW, 1995), protozoários, gastrópodes, peixes, insetos, anfíbios (ZHOU et al., 2008) e esponjas marinhas (MESTRE et al., 2012). A análise com os organismos é relativamente simples e, sobretudo, o resultado pode ser integrado através do tempo e espaço. Este tipo de análise consta entre os mais utilizados em programas de biomonitoramento que, no caso, verifica-se por meio de organismos capazes de acumular produtos químicos a fração biodisponível de contaminantes no ambiente (ZHOU et al., 2008). Todavia, neste tipo de análise não é possível obter informação sobre a toxicidade e seus efeitos no organismo (VAN DER OOST et al., 1996). Desse modo, começou-se a observar o estresse que os contaminantes podem causar aos organismos. Por exemplo, a verificação do índice de diversidade de espécies, abundância ou presença/ausência da espécie bioindicadora pode indicar em longo prazo os efeitos do estresse causado pela contaminação sobre as populações e comunidades (CARMAN et al., 1995). Entretanto, neste tipo de abordagem o ecossistema geralmente está num avançado estado de degradação, podendo dificultar os processos de remediação ambiental. Outro problema é que a detecção de alterações na estrutura de comunidades bentônicas frequentemente está relacionada a concentrações aguda dos poluentes e, contudo, a maioria dos contaminantes se apresenta em águas marinhas em graus crônicos de toxicidade cujos efeitos nocivos nem sempre são possíveis de serem observados em maiores níveis de organização biológica (YOUNG et al., 1979). Por conseguinte, o levantamento de respostas biológicas em escala individual, como biomarcadores de exposição e/ou biomarcadores de efeito, pode 19 gerar, em curto prazo, informações adicionais e biologicamente mais sensíveis e relevantes do potencial efeito dos poluentes tóxicos sobre a saúde dos organismos (LYONS et al., 2010). 1.2 BIOMARCADORES Biomarcadores são os tecidos, fluídos corpóreos, as células ou compostos químicos que indicam em termos bioquímicos ou celulares a presença de contaminantes (BODIN et al., 2004). São incluídas ainda as respostas fisiológicas, comportamentais ou energéticas dos organismos expostos (ROSS et al., 2002; MAGNI et al., 2005). Existem assim biomarcadores moleculares, celulares ou sistêmicos, sendo alguns deles específicos para determinados poluentes (LAM, 2009). Uma das vantagens de se utilizar biomarcadores é a possibilidade de detectar efeitos deletérios de poluentes antes de serem evidenciadas alterações em níveis superiores de organização biológica (LAM; GRAY, 2003; SARKAR et al., 2006) (Figura 1). Sinais de biomarcadores “imediatos” molecular subcelular (organela) celular Exposição ao tecido Poluente sistêmico (órgão) organismo população efeitos “tardios” comunidade ecossistema Figura 1- Representação esquemática dos diferentes níveis de organização biológica frente à exposição a contaminantes. Fonte: BAYNE et al., 1985. Segundo a Who (1993), os biomarcadores podem ser classificados basicamente em: Biomarcadores de exposição: podem ser usados para confirmar e avaliar a exposição para uma substância em particular. 20 Biomarcadores de efeito: podem ser usados para constatar os efeitos adversos à saúde dos organismos decorrentes da exposição a um xenobiótico. Dentre os biomarcadores de exposição nas esponjas, diversas proteínas induzidas sobre condições de estresse são relatadas, como a proteína heat shock Hsp70 (MÜLLER et al., 1995), a proteína DnaJ (KOZIOL et al., 1997), a proteína reguladora de glicose GRP78 (SCHRÖDER et al., 1999), ubiquitina (PFEIFER et al., 1993), tiorredoxina (WIENS et al., 1999) e as metalotioneínas (MTs) e proteínas semelhantes a metalotioneínas (MTLPS) (BERTHET et al., 2005). Estes últimos, amplamente documentados como resposta ao estresse ocasionado por metais não essenciais (AMIARD et al., 2006; PERCEVAL et al., 2006; MACHREKI-AJMI et al., 2008; LADHAR - CHAABOUNI et al., 2012). 1.2.1 Características das MTs e suas funções biológicas As metalotioneínas são uma classe de metaloproteínas descritas pela primeira vez por Margoshes e Vallee (1957) em rim equino. Essas proteínas não enzimáticas ricas em radicais sulfidrila (-SH) têm como algumas características grande quantidade de cisteínas (cerca de 30% dos aminoácidos), estabilidade térmica e forte afinidade para se ligar a cátions metálicos como Ag, Ni, Cd, Cu, Hg, e Zn (AMIARD; COSSON, 1997; COSSON; AMIARD, 1998). As MTs são proteínas ubíquas encontradas em animais, plantas superiores, organismos eucariotos e alguns procariotos (PARK et al., 2007). Estas proteínas também exibem baixa massa molecular, 14 kDa em mamíferos, porém com valores que variam entre os organismos. Já as PSMTs são proteínas que apresentam características das metalotioneínas, mas que não foram obtiveram uma confirmação por meio de sequenciamento para serem classificadas como MTs. A estrutura das metalotioneínas foi investigada em algumas classes de mamíferos, utilizando ressonância nuclear magnética e técnicas de difração de raios- X. De um modo geral, elas possuem dois domínios estruturais, alfa (α) e beta (β). O domínio α é formado por 11 cisteínas organizadas de maneira cis-x-cis (x = qualquer aminoácido) no qual se ligam a 4 átomos de metais bivalentes. O domínio β possui apenas 9 cisteínas organizadas também de maneira cis-x-cis, onde se 21 ligam a 3 átomos de metais bivalentes (KÄGI; KOJIMA, 1987). Preferencialmente o zinco se liga no domínio β e o cádmio no domínio α. Por conseguinte, o domínio β tende a regular a homeostase de zinco e cobre, enquanto que o domínio α pode desempenhar um papel central na detoxificação de metais tóxicos (ZHOU et al., 2000). Dessa forma, a homeostase de metais essenciais (Cu e Zn) (VIARENGO; NOTT, 1993) e a proteção contra a toxicidade de metais não essenciais (como Cd) são algumas das funções biológicas atribuídas às MTs, que atuam ainda como ação antioxidante (VIARENGO et al., 2000) e na proteção contra radiação ionizante e UV (CAI et al., 1999). Apesar de outros fatores poderem contribuir para síntese de MTs, tais como inanição, manuseamento, anoxia, congelamento e presença de antibióticos ou herbicidas (MOSLEH et al., 2004), o nível de indução é geralmente menor que o causado por metais (KÄGI, 1993). Decerto, a principal característica que capacita as MTs como biomarcadores de exposição a metais é a elevada indução dessas proteínas por esses elementos (AMIARD et al., 2006). 1.3 UTILIZAÇÃO DE ESPONJAS COMO ORGANISMOS BIOINDICADORES E SUA APLICAÇÃO EM ESTUDOS COM BIOMARCADORES Devido a características como grande abundância no ambiente marinho, possuir hábito alimentar por filtração e por serem organismos sésseis, as esponjas vêm sendo propostas como bioindicadores para a contaminação por metais em ambientes marinhos costeiros. Surgidas há 600 milhões de anos, as esponjas (Filo: Porífera) são importantes membros da comunidade bentônica marinha (BELL, 2008). Estes animais podem ocupar 80% das superfícies disponíveis das regiões polares (DAYTON, 1989) e, não raramente, são dominantes da fauna de recifes tropicais e temperados (BELL; SMITH, 2004; PAWLIK, 2011). O Filo Porifera, totalmente dedicado às esponjas, encontra-se entre os mais diversos e bem sucedidos filos de invertebrados marinhos. Existem mais de 7000 espécies descritas, com representantes em todos os tipos de habitats aquáticos – 22 desde locais de água doce até fossas abissais (HOOPER; SOEST, 2002) em várias condições de temperatura, profundidade, salinidade e luminosidade (RÜTZLER, 2004). Este fato demonstra a elevada capacidade das esponjas sobreviverem e se adaptarem a condições de vida extremas. Dentro do seu filo, as esponjas subdividem-se em três classes: Demospongia, Hexactinellida e Calcarea. Os critérios taxonômicos utilizados para a identificação das esponjas em nível de espécie são vastos. Eles incluem: forma, tamanho, cor, textura, produção de muco e cheiro, ornamentação superficial, presença, forma e natureza química de espículas, etc. Atualmente, a resolução taxonômica dos filos mais problemáticos está recebendo suporte de métodos moleculares, que se baseiam nas diferenças das sequências de DNAs das espécies. O projeto denominado “código de barras” encontra-se em (http://www.spongebarcoding.org) (WÖRHEIDE; ERPENBECK, 2007). A classe Calcarea compreende cerca de 5% das espécies vivas; é facilmente identificável pela presença de espículas de carbonato de cálcio. A classe Hexactinellida, ou esponjas de vidro, como são também conhecidas, possuem um esqueleto inteiramente composto por espículas siliciosas, dispostas em arranjos hexagonais, possuem sincícios em vez de células verdadeiras e são essencialmente esponjas de altas profundidades. A classe Demospongia engloba esponjas com e sem esqueleto mineral silicioso embebido numa matriz de fibras de espongina e representa cerca de 85% das espécies de esponjas existentes atualmente (HOOPER; SOEST, 2002; LEYS; ROHKSAR et al., 2005). A não ser pelos epitélios formados pelos coanócitos e pinacócitos (coanoderme e pinacoderme, respectivamente), as esponjas apresentam tecidos anatomicamente discretos. As suas células apresentam grande mobilidade e flexibilidade nas vias de diferenciação. Esta característica única do filo Porifera ocorre através da capacidade de desdiferenciação das células, isto é, uma célula já diferenciada retorna ao estágio de célula totipotente, podendo assim sofrer uma nova diferenciação (MÜLLER; MÜLLER, 2003). Como mostrado na figura 2, a superfície exterior da esponja (ectossoma) é rodeada por uma camada unicelular (exopinacoderme) composta por células epiteliais (pinacócitos). Algumas destas células epiteliais formam pequenos poros 23 externos (óstios ou poros inalantes) através dos quais a água é inalada; outras formam aberturas na superfície externa, funcionando como chaminés (ósculos ou poros exalantes) através dos quais a água é expelida. O interior da esponja é denominado mesohilo e nele há o coanossoma, uma região vasculada por canais de água limitadas por uma única camada de células (endopinacócitos) formando a endopinacoderme. O bombeamento da água através dos canais é executado pelos coanócitos das câmaras coanocitárias, células flageladas existentes exclusivamente nas esponjas. As fibras de espongina no mesohilo, compostas por colágeno, formam o esqueleto orgânico e as espículas minerais formam o esqueleto inorgânico, que podem ser de carbonato de cálcio ou sílica. Embebidas no meso-hilo encontram-se células totipotentes, os arqueócitos, capazes de alterar a forma e a função de acordo com as necessidades do animal. Os tipos celulares mais especializados do mesohilo são os que produzem fibras (colêncito), secretam espículas (esclerócitos), executam a contração em redor dos poros exalantes (miócitos), etc. As esponjas alimentam-se por filtração, extraindo da água que entra e circula nos seus canais, nutrientes e oxigênio. Partículas de até 10 micras são retidas na bainha dos flagelos dos coanócitos e na parede dos canais. Após um primeiro processamento do fagossoma, vesículas são exportadas no mesohilo e pinocitadas por células fagocitárias circulantes (REISWIG, 1971). O sistema aquífero é a principal autapormofia de Porífera, podendo ser caracterizado como um intrincado sistema composto por poros, canais e câmaras que, pelo movimento dos flagelos dos coanócitos, criam uma corrente unidirecional através do corpo da esponja (CAVALCANTI; KLAUTAU, 2011). As esponjas apresentam diferentes tipos de sistema aquífero: leuconóide, asconóide, sileibide e siconóide. As esponjas que possuem sistema aquífero do tipo asconóide têm todas as cavidades do corpo revestidas por coanócitos. Esponjas do tipo siconóide apresentam câmaras coanocitárias alongadas distribuídas radialmente a um átrio central (livre de coanócitos), onde esses canais deságuam. O sistema aquífero do tipo sileibide é composto por câmaras coanocitárias alongadas distribuídas 24 radialmente em invaginações do átrio. Finalmente, as esponjas com o sistema aquífero do tipo leuconóide (figura 2) atingem um elevado grau de ramificação, com os coanócitos distribuídos em câmaras esféricas distintas dispersas pelo meso-hilo e interligadas por canais que deságuam em um átrio (livre de coanócitos). Figura 2- Morfologia geral de uma esponja marinha. As setas representam o fluxo de água através da esponja. ES= espícula; PI= pinacócito; CO= coanócito; CC= câmara coanocitária; AR= arqueócito. Outra importante característica das esponjas é a capacidade de abrigar em seu tecido comunidades extremamente densas e diversificadas de bactérias, archaeas e eucariotos unicelulares, que chegam a constituir 35% da biomassa total da esponja (TAYLOR et al., 2007). Wanick et al. (2013), por exemplo, ao identificar 17 proteínas expressas na esponja Haliclona sp.verificou que 76% destas eram relacionadas a microrganismos, sendo 47% referentes às bactérias e 29%, aos fungos. No geral, estes microrganismos distribuem-se extracelularmente no mesohilo da esponja ou habitam intracelularmente os arqueócitos, em vacúolos ou até mesmo no núcleo da célula (VACELET; DONADAY, 1977). 1.3.1 Esponjas marinhas como bioindicadores Um dos primeiros trabalhos a citar as esponjas como possíveis bioindicadores para contaminação por metais foi realizado por Bowen e Sutton (1951), que analisaram 10 desses elementos em 5 espécies de esponjas pertencentes aos 25 gêneros Dysidea, Terpios e Chondrilla, e verificaram distribuição específica de metais em relação a espécie, ou seja, conforme a espécie, determinado metal acumula-se em menor ou maior concentração. Nos trabalhos de Patel et al. (1984) em Spirastrella cuspidifera e Prostylyssa foetida; Cebrian et al. (2007) em Crambe crambe, Reniformis chondrosia, Phorbas tenacior, e Dysidea avara, também foram verificadas especificidade de metais quanto à espécie. No entanto, além de verificar esta característica, outros trabalhos sugerem a utilização das esponjas para refletir, por meio da concentração de metais acumuladas em seu tecido, um possível gradiente de contaminação em áreas marinhas costeiras, como indicado a seguir. Hansen et al. (1995), por exemplo, avaliaram a concentração de cobre, zinco, cádmio e cromo na esponja marinha Halichondria panicea. Em ambiente controlado, este estudo demonstrou correlação direta de cobre, cádmio e zinco acumulado pela esponja com a concentração desses metais presentes no tanque do experimento. Rao et al. (2006) também avaliaram a relação entre a concentração de metais na água e o acúmulo destes elementos, utilizando a esponja Petrosia testudinaria no Golfo de Mannar (Índia), e observaram diferenças significativas das concentrações de metais acumulados nas esponjas coletadas mais próximas à área mais contaminada da costa, chegando a uma diferença de até 64 vezes maior perto da costa (0,5 a 1 km) do que às coletadas em áreas mais afastadas da costa (5 a 7 km de distância). Cebrian et al. (2003), ao transplantarem esponjas da espécie Crambe crambe de uma área controle para uma área contaminada, observaram uma queda no percentual de espécies com embriões e a diminuição da taxa de crescimento destes organismos. Esses efeitos deletérios foram associados à presença de cobre e chumbo significativamente maiores do que no local controle e acumulados pela esponja. Outros trabalhos como o de Perez et al. (2005) - em Spongia officinalis; Rao et al. (2007 e 2009) - em Sigmadocia fibulata e em Haliclona tenuiramosa, respectivamente; e Padovan et al. (2012) - em Spheciospongia vagabunda; também encontraram paralelos entre a concentração de metais no tecido da esponja com a proximidade do local contaminado. 26 1.3.2 Aplicação das MTLPs em esponjas A aplicação das MTLPs em esponjas ainda é escassa na literatura. Philp (1999); Schröder et al. (2000) e Berthet et al. (2005) são os poucos autores que relacionam estas proteínas encontradas nesses organismos com uma possível contaminação por metais. Philp (1999), em estudo de campo, relacionou a indução de MTLPs em Microciona prolifera com a presença de Cd nesta esponja. Schröder et al. (2000), ao exporem a esponja Suberites domuncula a 0,1 mg L-1 de cádmio em aquário encontraram paralelos com a concentração de MTLPs. Berthet et al. (2005) utilizaram esponjas da espécie Spongia officinalis para verificar a relação entre MTLPs e a concentração de metais, onde primeiramente foi constatado a existência de um sistema de detoxificação de metais e a presença de MTLPs na esponja. Este estudo também revelou a presença de características que exibem muito das características das metalotioneínas: localização citosólica, termoestabilidade, baixa massa molecular (4 a 15 kDa) e ligação (pelo menos) a Ag, Cu e Zn. Correlações positivas de MTLPS para Cu (p <0.01), Zn (p <0.05) e Hg (p<0.01) foram encontradas, entretanto, para Ag e Cd as correlações não foram significativas. Determinar a indução de biomarcadores de exposição, como as MTLPs, é importante para confirmar e avaliar a exposição a uma substância em particular, fornecendo uma ligação entre exposição externa (concentração da substância no meio) e a quantificação da exposição interna (concentração da substância no organismo). No entanto, esta abordagem não informa os possíveis danos causados ao organismo pela presença e bioacumulação destas substâncias. Desta forma, a utilização de biomarcadores de efeito assoma como uma ferramenta para estimar os efeitos deletérios causados pela exposição e acúmulo de contaminantes. Dentre estes, a análise de biomarcadores histológicos podem sinalizar efeitos nocivos em organismos, resultante da exposição anterior ou em curso a agentes tóxicos (REDDY; RAO, 2008). 27 1.3.3 Aplicação de biomarcadores histológicos em esponjas A aplicação de biomarcadores histológicos determina alterações principalmente em tecidos que ficam expostos diretamente e/ou executam uma função intimamente relacionada com o meio ambiente contaminado. Portanto, este método é considerado uma ferramenta particularmente vantajosa devido à rapidez da sua aplicação e da sua posição intermediária entre os níveis molecular e individuais de organização (ADAMS et al., 1989; LAM; GRAY, 2003). Nas esponjas algumas respostas em situação de estresse em nível histológico são conhecidas, como: a diminuição de câmaras coanocitárias, perda de células e contração de tecidos (KNIGHT; FELL, 1987; IMSIECKE et al., 1996; De GOEIJ et al., 2009). Em relação ao estresse causado por metais, alguns trabalhos utilizaram análises nos tecidos das esponjas como formas de avaliação dos efeitos de metais (WAGNER et al., 1998; EFREMOVA et al., 2002). Wagner et al. (1998) verificou a formação de gêmulas (uma forma de adaptação das esponjas em condições de estresse) em esponjas previamente tratadas com Cd (0,01-5 μg L-1) por um período máximo de 120 horas. A evidência da formação das gêmulas pelos resultados histológicos auxiliou na verificação de apoptose na esponja Suberites domuncula como consequência da exposição ao Cd. Já o trabalho de Efremova et al. (2002) utilizou técnicas de histologia para tentar avaliar os danos da exposição de B. intermedia a um efluente industrial contendo metais por 16 horas a 8 ºC. Apesar de terem sido observadas a síntese de HSP 70 e danos no DNA, os resultados histológicos não evidenciaram danos na morfologia dos tecidos dos explantes expostos aos metais (ex.: alterações na superfície da membrana dermal, desaparecimento de canais aquíferos e câmaras coanocitárias). Os autores concluíram que o tempo de exposição (16 horas) não foi suficiente para evidenciar efeitos deletérios na morfologia de B. intermedia, em que as manifestações das respostas moleculares foram consideradas como sinais antecipados da exposição das esponjas aos contaminantes presentes no efluente. 28 1.4 Hymeniacidon heliophila (PARKER, 1910) A esponja Hymeniacidon heliophila está presente no oceano Atlântico tropical ocidental. No Brasil, esta espécie encontra-se restrita nas regiões Sul e Sudeste, onde distribuem-se em zonas entremarés, até 15 metros de profundidade, incluindo áreas com poluição crônica, como a Baía de Guanabara (Rio de Janeiro) (BREVESRAMOS et al., 2005). Esta espécie possui coloração laranja, com tamanho variando de 5 a 50 cm de comprimento por 1,5-3,0 cm de espessura, apresentando papilas cônicas com um ósculo na extremidade, que variam de 1-5 cm de altura por 0,5-2,0 cm de largura ou podem ser ausentes. Os ósculos em H. heliophila apresentam-se dispersos na superfície e na extremidade das papilas, variando de 0,5-3,0 mm de diâmetro. Detritos, grãos de areia e fragmentos de conchas são comumente encontrados aglomerados na sua base. Possui consistência macia e compressível. O esqueleto coanossomal apresenta uma arquitetura confusa no interior, tendendo a reticulado próximo à superfície, composto de feixes ascendentes de espículas agrupados por espongina e conectados por espículas dispersas em todas as direções. O ectossoma é formado por espículas dispersas aleatoriamente e às vezes também por feixes multiespiculares (30-110 µm de espessura, entre 5-40 espículas) (MURICY; HAJDU, 2006). Na literatura, em relação ao gênero Hymeniacidon, o estudo de Mahaut et al. (2012) verificou alta capacidade de acumulação de cobre, zinco e hidrocarboneto fluoranteno em H. perlevis presentes em áreas entremarés da costa da Normandia (França). Ao compararem com mexilhões (Mytilus edulis) presentes nesta região, os autores encontraram níveis cerca de 20, 44 e 16 vezes maiores de zinco, cobre e fluoranteno, encontram-se respectivamente, artigos nas esponjas. publicados relacionados Com a Hymeniacidon produção de heliophila, metabólitos secundários produzidos (RIBEIRO et al., 2010) e associação com comunidade de bactérias (TURQUE et al., 2008). Em relação à utilização desta espécie como bioindicadora de metais, Batista (2010) observou concentração de Al, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb, Ti, V, Zn e Cd nesta esponja em regiões interna e externa da Baía de Guanabara. 29 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a indução de proteínas semelhantes a metalotioneínas (MTLPs) e respostas histológicas em Hymeniacidon heliophila, em função da exposição ao cádmio. 2.1.1 Objetivos específicos Determinar a concentração de Cd no tecido de H. heliophila frente à exposição a diferentes concentrações de Cd (0,05; 0,4 e 4 mg L-1) em diferentes períodos de exposição (1, 7 e 14 dias); Avaliar a indução de MTLPs em H. heliophila em diferentes períodos de exposição e concentração de Cd; Analisar as alterações morfológicas: quantidade de câmaras coanocitárias, canais aquíferos e colágeno na matriz extracelular em H. heliophila em diferentes períodos de exposição e concentração de Cd; Avaliar a expressão de MTLPs relacionados à concentração de metais potencialmente indutores (Cd, Cu, Zn e Ni) em H. heliophila na praia da Boa Viagem, Niterói. 30 3 MATERIAIS E MÉTODOS O cultivo das esponjas coletadas para o experimento de exposição ao cádmio e todas as etapas das análises histológicas foram realizadas no Biotério Experimental de Cultivo de Esponja (Porifera): Evolução e Desenvolvimento do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, coordenado pelo professor Dr. Cristiano Carvalho Coutinho. A análise proteica por eletroforese em gel de poliacrilamida SDS-Page e a determinação de metais no tecido da esponja e água foram realizadas no Departamento de Geoquímica da UFF. 3.1 PREPARO DO AQUÁRIO DE CULTIVO Um aquário com capacidade de 170 litros foi previamente preparado e equilibrado para que fosse possível a realização do cultivo das esponjas. Foi adicionado substrato contendo 70% de aragonita e 30% de areia branca sobre um sistema de placas de filtro anaeróbico. O aquário de cultivo foi equipado também com um sistema de filtro, composto de cerâmica porosa, na presença de microorganismos envolvidos no ciclo do nitrogênio (Stresszyme, Aquarium Pharmaceuticals Inc, EUA) e um Skimmer (Morato, Brasil) e sistema automatizado de controle da salinidade com boia de nível. A temperatura do biotério experimental era mantida constante por meio de ar condicionado de 30.000 btus O aquário foi devidamente submetido a um sistema de aeração por meio de uma bomba submersa (400/1080 L h-1) para o fornecimento de fluxo contínuo e ininterrupto de água. Além disso, o aquário contou com um sistema de iluminação composto por uma lâmpada de halogênio 110W (Aquastar, Alemanha), duas lâmpadas fluorescentes de 30 W para o favorecimento de comprimento de onda azul (Marine Glo, Japão) e três lâmpadas fluorescentes de 15 W (Aquastar, Alemanha). A água utilizada durante o preparo e durante todo período de cultivo foi coletada próximo à Ilha de Cataguases (Figura 3), situada na Baía de Ilha Grande (23° 1'32.71" Sul, 44°17'2.74" Oeste). Juntamente com a água, foram coletados fragmentos de substrato rochoso contendo invertebrados, algas e microrganismos 31 associados. Durante o período de equilíbrio (dois meses), o aquário foi mantido com fluxo contínuo e ininterrupto de água e iluminação constante. Figura 3- Localização do ponto de coleta de água (ponto vermelho) para cultivo das esponjas em laboratório, próxima a Ilha de Cataguases (23°1'32.71" Sul, 44°17'2.74" Oeste), situada na região sul do estado do Rio de Janeiro. 3.1.1 Coleta e cultivo das esponjas As esponjas Hymeniacidon heliophila utilizadas para cultivo em laboratório foram coletadas na praia de Boa Viagem, Niterói. Em laboratório, permaneceu no aquário de cultivo por 2 meses. Após o período de aclimatação o organismo foi segmentado em explantes de aproximadamente 2 cm2 (cerca de 1 g de peso úmido) e dispostos em placas de Petri (3,5 cm) para se obter um substrato para sustentação dos explantes e para evitar o contato entre os mesmos (Figura 4). A estrutura "varal" foi sustentada por fios de nylon para que os explantes tivessem a maior uniformidade possível de contato com a água. 32 Figura 4- Detalhe das esponjas agregadas em placas de Petri em estrutura “varal”. Após a montagem da estrutura "varal", os organismos foram mantidos por um período de cinco dias no aquário de cultivo, para que os explantes recémsegmentados pudessem cicatrizar o corte e para que pudessem também ser aclimatados nesta nova configuração (Figura 5). Figura 5- Aquário com esponjas Hymeniacidon heliophila dispostas em “varal” para aclimatização e cicatrização dos explantes. 33 3.1.2 Preparo do aquário para o experimento de exposição ao cádmio Neste experimento foram utilizados quatro aquários com 74,5 litros de água cada um e foram designados como "controle" e "expostos". Nos aquários expostos, concentrações de cádmio de 0,05; 0,4 e 4 mg L-1, preparadas a partir de uma solução padrão de 1000 mg L- (CertiPrep SPEX, Metuchen, USA) foram mantidas. No aquário controle, a concentração de Cd foi <0,01 ppm. Estes valores foram confirmados pela técnica de ICP OES. Os tempos utilizados neste experimento foram: zero hora, 24 horas, 7 dias e 14 dias. Para cada tempo de exposição os explantes eram retirados até se obter uma massa úmida de 0,5 gramas, onde imediatamente eram congelados (-80 °C) para posterior liofilização. 3.2 DETERMINAÇÃO DE CÁDMIO Para determinação do metal na esponja foi utilizada uma massa total de 150 mg de tecido liofilizado (75 mg de cada organismo) nos quais foram adicionados 5 mL de ácido nítrico concentrado. As amostras foram submetidas à digestão assistida por meio de radiação de micro-ondas utilizando um forno. Após esta etapa e o posterior resfriamento das amostras, o volume da solução foi completado com água ultra pura para um volume final de 10 mL. Para determinar a concentração de cádmio nos aquários foram coletados 50 mL de água nos aquários controle e expostos. Após a coleta, as amostras de água foram transferidas para tubos de plástico (Falcon, Corning, EUA) no quais foram adicionados 50 µl de ácido nítrico concentrado e as amostras foram mantidas a 4 ºC até o momento da análise. 3.2.1 Preparo das amostras Alíquotas de aproximadamente 0,5 g do material de referência certificado SRM NIST 1566b (Oyster Tissue) e das amostras liofilizadas de esponjas foram tratadas em forno de microondas pressurizado com 5,0 mL de HNO3 concentrado, por 10 minutos, de acordo com o programa de temperatura pré-estabelecido pelo 34 método US EPA 3051A (5,5 min para a temperatura atingir 175 ºC seguido de mais 4,5 min em 175 ºC). Antes da realização do procedimento de digestão, as amostras foram mantidas imersas no volume de HNO 3 "overnight", a fim de eliminar parte da matéria orgânica e consequentemente minimizar os riscos de perdas e explosão. Para a digestão das amostras empregou-se um forno de microondas marca Provecto Analítica, modelo DGT 100 - Plus (Jundiaí, São Paulo, Brasil). Após resfriamento, o volume da solução foi completado a 10 mL com água ultra pura obtida de um sistema Elga modelo PURELAB Ultra Analytic (Elga, High Wycombe, Bucks, UK) e a mistura resultante foi então centrifugada. Os metais determinados foram Zn, Cu, Ni e Cd. Zinco e cobre foram determinados através da técnica de espectrometria de emissão óptica com fonte de plasma indutivamente acoplado (ICP OES). Enquanto níquel e cádmio, como não foram detectados pela técnica anterior, foram determinados pela técnica de espectrometria de massa com fonte de plasma indutivamente acoplado (ICP-MS), cuja sensibilidade é maior. Em ambas as análises, foram utilizadas o material de referência certificado SRM NIST 1566b (Oyster Tissue) para controle de qualidade. 3.2.2 Determinação do cádmio e níquel pela técnica de espectrometria de massa com fonte de plasma indutivamente acoplado (ICP-MS) Para a determinação das concentrações dos metais Cd e Ni nos extratos de amostras liofilizadas de esponjas, utilizou-se um ICP-MS, marca Thermo Fischer Scientific (Bremen, Alemanha), modelo X Series II, equipado com câmara de nebulização ciclônica, nebulizador do tipo Meinhard, Peltier e software operacional PlasmaLab. As condições de operação do equipamento foram: 1400 W de potência incidente, 13 L min-1 de vazão de gás no plasma, 0,7 L min -1 de vazão de gás auxiliar, 0,14 L min-1 de vazão de gás adicional, 0,90 L min -1 de vazão de nebulização, dwell time de 10 ms e 1 canal por unidade de massa; vazão de aquisição da amostra de 0,90 mL min-1. Os elementos foram determinados na forma dos isótopos 60 Ni e 111 Cd. Para correção de interferências de transporte na introdução da amostra e de ionização, foi realizada a padronização interna com a adição e monitoramento dos isótopos 45 Sc, 72 Ge, 103 Rh e 205 Tl, todos na concentração final de 50 μg L-1. Devido à acidez dos extratos, foi necessária a 35 diluição dos mesmos nas proporções de 1:5 v/v, realizada com água ultra pura obtida de um sistema Elga modelo PURELAB Ultra Analytic (Elga, High Wycombe, Bucks, UK). 3.2.3 Determinação do cobre e zinco pela técnica de espectrometria de emissão óptica com fonte de plasma indutivamente acoplado (ICP OES) Para a determinação de Cu e Zn nas amostras liofilizadas de esponjas, utilizou-se um ICP OES, marca Perkin Elmer (EUA), modelo 7000 DV (Dual View) equipado com câmara de nebulização ciclônica, nebulizador do tipo MiraMist (Burgener Research Inc., Ontário, Canadá), amostrador automático, modelo AS 421, e software operacional Analyst 5.4. As condições de operação do equipamento foram: 1300 W de potência incidente, 15 L min -1 de vazão de gás no plasma, 0,2 L min-1 de vazão de gás auxiliar, 0,80 L min-1 de vazão de nebulização. 3.3 ANÁLISES HISTOLÓGICAS Para análise histológica, após cada tempo de exposição um fragmento do explante foi imediatamente colocado em tubos de 50 mL (Falcon, Corning, EUA) contendo 40 mL de solução fixadora de Bouin, que tem como função manter a integridade do tecido, preservando suas estruturas celulares, o enrijecimento das células e, ainda, pode aumentar a afinidade do material pelos corantes citológicos. Após um período de fixação de 6 horas, o fragmento foi retirado da solução fixadora e colocado em 40 mL de etanol 70%. A solução foi trocada a cada 30 minutos até não ser mais observada a presença de cor amarelada, indicativa da presença da solução fixadora. Após essa lavagem, o fragmento foi colocado em um cassete histológico no qual foi desidratado em uma série alcoólica de concentração crescente (80%, 90%, 100%) em banhos de 30 minutos. Quando completamente desidratado, o material foi submetido a dois banhos de 30 minutos em xilol e a dois banhos de 30 minutos em parafina. Após o segundo banho em parafina o fragmento foi emblocado. 36 Os blocos de parafina contendo o material foram cortados em micrótomo RM 21-55 (Leica, Alemanha) com uma espessura de 7 µm e colocados em lâminas histológicas de vidro. As lâminas, antes de serem coradas, foram colocadas em estufa a 60°C para derretimento da parafina por, pelo menos, 30 minutos. As lâminas seguiram para uma bateria que consistia em três banhos seguidos de 5 minutos em xilol e três banhos de 5 minutos em uma série alcoólica decrescente (100%, 90%, 70%). Ao final da bateria as lâminas foram imersas em água destilada e foram coradas pelas técnicas de coloração por hematoxilina-eosina (HE) ou picro sirius. 3.3.1 Coloração por hematoxilina e eosina (HE) As lâminas foram colocadas por 5 minutos na solução de hematoxilina de Harris e lavadas por 5 minutos em água corrente. Após a lavagem, foram colocadas por 1 minutos na solução de eosina e mais 3 segundos em água corrente. Em seguida, foram submetidas a uma bateria de desidratação com banhos de 5 minutos em concentração alcoólica crescente (95%, 100%) e em xilol por três vezes. As lâminas eram então montadas em entellan (Merck, Alemanha) e guardadas para posterior análise. 3.3.2 Coloração por picro Sirius O protocolo utilizado para coloração de fibras de colágeno foi baseado na modificação descrita por Dolber e Spach (1993). As lâminas foram colocadas por 2 minutos em uma solução de ácido fosfomolíbdico e em seguida na solução de picro sirius por 90 minutos, abrigadas da luz. As lâminas foram então colocadas em ácido clorídrico 0,01 mol L-1 por 1 minuto e em álcool 70% por 45 segundos. Foi realizada uma bateria de desidratação com banhos de 5 minutos em concentração alcoólica crescente (95%, 100%) por duas vezes e em xilol por três vezes. As lâminas foram montadas em entellan (Merck, Alemanha) e guardadas para posterior análise. 37 3.3.3 Análise de câmaras coanocitárias e canais aquíferos As lâminas coradas por HE foram usadas para quantificar o número de câmaras coanocitárias e canais aquíferos por corte histológico registrado em aumento de 200 vezes. As lâminas foram observadas em microscópio óptico de campo claro (Eclipse E400, Nikon, Japão) equipado com sistema de captura digital (Evolution VF, Media Cybernetics, EUA). De cada corte foram retiradas quantidades de fotos suficientes para cobrir toda a área do corte histológico. Essas fotos foram então unidas por meio da opção Photomerge do programa Photoshop versão CS5. Obtida a imagem do corte inteiro, as câmaras coanocitárias e canais aquíferos em cada corte histológico foram então individualmente contadas usando a ferramenta cell counter do programa ImageJ. Os números obtidos foram corrigidos para determinar a quantidade por pixels. 3.3.4 Presença de matriz extracelular (colágeno) As lâminas coradas por picro sirius foram usadas para quantificar a abundância de fibras colágenas por campo histológico registrado. As lâminas foram observadas em microscópio de fluorescência (Axioplan, Zeiss, Alemanha) em comprimento de onda correspondente a rodamina (cor vermelha, filtro Schott-Zeiss, Alemanha) nas quais, nessas condições, as fibras colágenas marcadas apresentam fluorescência vermelha. Para cada situação experimental foram utilizados três cortes histológicos onde foram capturadas 30 imagens digitalmente (Axiocam, Zeiss, Alemanha) por corte com aumento de 400 vezes e processadas pelo programa ImageJ (RASBAND, 1997) utilizando-se a metodologia descrita por Rangan e Tesch (2007). Inicialmente, as imagens foram convertidas para 8 bits e em seguida o threshold foi ajustado para selecionar somente as fibras colágenas marcadas, na qual a área relativa das fibras de colágeno era calculada pelo próprio programa. 38 3.4 ANÁLISE PROTEICA 3.4.1 Extração de proteínas semelhantes a metalotioneínas Após a realização do experimento de exposição ao Cd, os pedaços congelados (-80 °C) dos explantes foram liofilizados (Liotop, Brasil) por um período de 12 horas a -57 ºC. Para a extração das proteínas foram utilizados 50 mg de massa seca, onde foram homogeneizados na proporção 1:3 (m/v) com tampão de extração (1500μl), com auxílio de um micromisturador com ponta de aço inoxidável. O tampão utilizado para a extração das proteínas foi composto por 10 mmol L1 Tris-HCl pH 9,0; 5 mM de β-mercaptoetanol; 0,5 mmol L-1 de fluoreto de fenilmetanosulfonila (PMSF). Depois de homogeneizado, o material foi centrifugado a 20.000 g por 30 minutos a 4 ºC, para a obtenção da fração citosólica. Em seguida, o sobrenadante da amostra foi aquecido a 70 ºC por 15 minutos (ERK et al., 2002). Este procedimento de desnaturação térmica consiste em eliminar proteínas termolábeis, mantendo em solução as proteínas termoestáveis. Após o aquecimento as amostras foram centrifugadas a 20.000 g por 20 minutos a 4ºC. Em seguida, o sobrenadante (fração de 550 µl) foi tratado com etanol absoluto -20ºC na proporção 1:3 (v/v). No próximo passo, as amostras foram deixadas por uma hora a -20ºC. Após este período foram centrifugadas pela última vez a 20.000 g por 10 minutos, obtendo um pellet final. 3.4.2 Preparo de amostras para a separação por eletroforese desnaturante em gel de poliacrilamida Os pellets obtidos após a última centrifugação foram deixados por 5 minutos em temperatura, para evaporação do etanol. Em seguida, foram ressuspensos em 150 µl de tampão Tris-HCl 10 mmol L-1 (pH= 9,0). Desse total, 100 µl foram destinados a dosagem de proteínas totais e os 50 µL restantes foram destinados a eletroforese. As alíquotas destinadas à eletroforese (50 µl) foram submetidas a 39 derivatização com a adição de 3 µL de monobromobimano (mBBr) 92 mmol L-1 e mantidas a temperatura ambiente e protegidas da luz por 30 minutos. O mBBr é um reagente fluorescente com alta afinidade pelos radicais tióis (abundante nas cisteínas) e a derivatização foi seguida de acordo com o protocolo “MT PAGE Tissue” da Ikzus Environment (http://www.ikzus.it), seguido de algumas modificações. 3.4.3 Dosagem de proteínas totais A alíquota de 100 μl destinada para a dosagem de proteínas totais foi utilizado o método de Bradford (1976), tendo como padrão a albumina de soro bovino (BSA) 0,1% (BioAgency). As absorbâncias dos padrões e das amostras foram medidas a 595 nm em um espectrofotômetro (Femto 700 plµs). Conhecida a quantidade de proteínas totais nas alíquotas, os volumes eram padronizados para que se inserisse em cada poço do gel de eletroforese, 5 μg de proteínas totais. 3.4.4 Separação de proteínas por eletroforese em gel de poliacrilamida (SDSPAGE) As amostras derivatizadas com mBBr foram submetidas à eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de agentes desnaturantes (SDS) conforme descrito por LaemmLi (1970). Esta técnica separa as proteínas com base na sua massa molecular, migrando através do gel, sob a influência de um determinado campo elétrico. A migração das proteínas se dá devido a presença de carga negativa que as proteínas adiquirem após a adição de SDS. A separação eletroforética foi realizada em um sistema vertical de eletroforese BioRad- TetraCell (Figura 6). O gel separador foi preparado em concentração de 15% de acrilamida, utilizando tampão tris-HCl (1,5 mol L-1) em pH 8,8 na presença de SDS. Os catalisadores de polimerização do gel: TEMED e PSA 10% foram adicionados à solução depois desta ter sido desareada por 15 minutos a vácuo. Após a polimerização do gel separador, foi adicionado o gel de empilhamento preparado em concentração de 4% de acrilamida, utilizando tampão tris-HCl (0,5 mol 40 L-1) em pH 6,8, que também foi desareado por 15 minutos a vácuo antes da adição dos catalisadores. A separação por eletroforese foi realizada em tampão tris (250 mmol L-1) - glicina (2,5 mol L-1) - SDS 1%. Inicialmente, foi aplicada um potencial elétrico de 100V até as amostras alcançarem o gel separador (aproximadamente 15 minutos), passando então a ser exercido um potencial elétrico de 120V por um período de 70 minutos. Figura 6- Representação esquemática do sistema vertical de eletroforese SDS-PAGE. 3.4.5 Digitalização das imagens dos géis e análise densitométrica das bandas derivatizadas com monobromobimano Após a separação eletroforética das proteínas derivatizadas com mBBr os géis foram colocados em um Trasiluminador U.V acoplado a um sistema de captação de imagem digital (BioAgency EasyDoc 100, Brasil). Feito o registro da imagem, os géis foram fixados em uma solução contendo etanol absoluto, ácido acético glacial e água ultra-pura (40:10:50) por 30 minutos. Após a fixação, os géis foram corados com uma solução contendo Comassie Brilliant Blue R-250 (0,25%) por 24 horas. O excesso do corante foi retirado com a mesma solução utilizada para fixar os géis por aproximadamente 20 minutos. Os géis com as bandas protéicas 41 coradas foram fotografados no mesmo sistema de fotodocumentação em câmara clara. Para a determinação da intensidade das proteínas induzidas foi utilizado o programa Imaje J (RASBAND, 1997) na qual foi realizada a análise densitométrica das imagens obtidas. 42 50 mg de amostra de esponja Homogeneização com 3V de tampão de amostra: 10 mmol L-1 Tris-HCl pH 9,0; 5 -1 mmol L de β-mercaptoetanol; 0,5 mmol L -1 de PMSF Centrifugação a 21000g por 30’ a 4°C 550 μl de sobrenadante aquecido a 70°C por 15’ Centrifugação a 16000g por 20’ a 4°C Adição de 3V de etanol absoluto (20°C) 1 hora no freezer a -20°C Centrifugação a 16000g por 10’ a 4°C Descarte do sobrenadante e ressuspensão do pellet com 150 μl de tampão de extração 100 μl da 3 μl de mBBr adicionados a 50 μl de amostra. Repouso amostra por 30’ no escuro a temperatura ambiente destinados a dosagem de proteínas Adição de 1V de tampão de amostra totais SDS-Page e análise em transiluminador U.V. para identificação das MTLPs Figura 7- Diagrama esquemático do protocolo de extração. 43 3.5 ESTUDO NA PRAIA DA BOA VIAGEM As cinco coletas na praia da Boa Viagem (figura 7) foram realizadas respectivamente nas seguintes datas: 03/08/2011, 31/08/2011, 19/10/2011, 30/01/2012 e 23/03/12. As coletas foram realizadas em três pontos distintos indicados na figura 8. As esponjas eram retiradas manualmente e levadas ao laboratório para limpeza e pesagem. Para verificação de MTLPs, foram utilizadas 0,5 g de massa úmida. Para determinação de metais, foram utilizadas 0,5 g de massa seca. A digestão das amostras seguiu o mesmo processo já descrito para esponjas cultivadas em laboratório. Como já relatado, Zn e Cu foram determinados por ICP OES e Cd e Ni, por ICP-MS. Figura 8- Localização da praia da Boa Viagem situada na Baía de Guanabara, Niterói. Fonte: Imagem Google Earth 6.0. 44 Figura 9- Localização dos pontos de coleta na praia da Boa Viagem. Fonte: Imagem Google Earth 6.0. 45 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 EXPERIMENTO DE EXPOSIÇÃO AO CÁDMIO 4.1.1 Bioacumulação de cádmio na esponja A concentração de cádmio na esponja Hymeniacidon heliophila foi verificada nos diferentes tempos de exposição e concentração deste elemento (Figura 9). Na situação controle houve uma variação de 2,7 mg kg-1 no tempo zero a 11 mg kg-1 em 24 horas. Nos períodos seguintes, 7 e 14 dias, foram encontrados 6,6 e 8,0 mg kg-1, respectivamente, de Cd no tecido da esponja. Este aumento da concentração de Cd ao longo do experimento, em relação ao tempo zero, indica uma alta capacidade de bioacmululação deste metal, mesmo havendo baixa concentração inicial na água do aquário controle (<0,001 mg L-1). Com 0,05 mg L-1 de Cd na água, em 24 horas de exposição foram encontrados 6,9 mg kg-1 de Cd no tecido da esponja. Em 7 dias este valor se manteve. Porém, em 14 dias houve um aumento de 48% na concentração de Cd no tecido, chegando a 13 mg kg-1. No aquário contendo 0,4 mg L-1 de Cd na água, nas esponjas expostas por 24 horas foram encontrados 6,9 mg kg-1 de Cd. Após 7 dias esta concentração chegou a 24 mg kg-1, um aumento de 248%. Já em 14 dias, houve concentração de 48 mg kg-1 de Cd, 100% a mais que no período anterior. No aquário com a maior quantidade de Cd (4 mg L-1) em 24 horas de exposição foram encontrados 34 mg kg-1 de Cd no tecido de Hymeniacidon heliophila. Em seguida, após o período de 7 dias, foram encontrados 78 mg kg-1, representando um aumento de 129%. Aos 14 dias, houve um aumento de 46%, chegando a 114 mg kg-1 de Cd no tecido da esponja. Na figura 10 estão presentes as concentrações de Cd por tempo e concentração de Cd no tecido das esponjas e a figura 11 indica as tendências de bioacumulação de Cd para os períodos de exposição. 46 Cd (mg/kg) peso seco 120 100 80 controle 60 0,05 ppm 0,4 ppm 40 4,0 ppm 20 0 Tempo 0 24 horas 7 dias 14 dias Figura 10- Concentração de cádmio em Hymeniacidon heliophila nos tempos zero, 24 horas, 7 e 14 dias à exposição a 0,05, 0,4 e 4 mg L-1 de Cd e controle. Cd (mg/kg) peso seco 140 120 R² = 0,9867 100 7 dias 80 R² = 0,9406 14 dias R² = 0,883 Exponencial (24 horas) Potência (7 dias) 60 40 20 0 0,01 24 horas 0,1 1 10 Potência (14 dias) Log concentração de Cd na água Figura 11- Relação entre a concentração de Cd presente na água com o encontrado no tecido de H. heliophila. Cada curva representa a tendência para cada tempo de exposição com seus coeficientes. Como observado, a esponja Hymeniacidon heliophila apresentou uma elevada capacidade em acumular cádmio em seu tecido durante o experimento em laboratório. Outros autores também verificaram, em esponjas, a capacidade de acumular cádmio em experimentos de exposição, como indicado a seguir. Hansen et al. (1995) verificaram concentração de 985 mg kg-1 de cádmio após expor a esponja Halichondria panicea a 1 mg L-1 deste metal por 14 dias, aproximadamente 9 vezes a mais do que o encontrado em nosso trabalho, mesmo com uma concentração 5 vezes menor de Cd na água. 47 Schröder et al. (1999), ao exporem a esponja Suberites domuncula a concentração de 1 mg L-1 de Cd por 6 dias, verificaram concentração de 9 mg kg-1 deste elemento no tecido da esponja. No presente trabalho, no sétimo dia de exposição, a concentração de Cd em H. heliophila foi de 24 e 78 mg kg-1 à exposição a 0,4 e 4 mg L-1 de cádmio, respectivamente. Estes valores são aproximadamente 3 e 9 vezes maiores do que foi encontrado por Schöder et al. (1999). Já Wanick (2012), em Haliclona sp, encontrou 9,13 mg kg-1 de Cd ao expô-la a 0,5 mg L-1 deste metal durante 14 dias. Neste mesmo período de tempo, a H. heliophila exposta a 0,4 mg L-1 de Cd apresentou 48 mg kg-1 de Cd em seu tecido; cerca de 5 vezes o encontrado em Haliclona sp. A diferença entre espécies de esponjas quanto à capacidade de acumular cádmio e outros metais - como observado entre o presente trabalho e os citados acima - é amplamente documentada na literatura (BOWEN; SUTTON, 1951; PATEL et al., 1985; PÉREZ et al., 2004; CEBRIAN et al., 2007; RAO et al., 2009; PAN et al., 2011). Genta-Jouve et al. (2012) expuseram seis diferentes espécies de esponjas (Agelas oroides, Chondrosia reniformis, Ircinia variabilis, Acanthella acuta, Cymbaxinella damicornis, Cymbaxinella verrucosa) a diferentes radioisótopos, entre os quais o 109 Cd, e verificaram diferentes fatores de enriquecimento entre as espécies. Segundo os autores, estes valores representam a eficiência do organismo em acumular e concentrar um elemento presente na água depois de um determinado tempo de exposição. Após 170 horas de exposição aos diferentes radioisótopos, os fatores de enriquecimento variaram entre todas as espécies conforme o elemento. Para o 109 Cd, houve uma variação de 12 a 276 entre os fatores de enriquecimento nas seis espécies. Este resultado, como o de outros trabalhos já citados, pode estar relacionado às distintas capacidades de bombeamento e filtragem de água pelas esponjas (CEBRIAN et al., 2007). Outro fator que pode influenciar nesta relação é a associação com os microrganismos. Como bem documentado, as esponjas podem se associar a diversos organismos simbiontes sendo em alguns casos associações interespecíficas (HENTSCHEL et al., 2012). Estes microrganismos podem desempenhar um importante papel nos processos de bioacumulação, podendo 48 assim influenciar nas diferenças interespecíficas quanto à capacidade de acumular metais (GADD, 1990; SELVIN et al., 2009; ERWIN et al., 2011). 4.1.2 Verificação da indução de MTLPs A separação proteica, através da eletroforese em gel de poliacrilamida, revelou a indução de proteínas termoestáveis e ricas em cisteínas na faixa de 28,5 a 37,6 kDa, após os períodos de exposição ao Cd (figura 12). Nas situações 24 horas e 7 dias a 0,4 mg L-1 de Cd houve significativo aumento na intensidade de fluorescência em uma banda não presente na situação controle (figura 12; gel 1C e gel 2C, respectivamente). Esta fluorescência, embora menor, também é possível observar na situação 24 horas à exposição a 4 mg L-1 de Cd (figura 12; gel 1D). Em relação ao período de 14 dias de exposição, não houve indução de proteínas na faixa encontrada nos períodos anteriores (figura 12; gel 3). Já nas esponjas provenientes do aquário de cultivo, nenhuma banda apareceu na faixa de 28,5 a 37,6 kDa como encontrado nas condições controle e de exposição ao Cd (figura 12; gel 2 e gel 3). 49 Figura 12- Fotografias de géis com proteínas extraídas de amostras de Hymeniacidon heliophila expostas ao Cd por três períodos: 24 horas (gel 1), 7 dias (gel 2) e 14 dias (gel 3). As raias que indicam 0,2, 0,6 e 1,0 µg correspondem aos padrões de MT aplicados em cada gel. As raias indicam as amostras de esponjas submetidas a controle (A), 0,05 (B), 0,4 (C) e 4 mg L-1 de Cd (D). Em destaque nos géis, a faixa onde houve indução de proteínas que não no controle. No gel 2 e 3, tempo zero indica amostras das esponjas provenientes do aquário de cultivo. A figura 13 apresenta uma estimativa da intensidade de fluorescência das bandas onde houve indução de proteínas na faixa de 28,5 a 37,6 kDa, principalmente nos tempos de 24 horas e 7 dias em exposição a 0,4 mg L-1 de Cd. 50 Densidade integrada (Pixels) 2500000 2000000 1500000 24 horas 1000000 7 dias 14 dias 500000 0 controle 0,05 ppm 0,4 ppm 4 ppm Concentração de Cd Figura 13- Verificação da Intensidade da fluorescência das bandas na faixa de 28,5 a 37,6 kDa onde houve indução de proteínas que não na situação controle. Cada ponto indica a média (n=4 e barra de erro é igual ao desvio padrão). Em relação ao processo de extração de MTLPs seguido de separação proteica por eletroforese em gel de poliacrilamida em Hymeniacidon heliophila provenientes da praia da Boa Viagem, não houve indução de proteínas na faixa de 28,5 a 37,6 kDa, como ocorrera nas esponjas submetidas ao experimento de incubação e exposição ao Cd, tendo apenas como exceção as esponjas do ponto 3 na coleta 1 (figura 14). 51 Figura 14- Fotografias de géis com proteínas de amostras de Hymeniacidon heliophila nativas da praia da Boa Viagem. As raias que indicam 0,2; 0,6 e 1,0 µg correspondem aos padrões de MT aplicados em cada gel. O gel 5B é o mesmo que o gel 5, porém corado com comassie blue que apresenta os seguintes marcadores de massa molecular: lisozima (14 kDa), mioglobina (18,4 kDa), anidrase carbônica (28,5 kDa), álcool desidrogenase (37,6 kDa), albumina de soro bovino (66,2 kDa). As chaves indicam a faixa de 28,5 a 37,6 kDa. Como observado na figura 12, a massa das MTLPs encontradas em H. heliophila não corresponde com a verificada no padrão de matalotioneína utilizado (14 kDa). Porém, diferenças entre massas moleculares de MTLPS induzidas pelo cádmio já foram reportadas por diversos autores (VIARENGO et al., 1997; SCHMITT-WREDE et al., 2004; DONDERO et al., 2004; ERK et al., 2005). Viarengo et al. (1997), por exemplo, constataram MTLPs na faixa de 7 a 25 kDa no mexilhão Mytilus galloprovincialis. Já Schmitt-Wrede et al. (2004) encontraram na oligoqueta Enchytraeus buchholzi proteínas induzidas por cádmio com massa molecular de 25 kDa, diferente do seu padrão comercial utilizado cuja massa molecular foi de aproximadamente 12,5 kDa. Dondero et al. (2004) 52 verificaram indução de MTLPs em duas faixas de massa moleculares, 15,6 e 23,6 kDa, após a exposição do protozoário Tetrahymena thermophila a períodos de 1, 6 e 24 horas a 20 µmol L-1 de Cd2+. Erk et al. (2005) encontraram em tecidos de três invertebrados marinhos (mexilhão: Mytilus edulis , tunicato: Ciona intestinalis e estrela do mar: Asterias rubens) MTs com massas moleculares correspondentes a 6 e 18 kDa. Em esponjas, a indução de proteínas semelhantes a metalotioneínas com diferentes massas também já foram documentadas na literatura. Berthet et al. (2005) em um estudo de campo utilizando a esponja Spongia officinalis encontraram MTLPs com massa molecular de 6 e 15 kDa, atribuídas pelos autores como monômeros e dímeros da metalotioneína, respectivamente. Schröder et al. (2000) verificaram MTLPs com massa molecular de 24 kDa ao expor a esponja Suberites domuncula a cádmio por seis dias. Já Wanick (2012) ao expor a esponja Haliclona sp. a 0,5 mg L-1 de cádmio por 326 horas observou indução de proteínas ricas em cisteínas na faixa de 21-29 kDa. Segundo Vergani et al. (2005), apesar das MTLPs ou MTs possuírem características comuns, sua conformação espacial e propriedades funcionais podem variar entre os organismos. Estes autores chegaram a esta conclusão após compararem as MTs do peixe Oncorhyncus mykiss com as MTs do mexilhão Mytilus galloprovincialis; e que cita algumas diferenças: tamanho, estabilidade térmica e capacidade de sequestro de metais tóxicos, todas maiores nas MTs do mexilhão. Estes autores sugerem que estas diferenças podem estar relacionadas com o modo de vida de cada organismo: o mexilhão, por ser séssil e filtrador, está mais sujeito a mudanças bruscas de variáveis ambientais (temperatura, anoxia, concentração de poluentes na água), logo apresenta aumento do domínio α da MT, elevando a capacidade no papel de desintoxicação / sequestro de metais tóxicos (por exemplo, o cádmio), o que permitiria a sobrevivência destes organismos aquáticos em condições adversas. Também sendo sésseis e especializadas em alimentação por filtração, as esponjas, assim como os mexilhões, poderiam ter desenvolvido metalotioneínas mais especializadas na capacidade de sequestro e destoxificação de metais tóxicos. De fato, as MTs conhecidas de metazoários são geralmente expressas 53 constitutivamente, especialmente em tecidos em crescimento e diferenciação (BRADY et al., 1982), enquanto que as MTLPs das esponjas são expressas quando induzidas. Schröder et al. (2000) observaram em experiências controladas em aquários que não houve expressão do gene SDMTL (cDNA que codifica as proteínas MTLPs na esponja Subentes domuncula) sem a presença de cádmio, no entanto, depois de um período de incubação de um dia na presença de 200 mg L-1 de cádmio, ocorreu um grande aumento na expressão do gene SDMTL. A exposição a 0,05 mg L-1 de cádmio parece não ter sido suficiente para provocar indução de MTLPS durante os 14 dias de incubação. Em experimento de exposição do bivalve Mizuhopecten yessoensis a 0,5 mg L-1 de Cd a indução de MT foi observada apenas após 60 dias de incubação (EVTUSHENKO et al., 1986). Já no molusco Ruditapes decussatus exposto a 0,4 mg L-1 de Cd por 30 dias, observouse aumento de duas vezes na concentração de MTs nas brânquias, porém na glândula digestiva não foram identificadas aumentos significativos (BEBIANNO et al., 1993). Entretanto, a indução de MTs na glândula digestiva nesta espécie de molusco já foi demonstrada em trabalhos de transplante deste animal no mar Mediterrâneo (HAMZA-CHAFFAI et al., 1999, 2000). A dose de 4 mg L-1 de Cd utilizada neste trabalho corresponde a quase 740 vezes o máximo permitido pela resolução CONAMA 357 para águas salinas classe 1 (destinadas, por exemplo, à aquicultura e atividade de pesca). Em Hymeniacidon heliophila, esta alta concentração de Cd provocou baixo aumento de MTLPs em 24 horas de exposição e, nos períodos de 7 e 14 dias, não foi observada indução de MTLPs. De fato, em altas concentrações de Cd, pode haver danos no DNA e redução concomitante na indução de RNAm das MTs, que é provavelmente causado pela elevada citotoxicidade do Cd em alta disponibilidade (ROESIJADI et al., 1997). As outras proteínas ricas em cisteínas que também surgiram na faixa mais próxima a 37,6 kDa não indicaram indução devido à presença de cádmio, pois aparecem também na situação controle. Entretanto, as amostras analisadas diretamente do aquário de cultivo (denominado tempo zero) e as provenientes da Boa Viagem não apresentaram estas proteínas. Elas poderiam ser indicadoras (biomarcadores) de estresse, já que as esponjas foram retiradas de seus locais nos 54 quais já estavam adaptadas, mesmo sendo de um aquário para o outro. Isto será investigado posteriormente. Na faixa de 14 kDa também surgiram proteínas ricas em cisteínas e não induzidas por metais e que foram observadas em todos os géis, tanto nas amostras de aquário como nas coletadas na Boa Viagem. Proteínas com estas características vêm sendo encontradas em organismos como vegetais, mamíferos e invertebrados. Essas proteínas são atribuídas a diferentes funções como proteínas de defesa contra fungos, transporte de zinco e proteínas de membrana (ZHANG et al., 1987; HEMPE; COUSIN, 1991; TERRAS et al., 1995; TRAN et al., 2005). Após 14 dias de exposição, não foi verificada indução de proteínas na faixa de 28,5 a 37,6 kDa em nenhuma das concentrações de cádmio utilizadas. Diferentemente do encontrado por Wanick (2012), que encontrou na esponja Haliclona sp. a maior concentração de MTLPs após 14 dias de exposição a 0,5 mg L-1 de Cd. Porém, como já observado, em H. heliophila, depois de 24 horas de exposição a 0,4 mg L-1 de Cd, já foi possível observar indução de MTLPs, que se manteve até os 7 dias de exposição nesta mesma concentração de Cd. Também foi observado, após 14 dias de exposição, que proteínas da faixa mais próxima a 37,6 kDa continuaram aparecendo nas condições controle e em 0,05 mg L-1 de Cd, mas ocorreu forte diminuição dessas nas condições de 0,4 e 4 mg L-1 de Cd. Esta situação pode estar refletindo a diminuição metabólica devido aos danos causados pela alta concentração (0,4 e 4 mg L-1) de cádmio durante 14 dias. Apesar disso, não foi constatada morte dos explantes como também observaram Olesen e Weeks (1994) e Hansen et al. (1995) na esponja Halichondria panicea expostas a 1 mg L-1 de Cd por 14 dias. Importante ressaltar que a capacidade de suportar altas concentrações de contaminantes, como o Cd, é um dos fatores que condicionam potenciais bioindicadores, como relatado por Phillips e Rainbow (1993). O processo de extração e identificação de MTLPs em Hymeniacidon heliophila provenientes da praia da Boa Viagem não revelou indução de proteínas na faixa de 28,5 a 37,6 kDa como encontrado no experimento de incubação em aquário. Mesmos as bandas proteicas que ocorreram nas situações controle em experimento nos aquários, não surgiram nas esponjas da Boa Viagem. Este resultado, porém, foi semelhante às amostras provenientes do aquário de cultivo 55 (tempo zero), que também não apresentaram indução de proteínas nesta faixa. Como já relatado, além das MTLPS, outras proteínas podem ser induzidas em situações de estresse nas esponjas, assim, tanto as H. heliophila provenientes da Boa Viagem como as do aquário de cultivo aparentemente não estavam em situação que pudesse provocar a síntese dessas proteínas de estresse ricas em cisteínas com massa molecular entre 28,5 a 37,6 kDa. 4.1.3 Análise da quantidade de câmaras coanocitárias e canais aquíferos As imagens obtidas por meio de lâminas histológicas coradas com hematoxilina e eosina evidenciaram alterações nas quantidades de câmaras coanocitárias e canais aquíferos em Hymeniacidon heliophila conforme o tempo de exposição e concentração de Cd presente nos aquários. A figura 15 mostra as estruturas que foram contadas em cada corte histológico corado com hematoxilina/eosina. Figura 15- Imagem de corte histológico de Hymeniacidon heliophila proveniente do aquário-mãe (tempo zero) corada por hematoxilina e eosina. CC= Câmara coanocitária; CA= Canal aquífero. Aumento de 200x. Na figura 16, observa-se na situação controle, após 24 horas, um aumento na quantidade de câmaras coanocitárias das esponjas controle. Passados 7 dias, houve uma queda brusca (cerca de 40%), mas a quantidade de câmaras se manteve, até 14 dias. Já nas situações de exposição ao Cd, houve quedas mais acentuadas (cerca de 65%) na quantidade de câmaras, quando expostas a 0,4 e 4 56 mg L-1 de Cd na água e um pouco menor com 0,05 mg L-1 (55%). No período seguinte, 7 dias, ocorreu aumento na quantidade das câmaras, que se manteve nas esponjas expostas a 0,05 e 0,4 mg L-1 de Cd até o período de 14 dias, mas não na situação de exposição a 4 mg L-1 de Cd, onde também houve uma nova redução de Câmaras coanocitárias/pixels * 10 -3 55% de câmaras coanocitárias. 6,0 5,0 4,0 Controle 3,0 0,05 ppm 2,0 0,4 ppm 1,0 4 ppm 0,0 Tempo 0' 1 dia 7 dias 14 dias Tempo Figura 16- Variação da quantidade de câmaras coanocitárias em Hymeniacidon heliophila nos diferentes tempos de exposição e concentração de Cd. Cada ponto indica a quantidade absoluta de câmaras coanocitárias em um corte histológico inteiro pela área deste. Na figura 17, observa-se uma tendência de queda na quantidade de canais aquíferos até os 7 dias do experimento, tanto nas condições controle quanto nas de exposição a Cd. Porém, até o período de 14 dias houve uma divergência. As condições controle e exposição a 0,05 mg L-1 de Cd apresentaram aumento, enquanto que em 0,4 e 4 mg L-1 de Cd, as quedas mantiveram-se. 57 Canais aquíferos/pixel 10-3 1,4 1,2 1,0 0,8 Controle 0,6 0,05 ppm 0,4 0,4 ppm 0,2 4 ppm 0,0 Tempo 0' 1 dia 7 dias 14 dias Tempo Figura 17- Variação da quantidade de canais aquíferos em Hymeniacidon heliophila nos diferentes tempos de exposição e concentração de Cd. Cada ponto indica a quantidade absoluta de canais aquíferos em um corte histológico inteiro dividido pela área deste. A relação entre a concentração do Cd no tecido de H. heliophila e a quantidade de câmaras coanocitárias/pixels*10-3 e canais aquíferos/pixel*10-3 nos diferentes períodos de exposição estão apresentadas respectivamente na figura 18 e 19. Em ambas as relações, houve maior tendência de correlação nos períodos de Câmaras coanocitárias/pixel *10 -3 14 dias de exposição. 6 5 1 dia 4 7 dias 3 2 R² = 0,8181 14 dias 1 0 0 50 Cd (mg/kg) 100 150 Figura 18- Relação entre concentração de Cd no tecido com quantidade de câmaras coanocitárias em H. heliophila em cada período de exposição. A curva e o coeficiente representam função logarítmica de redução das câmaras coanocitárias no período de 14 dias de exposição ao Cd, onde ocorreu maior tendência de correlação. Canais aquíferos/pixel 10-3 58 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 1 dia 7 dias R² = 0,6883 0 50 Cd (mg/kg) 100 14 dias 150 Figura 19- Relação entre concentração de Cd no tecido com quantidade de canais aquíferos em H. heliophila em cada período de exposição. A curva e o coeficiente representam função logarítmica de redução das câmaras coanocitárias em 14 dias de exposição ao Cd. A figura 20 apresenta relação entre a variação da quantidade de canais aquíferos e câmaras coanocitárias ao longo do experimento, onde não houve Canal aquífero/pixel *10-3 correlação entre as duas estruturas. 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 1 dia 7 dias 14 dias 0 2 4 Câmaras coanocitárias/pixel * 6 10-3 Figura 20- Relação entre Câmaras coanocitárias/pixel*10-3 e quantidade de canal aquífero/pixel*10-3 em H. heliophila. A capacidade de bombeamento e filtragem de água está diretamente ligada à quantidade de câmaras coanocitárias e canais do sistema aquífero presentes na esponja. Embora estes organismos não possuam sistema nervoso verdadeiro, apresentam a capacidade de produzir comportamentos reflexos não neurais (MEECH, 2008). É conhecido que em situações de estresse ocorre a contração de seus tecidos e canais do sistema aquífero, o que reduz a área da esponja em 59 contato com a água circundante proporcionando uma defesa contra os contaminantes presentes na água (FRANCIS et al., 1990). Mesmo na condição controle, foi observada diminuição das câmaras coanocitárias e canais aquíferos. Esta situação foi observada por Luter et al. (2012) em explantes de esponja Lanthella basta, que apresentou avançada condição de estresse (perda do volume de tecido e câmaras coanocitárias) causado, segundo os autores, pela exposição ao ar durante a coleta, manuseio, transporte ao laboratório e mudança na qualidade da água (água do mar para água do aquário). Na exposição à mais elevada concentração de Cd (4 mg L-1) a H. heliophila apresentou sucessiva regressão de canais aquíferos até os 14 dias. Porém, no controle e exposição a 0,05 mg L-1 de Cd a partir do sétimo dia de incubação, ocorreu aumento da quantidade de canais, o que reflete uma possível recuperação da esponja para as situações de menor estresse. Já para a quantidade câmaras coanocitárias, houve uma tendência de estabilização, exceto na condição de exposição a 4 mg L-1 de Cd, onde a tendência de redução foi até o fim do experimento, demonstrando o forte estresse causado por esta alta concentração de Cd. Assim, a baixa correlação entre a variação das quantidades de câmaras coanocitárias e canais aquíferos pode estar relacionado ao fato das esponjas primeiramente apresentar regressão tecidual, logo a diminuição na quantidade de canais aquíferos e, em seguida, devido a manutenção da condição de estresse, a esponja começa a perder as câmaras coanocitárias, fator conhecido dos poríferos (De GOEIJ et al., 2009). Analisando as figuras 16 e 17 este fato é corroborado, onde observa-se que, nas esponjas controle, há primeiramente perda de canais aquíferos e, posteriormente, de câmaras coanocitárias. Já nas esponjas expostas a Cd, a perda de ambas as estruturas é simultânea, porém os canais aquíferos iniciam recuperação mais rapidamente. 4.2 ANÁLISE DA MATRIZ EXTRACELULAR (COLÁGENO) Imagens obtidas por meio de lâminas histológicas coradas com picro sirius também evidenciaram alterações na estrutura multicelular de Hymeniacidon 60 heliophila, conforme o tempo e concentração de Cd na água. A figura 21 exemplifica a diferença quanto a quantidade de fibras colágenas de esponja proveniente do aquário de cultivo (figura 20A) e de exposta a 4 mg L-1 de Cd por 14 dias (figura 20B). Figura 21- Imagem de corte histológico de Hymeniacidon heliophila proveniente do aquário de cultivo (A) e de 14 dias de exposição a 4 mg L-1 de Cd (B). As setas indicam as fibras colágenas. Aumento de 400x. A quantificação das fibras de colágeno nas esponjas revelou uma diminuição acentuada destas após 24 horas de incubação, principalmente na situação de 4 mg L-1 de Cd na água. Em seguida, as esponjas expostas a 0,4 e 4 mg L-1 de Cd mantiveram tendência de estabilização, por conseguinte, as esponjas controle e expostas a 0,05 mg L-1 a partir do sétimo dia, apresentaram tendência de aumento, principalmente o controle (figura 22). A diminuição de colágeno conforme a concentração de cádmio no tecido da esponja apresentou tendência maior de correlação no período de 14 dias de exposição (figura 23). Colágeno (%) 61 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Controle 0,05 0,4 4 Tempo 0' 24h 7 dias 14 dias Colágeno (%) Figura 22- Variação das fibras colágenas em Hymeniacidon heliophila medida em % da área total dos corte histológicos em cada situação de tempo e exposição ao Cd. Cada ponto indica a média (n=120 e barra de erro é igual ao desvio padrão). 16 14 12 10 8 6 4 2 0 1 dia 7 dias 14 dias R² = 0,7608 0 50 Cd (mg/kg) 100 150 Figura 23- Relação entre concentração de Cd no tecido com quantidade de colágeno em H. heliophila em cada período de exposição. As curvas e os coeficientes representam função logarítmica de redução de colágeno no período de 14 dias. A relação entre a quantidade de colágeno e câmaras coanocitárias (figura 24) e canal aquífero (figura 25) em H. heliophila apresentaram função logarítmica com maior tendência de correlação após 14 dias de exposição ao Cd na primeira e fraca correlação no segundo caso. Câmaras coanocitárias/ *10-3 62 6 5 4 3 2 1 0 1 dia 7 dias R² = 0,7685 0 5 10 14 dias 15 Colágeno (%) Canal aquífero/pixel *10-3 Figura 24- Relação entre colágeno e quantidade de câmaras coanocitárias em H. heliophila. A curva e o coeficiente representam a função logarítmica do período de 14 dias de exposição ao Cd, onde ocorreu a maior tendência de correlação. 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 1 dia 7 dias 14 dias 0 5 10 15 Colágeno (%) Figura 25- Relação entre colágeno (%) e quantidade de canal aquífero/pixel*10 -3 em H. heliophila. Segundo Cebrian et al. (2006), o aumento da presença de colágeno na matriz extra celular é considerado como evidência de crescimento nas esponjas. Foi observada em todas as condições forte diminuição das fibras de colágeno em todas as condições após um dia de incubação. Entretanto, em todas as amostras houve tendência de aumento a partir do sétimo dia até os 14 dias de experimento, principalmente nas esponjas presentes no aquário controle. Pode-se observar ainda que o aumento do colágeno apresentou maior tendência de correlação com o aumento das câmaras coanocitárias, principalmente ao longo de 14 dias de incubação, evidenciando a relação entre as duas estruturas para o crescimento da esponja. A tendência na recuperação de colágeno e câmaras coanocitárias pode ser atribuída à alta capacidade de regeneração conhecida das esponjas, que podem se 63 recuperar rapidamente de situações causadas pela predação, distúrbios físicos e estresse ambiental (AYLING, 1983; WULFF, 2010; LEAMON; FELL, 1990). De fato, algumas esponjas podem iniciar a recuperação celular da pinacoderme dentro de 24 horas após a lesão, com recuperação completa ocorrendo em poucas semanas (LOUDEN et al., 2007), destaca-se ainda a capacidade das células de esponja (por exemplo, os arqueócitos) para migrarem e proliferarem (SIMPSON, 1984). Outro aspecto é a elevada atividade enzimática da telomerase, possivelmente contribuindo para a rápida proliferação celular e, consequentemente, na recuperação de lesões (KOZIOL et al., 1998). Em relação às estruturas morfológicas analisadas e as MTLPs foi possível observar que na exposição a 0,4 mg L-1 de Cd, após queda na quantidade de câmaras coanocitárias, canais aquíferos e fibras de colágeno nas primeiras 24 horas de exposição, em seguida houve tendência na manutenção destas estruturas, onde não ocorreu grande variação. Como foi analisado, nesta concentração de Cd ocorreu indução de MTLPs pelo menos até o sétimo dia de exposição. Estas proteínas, juntamente com outros processos de defesa das esponjas em situações de estresse, podem estar atuando na destoxificação do Cd, diminuindo seus efeitos danosos. 4.3 CONCENTRAÇÃO DE METAIS NAS ESPONJAS DA BOA VIAGEM Nas esponjas provenientes da praia da Boa Viagem, foram analisados em seus tecidos a concentração de Cd, Cu, Zn e Ni. A variação destes elementos ao longo das coletas pode ser observada na figura 26. 64 Figura 26- Médias das concentrações de Cd, Cu, Zn, Ni no tecido de H. heliophila nas cinco coletas realizadas na praia da Boa Viagem, Niterói (n=6 em cada coleta e barra de erros é igual ao desvio padrão). Como observado na verificação de MTLPs, as concentrações dos metais analisados no tecido das esponjas Hymeniacidon heliophila durante as cinco coletas não foram suficientes para provocar a síntese destes biomarcadores. Perez et al. (2004), ao comparar a concentração de alguns metais (Fe, Cu, Zn, Pb, Cd, As, Cr, V, Ti, Hg) no tecido de seis espécies de esponjas (Agelas oroides, Cacospongia scalaris, Chondrosia reniformis, Cliona viridis, Spongia officinalis e Spongia agaricina) e do mexilhão (Mytilus galloprovincialis) coletados em uma região poluída na costa de Marseilles (mar Mediterrâneo, França), encontraram concentrações médias de 6 a 145 vezes maiores nas esponjas que o encontrado no mexilhão. A única exceção foi para o zinco, que foi em geral um pouco maior no mexilhão que na maioria das esponjas testadas. Em relação à Baía de Guanabara, segundo Carvalho et al. (1991), apesar de ser um estuário que recebe grandes impactos na forma de esgoto doméstico e efluente industriais não tratados provenientes de uma área densamente populosa 65 com aproximadamente 10 mil indústrias (FEEMA, 1990), não ocorre grande contaminação de metais na biota local. Segundo os autores, a forte eutrofização presente na baía, devido ao despejo de esgoto doméstico não tratado, interage com os metais pesados provenientes de efluente industriais. De fato, estudos realizados na Baía de Guanabara indicaram que os metais encontram-se especialmente associados à matéria orgânica e aos sulfetos que, em condições redutoras, geralmente encontradas na baía, são bastante estáveis, significando baixa disponibilidade biológica desses elementos (REBELLO et al., 1986; SOUZA et al., 1986; CARVALHO; LACERDA, 1992). No estudo de Kehrig et al. (2007) com mexilhões Perna perna coletados em diferentes locais da Baía de Guanabara (Marina da Glória, praia da Boa Viagem e pilares do vão central da Ponte Rio Niterói), as concentrações médias encontradas foram 1,4 (± 0,4) mg Cu kg-1, 28,0 (± 14,0) mg Zn kg-1, 1,8 (± 0,6) mg Ni kg-1 e 0,07 (± 0,03) mg Cd kg-1. Comparado ao presente trabalho, o mexilhão teve resultado bem inferior à esponja Hymeniacidon heliophila, que apresentou médias de 46 (± 6,6) mg Cu kg-1, 965 (± 368) mg Zn kg-1, 2,0 (± 0,13) mg Ni kg-1 e 0,28 (± 0,07) mg Cd kg-1. Portanto, mesmo com a baixa biodisponibilidade de metais encontrada na Baía de Guanabara, como observado por Carvalho et al. (1991), a esponja Hymeniacidon heliophila apresentou valores elevados de metais, principalmente para Zn e Cu, evidenciando sua singular capacidade de acumular estes elementos. Na tabela 1, pode-se observar concentrações médias de Cd, Cu, Ni e Zn em outros estudos realizados na região interna da Baía de Guanabara. Os valores médios de Cd, Cu e Zn encontrados em Hymeniacidon heliophila neste estudo foram pouco menores que o encontrado por Batista (2010). Porém, as concentrações foram superiores aos encontrados nos mexilhões Perna perna, com exceção para Ni (REZENDE; LACERDA, 1986; CARVALHO et al., 1991; CARVALHO; LACERDA, 1992; KEHRIG et al., 2007; ANSARI, 2011), e na anêmona Bunodosoma caissarum (ANSARI, 2011). Em Paraleucilla magna, outra espécie de esponja verificada por Batista (2010) na Baía de Guanabara, os valores médios de Zn e Cu foram bem abaixo do encontrado nos outros organismos. 66 Tabela 1- Média das concentrações de metais em mg kg-1 em outros estudos na Baía de Guanabara. Organismo Cd Cu Ni Zn 965 Hymeniacidon heliophila (este estudo) 0,28 46,3 2,0 Hymeniacidon heliophila (esponja) (a) 0,59 0,74 1160 Paraleucilla magna (esponja) (a) 0,13 2,39 1,41 25 Perna perna (mexilhão) (b) 0,26 9,52 8,55 213 50 Perna perna (mexilhão) (c) - 9,1 8,2 127 Perna perna (mexilhão) (d) 0,1 12 4 150 Perna perna (mexilhão) (e) 0,1 10 6 150 Perna perna (mexilhão) (f) 0,07 1,4 1,8 28 Bunodosoma caissarum (anêmona) (b) 0,04 6,05 1,19 128 (a) Batista (2010); (b) Ansari (2011); (c) Rezende e Lacerda (1986); (d) Carvalho et al. (1991); (e) Carvalho e Lacerda (1992); (f) Kehrig et al. (2007). Em outros locais, estudos também encontraram altas concentrações de metais em diferentes espécies de esponjas. Patel et al. (1985) reportaram concentração média de 68 mg Cd kg-1, 270 mg Zn kg-1 e 1000 mg Ni.kg-1 na esponja Spirastrella cuspidifera coletada na costa da Índia, próxima à Bombaim. Já Padovan et al. (2012) encontraram concentração média de 111 mg Cd kg-1, 864 mg Zn kg-1, 1670 mg Ni kg-1 e 9,8 mg Cu kg-1 em Spheciospongia vagabunda coletadas próximo a efluentes de esgoto. Cebrian et al. (2007) verificaram concentração de 280 mg Cu kg-1 em Crambe crambe proveniente de região portuária. Como observado, a Hymeniacidon heliophila, assim como muitas outras espécies de esponjas relatadas, apresentou alta capacidade de acumular metais em seu tecido. Esta capacidade chega a superar, em alguns casos, em muitas vezes o encontrado em mexilhões, cujas espécies são as mais amplamente utilizadas em programas de biomonitoramento. Tal fato pode ser explicado por algumas diferenças entre estes organismos. Primeiramente, apesar de ambos os organismos serem filtradores, a natureza do material orgânico e o tamanho das partículas retidas diferem significativamente. As esponjas possuem a capacidade de reter partículas do tamanho de bactérias e estudos sugerem que podem suprir integralmente sua necessidade de carbono alimentando-se de partículas menores que 1 μm (RIBES et al., 1999), além do mais, 67 esponjas ricas em bactérias associadas (“bacterioesponjas”), possuem a capacidade de consumir até matéria orgânica dissolvida. Em contraste, bivalves retêm partículas de até 4 μm, mas no geral, a maioria das partículas usadas para alimentação são maiores que 100 μm (NEWELL et al., 1989; RIISGARD et al., 1996). Outro aspecto importante é a longevidade das esponjas. Por exemplo, mexilhões possuem vida curta, sendo então mais apropriados para monitoramentos de fenômenos curtos e marcantes (AMIARD et al., 1986), enquanto que as esponjas podem viver por décadas e acumular metal durante todo esse tempo. Perez et al (2004) verificaram que do período de 1983 a 1998 em Marseilles (mar Mediterrâneo, França) ocorreu uma diminuição significativa na concentração de metais em Spongia officinalis coletadas no mesmo local, principalmente para Pb, Cr e Cd, que foram respectivamente 9, 8 e 5 vezes menores em 1998. Segundo os autores, esta diminuição foi devido à implantação de uma estação de tratamento de esgoto em 1987. Assim, como a Spongia officinalis relatada, Hymeniacidon heliophila poderia ser utilizada para indicar a eficácia de projetos de despoluição em ambientes costeiros como a Baía de Guanabara. 68 5 CONCLUSÃO No experimento de exposição ao Cd, a esponja H. heliophila apresentou máximo de 114 mg kg-1 de concentração deste elemento. Esta quantidade foi obtida após 14 dias de exposição a 4 mg L-1 de Cd e corresponde a 14 vezes o encontrado no controle. Apesar desta elevada quantidade de Cd no tecido da esponja, pelos resultados obtidos pela separação eletroforética por SDS-PAGE com amostras derivatizadas com monobromobimano não houve indução de MTLPs nesta condição. As condições em que isto ocorreu foram, principalmente, nos períodos de 24 horas e 7 dias de exposição a 0,4 mg L-1 de Cd. A não indução de MTLPs na exposição a 0,05 mg L-1 de Cd, indica que esta concentração não foi suficiente para provocar a síntese dessas proteínas e/ou o período de exposição, que pode não ter sido longo o suficiente para ocorrer a indução, mesmo após 14 dias. A exposição a 4 mg L-1 de Cd apresentou pequena indução após 24 horas de exposição, o que não voltou a ocorrer nos períodos subsequentes, provavelmente causado pela alta disponibilidade e citotoxidade do Cd. O mesmo pode ter ocorrido na condição de exposição a 0,4 mg L-1 de Cd após 14 dias de exposição, já que não houve MTLPs, em contraste com os períodos anteriores. Os resultados obtidos pelas imagens histológicas demonstraram ainda que as esponjas submetidas a 4 mg L-1 de Cd tiveram redução concomitante de canais aquíferos e câmaras coanocitárias e pequena tendência de recuperação das fibras de colágeno, após forte queda em 24 horas. Já na exposição a 0,4 mg L-1 de Cd, a tendência de queda destas estruturas cessaram a partir de 24 horas, configurando, além de outras estratégias dos poríferos em situações de estresse, possível atuação das MTLPs, pelo menos até o sétimo dia, na destoxificação do Cd. As esponjas analisadas diretamente da praia da Boa Viagem não apresentaram MTLPs em nenhumas das cinco coletas, provavelmente devido à baixa disponibilidade de metais, onde a concentração média foi de: 0,28 mg Cd kg-1; 2 mg Ni kg-1; 46,3 mg Cu Kg-1; 965 mg Zn kg-1. Apesar da não indução de MTLPs, há de se ressaltar que os níveis acumulados desses metais foram superiores ao encontrado em outros organismos na Baía de Guanabara, como os mexilhões. 69 Desta forma, este trabalho apresenta uma contribuição para elucidar uma das vastas possibilidades de aplicação da convergência da bioacumulação de metais e biomarcadores em esponjas, organismos pouquíssimos estudados para este fim. 70 6 REFERÊNCIAS ADAMS, S. M.; SHEPARD, K. L.; GREELEY, M. S.; JIMENEZ, B. D.; RYON, M. G.; SHUGART, L. R. The use of bioindicators for assessing the effects of pollutant stress on fish. Mar. Environ. Res., v. 28, p. 459-464, 1989. AMIARD, J. C.; AMIARD-TRIQUET, C.; BARKA, S.; PELLERIN, J.; RAINBOW, P. S. Metallothioneins in aquatic invertebrates: Their role in metal detoxication and their use as biomarkers. Aquatic Toxicology, v. 76, p. 160-202, 2006. AMIARD, J. C.; AMIARD-TRIQUET, C.; BERTTHET, B.; METAYER, C. 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